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Aula 6 – Orifícios e Bocais Eng. Civil Marcelo Botini Tavares 6.1 – ESCOAMENTO EM ORIFÍCIOS 6.1.1 Classificação dos Orifícios 6.1.2 Orifícios pequenos em paredes delgadas: teorema de Torricelli 6.1.3 Orifícios afogados abertos em paredes verticais delgadas 6.1.4 Contração incompleta da veia 6.1.5 Escoamento com nível variado 6.2 – ESTUDO DOS BOCAIS 6.2.1 Classificação dos Bocais 6.2.2 Vazão nos Bocais 6.2.3 Bocais Cilíndricos 6.1 ESCOAMENTO EM ORIFÍCIOS 6.1.1 Classificação dos orifícios Orifícios são perfurações, geralmente de forma geométrica definida, feitas abaixo da superfície livre do líquido em paredes de reservatórios, tanques, canais ou canalizações, com a finalidade de medição de vazão. Os orifícios podem ser classificados quanto à forma, em circulares, retangulares, etc.; quanto às suas dimensões relativas, em pequenos e grandes. São considerados pequenos os orifícios cujas dimensões são muito menores que a profundidade em que se encontram: dimensão vertical igual ou inferior a um terço da profundidade. Para orifícios pequenos de área inferior a 1/10 da superfície do recipiente, pode-se desprezar a velocidade v1 do líquido. Quanto à natureza da parede, podem ser classificados em orifícios em parede delgada e orifícios em parede espessa. - parede delgada: quando o jato líquido toca apenas a perfuração em uma linha que constitui o perímetro do orifício. - parede espessa: verifica-se a aderência do jato. Se a espessura for 1,5 vezes o diâmetro, o jato poderá se colar no interior da parede. Se a espessura estiver compreendida entre 2 e 3 vezes o diâmetro, teremos o caso de um bocal. O jato que sai de um orifício chama-se veia líquida, sendo sua trajetória parabólica. 6.1.2 Orifícios pequenos em paredes delgadas: teorema de Torricelli Os filetes líquidos tocam as bordas do orifício e continuam a convergir, depois de passarem pelo mesmo, até uma seção A2, na qual o jato tem área sensivelmente menor que a do orifício. Essa seção A2 é denominada seção contraída. Costuma-se designar por coeficiente de contração (Cc) da veia a relação entre a área da seção contraída e a área do orifício: 𝐶𝑐 = 𝐴2 𝐴 Valor médio prático de Cc é 0,62. Sendo, A2 = área da seção contraída e A = área do orifício Tratando-se de água e orifícios circulares, a seção contraída encontra-se a uma distância da face interna do orifício aproximadamente igual à metade do diâmetro do orifício. Tabela 6.1 – Orifícios circulares em paredes delgadas. Coeficientes de Contração Cc. No caso de orifícios pequenos, pode-se admitir, sem erro apreciável, que todas as partículas atravessam o orifício animadas da mesma velocidade, sob a mesma carga h. Aplicando-se o teorema de Bernoulli às seções 1 e 2 da figura e tomando-se o eixo do orifício como referência, temos 𝑣1 2 2𝑔 + 𝑝𝑎 𝛾 + ℎ = 𝑣𝑡 2 2𝑔 + 𝑝2 𝛾 Como nesse caso, a seção A do orifício é muito pequena em relação a A1, a velocidade v1 é desprezível em face de vt, 𝑣𝑡 2 = 2𝑔 ℎ + 𝑝𝑎 − 𝑝2 𝛾 ⇒ 𝑣𝑡 = 2𝑔 ℎ + 𝑝𝑎 − 𝑝2 𝛾 No caso mais comum em que a veia líquida se escoa na atmosfera, p2 = pa, Então, 𝑣𝑡 = 2𝑔ℎ, expressão do teorema de Torricelli. vt é a velocidade teórica, que não leva em conta as perdas sempre existentes e v2 é a velocidade real. Na realidade porém v2 < vt, e por isso se introduz um coeficiente de redução de velocidade (Cv); 𝐶𝑣 = 𝑣2 𝑣𝑡 O valor médio de Cv é 0,985. 