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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE – ÁREA DE ENGENHARIAS, EXATAS E TECNOLÓGICAS – ENGETEC – APOSTILA DE FENÔMENOS DE TRANSPORTE (Mecânica dos Fluidos, Transporte de Calor e Transporte de Massa) PROF. OZAIR SOUZA 2016 1 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 1. INTRODUÇÃO 1.1 Conceito Os fenômenos de transporte (FTR) são as bases das ocorrências observadas nas mudanças de estado de um sistema. As aplicações de FTR na engenharia são inúmeras, principalmente por formarem as bases dos principais processos estudados em cada um dos ramos. Na Engenharia Ambiental e Sanitária, os FTR são importantes ferramentas no estudo da difusão de poluentes no ar, na água e no solo; na Engenharia de Produção, as aplicações mais conhecidas prendem-se à otimização dos processos produtivos e de transporte de fluidos; na Engenharia Mecânica, encontram-se exemplos de aplicação nos processos de usinagem, de tratamento térmico, de cálculo das máquinas hidráulicas e nos projetos de máquinas térmicas e frigoríficas; na Engenharia Química são os fundamentos das operações unitáriais (conjunto de técnicas utilizadas para se chegar a um processo mais econômico sem, contudo desconsiderar os princípios científicos envolvidos). 1.2 Classificação dos FTR Transporte de quantidade de movimento ou transferência de momento (TQM) Transporte ou transferência de calor (TC) Transporte ou transferência de massa (TM) 1.3 Princípio básico envolvido nos FTR EQUILÍBRIO Os fatos comuns a todos os processos de transporte são: Existência de uma força motriz (diferença de potencial, drive force). Ocorrência de transferência de alguma quantidade física. Influência do meio (massa e geometria) sobre a velocidade e a direção do processo. 1.4 Tipos mais comuns de operações industriais e principais fenômenos que fundamentam o processo bombeamento de fluidos TQM agitação TQM centrifugação TQM sedimentação TQM tratamento de efluentes TQM/TM projeto de câmaras frias (isolamento térmico) TC tratamento térmico de metais TC 2 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE aquecimento e resfriamento de fluidos (trocadores de calor) TC umidificação e desumidificação TC/TM secagem TC/TM evaporação TC/TM cristalização TC/TM extração por solventes TM lixiviação TM adsorção e dessorção de gases TM absorção e stripping) TM destilação TM Em geral, os fenômenos de TQM, TM e TC ocorrem simultaneamente em problemas industriais, biológicos, agrícolas e meteorológicos; na verdade, a ocorrência de qualquer um dos processos de transporte isoladamente é uma exceção em vez de uma regra. 1.5 Métodos de estudos dos FTR Podemos estudar e descrever o transporte de massa, de momento e de calor em três níveis diferentes. Em NÍVEL MACROSCÓPICO, as equações de balanço descrevem o sistema (ou equipamento) como um todo (dimensões da ordem de cm ou m), considerando a sua variação devido às correntes de entrada e saída. Nenhuma tentativa é feita para entender o que ocorre entre esses pontos. Trata-se de uma análise global do sistema. Em NÍVEL MICROSCÓPICO, examina-se o que está acontecendo dentro do sistema, em uma pequena região (dimensões da ordem de µm ou cm). As equações de balanço descrevem como o fenômeno está ocorrendo. O objetivo é conseguir informação acerca dos perfis de velocidades, temperaturas, pressões e concentrações dentro do sistema. Em NÍVEL MOLECULAR (dimensões de cerca de 1 a 1000 nm), procuramos por uma compreensão fundamental dos mecanismos de transporte, em termos da estrutura molecular e das forças intermoleculares. Geralmente, esse é o domínio dos físicos teóricos ou dos físico-químicos; porém, torna-se particularmente importante ao engenheiro caso os processos em estudo envolvem moléculas complexas, faixas extremas de temperatura e pressão ou sistemas que reagem quimicamente. Existem muitas conexões entre esses três níveis de estudo e entre os