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IED-HD - 1º semestre

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CONCEITOS DE DIREITO
Noções introdutórias abrangem:
Como os alunos entendem o objeto de estudo: o que é o Direito ?
Visão inicial dos meios e dos fins do Direito;
Acepções do vocábulo “Direito”;
Noções introdutórias de “Fontes do Direito”;
Noções introdutórias das fronteiras (limites) do Direito.
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CONCEITOS DE DIREITO
0 QUE É ESTA REALIDADE QUE CHAMAMOS DE “DIREITO” ? Multiplicidade de significados. O que os alunos entendem por “Direito” ? Primeiras perguntas já embutem certa intuição do objeto questionado: há uma noção comum do Direito.
Direito relaciona-se sempre com o universo social, só existe na vida social; ubi jus, ibi societas. 
Direito é construído pelo homem, e não encontrado na natureza; é experiência humana que se constrói na história. 
Diálogo socrático inclui questionar os “meios” e os “fins” do Direito.
O Direito não é um fim em si mesmo, existe em função de outros objetivos; implica a busca de “bens” relevantes para a pessoa humana que não se resumem ao universo propriamente jurídico.
Conceituação do Direito envolve componente ético (comportamento correto nas relações sociais). 
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CONCEITOS DE DIREITO
Eventos (fatos, experiências) que o senso comum costuma relacionar ao Direito: 
Lei: não é apenas o texto escrito que relaciona-se ao universo jurídico (elaboração pelo homem, valores, fins; texto escrito que precisa ser interpretado e aplicado para “ganhar vida”); 
Processo (conflito, decisão judicial): declaração do Direito no caso concreto; só existe em razão de uma solução (justa/ correta) do conflito; 
Contrato (divisão/atribuição dos bens): não é apenas o pacto em si que integra o Direito (elaboração, manifestação de vontade, boa-fé, finalidade, função social); 
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CONCEITOS DE DIREITO
Gregos (e tb Romanos): Direito é o “Justo”, o objeto da Justiça; a Justiça é uma virtude (hábito) que consiste em dar a cada um o que é seu. Dar o que? O seu Direito. 
 Institutas (Justiniano): “Justiça é a vontade constante e firme de atribuir a cada um o que é seu por direito”.
Dante Alighieri: O Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva a sociedade; corrompida, corrompe-a.
Hans Kelsen (judeu-austríaco, séc. XX, Teoria Pura do Direito): Direito é um conjunto de normas emanadas da autoridade competente. Mas qual é a finalidade?
Santi Romano (italiano, 1ª metade do séc. XX, Teoria Institucional do Direito): “realização de convivência ordenada”. Por meio do que?
Miguel Reale: Direito é a realização ordenada e garantida do bem comum numa estrutura tridimensional bilateral atributiva.
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CONCEITOS DE DIREITO
Resumidamente, podemos apontar como noção inicial que há duas grandes correntes que procuram conceituar o Direito como: 
conjunto de normas (regras) emanadas da autoridade competente; 
o justo (atribuição a cada um daquilo que é seu). 
Uma visão introdutória e mais abrangente do Direito pode ser formulada como certa ordenação da convivência humana, por meio da repartição dos bens e das funções sociais cuja finalidade principal é propiciar a paz (o Bem Comum) na convivência social. 
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CONCEITOS DE DIREITO
O vocábulo “Direito” tem diversas acepções:
Ordenação da convivência humana tendo em vista o “bem comum”. 
Ciência do Direito, Jurisprudência: é o estudo desta dimensão da experiência humana. Pode ser estudado sob a ótica da faculdade de Direito, mas também é objeto de estudo da História, da Sociologia (fato social), da Filosofia, da Psicologia.
Direito como “Justo”: a solução equitativa no caso concreto.
Direito como Norma: a norma jurídica como regra de conduta ou de organização.
Direito Subjetivo: “meu direito”.
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CONCEITOS DE DIREITO
Leituras: 
Reale, cap. I (p. 1/11), cap. VI (p.59/68); 
Montoro, 1a parte, cap. 1 “O conceito de Direito”, p. 29/59. 
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FONTES DO DIREITO
NOÇÃO INTRODUTÓRIA: Modos de concretização do Direito (Reale diz que são “os processos de produção de normas jurídicas”). 
O tema é complexo e polêmico, objeto de reflexões filosóficas, mas com implicações também na aplicação prática do Direito.
Definição das fontes está relacionada com a concepção de “Direito”. Se a visão é mais próxima das correntes positivistas (conjunto de normas emanadas da autoridade competente), as fontes estarão restritas ao que for positivado pelo Estado . Reale não admite as “fontes materiais”, para ele estas estão situadas fora do campo propriamente jurídico, pois são o fundamento ético e social das normas jurídicas (p. 140). 
De outro lado, se o autor se aproxima das correntes jusnaturalistas vai trabalhar com as fontes materiais como origem remota do Direito, e indicar a “natureza humana” e a “natureza das coisas” como fundamento último do Direito.
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FONTES DO DIREITO
