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Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADPF 384. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui legitimidade para ADI/ADPF de 
norma que envolva outros representados. 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR. 
 
DIREITO À SAÚDE 
 Inconstitucionalidade da Lei 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética. 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
 Constitucionalidade da EC 74/2013, que conferiu autonomia à DPU e à DPDF. 
 Inconstitucionalidade de lei estadual que atribua ao Governador competências administrativas na Defensoria Pública. 
 Governador não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria elaborada de acordo com a LDO. 
 Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88. 
 Participação da Defensoria na discussão da LDO. 
 
DIREITO ELEITORAL 
CRIMES ELEITORAIS 
 Candidato que recebe ordem para não entrar na repartição pública para pedir votos não comete desobediência se 
ingressa no local para fiscalizar o adversário 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
 Execução de honorários sucumbenciais e fracionamento. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Empréstimos consignados retidos pelo Município e dinheiro utilizado para pagamento de despesas da 
Administração, sem repasse ao banco mutuante. 
 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO 
 Uso de munição como pingente e aplicação do princípio da insignificância. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES 
 Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR. 
 
HABEAS CORPUS 
 Inviabilidade de HC para se discutir se houve dolo eventual ou culpa consciente em homicídio praticado na direção 
de veículo automotor. 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui legitimidade 
para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados 
 
As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para 
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo de 
seus representados. 
Ex: a ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar ADPF 
questionando dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas os juízes 
estaduais, mas sim os magistrados de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou estadual. 
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
A Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES) ingressou com ADPF questionando um 
dispositivo da LOMAN (LC 35/79) que trata sobre a pena de disponibilidade compulsória com vencimentos 
proporcionais ao tempo de serviço, que pode ser aplicada aos magistrados. 
Segundo alega o autor, o dispositivo impugnado contraria o art. 5º, XXXIX e XLVII, da CF/88. 
A AGU, em sua manifestação, arguiu a ilegitimidade da parte autora, considerando que se trata de uma 
associação que reúne apenas magistrados estaduais, de forma que não poderia questionar um dispositivo 
da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, que disciplina todos os juízes, ou seja, tanto da magistratura 
estadual como federal. 
 
O STF concordou com o argumento invocado pela AGU? 
SIM. 
 
As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para instaurar 
controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo de seus representados. 
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Os legitimados para a propositura de ADI, ADC ou ADPF estão previstos no art. 103 da CF/88. Dentre eles, 
destaco o inciso IX: 
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de 
constitucionalidade: 
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
 
Segundo a jurisprudência do STF, "entidade de classe de âmbito nacional" não possui legitimidade para a 
instauração do controle concentrado de constitucionalidade (art. 103, IX, da CF) quando a associação autora 
representa apenas fração ou parcela da categoria profissional cujo interesse está sendo defendido em juízo. 
Se o ato normativo impugnado mediante ADI, ADC ou ADPF repercute sobre a esfera jurídica de toda uma 
classe, não é legítimo permitir-se que associação representativa de apenas uma parte dos membros dessa 
mesma classe impugne a norma pela via do controle abstrato de constitucionalidade. Isso porque se este 
pedido vier a ser julgado procedente, tal decisão produzirá efeitos erga omnes (art. 102, § 2º, da CF/88), 
ou seja, atingirá indistintamente todos os sujeitos compreendidos no âmbito ou universo subjetivo de 
validade da norma declarada inconstitucional. 
A ANAMAGES representa tão somente o corpo dos magistrados estaduais, ao passo que a norma aqui 
impugnada é aplicável a todos os membros integrantes do Poder Judiciário, independentemente da 
“Justiça” ou ramo estrutural a que pertençam. Não se pode, portanto, reconhecer que a associação autora 
possua legitimidade para a propositura da demanda. 
 
 
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DIREITO À SAÚDE 
Inconstitucionalidade da Lei 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética 
 
É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética 
("pílula do câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que 
existam estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que 
haja registro sanitário da substância perante a ANVISA. 
Obs: trata-se de decisão cautelar, não tendo o julgamento sido ainda concluído. 
STF. Plenário. ADI 5501 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Fosfoetanolamina sintética ("pílula do câncer") 
Um professor da USP, Gilberto Chierice, atualmente aposentado, desenvolveu, na década de 1970, uma 
substância chamada de fosfoetanolamina sintética, que serviria para auxiliar na cura contra o câncer. 
Durante muitos anos, a fosfoetanolamina sintética foi distribuída gratuitamente para inúmeros portadores 
de câncer que aceitavam participar das pesquisas. A substância ficou conhecida como "pílula do câncer". 
Ocorre que a fosfoetanolamina era ministrada aos doentes sem que tivesse havido ainda aprovação desta 
substância pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 
Diante disso, em junho de 2014, uma portaria da USP proibiu a distribuição da fosfoetanolamina até que 
houvesse a aprovação da Anvisa. A vedação imposta fez com que diversos pacientes buscassem o Poder 
Judiciário pedindo o afastamento da proibição e o fornecimento da substância. 
Além disso, os doentes e familiares de pacientes fizeram inúmeras campanhas na internet pedindo para 
que as autoridades liberassem a distribuição e o uso da fosfoetanolamina. 
 
Lei nº 13.269/2016. 
Diante da grande repercussão causada, o Congresso Nacional decidiu aprovar a Lei nº 13.269/2016 
autorizando o uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes portadores de câncer, mesmo sem a 
aprovação da Anvisa. Veja o que diz a Lei: 
Art. 1º Esta Lei autoriza o uso da substância fosfoetanolamina sintética por pacientes diagnosticados com 
neoplasia maligna. 
Art. 2º Poderão fazer uso da fosfoetanolamina sintética, por livre escolha, pacientesdiagnosticados com 
neoplasia maligna, desde que observados os seguintes condicionantes: 
I - laudo médico que comprove o diagnóstico; 
II - assinatura de termo de consentimento e responsabilidade pelo paciente ou seu representante legal. 
Parágrafo único. A opção pelo uso voluntário da fosfoetanolamina sintética não exclui o direito de acesso a 
outras modalidades terapêuticas. 
Art. 3º Fica definido como de relevância pública o uso da fosfoetanolamina sintética nos termos desta Lei. 
Art. 4º Ficam permitidos a produção, manufatura, importação, distribuição, prescrição, dispensação, 
posse ou uso da fosfoetanolamina sintética, direcionados aos usos de que trata esta Lei, 
independentemente de registro sanitário, em caráter excepcional, enquanto estiverem em curso estudos 
clínicos acerca dessa substância. 
Parágrafo único. A produção, manufatura, importação, distribuição, prescrição e dispensação da 
fosfoetanolamina sintética somente são permitidas para agentes regularmente autorizados e licenciados 
pela autoridade sanitária competente. 
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
ADI 5501 
A Associação Médica Brasileira (AMB) ajuizou ADI contra a Lei n.º 13.269/2016. 
A entidade alegou que, diante do “desconhecimento amplo acerca da eficácia e dos efeitos colaterais” da 
substância em seres humanos, sua liberação é incompatível com direitos constitucionais fundamentais, 
como o direito à saúde (arts. 6º e 196), o direito à segurança e à vida (art. 5º), e o princípio da dignidade 
da pessoa humana (art. 1º, III). 
Na ADI, a autora argumentou que a fosfoetanolamina sintética foi testada unicamente em camundongos, 
tendo sido eficaz apenas no combate do melanoma (câncer de pele). 
A AMB explicou que a “pílula do câncer” não passou pelos testes clínicos em seres humanos exigidos pela 
legislação e que a permissão do seu uso causa risco grave à vida e à integridade física dos pacientes. 
 
O STF, ao apreciar a medida cautelar, concordou com a tese defendida na ADI? A Lei nº 13.269/2016, 
que autorizou o uso da fosfoetanolamina, contraria a Constituição Federal? 
SIM. O STF ainda não julgou em definitivo a causa, mas, por decisão majoritária, deferiu medida liminar 
para suspender a eficácia da Lei nº 13.269/2016. 
 
