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Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 23 1. Introdução Atualmente, o contexto da sala de aula é composto por uma diversidade cultural, social, econômica e política muito grande. Cada vez mais tem aumentado a heterogeneidade entre os alunos, os pais e a própria comunidade escolar. Ou seja, as diferenças de pensamento, os valores, as regras, enfim, os comportamentos de todos os envolvidos, no processo educacional, são, fatos significativos e merecem toda a nossa atenção. Não podemos mais pensar e esperar um contexto educacional homogêneo, no qual os seres humanos são considerados como totalmente condicionais. O ser humano é acima de tudo um ser que elege, escolhe, significa e ressignifica seus saberes e fazeres. Dessa forma, a Psicologia da Educação encontra-se envolta por esse desafio, qual seja: propiciar aos educadores o maior número possível de informações sobre o processo de ensino e aprendizagem, no viés do respeito à diversidade. Assim, este tópico pretende apontar algumas reflexões teóricas e práticas que a Psicologia da Educação vem buscando estabelecer com a Educação. Para isso, apresentaremos dois pilares do contexto educacional: compreensões do papel do professor e compreensões do aluno. Aula 03 DESAFIOS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 24 2. Compreensões do Papel do Professor Quando olhamos para o passado, encontramos duas grandes concepções sobre o papel do professor. Por um lado, o papel do professor esteve vinculado a uma noção de autoritarismo, de detentor único do saber sistemático (educação formal), um transmissor de conhecimento, um modelador de comportamentos. Esta concepção embasou muitas metodologias de ensino. Seu papel representa poder sobre os alunos, o suposto saber significava poder. Contudo, nem todos os professores se utilizavam dessa prerrogativa. De outro lado, o papel do professor significou respeito, compreensão, admiração, seu comportamento era exemplo a ser seguido. Sua fala, seus gestos, seu estilo, muitas vezes eram imitados. Muitos, dos atuais professores começaram a construir seu projeto profissional, através da imitação e admiração dos seus professores. Lembre como você, muitas vezes, imitou o corte de cabelo, o modo de falar e vestir de seus professores, entre outras coisas. Se você é professor, procure lembrar se você já inspirou um aluno em algum comportamento. Atualmente, o papel do professor é concebido de diferentes modos. Agregam-se a ele diversos significados, de transmissor de conhecimentos, de dono da verdade, de lugar de respeito, até chegar a mediador de conhecimento. A psicologia da Educação descreve alguns pressupostos para auxiliar o professor no processo de consolidação de seu papel. Sendo este o de mediar o conhecimento produzido historicamente, através de uma relação de respeito pelas diversidades num viés democrático e cooperativo. Vale ressaltar que a efetivação deste papel não é responsabilidade apenas do professor, pois, existem condições sociais, políticas e econômicas que interferem e constituem esse processo. Vejamos então, alguns pressupostos apontados pela Psicologia que podem contribuir nesse processo. 2.1 Na Relação do Professor Consigo Mesmo Freire (1996) descreve que: “(...) quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Essa pequena frase de Paulo Freire sintetiza a primeira concepção que deve nortear o papel do professor. Isto é, “aprender e ensinar” e “ensinar e aprender” constituem um processo dinâmico, do qual um não existe sem o outro. Ensinar pressupõe um aprendizado. Assim, o papel do professor deve sustentar-se nessa premissa. Para você se aprofundar e visualizar melhor essa premissa, assista ao filme “O Sorriso de Mona Lisa”. Vencedora do Oscar, Julia Roberts lidera o estelar elenco com Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal e Marcia Gay Harden. Um envolvente drama sobre o desejo Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 25 de uma mulher de enriquecer a vida de suas alunas. Você vai poder identificar o “aprender e o ensinar”. Com direção de Mike Neweel, duração de 125 min, EUA, 2004. Bom filme... Outro fator importante é que, antes de ser professor, ele é um ser humano e, como tal, possui qualidades e equívocos, encontra-se num completo processo de aprendizagem e desenvolvimento, e está inserido num contexto concreto. Assim, o professor necessita ter consciência de seu processo e da sua condição. É importante que ele se perceba como um ser humano em construção e, também, visualize que sua prática pedagógica está em constante transformação. 