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Material didático unidade 3 mobilização social e movimentos sociais

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- -1
MOVIMENTOS SOCIAIS E MOBILIZAÇÃO 
SOCIAL
MODELOS DEMOCRÁTICOS E SUAS 
IMPLICAÇÕES NA CIDADANIA
Aline Prado Atassio
- -2
Olá!
Você está na unidade . Conheça aqui os conceitos deModelos democráticos e suas implicações na cidadania
democracia, que foram sendo transformados ao longo do tempo e os principais autores clássicos e
contemporâneos. Entenda ainda os fundamentos que garantem cada modelo democrático e suas implicações
para a sociedade. Aprenda ainda o que é cidadania e como ela é exercida em modelos democráticos, com ênfase
na modernidade e na contemporaneidade. Conheça também as teorias mais modernas sobre democracia,
participação social, movimentos sociais e cidadania.
Bons estudos!
- -3
1 Democracia como ideal institucional
Para compreendermos o papel desempenhado pelos movimentos sociais na a, é importantedemocraci
aprendermos o seu conceito e as variações históricas em torno dele.
A possui como marco os escritos de . Este filósofo coloca ateoria clássica sobre a democracia Aristóteles
democracia como uma das três formas de governos possíveis: a monarquia, que é o governo de um só; a
aristocracia, que significa o governo de poucos; e a democracia, o governo de muitos. Todavia, a democracia
proposta na teoria aristotélica pouco se assemelha ao que entendemos hoje como democracia, afinal a sociedade
grega antiga era dividida por classes. Nem todos eram considerados cidadãos. Apenas homens com mais de 21
anos e filhos de pais atenienses tinham o privilégio da cidadania em Atenas, por exemplo. O sistema democrático
não era, portanto, universal, tal qual a cidadania.
A inicia-se com a obra de Maquiavel e surge junto com o Estado Modernoteoria moderna sobre a democracia 
e o Direito. Nesta perspectiva, apenas duas formas de governo são reconhecidas: a Monarquia e a República. A
democracia antiga é vista como uma forma de república, que antecederia um período revolucionário necessário
para o estabelecimento do governo Democrático. Maquiavel é um teórico do Estado, por pensar na relação entre
estruturas de poder em relação ao povo. Ele marca, desta maneira, a ruptura de pensamento teológico medieval
para o pensamento racional-cientifico, base fundamental do Estado Moderno. Seu livro principal, O Príncipe
(1513) fundamenta os princípios do governante autoritário e, portanto, demonstrando para o mundo as vísceras
do poder absolutista. A democracia não surge neste livro, mas coloca suas bases ao mostrar sua antítese – o
autoritarismo absoluto.
A partir deste momento, outros dois autores modernos virão para trabalhar com uma nova etapa teórica na
construção do conceito de democracia: John Locke e Montesquieu. A sua produção trouxe as seguintes
contribuições para o entendimento da democracia:
O poder de governar é delegado ao governante pelos homens e não por uma entidade divina;
Valor da liberdade individual;
Separação entre os poderes;
Limitação dos poderes;
Papel da Justiça.
A questão da demorará a ser discutida. A princípio, as teorias estão voltadas para o carátercidadania
institucional da democracia. É natural, afinal foi um momento de construção das instituições. As demandas
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existiam, mas eram macrodemandas. Posteriormente, e até os dias de hoje, aperfeiçoamos o conceito de
democracia, com o objetivo de atender a grande maioria dos cidadãos.
- -5
1.1 John Locke
John Locke, filósofo conhecido como , garantiu uma guinada no pensamento visto até entãopai do liberalismo
ao pontuar a democracia como um valor positivo. Dois livros alicerçam suas teorias sobre o Estado: Primeiro
 e No primeiro, o tema central é a crítica àTratado sobre o Governo Civil Segundo Tratado sobre o Governo Civil. 
tradição que garante aos reis um poder divino, algo incompatível com a verdade, uma vez que a política é uma
invenção humana. No Segundo Tratado, a abordagem focaliza a legalidade da propriedade privada e define as
bases para a criação do Estado Liberal.