É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética ("pílula do 
câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna, mesmo sem que existam estudos 
conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da 
substância perante a ANVISA. 
STF. Plenário. ADI 5501 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Violação ao direito à saúde (art. 196 da CF/88) 
A Lei nº 13.269/2016, ao permitir o uso da fosfoetanolamina suspendendo a exigência do registro 
sanitário, violou o direito à saúde previsto no art. 196 da CF/88, considerando que é dever do Estado 
reduzir o risco de doença e outros agravos à saúde dos cidadãos. 
O Poder Público tem o dever de fornecer medicamentos e tratamentos médicos à população. No entanto, 
isso deve ser feito com responsabilidade, devendo-se zelar pela qualidade e segurança dos produtos em 
circulação no território nacional. 
A busca pela cura de enfermidades não pode ser feita sem se preocupar com a qualidade das drogas 
distribuídas aos indivíduos, sendo necessária uma rigorosa análise científica. 
A Lei nº 13.269/2016 permitiu a distribuição do remédio sem o controle prévio de viabilidade sanitária. 
Entretanto, a aprovação do produto no órgão do Ministério da Saúde é condição indispensável para a sua 
industrialização, comercialização e importação com fins comerciais, conforme exige o art. 12 da Lei nº 
6.360/76. 
O registro é condição para o monitoramento da segurança, eficácia e qualidade terapêutica do produto. 
Sem o registro, há uma presunção de que o produto é inadequado à saúde humana. 
A lei impugnada é casuística ao dispensar o registro do medicamento como requisito para sua 
comercialização, e esvazia, por via transversa, o conteúdo do direito fundamental à saúde. 
 
Ofensa ao princípio da separação dos Poderes 
O STF entendeu, ainda, que a Lei nº 13.269/2016 ofendeu o princípio da separação de Poderes. Isso 
porque incumbe ao Estado o dever de zelar pela saúde da população. Para isso, foi criada a Anvisa, uma 
autarquia técnica vinculada ao Ministério da Saúde, que tem o dever de autorizar e controlar a distribuição 
de substâncias químicas segundo protocolos cientificamente validados. 
A atividade fiscalizatória é realizada mediante atos administrativos concretos devidamente precedidos de 
estudos técnicos. Não cabe ao Congresso, portanto, viabilizar, por ato abstrato e genérico, a distribuição 
de qualquer medicamento. 
Assim, é temerária a liberação da substância em discussão sem os estudos clínicos correspondentes, em 
razão da ausência, até o momento, de elementos técnicos assertivos da viabilidade do medicamento para 
o bem-estar do organismo humano. 
 
 
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MINISTÉRIO PÚBLICO 
Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR 
 
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir conflitos de 
atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais. 
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Conflito de competência 
Quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma causa, dizemos que existe, 
neste caso, um conflito de competência. 
Obs: o CPP denomina esse fenômeno de "conflito de jurisdição" (art. 113 a 117), expressão, contudo, 
bastante criticada pela doutrina e jurisprudência porque a jurisdição no Brasil é uma só, sendo exercida 
por qualquer juiz e Tribunal. O que se divide é a competência, que cada juízo possui a sua. 
 
Exemplo de conflito de competência 
Foi instaurado inquérito policial, que estava tramitando na Justiça Estadual, com o objetivo de apurar 
determinado crime. 
Ao final do procedimento, o Promotor de Justiça requereu a declinação da competência para a Justiça 
Federal, entendendo que estava presente a hipótese do art. 109, IV, da CF/88. 
O Juiz de Direito concordou com o pedido e remeteu os autos para a Justiça Federal. 
O Juiz Federal deu vista ao Procurador da República, que entendeu em sentido contrário ao Promotor de 
Justiça e afirmou que não havia interesse direto e específico da União que justificasse o feito ser de 
competência federal. 
O Juiz Federal concordou com o Procurador da República e suscitou conflito de competência. 
Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, "d", da CF/88: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem 
como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; 
 
Conflito de atribuições 
No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa discordância 
não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última análise, tivemos um 
conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos jurisdicionais. 
Algumas vezes, no entanto, os membros do Ministério Público instauram investigações que tramitam no 
âmbito da própria instituição. Neste caso, em regra, tais procedimentos não são levados ao Poder 
Judiciário, salvo no momento em que irá ser oferecida a denúncia ou se for necessária alguma medida que 
dependa de autorização judicial (ex: interceptação telefônica).A regra geral, no entanto, é que os procedimentos de investigação conduzidos diretamente pelo MP 
tramitem exclusivamente no âmbito interno da Instituição. 
Ex: um Promotor de Justiça instaurou, no MPE, procedimento de investigação para apurar crimes 
relacionados com um cartel mantido por donos de postos de combustíveis. Ocorre que o Procurador da 
República também deflagrou, no âmbito do MPF, um procedimento investigatório para apurar exatamente 
o mesmo fato. Temos, então, dois membros diferentes do Ministério Público investigando o mesmo fato. 
Vale ressaltar que nenhum deles formulou qualquer pedido judicial, de sorte que o Poder Judiciário não foi 
provocado e os procedimentos tramitam apenas internamente. 
 
 
 
 
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Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá atuar em 
uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de competência? 
Não. Neste caso, teremos um CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. 
"O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Cuidando-se de ato de 
natureza jurisdicional, o conflito será de competência; tratando-se de controvérsia entre órgãos do 
Ministério Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um conflito de atribuições." (LIMA, 
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3ª ed., Salvador: Juspodivm, 2015, p. 1113). 
 
Obs: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a divergência 
ficar restrita aos membros do Ministério Público. Se os juízes encamparem as teses dos membros do MP, 
aí eles estarão discordando entre si e teremos, no caso, um "falso conflito de atribuições" (expressão 
cunhada por Guilherme de Souza Nucci). Diz-se que há um falso conflito de atribuições porque, na 
verdade, o que temos é um conflito entre dois juízes, ou seja, um conflito de competência. 
 
Conflito de atribuições pode se dar tanto em matéria criminal como cível 
Apesar de os exemplos acima fornecidos envolverem a investigação de crimes, é importante esclarecer 
que o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis, como o caso de 
improbidade, meio ambiente, consumidor e outros direitos difusos e coletivos. 
Ex: um Promotor de Justiça e um Procurador da República divergem quanto à atribuição para a condução 
de inquérito civil que investiga suposto superfaturamento na construção de conjuntos habitacionais com 
recursos financeiros liberados pela Caixa Econômica Federal e oriundos do Fundo de Garantia do Tempo 
de Serviço (FGTS). A Procuradoria da República no Paraná entendeu que esta atribuição seria do Promotor 
de Justiça, mas o MPE discordou e considerou que a apuração seria do MPF, já que envolvia recursos 
oriundos da CEF (STF ACO 924). 
 
Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir qual dos dois 
órgãos irá atuar? 
Depende. Podemos identificar quatro situações diferentes: 
 
SITUAÇÃO 1 
Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça do Ministério Público de um mesmo Estado (ex: Promotor 
de Justiça de Iranduba/AM e Promotor de Justiça de Manaus/AM): 
Neste caso, a divergência será dirimida pelo respectivo Procurador-Geral de Justiça. Veja: 
 
Lei nº 8.625/93 
Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça: 
X - dirimir conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público, designando quem deva oficiar no 
feito; 
 
SITUAÇÃO 2 
Se o conflito se dá entre Procuradores da República (ex: um Procurador da República que oficia em 
Manaus/AM e um Procurador da República que atua em Boa Vista/RR): 
Nesta hipótese, o conflito será resolvido pela Câmara de Coordenação e Revisão (órgão colegiado do 
MPF), havendo possibilidade de recurso para o Procurador-Geral da República. Confira: 
 
LC 75/93 
Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão: 
VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal. 
 
Art. 49. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público Federal: 
VIII - decidir, em grau de recurso, os conflitos de atribuições entre órgãos do Ministério Público Federal; 
 
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SITUAÇÃO 3 
Se o conflito se dá entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União (ex: um 
Procurador da República e um Procurador do Trabalho): 
O conflito será resolvido pelo Procurador-Geral da República: 
 
LC 75/93 
Art. 26. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público da União: 
VII - dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União; 
 
SITUAÇÃO 4 
Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça de Estados diferentes (ex: Promotor de Justiça do 
Amazonas e Promotor de Justiça do Acre)? Se o conflito se dá entre um Promotor de Justiça e um 
Procurador da República (ex: Promotor de Justiça do Amazonas e Procurador da República que oficia em 
Manaus/AM)? 
 
