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Aulas 4 e 5

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Aula 4: A construção do conceito de intertextualidade
De volta ao formalismo
Importa destacar que as escolas teóricas sempre possuem uma riqueza bem maior do que se pode supor numa análise que peque por excesso de superficialidade e esquematismo. Os diversos autores que costumam ser reunidos sob a alcunha de “formalistas”, como já destacamos, se propuseram a renovar a teoria da literatura no começo do século XX.
Seria mais exato dizer que houve vários formalismos, e não um só, mas em comum estes autores tinham o interesse em construir um método científico para a análise dos textos literários, além afirmar o primado da atenção ao texto em si mesmo, ao destacar a prioridade em analisar os aspectos internos da obra e denunciar os erros de interpretação cometidos no passado por conta de se prestar mais atenção a dados externos.
Num primeiro momento, aproximando-se da linguística estrutural de Saussure, alguns dos expoentes do grupo formalista fazem a opção pelo estudo sincrônico do texto, em detrimento de uma abordagem que buscasse a filiação deste texto a tradições ou linhas de evolução histórica. Todavia, dentro do próprio grupo, já existe a consideração de que o estudo mais atento do texto literário não pode dispensar um diálogo atento com o contexto social. Isso se dá com a obra crítica de Iuri Tynianov, autor que destaca a extrema importância de não separar a análise dos textos literários do estudo dos outros fatos sociais.
Segundo Iuri Tynianov, não se pode perder de vista nem o que há de peculiar e único na literatura, nem a importância do seu diálogo com o momento histórico no qual uma dada obra foi produzida. Trazendo de volta à cena crítica o interesse pelo estudo da evolução literária, Tynianov começa a resgatar o interesse pelo estudo diacrônico, sem deixar de lado uma perspectiva sincrônica.
Em suas palavras, a série literária e a série social estão em permuta constante; sendo da máxima importância para a plena compreensão do valor de uma obra singular, o estudo em paralelo do momento social e histórico, em particular do conjunto formado pelas obras que surgiram nos mesmo momentos históricos.
Uma plena compreensão da ficção de Machado de Assis se enriquece com a leitura em paralelo de outras obras da mesma época, além do estudo da própria história social brasileira no período de transição do Império para a República. (Ler Machado de Assis fica mais enriquecedor se eu levar em consideração o contexto histórico e social do momento no qual ele viveu. Grifo meu.)
Importante ter em mente tanto a série literária à qual essa obra pertence (o conjunto de obras representativas de uma determinada literatura nacional) quanto o entendimento dos elementos da série social (o momento histórico e as outras manifestações artísticas da época, por exemplo) que nela se interpenetram. O tão conhecido ceticismo de Machado ganha nova luz se for estudado como um elemento que representa uma tomada de posição frente às certezas estreitas do cientificismo do final do século XIX. Algo que se torna muito claro quando lemos “O alienista”, por exemplo.
Afirma Tynianov que o estudo isolado de uma obra literária não fornece elementos suficientes para a compreensão plena de sua construção. Ou seja, o exame mais detalhado do texto, a ênfase na obra, defendida pelos formalistas, só estaria completa se o pesquisador tivesse liberdade para considerar o peso de certas informações advindas da análise do contexto.
Outra observação interessante que podemos retirar da obra deste importante teórico vem ressaltada por Tânia Carvalhal (2006, p.47):
Tynianov alerta que “um mesmo elemento tem funções diferentes em sistemas diferentes”, o que nos leva a pensar que um elemento, retirado de seu contexto original para integrar outro contexto, já não pode ser considerado idêntico.
A sua inserção em novo sistema altera sua própria natureza, pois exerce outra função.
Trata-se de uma observação de extrema importância para as pesquisas em Literatura Comparada. Quando se analisam em paralelo textos de autores que viveram em épocas diferentes ou pertenceram a culturas diferentes, é preciso ter em consideração as grandes diferenças de contexto porventura existentes.  