Segundo Locke, os homens possuem direitos fundamentais que são essencialmente três: direito à vida, à
e. É em defesa desses que Locke assevera que os homensliberdade e à propriedad direitos naturais
consentem o poder a uma autoridade. A palavra consentimento é uma das chaves para a compreensão da
importância de Locke, uma vez que retira o poder da esfera do divino e o coloca como acordo social entre
homens. Caso o governante não cumpra o acordo de garantir a vida, a liberdade e a propriedade, os homens
possuem o direito de destituir o governante. Isso é uma transformação substancial no pensamento político do
período e vai influenciar a Revolução Inglesa, Americana e o início da Revolução Francesa, garantindo uma
justificativa plausível aos clamores por um novo governo.
O não permite separação de poderes. Ao rei tudo pertence. Portanto, o rei governa, legisla epoder autoritário
manda executar as leis. Os temas limite de poderes e separação destes será o lastro para os pensadores do
período ampararem suas teorias e garantirem a necessidade do fim do governo dos tiranos, em defesa de um
estado mais justo e igualitário. Esse tema foi trabalhado anteriormente por autores como Platão, Aristóteles e
Maquiavel, porém ganha destaque com Locke, pelo refinamento da teoria e contexto histórico em que é
produzido.
Para Locke, o poder deveria ser . Veja a seguir suas definições:dividido entre Legislativo e Executivo
Poder Legislativo
É supremo, porém, deve ser limitado aos direitos naturais, o que implica que o Legislativo deve criar leis que
estabeleçam a garantia da vida, da propriedade privada e da liberdade. Essas leis devem ser equiparadas com a
finalidade de garantir o bem do povo, jamais em benefício próprio. 
Poder Executivo
Tem como características a existência perene e suas funções são administrativas, que incluem executar e
administrar os direitos naturais.
- -6
Ao afirmar que a liberdade e a tolerância são valores fundamentais no Estado Político, Locke está discursando
contra a intolerância religiosa que assolava a Europa e contra a tirania das monarquias absolutistas, motivo
pelo qual é tido como o fundador da democracia liberal.
1.2 Montesquieu
Influenciado pelas ideias Iluministas, que bebiam em John Locke, surgem os textos de um Montesquieu. O cerne
da teoria de Montesquieu é a a em três esferas distintas: odmissão da necessidade da separação dos poderes
poder executivo, o legislativo e o judiciário. A separação, a harmonia e a equivalência dos três poderes é
fundamental para que um regime político se mantenha estável e não se torne uma tirania. Essa seria a receita
para construir um regime fundamentado no Estado de Direito. Essa é a teoria que fundamenta nosso Estado até
os dias de hoje.
O é a base do Estado Moderno e da democracia. No Estado de Direito prevalece a lei, emEstado de Direito
detrimento de interesses pessoais, partidários ou de grupos de poder. Além disso, todos são considerados iguais
perante as leis, estando todos sob a vigência das mesmas normas e regras e são passíveis de punição em caso de
descumprimento. Começa a ser melhor desenhado o conceito de cidadania, que veremos mais a frente com
acuidade.
Montesquieu aponta que, apenas no Estado de Direito o valor mais caro aos Iluministas, e que fundamentará a
democracia, será garantido: a liberdade. Essa liberdade possui distintas significações, podendo ser liberdade
política, liberdade religiosa e ainda a liberdade de comércio. Assim, estavam garantidas no plano teórico as bases
para o Estado Democrático de Direito.
- -7
2 Estado democrático representativo
Durante o século XIX duas doutrinas econômicas, que impunham características políticas disputavam a
hegemonia intelectual: o socialismo e o liberalismo. Hoje, o nosso modelo de democracia é de uma democracia
liberal.
A surge alicerçada em , como por exemplo:democracia liberal valores da Revolução Francesa
Propriedade privada;
Liberdade individual em relação ao Estado;
Igualdade.
