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SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Exclusão e desigualdade social: São características que marcam a América Latina, que é uma região que convive com o legado dos regimes autoritários e ditatoriais, marcados pela violência e impunidade. Bem como, com a transição política aos regimes democráticos, marcada pelo desrespeito aos direitos humanos. América Latina Trata-se de uma região cujo desafio é consolidar o pleno respeito aos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais) por meio de um regime democrático cujo Estado de Direito tenha como base a relação indissolúvel entre DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO; Enfrentar a exclusão e a desigualdade social são requisitos para se efetivar a vigência dos direitos humanos na região. OEA SISTEMA PROTETIVO INTERAMERICANO está alicerçado em torno da Organização dos Estados Americanos (OEA); OEA é uma organização internacional que objetiva garantir a paz e a segurança no continente americano; OEA é um organismo regional das Nações Unidas; Propósitos essenciais da OEA Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o princípio da não-intervenção; Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros; Organizar a ação solidária destes em caso de agressão; Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que surgirem entre os Estados membros; Promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico, social e cultural; Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério; e Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que permita dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento econômico-social dos Estados membros. Princípios da OEA O direito internacional é a norma de conduta dos Estados em suas relações recíprocas; A ordem internacional é constituída essencialmente pelo respeito à personalidade, soberania e independência dos Estados e pelo cumprimento fiel das obrigações emanadas dos tratados e de outras fontes do direito internacional; A solidariedade dos Estados americanos e os altos fins a que ela visa requerem a organização política dos mesmos, com base no exercício efetivo da democracia representativa; Todo Estado tem o direito de escolher, sem ingerências externas, seu sistema político, econômico e social, bem como de organizar-se da maneira que mais lhe convenha, e tem o dever de não intervir nos assuntos de outro Estado. Sujeitos ao acima disposto, os Estados americanos cooperarão amplamente entre si, independentemente da natureza de seus sistemas políticos, econômicos e sociais; A eliminação da pobreza crítica é parte essencial da promoção e consolidação da democracia representativa e constitui responsabilidade comum e compartilhada dos Estados americanos; A justiça e a segurança sociais são bases de uma paz duradoura; A cooperação econômica é essencial para o bem-estar e para a prosperidade comum dos povos do Continente; Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo; A educação dos povos deve orientar-se para a justiça, a liberdade e a paz. SISTEMA INTERAMERICANO O SISTEMA PROTETIVO INTERAMERICANO FOI INSTALADO EM 1948 POR MEIO DA CARTA DA OEA, que foi adotada na 9ª Conferência Internacional Americana ocorrida em Bogotá; Na mesma ocasião foi adotada a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, considerado o primeiro acordo internacional sobre direitos humanos; O referido sistema interamericano não tinha mecanismo constritivo de proteção dos direitos humanos; Tratava-se do soft-law, ou seja, os Estados-membros apenas declaravam o dever de proteger tais direitos. Convenção Americana de Direitos Humanos - CADH É o INSTRUMENTO DE MAIOR RELEVÂNCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO; Também chamado de Pacto de San José da Costa Rica; Essa convenção foi assinada em 1969 e entrou em vigor em 1978 após atingir as 11 ratificações necessárias; Até 2009 contava com a adesão de 25 Estados-membros. DIREITOS NA CADH São direitos que podemos destacar na CADH: Direito à personalidade jurídica; direito à vida; o direito a não ser submetido à escravidão; o direito à liberdade; o direito a um julgamento justo; o direito à compensação