Portanto, para o comparatista, importa o fato de que o diálogo entre dois textos, entre a obra de dois autores, pressupõe uma pesquisa rigorosa, que não deixe de levar em conta o tipo de diálogo que cada texto estabeleceu com seu próprio tempo.
A partir de análise comparativa entre Otelo e Dom Casmurro, não se pode deixar de lado as diferenças que havia entre o Brasil do final do século XIX e a Europa do final da Idade Média, época em que se passa o enredo shakespeariano.
Isso pode explicar como o protagonista da tragédia toma a si mesmo a tarefa de matar sua esposa, tida por ele como adúltera. Segundo valores de honra, muito importantes na época, caberia ao próprio ofendido a iniciativa de buscar uma retratação pública. Otelo mata sua esposa e todos ficam sabendo disso. Já nos tempos de Machado, o cinismo da moral burguesa era um convite à dissimulação. Era preciso salvar as aparências.
Por conta disso, Bentinho e Capitu partem em viagem à Europa para, somente depois, se separarem efetivamente. O ciúme e o possível adultério são temas relevantes nos dois momentos históricos, mas a reação que os personagens têm é diferente, e isso pode ser explicado, em parte, pela diferença de mentalidade.
A lição trazida pelos formalismos e estruturalismos se impõe como de grande importância, assinalando que é preciso ter o cuidado de dar a devida atenção ao texto e não ceder a tentações fáceis de interpretação, comuns na análise literária anterior ao formalismo.
Para ficar no caso do autor que mais temos citado até aqui, nada existe em Dom Casmurro ou em O Alienista que nos autorize a dizer que o ceticismo de Machado decorreria de ressentimentos por sua situação de mestiço ou por conta de seus problemas de saúde. Como também não faz sentido considerarmos que seria destino histórico de uma nação colonizada arrastar o fardo do atraso.
Interpretações ultrapassadas, todas essas, mas que, no entanto, já tiveram o seu momento de glória entre nós. Os excessos causados pelo biografismo rasteiro, tanto quanto pelo determinismo, foram marcas duramente superadas entre os intelectuais brasileiros.
A contribuição de Bakhtin  
Ainda que seja russo e contemporâneo dos formalistas, Mikhail Bakhtin não pode ser considerado um dos participantes do movimento, uma vez que suas ideias se distanciam bastante das propostas que predominavam na época, além do fato de não ter integrado os Círculos Linguísticos que floresceram na Rússia no período entre a segunda e a terceira década do século XX.
Seu legado é rico e variado, não pode ser esgotado nos limites de uma aula. Resgata o estudo das relações do Texto Literário com a História.  Foge às concepções formalistas, fechadas na análise do texto, e procura destacar o diálogo inevitável de cada texto com seu tempo, com os padrões ideológicos de cada momento histórico. Se com Tynianov, já vimos que é impossível o estudo de Literatura Comparada sem considerar a História, com Bakhtin, este fato se elucida e se aprofunda ainda mais.
Simplesmente porque ninguém existe sozinho, vivemos todos em interação social constante, em diálogo permanente com nossos semelhantes. Esta observação vale para as pessoas e também para os textos. Não há um só texto literário que não possua marcas da presença do diálogo com outros textos. Tanto um diálogo com uma tradição literária, ou seja, um diálogo com textos do passado, como também com textos da mesma época. Assim, este processo dialógico possui tanto um plano diacrônico, como um sincrônico.
Ao contrário do que pretendia a maior parte dos teóricos formalistas, é impossível separar o estudo de uma obra do presente da consideração de seu diálogo com outras obras, inclusive as do passado. É impossível deixar de lado a diacronia em qualquer esforço sério de análise literária.
É sabido que nenhum ser humano conseguesobreviver sozinho, distante de uma comunidade, compartilhando a existência com seus semelhantes. Todavia, ao longo dos últimos séculos, a ideologia burguesa liberal se construiu em grande parte em torno da noção de que os grandes homens são justamente os self-made man, ou seja, os que se fazem por si mesmos. Vemos no cinema se multiplicarem os exemplos de heróis que resolvem tudo sozinhos, muitas vezes de forma espetacular, o que só mostra o quanto as fitas hollywoodianas estão comprometidas com este padrão ideológico.