Nesse contexto, surge a distinçãoentre indivíduo e o cidadão. O possui direitos e deveres para com ocidadão
Estado e com o restante da sociedade, composta por cidadãos como ele. A garantia de liberdade vai além de
liberdade econômica, sendo expandida para liberdades políticas e individuais. Essa liberdade difere da liberdade
antiga, que era compreendida como a liberdade garantida pela democracia direta, que pressupunha a liberdade
de fazer e executar leis, e que, por isso, ficava restrita a poucas pessoas, concentrando-se nas mãos das classes
altas que compunham os cidadãos.
O entende que, para que os homens sejam cidadãos iguais e livres, não é necessárioliberalismo democrático
nem viável que a democracia seja direta. O modelo a seguir nesse caso é o da , através da democracia indireta
no qual os cidadãos delegam o poder de decisão à representantes eleitos pordemocracia representativa 
tempo determinado, por meio do voto ou da democracia parlamentar, que, não obstante ser dotada de um
mecanismo distinto no processo eletivo dos representantes máximos, segue a dinâmica da democracia
representativa indireta, na qual o poder é exercido por um corpo restrito de representantes eleitos pelo voto
popular.
Na democracia liberal a é vista como uma barganha entre Estado e representados, na qualdelegação do poder
os representados delegam seu poder de decisão em troca da garantia de seus direitos individuais, como a
liberdade de organização, de manifestação, de imprensa, de opinião e mesmo de atuação política. O é voto
reconhecido como um direito conquistado, o direito de eleger os representantes, algo impensável em um sistema
absolutista.
No Estado democrático liberal, apenas o composto pelas leis está acima das liberdadescorpo jurídico
individuais. Isso significa dizer que não há nenhuma pessoa que ocupe um estamento acima de outra,
juridicamente. Economicamente, no entanto, o sistema não é justo nem inclusivo, sendo regido pelo capitalismo.
- -8
Assista aí
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/8db90126aeed212c75d9f0df5638f9a9
No Brasil, o modelo que regulamenta a delegação de poderes prevê que quatro requisitos sejam atingidos:
Sufrágio universal, a partir de determinada idade, não sendo motivo de exclusão do direito a raça, crença, sexo
ou classe social;
Igualdade perante a lei;
Observância constitucional;
Delimitação temporária do poder nas diversas instâncias.
Questiona-se sobre o . Esse modelo foi adotado pois, devido aofuncionamento da democracia representativa
tamanho das nossas sociedades, é impossível que todas as decisões relativas à condução do país, estados ou
cidades fossem realizadas após consulta individual de todos os cidadãos. Há ainda a possibilidade do
representante eleito ser mais versado sobre a política, já que acabou se constituindo uma classe profissional
para o exercício do poder.
Por outro lado, o maior problema deste sistema está na . Como o poder é exercido por um grupolegitimidade
pequeno e privilegiado, ele pode e muitas vezes é utilizado com fins privados, beneficiando grupos ou indivíduos
que compõem o grupo de poder. Logo, não se sentir representado é um dos grandes males desse modelo de
governo. A falta de conhecimento sobre os políticos, a falta de fidelidade dos eleitos ao plano de governo ou
mesmo a pouca credibilidade que os políticos desfrutam atualmente influenciam na descrença e no consequente
descaso da população com os temas políticos. No entanto, ainda não foi desenvolvido um sistema mais justo e
democrático de representação.
Dissemos anteriormente que houve uma disputa entre duas doutrinas políticas; logo, é importante entender as
diferentes maneiras através das quais elas se relacionam com a democracia. De acordo com Bobbio (1998, p.
