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Cap´ıtulo 3 Espalhamento Rutherford Em 1909, H. Geiger e E. Marsden observaram que part´ıculas α provenientes de decaimento radioativo, ao atingirem um alvo constitu´ıdo por uma folha fina de um certo material, eram espalhadas, como resultado da colisa˜o, a aˆngulos maiores que 90◦. Espalhamento a aˆngulos ta˜o grandes estavam em contradic¸a˜o com o modelo que J. J. Thomson fez para o a´tomo apo´s ter descoberto o ele´tron. Sabia-se naquela e´poca que as massas atoˆmicas sa˜o muito maiores do que a massa dos ele´trons necessa´rios para fazer a mate´ria ficar eletricamente neutra. Thomson propoˆs um modelo no qual a carga positiva do a´tomo estaria distribu´ıda uniformemente dentro de uma esfera como as dimenso˜es de um a´tomo – estimado enta˜o ter um raio de 10−10 m – e os ele´trons estariam dentro dessa nuvem positiva, algo semelhante a um “pudim de ameixas”. O modelo tinha alguns problemas. Primeiramente, pelo Teorema de Earn- shaw, essa distribuic¸a˜o na˜o poderia estar em equil´ıbrio esta´vel sob a ac¸a˜o de forc¸as puramente eletrosta´ticas. A maneira de contornar esse problema foi supor que os ele´trons se movessem com frequ¨eˆncia correspondente a` luz vis´ıvel. Isso, e´ claro, na˜o explicava porque o a´tomo de hidrogeˆnio tem um espectro que envolve diferentes frequ¨eˆncias! Dentro deste contexto, Ernest Rutherford (1871-1937), sucessor de J. J. Thomson no laborato´rio de Cavendish, na Universidade de Cambridge, propoˆs uma explicac¸a˜o para o fenoˆmeno observado por Geiger e Marsden e, ao mesmo tempo, um modelo alternativo para o a´tomo. “(. . . ) Geiger e Marsden chamaram a atenc¸a˜o para o fato nota´vel de que uma frac¸a˜o pequena das part´ıculas α, provenientes de substaˆncias radioativas, e´ defletida por um aˆngulo maior do que 61 62 3 Espalhamento Rutherford 90◦ como resultado do encontro com um u´nico a´tomo (. . . ) Para conseguir descrever esse espalhamento a aˆngulos ta˜o grandes, su- pus que o a´tomo consistia de um nu´cleo positivamente carregado de dimenso˜es pequenas, onde praticamente toda a massa estaria concentrada. O nu´cleo estaria envolvido por uma distribuic¸a˜o de ele´trons, o que tornaria o a´tomo eletricamente neutro e que estaria em distaˆncias compara´veis ao raio conhecido do a´tomo. Algumas dessa part´ıculas α passavam atrave´s do a´tomo no seu caminho e entravam no campo ele´trico intenso na vizinhanc¸a do nu´cleo e seriam defletidas da sua trajeto´ria linear. Para sofrer uma deflexa˜o de mais do que alguns graus, a part´ıcula α tem que passar muito perto do nu´cleo e foi suposto que o campo de forc¸as nessa regia˜o na˜o seria apreciavelmente afetado pela dis- tribuic¸a˜o eletroˆnica. Supondo que as forc¸as entre o nu´cleo e a part´ıcula α sa˜o repulsivas e seguem a lei do inverso do quadrado, as part´ıculas α descrevem o´rbitas hiperbo´licas em torno do nu´cleo e sua deflexa˜o pode ser calculada.” Com essa hipo´tese, Rutherford obteve uma expressa˜o detalhada para o es- palhamento, que foi mais tarde verificada em experimentos subsequ¨entes e que nos levaram a` imagem que temos hoje do a´tomo. 3.1 Estimativa simples da consisteˆncia das ide´ias de Rutherford Antes de deduzirmos a expressa˜o teo´rica cla´ssica para o espalhamento de part´ıculas α, vamos fazer algumas estimativas importantes, usando apenas a ide´ia de Rutherford e a F´ısica Cla´ssica. Em um trabalho que foi escrito em 1911, Rutherford disse: “ Para se ter alguma ide´ia das forc¸as necessa´rias para desviar uma part´ıcula α atrave´s de um grande aˆngulo, considere um a´tomo contendo uma carga puntiforme Ze no seu centro e en- volvida por uma distribuic¸a˜o de carga negativa −Ze, uniforme- mente distribu´ıda dentro de uma esfera de raio R. O campo ele´trico E num ponto dentro do a´tomo, a uma distaˆncia r do seu centro, na direc¸a˜o radial, e´ E = Ze 4pi�0 [ 1 r2 − r R3 ] .” 