Posição que era adotada pelo STF: 
Afirmava que este conflito de atribuições deveria ser dirimido pelo próprio STF. 
O Ministério Público é um órgão. Seus membros também são órgãos. Um Promotor de Justiça é um órgão 
estadual. Um Procurador da República é um órgão da União. 
Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes estavam divergindo sobre a atuação em uma causa, o 
que nós tínhamos era uma divergência entre dois órgãos de Estados diferentes. 
Se um Promotor de Justiça e um Procurador da República discordavam sobre quem deveria atuar no caso, 
o que nós tínhamos era uma dissonância entre um órgão estadual e um órgão federal. 
Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme previsto no art. 
102, I, "f", da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, 
inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Posição atual do STF: 
O STF alterou sua jurisprudência e passou a decidir que a competência para dirimir estes conflitos de 
atribuição é do Procurador-Geral da República. 
 
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir conflitos de atribuições 
entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais. 
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Segundo restou decidido, não cabe ao STF julgar conflitos de atribuição entre o Ministério Público Federal 
e os Ministérios Públicos dos estados. 
O argumento utilizado pelos Ministros foi no sentido de que a questão não é jurisdicional, e sim 
administrativa, e, por isso, a controvérsia deverá ser remetida ao Procurador-Geral da República. 
 
Mas o Procurador-Geral da República é o chefe do Ministério Público estadual? Ele tem ingerência sobre 
o MPE? 
NÃO. O Procurador-Geral da República é o chefe do Ministério Público da União (art. 128, § 1º da CF/88). 
O chefe de cada Ministério Público estadual é o seu respectivo Procurador-Geral de Justiça (art. 128, § 3º). 
Justamente por isso, a solução que foi adotada pelo STF sempre foi criticada pela doutrina. Confira, por 
todos, Eugênio Pacelli: 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
"Merece registro, por fim, que a tese no sentido de que poderia o Procurador-Geral da República resolver 
os citados conflitos de atribuições (entre membros de Ministérios Públicos diferentes), jamais foi acolhida. 
E, a nosso aviso, corretamente (a rejeição dela). 
É que o Procurador-Geral da República não ocupa qualquer posição (administrativa,funcional ou 
operacional) hierarquicamente superior aos Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados." (Curso de 
Processo Penal. 14ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 71). 
 
O que os Ministros argumentaram 
De acordo com o Ministro Luiz Fux, “a opinião do MPF sobrepõe-se à manifestação do MP estadual, assim 
como prevê a súmula 150 [do Superior Tribunal de Justiça - STJ], segundo a qual cabe ao juiz federal dizer 
se há ou não interesse da União em determinado processo”. O relator explicou que a aplicação dessa 
súmula do STJ se daria por analogia. 
Além disso, o Ministro afirmou que os conflitos de atribuição são uma questão interna da instituição. 
 
Por outro lado, as competências do STF e do STJ deteriam caráter taxativo, e em nenhuma delas estaria 
previsto dirimir os conflitos de atribuições em questão. Por fim, não se extrairia dessa situação conflito 
federativo apto a atrair a competência do STF. O Ministro Roberto Barroso reajustou seu voto. Vencido o 
Ministro Marco Aurélio, que conhecia do conflito e estabelecia a atribuição do MPF para proceder à 
investigação aventada. 
 
O Ministro Teori Zavascki explicou que esta é uma divergência estabelecida interna corporis numa 
instituição que a Constituição Federal subordina aos princípios de unidade e indivisibilidade. “Divergência 
dessa natureza não se qualifica como conflito federativo apto a atrair a incidência do artigo 102, parágrafo 
1º, letra “f”, da Constituição”, afirmou. Ainda de acordo com o Ministro, cumpre ao próprio Ministério 
Público, e não ao Judiciário, identificar e afirmar ou não as atribuições investigativas de cada um dos 
órgãos em face do caso concreto. 
 
O Ministro Dias Toffoli, por sua vez, sustentou que “o MP é uma instituição una e indivisível, e conta com 
um órgão central, o procurador-geral da República”. 
 
Assim, o PGR exerce a posição de chefe nacional do Ministério Público. O MP, apesar de ter suas 
atribuições separada entre distintos órgãos, é uma instituição una, nacional e indivisível. Quando os §§ 1º 
e 3º do art. 128 da CF/88 distribuem a chefia dos respectivos ramos do Ministério Público, o que eles 
pretendem é apenas fazer a ordenação administrativa, organizacional e financeira de cada um dos órgãos. 
Assim, não existe hierarquia entre os órgãos federais e estaduais do Ministério Público nacional. Contudo, 
é possível atribuir ao PGR a responsabilidade para dirimir os conflitos de atribuições. Vale ressaltar que, 
quando o PGR age assim, ele está atuando não como chefe do MPU, mas sim como órgão nacional do 
Ministério Público. 
 
A Constituição Federal outorgou ao Procurador-Geral da República algumas atribuições de caráter 
nacional, dentre elas as seguintes: 
• possibilidade de propor Ações Diretas de Inconstitucionalidade; 
• prerrogativa de escolher o representante dos Ministérios Públicos estaduais no Conselho Nacional de 
Justiça; e 
• legitimidade para apresentar ao STF pedidos de intervenção nos estados. 
 
Desse modo, percebe-se que a CF/88 conferiu ao PGR um status de representante nacional do Ministério 
Público. 
 
Volume de processos no STF 
A despeito do esforço teórico para justificar a decisão, o principal motivo pelo qual o STF decidiu atribuir 
ao PGR esta competência está relacionado a um aspecto bem mais pragmático: volume de processos. 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Eram inúmeros os conflitos de atribuição que chegavam ao STF todos os dias e a Corte simplesmente não 
tinha mais condições de julgá-los. 
Dessa forma, o STF abriu mão desta competência e a conferiu ao PGR por razões muito mais ligadas a 
política judiciária e à racionalização de suas competências enquanto Corte Constitucional. 
 
Novo entendimento vale tanto para conflitos entre MPE e MPF como também para conflitos entre 
Promotores de Estados diferentes 
Vale ressaltar que o caso apreciado pelo STF dizia respeito a um conflito de atribuições entre um 
Procurador da República e um Promotor de Justiça. No entanto, pelos debates entre os Ministros, 
percebe-se que a solução adotada vale também para os conflitos envolvendo Promotores de Justiça de 
Estados-membros diferentes. 
Por mais estranho que pareça, se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes divergirem quanto à 
atuação em um caso, este conflito de atribuições será dirimido pelo PGR. 
 
Resumindo: 
QUEM DECIDE O CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO? 
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 1 Procurador-Geral de Justiça do Estado 1 
MPF x MPF CCR, com recurso ao PGR 
MPU (ramo 1) x MPU (ramo 2) Procurador-Geral da República 
MPE x MPF Procurador-Geral da República 
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 2 Procurador-Geral da República 
 
Inexistência de vinculação para o Poder Judiciário 
Vale, por fim, uma observação. O Poder Judiciário não fica vinculado à decisão do PGR. 
Assim, suponhamos que, em um conflito de atribuições, o PGR afirme que a atribuição para investigar e 
denunciar o réu é do Procurador da República. 
Diante disso, o Procurador da República oferece denúncia na Justiça Federal. O Juiz Federal estará livre 
para reapreciar o tema e poderá entender que a competência não é da Justiça Federal, declinando a 
competência para a Justiça Estadual. Caso o Juiz de Direito concorde, seguirá no processamento do feito. 
Se discordar, deverá suscitar conflito de competência a ser dirimido pelo STJ (art. 105, I, "d", da CF/88). 
O certo é que a decisão do PGR produz efeitos vinculantes apenas interna corporis, sendo uma decisão de 
cunho administrativo, não vinculando os juízos que irão apreciar a causa. 
 
 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Constitucionalidade da EC 74/2013, que conferiu autonomia à DPU e à DPDF 
 
Importante!!! 
É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate sobre 
as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88. 
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao 
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60. 
Assim, a EC 74/2013, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito 
Federal, não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos 
poderes, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar. 
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
EC 45/2004 
A EC 45/2004 incluiu o § 2º ao art. 134 conferindo autonomia para as Defensorias Públicas ESTADUAIS. 
Veja o dispositivo que foi acrescentado: 
Art. 134 (...) 
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa 
de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e 
subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. 
 
Se você reparar bem, no entanto, verá que o § 2º somente fala em Defensorias Públicas Estaduais. A 
Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública do Distrito Federal não foram incluídas, de modo que, 
mesmo após a EC 45/2004, continuaram subordinadas ao Poder Executivo. 
 
