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Direito Civil I Resumão Geral

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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
Fonte: Universidade Estácio de Sá ­ Campus Menezes Côrtes 
DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
Fonte: Universidade Estácio de Sá ­ Campus Menezes Côrtes 
 
O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO: ​Em 11 de janeiro de 2003, entrou em vigor o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.01.2002), 
depois de tramitar por décadas  no Congresso Nacional (desde 1968).  
Esse novo Código representa a consolidação das mudanças sociais e legislativas surgidas nas últimas nove décadas, incorporando outros novos                                     
avanços na técnica jurídica. 
  
Três princípios fundamentais do novo Código Civil: 
a) ETICIDADE –superar o apego do antigo Código ao rigor formal. O novo Diploma alia os valores técnicos aos valores éticos. Por isso percebe­se,                                               
muitas vezes a opção por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual. 
O mundo contemporâneo testemunha a preocupação constante dos doutrinadores jurídicos, políticos e sociais com a necessidade das relações do                                     
homem com os seus e do Estado com os seus administrados serem fortalecidas com a prática de condutas éticas. Afirma que a ética é delimitadora                                                 
do comportamento humano, abrangendo a realidade que o cerca e influenciando a estrutura dos fatos e atos produzidos pelo cidadão. Declara que O                                             
Novo Código Civil apresenta­se em forma de sistema vinculado a dois pólos: um formado em eixo central; o outro concentrado em um sistema                                             
aberto. O professor pode concluir definindo que a eticidade no Novo Código Civil visa imprimir eficácia e efetividade aos princípios constitucionais                                         
da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealdade, da boa­fé, da honestidade nas relações                                         
jurídicas de direito privado. 
 
b) A SOCIALIDADE – Está presente no novo Código a socialidade em detrimento do caráter individualista do antigo Diploma civilista. Daí o                                           
predomínio do social sobre o individual. 
Um exemplo interessante neste sentido é o da função social da propriedade A Constituição Federal deu uma fisionomia funcional social ao direito de                                             
propriedade, que no seu art. 5º, inciso XII, ao lado de garantir o direito de propriedade, logo em seguida no inciso XXIII.  
  
A funcionalização do direito de propriedade importa em dar­lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva (art.                                       
186) e na urbana quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor (art. 182, § 2º) . 
Tal novidade acabou por refletir­se na elaboração do novo Código Civil, em seu art. 1228, o que se mostra coerente com a inscrição de novos                                                 
princípios norteadores, especialmente o da Socialidade, que vem tentar a superação do caráter manifestamente individualista do Diploma revogado,                                   
reflexo mesmo da publicização do Direito Civil, admitindo ainda a propriedade pública dos bens cuja apreensão individual configuraria um risco                                       
para o bem comum. 
  
De lapidar redação, o § 1.º do art. 1228 estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas                                               
e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio                                                 
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas." Também digno de transcrição o § 2.º: "São defesos os                                                     
atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem." 
 
c) OPERABILIDADE – Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreensão maior e mais simplificada  para                                     
sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em                                             
que são aplicadas;  estabeleceu­se  a diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não                                         
econômicos, e a última para designar as de objetivos econômicos. 
  
A Constitucionalização do Direito Civil 
Em relação a este item a ser desenvolvido pelo docente, uma sugestão é a de se começar afirmando que o Código Civil sempre representou o centro                                                   
normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relações entre particulares. Desta forma, o aluno sera                                           
instado a perceber que existia uma verdadeira cisão na estrutura jurídica liberal no sentido de que a Constituição apenas deveria se preocupar em                                             
regular a dinâmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Código Civil era reservado o regime das relações humanas, o espaço                                           
sagrado e inviolável da autonomia privada.  
  
É exatamente nesta linha que surge a codificação de 1916, sendo fortemente influenciada pelo Código Napoleônico de 1804 e pelo BGB da                                           
Alemanha de 1896. Com aspirações de um jusnaturalismo racionalista, o Código Civil de 1916 defende os valores do patrimonialismo e de um                                           
excessivo individualismo inerentes às codificações liberais. (aqui vale recordar as noções sobre as diversas correntes jusnaturalistas que o aluno                                     
aprendeu em IED, no periodo anterior) 
  
Desta maneira, conferia­se ao Código o papel de garantia e regulação das relações privadas mediante a efetivação dos valores de um iluminismo                                           
liberalista. A codificação civil de 1916, então, surgiu impelida pelas idéias libertárias da burguesia ascendente, que visava à consolidação dos valores                                         
de um patrimonialismo e individualismo nas relações privadas. Assim, pelo liberalismo econômico, a Constituição exerceria um papel meramente                                   
interpretativo, somente podendo ser aplicada diretamente em casos excepcionais de lacunas dos códigos, a quem realmente caberia a missão de                                       
regular e equilibrar as relações inter­pessoais. 
Neste sentido, o Código Civil se transforma numa verdadeira constituição do direito privado, buscando proteger o indivíduo contra as ingerências do                                         
Estado.  
  
Importante ressaltar ao aluno, ainda que não seja o objetivo primordial desta aula,  que o Código Civil de 1916 surgiu com um século de atraso das                                                   
codificações individualistas e voluntaristas da Alemanha e da França, onde já se iniciavam as demandas por um maior intervencionismo estatal e                                         
pelo controle dos desequilíbrios das relações econômicas. Mas, mesmo assim, o Código de 1916 permaneceu ancorado neste modelo abstrato e                                       
totalmente inerte a realidade social e a crescente complexidade das relações humanas.  
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Esse excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas                                       
relações de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivíduos protegendo as classes menos favorecidas, em                                       
busca de uma igualdade substancial.  
  
Aos poucos o Código Civil vai perdendo o seu papel de “Constituição” do direito privado. A idéia de código concebido como um sistema fechado                                               
foi sendo destruída, surgindo diversas leis especiais e, ao poucos, o Direito Civil foi se fragmentando.  
  
Assim, a Constituição assume um novo papel de regência das relações privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurídico. A posição                                         
hierárquica da Constituição e sua ingerência nas relações econômicas e sociais possibilitam a formação de um novo centro unificador do sistema,                                         
definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentação.  
  
Desta forma, a constitucionalização do Direito privado não importa em apenas conferir à constituição a superioridade hierárquica conformadora do                                     
ordenamento jurídico, mas, acima disto, quer proporcionar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando à                                     
concretização dos valores e preceitos constitucionais. A Constituição passa, assim, a definir os princípios e as regras relacionados a temas antes                                         
reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade, como a função social da propriedade, organização da família e outros. Assim,                                           
foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidadão dotado de patrimônio, e passou­se a adotar um novo paradigma. As                                             
constituições começaram a trazer em seu bojo regras e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando­a acima do patrimônio.                                             
Passou­se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade                                               
substancial. É importante distinguir, por fim, a Constitucionalização do Direito Civil da publicização do direito privado. Muitos doutrinadores                                   
confundem essas duas situações, mas elas são distintas. A primeira é a analise do direito privado com base nos fundamentos constitucionalmente                                         
estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos constitucionais no direito privado. Já a segunda é o processo de intervenção estatal no direito privado,                                           
principalmente mediante a legislação infraconstitucional.  
  
Por fim, é importante que o professor destaque para o aluno que a norma constitucional, apesar da resistência de alguns setores da doutrina, passa a                                                 
ser diretamente aplicável às relações privadas. Note­se que a Constituição, por ser um sistema de normas, é dotada de coercibilidade e                                         
imperatividade e, sendo assim, é perfeitamente suscetível de ser aplicada nas relações de direito privado. E aqui é importante exemplificar,                                       
utilizando, por exemplo o direito de família: 
  
A Constituição de 1988, refletindo as mudanças nas relações familiares ocorridas ao longo do século XX deu um novo perfil aos institutos do direito                                               
de família. 
  