três fenômenos de transportes. Ao se aprender como resolver problemas em um deles, aprendem-se também as técnicas para resolver problemas de outro. Podemos estudar os fenômenos de transporte sob dois pontos de vista, o lagrangiano e o euleriano. Na mecânica dos sólidos elementar, usa-se o MÉTODO DE LAGRANGE de análise. Ele descreve o comportamento de partículas discretas, ou de massas pontuais, quando elas se movem no espaço. Em FTR, porém ficaria muito complexo a descrição do comportamento de uma partícula de um fluido à medida que ela flui através de uma região no espaço. Portanto, é mais vantajoso descrever o que acontece num ponto fixo ou numa região fixa do espaço. Este é o MÉTODO DE EULER. Tomando como exemplo o transporte de massa, a aplicação do método de Lagrange no balanço diferencial de massa no nível microscópico, resultaria em: A AAA AB AA z A y A x zyx A r zyx D tzyxzyx 2 2 2 2 2 2 3 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Empregando o método de Euler tem-se que: A AAA AB Azyx A r zyx D tzyx 2 2 2 2 2 2 Comparando as duas equações é possível observar que pelo método de Euler as diferencias de ρA em função das posições x, y e z ao longo de todo o sistema não existem, pois como mencionado anteriormente, a partícula é observada num único ponto fixo do sistema. É importante lembrar que ao se estudar os fenômenos de transporte para o estabelecimento de parâmetros como velocidades, taxas, fluxos, etc., essenciais nos cálculos de dimensionamento de equipamentos industriais, o melhor processo só pode ser projetado levando-se em conta a química, a cinética e a termodinâmica básica, com o reconhecimento adequado das limitações impostas pelos materiais de construção e operação. 1.6 Equações básicas em FTR As equações básicas que descrevem os três fenômenos de transporte estão intimamente relacionadas. A similaridade das equações, sob condições simples, é a base para resolver problemas “por analogias”. A Tabela 1.1, dada por BIRD et al. (Fenômenos de Transporte, 2ª Edição, 2004) mostra as relações de similaridade que o autor considerou entre os diferentes tópicos de FTR estudados em sua obra. Tabela 1.1 – Relações de similaridade no estudo dos fenômenos de transporte. Fonte: Bird et al.(2004), Fenômenos de Transporte. Tipo de transporte Momento Energia Massa Por movimento molecular Viscosidade e o tensor tensão (fluxo de momento) Condutividade térmica e o vetor fluxo de calor Difusividade e os vetores fluxos de massa Em uma dimensão (métodos dos balanços em cascas) Balanços de momentos em cascas e distribuições de velocidade Balanços de energia em cascas e distribuições de temperaturas Balanços de massa em cascas e distribuições de concentrações Em contínuos arbitrários (uso de equações gerais de transporte) Equações de balanço e seu uso (isotérmico) Equações de balanço e seu uso (não-isotérmico) Equações de balançoe seu uso (misturas) Com duas variáveis independentes (métodos especiais) Transporte de momento com duas variáveis independentes Transporte de energia com duas variáveis independentes Transporte de massa com duas variáveis independentes Em escoamento turbulento e propriedades de transporte turbilhonar Transporte turbulento de momento; viscosidade turbilhonar Transporte turbulento de energia; condutividade térmica turbilhonar Transporte turbulento de massa; difusividade turbilhonar Através de fronteiras de fases Fatores de atrito; o uso de correlações empíricas Coeficientes de transferência de calor; o uso de correlações empíricas Coeficientes de transferência de massa; o uso de correlações empíricas Em sistemas de grande porte ou partes deles Balanços macroscópicos (isotérmico) Balanços macroscópicos (não –isotérmico) Balanços macroscópicos (misturas) Por outros mecanismos Transporte de momento em líquidos poliméricos Transporte de energia por radiação Transporte de massa em sistemas multicomponentes; efeitos cruzados 4 