FONTES FORMAIS (DIRETAS, IMEDIATAS):
Legislação
Jurisprudência
Costumes
Contratos (autonomia da vontade)
FONTES MATERIAIS (INDIRETAS, MEDIATAS):
Realidade social
Valores
Doutrina (já foi fonte direta: Roma conferiu força obrigatória, em certa época,`a opinião de alguns juristas; na Idade Média, as opiniões de Bártolo e Acúrsio eram subsidiárias da lei nas Ordenações Afonsinas)
 Exemplos
Predomínio das fontes estatais: lei, jurisprudência.
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FONTES DO DIREITO
Ordenações não estatais (fontes não estatais): associações, Igreja, direito desportivo, convenções coletivas, relações internacionais. Montoro, p. 358
São ordenações jurídicas formais, mas a fonte direta não é o Estado. Aplicação em campo restrito, e a um grupo determinado de pessoas, e a pessoa pode fugir destas ordenações retirando-se daquele meio. A Lei autoriza estes entes a elaborar suas regras de conduta, e elas têm aplicação naquele meio determinado, desde que não conflitem com o ordenamento em vigor.
Exemplos: CF/88, art. 217
Leituras: Reale, capítulos XII, XIII e XIV, p. 139/181
Montoro, 3ª parte, capítulo 11, p. 321/367. 
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FRONTEIRAS (LIMITES) DO DIREITO.
Conclusão das aulas sobre noções introdutórias do Direito, abordando as relações entre o Direito e outros códigos de conduta (Religião, Moral). Trata-se de um dos temas mais polêmicos, e um dos mais antigos na história da reflexão filosófica.
Noção introdutória acerca do conceito de MORAL. A visão dos alunos sobre a Moral.
Moral e Ética: equivocidade dos conceitos.
A palavra “ética” deriva de um termo grego que significa “costume”. Aristóteles o trata como “adjetivo” das ações, um qualificativo das “virtudes” práticas orientadas a um fim: as virtudes éticas (justiça, amizade, valor, etc) servem para a realização da ordenação da convivência humana. Já as virtudes “dianoéticas” são intelectuais (sabedoria, prudência), e são princípios fundamentais que regeriam as virtudes éticas (práticas). Vamos trabalhar com o conceito mais abrangente de Moral, como um dos códigos de conduta regradores da convivência humana. 
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FRONTEIRAS (LIMITES) DO DIREITO.
A religião (Cristianismo) e a dupla adesão: às verdades reveladas e aos comandos morais. A despeito da possível existência de diferenças entre a “moral religiosa” e a “moral comum”, vamos tratar dos comandos religiosos dentro do campo único da Moral, para fins de distinção do universo jurídico. 
A ordenação da convivência humana é efetivada por meio da disciplina do comportamento das pessoas. Nesse sentido, o Direito
disciplina todas as condutas humanas, ou só algumas ?
abarca somente a conduta exteriorizada, ou também o que se passa no plano da consciência ? Crime doloso, dano moral, boa-fé: abarcados pelo Direito apenas quando relacionados a uma conduta exteriorizada.
Direito e Moral incidem sobre o mesmo campo, têm um campo mínimo de contato, ou regulam aspectos diversos da conduta humana ?
Direito e Moral prescrevem sanções para o descumprimento de seus comandos ? Estas sanções são equivalentes ?
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FRONTEIRAS (LIMITES) DO DIREITO.
Teorias:
Do mínimo ético: tudo que é jurídico é moral, mas nemtudo que é moral é jurídico (2 círculos concêntricos, o da Moral englobando integralmente o do Direito);
Dos círculos secantes: uma parte comum à Moral e ao Direito, com outras áreas independentes; 
Dos círculos coincidentes: o campo da Moral e o do Direito são comuns (tudo que é jurídico é moral, e tudo que é moral é jurídico); 
Dos círculos independentes: não há nada em comum entre a Moral e o Direito, trabalham em campos totalmente distintos.
Ótica positivista: esferas distintas, o que pertence ao universo do Direito é aquilo que a autoridade constituída decidiu.
Ótica jusnaturalista: o que é “indiferente” pode ser regrado pelo Direito positivo segundo conveniências que variam no tempo e no espaço (legislação de trânsito, taxas de juros).
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FRONTEIRAS (LIMITES) DO DIREITO.
Podem ser apontadas 2 grandes diferenças: primeiro, a Moral se ocupa tanto do plano da conduta prática quanto do plano da consciência, enquanto o Direito disciplina apenas as condutas exteriorizadas.
Segundo, no mundo moderno há uma distinção importante que caracteriza (qualifica) o Direito: a coercibilidade estatal, a possibilidade do uso da força com vistas ao cumprimento de uma obrigação. A Moral não dispõe deste atributo, que é próprio do Direito, e que será o tema da próxima aula.
Leituras: Reale, capítulos IV e V, p. 33/59;
Montoro, 1ª parte, capítulo 3, p. 83/101.
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LEITURAS RECOMENDADAS
Temas que não serão abordados em sala de aula, mas que são importantes para a formação do profissional da área jurídica:
> Fernand Braudel, “História e Ciências Sociais. A longa duração.” O texto é do fim da década 50 e seu estudo permite uma abordagem sobre os diversos tempos que permeiam a construção do Direito atual. Além disso, há um propósito secundário que é iniciar o aluno na análise de textos longos e complexos, espécie de treino para desenvolvimento de certas habilidades que serão exigidas de um profissional do Direito (poder de síntese, identificação de idéias centrais, fundamentação das teses defendidas, analogias, técnicas interpretativas, etc). 