Em Teoria da Literatura, um análogo desta noção extrema de individualidade é a ideia de que o autor é um gênio, cujas obras nascem unicamente por conta de seu talento extraordinário. Uma concepção que teve grande voga no período romântico, mas persistiu em épocas posteriores.
Bem, a contribuição de Bakhtin para os estudos literários e linguísticos ainda está sendo devidamente equacionada, mas uma das grandes contribuições foi se contrapor a esta visão equivocada acerca do peso da individualidade no processo de criação literária. Para ele, todo discurso, inclusive o literário, é resultado de um processo dialógico. Ou seja, o texto resulta de um diálogo realizado entre o autor e outros agentes sociais que compartilhem com ele do mesmo contexto social. Indo além, ele acredita que na própria afirmação do ser humano como pessoa, ocorre um processo dialógico. 
Não somos resultado dos conceitos que nós mesmos formulamos sobre nossa própria identidade. Antes disso, nós resultamos de um diálogo que mantemos com os que estão ao nosso redor. Os discursos que ouvimos acerca de nós contribuem para nos formar como pessoas.
Sendo assim, sempre que dizemos algo, muitas vozes se fazem presentes. Para Bakhtin, toda subjetividade é intersubjetiva, o sujeito se forma em constante contato e diálogo com outros. Esta noção tem rendido alguns frutos nos estudos de psicologia, mas para o campo que nos interessa, é preciso estar atento ao fato de que vivemos numa época em que a multiplicidade dos discursos sociais torna inviável a permanência de um tipo de obra literária que seja conduzida por uma só voz, uma obra monológica.
Caminha-se para a afirmação do predomínio das obras literárias polifônicas, nas quais muitas vozes se afirmam, se chocam, se completam. O discurso de cada personagem interage com o discurso dos próprios narradores. Ou, senão, temos as situações em que os leitores são convidados a participar do processo de criação das obras.
O Texto Literário para Bakhtin  
O texto literário, para Bakhtin, é um campo que se abre ao debate. Nele, muitas vozes diferentes se manifestam e se interpenetram. Não há um só texto literário que não possua marcas da presença do diálogo com outros textos. Tanto um diálogo com uma tradição literária, ou seja, um diálogo com textos do passado, como também com textos da mesma época.
Assim, este processo dialógico possui tanto um plano diacrônico, como um sincrônico. Ao contrário do que pretendia a maior parte dos teóricos formalistas, é impossível separar o estudo de uma obra do presente da consideração de seu diálogo com outras obras, inclusive as do passado.
Os textos literários estão em permanente diálogo, e dentro desta perspectiva, não existe texto algum que seja completamente original.
Todos eles nascem da absorção de elementos de outros textos, resultado de um processo dialógico. Chegamos assim bem perto do conceito de “intertextualidade”, de importância central para os estudos de Literatura Comparada, e formulada por Julia Kristeva, a partir de uma leitura atenta e penetrante do legado de Bakhtin, que destaca quase ao fim de sua Estética da Criação Verbal:
Dentro desta perspectiva, todo e qualquer texto, inclusive os que se apresentam como obras da imaginação, os textos literários, são pontos de encontro, maneira de se responder a tudo o que já foi produzido antes no contexto de uma mesma tradição cultural. Ou seja, todo texto nasce impregnado de conceitos e sugestões de outros textos, mais antigos. Tal processo é muito óbvio quando o autor faz dele um uso consciente, como faz Machado, ao citar Shakespeare.
O advento do conceito de intertextualidade
Pelo que vimos até aqui, a linguagem poética resulta de um constante diálogo de textos. Não existe um só texto literário que não seja intertexto, que não esteja em conexão com outros textos. A partir do momento em que a crítica literária toma consciência deste processo, tem a oportunidade de encarar de outro modo a Literatura Comparada. Vemos que o antigo debate teórico em torno das influências, fontes e empréstimos pode ser retomado, mas agora com um novo vigor.