Assim o novo CC teve que adaptar­se aos novos ditames constitucionais aprofundando­os: 
União Estável ­ reconhecida; 
Maioridade Civil – aos 18 anos;Regime de bens – pode ser alterado por acordo entre os cônjuges; 
Exames de DNA para comprovação de paternidade – a recusa implica em reconhecimento da filiação ; 
Filhos nascidos fora do casamento – não há mais distinção entre filhos; 
Guarda dos filhos em caso de separação ­  os filhos podem ficar com o pai ou a mãe; 
Testamento – não mais precisa ser feito à mão pelo testador; 
Sucessão  ­ o cônjuge passa a ser herdeiro necessário. 
Aplicação Prática Teórica 
patente, a fim de atender a demanda social pelo remédio. Justificando­se que o valor do medicamento inviabiliza a compra pela maior parte das                                             
pessoas que sofrem a doença, de acordo com o princípio da socialidade.   
 
PESSOA NATURAL: Iniciaremos demarcando  que é o próprio homem, isto é, o ser humano individualmente considerado como sujeito de direitos                                       
e obrigações. Vale salientar, que as expressões pessoa física e pessoa natural são sinônimas, apenas com a ressalva que esta (pessoa natural) foi a                                               
locução adotada pelo Código Civil brasileiro, enquanto que aquela (pessoa física) foi adotada pelas legislações tributárias. Feita esta ressalva,                                     
continuaremos, no sentido de introduzir ao aluno  o conceito de que personalidade civil ou Jurídica é a capacidade que as pessoas têm de serem                                               
titulares de direitos e obrigações.Personalidade não é um atributo natural, isto é, não está necessariamente vinculado ao ser humano. Se assim fosse,                                           
a pessoa jurídica não teria personalidade. Por isso se diz que a personalidade é um atributo jurídico.O início da personalidade civil ocorre a partir do                                                 
momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando­se quando de sua morte. Portanto, enquanto a pessoa viver terá personalidade. É o que o art.                                                 
2º do novo Código Civil diz: ?A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos                                                     
do nascituro?. Do próprio texto da lei temos então que são dois os requisitos para a caracterização da personalidade da pessoa natural: o nascimento                                               
e a vida. Após, abordaremos a questão da natureza jurídica do nascituro e as diversas posições doutrinárias, sobre as quais, seguem algumas                                           
sugestões: 
O já mencionado art. 2º, em sua parte final, salienta que a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do NASCITURO ­ aquele já concebido, cujo                                                        
nascimento já se espera como fato futuro. 
Não se trata de uma exceção à regra de que a personalidade só começa com o nascimento com vida. O objetivo do Código é, apenas, resguardar                                                   
preventivamente os eventuais direitos que possam ser adquiridos, caso o nascituro nasça com vida. Entretanto, se não ocorrer o nascimento com                                         
vida, torna­se inoperante a ressalva contida no Código Civil. Portanto, o NASCITURO não é pessoa natural, tem apenas uma proteção jurídica. 
Há duas teorias que buscam estabelecer qual o momento em que se inicia a personalidade jurídica: ​a concepcionista e a natalista​. Pela primeira, a                                               
personalidade jurídica se iniciaria no momento da concepção, ou seja, quando o espermatozóide se funde ao óvulo (há quem defenda que a aquisição                                             
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da personalidade ocorra algum tempo depois, contudo). 
Pela ​teoria natalista​, a personalidade começa com o nascimento com vida. A maior parte dos civilistas entende ser essa a teoria adotada pelo                                             
Código Civil, que preconiza no art. 2º, primeira parte: "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida". Ou seja, partir deste                                             
momento, começa a existência da pessoa natural e esta pode ser titular de direitos e obrigações. 
A parte final deste artigo diz que: "mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro". Por essa disposição, alguns autores (como                                                   
Maria Helena Diniz) diz que o Código Civil adotou a teoria concepcionista. Porém, a doutrina majoritária entende que esta disposição não se refere                                             
ao inicío da personalidade jurídica. Esta só ocorre com o nascimento com vida. Neste caso, a Lei busca proteger um ser que pode vir a se tornar                                                     
pessoa (se nascer com vida). Tem muita importância no campo do direito sucessório, por exemplo, se o pai da criança falecer enquanto sua esposa                                               
está grávida. Se a criança nascer com vida, esta terá direito à sucessão. Caso contrário (se não nascer com vida), opera­se a sucessão normalmente. 
Uma implicação importante: se o bebê morrer pouco após o nascimento? Neste caso, a criança fará juz a sucessão e, logo em seguida, também será                                                 
autora de herança. Situação diferente da que ocorreria se a morte fosse intra­uterina.  
Sobre a capacidade jurídica,  é uma medida limitadora ou delineadora da possibilidade de adquirir direitos e de contrair obrigações. Capacidade                                       
significa a aptidão que a pessoa tem de adquirir e exercer direitos.  
A capacidade é a regra, ou seja, pelo código civil toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil; a incapacidade é a exceção, ou seja, são                                                         
incapazes aqueles discriminados pela legislação (menores de 16 anos, deficientes mentais, etc). 
 A capacidade divide­se em dois tipos: a) capacidade de direito: em que a pessoa adquire direitos, podendo ou não exercê­los, e b) capacidade de                                               
exercício ou de fato: em que a pessoa exerce seu próprio direito. Com isso, podemos concluir que todas as pessoas possuem capacidade de direito,                                               
mas nem todas possuem a capacidade de exercício do direito.  
Depois de fixados os conceitos sobre capacidade absoluta e relativa, vamos apresentar as seguintes distinções: 
Obs.: A incapacidade relativa gera a anulabilidade do ato jurídico. ​  
O falido não é incapaz, apenas lhe são impostas restrições à atividade mercantil.​  
A condenação criminal não implica capacidade civil​. Como pena acessória, pode sofrer o condenado a perda de função pública ou do direito à                                             
investidura em função pública; a perda do pátrio poder, da tutela ou da curatela.   
Assistência:​ Os assistentes dos incapazes serão: 
a) os pais ou tutor  assistem os maiores de 16 e menores de 18 anos. 
b) o curador  assiste os pródigos e os que possuem o discernimento reduzido, se maiores de 18 anos.  
Incapacidade e Impedimento: A incapacidade não se confunde com o impedimento. Neste ocorre a vedação à realização de certos negócios                                       
jurídicos, como por exemplo, fazer contratos, adquirir bens etc. Exemplo: a lei proíbe que o leiloeiro e seus prepostos adquiram, ainda que em hasta                                               
pública, os bens de cuja venda estejam encarregados.   
Capacidade negocial e Capacidade especial:​ Além das capacidades de direito e de fato há ainda as capacidades negocial e especial.   
A capacidade negocial é aquela exigida como plus, além da genérica, para a realização de atos jurídicos específicos. Exemplo: exige­se que o                                           
outorgante da procuração particular a advogado seja alfabetizado.   
A capacidade especial é a exigida para a realização de determinados atos, normalmente fora da esfera do Direito Privado. Exemplo: para votar                                           
exige­se que a pessoa tenha 16 anos completos.  
Aplicação Prática Teórica 
PESSOA NATURAL – O FIM DA PERSONALIDADE CIVIL. 
  