334):
Não é diferente a relação entre Democracia e socialismo. Também no que diz respeito ao socialismo,
nas suas diferentes versões, o ideal democrático representa um elemento integrante e necessário,
mas não constitutivo. Integrante porque uma das metas que se propuseram os teóricos do socialismo
foi o reforço da base popular do Estado. Necessário, porque sem este reforço não seria jamais
alcançada aquela profunda transformação da sociedade que os socialistas das diversas correntes
sempre tiveram como perspectiva. Por outro lado, o ideal democrático não é constitutivo do
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socialismo, porque a essência do socialismo sempre foi a ideia da revolução das relações econômicas
e não apenas das relações políticas, da emancipação social, como disse Marx, e não apenas da
emancipação política do Homem.
O processo de democratização do Estado nas doutrinas liberal e socialista mudam. Enquanto o liberalismo
vê no sufrágio universal o objetivo do Estado Democrático de Direito, o socialismo vê o sufrágio universal como
ponto de partida, pois o conceito de democracia socialista é ampliado, propondo que para um Estado ser
considerado democrático é preciso que haja democracia econômica também. Assim, o socialismo propõe uma 
 não apenas nos direitos políticos, mas também na distribuição de renda, osociedade mais justa e igualitária,
fim da imensa desigualdade social, que é condição essencial para a existência do sistema capitalista, e o acesso
universal aos bens materiais e imateriais por todos os cidadãos.
O trato dos indivíduos em comunidades leva em conta a complexidade e a integralidade do conceito de
cidadania, o qual molda nosso imaginário sociopolítico sobre igualdade, direitos e deveres e a própria
democracia. É preciso compreender que, de acordo com Carvalho (1998, p, 45):
O exercício de certos direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o
gozo de outros, como a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existência de
governos atentos aos problemas básicos da população. Dito de outra maneira: a liberdade e a
participação não levam automaticamente, ou rapidamente, à resolução de problemas sociais. Isto
quer dizer que a cidadania inclui várias dimensões e que algumas podem estar presentes sem as
outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal
desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento
da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico.
A grande maioria das sociedades pós-industriais consiste em sociedades democráticas. Dessa forma, prezam
pelo respeito aos direitos humanos e lutam para que eles sejam respeitados, principalmente em sua expressão
legal. Essas forças internas na sociedade pós-industrial buscam o resgate de valores até aqui desprezados,
ressignificando a coesão dos indivíduos, a busca de interesses comuns, a solidariedade pelo estreitamento de
laços. Tais ideais fundam o conceito de cidadania nas sociedades contemporâneas.
Ser cidadão, nesse novo cenário, implica a consciência de seu papel e atuação na vida do grupo, com a
. Ainda se pensa a cidadania como ferramenta de mediação dosgarantia dos direitos e deveres de todos
problemas sociais, dos conflitos e das distâncias entre grupos.
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Assim, o vai além da questão do voto, incluindo direitos, deveres,conceito contemporâneo de cidadania
participação social, justiça em todos os seus âmbitos e liberdade de associação aos movimentos sociais. Sem
cidadania, não há democracia. Logo, sem participação social em movimentos sociais, não há nem democracia
nem cidadania. Os movimentos sociais são fundamentais para que ambos os conceitos se materializem. 
Figura 1 - Sociedade e diversidade
Fonte: Franzi, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: A imagem ilustra pessoas de diversas idades, raças, gêneros, religiões e nacionalidades unidas em
um único espaço.
Assista aí
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3 Perspectiva teórica do Estado Democrático no século XXI
No início dos anos 2000, o mundo todo discutia os múltiplos aspectos da . A preocupação com asglobalização
relações sociais tornou-se uma constante, mas também com as relações institucionais e internacionais entre
países em meio ao mundo globalizado. Essa globalização não era apenas de informações, conhecimento e tantas
outras coisas boas. Falávamos especialmente da globalização do capital, ou seja, do dinheiro. Haveria uma
mudança no paradigma da democracia liberal, com a transformação do sistema financeiro?
De certa forma, já estava havendo essa transformação desde a implementação do Estado neoliberal, com a nova
política econômica implementada pela 1ª ministra britânica Margareth Thatcher, que assumiu o cargo em 1979,
durante a Guerra Fria, e deixou de ocupa-lo onze anos depois, em 1990. Essa nova maneira de colocar o Estado
, ou seja, mínimo, implicou em diversos problemas para as camadas menos privilegiadas e tambémneoliberal
para as camadas médias da população, sem contar nas trágicas consequências para a inclusão de cidadãos que
lutavam por reconhecimento e identidade no processo democrático.