em caso de erro judiciário; o direito à privacidade; o direito à liberdade de consciência e religião; o direito à liberdade de pensamento e expressão; o direito à resposta; o direito à liberdade de associação; o direito ao nome; o direito à nacionalidade; o direito à liberdade de movimento e residência; o direito de participar do governo; o direito à igualdade perante a lei; e o direito à proteção judicial. DIREITOS NA CADH Os direitos chamados de primeira geração, foram os regulados na Convenção, pois objetivava-se a adesão dos EUA. Em relação aos direitos sociais, culturais e econômicos a única menção ocorre nos termos do artigo 26 da Convenção, segundo o qual cabe aos Estados alcançarem a plena realização de tais direitos; Assim, a CADH não os enuncia de forma específica. Protocolo de San Salvador Em 1988, na Conferência Interamericana de San Salvador, adotou-se um Protocolo adicional à CADH, concernente aos direitos sociais, econômicos e culturais enumerando-os; O denominado PROTOCOLO DE SAN SALVADOR SÓ ENTROU EM VIGOR EM NOVEMBRO DE 1999, quando atingiu a 11ª ratificação, nos termos do artigo 21 do referido documento; Os Estados-membros obrigaram-se a implementar progressivamente os direitos sociais, culturais e econômicos; Destacamos alguns desses direitos: Direito ao trabalho e a justas condições de trabalho; à liberdade sindical; o direito à seguridade social; direito à saúde; direito ao meio ambiente; direito à nutrição; direito à educação; direitos culturais; direito de proteção à família; direitos das crianças; direitos dos idosos; e direitos das pessoas portadoras de deficiência. Questões destacadas O Protocolo de San Salvador foi aprovado 20 anos após a adoção do Pacto de São José da Costa Rica; Apenas 14 Estados-membros da OEA ratificaram o Protocolo até 2009; A CADH conta com a ratificação de 25 Estados-membros; Isso nos MOSTRA A RESISTÊNCIA QUE OS ESTADOS TÊM EM GARANTIR E PROTEGER OS DIREITOS SOCIAIS, CULTURAIS E ECONÔMICOS. Órgãos de fiscalização O pacto de San José da Costa Rica instituiu como órgãos de fiscalização e julgamento, a COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS e a CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS; Trata-se de um controle de convencionalidade internacional; O Sistema de Proteção foi dotado de mecanismos constritivos de proteção dos direitos humanos, o chamado hard law. Comissão Interamericana de Direitos Humanos - CIDH É um ÓRGÃO ADMINISTRATIVO do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos; Composto por 7 membros, eleitos pela Assembleia Geral da OEA, a partir de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-membros; Seus membros cumprem mandato de 4 anos, com direito a uma reeleição; Não pode haver mais de um nacional de um mesmo país como membro; Função e Competências da CIDH Principal função da Comissão é PROMOVER O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS NO CONTINENTE AMERICANO; COMPETÊNCIAS da Comissão: ENVIAR RECOMENDAÇÕES aos Estados-partes da Convenção Americana de Direitos ou mesmo para os Estados-membros da OEA; REALIZAR ESTUDOS; SOLICITAR INFORMAÇÕES aos ESTADOS sobre a implementação dos direitos humanos insculpidos na Convenção; Competências da Comissão CONFECCIONAR RELATÓRIO ANUAL para ser submetido a Assembleia Geral da OEA; RECEBER PETIÇÕES do indivíduo prejudicado, de terceiros ou de organizações não governamentais; RECEBER COMUNICAÇÕES interestaduais, em que um Estado-parte pode denunciar outro que incorreu em violação de direitos humanos; Considerações sobre a Comissão As recomendações ou relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos não têm poder vinculante, portanto não vinculam os Estados; Para que a Comissão possa receber petições sobre um Estado, é necessária a sua ADESÃO ao Pacto de San José da Costa Rica; Para o recebimento das comunicações interestaduais é necessário que os dois Estados envolvidos EXPRESSAMENTE tenham declarado a COMPETÊNCIA DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS para tal fim. VALE a regra do ESGOTAMENTO DE TODOS OS RECURSOS INTERNOS disponíveis para a aceitação de petições; Uma vez esgotados os procedimentos administrativos, como recomendações e envio de relatórios, poderá a Comissão encaminhar o caso para a CORTE adotar as medidas cabíveis; VALE LEMBRAR que o envio à CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ocorre quando o ESTADO VIOLADOR tiver aquiescido de forma EXPRESSA E INEQUÍVOCA em relação à competência da Corte para solucionar os CASOS DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS insculpidos na Convenção e em outros tratados do sistema interamericano de proteção. Limitação aos poderes da Comissão No Brasil, o Pacto de San José da Costa Rica passou a viger por meio do Decreto n.