O NOME CIVIL. REGISTRO CIVIL: Para o Direito, existem então as pessoas naturais – seres humanos que, enquanto pessoas, têm reconhecida                                         
sua personalidade – e as pessoas jurídicas – entes formados pela associação de indivíduos ou de patrimônio voltada para determinado fim comum a                                             
que o Direito ressalva uma personalidade jurídica independente das de seus idealizadores. Neste ponto o professor deve  focar na pessoa natural.  
O registro civil do nascimento da pessoa natural dota de formalidade e publicidade aquele fato jurídico que é o nascimento com vida, início da                                               
personalidade civil; apresenta o indivíduo à sociedade, dando eficácia à sua personalidade. Neste sentido, sua natureza é declaratória, afinal, “a                                       
pessoa humana dele não precisa para receber a sua qualidade de pessoa, [...]. Assim, a personalidade civil começa do nascimento com vida [...]”. 
Ao nascer, como ao longo da existência, a pessoa possui determinadas características que a qualificam juridicamente. Ao complexo de atributos,                                       
com efeitos jurídicos, que determina a condição da pessoa perante a sociedade, chamamos estado. Diz­se estado civil a posição jurídica que alguém                                           
ocupa, em determinado momento, dentro do ordenamento jurídico. Segundo o Prof. Francisco Amaral: 
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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
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O estado nasce de fatos jurídicos, como o nascimento, a idade, a filiação, a doença; de atos jurídicos, como o casamento, a emancipação; de decisões                                                 
judiciais, como a separação, o divorcio, a interdição. Tais circunstancias levam a caracterização de três estados: o familiar, o político e o pessoal ou                                               
individual. 
Para o Direito Civil, importa o estado do indivíduo de filho, de solteiro, casado, viúvo, separado ou divorciado – tudo isso gera efeitos jurídicos no                                                 
âmbito do direito de família –, como também importa o estado de maior idade, menor idade, emancipação, interdição, ausência, sexo masculino ou                                           
feminino – gerando efeitos no âmbito dos direitos da personalidade. O estado político, de brasileiro ou estrangeiro, importa ao direito constitucional.                                         
Em relação ao nosso estudo, destaca­se o estado individual, em que se enquadra o sexo (status sexual). 
Os estados individuais, em geral, são atributos da personalidade, ou seja, integram­na. E, por isso, são protegidos pelos direitos da personalidade.                                         
Além disso, “é também objeto de um direito subjetivo, o direito de estado, que protege o interesse da pessoa no reconhecimento e no gozo desse                                                 
estado” . Amaral releva, ainda, o fato de constituir um direito absoluto, oponível a toda a sociedade, que, portanto, todos devem respeitar; e público                                               
por ser reconhecido e protegido
pelo Estado. 
O registro gera a presunção relativa do estado da pessoa, vez que é ele que dota de oponibilidade erga omnes as situações jurídicas da pessoa perante                                                   
a sociedade. Contudo, nem sempre a realidade jurídica retrata a realidade fática e, por isso, existem as ações de estado, afinal, é muitas vezes                                               
necessário “defender seu estado contra eventuais atentados aos direitos dele decorrentes” . Elas têm por objetivo criar, modificar ou extinguir um                                         
estado – e aí, a sentença será constitutiva –; ou reconhecer um estado pré­existente o guarnecendo de eficácia jurídica – quando a sentença será                                               
declaratória.  
A QUESTÃO DO TRANSEXUAL: Ocorre que, o transexual, quando do seu nascimento, no registro civil, foi classificado segundo o seu aspecto                                         
sexual anatômico externo como pertencente a um dos sexos, ou feminino ou masculino. Este, assentado em registro público, é o sexo civil. Porém,                                             
ressalvamos, neste momento, que a avaliação da fisionomia não é a única para a determinação do sexo de um indivíduo, como explicitado no                                             
primeiro capítulo do presente estudo. A averiguação do status sexual requer a conjugação dos aspectos biológico, psíquico e comportamentais.                                     
Somente o conjunto desses aspectos será capaz de apontar com maior fidelidade e compromisso a qual dos dois sexos pertence a pessoa. A regra,                                               
contudo, é que os três aspectos correspondam revelando uma identidade sexual, mas esta convergência harmônica pode não ocorrer. 
No caso do transexual operado, que possuía, em primeiro plano aquela inadequação corporal com a psiquê, o sexo civil, determinando                                       
comportamento na vida civil, na esfera jurídica e social em geral, imporá barreira para a realização da identidade sexual da pessoa. 
Existe um interesse juridicamente relevante no gozo da identidade sexual. O conteúdo de tal interesse da pessoa é representado, essencialmente, no                                         
reconhecimento, sob todos os aspectos da vida social, privada e pública, como sendo a mesma pertencente ao próprio sexo. 
Com o transexual isso não acontece. A principal inadequação é a factual com a jurídico­formal. Se o registro tem publicidade, autenticidade,                                         
eficácia, não existe reconhecimento social da situação daquele indivíduo, do seu estado. A identidade sexual transcende o aspecto morfológico,                                     
encontra­se no campo da identificação psíquica de se pertencer a determinado gênero sexual que se externa com o comportamento.  
A identidade sexual integra a identidade pessoal. O Professor Leoni, sobre o direito à identidade, citando Lorenzetti, sinaliza que o indivíduo possui                                           
identidade estática e dinâmica. “A identidade estática ‘compreende o nome, a identificação física, a imagem. Isto está protegido pelas leis referentes                                         
ao nome, à capacidade e ao estado civil’”. Essa é, então, a resguardada pelo direito à identidade. O direito à identidade sexual como direito à                                                 
identidade pessoal, constitui direito da personalidade.( OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. 2ª ed. atual. e                                             
amp. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000). 
 DOMICÍLIO CIVIL: O conceito de Domicílio Civil da pessoa natural é determinado pela combinação dos artigos 70 e 71 do NCC. Apenas                                           
encontraremos o domicílio civil se preenchermos os dois requisitos determinados no artigo 70 do NCC que são: 
Residência ­ é o objeto do conceito, sendo este palpável. É o elemento externo e visível. Ex: uma casa, um prédio, um apartamento. 
Ânimo definitivo ­ este é o elemento interno do domicílio civil. Sendo evidenciado por reflexos do indivíduo que demonstram seu interesse em                                           
permanecer em tal domicílio. Ex: receber correspondência, receber as contas. 
 Alguns autores determinam que o domicílio civil é constituído por um elemento objetivo e outro subjetivo. O elemento Objetivo é o objeto do                                             
conceito de residência. O elemento Subjetivo é o elemento interno, o ânimo definitivo.  
No modelo brasileiro, reforçado pelo Código Civil, toda pessoa, natural ou jurídica ­ de direito público interno ou de direito privado ­, tem domicílio,                                               
que representa a fixação do lugar em que o sujeito, ativo ou passivo, da relação jurídica será encontrado, o qual expressa o centro nevrálgico de onde                                                   
se irradiam interesses juridicamente relevantes.  
O domicílio significa uma garantia jurídica, haja vista que funciona como cidadela em que se guarnecem os interesses sócio­jurídicos das pessoas                                         
naturais ou das pessoas jurídicas.  
Com o domicílio, desenha­se o perímetro em que se fixa o espaço jurídico dentro do qual se enclausura o titular, projetando feixes que se traduzem                                                 
em direitos e obrigações.  
Do enraizamento da residência decorre o domicílio, como fenômeno material e psíquico que se projeta no âmbito em que prosperam as relações                                           
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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
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jurídicas.  
Sem residência, inexiste domicílio ; sem domicílio, fragiliza­se o pleno exercício dos direitos civis, do nascimento à morte.  
De tão importante, o domicílio da pessoa natural, mesmo que não tenha residência habitual, será o lugar onde for encontrada.  
Na configuração traçada pelo Código Civil, fala­se em:  
a) domicílio da pessoa natural;  
b) domicílio da pessoa jurídica, de direito público interno ou de direito privado;  
c) domicílio necessário;  
d) domicílio legal;  
e) domicílio eleito. Admite­se a existência de mais de um domicílio tanto para a pessoa natural quanto para a pessoa jurídica de direito privado,                                               
razão por que se diz que o legislador perfilhou a escola que cultiva a pluralidade de domicílio. 
Domicílio da pessoa natural (física) ­ Em conformidade com a definição legal, o domicílio da pessoa natural "é o lugar onde ela estabelece a sua                                                 
residência com ânimo definitivo".  
Dois elementos se exigem para a definição do domicílio da pessoa natural:  
a) a residência; e  
b) o ânimo definitivo. A residência é mais do que um fenômeno material, mediante o qual se distingue da moradia, que se traduz na certeza de que é                                                       
episódica e transitória, sem o estaqueamento aprofundado, capaz de fixar a disposição perene ou definitiva.  