3.1 Estimativa simples da consisteˆncia das ide´ias de Rutherford 63 3.1.1 Ca´lculo da forc¸a sentida pela part´ıcula α ao atrav- essar o a´tomo Vamos calcular, primeiramente, esse campo. Teremos aqui duas contribuic¸o˜es independentes: uma proveniente das cargas positivas, consideradas pun- tiformes no centro da distribuic¸a˜o de cargas, e outra proveniente da nu- vem eletroˆnica que circunda essa carga positiva, composta por ele´trons dis- tribu´ıdos uniformemente no volume esfe´rico formado pelo raio do a´tomo. Para realizar esse ca´lculo, lembremos que o campo ele´trico obedece o princ´ıpio de superposic¸a˜o e, enta˜o, podemos considerar as duas contribuic¸o˜es separada- mente. • Cargas positivas Considerando o nu´cleo como uma carga puntiforme, enta˜o o campo ele´trico e´ simplesmente ~Ep = Ze 4pi�0 rˆ r2 . • Carga negativas Como estamos interessados somente na regia˜o interna do a´tomo, us- amos a lei de Gauss, que nos diz que para qualquer superf´ıcie gaussiana, vale ∮ S ~En · d~S = qint �0 , onde d~S = nˆdS e nˆ e´ o vetor unita´rio normal a` superf´ıcie S em cada ponto. O lado esquerdo da equac¸a˜o representa o fluxo de campo ele´trico atrave´s da superf´ıcie arbitra´ria fechada S, o qual e´ proporcional a` carga interna qint a` essa superf´ıcie – cargas externas a essa superf´ıcie na˜o teˆm nenhuma influeˆncia sobre esse campo. A superf´ıcie de Gauss e´ esfericamente sime´trica, conceˆntrica com a carga puntiforme Ze. A raza˜o de termos escolhido essa superf´ıcie e´ porque sobre ela, por simetria, o campo ele´trico estara´ apontando ra- dialmente para fora e seu mo´dulo e´ constante sobre a superf´ıcie. Enta˜o, a lei de Gauss pode ser escrita na seguinte forma mais simples ∮ S ~En · d~S = Enrˆ · ∮ S nˆdS, onde nˆ = rˆ, pois, no caso em questa˜o, devido a` nossa escolha de S, a normal a` superf´ıcie tem direc¸a˜o radial. Assim, temos simplesmente, 64 3 Espalhamento Rutherford PSfrag replacements ~E ~E ~E ~E nu´cleo R Superf´ıcie Gaussiana nuvem eletroˆnica RN (a) (b) FIGURA 20 - Representac¸a˜o das superf´ıcies gaussianas e campos ele´tricos dentro de um a´tomo com nu´cleo puntiforme (a) e com tamanho finito (b). que ∮ S ~En · d~S = En ∮ S dS = En 4pir 2 = qint �0 , r e´ o raio da superf´ıcie Gaussiana. Quanto vale qint ? Essa e´ a carga interna a` superf´ıcie Gaussiana escol- hida. Ela e´ uma frac¸a˜o da carga total −Ze proporcional a` raza˜o entre o volume delimitado pela superf´ıcie Gaussiana e o volume do a´tomo, ou seja, qint = −Ze 4 3 pir3 4 3 piR3 = −Ze r3 R3 . Superpondo os resultados obtidos para ambas as cargas, teremos exatamente o resultado de Rutherford: ~E = ~Ep + ~En = Ze 4pi�0 [ 1 r2 − r R3 ] rˆ. O campo fora dessa distribuic¸a˜o e´ obviamente nulo, uma vez que o a´tomo e´ eletricamente neutro. Enta˜o, para essa imagem simples, onde consideramos o nu´cleo puntiforme, temos que a forc¸a sobre a part´ıcula α e´ tanto maior quanto mais pro´xima ela chegar do nu´cleo atoˆmico. Se, no entanto, relaxarmos a hipo´tese de que o nu´cleo seja puntiforme, vere- mos que a forc¸a ma´xima que a part´ıcula α sente sera´ quando ela passar rente ao nu´cleo. Vamos, enta˜o, atribuir um raio RN ao nu´cleo e recalcular o campo ele´trico na regia˜o r < RN. Da mesma forma que fizemos para o ca´lculo das 3.1 Estimativa simples da consisteˆncia das ide´ias de Rutherford 65 ~F rRN R puntiforme tamanho finito FIGURA 21 - Forc¸a em uma part´ıcula α como func¸a˜o da distaˆncia (r) da carga positiva dentro do a´tomo. cargas negativas, usamos a lei de Gauss para determinar o campo ele´trico nesta regia˜o, e encontramos ~Ep = Ze 4pi�0 r R3N rˆ. Para as cargas negativas, devemos ter E = 0, ja´ que na˜o ha´ nenhuma carga negativa dentro do nu´cleo. Para a regia˜o fora do nu´cleo, o ca´lculo e´ o mesmo feito anteriormente quando consideramos umacarga puntiforme, pois a carga interna a` superf´ıcie gaus- siana e´, simplesmente, a carga total do nu´cleo. Podemos sintetizar os resul- tados como segue: E = Ze 4pi�0 × r R3N se r < RN,[ r−2 − r R3 ] se RN < r < R, 0 se r > R. (3.1) Este resultado pode melhor ser visualizado no gra´fico da Fig. 21, onde podemos confirmar a predic¸a˜o de que a forc¸a ma´xima sentida pela part´ıcula α sera´ quando esta se aproxima da superf´ıcie do nu´cleo1. 1Obs: Para sermos mais exatos no ca´lculo da contribuic¸a˜o das cargas negativas, de- ver´ıamos subtrair o volume do nu´cleo do volume total do a´tomo. No entanto, como sabemos, RN � R, e portanto o volume do nu´cleo (∼ R 3 N ) e´ completamente desprez´ıvel quando comparado ao volume do a´tomo (∼ R3). 