º 678 de 1992. Segundo o referido documento normativo, a Comissão não tem direito automático de visitas e inspeção in loco, dependendo de anuência expressa do país para tais finalidades. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS É um ÓRGÃO JURISDICIONAL do sistema interamericana de proteção dos direitos humanos; Composta por 7 juízes, nacionais dos países-membros da OEA e escolhidos pelos Estados-partes da CADH; Não deve haver 2 juízes de uma mesma nacionalidade; Para DELIBERAÇÕES A CORTE NECESSITA DO QUÓRUM DE 5 JUÍZES; A Corte só pode ser acionada pelos Estados-partes ou pela Comissão; O indivíduo não pode apresentar petição à Corte ( artigo 61 do Pacto San José da Costa Rica); Excepcionalmente pessoas e ONGs podem peticionar à Corte, quando forem partes, para que essa tome medidas provisórias em casos de extrema gravidade e urgência, desde que o risco seja de dano irreparável à (s) vítima (s). COMPETÊNCIAS DA CORTE A Corte tem COMPETÊNCIA CONSULTIVA E CONTENCIOSA; CONSULTIVA pois cabe à Corte uniformizar a interpretação do Pacto de San José, bem como dos tratados de direitos confeccionados pela OEA; Qualquer Estado-membro ou órgão da OEA podem solicitar parecer a esse respeito; A Corte pode ainda analisar a compatibilidade entre a legislação interna de cada Estado-membro e o Sistema Interamericano de Proteção, para harmonizá-la. Competência contenciosa da Corte A competência contenciosa da Corte só ocorre em relação ao Estado-parte da CADH ou Pacto que EXPRESSA E INEQUIVOCAMENTE ACEITOU ESSA COMPETÊNCIA (artigo 62); Trata-se da DECLARAÇÃO DE ACEITE da competência da Corte que pode ser incondicional ou ser feita sob condição de reciprocidade, por prazo determinado ou ainda apenas para casos específicos; A Corte tem COMPETÊNCIA AMPLA para analisar não somente os direitos disciplinados na CADH mas as normas que regulam o processo; Ela pode, verificada a violação de direitos humanos, DETERMINAR A ADOÇÃO DE MEDIDAS PARA CESSAR A VIOLAÇÃO e restaurar o direito usurpado, pelo Estado agressor; Ela pode CONDENAR O ESTADO AGRESSOR AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO; Lembrando que o Estado não pode invocar direito interno para descumprir tais medidas; Cumprimento da sentença da Corte Geralmente, o cumprimento da sentença se dá de maneira voluntária pelos Estados; No Brasil, se dá mediante execução de sentença, como título executivo judicial, perante a Justiça Federal (art. 109, I, da CF); Lembrando que o Estado-parte da CADH deve se comprometer a cumprir a decisão da Corte toda vez em que for parte (art. 68 da Convenção); RECURSO À CORTE A SENTENÇA DA CORTE É FUNDAMENTADA, DEFINITIVA E INAPELÁVEL (arts. 66 e 67 da CADH); Cabe, todavia, PEDIDO DE INTERPRETAÇÃO, em caso de divergência acerca do sentido e do alcance da sentença, no prazo de 90 dias da notificação da sentença; Ou, ainda, é possível PEDIDO DE REVISÃO, nos casos em que surgir fato que se descoberto quando da prolação da sentença a teria alterado substancialmente; Brasil e a Corte O Brasil reconheceu a competência da Corte em 8 de novembro de 2002 pelo Decreto n.