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Doação deÓrgãos eTecidos Orientações sobre O que é um transplante? Quem pode ser um doador ou beneficiado? Quais órgãos podem ser transplantados? Quantas pesso- as aguardam por um transplante? O que é morte encefálica ou cerebral? Existe legis- lação específica para transplantes e doação? Eu preciso assinar algum docu- mento para ser doador? Por que doar órgãos e tecidos após a morte? Se você tem alguma dúvida sobre qual seria a res- posta exata para uma destas perguntas ou mesmo se você acha que sabe responder a todas, leia esta publicação que promove, por meio de informações corretas aos lei- tores, a discussão e o aprendizado sobre a doação de órgãos e tecidos. O Brasil se transformou no segundo país do mundo em número absoluto de transplantes reali- zados, principalmente por ter um excelen- te programa de transplantes, que oferece a chance do tratamento a todos os cida- dãos brasileiros, independentemente de sua classe social, racial ou credo. O progra- ma distribui os órgãos doados aos pacien- tes que mais precisam deles, seguindo, ri- gorosamente, uma lista de espera que contempla a gravidade e a compatibilida- de. Como resultado, os índices de doação de órgãos no Brasil cresceram mais de 40% nos últimos dois anos e, em 2010, vêm atingindo o recorde histórico de 10 doadores por cada milhão de população. Embora tudo isto seja parte de uma con- quista nacional, o número de doadores de órgãos ainda é muito menor do que a de- manda por transplantes, e muito pequeno quando comparado ao número esperado. Isto é consequência da delicadeza do as- sunto, que envolve morte e doença. Exis- tem mitos e dúvidas sobre a doação de órgãos e tecidos que precisam ser esclare- cidos, propiciando a cada um de nós a pos- sibilidade de discutir a nossa vontade de ajudar ao próximo e de salvar pessoas, mesmo após a nossa morte. Isto é solida- riedade. Característica do povo brasileiro! Esta é uma oportunidade para cada um de nós entender o nosso papel na sociedade, ser solidário ao próximo, aprender os be- nefícios em doar órgãos e salvar tanta gente que aguarda em lista de espera por um transplante, como a única alternativa de sobrevivência e de uma qualidade de vida digna. Convido os leitores a se intera- rem sobre este assunto e a passarem a fazer parte de um imenso grupo de pesso- as que acredita na possibilidade de conti- nuarmos salvando vidas mesmo após a morte. Se informe, entenda a razão desta luta a favor da humanidade e se transfor- me em um dos embaixadores na busca do aumento da doação de órgãos no Brasil. Estenda a mão para esta causa e ajude a aumentar a linha da vida! Aumente a linha da vida Índice Págs. 4 a 9 Com mais doadores mais vidas serão salvas Págs. 10 a 12 Alguns mitos e verdades Págs. 13 a 17 O que pode ser doado 3 Nós estendemos as mãos para essa causa. A ABTO e a Novartis apoiam e incentivam a doação de órgãos. Muitas pessoas esperam por um transplante, por isso, é importante a participação de todos, inclusive a sua. Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO e chefe do Programa de Transplante do Hospital Israelita Albert Einstein www.estendaamao.com.br A participação da população em prol da doação de órgãos e tecidos pode melhorar a realidade dos transplantes no País. Infor- me-se sobre a doação e passe as mensa- gens adiante. Você ajudará a prolongar a linha da vida de muitas pessoas. Com mais doadores, mais vidas serão salvas O que é transplante? Transplante é um procedimento cirúrgico no qual os médicos substituem um órgão ou tecido de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido saudável de um doador, vivo ou falecido. Hoje mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso. O caminho dos órgãos Constatada a morte cerebral, o hospital aciona a coordenação hospitalar de transplante, que entrevista a família. Autorizada a doação, a coordenação hospitalar avisa a Central de Notifica- ção, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Estado, que seleciona os re- ceptores e avisa as equipes de trans- plante para irem ao hospital remover os órgãos do doador e levá-los ao local onde será realizado o transplante. Quem pode ser um doador? Qualquer pessoa pode ser doadora, exceto os portadores de doenças infec- ciosas ativas ou de câncer. Fumantes, em geral, não são doadores de pulmões, mas podem doar outros órgãos e tecidos. ”O Brasil é o segundo país do mundo em número absoluto de transplantes e o que mais investe recurso financei- ro público em transplantes no mundo. Mas ainda é preciso evoluir. Temos um número muito grande de pacien- tes em lista de espera e, infelizmen- te, um número pequeno de doadores. Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO e chefe do Programa de Transplante do Hospital Israelita Albert Einstein Morte cerebral constatada Coordenação do hospital entrevista família Família autoriza a doação Notificação da CNCDO CNCDO seleciona receptores Equipes de transplante retiram os órgãos Órgãos são encaminhados para transplante 1 2 3 4 5 6 7 54 Os transplantes me salvaram A vida traz inúmeras dificuldades, porém quando os obstáculos envolvem problemas de saúde, tudo se torna ainda mais difícil. É necessário muito otimismo e vontade de viver. Laércio Proni, de 51 anos, tinha uma vida saudável até que seus dois rins para- ram de funcionar. Na época, com 42 anos, ele foi encaminhado para tratamento e in- dicado para a fila de transplantes. Enquanto fazia diálise, Laércio descobriu que tinha he- patite C e precisou iniciar o tratamento rapi- damente, já que não poderia fazer o trans- plante de rins sem estabilizar a doença. Após quatro anos de espera e com a hepa- tite C controlada, o banco de órgãos conse- guiu um dos rins compatíveis para Laércio. Tudo parecia estar caminhando da melhor forma, pois a cirurgia foi um sucesso. “Aquele rim trouxe a esperança de uma vida normal. Era tudo que eu queria”, desa- bafa Laércio. Ele só precisaria então aguar- dar na fila pelo transplante do segundo rim. Entretanto, um mês após a cirurgia, outras complicações renais o levaram para o hos- pital novamente. Foi quando os médicos descobriram que ele estava com câncer no fígado. O diagnóstico complicou o seu caso, pois ele passou a precisar de um fígado, além do segundo rim pelo qual já aguarda- va. Felizmente, alguns meses depois, Laér- cio foi informado que havia no banco de órgãos um rim e um fígado compatíveis. “Os órgãos vieram de um rapaz de 24 anos que havia falecido. Ele morreu, mas salvou minha vida”, comenta Laércio. A cirurgia foi um sucesso. “Considero-me um vitorioso. Por muitas vezes os médicos pensaram que eu não conseguiria superar todas as dificul- dades que surgiram, mas eu venci. Hoje tenho uma vida normal”, completa Laércio. ”Queremos que o número de doadores triplique até 2017. A intenção é chegar a 20 doadores por milhão de pessoas. E já estamos progredindo: de 2006 para cá, o número de doadores cresceu 40%. Hoje, a taxa é de 8,6 doa- dores por milhão de pessoas.” Dr. Valter Duro Garcia, membro da Diretoria e Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) Por que ser doador? A maioria das pessoas tem medo de falar no assunto, uma vez que o mesmo envol- ve a idéia de morte. Da mesma forma, é mais fácil imaginar que nunca será preciso transplantar um órgão ou tecido. A possibi- lidade, entretanto, existe. Se alguém ne- cessitar de um órgão ou tecido, precisará de um doador. Um único doador tem a possibilidade de salvar ou melhorar a quali- dade de vida de mais de vinte pessoas. O que pode ser transplantado? Órgãos, tecidos e células (medula óssea) podem ser transplantados. O doador vivo pode doar um rim, parte do fígado, partedo pulmão, parte do pâncreas e a medula óssea – esta última pode ser feita até por crianças e mulheres grávidas, por não acarretar nenhum risco ao doador. No caso do doador falecido, depois de decla- rado o óbito, com o consentimento da família, podem ser doados coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, córneas, pele, ossos e válvulas cardíacas. Por que o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos ocorre no dia 27 de setembro? Nessa data é celebrado o dia de São Cos- me e São Damião, os santos gêmeos mé- dicos considerados padroeiros da medici- na e dos transplantes. Obra exposta no Museu do Prado, em Madri, do pintor es- panhol Fernando del Rincón (1491-1525), mostra os santos