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Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN
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1. Introdução
Atualmente, o contexto da sala de aula é composto por uma diversidade cultural, 
social, econômica e política muito grande. Cada vez mais tem aumentado a heterogeneidade 
entre os alunos, os pais e a própria comunidade escolar. Ou seja, as diferenças de pensamento, 
os valores, as regras, enfim, os comportamentos de todos os envolvidos, no processo 
educacional, são, fatos significativos e merecem toda a nossa atenção.
Não podemos mais pensar e esperar um contexto educacional homogêneo, no qual 
os seres humanos são considerados como totalmente condicionais. O ser humano é acima de 
tudo um ser que elege, escolhe, significa e ressignifica seus saberes e fazeres.
Dessa forma, a Psicologia da Educação encontra-se envolta por esse desafio, qual 
seja: propiciar aos educadores o maior número possível de informações sobre o processo de 
ensino e aprendizagem, no viés do respeito à diversidade.
Assim, este tópico pretende apontar algumas reflexões teóricas e práticas que a 
Psicologia da Educação vem buscando estabelecer com a Educação. Para isso, apresentaremos 
dois pilares do contexto educacional: compreensões do papel do professor e compreensões 
do aluno.
Aula 03
DESAFIOS DA PSICOLOGIA 
DA EDUCAÇÃO NA 
CONTEMPORANEIDADE
Psicologia da Educação I - Sandra Armoa - UNIGRAN
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2. Compreensões do Papel do Professor
Quando olhamos para o passado, encontramos duas grandes concepções sobre o 
papel do professor.
Por um lado, o papel do professor esteve vinculado a uma noção de autoritarismo, 
de detentor único do saber sistemático (educação formal), um transmissor de conhecimento, 
um modelador de comportamentos. Esta concepção embasou muitas metodologias de ensino. 
Seu papel representa poder sobre os alunos, o suposto saber significava poder. Contudo, nem 
todos os professores se utilizavam dessa prerrogativa.
De outro lado, o papel do professor significou respeito, compreensão, admiração, 
seu comportamento era exemplo a ser seguido. Sua fala, seus gestos, seu estilo, muitas vezes 
eram imitados. Muitos, dos atuais professores começaram a construir seu projeto profissional, 
através da imitação e admiração dos seus professores.
Lembre como você, muitas vezes, imitou o corte de cabelo, o modo de falar e vestir 
de seus professores, entre outras coisas. Se você é professor, procure lembrar se você já 
inspirou um aluno em algum comportamento.
Atualmente, o papel do professor é concebido de diferentes modos. Agregam-se a 
ele diversos significados, de transmissor de conhecimentos, de dono da verdade, de lugar de 
respeito, até chegar a mediador de conhecimento.
A psicologia da Educação descreve alguns pressupostos para auxiliar o professor no 
processo de consolidação de seu papel. Sendo este o de mediar o conhecimento produzido 
historicamente, através de uma relação de respeito pelas diversidades num viés democrático 
e cooperativo.
Vale ressaltar que a efetivação deste papel não é responsabilidade apenas do professor, 
pois, existem condições sociais, políticas e econômicas que interferem e constituem esse 
processo.
Vejamos então, alguns pressupostos apontados pela Psicologia que podem contribuir 
nesse processo.
2.1 Na Relação do Professor Consigo Mesmo
Freire (1996) descreve que: “(...) quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende 
ensina ao aprender”. Essa pequena frase de Paulo Freire sintetiza a primeira concepção 
que deve nortear o papel do professor. Isto é, “aprender e ensinar” e “ensinar e aprender” 
constituem um processo dinâmico, do qual um não existe sem o outro. Ensinar pressupõe um 
aprendizado. Assim, o papel do professor deve sustentar-se nessa premissa.
Para você se aprofundar e visualizar melhor essa premissa, assista ao filme “O Sorriso 
de Mona Lisa”. Vencedora do Oscar, Julia Roberts lidera o estelar elenco com Kirsten Dunst, 
Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal e Marcia Gay Harden. Um envolvente drama sobre o desejo 
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de uma mulher de enriquecer a vida de suas alunas. Você vai poder identificar o “aprender 
e o ensinar”. Com direção de Mike Neweel, duração de 125 min, EUA, 2004. Bom filme...
Outro fator importante é que, antes de ser professor, ele é um ser humano e, como 
tal, possui qualidades e equívocos, encontra-se num completo processo de aprendizagem e 
desenvolvimento, e está inserido num contexto concreto. Assim, o professor necessita ter 
consciência de seu processo e da sua condição. É importante que ele se perceba como um ser 
humano em construção e, também, visualize que sua prática pedagógica está em constante 
transformação.
2.2 Na Relação do Professor com os Alunos
A interação em sala de aula é um dos elementos fundamentais na prática do professor. 
Quando este possibilita as mais variadas interações, está direcionando seu trabalho para a 
autonomia de seus alunos. Assim, o aluno torna-se parceiro no processo de apropriação e 
construção de conhecimento.