𝑣2 = 𝐶𝑣 × 𝑣𝑡 = 𝐶𝑣 2𝑔ℎ A vazão é dada por 𝑄 = 𝐴 × 𝑣 = 𝐴2 × 𝑣2 Substituindo A2 e v2, 𝑄 = 𝐴𝐶𝑐𝐶𝑣 2𝑔ℎ Designando-se por coeficiente de descarga (Cd) ou de vazão ao produto CcCv, 𝐶𝑑 = 𝐶𝑐𝐶𝑣 Temos a fórmula geral para pequenos orifícios, 𝑄 = 𝐶𝑑𝐴 2𝑔ℎ Sendo, h = carga sobre o centro do orifício (m) A = área do orifício (m²) Cd = coeficiente de descarga Na prática é adotado o valor médio de Cd = 0,61. Tabela 6.2 – Orifícios circulares em paredes delgadas. Coeficientes de Velocidade Cv. Tabela 6.3 – Orifícios circulares em paredes delgadas. Coeficientes de Descarga Cd. 6.1.3 Orifícios afogados abertos em paredes verticais delgadas Diz-se que um orifício está afogado quando a veia escoa em massa líquida. Nesse caso ocorre, ainda, o mesmo fenômeno de contração da veia. A expressão de Torricelli pode ser mantida, porém a carga h deve ser considerada como a diferença entre as cargas de montante e jusante (h1 – h2). 6.1.4 Contração incompleta da veia Para posições particulares dos orifícios, a contração da veia pode ser afetada, modificada, ou mesmo suprimida, alterando-se a vazão. Para que a contração seja completa, produzindo-se em todo o contorno da veia, é preciso que o orifício esteja localizado a uma distância do fundo ou das paredes laterais, pelo menos igual a duas vezes a sua menor dimensão. No caso de orifícios abertos, junto ao fundo ou às paredes laterais, é indispensável uma correção. Nessas condições, aplica-se um coeficiente de descarga C’d corrigido. Para orifícios retangulares, 𝐶𝑑 ′ = 𝐶𝑑 1 + 0,15𝑘 𝑘 = 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒 𝑒𝑚 𝑞𝑢𝑒 ℎá 𝑠𝑢𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑜𝑟𝑖𝑓í𝑐𝑖𝑜 Exercício 6.1 – Em uma fábrica encontra-se a instalação indicada no esquema, compreendendo dois tanques de chapas metálicas, em comunicação por um orifício circular de diâmetro d. Determinar o valor máximo de d, para que não haja transbordamento no segundo tanque. Utilizar Cd = 0,61. 6.1.5 Escoamento com nível variado Nos casos considerados, a carga h foi admitida invariável. Se não for mantido o nível constante, a altura h passará a diminuir com o tempo, em consequência do próprio escoamento pelo orifício. Com a redução da carga, a descarga através do orifício também irá decrescendo. O problema que se apresenta na prática consiste em se determinar o tempo necessário para o esvaziamento de um recipiente ou tanque. Num pequeno intervalo dt, a vazão para pequeno orifício será 𝐶𝑑𝐴 2𝑔ℎ 𝑑𝑡, e o volume de líquido descarregado, 𝑉𝑜𝑙 = 𝑄 × 𝑡 Nesse mesmo intervalo de tempo, o nível de água do reservatório baixará de dh, o que corresponde a um volume de líquido 𝐴𝑅𝑑ℎ. As duas expressões que dão o volume são iguais 𝐴𝑅𝑑ℎ = 𝐶𝑑𝐴 2𝑔ℎ 𝑑𝑡 ∴ 𝑑𝑡 = 𝐴𝑅𝑑ℎ 𝐶𝑑𝐴 2𝑔ℎ Integrando a expressão acima, entre dois níveis h1 e h2 e sabendo que para o esvaziamento completo h2 = 0 e h1 = h, encontra-se 𝑡 = 2𝐴𝑅 𝐶𝑑𝐴 2𝑔 ℎ expressão aproximada, uma vez que depois de certo tempo de escoamento o orifício deixaria de ser “pequeno”. Sendo, A = área do