Dando sequência à sua argumentação, Julia Kristeva busca resgatar um dos sentidos mais antigos do verbo “ler”. Para além do simples ato de conhecer, compreender e interpretar um texto, o processo de leitura também inclui outros passos: recolher, coletar, tomar, ou mesmo roubar.
O ato de ler seria, desta forma, um processo ativo capaz de levar o sujeito à criação. De tal modo, que a leitura acarretasse a escritura. Desta forma, a leitura de um livro que realmente mexe conosco nos remete a uma atitude criativa de também criar, dando à luz novos textos.
A Postura de Julia Kristeva diante da lição de Bakhtin
Porém, mantendo-se fiel à lição de Bakhtin, Julia Kristeva não perde de vista o fato de que a criação literária, como releitura de textos anteriores, também é um processo que não perde de vista a dimensão contextual. Ou seja, quando se reaproveita um conceito de um texto escrito em outra época, o novo autor está trazendo o elemento tomado para dialogar com o momento histórico atual.
Por ora, vale considerar que o estudante pode ter exemplos muito claros de intertextualidade simplesmente relendo o conteúdo de nossas aulas. Verá que nos valemos do que outros autores disseram muitas vezes, sempre considerando o imperativo ético de citar nossas fontes, ou seja, apontar de onde surgiram estas ou aquelas ideias aqui reaproveitadas. Isso vale tanto para textos literários, como para teóricos. Assim, vemos que Machado de Assis, William Shakespeare, Iuri Tynianov, Tânia Carvalhal, Mikhail Bakhtin e Gregório de Matos integram a rede de autores com os quais temos dialogado até aqui. A partir da próxima aula, você verá como esta rede vai aumentar ainda mais.
SLIDES 
Os formalistas russos queriam criar um método cientifico para análise dos textos literários. Tudo tinha que ser a partir do texto. É a partir do texto que faço minhas análises. Vou primar pelos elementos internos do texto.
De volta ao Formalismo
Formalistas – renovação da teoria da literatura no século XX. 
 Diversificação no Formalismo e não somente um – foi um movimento múltiplo. 
•	O "formalismo russo" dois movimentos distintos: o OPOJAZ - Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética - de São Petersburgo;
•	Círculo Linguístico de Moscou – de Moscou;
Os estudiosos do Círculo Linguístico de Moscou (formalistas russos) romperam com a análise concebida em termos de causalidade mecânica, de larga difusão no século XIX, que fazia intervir na investigação do literário o biografismo, o psicologismo, a história literária e a sociologia.
Amparavam seus estudos sobre a poética na teoria linguística de Ferdinand de Saussure. 
Importante para Tynianov:
Não separar a análise dos textos literários do estudo de outros fatos sociais;
Não perder de vista o que é próprio e único na literatura;
Não perder o dialogo da literatura com momento histórico a obra é produzida.
Tynianov começa a resgatar o interesse pelo estudo diacrônico, sem deixar de lado uma perspectiva sincrônica. 
Impossível o estudo de Literatura Comparada sem considerar a História. 
A contribuição de Bakhtin
Resgata o estudo das relações do Texto Literário com a História; 
Foge às concepções formalistas, fechadas na análise do texto, 
Destaca o diálogo inevitável de cada texto com seu tempo e com os padrões ideológicos de cada momento histórico.
Aula 5: Da teoria à prática: as modalidadesde discurso intertextual
Passemos agora ao estudo dos procedimentos discursivos que podem efetivamente ser considerados intertextuais:
Alusão- Fazemos alusão quando damos a entender que estamos falando de alguém, sem a necessidade de citar o nome desta pessoa. Para os contornos do que estamos expondo, quando um texto faz uso de ideias e conceitos expostos anteriormente por outros textos, mas não faz uma citação direta. 
Assim, no poema “Romance XXXIV, ou de Joaquim Silvério”, do livro Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles faz alusão a uma conhecida passagem bíblica:
	Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
e tu muitas coisas pedes: 
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
	comenda para o pescoço,
honras, glória, privilégios
E andas tão bem na cobrança 
que quase tudo recebes!