EC 74/2013 
Desde 2004, a DPU lutou bastante para tentar adquirir sua autonomia, no entanto, nunca conseguiu 
convencer a Presidência da República a encaminhar ao Congresso Nacional uma PEC prevendo isso. 
Diante desse cenário, buscou-se outra estratégia: um grupo de Deputados Federais apresentou uma PEC 
alterando o texto constitucional e prevendo a autonomia para a DPU e a DPDF. Esta proposta foi aprovada 
em 2013, convertendo-se na EC 74/2013, que incluiu o § 3º ao art. 134 da CF/88 com a seguinte redação: 
Art. 134 (...) 
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal. 
 
ADI 5296/DFA DPU pensava que seus problemas tinham acabado, mas ainda havia um grande obstáculo a ser enfrentado. 
Em 10/04/2015, a então Presidente da República, Dilma Rousseff, ajuizou ADI no STF contra a EC 74/2013. 
O argumento invocado foi o de que a referida emenda tratou sobre o regime jurídico de servidores 
públicos da União, matéria que somente poderia ser discutida no Congresso Nacional se a iniciativa tivesse 
partido do Presidente da República, nos termos do art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88: 
Art. 61 (...) 
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: 
II - disponham sobre: 
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e 
aposentadoria; 
 
Segundo a ADI, apesar de o art. 61, § 1º falar em "leis", essa regra valeria também para "emendas 
constitucionais". Isso porque se fosse admitido que os parlamentares apresentassem emendas 
constitucionais tratando sobre os assuntos do art. 61, § 1º, seria uma forma de eles burlarem essa 
vedação. Seria algo do tipo: "como não podemos apresentar uma lei versando sobre tais assuntos, vamos 
trocar o instrumento e tratar sobre o tema por meio de emenda constitucional." 
Assim, a tese defendida na ação foi a de que a emenda constitucional que disponha sobre alguma das 
matérias listadas no art. 61, § 1º da CF/88 somente poderia ser proposta pelo Presidente da República. Por 
conta disso, a EC 74/2013 seria inconstitucional por vício de iniciativa. 
Além disso, segundo argumentou a Presidente da República, os parlamentares, ao proporem essa PEC 
concedendo autonomia à Defensoria Pública, teriam violado o princípio da separação dos poderes (art. 60, 
§ 4º, III). 
 
O STF, ao apreciar a medida cautelar, concordou com a tese defendida na ADI? A EC 74/2013 é 
inconstitucional por vício de iniciativa? 
NÃO. 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate sobre as 
matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88. 
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao processo de 
emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60. 
Assim, a EC 74/2013, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal, 
não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos poderes, mesmo tendo 
sido proposta por iniciativa parlamentar. 
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Quando a CF/88 prevê que determinados projetos de lei somente podem ser apresentados por alguns 
legitimados, ela não proíbe que tais temas sejam tratados por emenda constitucional iniciada por 
qualquer dos legitimados 
A CF/88 prevê reserva de iniciativa para a propositura de lei para os seguintes legitimados: 
 Presidente da República (art. 61, § 1º); 
 STF (art. 93); 
 Tribunais Superiores (art. 96, II); 
 Procurador-Geral da República (art. 128, § 5º). 
 
Assim, somente os legitimados acima podem propor leis dispondo sobre certos assuntos. Ex: um projeto 
de lei tratando sobre a forma de ingresso na carreira de juiz somente poderá ser proposto pelo STF (art. 
93, I). Os parlamentares não podem iniciar um projeto de lei dispondo sobre este assunto. Isso não 
significa, contudo, que tais temas não possam ser veiculados por meio de emenda constitucional. Seria 
possível, portanto, uma emenda constitucional versando sobre o ingresso na carreira de juiz. Não há 
nenhuma vedação nesse sentido. Exemplo disso foi a EC 45/2004, que tratou exatamente sobre esse tema 
e foi considerada constitucional pelo STF. 
 
Ao se constatar isso, percebe-se que o argumento invocado na ADI 5296 não é correto. Nesta ação 
sustentava-se que quando a CF/88 prevê iniciativa privativa para determinados legitimados, a proposta de 
emenda constitucional somente poderia ser feita por este legitimado. Ex: o art. 61, § 1º, II, "c" prevê que 
apenas o Presidente da República pode iniciar projeto de lei que trate sobre o regime jurídico dos 
servidores da União. Logo, para a ADI 5296, se o tema fosse tratado por meio de EC, esta proposta deveria 
ser encaminhada pelo Presidente da República. Ocorre que o rol de legitimados para a propositura de 
emendas à Constituição Federal é bem limitado e não abrange todos os legitimados que podem 
apresentar projetos de lei. 
 
A Constituição Federal elenca, em seu art. 60, o rol dos legitimados a propor emendas à CF/88: 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada 
uma delas, pela maioria relativa de seus membros. 
 
Repare que o STF não pode propor emendas à Constituição. Logo, se fôssemos admitir iniciativas privativas 
para EC, como os assuntos previstos no art. 93 da CF/88 poderiam ser tratados por meio de emenda 
constitucional? Já que o STF não pode apresentar propostas de emenda à Constituição, devemos concluir que 
há uma proibição de que os assuntos do art. 93 sejam objeto de emenda constitucional? O art. 93 se tornaria, 
portanto, uma cláusula pétrea? A resposta é, obviamente, não. Logo, deve-se permitir que os legitimados do 
art. 60 possam propor emendas à Constituição ainda que tratando sobre os assuntos do art. 93. 
De igual forma, deve-se permitir que qualquer dos legitimados do art. 60 possa propor emendas à 
Constituição Federal, ainda que dispondo sobre os assuntos do art. 61, § 1º, II, da CF/88. 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
EC 74/2013 não tratou sobre regime jurídico de servidores públicos 
Vale ressaltar, ainda, que o assunto veiculado na EC 74/2013 não se enquadra no art. 61, § 1º, II, "c", da 
CF/88 considerando que esta emenda não tratou sobre regime jurídico de servidores públicos da União. 
Ela dispôs sobre a Defensoria Pública como instituição, ou seja, sobre sua autonomia. 
Logo, ainda que fosse acolhida a tese central da ADI, mesmo assim não haveria inconstitucionalidade na EC 
74/2013 por violação ao art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88. 
 
Não houve violação ao princípio da separação dos Poderes 
A EC 74/2013, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar, não violou o princípio da separação 
dos Poderes. Isso porque não existe, no âmbito no federal, reserva de iniciativa em se tratando de 
emendas constitucionais. 
O STF entendeu também que a EC 74/2013 não violou os limites materiais do art. 60, § 4º, da CF/88. 
O Tribunal afirmou que, em diversas oportunidades, já analisou a autonomia das Defensorias Públicas 
estaduais introduzida pela EC 45/2004 no § 2º do art. 134 da CF/88 sem que houvesse qualquer indício de 
inconstitucionalidade. 
Assim, a concessão de autonomia às Defensorias Públicas não viola a ordem constitucional. Pelo contrário, 
essa medida é importante para o aperfeiçoamento do próprio sistema democrático. Isso porque a 
assistência jurídica aos hipossuficientes é direito fundamental como forma de amplo acesso à justiça. Além 
disso, essa arquitetura institucional encontra respaldo em práticas recomendadas pela comunidade 
jurídica internacional, a exemplo do estabelecido na Assembleia Geral da Organização dos Estados 
Americanos. 
 
Tratamento análogo ao Ministério Público 
O Min. Roberto Barroso considerou legítimo reconhecer-se autonomia funcional e administrativa à Defensoria 
Pública. Segundo ele, a ideia de autonomia está relacionada, primordialmente, aos Poderes do Estado. No 
entanto, a CF/88 abriu uma exceção e estendeu essa prerrogativa ao Ministério Público, instituição que é 
equiparada a um Poder. Da mesma forma,a Defensoria Pública não é um Poder, mas é razoável conceder-lhe 
tratamento análogo ao que foi dado ao Ministério Público. 
Assim, para o Ministro, é possível conceder autonomia à Defensoria Pública com base em três razões principais: 
a) a Defensoria Pública e o Ministério Público são partes antagônicas no processo penal, de modo que 
devem ser equiparadas para que haja paridade de armas no tratamento dos hipossuficientes; 
b) no caso da Defensoria Pública da União, seu principal adversário é a União, detentora dos recursos 
buscados pelas partes, de maneira que é necessário proteger a instituição no seu mister de defender 
interesses públicos primários; e 
c) a assistência jurídica aos hipossuficientes é direito fundamental (art. 5º, LXXIV, da CF/88). 
 