> “Contar a Lei: as fontes do imaginário jurídico.” François Ost, p. 61/95 (O Sinai ou a lei negociada).
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
DIVISÕES DA HISTÓRIA GREGA:
- Período arcaico > do século VIII até 480 a.C. (invasões persas, batalha de Salamina);
Período clássico > de 480 a.C. até 338 a.C., com o domínio da Macedônia de Felipe e Alexandre
Período helenístico > do domínio macedônio até o domínio de Roma (cerca de 150 a.C.).
Nosso interesse concentra-se no período compreendido entre o século VII a.C. e o século IV a.C., momento mais relevante da herança grega no que diz respeito ao Direito (as reflexões filosóficas sobre a Justiça) e à legislação. 
Atenas > A Grécia é uma “confederação” de cidades, mas Atenas se destaca na herança formadora da nossa civilização (democracia, filosofia, Sócrates, Platão e Aristóteles).
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
FONTES: - Direito brota basicamente dos costumes (NOMOS > lei, costume) e a vida civil na cidade é que tem relevância (participação na vida pública, Política). 
Não há muitos textos legislativos, nem doutrina jurídica; as novas leis nascem de revoluções, as mudanças da ordem política implicam em alterações da legislação.
A noção de Justiça (dar a cada um o que é seu) predominava, e a sua busca estava disseminada na sociedade (Direito era parte da educação, da formação - Paideia).
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
Características mais marcantes : 
- Busca pelo equilíbrio na vida social, por meio do “justo”; reflexões acerca da Justiça (Diké) e do Direito, sobre as Leis.
- Laicização (incremento) do Direito: a despeito da presença importante da religião, há uma busca pela racionalização da ordenação da convivência humana (autonomia da razão); conflitos são decididos em assembléias, e a lei é feita, modificada e revogada pelo cidadão.
Participação popular: democracia direta (Ágora, praça onde se discutiam as questões da polis); cidadania apenas para os nascidos em Atenas, Metecos (estrangeiros), mulheres e escravos não são cidadãos; poder judiciário formado pelos cidadãos em revezamento.
Informalidade: não há “carreira” jurídica (advogado, juiz, promotor), nem “escola” de Direito; “logógrafo” é que redige as petições; Justiça era feita pelos próprios cidadãos nas assembléias; não se exige “legitimidade”, qualquer cidadão pode levar a questão à assembléia.
Relações com as outras “vertentes” (Israel e Roma, Cristianismo).
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
Além da herança perene da filosofia, a Grécia deixou outras marcas no universo jurídico:
Doutrina dos contratos consensuais (perfeitos apenas com a manifestação da vontade): sinalagma, comutativo, boa-fé;
Vocabulário: hipoteca, quirografário, anticrese, enfiteuse;
Retórica: arte de argumentar para persuadir;
Distinção entre “contrato” e “delito” (Aristóteles): ambos são fontes de conflitos , resolvidos pela justiça comutativa (corretiva) ou distributiva;
Doutrina da classificação das provas (Aristóteles): naturais ou artificiais;
Distinção entre público e privado, ação privada e ação pública;
Direito Penal: prisão preventiva, liberdade provisória sob caução, dosagem da pena de acordo com a ofensa, distinção do homicídio;
Júri popular.
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
Aristóteles destacou na “Constituição de Atenas”:
Proibiu empréstimo incidindo sobre pessoas (servidão por dívidas);
Criação do Tribunal da Heliaia: os cidadãos eram sorteados anualmente, podendo recorrer da decisões;
Acabou com a propriedade coletiva dos clãs;
Estabeleceu o testamento e a adoção;
Limitou o poder paterno: maioridade gera liberdade (em Roma só se liberta quando constitui nova família).
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
Leis de Drácon (621 a.C.) > Tribunal passa a resolver as disputas entre os clãs; cidade é o centro da vida social, não o clã ou a família; distinção entre espécies de homicídios (voluntário, involuntário, legítima defesa);
Sólon (nova legislação em 594 a.C.) > Ampla reforma institucional, com reflexos econômicos e sociais; Constituição foi inscrita no pórtico dos Arcontes.
Clístenes (508/502): Ampliou o princípio representativo.
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O DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA
Leituras recomendadas: 
- José Reinaldo de Lima Lopes, “O Direito na História”, p. 18/28.
Platão, “A República”, livros I e II;
Aristóteles, “Ética a Nicômaco”, livro V.
Michel Villey, “A formação do pensamento jurídico moderno”, Título 1, capítulos I, II e III.
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Coação e sanção estatal.
Atributos distintivos do Direito. Predomínio das fontes estatais do Direito. Coação estatal como força organizada em busca do cumprimento do Direito; heteronomia; ordenações não estatais. Sanção jurídica: organização e predeterminação; Estado como ente autorizado ao uso da força; autotutela.
 