Vemos que, sem citar qualquer passagem dos Evangelhos, o poema dá conta de uma comparação da atitude do traidor dos inconfidentes com a de Judas, o traidor de Cristo. Portanto, a figura histórica de Joaquim Silvério dos Reis é construída no texto por meio da alusão a um personagem dos mais conhecidos entre os povos cristãos. 
Além de associar o nome de Silvério a um personagem que representa o protótipo da traição, o texto vai além e ressalta o fato de ter sido ainda maior a covardia, já que Judas teria se contentado com uma recompensa bem mais modesta, enquanto Silvério teria obtido da coroa portuguesa o perdão de todas as suas dívidas, além de outras vantagens.
Citação direta - Num polo oposto à alusão se encontra a citação direta, na qual temos a oportunidade de tomar emprestado um trecho de outro texto, que transcrevemos literalmente para, em seguida, tecermos as malhas de nosso próprio texto. Este procedimento é bastante usual em textos acadêmicos e escolares, a começar pelas nossas próprias aulas, que estão recheadas de citações diretas, que funcionam basicamente para: enriquecer nossa reflexão sobre um tema, funcionar como fonte de inspiração para nossas ideias, ou mesmo, como exemplos do que estamos tentando expor.
Dentre os diferentes tipos de citação direta, destacamos o caso das epígrafes, que são colocadas ao começo de um texto e geralmente funcionam como ponto de partida de uma reflexão, como fonte de inspiração. O texto da presente aula, a propósito, começa com uma epígrafe do poeta Mário Quintana.
A letra da música Monte Castelo de Renato Russo
Verifica-se a presença de fragmentos dos textos originais, que são aproveitados de modo literal, sem alterações. Interessante é notar que o compositor se valeu do fato de que ambos os autores citados, Luis Vaz de Camões, do qual foram citadas a terceira, a quinta e a sexta estrofe, e o apóstolo São Paulo, do qual é o restante do texto, tratam de tema comum a todas as épocas, de algo inerente à condição humana. Seria um erro considerar que neste caso teria havido plágio, pura e simplesmente, já que a escolha dos trechos a serem citados, bem como a maneira de combiná-los na canção demandou uma capacidade de percepção que somente um artista seria capaz de realizar.
Esta modalidade de intertexto, que aqui consideramos um tipo de citação, é considerado por Affonso Romano de Sant’Anna como um exemplo de uma outra modalidade: a apropriação. Consideramos muito pequena a diferença entre os dois fenômenos, de tal modo que não vale a pena preocupar os alunos com algo assim. 
Mas vale ter em mente que o que Renato Russo faz na canção citada é procedimento que sempre se usou em Literatura, mas que se tornou ainda mais comum com a Revolução Modernista.
Paráfrase - Não existe um conceito fechado e único para nenhum desses dois termos, mas podemos começar dizendo que a paráfrase acontece quando um texto B retoma de maneira geral a ideia de um texto A. Ocorre paráfrase, por exemplo, quando um professor retoma as proposições de um teórico famoso, mas se vale de procedimentos que facilitem a compreensão, para que os alunos não tenham dificuldade em dominar a essência das proposições do teórico.
Paródia –
A "Nova canção do exílio", de Carlos Drummond de Andrade, para Carvalhal, é uma paródia da “Canção do exílio”, pois “Recria não a saudade nostálgica do primeiro, mas a sensação de exílio no próprio país. O poema de Drummond "dialoga" com o texto anterior, dizendo-lhe de sua impossibilidade. Se ao refazer um poema, pertencente ao mesmo sistema literário, Drummond firma as origens e fortalece a relevância do texto inaugural, também o converte num texto datado.”(p. 57)
A combatividade do modernismo
Ainda que se mantenha a dialética “aqui” x “lá”, temos o desvendamento de novas realidades, que pareciam ocultas ou esquecidas até então. A combatividade que caracterizou o Modernismo brasileiro se realizou em grande parte por meio do recurso a releituras críticas da tradição literária. Forma de questionar o que estava consagrado, mas ao mesmo tempo de reconhecer a importância dos textos que são parodiados.