66 3 Espalhamento Rutherford 3.1.2 Energia potencial de um a´tomo de platina Vamos estimar agora a energia potencial ele´trica de um sistema formado por um nu´cleo puntiforme de carga Ze e um ele´tron, separados por uma distaˆncia R. A energia potencial do a´tomo e´ dada por U = −eV, onde V e´ o potencial gerado pelo nu´cleo: V = Ze 4pi�0 1 R . Enta˜o, a energia potencial sera´ U = − Ze2 4pi�0 1 R . Supondo um nu´cleo de platina, para o qual Z = 78 e R = 5, 3 × 10−11 m, encontramos um potencial ele´trico de V = 8, 99× 109 V ·m/C 78× 1, 6× 10−19 C 5, 3× 10−11 m = 2, 1 kV. A energia potencial para um a´tomo com Z ele´trons sera´, aproximadamente, da ordem de U = −ZeV = −164 keV = −2, 6× 10−14 J, uma energia muito pequena se comparada a problemas macrosco´picos. Vamos discutir um pouco sobre as unidades convenientes em problemas de espalhamento. Como podemos ver, no mundo atoˆmico e´ mais conveniente trabalhar com eV como unidade de energia em vez de joule. A relac¸a˜o entre essas duas unidades e´ simples: um eV e´ a energia que uma part´ıcula com uma unidade da carga fundamental e adquire ao atravessar um potencial de um volt, ou seja, 1 eV = 1, 602× 10−19 C × 1 V = 1, 602× 10−19 J. As distaˆncia atoˆmicas sa˜o usualmente dadas em angstro¨m (1 A˚= 10−10 m) e as nucleares em fermi (1 fm = 10−15 m). A constante eletrosta´tica pode ser convenientemente escrita nessas unidades como e2 4pi�0 = 1, 439965 MeV · fm. 3.1 Estimativa simples da consisteˆncia das ide´ias de Rutherford 67 3.1.3 Potencial ele´trico na superf´ıcie do nu´cleo Vamos determinar o potencial ele´trico na superf´ıcie de um nu´cleo de ouro, que foi um dos alvos utilizados por Rutherford. O raio do nu´cleo e´ RN = 6, 6 fm e Z = 79. Supondo o nu´cleo esfe´rico, ele se comporta com ja´ vimos, para pontos exter- nos, como se fosse uma carga puntiforme no centro. Assim, temos V = e 4pi�0 Z RN = 1, 44 MV · fm× 79 6, 6 fm = 17 MV. 3.1.4 Aproximac¸a˜o ma´xima da part´ıcula α incidente Vamos supor que a part´ıcula α incidente tenha uma energia cine´tica K0 em pontos distantes do nu´cleo – longe da influeˆncia do potencial – e se mova em direc¸a˜o a ele. Qua˜o perto essa part´ıcula α e´ capaz de chegar do nu´cleo antes de ser brecada pela repulsa˜o coulombiana? Sabendo-se que na experieˆncia realizada K0 = 5, 0 MeV, o que podemos concluir desses dados? Se a part´ıcula vai frontalmente em direc¸a˜o ao nu´cleo, enta˜o, por conservac¸a˜o da energia, temos K + 2Ze2 4pi�0r = K0 Se a part´ıcula α for “parada” pelo nu´cleo, enta˜o sua energia cine´tica sera´ nula, e a distaˆncia em que isso ocorre e´ dada por r = 2Ze2 4pi�0K0 . Esta e´ a menor distaˆncia em que a part´ıcula α chega do nu´cleo, que no caso em questa˜o, considerando um nu´cleo de platina, sera´ r = 2× 79× 1, 44 MeV · fm 5, 0 MeV = 46 fm. Enta˜o, Rutherford podia sondar distaˆncia dessa ordem com o “aparelho ex- perimental” de que dispunha. Para chegar mais perto do nu´cleo e descobrir se este tinha um tamanho finito, eram necessa´rias energias maiores, o que so´ foi feito posteriormente com a criac¸a˜o dos aceleradores de part´ıcula. 68 3 Espalhamento Rutherford 3.1.5 Aˆngulo de espalhamento da part´ıcula α Vamos supor que a part´ıcula α esteja viajando com velocidade vα, e se aprox- ime a uma distaˆncia d do centro espalhador. A carga da part´ıcula α e´ 2e e a carga positiva do nu´cleo atoˆmico e´ Ze. A alterac¸a˜o do momento da part´ıcula α quando se aproxima do centro espalhador e´ dada por ∆p = F∆t ≈ 2kZe2 d2 (2d vα ) , (3.2) onde k = 1/4pi�0 e o fator 2 vem da hipo´tese de que ∆t se refere ao tempo gasto pela part´ıcula α para atravessar o centro de espalhamento. O aˆngulo Θα, devido a essa colisa˜o, e´, aproximadamente Θα ≈ ∆p p = (4kZe2 dvα )( 1 mαvα ) = 2kZe2 d(1 2 mαv2α) = 2kZe2 dKα , (3.3) onde Kα e´ a energia cine´tica da part´ıcula α. O resultado importante desta estimativa e´ que o aˆngulo de espalhamento e´ inversamente proporcional a` distaˆncia e, portanto, aˆngulos grandes, como os observados, seriam poss´ıveis dentro das hipo´teses de Rutherford. Se usarmos para d o tamanho do a´tomo (∼ 105 fm), obtemos a partir