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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UNIRIO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA
As transformações sociais e o olhar para as Libras e para a pessoa surda nos últimos anos
Chloé Amon da Cunha de Sousa Silva
Introdução
A análise histórica dos movimentos que preconizaram o estudo para a comunidade surda é de imenso valor para avaliarmos a atual conjuntura social do grupo. As compreensões filosóficas sobre o papel do surdo ao longo dos séculos sempre foram o modo chave sobre quais tomadas de decisões seriam adotadas para eles na sociedade, assim como também na maneira que seriam assistidos na sociedade, em relação a seus direitos. Neste ensaio vamos avaliar brevemente as mudanças na compreensão sobre os surdos através de uma analise dos períodos históricos e suas mudanças ao longo dos séculos, observando assim a influencia que estes movimentos trouxeram para as praticas pedagógicas na comunidade surda do Brasil, o desenvolvimento das LIBRAS e demais mudanças que ocorreram até os últimos anos.
Concepções de surdes e mudanças sociais nos primórdios históricos
Considerando a concepção que a sociedade Greco-Romana tinha sobre os surdos na antiguidade, pode-se perceber o quanto a filosofia da época influenciava na vida deles. Para os gregos, a fala, a audição e a linguagem eram de extrema importância para a expressão do ser humano sobre suas idéias, os definindo como pessoa. Os surdos então não eram considerados seres humanos findos, pois a falta destes sentidos era compreendida como um sinal de falta de pensamento, tanto que para Aristóteles a falta de oralidade era vista como um sinal de que os surdos não eram humanos. Por conta desta concepção, na Roma antiga surdos tinham seus direitos cerceados e não podiam casar e não tinham direito a posses ou herança na família. Além disso, essas sociedades subjugavam os surdos, os escravizando ou eliminando-os da sociedade.
Na idade moderna (1453 – 1789) houve grande mudança no tratamento e na forma de lhe dar com os surdos. As primeiras iniciativas de se educar os surdos foi iniciado pelo monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1510 – 1584), que começou a educar os surdos para que tivessem direito a herança, por meio de aulas que buscavam a oralização dos surdos, assim como ler, escrever e aprender filosofia. Léon foi o primeiro professor de surdos e seu método foi posteriormente aplicado por Juan Pablo Bonet, que em 1620 aprimorou o método de Léon, focando na oralidade, mas fazendo uso também de uso de sinais e alfabeto manual, método que foi muito bem sucedido. Os estudos para instrução dos surdos para a oralização e comunicação de sinais foi sendo aprimorado ao longo dos anos e novos métodos e conceitos sobre a linguagem dos surdos foram surgindo, tanto que no século XVIII houve a fundação da primeira instituição de surdos-mudos. Charles Miche de L’Epée fundou em Paris o Instituto Nacional para surdos-mudos, onde reconhecia que os surdos tinham uma linguagem. A oralidade deixava de ser o foco, e aplicação de seus estudos era voltada para a criação de sinais metódicos, em uma maneira de adaptar a estrutura dos sinais a semântica da linguagem francesa.
A ruptura do processo de educação dos sinais como forma de comunicação dos surdos, se deu na Idade Moderna. Em 1880 houve o Congresso Nacional de Surdo-Mudez em Milão, congresso que reuniu educadores de surdos, mas onde apenas um professor presente era surdo. Infeliz coincidência que resultou na exclusão da metodologia de sinais como forma de ensino, justificando que surdos não teriam interesse em aprender a língua oral e daria preferência apenas a linguagem de sinais. Foi decidido então que o ensino de surdos seria apenas feito pelo método oral puro e que somente assim os surdos seriam integrados a sociedade. 