transplantando uma perna em um paciente, com o corpo do doador ao lado da cama. Uma pessoa em coma pode ser doadora? Não. No coma, não ocorreu a morte cere- bral, ou seja, as células do cérebro continu- am vivas e o quadro pode ser revertido. Você também pode precisar um dia No Brasil, anualmente, 60 pessoas a cada 1 milhão apresentam morte cerebral, represen- tando aproximadamente 12 mil pessoas. Destas, em torno de 6 mil (50%) poderiam ser doadoras de órgãos. Têm a necessidade de receber um transplante de órgão a cada ano: Portanto, a chance de que alguém seja doador de órgãos é quatro vezes menor do que a chance de que venha a precisar de um transplante. 14 mil para rim 6 mil para fígado 1.600 para coração 1.600 para pulmão 400 para pâncreas 200 para intestinope ss oa s 6 7 O que é morte cerebral? Chamada pelos médicos de morte ence- fálica, é a parada irreversível da função do encéfalo (cérebro e tronco cerebral), ou seja, é quando o cérebro para de funcio- nar. Ela ocorre geralmente por causa de um ferimento grave ou um derrame, quando o cérebro deixa de receber fluxo sanguíneo e não executa mais suas funções vitais. A constatação da morte encefálica é feita por pelo menos dois médicos, sendo um deles neurologista a partir de exames clínicos realizados em intervalos de diversas horas. A morte cerebral deve ser confirmada por um exame de imagem, que pode ser arterio- grafia cerebral, eletroencefalograma ou doppler transcraniano. A morte cerebral permite a doação de órgãos e tecidos; a morte cardíaca, só a doação de tecidos. “Renasci no dia do meu transplante” Aos 25 anos, Manoel Agostinho contraiu o vírus da hepatite C, doença silenciosa que não apre- senta sintomas. Passados 25 anos, após uma suspeita de infarto, Manoel recebeu o diagnós- tico de uma cirrose hepática. "Fiz um ano e meio de tratamento, sempre com esperança. Porém, após o tratamento, o vírus voltou a se manifestar”, conta Manoel. Ele precisou, então, se submeter a um novo tratamento e descobriu que seu fígado estava comprometido com um câncer. O transplante era essencial. “Em nenhum momento pensei em desistir. Era a minha vida que estava em jogo e eu decidi que eu iria lutar”, declara. Foram 30 dias na fila de transplantes, uma espera válida na busca pela cura. A cirurgia foi realizada com sucesso, mas o começo de sua nova vida não foi fácil. “Tive rejeição do órgão nos primeiros meses, mas consegui vencer as dificuldades e hoje estou aqui. Bem. Feliz da vida!” O valor da vida mudou. Hoje Manoel toma medicamentos para que seu corpo não rejeite o novo fígado, fora isso, seus hábitos continuam os mesmos. Ele é feliz e tem uma vida normal. “Faço aniversário duas vezes ao ano. Quando nasci e quando renasci!”, conta Manoel. É necessário assinar algum documento para ser um doador? Para se tornar doador, não é preciso deixar nada por escrito, nenhum documento. Basta avisar a família – é ela quem vai autorizar a remoção dos órgãos no caso de doação após a morte cerebral. Por isso, é importante que haja um consentimento da pessoa ainda em vida, deixando clara a sua vontade à família. Esse consentimento não precisa ser por escrito, podendo ser apenas por meio de uma comunicação verbal. Para doações em vida, o doador deve ter mais de 18 anos de idade e o receptor deve ser cônjuge ou parente consanguíneo (pais, filhos, irmãos, avós, tios ou primos). Se não houver parentesco, será preciso autorização judicial. Quem é beneficiado? Milhares de pessoas, incluindo crianças, que contraem doenças cujo único tratamento é um transplante. Geralmente, essas pessoas vão para listas de espera formadas nas Cen- trais de Transplantes das Secretarias Estaduais de Saúde e aguardam a chamada. Mas a sua vez pode demorar: a lista de espera por um pulmão, por exemplo, é renovada anual- mente, uma vez que a maioria das pessoas morre sem conseguir um doador. É impor- tante também saber que a indicação para um transplante é feita com muito critério pelos médicos, de acordo com a legislação vi- gente. A família do doador falecido não esco- lhe o receptor, que é designado a partir das listas de espera das Centrais de Transplantes. “Cada um dos transplantes bem sucedi- dos são histórias de felicidade, renasci- mento