Superado o embate entre socialismo e capitalismo, com o fim da Guerra Fria, estabelecida a democracia na
maioria dos países, a preocupação tornou-se outra: como essa dominação do capitalismo e a transformação na
sua forma de ação transforma também as relações entre os Estado e entre Estados e indivíduos? Os diferentes
regimes políticos respondem de forma distinta aos problemas colocados pela globalização do capital e o novo
paradigma de sociedade e cidadania? Há democracia viável no capitalismo? O que é a cidadania num sistema
capitalista neoliberal? São essas as questões que fundamentarão os debates sobre democracia, Estado e
cidadania nas duas primeiras décadas do século XX.
Uma das grandes autoras a trabalhar com propriedade tais questões foi . Já no início dos anosNancy Fraser
2000, a filósofa afirmava que a sociedade contemporânea estaria passando por importante transformação social,
onde a globalização exerceria uma função basilar, haja vista o desgaste sofrido pelo ordenamento geopolítico
internacional, dominado por Estados soberanos. A globalização pulverizaria então o poder estatal, reduzindo a
capacidade de governação dos Estados Nacionais, afinal esses já não correspondem mais aos anseios da
sociedade do conhecimento em que estamos inseridos (FRASER, 2002).
A globalização gera, assim, um , que tem em seu seio a luta pornovo modelo de reinvindicações políticas
reconhecimento. Essa luta pode, de um lado, ser vista como forma de ampliação da compreensão acerta da noção
de justiça social, tão cara ao processo de consolidação da cidadania, que compreenderá não apenas as questões
que envolvem representação e identidades, mas unirá a isso debates acerca do problema da diferença e da
aceitação desta.
- -12
Nesta ótica, enfatizamos, nas palavras de Fraser (2007b, p. 298), que a transformação da redistribuição para
 “é parte de uma transformação histórica de maior escala”, que está anexada “à globalização”,o reconhecimento
seja quando é entendida sob o prima da derrota do comunismo, seja sob a perspectiva da ascensão do
neoliberalismo enquanto modelo de governo no plano político-econômico.
Dizemos então que são duas faces de uma moeda: a procura pela redistribuição, que objetiva uma distribuição
mais igualitária dos recursos e bens para pessoas e para grupos sociais. Todavia, ao virarmos a moeda,
percebemos que o maior problema é que há um descolamento da ideia de luta de classes – ou seja, de
redistribuição de renda - da luta por reconhecimento de minorias étnicas, sexuais, raciais etc. Fraser (2008)
aponta, a partir das premissas acima, que um dos grandes problemas trazidos pela globalização à justiça social
é o fenômeno da troca de lutas – da redistribuição de renda ao reconhecimento os conflitos de classe são
substituídos, nas três últimas décadas, por ”. Assim,conflitos de status social advindos da dominação cultural
reconhecimento e redistribuição são necessários que ocorram em união para um Estado ser considerado
democráticos e os indivíduos, cidadãos
O combate às injustiças sociais históricas advindas de processos como colonização para exploração, escravidão
ou dizimação de povos nativos, não deve ser realizada de forma isolada. Não pode haver separação entre os
mecanismos de combate à má distribuição de bens, como terra, teto e renda, e os que visam combater o não
reconhecimento, através das lutas identitárias.
As ações devem ser conjuntas, uma vez que os problemas estão eclipsados. É preciso então, garantia de
redistribuição e reconhecimento ao mesmo tempo, para que o Estado seja democrático.
Um desses mecanismos é percebido pela autora com o desígnio de princípio da paridade de participação, que
surge como meio de interação entre os vários sujeitos sociais, sem que um venha a se sobrepor ao outro, ou
seja, a justiça requer arranjos sociais que permitam a todos os membros (adultos) da sociedade interagir entre
si como pares.