da expressa˜o (3.3), para o caso espec´ıfico de part´ıculas α com energia cine´tica de 6,0 MeV (que era aproximadamente a energia de part´ıculas α provenientes do decaimento do Ra) incidindo sobre um a´tomo de Platina (Z = 78) Θα = 2Zke2 dKα = 2× 78× (1, 44 MeV · fm) 105 fm× 6, 0 MeV = 4× 10−4, ou seja, o aˆngulo de espalhamento para um modelo, no qual as cargas posi- tivas esta˜o distribu´ıdas no raio do a´tomo (como o modelo Thomson), leva a` conclusa˜o de que os aˆngulos de espalhamento observados deveriam ser pre- dominantemente dianteiros. Mesmo que ocorresse um nu´mero grande de coliso˜es no alvo (espalhamento mu´ltiplo) na˜o seria suficiente para explicar os espalhamento em aˆngulos de 90◦. No entanto, se a carga positiva do a´tomo estiver concentrada numa regia˜o pequena, a distribuic¸a˜o angular e´ muito diferente daquela prevista por uma distribuic¸a˜o uniforme. A raza˜o f´ısica e´ simples: a part´ıcula α pode chegar muito mais perto desse centro sem penetra´-lo, e a forc¸a sera´ maior a distaˆncias menores. 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento 69 a´rea a alvo fluxo incidente θ detector FIGURA 22 - Espalhamento de um fluxo de part´ıculas em um alvo fixo. Note da estimativa obtida para os aˆngulos como func¸a˜o da distaˆncia que para se obter Θα ∼ pi, a carga positiva deveria estar concentrada numa regia˜o pelo menos da ordem de 10−4 vezes menor que o raio do a´tomo. E´ claro que a estimativa na˜o e´ boa para aˆngulos grandes (voceˆ saberia explicar por queˆ?), mas esse resultado ja´ indica que o centro espalhador do modelo de Rutherford deve ser ordens de grandeza menor que o a´tomo de Thomson. 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento A situac¸a˜o f´ısica t´ıpica de um problema de espalhamento e´ a seguinte: um fluxo de part´ıculas incide sobre um alvo e, devido a` interac¸a˜o com esse alvo, e´ defletido. A figura 22 esquematiza a situac¸a˜o. As part´ıculas contidas no feixe incidente sa˜o denominadas proje´teis. 3.2.1 Definic¸a˜o de sec¸a˜o de choque Considere o espalhamento de duas esferas macic¸as, um proje´til incidindo sobre um alvo de raio R. Um fluxo de esferas proje´teis e´ direcionado sobre o alvo como na Fig. 22. A probabilidade de que um dado proje´til acerte o alvo e´ chamada de probabilidade de espalhamento P . Essa probabilidade e´ proporcional a` a´rea da sec¸a˜o de corte transversal do alvo, σ, isto e´, P ∝ σ = piR2. A a´rea σ e´ chamada de sec¸a˜o de choque total para o processo de espal- hamento. Se as part´ıculas proje´teis cobrem uma a´rea a, tal que a � R2 (o 70 3 Espalhamento Rutherford caso contra´rio, onde a a´rea do feixe e´ menor que a do alvo e´ tratada no Ex. 3.1) e a taxa de incideˆncia de part´ıculas e´ ∆N/∆t, enta˜o o fluxoincidente sera´ Φ = ∆N a∆t , (3.4) e a taxa de espalhamento – nu´mero de part´ıculas espalhadas por unidade de tempo – deve ser igual a` taxa de part´ıculas incidentes vezes a raza˜o entre a a´rea do alvo e a a´rea do feixe, isto e´, Resp = piR2 a ∆N ∆t . (3.5) A sec¸a˜o de choque e´ a taxa de espalhamento divida pelo fluxo incidente, ou seja, σ ≡ Resp Φ = piR2. (3.6) Num caso mais geral, podemos ter part´ıculas do tipo A incidindo em part´ıculas do tipo B com a reac¸a˜o A + B → Estado final. O estado final representa qualquer resultado poss´ıvel que quisermos definir para a reac¸a˜o. A taxa na qual o estado final e´ produzido e´ chamada de taxa de transic¸a˜o. A probabilidade de que a reac¸a˜o A + B produza um certo estado final e´ especificada pela sec¸a˜o de choque de interac¸a˜o definida como σ = taxa de transic¸a˜o: A + B → Estado final Φ . (3.7) A sec¸a˜o de choque tem unidades de a´rea. Um barn (b) e´ definido como sendo 1 b ≡ 10−28 m2. A interpretac¸a˜o geome´trica da sec¸a˜o de choque e´ a a´rea da sec¸a˜o de corte efetiva da part´ıcula alvo como vista pela part´ıcula incidente. Exemplo 3.1 : A sec¸a˜o de choque total da interac¸a˜o forte pro´ton- pro´ton e´ de cerca de 40 mb. Calcule a frac¸a˜o de pro´tons que sa˜o espalhados quando um feixe colimado de pro´tons passa atrave´s de um alvo de hidrogeˆnio l´ıquido de comprimento igual a 30 cm. A densidade do hidrogeˆnio l´ıquido e´ 70 kg/m3. Cada pro´ton