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Coação e sanção estatal.
Coercibilidade > Possibilidade do uso da força com vistas ao cumprimento de uma norma jurídica.
COAÇÃO (COERÇÃO): Há autores que tratam os termos como sinônimos, outros preferem uma distinção sutil (coerção como pressão psicológica, coação como pressão material).
 Coação é termo equívoco, e em Direito tem dois sentidos distintos:
1) Violência (física ou psíquica) contra uma pessoa. É um dos vícios que geram a anulação do ato jurídico (CC, arts 151 e ss). 
2) Força organizada para o cumprimento obrigatório das normas jurídicas.
 
Estamos estudando COAÇÃO no segundo sentido, como atributo do Direito enquanto poder estatal organizado que dispõe de força para obrigar o cumprimento de seus comandos.
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Coação e sanção estatal.
 HETERONOMIA > Diz-se que o Direito é heterônomo porque o comando vem “de fora”, não é a própria pessoa que estabelece as regras de conduta, nem a coerção ou a sanção. Em certo sentido também a Moral e a Religião são heterônomas e dispõe de coerção (pressão psicológica) e sanção heterônomas. A diferença é que noplano da Moral e da Religião não se delega ao Estado (ou a qualquer outro ente) o uso da força no caso de descumprimento de preceito.
O Estado é o ente ao qual o Direito delega o uso da força, quando necessário ao cumprimento do preceito legal. É possível afirmar que esta é uma nota distintiva do Direito em relação às outras ordenações da convivência humana, vez que apenas ele dispõe da força estatal.
A coercibilidade do Direito não se restringe apenas ao aspecto intimidativo (possibilidade de sanções punitivas: prisão, execução forçada), mas também se expressa no incentivo ao cumprimento espontâneo dos preceitos legais (vantagens: isenções tributárias).
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Coação e sanção estatal.
Ordenações não estatais (associações, Igreja, direito desportivo): também dispõe de coercibilidade (possibilidade do uso da força), e portanto de sanções. A diferença parece ser que estas ordenações não estatais estão voltadas a um campo restrito de aplicação (e a pessoa pode fugir da sanção retirando-se daquele meio), e no Direito o campo é mais vasto, do qual em princípio não se pode abdicar. 
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Coação e sanção estatal.
SANÇÃO: Termo equívoco. Em Direito tem dois sentidos:
1) Fase do procedimento de aprovação de uma lei: sanção é a concordância do chefe do executivo com a nova Lei; ato anterior à promulgação e publicação da nova lei. Se discordar, Presidente pode vetar e este veto vai à apreciação do Congresso Nacional para ser derrubado ou confirmado.
2) Penalidade, castigo. 
Sanções: formas de garantia do cumprimento das normas. Toda norma de conduta (religiosa, moral, jurídica) existe para ser cumprida. Dependendo do tipo da norma, haverá uma modalidade de sanção.
Normas morais: sanção interior (remorso) e exterior (reprovação social). 
Normas religiosas: sanção interior (remorso, arrependimento, sentimento de culpa), e exterior (reprovação da instituição, necessidade de emenda do erro).
Normas jurídicas: sanção estatal, se necessário com uso da força.
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Coação e sanção estatal.
Sanção é a face real da força no Direito, é a concretização da coercibilidade da norma jurídica. 
Exemplos: norma jurídica prevê pena para prática de crime, responsabilização do autor de um dano, execução forçada do devedor inadimplente, nulidade do ato praticado em desconformidade com a lei. Praticou crime, sanção é uma pena; causou dano, sanção é indenização; não pagou dívida, sanção é execução forçada; não seguiu as formalidades legais, sanção é nulidade do ato. 
A sanção jurídica nunca é na dimensão da consciência, sempre se estabelece no mundo exteriorizado (privação da liberdade, execução forçada patrimonial, anulação de ato jurídico, restrição de um direito). Isto confirma a máxima de que o Direito só atua no mundo dos comportamentos exteriorizados, a despeito de certas normas jurídicas adentrarem o plano da consciência: crime doloso (com intenção de produzir o resultado), dano moral (reparação pelo sofrimento causado a outrem), boa-fé (princípio contratual, exigida no usucapião ordinário, intenção reta, ignorância dos eventuais vícios), posse ad usucapionem (com intenção de dono).
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Coação e sanção estatal.
PREDETERMINAÇÃO DA SANÇÃO > Normas jurídicas: sanção predeterminadamente organizada. O Estado é o ente que produz a hipótese de sanção (comando legal), e aquele que aplica a sanção jurídica (averiguação, jurisdição, execução). A sanção jurídica é determinada de antemão, e a própria existência do Poder Judiciário atesta a predeterminação da sanção jurídica (quem infringir uma norma jurídica sabe antecipadamente que o lesado pode acionar a justiça em busca da devida reparação). 
Apenas a sanção jurídica é predeterminada ? Parece que também a sanção no campo da Moral e da Religião é conhecida de antemão. A diferença é que nestas ordenações não há sanção estatal, que só existirá para a Moral e para a Religião na medida que o ilícito for concomitantemente jurídico. Ex: homicídio é ilícito moral e religioso, mas só recebe sanção estatal porque configura ofensa ao ordenamento jurídico.
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Coação e sanção estatal.
Competência > O Estado como poder organizado não se constitui de forma unitária, mas é composto de vários entes e órgãos. A predeterminação inclui tanto o órgão que pode produzir a norma sancionadora, quanto o ente que tem poder para processar e para aplicar a sanção em concreto. Ex: homicídio doloso cometido em Sorocaba. A norma foi elaborada pelo ente competente (crime é da alçada do legislativo da União), e a sanção será aplicada pela Justiça estadual de Sorocaba (local do fato), após julgamento pelo Júri popular, com eventual recurso para o TJ/SP e STJ/STF. 
Ordenações não estatais (associações, Igreja, direito esportivo): também dispõe de coercibilidade (exercício da força), e portanto de sanções. A diferença parece ser que nestas há um campo restrito (e a pessoa pode fugir da sanção retirando-se do meio), e no Direito o campo é mais vasto (do qual em regra não se pode abdicar).
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Coação e sanção estatal.
Estado é o ente autorizado a usar a força para aplicação da sanção: quem tira a liberdade do criminoso, quem retira do patrimônio do devedor bens suficientes para saldar a dívida, quem declara a nulidade do ato (e impede que ele produza efeitos válidos). Estado se sobrepõe aos indivíduos na aplicação da sanção.
Autotutela: Exceção à regra de que apenas o Estado pode se valer da força para o cumprimento de preceito legal. Nestes casos, o próprio Direito autoriza o ofendido a proteger seus interesses, se necessário com o uso da força. Exemplos: legítima defesa no campo criminal; desforço imediato no caso de ataque à posse.
No âmbito supranacional, há outros entes além do Estado que dispõe de coercibilidade, ou seja, podem aplicar sanções no caso de descumprimento de suas regras. Ex: ONU, Mercosul, União Européia, OMC, outros entes internacionais. 
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Coação e sanção estatal.
Leituras: Reale, capítulo VII, p. 69/80.
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.
Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro
        O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, decreta:
        Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
        § 1o  Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953)
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
        § 2o  A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar.
        § 3o  Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
        § 4o  As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.      
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
 Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. (CPMF, DRU, Lei orçamentária)
        § 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. (revogação por norma de hierarquia igual ou superior; ab-rogação:total; derrogação:parcial; judiciário declara inconstitucionalidade ou não recepção da lei)
        § 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
        § 3o  Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. (repristinação)
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
Art. 3o  Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
        Art. 4o  Quandoa lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
        Art. 5o  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
        Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) (CF/88, art 5º, XXXVI: a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; a regra é a irretroatividade, mas a lei penal retroage para beneficiar o réu nos casos de tipificação de condutas e cominação de penas; período de transição, NCC, art 2028, redução prazo de usucapião)
        § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) (contratos)
        § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) (aposentadoria)
        § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) 
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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
Leitura: Franco Montoro, “Introdução à ciência do Direito”, 3a parte, capítulo 13.
 