2.2 Na Relação do Professor com os Alunos A interação em sala de aula é um dos elementos fundamentais na prática do professor. Quando este possibilita as mais variadas interações, está direcionando seu trabalho para a autonomia de seus alunos. Assim, o aluno torna-se parceiro no processo de apropriação e construção de conhecimento. Utilizando-se de instrumentos como: o debate, a pergunta, a coordenação de pequenos grupos, a exposição formal e informal de idéias, o desenvolvimento da escuta, da observação, o professor poderá propiciar uma rede de interações, em que as diversidades do contexto de sala de aula sejam socializadas, compreendidas e transformadas. O professor, em sua prática, deve gerar situações que provoquem o desafio intelectual, a inquietude diante das coisas. Precisa ampliar as possibilidades de compreensão das diferentes situações. Propondo, salientando, orientando e coordenando. 2.3 Na Relação do Professor com a Comunidade Sabemos que a escola está inserida numa comunidade, e que esta atribui significados e funções próprias à escola. Conhecer tais significados e funções possibilitará que o professor os reafirme e modifique-os tais. Outro fator importante a ser observado é que o professor, em sua prática, conheça e considere a cultura da comunidade. As atividades e os conhecimentos produzidos em sala de aula precisam ter relação com a comunidade, e daí para a sociedade mais ampla. Procure identificar, na sua comunidade, quais são os significados atribuídos para a escola e para o professor. 3. Compreensão Do Aluno Muitos são os questionamentos feitos à Psicologia no que se refere à compreensão do comportamento do aluno no contexto escolar, ou melhor, na ação pedagógica. A educação, de modo geral, busca na Psicologia, subsídios para entender a relação entre o aluno e o Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 26 ato pedagógico. Assim, visando responder a esse desafio, a Psicologia da educação vem desenvolvendo estudos e pesquisas que apontam alguns pressupostos, os quais discutiremos a seguir. O texto a seguir apresenta uma discussão da compreensão do aluno tendo como cenário o contexto escolar. Assim, procure relacionar o texto com sua vivência escolar. Em primeiro lugar, procure pensar no aluno. Este, ao ingressar na escola, já apresenta uma determinação social, pois já pertence a uma classe social. Ele é portador de um saber, de gostos, de valores, de interesses e de necessidades. Este conjunto de características trazidas qual faz parte. Essa realidade deve ser o referencial para o início de sua compreensão e posterior estruturação da ação pedagógica. Contudo, muitas vezes, a escola trabalha com a compreensão de que o que determina a compreensão do aluno é sua faixa etária. Essa concepção é equivocada, e acaba inviabilizando o processo de ensino e aprendizagem, pois, desconsidera os aspectos culturais, sociais e econômicos vividos pelos alunos, geradores de aprendizagem e desenvolvimento. Ao fazer a descontextualização do aluno, a escola propõe um modelo de homogeneidade na ação pedagógica. Isto é, como se os alunos estivessem no mesmo nível de aprendizagem e desenvolvimento,como se seus gostos, valores, gestos, interesses e necessidade fossem os mesmos. Resultando assim em práticas ineficientes. Superando esta concepção, a Psicologia coloca a necessidade de a ação pedagógica compreender o aluno em seu contexto cultural, social e econômico, pois, assim, o professor estará conhecendo melhor seus pensamentos, suas formas de se relacionar com o mundo, com as coisas. Poderá organizar melhor as situações de aprendizagem e desenvolvimento. Esse é o grande avanço da Psicologia em relação à Educação: afirmar e reafirmar a necessidade da compreensão do contexto em que o aluno vive. Libâneo (apud CODO e LANE, 2001) afirma que é preciso transformar o meio social das crianças em objeto de estudos, pois, este fornecerá as bases do trabalho escolar. Em síntese, o professor, ao compreender o aluno, o fará no viés do contexto social, cultural e econômico no qual ele está inserido, o que propiciará uma ação pedagógica, partindo daquilo que o aluno sabe, de seus interesses e necessidades e articulando com os conhecimentos escolares. Esta perspectiva possibilita buscarmos os apoios pedagógicos na própria condição da criança e do adolescente. Podemos, assim, levar um aluno que apresenta dificuldades escolares a interessar-se pelas atividades. Ressalta-se, no entanto, que não basta compreender o aluno em suas necessidades e interesses, é preciso que ele seja orientado para interesses e necessidades de efetiva aprendizagem escolar. Não podemos deixar a responsabilidade do processo de ensino e aprendizagem na espontaneidade do aluno. O professor e a escola são os responsáveis pela condução do processo de aprendizagem. Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 27 A relação Professor/Aluno no processo de ensino e aprendizagem Artigo de João Paulo Souza Silva Publicado em 09/01/2006 As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela seleção de conteúdos, organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde o professor demonstrará seus conteúdos. No entanto este paradigma deve ser quebrado, é preciso não limitar este estudo em relação comportamento do professor com resultados do aluno; devendo introduzir os processos construtivos como mediadores para superar as limitações do paradigma processo- produto. Segundo GADOTTI (1999: 2), o educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida. Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação. Para que isto possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas ações no desenvolver das atividades. O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é entendida como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação. O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expresso pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura. ABREU & MASETTO (1990: 115), afirma que “é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 28 de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade”. Segundo FREIRE (1996: 96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. Ainda segundo o autor, “o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre professores e alunos para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a pesquisa autônoma; por outro, SIQUEIRA (2005: 01), afirma que os educadores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Assim, situações diferenciadas adotadas com um determinado aluno (como melhorar a nota deste, para que ele não fique de recuperação), apenas norteadas pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de opiniões”. Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles. Indica também, que o professor, educador da era industrial com raras exceções, deve buscar educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais. O Valor do Afeto na Relação Professor-Aluno O saudoso educador Paulo Freire certa vez proferiu que “não há educação sem amor”. Sabiamente ele foi ao âmago de tudo, pois educar sem amor pode resultar em um mero ganha pão, em um simples contar de hora-aula ou em uma assinatura de folha de ponto apenas. É mister que viver de verdade exige vontade, alegria, doação,ou seja, exige paixão. E vou além aproveitando o poema do diplomata Francisco Otaviano de Almeida Rosa que diz que “quem passou pela vida em brancas nuvens, (...) passou pela vida e não viveu”. Acredito que mais que a própria razão, a condição de amar é que nos torna especiais dentre os seres que habitam a terra. E na hora de transmitir nossos conhecimentos aos outros homens é importante fazer valer isto que há de belo dentro de nós, sempre transmitindo conhecimentos com afeto. De acordo com a perspectiva walloniana, falar de afetividade no ato educacional, mais precisamente na relação professor-aluno, é falar de como lidar com as emoções, Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN 29 com a disciplina e com a posturado conflito eu-outro. Vale ressaltar que essa postura de conflito eu-outro ocorre em dois momentos distintos da vida do educando: na infância e na adolescência. Para a criança, o conflito se dá com as diversas interferências da família, sua primeira comunidade, e da escola (ou qualquer outro ambiente que ela freqüente) em sua vida. Para o adolescente, o conflito ocorre com o estranhamento de si com o mundo que o cerca. A sociedade acaba influenciando no desenvolvimento psíquico do aprendiz. O professor deve estar atento e consciente de sua responsabilidade como educador. O ambiente de sala de aula, que muitas vezes pode se mostrar frio, severo e hostil aos nossos educandos, deve ser recolocado, reapresentado aos mesmos de forma mais amena e amigável. Quando a maioria das tarefas de sala de aula exige que a criança fique parada e estática, com uma atenção direcionada ao que é exposto pelo professor, mui certamente este local não será um dos mais atraentes a ela. Não é difícil, dentro desse clima austero, surgir hostilidade da criança em relação ao professor e ao ambiente escolar. Dentro dessas situações de conflito facilmente observadas nas escolas, o professor pode fazer toda a diferença. Se o professor tiver conhecimento do conflito eu-outro na construção da personalidade do aluno, com certeza, ele saberá conduzir as relações e receberá esses estímulos com mais calma, não tomando os mesmos como uma questão pessoal. O professor precisa compreender o aluno e seu universo sócio-cultural. Mas conhecer esse aluno (e seu universo) implica em uma pré-disposição de amá-lo. Cabe ao professor investigar mais esse aluno e, ao longo de sua formação, não deixar que esse educando acumule raivas ou questionamentos. Hoje muito se sabe que o lado intelectual caminha de mãos dadas com o lado afetivo. Considerando esses pontos discutidos, o relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de respeito mútuo, de troca de solidariedade, não aceitando de maneira alguma um ambiente hostil e opressor que semeie o medo e a raiva no contexto de sala de aula. A prática pedagógica deve sempre prezar o bem estar do educando. Quando o educador consegue entender o poder dessa pedagogia do amor e toda a bem querência que a mesma traz, mais e mais alunos aprenderão com maior facilidade e gosto e, acima de tudo, mais e mais professores notáveis e inesquecíveis passarão pela vida de nossos educandos deixando suas marcas positivas.