incidente tem a chance de interagir com pro´tons alvos ao longo de todo o comprimento do alvo. Neste caso, e´ u´til calcular 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento 71 a sec¸a˜o de choque por pro´ton alvo. O fluxo incidente correspondente e´ igual a taxa na qual os pro´tons atingem o alvo vezes o nu´mero de pro´tons por a´rea no alvo. Sabemos que a massa do alvo e´ igual a sua densidade vezes seu volume e tambe´m igual ao nu´mero de pro´tons presentes vezes a massa de um pro´ton, portanto ρV = ρLA = Nmp ⇒ N A = ρL mp , sendo L o comprimento do alvo e A sua a´rea. Sejam Rinc a taxa de pro´tons incidentes no alvo e Resp a taxa de espalhamento. O fluxo incidente e´ portanto Φ = Rinc N A = Rinc ρL mp . A expressa˜o para a sec¸a˜o de choque por pro´ton e´ a taxa de espal- hamento divida pelo fluxo incidente: σ = Resp Φ de onde obtemos que a frac¸a˜o de pro´tons espalhados e´ Resp Rinc = σLρ mp = 40× 10−31 m2 × 0, 3 m× 70 kg/m3 1, 67 × 10−27 kg ≈ 0, 05 O fluxo incidente na˜o depende da a´rea do feixe contanto que esta seja menor do que a a´rea da sec¸a˜o de corte do alvo. O fluxo incidente depende no entanto do comprimento do alvo porque cada pro´ton in- cidente encontra pro´tons alvos ao longo de todo o caminho no alvo. Podemos ainda definir a sec¸a˜o de choque diferencial em termos do aˆngulo so´lido. Para entender melhor esse conceito, imaginemos primeiramente que o espalhamento se deˆ apenas em duas dimenso˜es. Neste caso, podemos contar o nu´mero de proje´teis espalhados entre os aˆngulos θ e θ + dθ coletados no detector (veja Fig. 22). Enta˜o pela definic¸a˜o de sec¸a˜o de choque temos que dσ(θ) = nu´mero de proje´teis espalhados no intervalo θ e θ + dθ nu´mero de proje´teis incidentes por unidade de a´rea do alvo = dN(θ) I/A , 72 3 Espalhamento Rutherford onde dN e´ o nu´mero de proje´teis espalhados neste intervalo angular, I e´ o nu´mero de part´ıculas incidentes e A a a´rea do alvo. Esta expressa˜o tambe´m pode ser escrita como dσ(θ) dθ = dN(θ) dθ A I . (3.8) No caso do espalhamento em treˆs dimenso˜es, temos dois aˆngulos de espal- hamento, θ e φ. Associamos ao elemento de a´rea compreendido entre os aˆngulos θ e θ+dθ, e φ e φ+dφ a um aˆngulo so´lido dΩ = sen θdθdφ. A figura a seguir ilustra esta definic¸a˜o. φ θ dΩ A sec¸a˜o de choque diferencial em treˆs dimenso˜es se escreve enta˜o como dσ(θ, φ) dΩ = dN dΩ A I . (3.9) 3.2.2 Sec¸a˜o de choque de Rutherford Em termos cla´ssicos, o problema pode ser esquematizado como na Fig. 23, usando a trajeto´ria de uma part´ıcula proje´til ao ser defletida por um alvo. Consideremos daqui para frente que os proje´teis sa˜o part´ıculas α. Se o nu´cleo na˜o espalhasse a part´ıcula α, a distaˆncia de menor aproximac¸a˜o da mesma ao nu´cleo seria b, o paraˆmetro de impacto. O aˆngulo de espalhamento e´ definido como o aˆngulo assinto´tico (longe do centro espalhador) da part´ıcula α com relac¸a˜o a` direc¸a˜o incidente. A forc¸a entre a part´ıcula α e o nu´cleo e´ tanto menor quanto maior for o paraˆmetro de impacto. Um paraˆmetro de impacto espec´ıfico conduz, atrave´s da trajeto´ria da part´ıcula α a um aˆngulo de espalhamento espec´ıfico (ver figura 24: se o paraˆmetro de impacto estiver entre b e b + db, o aˆngulo de espalhamento estara´ entre θ e θ + dθ). 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento 73 B b θ M ~r ~F O ϕ A FIGURA 23 - Representac¸a˜o esquematizada do espalhamento de uma part´ıcula α por um nu´cleo atoˆmico (O). A trajeto´ria da part´ıcula e´ definida pela curva AMB. O paraˆmetro de impacto e´ b e o aˆngulo de espalhamento θ. θ dθ b db FIGURA 24 - Relac¸a˜o entre o paraˆmetro de impacto b e o aˆngulo de espal- hamento θ. 74 3 Espalhamento Rutherford Enta˜o, para obter a distribuic¸a˜o angular prevista pela teoria cla´ssica e com- para´-la com a distribuic¸a˜o angular medida, precisaremos relacionar b com θ. E´ claro que essa relac¸a˜o depende fortemente do potencial espalhador. No caso do espalhamento Rutherford, o alvo e´ constitu´ıdo de inu´meros pro´tons, e este nu´mero deve ser levado em conta no ca´lculo da sec¸a˜o de choque. Ale´m disso, o problema tem uma simetria axial, isto e´, a interac¸a˜o da part´ıcula α com o