Toda e qualquer instituição ligada ao Poder Executivo pode se tornar autônoma por meio de emenda 
constitucional de iniciativa parlamentar? 
NÃO. Durante os debates, a Min. Relatora Rosa Weber e alguns outros afirmaram que a decisão acima não 
significa que toda e qualquer instituição vinculada ao Poder Executivo possa adquirir autonomia por meio 
de emendas constitucionais propostas por iniciativa parlamentar. A depender do caso concreto, isso 
poderá sim configurar uma violação ao princípio da separação dos Poderes (art. 60, § 4º, III, da CF/88). No 
caso da Defensoria Pública não há essa afronta porque as atribuições da Instituição não possuem 
vinculação direta com a essência da atividade executiva e pelos três motivos já explicados acima. 
 
Votos vencidos 
A decisão foi por maioria e ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio. 
 
Medida cautelar 
Vale ressaltar que ainda só foi julgado o pedido de medida cautelar. Apesar disso, é extremamente 
provável que o STF mantenha o mesmo entendimento quando houver o julgamento definitivo da ação. 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
No âmbito estadual, a conclusão é a mesma acima exposta? Os Deputados Estaduais podem apresentar 
emendas constitucionais tratando sobre os assuntos previstos no art. 61, § 1º da CF/88? 
NÃO. O STF entende que se houver uma emenda à Constituição ESTADUAL tratando sobre algum dos 
assuntos listados no art. 61, § 1º, da CF/88 (adaptados, por simetria, ao âmbito estadual), essa emenda deve 
ser proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é incabível que os Deputados Estaduais proponham uma 
emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico dos servidores públicos, por exemplo (art. 61, § 1º, 
II, “c”). Se isso fosse permitido, seria uma forma de burlar a regra do art. 61, § 1º, da CF/88. 
Em suma, “matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional 
de origem parlamentar” (STF. Plenário. ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/04/2005). 
Assim, se for proposto um projeto de lei tratando sobre servidores públicos do Poder Executivo estadual, 
este projeto deverá ser apresentado pelo Governador do Estado, por força do art. 61, § 1º, II, “c”, da 
CF/88, que é aplicado ao âmbito estadual, por força da simetria. 
Com base nisso, será inconstitucional emenda constitucional, de iniciativa parlamentar, que insira na 
Constituição Estadual dispositivo versando sobre servidores públicos estaduais. Isso porque seria uma 
forma de os Deputados Estaduais burlarem a vedação do art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88. 
Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774). 
Dessa forma, o poder das Assembleias Legislativas de emendar Constituições Estaduais não pode avançar 
sobre temas cuja reserva de iniciativa é do Governador do Estado. 
 
Quadro-resumo: 
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que, em caso de 
propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, 
da CF/88)? 
 Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM. 
 Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO. 
 
Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à 
Constituição Estadual? 
O poder constituinte estadual não é originário. É poder constituído, cercado por limites mais rígidos do que o 
poder constituinte federal. A regra da simetria é um exemplo dessa limitação. Por essa razão, as Assembleias 
Legislativas se submetem a limites mais rigorosos quando pretendem emendar as Constituições Estaduais. 
Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando sobre os assuntos 
do art. 61, § 1º, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria regra da Constituição Federal. 
 
 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Inconstitucionalidade de lei estadual que atribua ao Governador 
competências administrativas na Defensoria Pública 
 
Importante!!! 
É inconstitucional lei estadual que atribui ao chefe do Poder Executivo estadual competências 
administrativas no âmbito da Defensoria Pública. 
Assim, viola o art. 134, § 2º da CF/88 a lei estadual que preveja que compete ao Governador: 
a) a nomeação do Subdefensor Público-Geral, do Corregedor-Geral, dos Defensores Chefes e do 
Ouvidor da Defensoria Pública estadual; 
b) autorizar o afastamento de Defensores Públicos para estudos ou missão; 
c) propor, por meio de lei de sua iniciativa, o subsídio dos membros da Defensoria Pública. 
Obs: tais competências pertencem ao Defensor Público-Geral do Estado. 
STF. Plenário. ADI 5286/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE A AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA 
Autonomia funcional, administrativa e iniciativa de elaboração da proposta orçamentária 
A EC nº 45/2004 deu um importante passo na valorização das Defensorias Públicas estaduais ao prever 
que a elas deveriam ser asseguradas autonomia funcional e administrativa, além da iniciativa própria para 
a elaboração de suas propostas orçamentárias. 
Veja o que diz o § 2º ao art. 134, inserido pela referida emenda: 
Art. 134 (...) § 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa 
e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes 
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela EC 45/2004) 
 
Vale ressaltar que a Defensoria Pública da União (e a do Distrito Federal) também passaram a gozar dessas 
autonomias a partir da EC nº 74/2013, que acrescentou o § 3º do art. 134 da CF/88. 
 
Autonomia funcional 
É a prerrogativa assegurada aos Defensores Públicos de, no exercício de suas funções, não estarem 
subordinados tecnicamente a ninguém, devendo atuar de acordo com seu convencimento técnico-jurídico 
e sempre no interesse do assistido, respeitando, obviamente, as leis e a Constituição Federal. 
 
Autonomia administrativa 
Consiste na garantia conferida à Defensoria Pública de que ela própria é quem irá se governar, tomando as 
decisões administrativas, sem necessidade de autorização prévia ou ratificação posterior por parte de 
outros órgãos ou entidades. 
 
Iniciativa própria para a elaboração de suas propostas orçamentárias 
É a própria Defensoria Pública quem, dentro dos limites estabelecidos na LDO, decide qual será a proposta 
de seu orçamento que será encaminhada ao Parlamento para lá ser votada. 
Vale ressaltar que a Defensoria Pública não envia a sua proposta orçamentária diretamente para a 
Assembleia Legislativa ou para o Congresso Nacional. O que a CF/88 prevê é que a Defensoria Pública irá 
aprovar a sua proposta orçamentária e encaminhá-la ao chefe do Poder Executivo. Este irá consolidar, ou 
seja, reunir em um único projeto de Lei Orçamentária, as propostas orçamentárias doExecutivo, do 
Judiciário, do MP e da Defensoria, encaminhando o projeto para ser apreciado pelo Poder Legislativo. 
Aplica-se aqui o mesmo raciocínio previsto no art. 99, § 2º da CF/88: 
Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. 
§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente 
com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. 
§ 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: 
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a 
aprovação dos respectivos tribunais; 
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, 
com a aprovação dos respectivos tribunais. 
 
O STF analisou três leis estaduais que foram impugnadas sob a alegação de que teriam violado a 
autonomia da Defensoria Pública. Vejamos o que foi decidido: 
 
LEI ESTADUAL QUE ATRIBUI AO GOVERNADOR COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS NA DEFENSORIA PÚBLICA 
No Amapá, foi editada a LC 86/2014 dispondo sobre a estrutura da Defensoria Pública do Estado. 
Esta Lei previa, dentre outros temas, que: 
 O Subdefensor Público-Geral, o Corregedor-Geral e o Ouvidor da Defensoria Pública estadual deverão 
ser nomeados pelo Governador do Estado; 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 Os Defensores Públicos chefes das unidades também serão nomeados pelo Governador; 
 O afastamento para estudo ou missão, no interesse da Defensoria Pública do Estado, será autorizado 
pelo Governador do Estado. 
 O subsídio dos membros da Defensoria Pública será fixado por meio de lei de iniciativa do Governador 
do Estado. 
 
Tais dispositivos da LC estadual 86/2014, do Amapá, foram impugnados por meio de ADI. O que decidiu 
o STF? As previsões acima são inconstitucionais? 
SIM. 
 
Vejamos cada um dos dispositivos declarados inconstitucionais: 
 
Nomeação do Subdefensor Público-Geral, do Corregedor-Geral, dos Defensores Chefes e do Ouvidor 
A lei estadual, ao atribuir competência ao Governador do Estado para nomear ocupantes de cargos 
essenciais na estrutura da Defensoria Pública estadual, violou a autonomia administrativa do órgão. 
Além disso, houve afronta à Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública (Lei Complementar 80/94). Isso 
porque a LC nacional estabelece que os ocupantes de tais cargos deverão ser nomeados pelo próprio 
Defensor Público-Geral (art. 99, § 1º, art. 104 e art. 105-B, § 2º). 
A lei estadual, ao tratar sobre o tema de forma diferente da LC nacional, além de violar a autonomia da 
Defensoria Pública, contrariou também o art. 24, XIII, da CF/88, que prevê que é concorrente a competência 
para legislar sobre a Defensoria Pública, cabendo, no entanto, à União fixar as normas gerais. Veja: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
XIII - assistência jurídica e Defensoria Pública; 
(...) 
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. 
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar 
dos Estados. 
 