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Principais equações envolvidas nos estudos de FTR Equação da continuidade Equação da energia mecânica Equação do momento angular Equação do movimento (Equações de Navier-Stokes, Equação de Euler, Equação de Bernoulli) Equação do balanço de energia Equação do balanço de massa Todas essas equações são encontradas na literatura especializada, tanto na forma diferencial como na forma integral. Na forma diferencial, a grandeza estudada no sistema pode ser expressa em termos de derivada parcial, substantiva (material) ou total. O emprego de cada uma dessas formas depende da posição do observador em relação a essa grandeza. Bird (Fenômenos de Transporte, 2004, pág. 78) ilustra a aplicação das derivadas temporais que podem ser encontradas em FTR dando o seguinte exemplo caseiro: Considere a observação da concentração de peixes num determinado rio. Devido ao fato de que os peixes se movem, a concentração dos mesmos será em geral uma função da posição z,y,x e do tempo t . Pode-se representar esta concentração tanto em termos de derivada parcial como em termos de derivada total ou de derivada substantiva. Assim, Derivada temporal parcial t Suponha que estejamos sobre uma ponte de onde observamos a concentração de peixes c imediatamente abaixo dela em função do tempo. Podemos então anotar a taxa de variação temporal da concentração de peixes em uma posição fixa. O resultado é z,y,x tc , a derivada parcial de c em relação a t para x, y e z constantes. Derivada temporal total dt d Suponha agora que em um barco a motor, naveguemos pelo rio, algumas vezes indo contra a corrente, outras a favor e outras ainda cruzando a correnteza. Durante todo o tempo a concentração de peixes é observada. A qualquer instante a taxa de variação temporal da concentração de peixes observada é t,y,xt,x,zt,z,yz,y,x z c dt dz y c dt dy x c dt dx t c dt dc Onde dtdx , dtdy e dtdz são as componentes da velocidade do barco. 5 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Derivada temporal substantiva Dt D Agora, usando uma canoa e, não muito dispostos a fazer força, somos levados pela correnteza, observando a concentração de peixes. Nesse caso a velocidade do observador é a mesma que a da corrente V , com componentes x , y e z . Se a qualquer instante computarmos a taxa de variação temporal da concentração de peixes, estaremos então fornecendo z c y c x c t c Dt Dc zyx ou Vc t c Dt Dc 1.7 Grandezas físicas e suas unidades a) Densidade A densidade (também massa volumétrica) de um corpo define-se como o quociente entre a massa e o volume desse corpo. Desta forma pode-se dizer que a densidade mede o grau de concentração de massa em determinado volume. O símbolo para a densidade é d e a unidade no Sistema Internacional é kg/m³. b) Massa específica () Também denominada de densidade absoluta, é a relação entre a massa m de uma substância e o seu volume real V ocupado. V m (1. 1) Unidades mais utilizadas: kg/m3, g/cm3, lbm /ft 3 Outras unidades da massa específica: Grau Gay-Lussac (oGL) para álcoois GLo cmg 100 100 )3/( ex.: 45 ºGL 0,69 g/cm3 Grau Beaumé (Bé) para líquidos em geral Bécmg 32,144 32,144 )3/( (+ ) para líquidos mais leves que a água (álcool, óleos, tintas, etc.) 6 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE ( - ) para líquidos mais pesados que a água (ácidos, xaropes, etc.) Ex.: 10,00 Bé = 1,000 g/cm3 Grau API(American Petroleum Institute) para produtos de petróleo 5,131 5,141 )3/( API cmg Ex.: 10,0 API = 1,00 g/cm3 Há uma pequena diferença entre densidade e massa específica. A massa específica, embora definida de forma análoga à densidade, contudo para um material e não um objeto é propriedade de uma substância, e não de um objeto. Supõe-se, pois que o material seja homogêneo e isotrópico ao longo de todo o volume considerado para o cálculo, e que este seja maciço. Um objeto oco ou poroso pode ter densidade muito diferente da massa específica do material que os