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ORIENTAÇÃO PARA TRABALHO INSTITUIÇÕES DE JUSTINIANO
Trabalho baseado na obra “Instituições de Justiniano – Origem do direito brasileiro”, adaptação de Marly de Bari Matos, Ícone Editora.
Alunos deverão formar 16 grupos, com 6 a 8 alunos cada;
Os temas serão sorteados de forma a que cada Livro seja dividido entre 4 grupos;
Trabalho consiste em resumo dos temas tratados nos Títulos, e glossário com os termos mais relevantes, devendo ser entregue por escrito ao professor no dia da apresentação perante a classe; 
A cada dia (2 aulas) serão apresentados 4 trabalhos englobando um Livro, com cerca de 20 minutos para cada grupo. As faltas deverão ser justificadas por escrito;
Serão atribuídas notas de 0 a 2, e os membros dos grupos poderão receber avaliações distintas de acordo com o desempenho no dia da apresentação;
Bibliografia básica: 
Thomas Marky, “Curso elementar de Direito Romano”, Ed. Saraiva.
José Reinaldo de Lima Lopes, “O Direito na História”, Ed. Atlas, 3ª edição, p. 28/47.
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
Quanto ao objeto enunciado (a imperatividade). REALE
Normas de conduta (Primárias) > regulam comportamentos;
Normas de Organização (Secundárias) > fixam atribuições, definem conceitos. 
 
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
2) Quanto ao Território sobre o qual se aplica (critério espacial, poder soberano sobre dada área). REALE 
- Normas de Direito Interno: disciplinam as condutas no território brasileiro. Regra geral: regulam o comportamento de todos os que estiverem no país, brasileiros natos e naturalizados, e também os estrangeiros residentes, e mesmo os de passagem. Exceções: estrangeiro não está sujeito a todas as regras (eleitoral, tributária), e parte do direito brasileiro alcança brasileiros no exterior (IR, eleitoral, etc).
Ex: LICC, art. 1o, parágrafo 1o (aplicação da Lei brasileira no estrangeiro, vacatio legis de 3 meses); art. 7o, regras sobre personalidade, capacidade, família; art. 7o, parágrafo 1o, casamento; art. 8o, regras sobre Bens; art. 9o, regras sobre Obrigações. 
CF/88, art. 12 > Nacionalidade.
- Normas de Direito Externo: Direito Internacional Público (Direito das Gentes): relações entre os Estados soberanos. Direito Internacional Privado: relações entre particulares, especialmente comerciais.
Polêmicas acerca do acolhimento e aplicação no Direito brasileiro de normas oriundas de Tratados e Convenções Internacionais: CF/88, art. 5o, parágrafos 2o, 3o e 4o, e inciso LXVII (prisão civil do depositário infiel e do devedor de alimentos; Pacto de San José da Costa Rica prevê apenas para devedor de alimentos). Procedimento para incorporação no direito interno. 
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
3) Quanto ao âmbito territorial de aplicação e à origem do Poder emissor. REALE 
Federais, Estaduais e Distritais (Distrito Federal, Brasília) e Municipais.
Área de atuação: repartição constitucional de competências (CF/88, arts. 21 a 25 e 30). Não há hierarquia entre elas, o que há é âmbito próprio de regulamentação segundo critério disposto na CF. A prevalência da norma constitucional federal não obedece ao critério espacial, mas ao critério da hierarquia das normas (outra classificação).
Questão: competência concorrente na CF/88, art. 24 (União e Estados, e depois art. 30 para os Municípios). 
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
4) Quanto à Fonte do Direito. REALE
 
Legais, jurisprudenciais, consuetudinárias e contratuais (negociais). Doutrinárias ????
Norma jurídica enuncia um dever ser de organização ou de conduta que resulta de distintas fontes.
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
5) Quanto ao destinatário. REALE, p. 136
Genéricas: obrigam a todos que se coloquem sob a moldura da norma. Cabível para a maioria das Leis e dos costumes, e em alguns casos também para jurisprudência (ações coletivas com efeitos erga omnes)
 
Particulares: vinculam pessoas determinadas. Ex: contrato, lei destinada a casos particulares. 
 