nu´cleo na˜o depende do aˆngulo em torno do eixo pontilhado da Fig. 23. Este e´ o caso de todos os potenciais centrais, como o potencial coulombiano ou gravitacional. Assim, temos dσ dΩ = dN dΩ 1 In , (3.10) onde agora, o aˆngulo so´lido e´ simplesmente dΩ = 2pi sen θdθ e I corresponde ao nu´mero de part´ıculas incidentes sobre um alvo que conte´m n nu´cleos por unidade de a´rea – este caso e´ ana´logo ao estudado no Ex. 3.1. A comparac¸a˜o teo´rico-experimental pode ser feita usando a expressa˜o teo´rica dσ/db e reescrevendo-a em termos de θ: dσ db = dσ d(cos θ) d(cos θ) db . Vamos analisar mais uma vez a Fig. 23. O ponto O e´ o centro da forc¸a. M representa a part´ıcula α lanc¸ada com velocidade vα. O paraˆmetro de impacto b e´ a distaˆncia perpendicular entre a direc¸a˜o de ~vα e a linha trac¸ada de O paralelamente a ~vα. Sendo a forc¸a repulsiva, a trajeto´ria e´ delineada pelos pontos AMB. A forma dessa curva depende de como a forc¸a varia com a distaˆncia. Para a forc¸a coulombiana, temos |~F | = 2kZe2 r2 , (3.11) e a trajeto´ria sera´ uma hipe´rbole. Quando a part´ıcula esta´ em A, seu mo- mento angular e´ L = mαvαb. Numa posic¸a˜o qualquer M, seu momento angular sera´ ~L = ~r× ~p = ~r×mα~vα. A velocidade da part´ıcula α num ponto qualquer da trajeto´ria e´ dada pelo vetor ~vα = dr dt rˆ + r dϕ dt ϕˆ. (3.12) Assim encontramos para o momento angular ~L = ~r ×mα (dr dt rˆ + r dϕ dt ϕˆ ) = mαr 2 dϕ dt zˆ, (3.13) 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento 75 onde zˆ e´ perpendicular ao plano da o´rbita. Uma vez que o momento angular e´ uma quantidade vetorial e se conserva para forc¸as centrais, isto e´, d~L dt = d~r dt × ~p + ~r × d~p dt = ~r × ~F = 0, (3.14) enta˜o, na˜o se alteram nem seu mo´dulo, nem sua direc¸a˜o ou sentido. Por isso, a trajeto´ria da part´ıcula α estara´ contida no plano perpendicular ao momento angular – esta e´ a mesma teoria que se aplica ao movimentos dos planetas, porexemplo. A conservac¸a˜o em mo´dulo do momento angular implica imediatamente que mαr 2 dϕ dt = mαvαb. (3.15) Por outro lado, a forc¸a na part´ıcula α na direc¸a˜o y e´ dada por mα dvy dt = Fy = F sen ϕ = 2kZe 2 sen ϕ r2 . (3.16) Utilizando a Eq. (3.15), podemos eliminar r2 dessa equac¸a˜o e obtermos dvy dt = 2kZe2 mαvαb sen ϕ dϕ dt . (3.17) Para o ca´lculo da deflexa˜o da part´ıcula, devemos integrar essa equac¸a˜o de um extremo a outro da trajeto´ria. No ponto assinto´tico de onde a part´ıcula vem, temos vy = 0, pelo fato do momento inicial ser paralelo a x e ϕ = 0. Ja´ no outro ponto assinto´tico de destino da part´ıcula, temos vy = vα sen θ e ϕ = pi − θ. Note que neste ponto, a velocidade da part´ıcula deve ser novamente igual a vα, pois o espalhamento e´ ela´stico. Enta˜o, temos ∫ vα sen θ 0 dvy = 2kZe2 mαvαb ∫ pi−θ 0 sen ϕ dϕ. Enta˜o, vα sen θ = 2kZe2 mαvαb (1 + cos θ). Lembrando que cotg 1 2 θ = (1 + cos θ)/ sen θ, teremos cotg 1 2 θ = mαv 2 α 2kZe2 b. (3.18) A expressa˜o acima nos da´ a relac¸a˜o procurada entre b e θ. Podemos agora obter a sec¸a˜o de choque. Para obtermos a relac¸a˜o entre a sec¸a˜o de choque 76 3 Espalhamento Rutherford diferencial e o paraˆmetro de impacto, lembremos da interpretac¸a˜o geome´trica da sec¸a˜o de choque. Portanto, a sec¸a˜o de choque diferencial deve ser igual a` a´rea do anel de raio b e espessura db (ver Fig. 24), ou seja, dσ = 2pibdb = 2pib(θ) ∣∣∣db dθ ∣∣∣dθ (3.19) e usando a relac¸a˜o (3.18), obtemos dσ = pi ( 2kZe2 mαvα )2 cos θ/2 sen3 θ/2 dθ. (3.20) Como sen θ = 2 sen(θ/2) cos(θ/2), podemos ainda reescrever a diferencial ‘dσ’ como segue: dσ = pi 2 ( 2kZe2 mαvα )2 sen θ sen4 θ/2 dθ, (3.21) ou em termos do aˆngulo so´lido dΩ, teremos dσ dΩ = ( 2kZe2 2mαvα )2 1 sen4 θ/2 . (3.22) Note que existe uma singularidade em θ = 0, onde a sec¸a˜o de choque diferen- cial e´ infinita. Isto significa que existe uma a´rea infinitamente grande (pib2), onde a part´ıcula pode estar e ainda assim, sofrer espalhamento. O fato de que a sec¸a˜o de choque seja infinita e´ consequ¨eˆncia direta do fato de que o alcance do potencial coulombiano e´ infinito. Obviamente, a transfereˆncia de momento e´ muito pequena quando b e´ grande – lembre que ∆p esta´ direta- mente relacionado com