Ao residir, a pessoa mora com perenidade ou longevidade, fenômenos de cuja realidade se extrai a premissa de que há o ânimo de estabelecer o lugar                                                   
como seu domicílio. Releva lembrar que, na hipótese em que a pessoa natural, por vontade ou necessidade, tenha mais de uma residência, onde,                                             
alternadamente, viva, reputar­se­á domicílio qualquer uma delas.  
Considera­se, ainda, domicílio o local em que a pessoa natural desenvolva a sua profissão.  
Por conseguinte, pluralizam­se os domicílios da pessoa
natural, quando exerce atividade profissional, haja vista que passam a ser, pelo menos, dois:  
a) o local em que estabelece a sua residência com ânimo definitivo; e  
b) o local em que pratica a sua atividade profissional.  
Se a profissão for explorada e exercitada em lugares diversos, em que se lhe concentram os interesses, cada um deles constituirá domicílio para as                                               
relações que lhe corresponderem.  
Cabe advertir que não será qualquer emprego ou relação jurídica, por cuja execução se produza atividade laboral, que se capacitará a desenhar o                                             
local do trabalho como se domicílio fosse.  
Domicílio profissional não se confunde com o simples local de trabalho, categorias jurídicas que se diferenciam ideológica, social e juridicamente.  
Na identidade do domicílio profissional, impõe­se a presença de elementos em conformidade com os quais se caracteriza o exercício da profissão,                                         
que granjeia a certeza de que se trata de um sinal eloqüente capaz de diferenciá­lo do trabalho ordinário e dependente.  
É preciso que se exerça atividade profissional fim, com domínio sobre o comando técnico, administrativo e econômico, e não atividade profissional                                         
meio, para que se possa caracterizar o local, também, como domicílio. 
Com efeito, não se estimula a assertiva de que o empregado comum, com vínculo jurídico subordinante e protagonista de uma relação jurídica, cujo                                             
desfazimento pode se consumar unilateralmente, pelo simples exercício da vontade de seu empregador, transforme o local em que presta serviço                                       
como extensão de seu domicílio, ainda que lá consuma jornada diária.  
Cabe ressaltar que o domicílio profissional não abrange e não argola toda e qualquer relação da pessoa natural, mas somente aquela a que estiver                                               
conectado por força de amarras que concernem à profissão.  
A atração do domicílio, no caso, depende da ligação entre o exercício da profissão e o local. Destaque­se que a pessoa natural pode ter:  
a) mais de um domicílio doméstico;  
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b) mais de um domicílio profissional; e  
c) domicílio doméstico e domicílio profissional. 
FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL 
 Morte:​ A existência da pessoa natural termina com a morte, conforme preconiza o artigo 6° do Código Civil: 
­ art 6º. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume­se esta, quando aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da                                                     
sucessão definitiva. 
A morte marca o fim da personalidade física, faz cessar consequentemente a personalidade jurídica, sendo assim o homem compreendido em suas                                         
funções desaparece no momento de sua morte. Dessa forma, a morte irá cessar com a personalidade jurídica que o acompanhou durante a vida,                                             
enquanto ser autônomo de imputação de normas jurídicas. O de cujus não é susceptível de ser titular de direitos e obrigações.  
Morte presumida: ­ art. 7º . Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I – se for extremamente provável a morte de quem                                                   
estava em perigo de vida; II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 (dois) anos após o término da                                                   
guerra. 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações,                                       
devendo a sentença fixar a data provável do lançamento. 
No sistema do Código de 1916, não existia o instituto da morte presumida, a não ser para efeitos patrimoniais, nos casos de sucessão provisória e                                                 
definitiva. Tal não implica extinção da personalidade. É permitida a abertura da sucessão provisória ou definitiva do desaparecido, para proteção de                                         
seu patrimônio. Permite­se, no entanto, a justificação judicial de morte nos termos do artigo 88 da Lei de Registros Públicos. Não se trata de                                               
presunção de morte. No entanto, mesmo que acolhida uma justificação nesse sentido, nada impede que a pessoa surja posteriormente sã e salva, o                                             
que anula todos os atos praticados com sua morte justificada, protegendo­se os terceiros de boa­fé.  
No entanto, o novo ordenamento foi mais além, autorizando a declaração de morte presumida em outras situações, independentemente da declaração                                       
de ausência: "A posição tomada pelo novo Código foi outra:  O instituto da ausência é tratado dentro da parte geral do diploma (artigos 22 ss.) e não                                                     
mais no direito de família. 
Essa declaração de ausência tradicionalmente tem por finalidade a proteção do patrimônio do desaparecido levando à sucessão provisória e à                                       
sucessão definitiva. Os fins do instituto são exclusivamente patrimoniais. No Código de 2002, expressamente o legislador aponta que sejam                                     
consideradas mortes presumidas as situações que autorizam a abertura da sucessão definitiva (artigos 37 ss.). Nesse sentido dispõe o artigo 6º da                                           
nova lei civil: "A existência da pessoa natural termina com a morte. Presume­se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura                                                   
de sucessão definitiva."  
Comoriência: Diz o  art. 8º. Se dois (dois) ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes                                             
precedeu aos outros, presumir­se­ão simultaneamente mortos.  
Temos aqui preservada a regra da comoriência do Código Civil anterior. Só mudou o nº do art. (antes era art. 11), o texto se repetiu por inteiro.  
A regra da comoriência tem relevância principalmente nas questões do direito de sucessão. Para que seja aplicada é necessário que tenham morrido                                           
juntos parentes que sejam sucessores recíprocos, isto é, a morte de um tio e um sobrinho numa explosão de um avião, não requer a aplicação da regra                                                     
da comoriência se esse tio tiver filhos e o sobrinho não for herdeiro direto do tio. Um caso do uso da regra da comoriência seria o seguinte: “A” é                                                         
único filho de “B”. "B" é casado com “C”. Pois bem, sabemos que na ordem de vocação hereditária a sucessão legítima defere­se na seguinte ordem:                                                 
primeiro herdam os descendentes, depois os ascendentes, depois o cônjuge sobrevivente e por último os colaterais (o cônjuge concorre com os                                         
descendentes e com os ascendentes). Temos duas possibilidades para explicar essa regrinha: 
1º ­ Se na morte conjunta de “A” e “B” (acidente de carro, por exemplo), for possível determinar que “A” morreu após “B”, haverá a passagem da                                                     
herança de “B”(pai) para “A”(filho), resultando que “C”(mãe) por ser a única herdeira de “A”(filho) ficará com herança todinha para ela. 
2º ­ Se na morte conjunta de “A” e “B” (explosão de um avião, por exemplo) for impossível a fixação do momento exato da morte
de ambos,                                                     
aplicar­se­á a comoriência, isto é, não haverá transmissão da herança, um não herdará do outro. Conseqüentemente, “A” não herdará do pai “B”. A                                             
herança de “B” passará para aos seus pais. Se o cônjuge atender determinadas condições concorrerá na herança com os pais do falecido, isto é, se                                                 
vivos o pai e a mãe de “B”, à “C”(esposa) restará um terço da herança de “B” (não ficará desamparada, portanto). 
Ausência: Pelo novo estatuto legal considera­se ausente pessoa de que deixa o seu domicílio, sem deixar notícias suas e nem representante ou                                           
procurador que administre os seus bens. Nestes casos, a requerimento do MP ou de outro interessado, o juiz, a requerimento de qualquer interessado                                             
ou do Ministério Público, declarará a ausência e nomeará curador provisório. 
Ao se analisar o tempo que perdura a ausência, três momentos distintos podem ser destacados, a saber: 
10.4.1 Curadoria dos bens do ausente: quando o desaparecimento é recente e a possibilidade de retorno do ausente é, portanto, bem grande, o                                             
legislador tem a preocupação de preservar os bens por ele deixados, evitando a sua deterioração. Nesta fase o juiz declara a ausência da pessoa e                                                 
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nomeia­lhe curador. 
Ao nomear o curador o juiz deve fixar os limites de seus deveres e suas obrigações (art. 24). Sua incumbência é zelar pela administração e                                                 
conservação dos bens do ausente. Esta nomeação deverá respeitar a ordem previamente estabelecida pelo legislador no artigo 25 do novo Código                                         
Civil. Neste inciso reside outra inovação trazida pelo novo diploma legal: é a inclusão, no caput do artigo 25, do cônjuge separado de fato há mais de                                                     
dois anos antes da declaração da ausência entre as exceções àqueles que seriam curadores legítimos. O antigo texto legal impedia apenas o cônjuge                                             
separado judicialmente de ser curador. Tal inclusão se explica pela entrada em vigor da Lei 6.515/77 (Lei de Divórcio), que prevê a hipótese de                                               