Individualizadas: Dão concretude a outras normas. Ex: sentença, resolução da administração.
 
Interpretativas: Destinadas a regular a interpretação da Lei. Ex: LICC, art. 5o
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
6) Quanto à hierarquia (formal). Maria Helena Diniz, p. 382.
Constitucionais (e Emendas) (CF/88, art. 59)
Leis Complementares (Ex: CF/88, art. 146), Leis Ordinárias, Delegadas (art. 68), Medidas Provisórias (art. 62), Decretos legislativos (ex: art. 62, parágrafo 3º) e Resoluções (ex: art. 68, parágrafos 2º e 3º)
Decretos regulamentares
Normas internas (despachos, estatutos, regimentos, etc)
Normas individuais (contratos, testamentos, sentenças, etc).
Compatibilidade com norma superior: norma inferior deve respeitar os parâmetros traçados. Vale para esfera federal (CF e legislação), estadual (CE e legislação), municipal (Lei Orgânica e legislação), competência legislativa concorrente (normas gerais), Decretos (regulamentação da lei). E todas as normas devem respeito aos princípios constitucionais.
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
7) Quanto aos efeitos decorrentes de sua violação: 
Mais que perfeitas: violação acarreta nulidade do ato, E penalidade.
Ex: CC, art. 1.521, VI > Impedimentos para casamento: nulidade do ato E crime de bigamia.
Perfeitas: ato é nulo, mas não há punição.
Ex: menor que contrata; venda de imóvel sem consentimento do cônjuge.
Quase perfeitas: ato é eficaz, mas há uma penalidade.
Ex: CC, art. 1.523, I e art. 1.489, II (filhos tem hipoteca legal sobre os imóveis do pai viúvo que se casar antes da partilha)
Imperfeitas: Obrigações Naturais
Ex: Dívida de jogo, onde não há obrigação jurídica de pagar, mas se pagar não pode exigir devolução
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
8) Quanto ao grau de obrigação do destinatário. REALE, p. 130.
COGENTES, ou de Ordem Pública (Imperativas): comando não deixa margem de ação ao destinatário, deve fazer ou não fazer. Excluem qualquer acordo entre as partes, os atos devem ser praticados de acordo com o prescrito na norma, sob pena de nulidade (não geram efeitos jurídicos).
Ex: Limitação da Doação: doador deve reservar bens suficientes para sua manutenção, não pode doar todo seu patrimônio. Testamento está limitado pela legítima dos herdeiros necessários: testador só pode dispor de metade de seu patrimônio, a outra metade pertence aos herdeiros necessários.
DISPOSITIVAS:estabelecem alternativas de conduta:
EX: CC, art. 1.984 > Testamenteiro, ou nomeado pelo testador, ou atribuído ao cônjuge, ou a um herdeiro nomeado pelo Juiz.
	Cláusulas contratuais: fixação do preço, prazo para pagamento, etc.
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
9) Quanto a natureza do que ordena. REALE, p. 136. 
Preceptivas: obrigam um comportamento. É OBRIGATÓRIO
Ex: Votar; pagar os tributos; sustentar material e moralmente os filhos; 
Proibitivas: Proíbem algum ato. É PROIBIDO
Ex: Não se pode doar todo o patrimônio; não se pode contratar sobre “herança” de pessoa viva; não se pode praticar a conduta típica descrita nos tipos penais
 
Permissivas: facultam algum ato. É PERMITIDO.
Todos os contratos (manifestação da vontade das partes): compra e venda, doação, mandato, depósito, etc.; processuais (entrar com ação, fazer prova, sustentar oralmente, etc)
 
