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Três modelos normativos de democracia

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Três modelos normativos de democracia
De acordo com a concepção “liberal”, o processo democrático realiza a tarefa de programar o Estado voltado aos interesses da sociedade. Sendo que o Estado é como aparato da administração pública e a sociedade como uma rede de pessoas em particular estruturada na forma de mercado. Já na concepção “republicana” a política vai além dessa função mediadora, é, sobretudo, constitutiva do processo de coletivização social como um todo. A política é contemplada como uma reflexão da vida ética, em que os meios pelos quais os membros de comunidades tomam consciência de sua interdependência mútua. Com isso, a estrutura liberal do Estado e da sociedade sofre uma mudança importante. Ao lado do poder administrativo e dos interesses pessoais, a solidariedade aparece como terceira fonte de integração social.
Na verdade, a formação política horizontal da vontade, regressado a compreensão mútua ou ao consenso comunicativamente atingido, deve gozar de prioridade, caso se leve em conta o sentido genético ou normativo. Na concepção republicana, à opinião pública de caráter político, juntamente com sua base na sociedade civil, adquirem uma importância estratégica. Esses quesitos fornecem duas imagens contrastantes do cidadão.					
(A) Em primeiro lugar diferenciam-se as concepções de cidadão do Estado. Segundo a concepção liberal o status do cidadão é determinado e definido em conformidade com os direitos que eles têm em relação ao Estado e a outros cidadãos. Como portadores de direitos, gozam da defesa do Estado, na medida em que realizem seus interesses privados dentro das limitações traçadas pela lei. Direitos políticos, como o direito ao voto e a livre expressão, têm a mesma estrutura. Fornecem ao cidadão a oportunidade de firmar seus interesses privados, de maneira que possam ser anexados a outros interesses, através das eleições, corporação parlamentar e formação de um governo, tais interesses são ligados a uma vontade política que provoca influencia na administração.
Em conformidade com as ideias republicanas, o status dos cidadãos não é determinado pelo modelo das liberdades negativas, que podem ser reivindicadas por estes enquanto pessoas privadas. Os direitos dos cidadãos, de participação e comunicação política, são direitos positivos que não garantem a liberdade de coerção externa, porém possibilitam a participação em uma práxis comum em que os cidadãos podem se tornar o que desejam ser, pessoas politicamente responsáveis de uma comunidade de pessoas livres e iguais. Este processo político tem função, apenas de controlar a atividade governamental através dos cidadãos que já adquiriram autonomia. O processo político sequer desenvolve uma função intermediaria entre Estado e sociedade, uma vez que a autoridade administrativa não é em eventualidade alguma uma força originária. Esta se origina do poder comunicativo em meio às práxis da autodeterminação e encontra legitimidade no fato de proteger essa práxis da inconstitucionalidade da liberdade pública. Deste modo a razão existencial do Estado não se fixa na defesa dos direitos subjetivos, todavia na garantia de uma formação envolta de vontade e opinião, em que os cidadãos livres e iguais chegam a um entendimento comum.	
(B) Na polêmica contra o conceito clássico da pessoa do direito como portadora de direitos subjetivos revela-se a controvérsia em torno do conceito de direito em si mesmo. Na visão liberal a acepção de uma ordem jurídica é tornar possível que se determine em cada caso a quais indivíduos pertencem tais direitos, já na visão republicana esses direitos subjetivos devem a uma ordem jurídica objetiva, que tanto possibilita como garante a integridade de uma vida igualitária. 
Para os republicanos os direitos não são nada mais que consignações da vontade política, enquanto para os liberais alguns direitos estão fundados em uma lei.					
(C) As diferentes conceituações do papel do cidadão e do direito são expressão de um dissenso de raízes mais profundas sobre a natureza do processo político. Conforme a visão liberal, o processo políticos de formação da vontade e da opinião política, na espera pública e no parlamento, é indicado pela competição entre as coletividades, que agem estrategicamente para manter ou adquirir uma posição de poder. O sucesso é medido pela aprovação expressa dos cidadãos, quantificada pelos votos. Ao votar os eleitores expressam suas preferências, sendo que as decisões que tomam ao votar têm o mesmo peso dos atos de escolha feitos pelos participantes de um mercado. Permite o acesso as posições de poder pelas quais os partidos políticos lutam na mesma atitude orientada para o sucesso.
Já a visão republicana, a formação não obedece às estruturas de processos de mercado, contudo obedece as estruturas de comunicação pública voltada ao entendimento mutuo. Para a política, no sentido de uma práxis de autodeterminação, o paradigma é o diálogo. Essa concepção considera a política como uma disputa envolta nas questões de valor não apenas de questões de preferência.
O modelo republicano tem vantagens e desvantagens. Como vantagem pode-se considerar o fato de consolidar o sentido democrático de uma auto-organização social pelos cidadãos em acordo mutuo e não expedir a coletividade a uma negociação entre particulares opostos. Como desvantagem, o fato de ser idealista, sendo que o processo democrático acaba por se tornar dependente das virtudes dos cidadãos voltados ao bem comum.