divórcio direto nos casos em que os cônjuges estejam separados de fato pelo referido período. Assim, se há a possibilidade de requerimento de                                             
divórcio, seria um contra­senso permitir que uma parte cuidasse dos bens deixados pela outra. 
O mesmo dispositivo legal, adequado à nova realidade do mundo contemporâneo, foi modificado para conferir aos pais (e não mais ao pai, e em sua                                                 
falta à mãe) a curadoria dos bens do ausente. Excluiu­se, outrossim, a preferência anteriormente conferida aos varões em relação às mulheres.                                         
Atualmente todos têm igualdade de direitos em relação à curadoria dos bens do ausente. 
Sucessão Provisória: ainda nesta etapa o legislador se preocupa com a conservação dos bens do ausente, pois existe ainda a remota possibilidade de                                             
que este volte para retomar o que é seu de direito. A preocupação daquele é voltada mais para os herdeiros e credores e menos para o ausente. No                                                       
que tange à sucessão provisória o novo Código Civil reduziu os prazos para o seu requerimento. Com a sua entrada em vigor basta que decorra um                                                   
ano da data da arrecadação dos bens do ausente, ou três anos no caso de haver sido deixado mandatário constituído, para que os interessados possam                                                 
requerer a declaração de ausência e abertura da sucessão provisória do ausente. 
A sucessão provisória é requerida como se o ausente estivesse morto, estabelecendo o legislador um rol de pessoas que têm legitimidade para                                           
requerer a sua abertura. São legítimos interessados: 
I) o cônjuge não separado judicialmente. Tem interesse em requerer a abertura da sucessão para que seu quinhão seja delimitado; 
II) os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários. Têm interesse, pois a decisão que declara a ausência confere a eles o domínio dos bens                                             
deixados; 
Uma vez imitidos na posse dos bens, os seus herdeiros ficarão responsáveis por representar o ausente em juízo, tanto em relação às ações em curso,                                                 
quanto em relação àquelas que eventualmente vierem a ser propostas contra ele (art. 32). 
III) aquele que tenha direito a algum bem do ausente subordinado à sua morte, como no caso do donatário que recebe uma doação subordinada à                                                 
condição suspensiva da morte do doador. Declarada a ausência do doador o donatário poderá requerer a abertura da sucessão provisória daquele para                                           
receber a propriedade do bem doado; 
IV) os credores de obrigações vencidas e não pagas. Com a morte do ausente as dívidas passam a ser devidas pelos seus herdeiros na proporção de                                                   
seus quinhões. Neste caso os credores poderão cobrar os seus créditos dos herdeiros do ausente. 
Vale salientar que mesmo com a abertura da sucessão provisória a probabilidade de volta do ausente, ainda que remota, existe. Por isso o legislador                                               
cercou­se de diversos cuidados para evitar que os bens por ele deixados desapareçam. Podemos destacar algumas: 
a) a decisão que declarar a ausência só produzirá efeitos após 180 dias da sua publicação. Trata­se de um prazo suplementar conferido ao ausente,                                               
para que volte e reivindique os seus bens. Entretanto, tão logo transite em julgado a sentença declaratória de ausência proceder­se­á a abertura de                                             
testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se morto fosse o ausente; 
b) a partilha dos bens deixados será feita, mas para que os herdeiros entrem na posse dos bens recebidos deverão prestar garantias, através de penhor                                                 
(bens móveis) ou hipoteca (bens imóveis), correspondentes ao valor dos quinhões que estejam recebendo (art. 30). Entretanto, o art. 30, § 2º atenua                                             
esta exigência permitindo que os ascendentes, descentes e o cônjuge entrem na posse dos referidos bens, desde que comprovem a qualidade de                                           
herdeiros. O caput deste artigo, por exemplo, em relação aos herdeiros colaterais, ao Estado, ao Município etc. 
Se o herdeiro não tiver condições de prestar a garantia não poderá entrar na posse dos bens correspondentes ao seu quinhão e estes ficarão sob a                                                   
responsabilidade do curador ou de outro herdeiro designado pelo juiz, que preste a garantia (art. 30, § 1º). Poderá, entretanto, justificando a falta de                                               
condições de prestar a garantia, requerer seja­lhe entregue metade dos frutos e rendimentos do quinhão que caberia a ele (art. 34). 
c) os bens imóveis do ausente não poderão ser vendidos, salvo em caso de desapropriação pelo poder público ou para evitar que se deteriorem, e                                                 
também não poderão
ser hipotecados, salvo por determinação judicial (art. 31). Neste aspecto merece destaque a modificação trazida pelo novo                                       
Código Civil. O seu artigo 31 suprimiu a possibilidade de alienação dos bens do ausente para convertê­los em títulos da dívida pública. Com a                                               
entrada em vigor do novo diploma somente é permitida a alienação dos bens do ausente em caso de desapropriação e para evitar a sua ruína.                                                 
Inovação é a possibilidade de gravar­lhes com a hipoteca, hipótese que não era prevista anteriormente. 
d) a renda produzida pelos bens cabentes aos descendentes, ascendentes e ao cônjuge, pertencerá a estes. Os demais herdeiros deverão capitalizar                                         
metade destes frutos e rendimentos de acordo com o artigo 29, e prestar contas ao juízo anualmente (art. 33). 
Durante o período da sucessão provisória ainda é possível que o ausente retorne, quando em vigência a posse provisória dos herdeirosMesmo                                         
procurando preservar ao máximo o patrimônio do ausente enquanto houver uma possibilidade, ainda que remota, de retorno, estabeleceu­se no Novo                                       
Código Civil uma espécie de punição para o caso deste retornar e provar­se que a ausência foi voluntária e injustificada. Dispõe parágrafo único do                                               
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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
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artigo 33 que neste caso o ausente perderá o direito ao recebimento de sua parte nos frutos e rendimentos produzidos pelos bens por ele deixados e                                                   
arrecadados por seus herdeiros. A preocupação do legislador é clara: evitar que a pessoa desapareça sem motivo justo e retorne quando quiser,                                           
aproveitando­se da boa­fé dos herdeiros que zelaram pela conservação de seus bens. 
Cumpre salientar, ainda, que durante o período da sucessão provisória ainda é possível que o ausente retorne, quando em vigência a posse provisória                                             
dos herdeiros. Poderá ser provado, outrossim, que o ausente se encontra vivo. Nestes casos, todas as vantagens que os herdeiros estiverem auferindo                                           
em relação aos bens do ausente cessam, e este tem o direito de recobrar a posse dos bens. Ocorre que, até a efetiva entrega destes bens ao ausente,                                                       
será de responsabilidade dos herdeiros a sua guarda e manutenção (art. 36). 
Sucessão Definitiva: seguindo a mesma linha do artigo 26, o legislador diminui, no artigo 37, o prazo para o requerimento da sucessão definitiva.                                             
Com a entrada em vigor do novo Código Civil, decorridos dez anos do trânsito em julgado da sentença concessiva da abertura da sucessão                                             
provisória, é permitido que os interessados requeiram a abertura da sucessão definitiva do ausente, bem como o levantamento das cauções                                       
anteriormente prestadas. Tal faculdade será ainda conferida a eles no caso de se provar que o ausente conta com oitenta anos e há mais de cinco anos                                                     
são suas últimas notícias. Nestes casos, o legislador, supondo certa a sua morte, seja pelo tempo decorrido, seja pela sua idade avançada, passa a se                                                 
preocupar somente com o direito dos seus herdeiros e permite que estes requeiram a conversão da sucessão provisória em definitiva, e o                                           
levantamento das cauções prestadas (art. 38). As demais restrições impostas em relação aos bens deixados pelo ausente também desaparecem. 
Trata­se em verdade de uma sucessão quase definitiva, pois, mesmo que a volta do ausente seja remotíssima face à enorme probabilidade de morte,                                             
ainda existe uma pequena possibilidade de retorno. 
Frente a esta possibilidade o legislador estabeleceu que, caso o ausente ou algum de seus ascendentes ou descendentes volte nos dez anos                                           
subseqüentes ao trânsito em julgado da sentença que determinou a abertura da sucessão definitiva terão eles o direito de receber os seus bens no                                               
estado em que se encontrarem, os sub­rogados em seu lugar ou o preço recebido pelos referidos bens alienados depois daquele tempo (abertura da                                             
sucessão definitiva) (art. 39). 
Voltando após dez anos da abertura da sucessão definitiva perde o ausente o direito aos bens, pois a partilha torna­se irrevogável. Não havendo                                             
interessados em requerer a abertura da sucessão definitiva, a teor do artigo 39, § único, os bens arrecadados passarão para o domínio do Município                                               
ou do Distrito Federal, quando localizados nestas circunscrições, ou para o domínio da União. 
 