Verifica-se, então, como diz Affonso Romano de Sant’Anna, que a diferença entre a paráfrase e a paródia está no grau de deslocamento que o texto mais novo realiza em relação ao mais antigo. Assim, a canção “Sabiá” realizou um deslocamento muito menor em relação à “Canção do Exílio” do que o “Canto de Regresso à Pátria”. Por esse motivo, dizemos que o texto de Oswald é uma paródia, ao passo que a parceria de Chico Buarque e Tom Jobim é uma paráfrase do poema de Gonçalves Dias.
5 – Pastiche - A última modalidade de intertexto que vamos estudar nesta aula é o pastiche. Pode muito facilmente ser confundido com plágio, mas é um procedimento discursivo legítimo que tem se tornado muito comum em nossa época. Pode ser caracterizado como o recurso que leva um autor a se apropriar de um trecho de outro, ou mesmo de se fazer passar por outro. Se no caso da paráfrase, o objetivo do escritor mais recente é retomar ideias ou procedimentos discursivos de autor mais antigo, e no caso da paródia o objetivo é o desvio crítico, o que temos no pastiche, quase sempre, é a homenagem ao autor do passado.
SLIDES
Intertextualidade é quando há uma menção explícita ou implícita de um texto em outro. Pode ocorrer com diversas formas além do texto:
Música, 
Pintura, 
Filme, 
Novela, etc. 
“Toda vez que uma obra fizer menção a uma outra sucede a intertextualidade”.
O texto literário se enriquece no contato com o conjunto dos textos que formam a tradição literária – Globalizado.
O diálogo pode se realizar a partir de procedimentos discursivos de maneiras diversas: 
a alusão; 
a citação; 
a paráfrase; 
a paródia; 
o pastiche. 
O PLÁGIO é o único procedimento discursivo que não se pode considerar exatamente como intertextual.
 
Ocorre sempre que fragmentos de um texto são copiados pura e simplesmente.
Não há nenhuma transformação ou acréscimo.
A diferença está no fato de os dois textos terem sido postos em circulação em contextos históricos diferentes.
Procedimentos discursivos que podem efetivamente ser considerados intertextuais: Alusão e Citação Direta.
ALUSÃO - fazemos alusão quando damos a entender que estamos falando de alguém, sem a necessidade de citar o nome desta pessoa.
CITAÇÃO DIRETA- oposto à alusão, se encontra a citação direta, na qual temos a oportunidade de tomar emprestado um trecho de outro texto, que transcrevemos literalmente para, em seguida, tecermos as malhas de nosso próprio texto.
ALUSÃO - 
“Esaú e Jacó” (1904), de Machado de Assis:
“Se, em conversa com o ex-presidente de província, disse todo o bem que pensava do Governo Provisório, não lhe ouviu palavras de acordo nem de contestação.”(Capítulo LXX - de uma conclusão errada)
O Governo Provisório, chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, durou da Proclamação da República (15 de novembro de 1889) até a primeira eleição republicana, pelo Congresso Nacional Constituinte, em 25 de fevereiro de 1891. 
Procedimentos discursivos que podem efetivamenteser considerados intertextuais: Paráfrase e Paródia.
Paráfrase e Paródia: 
Paráfrase - reprodução do texto de outro com as palavras do autor; é a recriação textual, trazendo como base um texto-fonte. Ela não se confunde com o plágio, porque seu autor especifica a intenção, deixa claro a fonte. 
Paródia - uma forma de apropriação em que há a quebra com as ideologias impostas; em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. É uma forma de objetar ou ridicularizar outros textos. Há uma inversão de sentidos.
	Canção do exílio - Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
	Canto de regresso à pátria - Oswald de Andrade
Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.
Procedimento discursivo que pode efetivamente ser considerado intertextual: Pastiche
Pastiche - é um procedimento discursivo legítimo que tem se tornado muito comum em nossa época. O que temos no pastiche, quase sempre, é a homenagem ao autor do passado.

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