θ. Exemplo 3.2 : Calcule a sec¸a˜o de choque para uma part´ıcula α com energia cine´tica igual a 12 MeV, sendo espalhada por um nu´cleo de prata (Z = 47) em aˆngulos maiores do que (a) 90◦ e (b) 10◦ . Quando se diz que o espalhamento ocorre para aˆngulos maiores do que θ, isto significa que o paraˆmetro de impacto e´ menor do que o correspondente b(θ), isto porque o aˆngulo de espalhamento e´ inversa- mente proporcional ao paraˆmetro de impacto. Enta˜o, para calcular a sec¸a˜o de choque, basta fazer a integrac¸a˜o em b variando de 0 a b(θ). Usando a expressa˜o que relaciona a sec¸a˜o de choque diferencial com o paraˆmetro de impacto (Eq. (3.19)), temos que σ = 2pi ∫ b(θ) 0 bdb = pib(θ)2. 3.2 Formulac¸a˜o de um problema de espalhamento 77 Enta˜o usando a expressa˜o (3.18) que relaciona o paraˆmetro de impacto com o aˆngulo θ, temos b(θ) = Zke2 Kα cotg θ 2 . Logo, para um aˆngulo de 90◦, b(90◦) = 47× 1, 44 MeV · fm 12 MeV cotg(45◦) = 5, 64 fm σ = pib(90◦)2 = 1, 0× 102 fm2 = 1, 0 b e para o aˆngulo de 10◦, b(10◦) = 5, 64 fm× cotg(5◦) = 64, 5 fm σ = pib(10◦)2 = 130 b. Exemplo 3.3 : Um feixe de part´ıculas α de 6 MeV atravessam uma folha de ouro, cuja espessura e´ de 1 µm, a uma taxa de 103 por se- gundo. Calcule a taxa de espalhamento na qual part´ıculas α sa˜o es- palhadas em aˆngulos maiores do que 0,1 rad. A densidade do ouro e´ 1, 93 × 104 kg/m3 e sua massa atoˆmica e´ 197. Usando a expressa˜o obtida no exemplo 3.1, temos que a taxa de es- palhamento e´ Resp = σLρ MAu Rinc, onde temos agora a massa do nu´cleo de ouro dado por MAu = 197mp. Precisamos enta˜o do valor da sec¸a˜o de choque, que pode ser obtida como no exemplo anterior. O paraˆmetro de impacto a 0,1 rad e´ b(0, 1 rad) = 79 × 1, 44 MeV · fm 6 MeV cotg(0, 05 rad) = 379 fm e a sec¸a˜o de choque sera´ σ = pib(0, 1 rad)2 = 4, 51 × 10−25 m2. Assim, temos Resp = 4, 51 × 10−25 m2 × 1 µm× 1, 93 × 104 kg/m3 197 × 1, 67 × 10−27 kg × 103 ≈ 26 part´ıculas/seg. Este resultado equivale a dizer que apenas 2,6 % das part´ıculas inci- dentes sa˜o espalhadas em aˆngulos maiores do que 0,1 rad, ou cerca de 6◦ ! 78 3 Espalhamento Rutherford 10 102 103 104 105 106 -1 -0.5 0 0.5 1 d N /d Ω cos θ � � � � � � � � � � � FIGURA 25 - Dados experimentais de Geiger e Marsden e comparac¸a˜o com a fo´rmula de Rutherford. 3.3 Comparac¸a˜o com os dados de Geiger e Marsden A concordaˆncia da expressa˜o obtida por Rutherford com os dados de Geiger e Marsden e´ impressionante (veja Fig. 25). Os dados sa˜o consistentes com um nu´cleo puntiforme. Para conseguir maior proximidade do nu´cleo atoˆmico, foram necessa´rias experieˆncias envolvendo part´ıculas α mais energe´ticas, que conseguissem se aproximar mais. Mais tarde, R. Hofstadter et al., em 1953, fizeram um experimento do tipo descrito acima, pore´m usando ele´trons com energia de 125 MeV espalhados por alvos de ouro. A partir da comparac¸a˜o dos dados com a fo´rmula de Rutherford, foi poss´ıvel concluir que os dados sa˜o inconsistentes com a hipo´tese de nu´cleo puntiforme. Essas experieˆncias foram capazes de estabelecer que o nu´cleo do ouro tem um raio de aproximadamente 3× 10−15 m. 3.4 Cr´ıticas ao modelo de Rutherford As cr´ıticas ao modelo de Rutherford, apesar do sucesso obtido em suas pre- viso˜es, na˜o foram poucas e eram bem fundamentadas em princ´ıpios gerais da Exerc´ıcios 79 F´ısica Cla´ssica. A primeira objec¸a˜o era simples: se toda carga positiva esta´ concentrada no centro do a´tomo, e este nu´cleo tem dimenso˜es ta˜o pequenas, como explicar porque a repulsa˜o coulombiana na˜o destro´i esse aglomerado de part´ıculas positivas? A soluc¸a˜o dessa charada veio com a descoberta do neˆutron, por James Chadwick (1891-1974), em 1932. O neˆutron e´ uma part´ıcula neu- tra que atrai os pro´tons, com uma forc¸a da ordem de 200 vezes a repulsa˜o eletrosta´tica – e´ a forc¸a nuclear forte. Uma das diferenc¸as fundamentais entre essas duas forc¸as e´ que a forc¸a eletromagne´tica tem longo alcance, en- quanto que a forc¸a forte tem um alcance curto. Este fato explica porque na˜o podemos ter nu´cleos esta´veis de qualquer tamanho – a atrac¸a˜o provocada pelos neˆutrons e´ limitada a alguns vizinhos pro´ximos, enquanto que a