Conclui Fraser (2007a, p. 107), portanto, que “o não reconhecimento, consequentemente, não significa
depreciação e deformação da identidade de grupo. Ao contrário, ele significa subordinação social no sentido de
ser privado de participar como igual na vida social”. Logo, a não inclusão é um cerceamento da liberdade
democrática.
É importante, então, discutir a presença do Estado como um dos principais componentes para que seja alcançado
o reconhecimento, a redistribuição, a paridade de participação, ou seja, uma verdadeira justiça social. E assim
construir-se uma verdadeira sociedade democrática.
- -13
Figura 2 - Vulnerabilidade social no Brasil
Fonte: Luis War, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: A imagem mostra um homem em condição de vulnerabilidade social, extremamente pobre e com
semblante triste, sentado perto de seus pertencem em uma rua.
Assista aí
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/8e083c456da8423728fd5d6833977dc2
A , neste século, passa por questões integradas à própria constituição do Estado e doconstrução da cidadania
avanço ou recuo do processo democrático. Em Estados como o Brasil, que fazem parte da América Latina, são
marcados por um processo colonizador massacrante, que destruiu parte da população nativa, e pela escravidão
de milhares de negros africanos trazidos à força para servir como força de produção. A éidentidade nacional
forjada então a partir de divisões e separações entre os indivíduos, dificultando o processo de integração e de
construção da cidadania. Consequentemente, chamamos os Estados Nacionais da América Latina de 
.plurinacionais
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- -14
Esse novo Estado democrático latino americano se pauta na busca, por exemplo, por uma concepção diferente
aos direitos humanos, bem como pela concretização de uma justiça social, que reconheça, e ao mesmo tempo,
redistribua os elementos essenciais para vivermos paritariamente em sociedade.
A América Latina talvez seja o local de em nosso planeta, tendo em vista maior diversidade étnicocultural
possuir representantes de várias culturas originárias, que apesar de tudo, ainda resistem, bem como de culturas
orientais, africanas, europeias e muçulmanas, ou seja, é o Continente da diferença.
É bem no meio deste contexto de diversidade que surge um “novo” tipo de Estado, dominado por um novo 
paradigma, queseja apto a solucionar os problemas do , não por meioreconhecimento da diversidade cultural
de uma imposição cultural de uma identidade nacional – tratada por Fraser como –, mas sim,reificação cultural
através de um diálogo entre os diferentes, da consolidação daquilo que, no contexto da teoria de Fraser, ela
chama de paridade de participação.
Portanto, no âmbito desse novo Estado Plurinacional, surgido na primeira década deste século, será priorizado
um modelo de institucionalização calcado numa , ou seja, os governos não serãodemocracia participativa
compostos apenas de representantes das camadas sociais dominantes, pois serão, sobretudo, integrados por
representantes de diversas culturas, inclusive a indígena, tudo isso a partir de um processo eminentemente
participativo e dialógico.
No Estado Plurinacional o objetivo não é apenas o reconhecimento de direitos, mas a salvaguarda de meios
que garantam o ressurgimento ou mesmo o aparecimento de culturas encobertas pelo Estado Nacional.
Isso significa dizer que a identidade nacional passa a ser construída a partir da diferença entre os vários
indivíduos e seus componentes culturais dentro de uma mesma sociedade.
Essa nova concepção de estado e o novo constitucionalismo, tipicamente latino-americano, trazem uma
conotação distinta e única à democracia. A democracia precisa, nesse contexto mais do que em outros, 
. Ser diferente é o normal, não pertencer a cultura reificada é normal ereconhecer as diversidades culturais
não é sinônimo de exclusão, de falta de reconhecimento ou de injustiça social. Para que haja democracia, é
preciso haver cidadania. Sem o reconhecimento nacional das diversas identidades, com mecanismos que
contribuam e realizem o resgate cultura pautado na palavra e na razão de todos e não de apenas alguns grupos
de elite. Isso edificaria o Estado Plurinacional, democrático e cidadão.