para a vida e esperança na me- dicina e na ciência. Os doadores anôni- mos são sempre um exemplo de cora- gem e desprendimento. As famílias que doaram órgãos de fami- liares representam gestos de altruísmo e solidariedade do ser humano”. Dr. Mário Abbud Filho, do Instituto de Urolo- gia e Nefrologia e diretor do Centro de Transplan- tes de Orgãos do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) Há legislação específica sobre doações no Brasil? No País, a doação é sistematizada por meio de legislação (Lei nº 9.434/1997 e Lei nº 10.211/2001) que trata sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante. A doação de órgãos no Brasil é organizada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), em âmbito nacional, e pelas Centrais Estaduais de Transplantes, que controlam a lista de espera pelos órgãos e toda a logística do processo de doação e transplante em cada estado. A política de transplante está em sintonia com as Leis nº 8.080/1990 e nº 8.142/1990, que regem o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Veja a rede do SUS Estados participam do sistema de captação de órgãos, por meio das Centrais Estaduais de Transplantes 25 Equipes médicas em todo o Brasil são autorizadas a realizar transplantes no País 1.376 Estabelecimentos de saúde fazem parte da rede 548 Dos transplantes realizados no País são feitos por meio do SUS 90% 8 9 A família precisa arcar com os custos relacionados à doação O doador ou sua família não têm custos nem ganho financeiro, sendo apenas entregue uma carta de agradecimento pelo gesto solidário e humano. O receptor também não precisa pagar pela cirurgia de transplante. A condição social e/ou financeira do receptor não importa quando se está numa lista de espera. O que realmente conta é a gravidade da doença, tempo de espera, tipo de sangue e outras informações médicas importan- tes. Quem arca com os custos dos proce- dimentos relacionados aos transplantes é o Sistema Único de Saúde (SUS), que também se responsabiliza pelo forneci- mento, durante toda a vida, das medica- ções necessárias para evitar a rejeição do órgão transplantado. Um idoso ou uma pessoa que já tenha tido alguma doença não podem ser doador Todas as pessoas podem ser consideradas potenciais doadoras, independentemente da idade ou do histórico médico. O que determinará a possibilidade de transplante e quais os órgãos e tecidos que poderão ser transplantados é a condição de saúde no momento da morte e uma revisão do histórico médico do paciente. Os recentes avanços da medicina na área de transplan- tes garantem que mais pessoas possam ser doadoras e que haja mais receptores. “Uma segunda chance para ser feliz” Em 1987, Andrea Teixeira realizou um dos seus sonhos:engravidou pela primeira vez. O desejo de ser mãe estava se tornando realidade, mas a gestação não foi fácil. Ela começou a se sentir mal e seus olhos e pele começaram a ficar com uma tonalida- de amarelada. O problema foi diagnostica- do por sua obstetra como sendo hepatite e Andrea passou a seguir o tratamento da doença. Ela lembra o período como sendo um dos mais difíceis de sua vida. Devido a todos os problemas de saúde que enfren- tou durante a gravidez, o parto ocorreu aos oito meses de gestação. Porém, para a tris- teza de todos, a criança não resistiu. Foi nesse difícil período que ela recebeu o diagnóstico de Colestase (redução do fluxo biliar, desencadeada por um processo infla- matório) e recebeu a orientação de não engravidar novamente. Mesmo após esses acontecimentos, Andrea tentou seguir sua vida normalmente. Cinco anos depois, ela começou a sentir muito cansaço. Foi quando descobriu que estava com outras complicações de saúde, como fibrose no fígado e varizes no esôfago. Começava no- vamente a peregrinação em hospitais. Nesse período, Andrea engravidou duas vezes, mas sofreu abortos espontâneos. Por causa das gestações, a situação de seu fígado se complicou ainda mais. Após en- frentar oito anos de hemorragias, infecção hospitalar e pneumonias, Andrea recebeu um novo fígado por meio de um transplan- te. “Foi muito tempo de luta. E hoje, 10 anos depois do meu transplante, conside- ro-me uma pessoa feliz de verdade”, de- clara