forc¸a coulombiana age em todas as cargas presentes no nu´cleo. Enta˜o, nu´cleos muito pesados, apesar de terem uma quantidade maior de neˆutrons do que de pro´tons, sa˜o bastantes insta´veis. A segunda objec¸a˜o era a seguinte: o modelo dinaˆmico do tipo sistema planeta´rio proposto por Rutherford apresenta uma dificuldade insupera´vel dentro da F´ısica Cla´ssica. Segundo as equac¸o˜es de Maxwell, cargas aceleradas irradiam e perdem energia desse modo. Para uma o´rbita de dimenso˜es atoˆmicas, o colapso do a´tomo se daria em 10−9 s. A mate´ria na˜o seria esta´vel! Essa u´ltima charada so´ foi resolvida atrave´s do modelo de Bohr, que intro- duziu postulados sobre a estabilidade das o´rbitas dos ele´trons nos a´tomos. Um embasamento so´lido desse fato so´ veio com a Mecaˆnica Quaˆntica de Schro¨dinger e Heisenberg. Exerc´ıcios 3.1 Pesquisadores desejam estudar as propriedades de uma part´ıcula que e´ produzida em coliso˜es pro´ton-pro´ton com uma sec¸a˜o de choque de 1 nb. Eles desenharam um alvo de hidrogeˆnio l´ıquido cil´ındrico com 0,05 m de diaˆmetro e 0,5 m de comprimento. O feixe de pro´tons tem uma intensidadede 108 por segundo. Se o aparato pode detectar a part´ıcula rara com uma eficieˆncia de 10 %, quanto tempo vai demorar para que se colete 106 eventos? 3.2 Um feixe colimado de pro´tons e´ enviado para dentro de uma caˆmara de bolhas com deute´rio l´ıquido, cuja espessura e´ de 0,5 m. A densidade do deute´rio l´ıquido e´ 162 kg/m3. Uma amostra com 105 figuras e´ analisada e treˆs eventos raros sa˜o encontrados. 80 3 Espalhamento Rutherford (a) Calcule a sec¸a˜o de choque de produc¸a˜o desse processo. 3.3 A interac¸a˜o forte tem um curto alcance, aproximadamente 1 fm. Use este fato para estimar a sec¸a˜o de choque para a interac¸a˜o forte entre dois pro´tons energe´ticos (E � mc2). Compare sua resposta com 40 mb. 3.4 Considere um feixe de pro´tons com momento de 200 MeV/c sendo espalhado por um nu´cleo de alumı´nio. (a) Calcule a sec¸a˜o de choque para o espalhamento eletromagne´tico em aˆngulos maiores do que 10◦. (b) Se o feixe de pro´tons e´ enviado atrave´s de uma folha de alumı´nio de 1 µm de espessura, qual a frac¸a˜o dos pro´tons sa˜o espalhados em aˆngulos maiores do que 10◦? 3.5 Qual e´ a importaˆncia de ser ter a caˆmara onde e´ realizado o es- palhamento de part´ıculas α evacuada? Para part´ıculas α, estime a espessura do ar que teria a mesma sec¸a˜o de choque que o es- palhamento por uma folha de ouro de espessura igual a 0,2 µm. (A densidade do ouro e´ 1, 9 × 104 kg/m3 e a densidade do ar e´ 1,2 kg/m3 a` pressa˜o atmosfe´rica e temperatura ambiente.) 3.6 Uma part´ıcula α de 10 MeV e´ espalhada por um nu´cleo de prata a um aˆngulo de 90◦. (a) Calcule o paraˆmetro de impacto. (b) Calcule a distaˆncia de maior aproximac¸a˜o. 3.7 Calcule a energia cine´tica de uma part´ıcula α se a distaˆncia de maior aproximac¸a˜o ao nu´cleo de ouro e´ 10 fm quando espalhada a 90◦. 3.8 Um feixe de part´ıculas α de 5 MeV e´ direcionado sobre uma folha de ouro de espessura igual a 1 µm. A frac¸a˜o de part´ıculas α espalhada em aˆngulos maiores do que um certo aˆngulo θ e´ igual a 10−3. (a) Qual e´ a sec¸a˜o de choque de espalhamento do processo? (b) Qual e´ o valor de θ? (A densidade da prata e´ 1, 05 × 104 kg/m3.) 3.9 Um feixe de part´ıculas α com energia cine´tica de 4,5 MeV passa atrave´s de uma folha fina de 9Be. O nu´mero de part´ıculas α espalhadas entre 30◦ e 90◦ e entre 90◦ e 150◦ e´ medido. Qual deve ser a raza˜o entre estes nu´meros? 3.10 Um feixe de part´ıculas α, com energia cine´tica 5,30 MeV e in- tensidade 104 part´ıculas por segundo, incide segundo a normal sobre uma folha de ouro de densidade 19,3 g/cm3, peso atoˆmico 197, e espessura 1, 0× 10−5 cm. Um contador de part´ıculas α de a´rea 1,0 cm2 e´ colocado a 10 cm de distaˆncia da folha. Se θ e´ o Exerc´ıcios 81 aˆngulo entre o feixe incidente e uma linha que vai do centro da folha ao centro do contador, use a sec¸a˜o de choque diferencial do espalhamento Rutherford para obter o nu´mero de contagens por hora para θ = 10◦ e θ = 45◦. O nu´mero atoˆmico do ouro e´ 79. 82 3 Espalhamento Rutherford
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