compõem, a exemplo o navio e vários sólidos porosos (argila, rochas, cimento, cortiça, etc.), respectivamente. Embora a massa específica do aço seja maior do que a massa específica da água, a densidade de um navio - assumido uma estrutura "fechada", é certamente menor do que a da água. Este tipo de grandeza é denominado de densidade aparente. Para líquidos e gases as expressões densidade e massa específica - dadas as propriedades físicas destes estados - acabam sendo utilizadas como sinônimos. c) Densidade relativa É a relação entre a densidade da substância em causa e a densidade absoluta de uma substância de referência. Para líquidos e sólidos a água destilada a 4oC (ρ = 1000,00 kg/m3) tem sido utilizada como substância referência; para gases, o ar atmosférico a 0 ºC (ρ = 1,2928 kg/m3). A densidade relativa é uma grandeza adimensional, devido ao quociente. Quando se diz que uma substância líquida tem uma densidade de 5, quer dizer que tem uma densidade 5 vezes superior à da água (no caso dos sólidos e líquidos). d) Peso específico () É a relação entre a força-peso P de um corpo e o seu volume V. V P (1.2) Unidades mais utilizadas: N/m3 , kgf /m 3 , lbf /ft 3 7 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE e) Volume específico (Vesp) É a relação entre o volume V de um corpo e a sua massa m, ou seja, é o inverso da densidade. 1 esp m V V (1.3) Unidades mais utilizadas: m3/kg, ft3/lbm , L/kg f) Volume molar )(V É a relação entre o volume V ocupado por uma substânciae a sua quantidade n de matéria equivalente (nº de mols). O volume molar é expresso normalmente em m3/kmol, m3/mol, L/mol, ft3/lbmol. n V V (1.4) Onde, M m n sendo que, m é a massa da substância e M é a sua massa molar. g) Vazão ou taxa de escoamento Os processo contínuos envolvem o escoamento de material de um ponto para outro, entre unidades de processo ou entre um processo e tanques de armazenamento e vice-versa. A taxa na qual uma quantidade de material é transportada através de uma tubulação de processo é a taxa de escoamento ou vazão do material, ou seja, uma quantidade por unidade de tempo. Quando a quantidade do material transportado é expresso em volume tem-se a vazão volumétrica (m3/s, L/min, m3/h, ft3/h), quando é expresso em massa, a vazão mássica (kg/s, kg/h. lbm/s,lbm/h) e, quando é expresso em quantidade de matéria temos a vazão molar (mol/s, kmol/h, lbmol/h. lbmol/s). vazão volumétrica Q : AtVQ / (1.5) vazão mássica Q : QtmQ / (1.6) vazão molar Q : QQ (1.7) h) Fluxo de material Em muitas análises de processos é comum expressar as vazões (ou taxas de escoamento) de material por unidade de área A perpendicular ao escoamento. A essa razão se dá o nome de fluxo; e assim, Fluxo volumétrico ( ): A Q (1.8) Fluxo mássico ( ): A Q A Q (1.9) 8 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Fluxo molar ( ): A QM (1.10) 1.8 Conversões de unidades 1.8.1 Sistemas de unidades Sistema Métrico Absoluto (Sistema CGS) Sistema Internacional de Unidades (Sistema SI) Sistema Inglês de Engenharia (Imperial System na Inglaterra e English System nos EUA) Sistema Americano de Engenharia (U.S. unit system) USCS - United States Customary System Units a) Sistema SI (Système International d’Unités): aprovado em 1960 na XI Conferência Internacional de Pesos e Medidas, é o sistema reconhecido pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC). Tabela 1.2 - Unidades básicas do Sistema Internacional de Unidades, conforme IUPAC Medidas de Unidade Fundamental Símbolo Dimensão comprimento metro m L massa quilograma kg M tempo segundo s T temperatura kelvin K quantidade de substância mol mol N intensidade de corrente ampère A I intensidade luminosa candela cd J Tabela 1.3 – Unidades secundárias do sistema internacional, derivadas de suas unidades básicas Grandeza física Símbolo Dimensão Significado área m2 L2 volume m3 L3 velocidade m/s LT-1 distância percorrida/intervalo de tempo aceleração m/s2 LT-2 variação