Preceptivas e Proibitivas podem ser comutáveis: É obrigatório fazer declaração de rendimentos OU É proibido omitir rendimentos.
Às vezes o funtor (operador lingüístico) pode estar implícito (maioria dos tipos penais): Matar alguém, pena ... (é proibido matar); Subtrair coisa alheia (é proibido furtar ou roubar).
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
10) Quanto à natureza de suas disposições. Maria Helena Diniz, p. 382
Direito Material (substantivas) > Definem e regulam relações jurídicas, ou criam direitos e impõe deveres (Código Civil, Código Penal, etc). Em regra não retroagem, devem respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Penal: só retroagem para beneficiar o réu. 
Direito Processual ( adjetivas) > Regulam o modo ou o processo de efetivar as relações jurídicas, ou de fazer valer os direitos violados ou ameaçados (processo penal, processo civil). Aplicação imediata, alcançam o processo no estado em que se encontra.
Prescrição, Decadência, Preclusão: direito material ou processual ?
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
11) Quanto à sistematização. Maria Helena Diniz, p. 384
Esparsas ou extravagantes: editadas isoladamente. Ex: Lei do inquilinato, Lei do SNUC, Lei do parcelamento do solo urbano, etc.
Codificadas: corpo orgânico de normas sobre ramo do Direito. Ex: CTN, CC, CP,
Consolidadas: reunião de leis esparsas sobre mesmo assunto. Ex: CLT
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
12) Quanto aos reflexos no sistema normativo: 
Norma-regra: destina-se a reger apenas os fatos que disciplina, e não gera efeitos no restante do sistema normativo; são normas de estrutura fechada (prevêem um certo fato e lhe imputam determinada consequência). Leis de trânsito.
Norma-princípio: destina-se a reger um complexo de situações, e gera efeitos em amplo campo do sistema normativo; são normas de estrutura aberta que positivam valores (não descrevem nem o fato específico ao qual devem ser aplicadas nem tampouco as consequências de sua aplicação). Função social da propriedade e do contrato, boa-fé, ampla defesa e contraditório.
As regras são aplicadas através da subsunção de determinada situação concreta ao modelo fático ali descrito.
Os princípios aplicam-se com base na ponderação e não com base na subsunção – necessitando de atividade valorativa do juiz. Dupla função: são o alicerce sobre o qual se edifica o sistema normativo, e são o ponto mais elevado de onde deve partir o processo de interpretação jurídica.
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
13) Quanto à aplicação (ou eficácia). M.H.Diniz, p. 382
Eficácia absoluta: são inatingíveis por qualquer legislação que as afronte (CF, arts 1º, 2º, 5º e 14);
Eficácia plena: suficientes para disciplinar as relações jurídicas, não requerem normação posterior, produzem os efeitos previstos imediatamente, apesar de suscetíveis de emenda (CF, arts 69, 155 e 156);
Eficácia relativa restringível: aplicabilidade imediata, mas eficácia pode ser restringida por meio de lei (CF, arts 5º, XII e LXVI, 139 e 170, parágrafo único); 
Eficácia relativa complementável: dependem de norma posterior para ter eficácia, mas permitem o exercício do direito (CF, arts 17, IV, 25, par. 3º, normas institutivas, 205 e 218, normas programáticas).
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CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS
Leituras:
Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulo XI.
Maria Helena Diniz, “Compêndio de introdução à ciência do Direito”, 3.E, p. 376/384. 
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
HANS KELSEN: Proposição jurídica (Norma jurídica) é um juízo hipotético ou condicional, em que o antecedente ou o pressuposto é o não cumprimento de uma obrigação e o conseqüente é a disposição de que uma sanção deve ser aplicada.
 
Definição só lida com o descumprimento da norma, não prevê cumprimento da obrigação.
 
NP (não prestação) > S (sanção). 
Se NP, deve ser S.
Se F (fato) é, deve ser C (conseqüência).
Dois elementos: 1) pressuposto (hipótese fato-tipo): não cumprimento 
2) conseqüente (sanção).
 
Fenômeno da subordinação, ou subsunção. Fato ou ato enquadra-se na hipótese (fato-tipo) prevista na norma. 
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
CARLOS CÓSSIO (argentino): Norma jurídica como um juízo disjuntivo.
Em cada norma jurídica completa, além da norma sancionadora (NP>S) existe outra norma (ao menos implícita) que estabelece a prestação (ENDONORMA).
	Definição já engloba a possibilidade de cumprimento espontâneo, portanto a sanção não é essencial à norma.
 
Dado o fato tal, deve ser a prestação (ENDONORMA). Se contrair uma dívida, deve pagar.
 	OU 
  Dada a não prestação, deve ser a sanção (PERINORMA). Se não pagar espontaneamente, será forçado a pagar. 
 
F > P OU NP > S
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
MIGUEL REALE: Norma jurídica é uma estrutura proposicional enunciativa de uma forma de organização ou de conduta, que deve ser seguida de maneira objetiva e obrigatória.
ESTRUTURA PROPOSICIONAL > Seu conteúdo pode ser enunciado mediante uma ou mais proposições entre si correlacionadas. O pleno significado só aparece com integração lógico-complementar de suas proposições.
 
Para que o comando expresso no “conteúdo” da norma apareça é preciso integrar uma ou várias proposições, inseridas em um ou mais “dispositivos” legais.
 
Ex: Aborto, arts. 124/128 do CP. 
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
Enunciativa de uma forma de organização ou de conduta
O que a norma enuncia é uma forma de organização ou de conduta.
 
Normas de organização: todas as que não descrevem condutas. As que fixam atribuições, dirigidas aos órgãos do Estado, que definem procedimentos. Não são hipotéticas ou condicionais, mas categóricas.
CPC, art. 3o: Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade.
Normas de conduta: as que descrevem hipóteses de comportamentos.
 Tipos penais (matar alguém, subtrair, corromper), contratos (comprar e vender, alugar, emprestar), tributos (auferir renda, prestar serviço, possuir imóvel). 
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
QUE DEVE SER
 
Nenhuma regra descreve algo que é, mas que deve ser. Norma jurídica é realidade cultural de tipo finalístico, que enuncia algo apreensível apenas pela razão. Não é realidade física palpável, aferível pelos sentidos.
 
Art. 2o do CDC, “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.” A realidade descrita pela norma do consumidor não é palpável, aferível pelos sentidos. Significa que todo aquele que se encaixar na descrição, deve ser considerado consumidor.
 