Utilizando-se de instrumentos como: o debate, a pergunta, a coordenação de pequenos 
grupos, a exposição formal e informal de idéias, o desenvolvimento da escuta, da observação, 
o professor poderá propiciar uma rede de interações, em que as diversidades do contexto de 
sala de aula sejam socializadas, compreendidas e transformadas.
O professor, em sua prática, deve gerar situações que provoquem o desafio 
intelectual, a inquietude diante das coisas. Precisa ampliar as possibilidades de compreensão 
das diferentes situações. Propondo, salientando, orientando e coordenando.
2.3 Na Relação do Professor com a Comunidade
Sabemos que a escola está inserida numa comunidade, e que esta atribui significados 
e funções próprias à escola. Conhecer tais significados e funções possibilitará que o professor 
os reafirme e modifique-os tais.
Outro fator importante a ser observado é que o professor, em sua prática, conheça e 
considere a cultura da comunidade. As atividades e os conhecimentos produzidos em sala de 
aula precisam ter relação com a comunidade, e daí para a sociedade mais ampla.
Procure identificar, na sua comunidade, quais são os significados atribuídos para a 
escola e para o professor.
3. Compreensão Do Aluno
Muitos são os questionamentos feitos à Psicologia no que se refere à compreensão 
do comportamento do aluno no contexto escolar, ou melhor, na ação pedagógica. A educação, 
de modo geral, busca na Psicologia, subsídios para entender a relação entre o aluno e o 
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ato pedagógico. Assim, visando responder a esse desafio, a Psicologia da educação vem 
desenvolvendo estudos e pesquisas que apontam alguns pressupostos, os quais discutiremos 
a seguir.
O texto a seguir apresenta uma discussão da compreensão do aluno tendo como 
cenário o contexto escolar. Assim, procure relacionar o texto com sua vivência escolar.
Em primeiro lugar, procure pensar no aluno. Este, ao ingressar na escola, já apresenta 
uma determinação social, pois já pertence a uma classe social. Ele é portador de um saber, de 
gostos, de valores, de interesses e de necessidades. Este conjunto de características trazidas 
qual faz parte. Essa realidade deve ser o referencial para o início de sua compreensão e 
posterior estruturação da ação pedagógica.
Contudo, muitas vezes, a escola trabalha com a compreensão de que o que determina a 
compreensão do aluno é sua faixa etária. Essa concepção é equivocada, e acaba inviabilizando 
o processo de ensino e aprendizagem, pois, desconsidera os aspectos culturais, sociais e 
econômicos vividos pelos alunos, geradores de aprendizagem e desenvolvimento.
Ao fazer a descontextualização do aluno, a escola propõe um modelo de 
homogeneidade na ação pedagógica. Isto é, como se os alunos estivessem no mesmo nível 
de aprendizagem e desenvolvimento,como se seus gostos, valores, gestos, interesses e 
necessidade fossem os mesmos. Resultando assim em práticas ineficientes.
Superando esta concepção, a Psicologia coloca a necessidade de a ação pedagógica 
compreender o aluno em seu contexto cultural, social e econômico, pois, assim, o professor 
estará conhecendo melhor seus pensamentos, suas formas de se relacionar com o mundo, com 
as coisas. Poderá organizar melhor as situações de aprendizagem e desenvolvimento.
Esse é o grande avanço da Psicologia em relação à Educação: afirmar e reafirmar a 
necessidade da compreensão do contexto em que o aluno vive.
Libâneo (apud CODO e LANE, 2001) afirma que é preciso transformar o meio social 
das crianças em objeto de estudos, pois, este fornecerá as bases do trabalho escolar.
Em síntese, o professor, ao compreender o aluno, o fará no viés do contexto social, 
cultural e econômico no qual ele está inserido, o que propiciará uma ação pedagógica, 
partindo daquilo que o aluno sabe, de seus interesses e necessidades e articulando com os 
conhecimentos escolares.
Esta perspectiva possibilita buscarmos os apoios pedagógicos na própria condição 
da criança e do adolescente. Podemos, assim, levar um aluno que apresenta dificuldades 
escolares a interessar-se pelas atividades.
Ressalta-se, no entanto, que não basta compreender o aluno em suas necessidades 
e interesses, é preciso que ele seja orientado para interesses e necessidades de efetiva 
aprendizagem escolar. Não podemos deixar a responsabilidade do processo de ensino e 
aprendizagem na espontaneidade do aluno. O professor e a escola são os responsáveis pela 
condução do processo de aprendizagem.
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A relação Professor/Aluno no processo de ensino e aprendizagem 
Artigo de João Paulo Souza Silva Publicado em 09/01/2006 
 
As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização 
comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos 
entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das 
conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento 
comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. 
Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela seleção de conteúdos, 
organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde 
o professor demonstrará seus conteúdos. 
No entanto este paradigma deve ser quebrado, é preciso não limitar este estudo 
em relação comportamento do professor com resultados do aluno; devendo introduzir os 
processos construtivos como mediadores para superar as limitações do paradigma processo-
produto.