A discussão sobre a nova democracia não cessa com a questão da proposta por Fraser.democracia identitária 
Outra autora expressiva, Chantal Mouffe, aponta que esse novo Estado neoliberal é não inclusivo e pouco
democrático. Ela irá propor o conceito de , como a única capaz de garantir cidadania,Democracia Radical
direitos e justiça social a todos. Mouffe escreve críticas contundentes às democracias liberais modernas. Segundo
elas, há uma padronização inclusive de pautas, que exclui demandas locais em prol de um modelo a ser adotado
- -15
por todos. Mouffe vê nesse modelo imposto pelas democracias neoliberais vieses machistas, eurocêntricos,
racistas, individualistas, que são típicos do pensamento liberal. Assim, não é possível haver democracia e
cidadania. A política tem agonizado em torno de pautas impostas por uma elite financeira e formadora de
opinião, como os grandes conglomerados de rádio e televisão.
O maior problema da democracia neoliberal é a incapacidade de reconhecer a diversidade como elemento
principal de aperfeiçoamento da convivência humana, e, portanto, da própria democracia. A diversidade é
característica da democracia. Sem diversidade não há conflito, antogonismo e embates que são inerentes à
natureza e a práxis democrática. É impossível que haja um mundo sem diferenças. O desafio da verdadeira
democracia é manter as diferenças com justiça social. Surge então o conceito de democracia radical. A
transformação é significativa, não obstante as palavras parecerem semelhantes.
Em uma democracia radical, o . O inimigo é um termo muitotermo inimigo é substituído por adversário
utilizado em teorias e práticas militares. Remete ao hostil, funesto, aquele que deve ser abatido. Já o adversário é
um termo é aquele que se opõe, o antagonista, mas que não precisa ser abatido. É possível a convivência. A
palavra remete à política e não à guerra. Entender que é natural numa democracia a existência do adversário, ou
seja, daquele que tem ideias opostas e que devem ser debatidas, faz com que haja um imaginário democrático na
sociedade. Pensar no opositor como inimigo nos coloca em batalhas internas e externas, na qual o objetivo é
eliminar o outro, não aceitando a existência de pensamentos plurais.
A autora continua sua teoria afirmando que duas questões são mortíferas para a democracia e atualmente são
duas proposições muito colocadas no Brasil: .os apelos para o antipolítico e a ilusão do consenso
Os apelos para o antipolítico foram bastante utilizados nas últimas eleições no Brasil. A negação da importância
do político pode levar (e no caso brasileiro, levou), oportunistas ao poder, “gestores” ao invés de políticos, que
são em sua maioria avessos ao pluralismo democrático. O elemento político é fundamental na sociedade
democrática. Inclusive os movimentos sociais são políticos. , desde o voto até aTudo o que fazemos é político
escolha das bandeiras que defenderemos ou nos colocaremos em oposição ao longo da vida, ainda que
inconscientemente.
O conceito de democracia radical de Chantal Mouffe propõe que o poder político deve ser transformado e todos
devem querer (e poder) exercê-lo. A participação social é, assim, imprescindível. E a valorização do político e da
política também. Para Mouffe, mostra-se imprescindível o “conflito” para o bom desenvolvimento de uma
democracia, na medida em que o vazio deixado por esse suposto “ ” dá margem para oconsenso político
surgimento de identidades coletivas antidemocráticas ou fundamentalistas. Ao tentar fazer com que os conflitos
desapareçam, neutralizando relações humanas, as teorias democráticas deliberativas permitem, conforme
referido anteriormente, que os “espaços” de poder sejam ocupados por interesses unicamente privados. Para
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Mouffe, portanto, é preciso ressuscitar a filosofia política, reestabelecer o elo entre a ética e a política, estimular
os indivíduos a participar ativamente da vida política. Uma democracia fundamentada no antagonismo é uma
democracia com uma esfera pública vibrante, apaixonante, formada por identidades coletivas com
posicionamentos políticos claramente diferenciados.