Assim, os Estados podem legislar sobre a Defensoria Pública, mas apenas para suplementar as normas 
gerais fixadas pela União, sem contrariá-las (art. 24, §§ 1º e 2º, da CF/88). 
Como decorrência da autonomia administrativa, cabe ao próprio Defensor Público-Geral a nomeação dos 
Defensores Públicos que ocuparão as funções de chefes das unidades de atendimento. 
 
Afastamento para estudo ou missão 
A competência para autorizar o afastamento de Defensores Públicos para estudos ou missão não pode 
ficar a cargo do Governador do Estado, sob pena de haver indevida ingerência na autonomia 
administrativa da Instituição. 
 
Iniciativa da lei do subsídio dos Defensores 
O projeto de lei tratando sobre o subsídio dos membros da Defensoria Pública, ao contrário do que previu 
a Lei do AP, deverá ser encaminhado à Assembleia por iniciativa do Defensor Público-Geral. 
A prerrogativa de encaminhar diretamente o projeto de lei é uma decorrência da autonomia da 
Instituição, prevista no § 2º do art. 134 da CF/88. 
 
Outras considerações 
Segundo ponderou o Min. Luiz Fux, para que se efetive a garantia constitucional do acesso à justiça é 
necessário que sejam fornecidos instrumentos processuais idôneos à tutela dos bens jurídicos protegidos 
pelo direito positivo. Nesse sentido, a Constituição atribui ao Estado o dever de prestar assistência jurídica 
integral aos necessitados. Assim, a Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do 
Estado, representa verdadeira essencialidade do Estado de Direito. 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Resumindo: 
É inconstitucional lei estadual que atribui ao chefe do Poder Executivo estadual competências 
administrativas no âmbito da Defensoria Pública. 
Assim, viola o art. 134, § 2º da CF/88 a lei estadual que preveja que compete ao Governador do Estado: 
a) a nomeação do Subdefensor Público-Geral, do Corregedor-Geral, dos Defensores Chefes e do Ouvidor 
da Defensoria Pública estadual; 
b) autorizar o afastamento de Defensores Públicos para estudos ou missão; 
c) propor, por meio de lei de sua iniciativa, o subsídio dos membros da Defensoria Pública. 
Obs: tais competências pertencem ao Defensor Público-Geral do Estado. 
STF. Plenário. ADI 5286/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Governador não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria elaborada de acordo com a LDO 
 
Importante!!! 
Governador do Estado, ao encaminhar para a Assembleia Legislativa o projeto de lei 
orçamentária, não pode reduzir a proposta orçamentária elaborada pela Defensoria Pública e 
que estava de acordo com a LDO. 
Há, neste caso, violação ao § 2º do art. 134 da CF/88. 
Assim, é inconstitucional a redução unilateral pelo Poder Executivo dos orçamentos propostos 
pelos outros Poderes e por órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público 
e a Defensoria Pública, na fase de consolidação do projeto de lei orçamentária anual, quando 
tenham sido elaborados em obediência às leis de diretrizes orçamentárias e enviados 
conforme o art. 99, § 2º, da CF/88. 
Caso o Governador do Estado discorde da proposta elaborada, ele poderá apenas pleitear ao 
Poder Legislativo a redução pretendida, visto que a fase de apreciação legislativa é o momento 
constitucionalmente correto para o debate de possíveis alterações no projeto de lei 
orçamentária. Não pode, contudo, já encaminhar o projeto com a proposta alterada. 
STF. Plenário. ADI 5287/PB, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
A Defensoria Pública do Estado da Paraíba elaborou sua proposta orçamentária e a encaminhou ao 
Governador. 
Na proposta, era previsto que seriam destinados R$ 90 milhões para as despesas da Defensoria Pública. 
Ressalte-se que esse valor foi calculado com base na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que dizia que o 
limite para a elaboração da proposta orçamentária da Defensoria Pública seria o montante fixado na Lei 
Orçamentária do ano anterior, acrescido da variação do IPCA. 
 
Redução dos valores por parte do Governador do Estado 
O Governador do Estado, ao encaminhar o projeto de lei orçamentária para o ano, reduziu a proposta 
orçamentária da Defensoria Pública de R$ 90 para R$ 50 milhões. 
A lei orçamentária foi aprovada com esse novo valor reduzido para a Instituição 
 
ADI proposta pela ANADEP 
Diante disso, a Associação Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP) ajuizou ADI contra essa lei, 
afirmando que a mudança representou violação à autonomiaorçamentária da Defensoria, garantida pelo 
art. 134, § 2º, da CF/88. 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
O pedido da ADI foi acolhido? A lei aprovada é inconstitucional? 
SIM. 
 
O STF julgou a ADI procedente para declarar a inconstitucionalidade da lei aprovada apenas quanto à parte 
em que fixada a dotação orçamentária à Defensoria Pública estadual, em razão da prévia redução 
unilateral. 
 
Governador do Estado, ao encaminhar para a Assembleia Legislativa o projeto de lei orçamentária, não pode 
reduzir a proposta orçamentária elaborada pela Defensoria Pública e que estava de acordo com a LDO. 
Há, neste caso, violação ao § 2º do art. 134 da CF/88. 
Assim, é inconstitucional a redução unilateral pelo Poder Executivo dos orçamentos propostos pelos 
outros Poderes e por órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a Defensoria 
Pública, na fase de consolidação do projeto de lei orçamentária anual, quando tenham sido elaborados 
em obediência às leis de diretrizes orçamentárias e enviados conforme o art. 99, § 2º, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5287/PB, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
As Defensorias Públicas têm a prerrogativa de elaborar e apresentar suas propostas orçamentárias, as 
quais devem, posteriormente, ser encaminhadas ao Executivo. Há apenas dois requisitos para tanto: 
a) a proposta orçamentária deve ser elaborada em consonância com o que previsto na respectiva LDO; e 
b) a proposta deve ser encaminhada em conformidade com a previsão do art. 99, § 2º, da CF/88. 
 
A apreciação das leis orçamentárias deve se dar perante o órgão legislativo correspondente (no caso, a 
Assembleia Legislativa), ao qual cabe deliberar sobre a proposta apresentada, fazendo-lhe as modificações 
que julgue necessárias. 
 
A redução proporcionada pelo Governador implicou violação à autonomia da Defensoria Pública? 
SIM. A proposta orçamentária elaborada pela Defensoria e encaminhada ao Governador do Estado estava 
de acordo com a LDO. No entanto, ao consolidar o projeto de Lei Orçamentária Anual, enviando-o à 
Assembleia Legislativa, o Governador reduziu a proposta formulada pela Defensoria. 
O corte representou drástica redução da proposta de orçamento da Instituição. 
Estando a proposta orçamentária da Defensoria compatível com os limites estabelecidos na LDO, nos 
termos do art. 134, § 2º, da CF/88, não era dado ao Chefe do Poder Executivo, de forma unilateral, reduzi-
la, ao consolidar o projeto de lei orçamentária anual. 
Tal conduta constitui inegável desrespeito à autonomia administrativa da instituição, além de ingerência 
indevida no estabelecimento de sua programação administrativa e financeira. 
 
Ao receber a proposta orçamentária da Defensoria, caso o Governador entendesse que as despesas ali 
previstas estavam muito elevadas, ele poderia tomar alguma providência? 
SIM, mas essa providência não era a redução unilateral dos valores, como foi feito. 
Caso o Governador entendesse que o orçamento da Defensoria estava com números incompatíveis com as 
capacidades atuais do Estado, ele deveria encaminhar o projeto de Lei Orçamentária Anual à Assembleia 
Legislativa, com a proposta orçamentária da Defensoria na íntegra (como órgão autônomo e nos valores 
por ela aprovados) e, a partir daí, pleitear, de forma democrática e plural, junto ao Poder Legislativo que 
promovesse as reduções orçamentárias na proposição da Instituição. No Parlamento, após as discussões 
pertinentes, poderiam (ou não) ser aprovadas as reduções sugeridas. 
 
 
 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88 
 
Importante!!! 
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 
20 de cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados, pela lei 
orçamentária, à Defensoria Pública estadual. 
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
A lei orçamentária anual do Estado do Piauí foi aprovada e nela previsto o orçamento da Defensoria Pública. 
Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava cumprindo seu dever de repassar os recursos 
correspondentes às dotações orçamentárias da Defensoria Pública em duodécimos mensais. 
Diante disso, a ANADEP ajuizou arguição de descumprimento de preceito fundamental pedindo que o 
Poder Executivo estadual fosse obrigado a efetuar os repasses. 
 