OS DIREITOS DE PERSONALIDADE NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO: 
1. O Código Civil e a pessoa:​ Reunimo­nos aqui para homenagear este monumento que é o C.C. brasileiro.  
Marcou profundamente este século. Marcou­o mesmo totalmente, desde a sua preparação até à provável vigência no de albar de 2000.É um                                         
monumento na sua estruturação científica, só possível pelo alto nível que a doutrina civilística brasileira atingiu no século passado; só isso permitiu                                           
um diploma desta envergadura. Porque um Código Civil representa sempre um espelho muito fiel da ciência jurídica dum povo. 
O Código estrutura­se em grandes categorias científicas, logo visíveis no art. 1.º – quando refere as pessoas, os bens e as situações jurídicas.Não é                                               
difícil encontrar aqui manifestação da tripartição de Gaio, nas suas Institutiones, em pessoas, coisas e acções.Começa pelas pessoas (arts. 2 e                                         
seguintes). O que não pode deixar de ser sublinhado, porque a pessoa é simultaneamente:– o fim do direito– o fundamento da personalidade                                           
jurídica– o sujeito das situações jurídicas.O Código Civil preocupa­se particularmente com o terceiro aspecto: a pessoa que funciona como sujeito                                       
das situações jurídicas.Mas isto não significa que o Código Civil não manifeste sensibilidade à pessoa ontológica.Isso revela­se nomeadamente no                                     
art. 4, no que respeita ao nascituro.Nesta matéria, como em várias outras, o Código Civil brasileiro poderia encontrar modelos no Código Civil                                           
alemão de 1900 e no Código Civil português de 1867.O BGB proclama secamente, no seu § 1º: “A capacidade jurídica do homem começa com o                                                 
nascimento completo”.O art. 6 do Código Civil português de 1867 era do seguinte teor:“A capacidade jurídica adquire­se pelo nascimento; mas o                                         
indivíduo , logo queé procriado, fica debaixo da protecção da lei; e tem­se por nascido para os efeitos declarados no presente Código”. 
O Código Civil brasileiro vai além, mesmo do Código Civil português: declara que “a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”.                                                 
Afirmando direitos, afirma a personalidade ontológica do embrião,pois só desta maneira lhe poderá reconhecer direitos.Seguindo por esta via, e                                     
tendo presente
a noção ontológica de pessoa que não pode deixar de subjazer à lei, procuremos então determinar os direitos que o Código Civil                                               
reconhece à pessoa, fundado justamente na sua dignidade de pessoa. Porque o art. 1.º se propõe regular os direitos e obrigações de ordem privada                                               
relativos às pessoas. 
2. A ausência de previsão dos direitos de personalidade:  Estariam em causa, antes de mais, os direitos de personalidade. Mas, se os procurarmos,                                             
a nossa busca será vã.Nem nos arts. 2 a 12, relativos às pessoas naturais, nem em qualquer outro lugar encontramos previstos os direitos de                                               
personalidade.A nossa surpresa ainda aumenta se consultarmos as obras civilísticas brasileiras de carácter geral. Os direitos de personalidade não                                     
vêm sequer referidos, normalmente.Significará isto que a categoria dos direitos de personalidade era desconhecida, no início do século?Sabemos que                                     
não. A elaboração dos direitos naturais fora levada a fundo pelo jusracionalismo, particularmente no séc. XVIII, e tivera o seu triunfo histórico no                                             
séc. XIX. No meio de muitas variantes possíveis, a figurados “direitos do homem” era bem conhecida.Esta manifestara­se historicamente antes de                                       
mais nas grandes Declarações de Direitos, que tanto haviam influenciado a história jurídica do séc. XIX.Seria então a categoria desconhecida das                                         
codificações civis?De novo, vamos tomar como termos de comparação o BGB e o Código Civil português de 1867.O BGB desconhece a figura dos                                             
direitos de personalidade: não os regula.Não surpreende que assim aconteça. A situação imperial germânica não era favorável à germinação desta                                       
figura. Por isso o BGB é um instrumento técnico de altíssimo nível mas que evita afrontar essa problemática. Em consequência, o Projecto brasileiro,                                             
que tanto se inspirou no Código alemão, não encontrou aí um precedente favorável a uma disciplina global da situação da pessoa humana.Todavia,                                           
há no BGB um elemento de particular importância: o§ 823 I, relativo à responsabilidade civil. Aí se indicam os quatro bens pessoais cuja lesão                                               
implica o ressarcimento dos danos causados:– a vida– o corpo– a saúde– a liberdade.Esta previsão foi fundamental para o desenvolvimento posterior                                         
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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
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dos direitos de personalidade nesse país, como veremos. 
Outra é a posição do Código Civil português de 1867. Contrapõe os direitos originários aos direitos adquiridos e abre um capítulo para a previsão da                                                 
categoria dos direitos originários.O Código Civil brasileiro não seguiu nenhuma destas posições.Não seguiu a do Código português, e por isso nunca                                         
abre espaço para esta categoria de direitos.Mas não seguiu também a do Código alemão, pelo que não realiza sequer uma enumeração dos “bens da                                               
vida” cuja lesão origina responsabilidade civil.Neste domínio específico, tinha razões para o não fazer. O BGB baseia­se na tipicidade dos bens da                                           
vida cuja lesão pode originar responsabilidade. O Código Civil brasileiro, pelo contrário, preferiu a fórmula ampla do art. 159: basta “violar direito,                                           
ou causar prejuízo a outrem”.Qualquer enumeração seria assim deslocada1.Mas, de uma maneira ou de outra, o resultado é que a matéria dos direitos                                             
de personalidade está de todo ausente do Código Civil. 
3. A explicação pelos antecedentes: Haverá antecedentes internos que expliquem esta situação?1Clóvis Beviláqua, Direito das Obrigações,                             
Rio, 1977, no Índice, com referência ao § 79, manifesta consciência desta problemática ao referir o “princípio geral do projecto de Código Civil                                             
alemão”.Curiosamente, o Índice não tem nenhuma correspondência no texto. Neste, nenhum princípio geral é referido. 
Os direitos de personalidade, tanto quanto nos podemos aperceber, não apareceram autonomizados na obra de Teixeira de Freitas.Talvez viessem a                                       
encontrar lugar no seu projecto tardio de um “Código Geral”,que assentaria na distinção dos direitos em pessoais e reais; mas esse projecto                                           
malogrou­se2.É curiosa a posição de Clóvis Beviláqua. É evidente que e lê conhecia a categoria. Na sua Teoria Geral faz mesmo uma classificação                                             
dos direitos em que surge, como um dos termos, o dos direitos que recaem sobre modos de ser das pessoas3. Entre estes, encontrar­se­iam, na ordem                                                 
civil, os direitos das pessoas (jura personarum). Seriam:– direito à vida– direito de liberdade– direito de ser respeitado na sua honra– direito autoral                                             
(feição pessoal).A verdade porém é que, apesar de os referir à ordem civil, não os estuda em nenhum lugar da sua obra.Só encontramos uma                                               
justificação para a omissão desta matéria no Código Civil. Razões pragmáticas, que tanto pesaram na sua elaboração, terão feito pesar que a matéria                                             
estava já regulada na Constituição. Quis­se assim evitar a duplicação que consistiria em retomá­la no Código Civil. Além disso, ter­se­á considerado                                         