É preciso entender, de acordo com esse raciocínio, que participar das questões políticas, em especial de
movimentos e mobilizações sociais, transforma as relações pois as torna humanas, e não apenas objetos de
consumo.
Mouffe nos prova que a busca do consenso político, em detrimento do pluralismo, leva-nos inexoravelmente à 
, uma vez que não é possível existir acordo entre todos os seres da sociedade. Se não há acordo, sãoexclusão
apenas dois caminhos: a convivência legítima ou a exclusão. Temos visto que, na democracia liberal, mais do que
a busca pela convivência legitima entre os diferentes, busca-se calar as vozes dissonantes.
Podemos concluir então que, pela teoria de Mouffe, o pluralismo democrático é incompatível com as
democracias democráticas liberais, pois elas buscam afastar o povo do poder, os indivíduos e grupos sociais do
político. Assim, concluímos que enquanto as teorias democráticas liberais tornam o poder algo para poucos, a
teoria da democracia radical de Mouffe busca integrar o reconhecimento, a diferença, a pluralidade.
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer as noções e conceitos de democracia e cidadania;
• compreender como o modelo democrático muda a relação do Estado com a sociedade e, 
consequentemente, com o exercício da cidadania;
• aprender sobre as limitações da democracia liberal e neoliberal e as necessidades iminentes de um 
modelo mais integrador;
• analisar a necessidade de justiça social e econômica andarem unidas, bem como a necessidade de 
Fique de olho
Existem muitas formas de aprender sobre qualquer conteúdo. O primeiro passo é ter
curiosidade, depois deve-se buscar fontes confiáveis e refletir bastante sobre o conhecimento
adquirido. O cinema tem sido utilizado como veículo para disseminação de diversos conteúdos
interessantes e educativos, ou ainda funcionado como canal de comunicação entre sociedade e
movimentos sociais.
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• analisara necessidade de justiça social e econômica andarem unidas, bem como a necessidade de 
reconhecimento e integração das diferenças.
Referências
BOBBIO, N. (org.) Brasília: Editora da UNB, 1998.Dicionário de Política. 
BROWN, W. Nas – A ascensão da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo:Ruinas do Neoliberalismo
Politéia, 2019
CARVALHO, J. M. . O longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002Cidadania no Brasil
FRASER, N. . Critical reflections on the ‘postsocialist’ condition. New York; London:Justice interruptus
Routledge, 1997.
FRASER. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça da era pós-socialista. In: SOUZA, J. (Org.) 
. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001Democracia hoje
LEVITSKY, S. et al. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2018.Como as democracias morrem. 
MOUFFE, C. Democracia, cidadania e a questão do pluralismo. In: , Florianópolis, v. 1, n.3, p.Política & Sociedade
11-26, out. 2003.
MOUFFE. . Lisboa: Gradiva, 1996.O regresso do político
MOUFFE. Por um modelo agonístico de democracia. In: , n. 25, Curitiba: UFPR,Revista de Sociologia e Política
Nov/2005, p. 11-23.
MOUFFE. Teoria política, direitos e democracia. In: FONSECA, R. M. . BeloRepensando a teoria do estado
Horizonte: Fórum, 2004
SILVA, R. Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes do novo republicanismo. , São Rev. bras. Ci. Soc.
Paulo, v. 25, n. 72, p. 37-173, Fev. 2010 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
 Acesso em: 07 jun. 2020.script=sci_arttext&pid=S0102-69092010000100004&lng=en&nrm=iso
WEFFORT, F. C. (org.) São Paulo: Editora Ática, 2006.Os Clássicos da Política – Vol.1. 
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	Olá!
	1 Democracia como ideal institucional
	1.1 John Locke
	1.2 Montesquieu
	2 Estado democrático representativo
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	Assista aí
	3 Perspectiva teórica do Estado Democrático no século XXI
	Assista aí
	é isso Aí!
	Referências

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