O STF acolheu o pedido feito na ADPF? 
SIM. 
 
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de 
cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados, pela lei orçamentária, à Defensoria 
Pública estadual. 
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
A Defensoria Pública goza de autonomia funcional e administrativa, bem como da prerrogativa de 
formular a sua proposta orçamentária (art. 134, § 2º, da CF/88). 
 
O repasse de recursos correspondentes, destinados à Defensoria Pública, ao Judiciário, ao Legislativo e ao 
Ministério Público, sob a forma de duodécimos, é imposição constitucional, devendo ser efetuada até o 
dia 20 de cada mês, conforme previsto no art. 168 da CF/88: 
Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos 
suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério 
Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma 
da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. 
 
O repasse de duodécimos destinados ao Poder Público, quando retidos pelo Governo, constitui prática 
indevida de flagrante violação aos preceitos fundamentais da Constituição. 
 
No caso concreto, o instrumento processual utilizado (ADPF) foi correto? 
SIM. Em caso de descumprimento do dever previsto no art. 168 da CF/88, a jurisprudência do STF entende 
que cabe a impetração de mandado de segurança. No entanto, o MS só poderia ser manejado pelo 
Defensor Público-Geral enquanto titular da Instituição (STF MS 21291 AgR-QO), e não pela ANADEP, que 
não tem legitimidade para o writ, considerando que nenhum direito líquido e certo da associação está 
sendo violado. 
Assim, como a ANADEP não pode impetrar MS, resta apenas o ajuizamento da ADPF, sendo preenchido, 
portanto, o requisito da subsidiariedade (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99). 
 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Participação da Defensoria na discussão da LDO 
 
Importante!!! 
É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a 
participação da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias. 
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar com a 
participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do orçamento anual 
que será destinado à Instituição. 
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Situação concreta 
A Associação Nacional de Defensores Públicos (ANADEP) ajuizou ADI questionando a Lei de Diretrizes 
Orçamentárias (LDO) do Estado do Paraná para o exercício financeiro de 2016, sob a alegação de que a 
norma reduziu em quase 70% o orçamento da Defensoria Pública. O valor do ano anterior era de R$ 140 
milhões e foi diminuído para R$ 45 milhões. 
 
Inconstitucionalidade formal por falta de participação da Defensoria Pública nos debates da LDO 
O STFdeferiu medida cautelar para suspender, até julgamento final, a eficácia do art. 7º, § 2º, da Lei 
18.532/2015 do Estado do Paraná, dispositivo no qual estava previsto o valor destinado à Defensoria Pública. 
Segundo decidiu o STF, existe inconstitucionalidade formal na lei. Isso porque a redução do orçamento da 
Defensoria Pública foi aprovada sem que a Instituição tivesse tido a oportunidade de discutir a proposta 
com os demais Poderes. 
 
Onde está previsto que a Defensoria Pública deverá participar das discussões da LDO? 
No § 1º do art. 99 da CF/88, que prevê o seguinte: 
Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. 
§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente 
com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. 
 
Conforme entendeu o STF, apesar desse dispositivo falar apenas no Poder Judiciário ("Os Tribunais 
elaboração suas propostas orçamentárias..."), a referida regra deverá também ser aplicada para as 
Defensorias Públicas. Nas palavras do Min. Roberto Barroso, "se, então, a participação dos tribunais na 
fixação dos limites aos seus orçamentos decorre da sua própria autonomia financeira, não há razão para 
não reconhecer também à Defensoria Pública o direito de estipular, conjuntamente com os demais 
Poderes, os limites para a proposta de seu próprio orçamento na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Isto 
porque o constituinte reconheceu também às Defensorias Públicas a mesma autonomia financeira 
conferida aos demais Poderes e ao Ministério Público, assim como a prerrogativa de propor seu próprio 
orçamento. (...) Embora o art. 134, § 2º, determine a subordinação da prerrogativa conferida à Defensoria 
Pública de propor seu próprio orçamento ao art. 99, § 2º, parece fora de dúvida que se trata de um erro 
material. A remissão correta, como corolário da própria autonomia financeira, é ao § 1º do art. 99." 
 
Desse modo, assim como ocorre com os Tribunais: 
É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a participação 
da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias. 
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar com a 
participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do orçamento anual que será 
destinado à Instituição. 
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
CRIMES ELEITORAIS 
Candidato que recebe ordem para não entrar na repartição pública para pedir votos não comete 
desobediência se ingressa no local para fiscalizar o adversário 
 
Não comete crime de desobediência eleitoral o candidato que, proibido de ingressar em 
órgãos públicos com o intuito de realizar atos inerentes à campanha eleitoral, adentra nos 
prédios da Administração Pública para filmar e fotografar fiscalizando se o então Prefeito, seu 
adversário, estava praticando ilícitos eleitorais. 
STF. 2ª Turma. Inq 3909/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
João era candidato a Prefeito. 
O juiz eleitoral determinou que João estava proibido de entrar nos prédios onde funcionavam as 
repartições públicas municipais com o intuito de realizar atos inerentes à campanha eleitoral, sob pena de 
responder por crime de desobediência (art. 347 do Código Eleitoral). 
João foi devidamente intimado acerca dessa ordem. 
Ocorre que determinado dia, ele recebeu a informação de que Pedro, então Prefeito e seu adversário 
político, estava cooptando servidores municipais para que participassem de seus comícios nos horários de 
expediente. 
Com a finalidade de checar essas informações, João deslocou-se até as repartições públicas municipais 
para filmar e fotografar os servidores que estivessem ali trabalhando e confirmar que muitos deles 
estavam ausentes. 
O magistrado entendeu que João havia descumprido sua ordem e João foi denunciado pelo Ministério 
Público pela prática do crime de desobediência eleitoral. 
Como João foi diplomado Deputado Federal, a competência para julgá-lo passou a ser do STF. 
 
João cometeu crime? 
NÃO. 
 
Não comete crime de desobediência eleitoral o candidato que, proibido de ingressar em órgãos públicos 
com o intuito de realizar atos inerentes à campanha eleitoral, adentra nos prédios da Administração 
Pública para filmar e fotografar fiscalizando se o então Prefeito, seu adversário, estava praticando 
ilícitos eleitorais. 
STF. 2ª Turma. Inq 3909/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
O réu não agiu com o objetivo de pedir votos ou de praticar qualquer outra manifestação que pudesse ser 
enquadrada como ato de campanha eleitoral. A conduta em questão foi um ato de fiscalização da 
Administração Pública, ainda que praticado em persecução aos interesses eleitorais do grupo ao qual o 
denunciado era vinculado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Execução de honorários sucumbenciais e fracionamento 
 
Atualize o Info 812-STF 
Imagine que 30 pessoas, em litisconsórcio ativo facultativo, propuseram uma ação ordinária 
contra determinada autarquia estadual. Desse modo, 30 pessoas que poderiam litigar 
individualmente contra a ré, decidiram se unir e contratar um só advogado para propor a ação 
conjuntamente. A ação foi julgada procedente, condenando a entidade a pagar "XX" reais ao 
grupo de 30 pessoas. Na mesma sentença, a autarquia foi condenada a pagar R$ 600 mil reais 
de honorários advocatícios sucumbenciais ao advogado dos autores que trabalhou no 
processo. O advogado dos autores, quando for cobrar seus honorários advocatícios, terá que 
executar o valor total (R$ 600 mil) ou poderá dividir a cobrança de acordo com a fração que 
cabia a cada um dos clientes (ex: eram 30 autores na ação; logo, ele poderá ingressar com 30 
execuções cobrando R$ 20 mil em cada)? 
 SIM. É legítima a execução de honorários sucumbenciais proporcional à respectiva fração 
de cada um dos substituídos processuais em "ação coletiva" contra a Fazenda Pública (STF. 
1ª Turma. RE 919269 AgR/RS, RE 913544 AgR/RS e RE 913568 AgR/RS, Rel. Min. Edson 
Fachin, julgados em 15/12/2015. Info 812). 
 NÃO. Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo 
facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do 
precatório (STF. 2ª Turma. RE 949383 AgR/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 
17/5/2016. Info 826). É a corrente que prevalece. 
STF. 2ª Turma. RE 949383 AgR/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
30 pessoas, em litisconsórcio ativo facultativo, propuseram uma ação ordinária contra determinada 
autarquia estadual. 
Desse modo, 30 pessoas que poderiam litigar individualmente contra a ré, decidiram se unir e contratar 
um só advogado para propor a ação conjuntamente. 
A ação foi julgada procedente, condenando a entidade a pagar "XX" reais ao grupo de 30 pessoas. 
Na mesma sentença, a autarquia foi condenada a pagar R$ 600 mil reais de honorários advocatícios 
sucumbenciais ao advogado dos autores que trabalhou no processo. 
 