º 4.463; A declaração de aceite do Brasil foi feita por prazo indeterminado, porém abrange fatos ocorridos após 10 de dezembro de 1998. Vale ressaltar que a competência da Corte tem por base o compromisso assumido pelo país membro da OEA de assumir responsabilidades perante a comunidade internacional; Cabe a eles implementar os direitos humanos no direito interno. Até 2008, 5 casos foram submetidos à Corte em face do Estado Brasileiro; e 90 casos submetidos à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos; Dos casos submetidos à Corte, 2 são contenciosos e 3 relacionam-se com medidas provisórias; O CASO XIMENES LOPES, foi um caso contencioso encaminhado pela Comissão à CORTE QUE PROFERIU EM 04 DE JULHO DE 2006 SENTENÇA CONDENATÓRIA CONTRA O BRASIL; Caso contencioso brasileiro Tratava-se de um caso de maus tratos sofridos pela vítima, portadora de transtorno mental, em clínica psiquiátrica no Ceará; A vítima faleceu 3 dias após sua internação na clínica; Foram alegadas falta de investigação e garantias judiciais o que manteria o caso na impunidade; A demanda analisou, portanto, se o Brasil era responsável pela violação dos direitos à vida (art.4º da CADH), à integridade pessoal (art. 5º), das garantias judiciais (art.8º) e violação da proteção judicial (art. 25); Sentença paradigmática para o Brasil A Corte decidiu, no mérito e por unanimidade, pela responsabilidade do Brasil, condenando-o; A sentença constituiu paradigma na defesa dos direitos das pessoas com deficiência mental; O Brasil publicou a sentença no Diário Oficial da União e assegurou o pagamento de indenização aos familiares da vítima; Casos submetidos à Comissão Os casos encaminhados à CIDH, via de regra, por ONGs de defesa dos direitos humanos, podem ser CLASSIFICADOS em: DETENÇÃO ARBITRÁRIA, TORTURA E ASSASSINATO DURANTE O REGIME MILITAR; VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS; VIOLÊNCIA RURAL; VIOLÊNCIA POLICIAL; VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES; VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER; DISCRIMINAÇÃO RACIAL; VIOLÊNCIA CONTRA DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS Pode-se observar que a maioria dos casos refere-se a VIOLÊNCIA CONTRA PESSOAS CONSIDERADAS SOCIALMENTE POBRES, incluindo aí pessoas que viviam em comunidades carentes, nas ruas, estradas, prisões ou sob regime de trabalho escravo no campo; As violações concentram-se nos DIREITOS CIVIS E/OU POLÍTICOS, podendo ser encontradas denúncias relativas à violação de direitos sociais, econômicos ou culturais. AVANÇOS SIGNIFICATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO Tais denúncias tiveram impacto na legislação e nas políticas públicas de direitos humanos, podem ser citados alguns avanços: Casos de crimes praticados por policiais militares levou a adoção da Lei 9.299/96, que determinou o julgamento de crimes dolosos contra a vida cometido por policiais deve ocorrer na Justiça Comum e não mais na Justiça Militar; Casos de tortura e desaparecimento conduziram a adoção da Lei 9.140/95, que estabeleceu indenização aos familiares dessas vítimas; A Emenda Constitucional nº 35/01, que restringe o alcance da imunidade parlamentar, se deu após o caso de assassinato de uma jovem estudante por deputado estadual; A denúncia de discriminação contra mães adotivas levou a adoção da Lei 10.421/02, que estendeu o direito à licença maternidade às mães de filhos adotivos; Caso Maria da Penha que culminou na Lei 11.340/06, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica contra a mulher; Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos foi adotado após inúmeros casos envolvendo violência contra os defensores de direitos humanos; Programa Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo foi adotado após casos envolvendo violência rural e trabalho escravo; O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos tem se mostrado eficaz quando as instituições nacionais falham; Tanto a CIDH, como a Corte são órgãos que exercem pressão internacional, no sentido de fazer cessar a violação aos direitos humanos no âmbito interno dos Estados-membros da OEA; Observa-se que há a tutela, a supervisão e o monitoramento do meio pelo qual os Estados asseguram e protegem tais direitos; No caso brasileiro, pode-se observar que a publicidade das denúncias pelo Sistema Interamericano constrange moral e politicamente o Estado a oferecer resposta efetiva às violações aos direitos humanos apontadas; Viu-se, portanto, avanços legislativos a fim de proteger os direitos outrora violados; Com isso, o Sistema Interamericano de Proteção é um poderoso mecanismo de promoção e efetivação dos direitos humanos no âmbito nacional.
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