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Taliban

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Taliban - O Vandalismo dos Fanáticos
	
	saiba mais em:Islamismo e Afeganistão 
	Desde que instalaram um regime medieval no Afeganistão, há cinco anos, os integrantes da milícia do Taliban - nome originário de um movimento de estudantes islâmicos - tomam decisões de arrepiar os cabelos até dos mais ferrenhos seguidores de Maomé. 
Na semana passada, Mohamed Omar, que se autoproclamou emir do Afeganistão e é o líder da milícia, decidiu que todas as estátuas do país deveriam ser destruídas. Esse súbito surto de iconoclastia passaria despercebido se o Afeganistão não tivesse um acervo riquíssimo de monumentos budistas, herança do período pré-islâmico, anterior ao ano 1000, quando a região era centro de peregrinação. 
Entre os alvos da maluquice, estão as duas estátuas gigantes de Buda, em Bamiyan, nos arredores da capital Caboul. Esculpidas na rocha há mais de 1.500 anos, elas medem 37 e 53 metros de altura e estão entre as maiores estátuas conhecidas de Buda. Omar, que por lá é conhecido como "mulá" (professor), deu a ordem, e imediatamente soldados começaram a circular pelo país com caminhões carregados de explosivos e lança-foguetes à caça das imagens. As primeiras estátuas destruídas foram retiradas das 6.000 peças do museu de Cabul. Países com grande comunidade budista, como o Japão, a Tailândia, a Índia, e organismos como a Unesco protestam em vão. "Estamos apenas destruindo pedras", Omar justificou. 
Desde que se instalou no governo, o Taliban transformou o país num inferno. Execuções sumárias, amputações públicas e festivais de chibatadas acontecem em estádios de futebol lotados. As meninas são obrigadas a parar de estudar aos 8 anos. 
As mulheres vivem cobertas por um manto, o burqa, que esconde até os olhos, e chegam a levar uma surra quando são apanhadas conversando com estranhos. Já os homens têm de vestir camisolões e são forçados a usar barba. O Afeganistão tornou-se o país da proibição. Televisão, música, fotografia e tudo que desvie a atenção de Deus é ilegal. Em meio a tantos absurdos, o Taliban acabou abrigando o sunita Osman bin Laden, terrorista acusado de planejar os atentados às embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, em 1998. 
Apesar de pedidos de extradição, ele continua como um convidado de honra e, por isso, o país enfrenta um embargo internacional que privou os afegãos de quase toda ajuda humanitária, essencial numa nação devastada por duas décadas de guerra civil. Apesar de o Taliban controlar 90% do território, a comunidade internacional - à exceção de Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes - ainda não o reconhece como governo legítimo do Afeganistão. Enfrentando a pior seca das últimas três décadas, a agricultura do país está em frangalhos. Mais de 3 milhões de famintos se espremem em campos de refugiados nos vizinhos Paquistão e Irã. Dentro do país, as Nações Unidas estimam que 1 milhão de afegãos estejam à beira de ser dizimados pela fome. 
Há duas semanas, numa tentativa desesperada de agradar aos governos ocidentais, o Taliban anunciou o extermínio dos campos de papoula - o Afeganistão produz 75% do ópio mundial que, transformado em heroína, abastece o mercado europeu e o americano. Acabar com a maior fonte de renda do Estado parece ter sido um suicídio econômico que faz a destruição de estátuas parecer muito mais uma tentativa de chamar a atenção para a penúria do país. Mas transformar o passado em pó não vai melhorar a imagem do Taliban e a tendência é isolar ainda mais o Afeganistão. Rompantes de icnoclastia pontilharam a História. Em seus primórdios, o cristianismo, por exemplo, fez tudo o que pôde para acabar com toda a arte considerada pagã, inclusive grega. Mais recentemente, os espanhóis arrasaram as culturas pré-colombianas em nome de Deus e, durante a Revolução Francesa, estátuas da Catedral de Notre-Dame foram decapitadas pelos revolucionários.  
O que dá um tom assustador à turma do Taliban é pulverizar objetos de arte de tamanha importância em pleno século XXI, acabando com a última riqueza do país: seu passado.

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