Introdução do ensino de Libras e suas mudanças até os dias atuais
No Brasil o movimento de introdução a linguagem para surdos foi trazido pelo padre Huet (1857), que aprendeu o método de linguagem de sinais na escola da França. Com o apoio de Dom Pedro II, fundou o INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos (1857), onde abrigava meninos surdos para o ensino da linguagem de sinais. Em uma fusão com o método Frances, surge a Libras, linguagem de sinais com as características da linguagem brasileira. Em São Paulo, surge o Instituto Santa Terezinha (1929), internato voltado para meninas surdas. Mesmo com todo esse movimento, a política do Brasil era mais voltada para o desenvolvimento da oralidade do surdo e todo o desenvolvimento da apropriação da Libras no país foi lento. Com a implementação do INES, o Rio de Janeiro passou a ser considerado o “Berço das Libras” e em 1980, houve o primeiro movimento de legitimidade da linguagem dos surdos. Lucinda Ferreira Brito, na UFRJ fez o primeiro estudo sobre as Libras no Brasil, e foi a primeira lingüística a se dedicar a este estudo. Após isso, em 1987 foi fundada a primeira entidade para surdos, o FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, também na UFRJ. Houve transformações significantes na comunidade surda do Brasil e em setembro de 1994 aconteceu a marcha “Surdos venceremos” no Rio de Janeiro, que reivindicava o reconhecimento oficial das Libras, o direito a educação em Libras e o fornecimento de intérpretes. O protesto trouxe grande reconhecimento para a comunidade surda nos anos seguintes, e em 2002 o reconhecimento veio em forma de lei. A lei n. 10.436 de 24 de abril de 2002, conhecida como “A lei de Libras”, teve como decretos o reconhecimento oficial das Libras no Brasil, a garantia de acesso e difusão da linguagem, o reconhecimento da formação de professores de Libras e a formação de tradutor-intérprete de Libras ou português. Em 2006, é aberto o primeiro curso de licenciatura em Libras na modalidade EaD – ensino a distancia na Universidade Federal de Santa Catarina. A unidade ofereceu 500 vagas distribuídas em 9 pólos e foi um marco para a comunidade surda, pois pela primeira vez se via uma quantidade significativa de surdos tendo acesso ao ensino publico. Em 2008 a universidade abriu novas vagas, dessa vez com 900 vagas distribuídas em 16 pólos, nas modalidades licenciatura e bacharelado. A educação de surdos ganhou seu espaço na educação, mas enfrentou grandes barreiras ao levar suas propostas para a CONAE – Conferencia Nacional de Educação que se reuniu em 28 de março a 1 de abril de 2010 para elaborar o Plano Nacional de educação. Esse encontro foi considerado um retrocesso na educação dos surdos, pois das 11 propostas levadas, somente 3 foram aceitas, com a alegação de que suas propostas eram segregacionistas em relação a proposta de inclusão da PNE. O decreto de lei dos surdos, n. 5.626/2005 esbarra na política educacional do governo, pois dá direito a educação bilíngüe, decreto que dá margem a discussão sobre a inclusão social dos surdos. Esse impasse repercutiu nos anos seguintes e em 2011 foi anunciado o fechamento do INES para até o final do mesmo ano, com o objetivo de remanejar os alunos para escolas comuns. Tal situação revela o caráter coletivista que nosso governo emprega, pois em nome de um progresso, a comunidade surda sofria um retrocesso, mas em Setembro de 2011 a situação mudou. Ocorreram mobilizações em todo o país no dia nacional do surdo (26 de setembro) que tinham como objetivo “fincar as lutas e emendas específicas sobre a educação dos surdos no PNE em tramitação no Congresso” e em 2012 o grupo foi vitorioso na Câmara dos Deputados com a aprovação do projeto em 28 de maio de 2012, que incluía escolas e classes bilíngües, além do ensino em escolas normais.
Enfim, a classe dos surdos ganha grandes oportunidades ano após ano. Contudo, a idéia sobre a oralização dos alunos surdos ainda é visto como a solução para a inclusão deles na sociedade. A idéia do ensino de Libras ainda enfrenta grande preconceito por parte de docentes e políticos, pela idéia de que a Libras segrega mais que inclui. Porém, o que se deve considerar em todo o movimento social emtorno das Libras é a sua aceitação na comunidade surda, assim como o bem estar deste grupo. O grupo deve ter voz e defender seus direitos, não deixando de assumir igualmente seus deveres. Por fim, Campelo e Rezende (2014), duas professoras reconhecidas e surdas relatam com excelência o processo histórico que estamos construindo no Brasil: 
 
Enfim, estamos construindo a nossa política da verdade: as escolas bilíngües de surdos não são segregadas, não são segregadoras e nem segregacionistas como tem alardeado tanto o Ministério da Educação. Pelo contrário, são espaços de construção do conhecimento para o cumprimento do papel social de tornar os alunos cidadãos verdadeiros, conhecedores e cumpridores dos seus deveres e defensores dos seus direitos, o que, em síntese, leva à verdadeira inclusão.
Referências:
CAMPELLO, A. R.; REZENDE, P. L. F. Em defesa da escola bilíngue para surdos: a história de lutas do movimento surdo brasileiro. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 71-92. Editora UFPR. Disponível em: < http://revistas.ufpr.br/educar/article/viewFile/37229/23102>. Acesso em: 19/05/2016.
STROBEL, Karin. História da Educação de Surdos. Universidade Federal de Santa Catarina, Licenciatura em Letras – LIBRAS. Florianópolis, 2009.
UNESPTV. LIBRAS – Aula 1 – História da educação de surdos: na Europa e nos EUA. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=c26-NAVnnu4>. Acesso em: 18 maio 2016.
UNESPTV. LIBRAS – Aula 2 – História da educação de surdos: no Brasil. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ijRfkhrFx9E&list=LL4qSF1L9ZvnuecFexYrgq5Q&index=2>. Acesso em: 18 maio 2016.

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