Segundo GADOTTI (1999: 2), o educador para pôr em prática o diálogo, não 
deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem 
não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais 
importante: o da vida.
Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente 
competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não 
é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem 
com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação. Para que isto possa ser 
melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas 
ações no desenvolver das atividades.
O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção 
de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de 
tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de 
facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa 
relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à 
auto-realização.
De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é entendida 
como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento humano marcado 
social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com intermediário entre os 
conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação.
O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expresso 
pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura. ABREU & MASETTO (1990: 115), 
afirma que “é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características 
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de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se 
numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões 
da sociedade”.
Segundo FREIRE (1996: 96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, 
trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio 
e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham 
as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”.
Ainda segundo o autor, “o professor autoritário, o professor licencioso, o professor 
competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das 
gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, 
racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”.
Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre 
professores e alunos para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a 
pesquisa autônoma; por outro, SIQUEIRA (2005: 01), afirma que os educadores não podem 
permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. 
Assim, situações diferenciadas adotadas com um determinado aluno (como melhorar a nota 
deste, para que ele não fique de recuperação), apenas norteadas pelo fator amizade ou empatia, 
não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de opiniões”.
Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima 
estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de 
ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o 
seu conhecimento e o deles. Indica também, que o professor, educador da era industrial com 
raras exceções, deve buscar educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade 
possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para a formação 
de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais. 
O Valor do Afeto na Relação Professor-Aluno
O saudoso educador Paulo Freire certa vez proferiu que “não há educação sem amor”. 
Sabiamente ele foi ao âmago de tudo, pois educar sem amor pode resultar em um mero ganha 
pão, em um simples contar de hora-aula ou em uma assinatura de folha de ponto apenas. É 
mister que viver de verdade exige vontade, alegria, doação,ou seja, exige paixão. E vou além 
aproveitando o poema do diplomata Francisco Otaviano de Almeida Rosa que diz que “quem 
passou pela vida em brancas nuvens, (...) passou pela vida e não viveu”. Acredito que mais 
que a própria razão, a condição de amar é que nos torna especiais dentre os seres que habitam 
a terra. E na hora de transmitir nossos conhecimentos aos outros homens é importante fazer 
valer isto que há de belo dentro de nós, sempre transmitindo conhecimentos com afeto.
De acordo com a perspectiva walloniana, falar de afetividade no ato educacional, 
mais precisamente na relação professor-aluno, é falar de como lidar com as emoções, 
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com a disciplina e com a posturado conflito eu-outro. Vale ressaltar que essa postura de 
conflito eu-outro ocorre em dois momentos distintos da vida do educando: na infância e na 
adolescência. Para a criança, o conflito se dá com as diversas interferências da família, sua 
primeira comunidade, e da escola (ou qualquer outro ambiente que ela freqüente) em sua 
vida. Para o adolescente, o conflito ocorre com o estranhamento de si com o mundo que 
o cerca. A sociedade acaba influenciando no desenvolvimento psíquico do aprendiz. O 
professor deve estar atento e consciente de sua responsabilidade como educador. O ambiente 
de sala de aula, que muitas vezes pode se mostrar frio, severo e hostil aos nossos educandos, 
deve ser recolocado, reapresentado aos mesmos de forma mais amena e amigável. Quando 
a maioria das tarefas de sala de aula exige que a criança fique parada e estática, com uma 
atenção direcionada ao que é exposto pelo professor, mui certamente este local não será 
um dos mais atraentes a ela. Não é difícil, dentro desse clima austero, surgir hostilidade da 
criança em relação ao professor e ao ambiente escolar. Dentro dessas situações de conflito 
facilmente observadas nas escolas, o professor pode fazer toda a diferença. Se o professor 
tiver conhecimento do conflito eu-outro na construção da personalidade do aluno, com 
certeza, ele saberá conduzir as relações e receberá esses estímulos com mais calma, não 
tomando os mesmos como uma questão pessoal. O professor precisa compreender o aluno 
e seu universo sócio-cultural. Mas conhecer esse aluno (e seu universo) implica em uma 
pré-disposição de amá-lo. Cabe ao professor investigar mais esse aluno e, ao longo de sua 
formação, não deixar que esse educando acumule raivas ou questionamentos. Hoje muito se 
sabe que o lado intelectual caminha de mãos dadas com o lado afetivo.
Considerando esses pontos discutidos, o relacionamento entre professor e aluno 
deve ser de amizade, de respeito mútuo, de troca de solidariedade, não aceitando de maneira 
alguma um ambiente hostil e opressor que semeie o medo e a raiva no contexto de sala de 
aula. A prática pedagógica deve sempre prezar o bem estar do educando. Quando o educador 
consegue entender o poder dessa pedagogia do amor e toda a bem querência que a mesma 
traz, mais e mais alunos aprenderão com maior facilidade e gosto e, acima de tudo, mais e 
mais professores notáveis e inesquecíveis passarão pela vida de nossos educandos deixando 
suas marcas positivas.