Andrea. Atualmente, ela dirige uma instituição que atua na área de transplantes para orientar, ajudar e estimular pessoas com problemas semelhantes aos seus. Religião é impedimento para doação Todas as religiões pregam os princípios de solidariedade e amor ao próximo, que são as principais características do ato de doar. A grande maioria das religiões é francamente favorável à doação, enquan- to outras deixam a critério de seus segui- dores a decisão de serem ou não doado- res. Até mesmo as religiões que são con- trárias à transfusão de sangue não inter- ferem na decisão de doação. A doação deixa o corpo deformado Os órgãos e tecidos doados são removi- dos por meio de uma operação cirúrgi- ca. Portanto, a doação não desfigura o corpo, que pode ser velado ou crema- do normalmente. “Legislação, financiamento, organiza- ção de hospitais e educação da popula- ção devem se desenvolver de forma harmoniosa. Legislação e financiamen- to devem ser aprimorados, enquanto a atenção, agora, deve se voltar princi- palmente para a organização e a edu- cação. Precisamos atuar em vários es- tados e aumentar o número de trans- plantes em todo o Brasil. O número de cirurgias está abaixo das necessida- des da população porque falta doação de órgãos.” Dr. Valter Duro Garcia, membro da Diretoria e Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) Alguns mitos e verdades 10 11 Uma pessoa que se manifesta doadora pode ser sequestrada e ter seus órgãos roubados O transplante de órgãos exige cuidados médicos especiais, exames laboratoriais e ação rápida. Um coração ou um pulmão, por exemplo, devem ser transplantados, no máximo, entre quatro a seis horas. Além disso, a cirurgia de remoção de órgãos deve ser realizada em um centro cirúrgico, com toda assepsia necessária. Isso inviabiliza o mito de pessoas desaparecidas que ressurgem sem um rim. A história de sequestros de pessoas para venda de órgãos, divulgada pela internet, é fantasiosa e não se baseia na realidade dos transplantes de órgãos no País. Se os médicos souberem que um paciente quer ser doador, não vão se esforçar para salvá-lo A equipe médica que atende uma pessoa na emergência não é a mesma que pro- move a retirada de órgãos para transplan- te. A primeira tem como prioridade salvar vidas, não tendo conhecimento sobre a decisão da pessoa de ser doadora ou não; a segunda só atua depois de anunciada a morte e com o consentimento da família. Não é verdade que os médicos do setor de emergência podem não se esforçar para salvar a vida de uma pessoa, da qual se conhece o desejo de ser doadora. “A lei brasileira é uma das mais rigo- rosas do mundo sobre a questão da morte encefálica e da doação de órgãos após a morte.” Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO e chefe do Programa de Transplante do Hospital Israelita Albert Einstein No Brasil, são considerados de rotina transplantes de órgãos (rins, coração, fígado, pulmão e pâncreas), tecidos (córneas, válvulas cardíacas, ossos e pele) e células (medula óssea) e sangue. O que pode ser doado Córneas Coração ou Válvulas Pâncreas Rins Ossos Pele Fígado Pulmões Sangue 12 13 Coração O transplante, recomendado a pessoas com insuficiência cardíaca que não res- pondem a nenhum tratamento ou cirur- gia, pode ser realizado somente por doador falecido, com morte encefálica- constatada. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 85% no pri- meiro ano. Córneas Transplantes de córnea, parte do olho que controla a passagem de luz para a retina, só podem ser realizados a partir de doado- res falecidos, com idade entre 2 e 80 anos. Entre as doenças graves que podem afetar a córnea estão o ceratocone e a dis- trofia do endotélio. Pele O transplante de pele é indicado para pes- soas que sofreram grande perda de pele, seja por queimadura ou por alguma doença dermatológica grave. Ela pode ser obtida de doadores falecidos ou, ainda, de pessoas que tiveram a pele removida em cirurgias estéticas. “A cada transplante, a alegria é coleti- va. A chance de um transplante de rim dar certo é superior a 90%.” Dr. José Medina Pestana, do Hospital do Rim e professor titular da Escola Paulista de Medicina Pulmão Transplante indicado para pessoas com doença pulmonar