O advogado dos autores, quando for cobrar seus honorários advocatícios, terá que executar o valor total 
(R$ 600 mil) ou poderá dividir a cobrança de acordo com a fração que cabia a cada um dos clientes (ex: 
eram 30 autores na ação; logo, ele poderá ingressar com 30 execuções cobrando R$ 20 mil em cada)? 
O STF está divididosobre o tema: 
1ª Turma: SIM 2ª Turma: NÃO 
 
É legítima a execução de honorários 
sucumbenciais proporcional à respectiva fração 
de cada um dos substituídos processuais em 
"ação coletiva" contra a Fazenda Pública. 
STF. 1ª Turma. RE 919269 AgR/RS, RE 913544 
AgR/RS e RE 913568 AgR/RS, Rel. Min. Edson 
Fachin, julgados em 15/12/2015 (Info 812). 
 
Não é possível fracionar o crédito de honorários 
advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo 
simples em execução contra a Fazenda Pública 
por frustrar o regime do precatório. 
STF. 2ª Turma. RE 949383 AgR/RS, Rel. Min. 
Cármen Lúcia, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Dessa forma, o advogado poderá ingressar com 30 
execuções cobrando R$ 20 mil em cada. Isso, para 
ele, será mais vantajoso no caso concreto porque 
se ele cobrasse o valor total teria que entrar na fila 
dos precatórios (art. 100, caput, da CF/88). Como 
o valor de cada crédito agora é de R$ 20 mil, ele 
poderá receber a quantia por requisição de 
pequeno valor (art. 100, § 3º, da CF/88), de modo 
muito mais rápido. 
A 1ª Turma afirmou que o sistema processual 
possibilita a concentração das demandas por meio 
de ações conjuntas como uma forma de se buscar 
a eficiência da jurisdição. Logo, seria totalmente 
contraproducente (prejudicial) exigir que a 
execução dessas demandas ficasse vinculada ao 
todo, proibindo a execução facultativa e 
individualizada das partes substituídas no 
processo original. Isso levaria ao enfraquecimento 
do movimento de coletivização das demandas de 
massa e provavelmente geraria proliferação de 
processos, pois nada impediria que os advogados 
fracionassem os litisconsórcios facultativos para 
depois executarem os honorários de forma 
proporcional ao valor principal de cada cliente. 
 
O julgado acima fala em "ação coletiva" e 
"substituídos". Estas expressões foram 
literalmente empregadas na notícia do julgado 
contida no informativo 812. Por essa razão, para 
fins de concurso, a frase pode ser cobrada 
exatamente desse modo. No entanto, devo fazer 
um alerta: o caso concreto, em minha opinião, não 
havia uma "ação coletiva", mas sim uma ação 
individual com vários litisconsortes ativos. 
Esclareço esse ponto para que você não estranhe 
se ler essa diferenciação em algum livro ou para 
que saiba responder caso seja feita uma pergunta 
na prova com base na doutrina. Veja o que dizem 
Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr.: 
"O exercício conjunto da ação por pessoas distintas 
não configura uma ação coletiva. O cúmulo de 
diversos sujeitos em um dos pólos da relação 
processual apenas daria lugar a um litisconsórcio (...) 
O litisconsórcio representa apenas (...) a 
possibilidade de união de litigantes, ativa ou 
passivamente, na defesa de seus direitos subjetivos 
individuais." (Curso de Direito Processual Civil. Vol. 4, 
Salvador: Juspodivm, 2013, p. 32). 
 
A 2ª Turma do STF afirmou que, na situação dos 
autos, a parte recorrente pretendia promover a 
execução dos honorários advocatícios, não apenas 
de forma autônoma do débito principal, mas 
também de forma fracionada, levando-se em 
conta o número de litisconsortes ativos. No 
entanto, como a verba honorária pertence a um 
mesmo titular, seu pagamento de forma 
fracionada, por requisição de pequeno valor (RPV), 
encontra óbice no art. 100, § 8º, da CF/88. 
 
Em acréscimo, o Ministro Teori Zavascki afirmou 
que a existência de litisconsórcio facultativo não 
pode ser utilizada para justificar a legitimidade do 
fracionamento da execução dos honorários 
advocatícios sucumbencias se a condenação à 
verba honorária no título executivo for global, ou 
seja, se buscar remunerar o trabalho em conjunto 
prestado aos litisconsortes. 
 
O fato de o valor da condenação previsto no título 
executivo judicial (sentença) abranger, na 
realidade, diversos créditos, de titularidade de 
diferentes litisconsortes, não tem o condão de 
transformar a verba honorária em múltiplos 
créditos devidos a um mesmo advogado, de modo 
a justificar sua execução de forma fracionada. 
 
Em outras palavras, o fato de terem sido vários 
autores e de cada um deles ter direito a uma parte 
na condenação não faz com que o valor dos 
honorários também possa ser dividido. Isso 
porque o titular do crédito de honorários é um só. 
Além disso, os honorários advocatícios gozam de 
autonomia em relação ao crédito principal, e com 
ele não se confunde. 
 
Esta é a corrente que prevalece no STF, havendo 
até mesmo decisão da 1ª Turma no mesmo 
sentido. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. RE 502656 
AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 
25/11/2014. 
 
Penso que esta posição é que irá prevalecer ao 
final quando o Plenário enfrentar o tema. 
 
 
 
 
 
 
Informativo 826-STF (27/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
 
DIREITO PENAL 
 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Empréstimos consignados retidos pelo Município e dinheiro utilizado para 
pagamento de despesas da Administração, sem repasse ao banco mutuante 
 
Diversos servidores municipais tinham empréstimos consignados cujos valores eram 
descontados da folha de pagamento. O Prefeito ordenou que fosse feita a retenção, mas que 
tais valores não fossem repassados à instituição e sim gastos com o pagamento de despesas do 
Município. Isso foi feito no último ano do mandato do Prefeito, quando não havia mais 
recursos para pagar o banco, o que só foi feito no mandato seguinte. 
O STF entendeu que, nesta situação, restou configurada a prática de dois delitos: arts. 312 e 
359-C do Código Penal. 
STF. 1ª Turma. AP 916/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Diversos servidores tinham empréstimos consignados cujos valores eram descontados da folha de 
pagamento. Assim, a obrigação do Município era a de reter mensalmente a quantia necessária ao 
pagamento do empréstimo e repassá-la ao banco mutuante. 
Ocorre que, em determinado mês, o Prefeito ordenou que fosse feita a retenção, mas que tais valores não 
fossem repassados à instituição e sim gastos com o pagamento de despesas do Município. 
 
Ao fazer isso, o Prefeito praticou algum crime? Qual? 
Peculato-desvio, delito previsto no art. 312 do CP: 
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou 
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
 
O STF entendeu que ficou configurado o crime de peculato-desvio, uma vez que o Município era mero 
depositário dos recursos, que não eram receita pública, e deu destinação diversa a essa quantia. 
 
A defesa argumentou que depois de alguns anos houve o pagamento integral da quantia ao banco, de 
forma que este não teve prejuízo. Isso serve para descaracterizar o crime? 
NÃO. A consumação o crime de peculato-desvio ocorreu no momento que houve a destinação diversa do 
dinheiro que estava sob a posse do agente. Não importa que, ao final, não tenha havido a obtenção 
material de proveito próprio ou alheio. 
Assim, a consumação, no caso em comento, deu-se com a falta de transferência dos valores retidos na 
fonte dos servidores municipais ao banco detentor do crédito. Com isso, houve a alteração do destino da 
aplicação dos referidos valores. 
O município era mero depositário das contribuições descontadas dos contracheques de seus servidores, as 
quais pertenceriam ao banco. Desse modo, os valores retidos não eram do Município, não configurando 
receita pública. Eram verbas particulares não integrantes do patrimônio público. 
 
O Prefeito argumentou que fez isso para pagar a remuneração dos servidores, despesas essenciais e de 
natureza alimentar. Alegou

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