Brasil é República Federativa. Significa que o país deve ser organizado e constituído como uma Federação Republicana.
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
SEGUIDA DE MANEIRA OBJETIVA E OBRIGATÓRIA
Norma jurídica tem aplicação de forma heterônoma (imposta de fora, impositivo externo), e dispõe de coercibilidade estatal.
Com ou sema concordância dos obrigados (para as regras de conduta), ou sem deixar alternativa (quando for regra de organização).
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
MARIA HELENA DINIZ (GOFREDO TELLES JR.)
Norma jurídica é um Imperativo-Autorizante
Para descobrir a essência da norma jurídica (o que a caracteriza), é preciso apontar o gênero ao qual pertence e a diferença que a distingue das outras espécies. 
Gênero próximo: normas éticas que regem a conduta humana (diferente das leis físico-naturais). Elemento Imperativo (obriga a um comportamento).
Diferença específica: distingue-se das demais normas morais pois tem caráter autorizante. Permite ao lesado pela sua violação, a reparação do dano causado ou a reposição das coisas no estado anterior. Autoriza o uso destas faculdades de reação ao lesado.
Norma jurídica sem autorizamento será norma moral; sem imperatividade, será apenas lei física.
Coação não é privativo da norma jurídica, existe também nas normas morais. 
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NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS E ESTRUTURA
Leituras: Reale, Lições preliminares de Direito, capítulo IX, p. 93/104.
Maria Helena Diniz, “Compêndio de Introdução à Ciência do Direito”, p. 341/376
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Ordenamento e sistema jurídico
NOÇÃO DE ORDENAMENTO JURÍDICO. 
O DIREITO COMO UM TODO ORDENADO. 
NOÇÃO DE SISTEMA E SUA APLICAÇÃO NO MUNDO JURÍDICO. 
NOÇÃO DE REGIME JURÍDICO.
TEORIAS DO NORBERTO BOBBIO E DO TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.
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Ordenamento e sistema jurídico
Noção introdutória: Ordenamento jurídico é o conjunto de elementos, representado pelas normas jurídicas. 
Mas não um simples amontoado de elementos; envolve a idéia de ORDEM, de várias partes harmonicamente ordenadas, de um todo lógico e coerente.
 Porém, não basta conhecer apenas o conjunto das normas, é preciso saber relaciona-las, estabelecer qual o tipo de coordenação existe entre as normas.
O estudo do ordenamento jurídico busca, em última instância, a validade da norma; normas não são válidas em si, dependem do contexto (relação das normas com as demais normas), e assim a validade de uma norma depende do ordenamento no qual está inserida.
	Sala de aula: simples junção dos materiais pode ser um depósito; disposição dos elementos é que indica a sala de aula. 
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Ordenamento e sistema jurídico
ORDENAMENTO JURÍDICO 
ELEMENTOS + RELAÇÕES = SISTEMA JURÍDICO. 
O Sistema jurídico é um complexo composto pelas normas e pelas relações que se estabelecem entre elas.
ELEMENTOS (repertório): NORMAS JURÍDICAS
LEGISLAÇÃO
JURISPRUDÊNCIA
COSTUMES
CONTRATOS
RELAÇÕES (estrutura): Coordenação entre os elementos – hierarquia, norma-princípio e norma-regra, lex posterior, lex specialis, competência (legislativa, administrativa, judicial), norma geral na competência legislativa concorrente (Direito Urbanístico), Súmulas dos Tribunais, etc.
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Ordenamento e sistema jurídico
REGIMES JURÍDICOS: são sub-sistemas do Ordenamento Jurídico (Sistema Constitucional, Tributário, Penal, Civil, Consumidor, Ambiental, etc.).
Um fato, 3 efeitos jurídicos distintos (batida de carro: responsabilidade penal, civil-reparação do dano, administrativa-multa)
 Um contrato de compra e venda de veículo, dependendo do objeto e das pessoas envolvidas, gera 3 situações jurídicas distintas: comercial (fábrica para concessionária), consumidor (concessionária-fornecedora para consumidor final) ou civil (carro usado, de particular para particular).
Incidência do IPTU: CTN estabelece requisitos para tributação (sistema tributário), mas quem define zona urbana é o município (sistema urbanístico).
Leituras: 
 - Tercio Sampaio Ferraz Jr., “Introdução ao estudo do direito”, Norma e ordenamento (4.3.1), p. 174/181.
Norberto Bobbio, “Teoria do ordenamento jurídico”.
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MATÉRIA PARA PROVA
1º SEMESTRE
CONCEITOS DE DIREITO:
 - Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulos I (p. 1/11), e VI (p.60/68); 
 - Franco Montoro, “Introdução à ciência do Direito”, 1a parte, cap. 1 “O conceito de Direito”, p. 29/59. 
FONTES DO DIREITO:
Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulos XII, XIII e XIV, p. 139/181.
Franco Montoro, “Introdução à ciência do Direito”, 3a parte, capítulo 11, p. 321/367.
FRONTEIRAS (LIMITES) DO DIREITO:
Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulos IV e V, p. 33/59.
Franco Montoro, “Introdução à ciência do Direito”, 1ª parte, capítulo 3, p. 83/101.
SANÇÃO E COAÇÃO ESTATAL:
Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulo VII, p. 69/80.
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MATÉRIA PARA PROVA
1º SEMESTRE
LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL:
Franco Montoro, “Introdução à ciência do Direito”, 3a parte, capítulo 13.
CLASSIFICAÇÕES DAS NORMAS JURÍDICAS:
Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulo XI.
Maria Helena Diniz, “Compêndio de introdução à ciência do Direito”, 3.E, p. 376/384. 
NORMA JURÍDICA: TEORIAS, TIPOS, ESTRUTURA:
 - Miguel Reale, “Lições preliminares de direito”, capítulo IX, p. 93/104.
 - Maria Helena Diniz, “Compêndio de introdução à ciência do Direito”, p. 341/376.
ORDENAMENTO JURÍDICO: 
Tercio Sampaio Ferraz Jr., “Introdução ao estudo do direito”, Norma e ordenamento (4.3.1), p. 174/181.
Norberto Bobbio, “Teoria do ordenamento jurídico”.
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Outros exemplos de normas jurídicas com caráter de incentivo ao cumprimento espontâneo dos preceitos legais: 
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