grave, tais como enfi- sema, fibrose cística e fibrose pulmonar. Em situações especiais, para crianças, uma parte do pulmão pode vir de um doador vivo. São necessários dois doado- res para um receptor. O índice de sobrevi- da dos transplantados é de cerca de 78% no primeiro ano. Sangue Este é o tipo de doação que todo mundo conhece e que pode ser feita em qual- quer hemocentro, onde o sangue será utilizado quando for necessária uma transfusão. O doador deve apresentar boa saúde, ter entre 18 e 65 anos, pesar mais de 50 quilos, entre outros critérios. Antes da doação, um questionário é aplicado para verificar se as pessoas podem ou não ser doadoras. Pâncreas O pâncreas é uma glândula que atua na digestão dos alimentos e produção de in- sulina, elemento químico responsável pelo equilíbrio dos níveis de açúcar no sangue. Esse transplante é realizado geral- mente junto com o transplante de rim em pessoas diabéticas com sérios problemas renais, a partir de doador falecido. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 86% no primeiro ano. 14 15 “A única certeza que temos na vida é a de que um dia vamos morrer. A per- gunta é: por que não ajudar as outras pessoas também neste momento? Com esse gesto, muitas pessoas vão ganhar vida. Se temos dificuldade em falar sobre a morte, vamos falar sobre a vida das pessoas que podem ser salvas.” Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO e chefe do Programa de Transplante do Hospital Israelita Albert Einstein Ossos Vários ossos ou fragmentos de ossos do corpo humano podem ser transplantados por meio de cirurgias simples. Esse proce- dimento pode ser realizado em casos bastante variados, como, por exemplo, implantes dentários, enxertos para lesões da coluna e próteses. Os ossos doados podem ser mantidos em um banco por longo tempo. Rim Como cada pessoa possui dois rins, este órgão pode ser doado também em vida, geralmente para um parente próximo. A doação beneficiapessoas com insufici- ência renal crônica por nefrite, hiperten- são, diabetes e outras doenças relacio- nadas aos rins. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 95% no primeiro ano. Fígado Maior órgão do corpo humano, o fígado tem capacidade de regeneração. Dessa maneira, uma pessoa pode doar parte de seu fígado em vida. Esse transplante é realizado principalmente em casos de cirrose hepática. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 85% no primeiro ano. Por uma vida melhor A doação de órgãos tem como propósito melhorar ou até salvar a vida de uma pessoa. Embora os avanços da medicina tenham reduzido bastante os riscos desse tipo de cirurgia, a pessoa que recebe o transplante ainda corre o risco de rejeição do órgão transplantado. Daí a necessidade do uso dos chamados “imunossupresso- res”, medicamentos que reduzem o risco de rejeição do órgão transplantado. Novas possibilidades Médicos brasileiros investigam ainda a possibilidade de transplante de outros órgãos, tecidos e células, como intestino, membros superiores, face, traquéia, la- ringe, ilhotas de pâncreas, células neuro- nais e hepatócitos. 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Córneas Rim Fígado Coração Pulmão Pâncreas 16.560 12.160 13.300 3.780 4.600 1.174 1.104 200 1.472 53 570 166 66% 28% 29% 26% 18% 4% Válvulas cardíacas Em muitos casos não é possível utilizar para transplante o coração de uma pessoa que teve morte encefálica, mas, nessa si- tuação, as válvulas cardíacas podem ser doadas e enviadas para um banco de vál- vulas, onde são mantidas por anos e utili- zadas em pessoas com doenças da válvu- la do coração. Medula óssea Encontrada no interior dos ossos, a medula óssea é responsável por produzir os com- ponentes do sangue e utilizada para a cura de doenças que afetam as células do sangue, como a leucemia. É a única forma de doação permitida a crianças e gestan- tes e também a única que mantém um banco de doadores. Necessidade ppm* Córneas 90 Rim 70 Fígado 25 Pulmão 8 Coração 6 Pâncreas 3 *pessoas por milhão Necessidade Transplantes realizados 16 17 Importância da participação da população Necessidade estimada em 2008 X transplantes realizados www.estendaamao.com.br
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