da velocidade/intervalo de tempo densidade kg/m3 ML-3 massa do corpo/volume ocupado força N MLT-2 massa x aceleração (N = kg.m/s2) força eletromotriz, tensão, potencial elétrico volt volt V energia, calor ou trabalho J ML2T-2 força x distância (J = N.m = kg.m2/s2) pressão Pa ML-1T-2 força aplicada sobre uma área (Pa = N/m2 = kg/m.s2) potência W ML2T-3 energia dissipada/tempo (W = J/s = kg.m2/s3) viscosidade dinâmica Pa.s ML-1T-1 massa/distância.tempo (Pa.s = N.s/m2 = kg/m.s) viscosidade cinemática m2/s L2T-1 viscosidade absoluta/massa específica 9 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE peso específico N/m3 ML-2T-2 densidade x aceleração da gravidade ou peso força/volume (N/m3 = kg/m2.s2) constante dos gases ideais J/mol.K ML4T-2N-1-1 pressão x volume/quantidade de substância x temperatura ou energia/quantidade de substância x temperatura capacidade específica ou calor específico J/kg.K L2T-2-1 é a capacidade de uma substância de mudar sua temperatura ao receber ou liberar calor para cada massa unitária que esta vier a se incluir Sistemas Inglês/Americano de Engenharia Tabela 1.4 - Unidades do Sistema Inglês/Americano de Engenharia Medidas de Unidade Fundamental Símbolo em inglês em português comprimento foot inch pé polegada ft in massa slug pound ounce slug libra (massa)* onça slug lb (lbm) oz tempo second segundo s temperatura Rankine Fahrenheit Rankine Fahrenheit °R °F quantidade de substância libra-mol libra-mol lbmol força pound libra (força) Lb ou lbf força eletromotriz, tensão, potencial elétrico volt volt V frequência hertz hertz Hz potência horse power cavalo vapor hp pressão psi psi psi energia, calor ou trabalho Btu e hph Btu e hph Btu e hph densidade lb/ft3 lbm/ft 3 lb/ft3 peso específico lb/ft3 lbf/ft 3 lb/ft3 viscosidade absoluta poise lb.s/ft2 poise lb.s/ft2 p lb.s/ft2 viscosidade cinemática stoke ft2/s stoke ft2/s St ft2/s * libra massa = libra avoirdupois (ou libra internacional) 1.8.2 Semelhança entre unidades N = kg.m.s-2 Pa = N.m-2 = kg.m-1.s-2 J = N.m = kg.m2.s-2 psi = lbf.in -2 stoke = cm2.s-1 W=J.s-1=kg.m2.s-3 slug = lbf.s 2.ft-1 = 32,17lbm dina = g.cm.s-2 cv = 75 kg.m.s-1 poundal = lbm.ft.s -2 poise = g.cm-1.s-1 10 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 1.8.3 A unidade mol No sistema SI, um mol é composto de 6,02 x 1023 moléculas. Entretanto, para conveniência dos cálculos, alguns autores têm utilizados outras especificações não-padrão para moles tais como libra- mol (6,02x1023 x 453,6 moléculas), grama-mol (que equivale a 1 mol), e assim por diante. Para converter o número de moles em massa, fazemos uso do peso molecular (massa por mol) g mol = massa em g / peso molecular lb mol = massa em lb / peso molecular Ex.: 2,00 lb de NaOH (PM = 40,0) equivale a 0,050 lb mol NaOH ou 22,7 g mol 5,00 kg de H2O (PM = 18,0) equivale a 0,278 kg mol H2O 1.8.4 – Uso de prefixos em unidades Tabela 1.5 – Prefixos representativos de múltiplos e submúltiplos das unidades fundamentais Prefixos Símbolo* Fator Expoente Quantidade** exa E 1 000 000 000 000 000 000 1018 quintilhão peta P 1 000 000 000 000 000 1015 quatrilhão tera T 1 000 000 000 000 1012 trilhão giga G 1 000 000 000 109 bilhão mega M 1 000 000 106 milhão quilo k 1 000 103 mil hecto h 100 102 cem deca da 10 101 dez deci d 0,1 10-1 décimo centi c 0,01 10-2 centésimo mili m 0,00 1 10-3 milésimo micro µ 0,00 000 1 10-6 milionésimo nano n 0,00 000 000 1 10-9 bilionésimo pico p 0,00 000 000 000 1 10-12 trilionésimo femto f 0,00 000 000 000 000 1 10-15 quatrilhonésimo atto a 0,00 000 000 000 000 000 1 10-18 quintilhonésimo *Recomendação importante: ao substituir variáveis em uma fórmula, nunca inclua unidades com prefixo, com exceção ao quilograma. **No Brasil e na maior parte dos países de língua inglesa e árabe é utilizada a Escala Curta para denominar números grandes em que cada novo termo acima de um mil é 1.000 vezes maior que o termo anterior. A Escala Longa corresponde a um sistema de nomenclatura de números superiores a um milhão em que cada novo termo é 1.000.000 de vezes maior que o termo anterior, é utilizada em todos os países de origem portuguesa (à excepção do Brasil) e na maior parte da Europa continental. 