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1 Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) Breve roteiro didático para debate em sala de aula Professor Marcio Riski 1. Art. 28: Da posse para consumo pessoal. Natureza de crime, contravenção penal ou fato atípico? -- Amparo legal: Art. 28 da lei. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Art. 16 da antiga Lei 6.368/76, já revogada. Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa. -- Opinião de Rogério Sanches: NATUREZA JURÍDICA DO ART. 28 1ª CORRENTE 2ª CORRENTE 3ª CORRENTE É crime! Não é crime! É infração penal sui generis Não é crime! É fato atípico. Fundamentos: O capítulo que abrange o art. 28 é intitulado “Dos Crimes”. O nome do capítulo, nem sempre corresponde ao seu conteúdo. Ex.: DL-201/67 Lei 11.343/06 fala em medida educativa, que é diferente de medida punitiva. O art. 28, § 4º fala em reincidência. Reincidência aqui é repetir o fato (sentido vulgar do termo) O descumprimento da “pena” não gera consequência penal. O art. 30 fala em prescrição Ilícitos civis e administrativos prescrevem, ato infracional prescreve. Princípio da intervenção mínima O art. 5º, XLVI permite outras penas que não reclusão ou detenção. Crime: reclusão e detenção Contravenção: prisão simples A saúde individual é um bem jurídico disponível. 2. Nova Lei 11.343/2006: abolitio criminis, novatio legis in mellius ou novatio legis in pejus? É possível a combinação dos dispositivos mais benéficos em ambas as leis? A jurisprudência do STF já está praticamente pacífica: se poder extrair de várias leis sucessivas suas partes mais benéficos ai réu. ↓↓ no entanto, posição contrária (STJ): intérprete (juiz) não pode invadir a competência do legislador, e nem quebrar a unidade lógica do sistema jurídico. ↓↓ Ex: art. 12 da antiga Lei 6.368/76: Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Observa-se aqui a pena mínima de 3 anos. Veja agora o que diz a nova lei sobre a pena mínima (Art. 33, da lei 11.343/2006): Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. ↓↓ Observa-se agora que, pela nova lei, a pena mínima passou a ser de 5 anos. ↓↓No entanto, esta nova lei, que é mais grave quanto à pena mínima, traz algo mais benéfico ao réu quando permite que, no § 4o do mesmo art. 33: Nos delitos definidos no caput e no § 1 o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. ↓↓Assim, para o STF, seria possível a combinação desses 2 dispositivos mais benéficos ao réu (o 1º da lei revogada e o 2º da lei revogadora). 2 ↓↓Mas o STJ entende que isso seria contrária à lógica do sistema jurídico, ↓↓pois, nunca houve para tráfico de drogas a chance de o traficante ganhar a pena mínima de 3 anos (lei antiga) ↓↓e, ainda por cima, ganhar um redução de até 2/3 da pena final (lei nova) em cima da pena mínima de 3 anos da lei anterior, dando-lhe pena final total de só 1 ano !! 3. As fases no combate ao tráfico e uso de drogas: 1ª fase: Lei 6.368/1976; 2ª fase: 10.409/2002; 3ª fase: 11.343/2006. � 1ª e 2ª fases: Na verdade, a Lei 10.409/2002 apenas mudou o procedimento da Lei 6.368/76, não revogando os crimes desta. ↓↓logo A Lei 10.409/02 => direito instrumental (processual, adjetivo); A Lei 6.368/76 => manteve o direito material. � 3ª fase: Surge a Lei 11.343/06 => evitar uma colcha de retalhos (revogou as 2 outras). 4 – Inovações trazidas pela Lei 11.343/06: 1ª Inovação => Mudou-se a expressão “substância entorpecente” pelo termo “droga”; -- Mesmo assim houve 1 dúvida: o que é droga? (D.D): Corrente 1: Depende de necessária complementação de Portaria da Anvisa (órgão vinculado ao MS): norma penal em branco. ↓↓Princípio informador: Tipicidade Taxativa. ↓↓crítica: Critério político e não técnico. Portarias revogam-se por alguns dias criando abolitio criminis naquele tempo. Ao contrário: lei em sentido formal exige processo legislativo solene. Corrente 2: A norma estaria sempre defasada em relação à criatividade humana. O ideal seria o juiz, através de perícia, identificar a droga. ↓↓crítica: Desrespeito ao princípio de legalidade no direito penal (Art. 22, I, CF/88). O problema é que quem define a portaria, nesse caso, é o Executivo. 