a tutela penal de alguns dos mais importantes direitos da personalidade, como os direitos à vida, à integridade física, à honra e à liberdade de                                                 
locomoção. 
A Constituição Federal brasileira de 1891 continha uma secção epigrafada Declaração de direitos: logo se manifestava a sua inspiração nas históricas                                         
declarações dos direitos do homem e do cidadão. Se bem que integrada no título “Dos cidadãos brasileiros”, os direitos eram assegurados “a                                           
brasileiros e estrangeiros residentes no país” (art. 72).A preocupação desta declaração de direitos é claramente a da limitação dos poderes do Estado                                           
em relação aos cidadãos; não é de modo algum a de compendiar as exigências da personalidade humana. É assim elucidativo que se declare abolida                                               
a pena de morte (§ 21), mas se não consagre o direito à vida. E prolongava­se por matérias que nada tinham já que ver com a personalidade humana,                                                       
de que era exemplar o § 27: “A lei assegurará também a propriedade das marcas de fábrica”.Na realidade, é bem possível que esta Constituição,                                               
traduzindo mais as posições de alguns extractos sociais que uma verdadeira preocupação personalística, tenha procurado garantir posições adquiridas                                   
perante o poder emergente. Não era de supor que ultrapassasse o sentido das primitivas declarações dos direitos dos cidadãos, não obstante a sua                                             
extensão aos estrangeiros domiciliados. Em qualquer caso, era o poder político quem se pretendia
vincular.Quer dizer: os direitos assegurados eram                                       
políticos. Satisfaziam­se com a democracia formal. Não havia, a nível suficiente, a sensibilidade para a pessoa em si.. 
Mas isto gerou uma situação algo anómala. O Código Civil não regulou os direitos da personalidade porque não quis duplicar a Constituição;esta                                           
não regula os direitos civis, porque o que a preocupa são as vinculações do Estado perante os cidadãos. 
4. A evolução posterior : Essa situação manteve­se fundamentalmente até hoje, perante as várias constituições, não obstante o empolamento dado                                       
ao elenco dos direitos,liberdades e garantias individuais.Vamos porém procurar traços que melhor expliquem como se apresenta a situação perante a                                       
evolução posterior.Não relatamos as posições tomadas pelos Códigos Civis posteriores doutros países. Não pela magnitude da tarefa:                                 
espantosamente, a produção de Códigos Civis no séc. XX foi exígua. Não teríamos que considerar mais que uma dúzia de códigos. Mas o nosso                                               
trabalho não é de Direito Comparado.Limitamo­nos a apontar algumas realizações legislativas que sejam para nós particularmente significativas.O                                 
Código Civil italiano, que representa um momento notável e influenciou toda a evolução posterior, contempla já alguns direitos de personalidade.O                                       
mesmo caminho é prosseguido pelo Código Civil português de1966, nos arts. 70 e seguintes. Intervém em dois domínios: 
1) No estabelecimento de um regime comum aplicável aosdireitos de personalidade, o que representa um considerável avanço2) Na previsão de                                       
alguns direitos de personalidade.Porém, verificamos com surpresa que os direitos previstos são afinal direitos de certo modo marginais:– direito ao                                       
nome– cartas­missivas– direito à imagem– direito à reserva sobre a intimidade da vida privada.Não estão compreendidas as figuras mais                                     
significativas, como os direitos à vida, à honra ou à liberdade.Porque se passa assim? Para além de o ambiente não ser muito favorável a um                                                 
aprofundamento da matéria, fecha­se o pacto com a disciplina constitucional. Os direitos que estavam disciplinados na Constituição não são                                     
retomados. Disciplinam­se pelo contrário figuras que naquela estavam omissas porque menos relevantes perante uma carta política, como o direito                                     
ao nome eo direito à imagem.Ainda no plano internacional, há um factor de evolução a anotar,embora não inteiramente de nível constitucional.A                                         
Constituição Federal alemã abre com a frase lapidar: “Die Würde des Menschens ist unantastbar”.Este primado da pessoa humana deveria                                     
consequentemente repercutir­se sobre todo o sistema. Mas defrontava­se o obstáculo de o § 823do BGB limitar os “bens da vida”, susceptíveis de                                           
gerar responsabilidade civil, aos quatro que enunciava: o que parecia deixar sem protecção outros bens da personalidade.O BGH, supremo tribunal                                       
federal alemão, que traduziu depois da guerra uma muito acentuada preocupação ética, considerou isso incompatível com a Constituição; e elaborou                                       
a figura do “direito geral de personalidade”,que permitia reagir a todas as ofensas. Porque o primado da personalidade impunha que todos os                                           
aspectos da personalidade encontrassem defesa.Não nos interessa a análise desta figura técnica, que se baseia em necessidades particulares da                                     
legislação alemã e que aliás não aceitamos6.Interessa, sim, o reconhecimento de que a personalidade se deve impor por si,não podendo ficar na                                           
dependência de qualquer previsão da lei positiva.E é com esta base que chegamos ao Projecto de novo Código Civil brasileiro.Este contém, nos arts.                                             
11 a 20, um capítulo intitulado “Dos direitos da personalidade”.O esquema vem fundamentalmente na linha do Código Civil italiano e do Código                                           
Civil português. Regulam­se aspectos especiais, como os actos de disposição sobre o próprio corpo, o direito ao nome ou o direito à                                           
imagem.Teríamos assim que se manteria a Constituição como a sede principal dos direitos de personalidade. O Código Civil limitar­se­ia a aspectos                                         
que se considerariam não suficientemente versados nesta, ainda que com(Sobre todas estas matérias remetemos para o nosso Direito Civil – Teoria                                         
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DIREITO CIVIL I ­ Resumo Completo 
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Geral, I, Coimbra Editora,1997.)carácter marginal. Para além disso, estabeleceria um regime geral, aplicável a todos os direitos de personalidade 
.5. A distinção entre direitos fundamentais e direitos de personalidade: Haverá porém que nos interrogarmos sobre a suficiência do equilíbrio                                       
que assim se pretende alcançar.Perguntemos antes de mais: tem justificação que se deixe para a Constituição a matéria dos direitos de                                         
personalidade?É função da Constituição estabelecer as bases fundamentais da ordem jurídica. Pareceria assim que deveria ser esta uma matéria que                                       
primordialmente lhe caberia, dada a posição nuclear da pessoa humana.Mas uma coisa é reconhecer o primado da pessoa humana, outra estabelecer                                         
o elenco dos direitos de personalidade. Este é o objecto de um ramo do direito especial, o Direito da Personalidade, que só pode estar incluído no                                                   
Direito Civil.Contra, pode observar­se que as Constituições chamaram a si a função de traçar esse elenco; e que o têm ampliado sucessivamente.                                           
Chega­se ao ponto extremo de o art. 5 da actual Constituição brasileira conter 77 incisos,que especificam os “direitos e deveres individuais e                                           
colectivos”; estes por sua vez são modalidade dos “direitos e garantias fundamentais”.Perante este longo elenco, que viria trazer ainda de útil o                                           
Código Civil?A realidade é porém diversa da aparência. Antes de mais, porque direitos fundamentais e direitos de personalidade não são termos                                         