11 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 1.8.5 Conversões de unidades 1.8.5.1 Fatores de conversão mais comuns na engenharia 1 m3 = 1000 L 1 kg = 2,2046 lbm 1 cv = 735,5W 1 L = 1000 mL 1 ppm = 1 mg/kg (sol.) 1 W = 3,4152 Btu/h 1 mL = 1 cm3 1 ppm = 1 mL/m3 (líq.) 1 W = 1,341x10-3 hp 1 galão = 3,785 L 1 ppm = 1 mmol/kmol (gás) 1 atm = 101325 Pa 1 barril (britânico) = 159,11315 L 1 ppb = 1µg/kg 1 Pa = 1,45x10-4 psi 1 barril (USA) = 158,987294928 L 1 ppb = 1µL/m3 1 N = 0,22481 lbf l m = 3,281 ft 1 ppb = 1 µmol/kmol 1 cal = 4,1868 J 1 ft = 12 in 1 dalton = 1 u.m.a. 1 J = 9,478x10-4 Btu 1 in = 25,4 mm 1 u.m.a. = 1,66X10-24 g 1 Btu = 252 cal 1 jarda = 0,9144 m 1 lbm = 12 oz 1 milha = 1609 m 1 milha náutica = 1151,6 m 1 mol = 0,0022046 lbmol 15,273 CK 460º FR 32)(8,1º CF 1.8.5.2 Conversão da temperatura como denominador em unidades compostas CK FR FC 8,1 Ex.: 1 J/g.K = 1 J/g.ºC; 1 Btu/lb.ºR = 1 Btu/lb.ºF 1 Btu/ºC = 0,556 Btu/ºF 1.8.5.3 Exemplos de cálculos envolvendo conversões de unidades Ex. 1) A difusividade mássica do hidrogênio no ar é 0,41x10-4 m2/s de acordo com Incropera e Witt (Transferência de Calor e de Massa, 2003). Qual o valor e unidades desta grandeza no sistema americano? Resposta: h ftx h s m ft s m x 224 2 222 4 589.1 1 3600.281,3.1041,03600)281,3( 1041,0 Ex. 2) Conforme Sisson & Pitts (Fenômenos de Transporte, 1988) a condutividade térmica do alumínio puro a 212 ºF é 119 Btu/h.ft.ºF. Determine a sua condutividade no sistema SI? Resposta: Km J xK F m ft Btux J Ffth Btu . 3,496.741 10478,9 8,1.281,3.119º8,1281,3 10478,9.º. 119 44 1.8.6 Valores da constante dos gases ideais (R) 1,987 cal/(gmol)(K) 1,987 btu/(lbmol)(ºR) 10,73 (psia)(ft3) /(lbmol)(ºR) 82,06 (cm3)(atm)/(gmol)(K) 8,314 J/(gmol)(K) 8,314 (kPa)(m3)/(kgmol)(K) 0,08206 (L)(atm)/(gmol)(K) 21,9 (InHg)(ft3)/(gmol)(ºR) 0,7302 (ft3)(atm)/(lbmol)(ºR) 12 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 1.8.7 Constante de proporcionalidade ou constante gravitacional (grupo gc) 32,17 ft.lbm.lbf -1 .s-2 1 slug.ft.lbf-1s-2 9,8 kg.m.Kgf -1.s-2 1 kg.m.N-1.s-2 1 g.cm.N-1.s-2 O grupo gc é utilizado principalmente no sistema americano sempre que a unidade de massa for utilizada em equações que envolvam outras grandezas. Exemplo de aplicação: Cálculo da força no sistema americano de engenharia a partir da 2a Lei de Newton: F = m.g/gc 13 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2. MECÂNICA DOS FLUIDOS Importância do estudo da mecânica dos fluidos: O conhecimento e a compreensão dos princípios básicos e dos conceitos da mecânica dos fluidos são essenciais para analisar qualquer sistema no qual um fluido é o meio produtor de trabalho. O projeto de todos os meios de transporte, tais como o que ocorre na construção de arranha-céus, de chaminés, de máquinas de fluxo e de sistemas de refrigeração, entre outros, requer a aplicação dos princípios da mecânica dos fluidos. Exemplos de aplicações da mecânica dos fluidos na indústria: Máquinas de fluxo (bombas, turbinas, ventiladores e compressores) – projetos de construção, seleção de equipamentos, controle da produção, etc. Projetos de sistemas de tubulações Projetos de sistemas de refrigeração Desenvolvimento de medidores de vazões Sistemas de agitação, de mistura e de homogeneização 2.1 Conceitos e princípios da Mecânica dos Fluidos 2.1.1 Fluido Fluido é qualquer substância que se deforma continuamente quando submetida a uma tensão de cisalhamento. 2.1.2 Classificação da mecânica dos fluidos a) Estática dos fluidos: não há tensão de cisalhamento e a velocidade do fluido é nula ou constante. É conhecida como hidrostática quando se refere a líquidos, e pneumática quando diz respeito a gases. O conhecimento da estática dos fluidos fornece uma visão para a análise de problemas da dinâmica de fluidos mais complexos. b) Dinâmica dos fluidos: estuda o comportamento dos fluidos quando em movimento, suas propriedades e interações com a vizinhança. 