orifício AR = área do reservatório (superfície) t = o tempo necessário para o seu esvaziamento, em segundos Exercício 6.2 – Em uma estação de tratamento de água, existem dois decantadores de 5,50 x 16,50m e 3,50m de profundidade. Para limpeza e reparos, qualquer uma dessas unidades pode ser esvaziada por meio de uma comporta quadrada de 0,30m de lado, instalada junto ao fundo do decantador. A espessura da parede é de 0,25m. Calcular a vazão inicial na comporta e determinar o tempo (aproximado) necessário para o esvaziamento do decantador. Utilizar Cd = 0,61. Exercício 6.3 – Um reservatório possui 5,0m de diâmetro. O tempo total de esvaziamento do reservatório é de 18,78min e a equação da altura (h) com relação ao tempo (t) é ℎ = 𝑡 205,72 2 , com t em segundos e h em metros. Qual deve ser o diâmetro do bocal, localizado no fundodo reservatório, para que esvazie metade do reservatório com vazão de Q = 739 l /s? Considere o coeficiente de descarga igual a 0,61 e g = 9,8 m/s². Desprezar supressão de face. 6.2 ESTUDO DOS BOCAIS 6.2.1 Classificação dos bocais Os bocais ou tubos adicionais são constituídos por peças tubulares adaptadas aos orifícios. Servem para dirigir o jato. O seu comprimento deve estar compreendido entre uma vez e meia (1,5) e três (3) vezes o seu diâmetro. De um modo geral, e para comprimentos maiores, consideramos, - bocais: comprimentos de 1,5 a 3 D; - tubos muito curtos: comprimentos de 3 a 500 D; - tubulações curtas: comprimentos de 500 a 4.000 D; e - tubulações longas: comprimentos acima de 4.000 D. O estudo dos bocais é feito do mesmo modo que o estudo de orifícios em parede espessa. Os bocais podem ser classificados segundo sua geometria e posição em relação ao reservatório. Podem ser cilíndricos ou cônicos (convergentes ou divergentes) e externos ou internos. 6.2.2 Vazão nos bocais Aos bocais aplica-se a fórmula geral, deduzida para os orifícios pequenos, 𝑄 = 𝐶𝑑𝐴 2𝑔ℎ 6.2.3 Bocais cilíndricos A contração da veia ocorre no interior dos bocais cilíndricos. A figura abaixo mostra um bocal cilíndrico externo de comprimento L e diâmetro D, sujeito a uma carga H, no qual a formação da seção contraída de área Ac, que se caracteriza por uma região de alta velocidade e baixa pressão. O bocal cilíndrico interno ou bocal de borda, ocorre quando se instala um tubo adicional em um orifício em sua montante, conforme a figura abaixo. Em certas circunstâncias, este tubo adicional provoca apreciáveis variações nas condições de escoamento, tanto no valor da vazão quanto na característica do jato. O bocal de borda propicia um jato líquido bem regular, com uma contração na entrada do bocal maior que a observada nos orifícios, sem tocar as parede internas do mesmo. Neste caso, se o comprimento do bocal for menor que 2D, o coeficiente de vazão aumenta, tendendo ao valor de Cd, correspondente aos orifícios de parede espessa. Se o comprimento do tubo for maior que 2,5D, a veia líquida, após atingir a seção contraída, preenche totalmente a seção do bocal, produzindo uma descarga análoga aos tubos adicionais cilíndricos externos. Tabela 6.4 – Bocais e coeficientes médios utilizados
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