equivalentes.Os direitos da personalidade são aqueles direitos que exigem em absoluto reconhecimento, porque exprimem aspectos que não podem                                   
ser desconhecidos sem afectar a própria personalidade humana.O acento dos direitos fundamentais é diferente. Não só não respeitam exclusivamente                                     
às pessoas físicas como a sua preocupação básica é a da estruturação constitucional. Demarcam muito em particular a situação dos cidadãos perante                                           
o Estado. É assim a categoria cidadão (ou se quisermos a do súbdito, para falar com maior amplitude) que está primacialmente em causa.Sendo esta                                               
preocupação assim diversa, resulta que há muitos direitos fundamentais que não são direitos da personalidade. É óbvio. Não são direitos                                       
fundamentais
a garantia do júri, a definição como crime inafiançável e imprescritível a acção de grupos armados, a gratuitidade da certidão de                                           
óbito...A preocupação que traduzem é muito diferente. Inversamente, também haverá muitos direitos de personalidade que não são direitos                                   
fundamentais. São as manifestações da personalidade que aliás, ainda quando a mesma figura é prevista como direito fundamental e como direito da                                           
personalidade, isso não significa que o conteúdo relevante seja o mesmo nos dois sectores, e portanto que o regime se identifique afinal. estão fora                                               
do núcleo que levou a Constituição a delimitar os direitos fundamentais. 
6. A ambiguidade da multiplicação dos direitos fundamentais: Para além disso, o empolamento constante dos direitos de personalidade esconde                                     
uma ambiguidade que deve ser denunciada.Aparentemente, esse crescimento representaria o vitorioso reconhecimento da categoria dos direitos da                                 
personalidade, na sua realização histórica.Se confrontarmos porém as previsões normativas com a realidade circunstante, ficamos colocados perante                                 
a evidência de que a vastidão das proclamações constitucionais coexiste com a violação continuada dessas previsões. A realidade não acompanha o                                         
empolamento da lei.E não pode deixar de nos invadir a dúvida sobre o verdadeiro significado de semelhante empolamento. Pois pode significar                                         
manifestação de demagogia. É sempre airoso fazer grandes declarações, sem se tomar nenhum compromisso quanto à transformação social efectiva                                     
que deveriam acarretar. É pecha velha das sociedades democráticas escusar­se através do legislativo das culpas de uma situação que só a                                         
transformação histórica de uma realidade social poderia apagar.Mas há ainda muito mais do que isto.A multiplicação do número de direitos                                       
fundamentais corresponde rigorosamente à sua banalização e enfraquecimento. 
Observou­se que “a proclamação generalizada dos direitos do homem coincidiu no tempo com o processo do esvaziamento do seuconteúdo9.E,                                     
escorando­nos em certeira afirmação de Cavaleiro deFerreira10, verificamos que o empolamento dos direitos fundamentais implica que os afastemos                                   
cada vez mais da base que os deveria sustentar, que seria a imposição da personalidade humana. Por outro lado, os direitos entram em conflito entre                                                 
si, limitando­se reciprocamente, de maneira que novos direitos,de justificação duvidosa, acabam por limitar antigos direitos, verdadeiramente                               
fundamentais, preexistentes. 
7. Direitos da personalidade e direitos pessoais: Aqui devemos ter consciência duma evolução que se processa em nossos dias, e que levou a                                             
confundir direitos da personalidade e direitos pessoais.O empolamento dos termos levou a integrar nos direitos da personalidade todos os direitos                                       
pessoais; e estes seriam definidos pela negativa, como direitos não patrimoniais.Assim o âmbito da categoria fica distorcido. Já Clóvis Beviláqua                                       
contrapunha, aos direitos pessoais na ordem civil, os direitos pessoais na ordem internacional, na ordem política (direito de eleger e ser eleito) e na                                               
ordem político­civil (direito de ser nomeado para funções públicas). Serão todos estes direitos de personalidade?Mas mesmo na ordem civil temos os                                         
direitos familiares, que são direitos pessoais em geral, mas não são direitos de personalidade. Os termos não se confundem.E pode haver outros                                           
direitos pessoais civis, mesmo não pertencentes a ramos institucionalizados do direito, que não são direitos de personalidade. O direito a lugar                                         
sentado em transportes públicos, por exemplo,atribuído a grávidas, deficientes físicos ou pessoas idosas, é um direito pessoal, mas nada tem que ver                                           
com direitos de personalidade.Porém, esta confusão instalou­se no plano civil, desnaturando o significado da categoria.E fenómeno paralelo se                                   
verificou no domínio dos direitos fundamentais. A evolução levou a encontrar na categoria albergue para puros interesses económicos. O longo                                       
elenco dos direitos fundamentais deu guarida para uma posição avantajada constitucionalmente em relação aos demais direitos.Assim, o art. XXVIII                                     
a da Constituição assegura “a protecção às participações individuais em obras colectivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas                                           
actividades desportivas”.Será isto um direito fundamental? Não se vê com que critério será assim considerado. Na realidade, há um lobby que se                                           
impôs e que conseguiu que, logo a nível constitucional, os seus interesses fossem salvaguardados. Mas substancialmente isto nada tem que ver com                                           
os direitos fundamentais: poderia constar da lei ordinária apenas. A consagração constitucional tem apenas o significado de garantir a este interesse a                                           
resistência à mudança que resulta da inclusão naquele diploma. Mas com isto, no ponto de vista dos direitos humanos, a categoria constitucional é                                             
descaracterizada, porque abandona o fundamento na personalidade que historicamente a justificou.Descaracterizada assim a categoria constitucional,                             
como base da protecção dos direitos da personalidade, cabe à lei civil retomá­la no seu autêntico sentido.Só pode ser considerado direito da                                           
personalidade aquele direito que encontrar fundamento ético na personalidade humana.Consequentemente, só o que tiver esse fundamento merece                                 
um regime especial, que o distinga e privilegie em relação a todos os restantes direitos.Estes aspectos merecerão por isso atenção particular.8. O                                           
regime dos direitos de personalidade O regime dos direitos de personalidade não se confunde com o dos direitos fundamentais.É certo que os direitos                                             
de personalidade cujo conteúdo for correspondente a um direito fundamental beneficiam do regime específico destes. E a regra tem grande extensão,                                         
porque o elenco dos direitos fundamentais é aberto, admitindo­se outros resultantes do regime e dos princípios constitucionais (art. 5 § 2º                                         
C.B.).Pertence assim ao regime desses direitos:1) a aplicação imediata (art. 5 § 1º C.B.)2) as restrições admitidas na ocorrência de estado de defesa e                                               
de estado de sítio (arts. 136 e 139 C.B.)3) o limite à revisão constitucional previsto no art. 60 § 4º IVC.B.)4) a defesa penal contra qualquer                                                   
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (art. 5 XLI C.B.).Mas isso não significa, como sabemos já, que se confundam                                       
direitos de personalidade e direitos fundamentais. Basta pensar que há direitos de personalidade

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