2ª Inovação: Princípio de Proporcionalidade. PROPORCIONALIDADE PROPORCIONALIDADE LEI 6361/76 LEI 11.343/06 3 a 10 ANOS (MESMA PENA): a) Traficante de drogas b) Traficante de matéria-prima c) Induz outrem a usar d) “Mula” primário e) Utiliza seu imóvel PENAS DIFERENTES: Exceção Pluralista à Teoria Monista 3ª Inovação: A Majoração das Multas: -- Para a doutrina, houve um incremento das multas a partir de sua majoração. Há condutas que passaram dos 2000 e 3000 dias-multa. ↓↓ Objetivo: atingir mais eficazmente o patrimônio do traficante 5 – Competência Jurisdicional para julgar o porte para uso pessoal (art. 28): -- Embora a Lei 11.343/06 não tenha fixado um valor numérico máximo, a competência é do JECRIM. 6 - Prazo para a extinção da Prescrição da Pretensão Punitiva: -- Como calcular a prescrição, que varia conforme a pena máxima privativa de liberdade, se o art. 28 não tem pena privativa de liberdade? ↓↓por essa razão: o art. 30, que percebeu que o art. 28 não pode se valer da prescrição comum: Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado,no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. 3 7 – O Tráfico Ilícito de Drogas: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem (TRÁFICO EQUIPARADO): I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. § 2 o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI 4274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. § 3 o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: § 4 o Nos delitos definidos no caput e no § 1 o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. -- É chamado de tráfico ilícito comparado, porque as penas do caput são as mesmas do § 1º; ↓↓observe: Art. 33, caput: 5 a 15 anos Tráfico propriamente dito. Art. 33, § 1º: 5 a 15 anos Tráfico por equiparação ↓↓ agora, observe o § 2º e os parágrafos seguintes: Art. 33, § 2º Art. 33, § 3º 1 a 3 anos 6 meses a 1 ano Formas especiais do crime Art. 33, § 4º Privilégio -- A nova lei, ao contrário da anterior, tratou de desigualar as penas tendo em vista condutas desiguais (vide proporcionalidade acima); Análise individual dos tipos de tráfico: � 1º Tráfico Ilícito Propriamente dito: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. a) Objetividade Jurídica: -- Bem Jurídico Primário (primacial) => saúde pública; -- Bem Jurídico Secundário => saúde individual de pessoas vítimas eventuais do tráfico; b) Sujeito Ativo: -- O crime é comum em todos os verbos, mas próprio na conduta de prescrever, que só pode ser praticada por médico, dentista etc.; c) Sujeito Passivo: -- Constante: Sociedade, Estado; -- Eventual: vítimas que eventualmente são aliciadas pelo tráfico, como é o caso do inimputável viciado pelo traficante; -- Sujeito Passivo menor: Aplica-se o Art. 243 do E.C.A ou 33 da Lei de drogas? ↓↓Dica: Princípio da Especialidade Para a doutrina, o fator determinante é o tipo de droga: � Se a droga está na Portaria do MS (344/98), aplica-se a o art. 33 da Lei de Drogas; � Se a droga está fora dessa Portaria do MS, aplica-se o art. 243 do E.C.A (Ex: cola de sapateiro, droga que causa dependência); Obs: Atente-se para a pena do tráfico no E.C.A é de 2 a 4 anos, enquanto na lei de drogas é de 5 a 15 anos: 4 Art. 243 do ECA: Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida: Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. (Alterado pela L-011.764-2003) -- E quando a droga traficada ao menor é o álcool? Como não está na Portaria devemos aplicar o art. 243 do E.C.A? ↓↓(D.D) Como o E.C.A. exige que a droga cause dependência, não seria o caso da cerveja, porquanto esta só causa em uso demasiado;
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