O conceito de uma política deliberativa ganha referencia quando é feito jus à diversidade comunicativa constituída de uma vontade comum. O terceiro modelo democrático apontado firma-se nas condições comunicativas em que o processo político alcance resultados procedentes. 
Ao comparar os três modelos se toma como ponto de partida a dimensão política que foi ocupada até o momento: a formação democrática da opinião e da vontade que resulta em eleições e decisões parlamentares. 
Perante a visão liberal o processo apenas tem resultado na forma de acondicionamento de interesses. As regras são baseadas nos princípios constitucionais liberais. Sendo que na visão republicana a formação ocorre sob a forma de entendimento ético.
De acordo com a visão republicana, a formação política da vontade e da opinião dos cidadãos cria o meio pelo qual a sociedade se constitui como um todo político. A sociedade centra-se no Estado, sociedade política. Daí o porquê da democracia tornar-se igualitária a auto-organização política social. Nos escritos políticos de Hannah Arendt pode-se perceber para onde a argumentação republicana dirige seus apontamentos: em oposição ao privatismo de uma população despolitizada e em oposição à aquisição de legitimidade por meio de partidos entrincheirados. A partir dessa perspectiva, a sociedade finalmente se desenvolveria para uma totalidade política.
Enquanto a separação entre aparato estatal e sociedade desperta uma reação polemica do lado republicano, de acordo com a visão liberal ela somente poderá ser atenuada pelo processo democrático. A formação democrática da vontade de cidadãos voltados para seus próprios interesses é impregnada de expectativas normativas minimalistas. O modelo liberal é centrado não na autodeterminação democrática de cidadãos deliberantes, mas da institucionalização jurídica de uma sociedade econômica que é encarregada de garantir o bem comum fundamentalmente apolítico através da satisfação de preferências particulares.
A teoria do discurso cobre o processo democrático de conotações normativas mais fortes que as encontradas no modelo liberal, porém mais fracas que as do modelo republicano, que extrai elementos de ambos, combinando-os de um modo novo. Em consonância com o republicanismo, a teoria do discurso dá proeminência centralizada ao processo político de formação da vontade e da opinião, sem, no entanto, considerar a constituição como um elemento secundário. Além disso, concebem os princípios do Estado como resposta decorrente à questão de como podem ser institucionalizadasas exigentes formas comunicativas de uma formação democrática da vontade e da opinião. A teoria do discurso ampara que o êxito da política deliberativa depende não da ação coletiva dos cidadãos, mas sim da institucionalização dos procedimentos e das condições correspondentes. 
Do ponto de vista liberal, a formação democrática da vontade tem a função exclusiva de legitimar o exercício do poder político. Já do ponto de vista republicano, a formação democrática da vontade tem a função basicamente, mais importante de constituir a sociedade como comunidade política e de conservar a lembrança desse ato fundador. 
O conceito de soberania popular advém da apropriação e da revalorização republicana da noção moderna primitiva de soberania inicialmente associada aos regimes absolutistas. O Estado é idealizado como uma concentração exagerada de poder. Essa ideia foi contemporizada por Rousseau para a vontade do povo unido, miscigenada a ideia de autodomínio dos cidadãos livres e iguais e combinando com seu conceito moderno de autonomia. Apesar dessa sublimação, o conceito de soberania permaneceu vinculado à noção de uma consolidação no povo. De com a visão republicana, o povo é portador de uma soberania que não pode ser delegada: em seu caráter soberano, o povo se deixe representar. A isto se opõe o liberalismo com uma visão mais realista, segundo a qual, no estado constitucional, toda autoridade emanada do povo é exercida somente “por meio das eleições e do voto e pelos órgãos legislativo, executivo e judiciário específicos.” 
Essas duas visões oferecem alternativas que concebem ao Estado e a sociedade como ponto de partida o todo e suas partes, sendo o todo constituído ou por um conjunto de cidadãos soberanos ou por uma Constituição. A teoria do discurso na democracia satisfaz o juízo de uma sociedade descentrada.
A autocompreensão normativa da política deliberativa fornece os meios para uma integração e coletivização consistente da comunidade jurídica, mas não se estende ao conjunto da sociedade, no qual se instala no sistema político. Também em sua autocompreensão, a política deliberativa permanece como um componente de uma sociedade complexa, que em seu adjacente resiste à abordagem normativa praticada na teoria do direito. A este respeito, a leitura de democracia feita pela teoria do discurso acopla-se a uma abordagem sociológica, um sistema de ação ao lado de outros. Por conseguinte, a política deve ainda ser capaz de se comunicar por meio da lei, com as outras esferas de ação legitimamente ordenadas, todavia costumam ser estruturadas e dirigidas.

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