14 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE c) Cinemática dos fluidos: é uma ramificação da dinâmica dos fluidos. A cinemática estuda os movimentos dos fluidos como partícula em termos dos deslocamentos, velocidades e acelerações, sem levar em conta as forças que o produzem. Assim como no transporte de calor e de massa, podemos estudar e descrever o transporte de quantidade de movimento em três níveis diferentes: macroscópico, microscópico e molecular. Em nível macroscópico, as equações de balanço descrevem o sistema (ou equipamento) como um todo (dimensões são da ordem de cm ou m), considerando a sua variação devido às correntes de entrada e saída. Nenhuma tentativa é feita para entender o que ocorre entre esses pontos. Trata-se de uma análise global do sistema. Em nível microscópico, examina-se o que está acontecendo dentro do sistema, em uma pequena região (dimensões da ordem de µm ou cm). As equações de balanço descrevem como o fenômeno está ocorrendo. O objetivo é conseguir informação acerca dos perfis de velocidades, temperaturas, pressões e concentrações dentro do sistema. Em nível molecular (dimensões de cerca de 1 a 1000 nm), procuramos por uma compreensão fundamental dos mecanismos de transporte, em termos da estrutura molecular e das forças intermoleculares. Geralmente, esse é o domínio dos físicos teóricos ou dos físico-químicos; porém, torna-se particularmente importante ao engenheiro caso os processos em estudo envolvem moléculas complexas, faixas extremas de temperatura e pressão ou sistemas que reagem quimicamente. Equações básicas da mecânica dos fluidos São as leis básicas que governam o movimento de quaisquer fluidos. A análise de qualquer problema em mecânica dos fluidos começa necessariamente, seja de modo direto ou indireto, com declarações das leis básicas que governam o movimento do fluido. Aquelas aplicáveis a qualquer fluido são: 1) Conservação da massa: Para um sistema qualquer, por definição, dt dm = 0 (2.2) 2) Segunda lei do movimento de Newton Para um sistema movendo-se em relação a um sistema inercial de referência, a soma de todas as forças externas atuando sobre o sistema é igual à taxa de variação da sua quantidade de movimento com o tempo: dt dm amF (2.3) 15 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 3) Princípio do momento da quantidade de movimento A taxa de variação do momento da quantidade de movimento com o tempo é igual à soma de todos os torques atuando sobre o sistema. sistemadt dMo T (2.4) Onde, T é o torque total exercido sobre o sistema pelo meio à sua volta, e Mo é o momento da quantidade de movimento do sistema. 4) Primeira lei da termodinâmica (conservação da energia) dE = WQ (2.5) 5) Segunda lei da termodinâmica (variação da entropia) dS T Q (2.6) 2.2 Estática dos fluidos 2.2.1 Importância do Estudo da Estática dos Fluidos O estudo dos fluidos na condição de repouso encontra extensa aplicação na Engenharia, principalmente na Engenharia Hidráulica, em obras de armazenamento de água, e na Engenharia Mecânica, nos cálculos de comportas e nos sistemas de comando hidráulico. Uma aplicaçãomuito importante da estática dos fluidos é a manometria de coluna de fluido, uma excelente ferramenta de medida de pressão, de uso extenso em laboratórios. Qualquer parte do fluido em equilíbrio estático é sujeito apenas à forças compressivas. A intensidade da força compressiva é conhecida como pressão estática. Ela é normal a qualquer superfície sobre a qual age, e em qualquer ponto possui a mesma intensidade, qualquer que seja a orientação da superfície. Esta é uma maneira de exprimir a Lei de Pascal que nos diz que “a pressão num ponto de um fluido em repouso tem o mesmo valor em todas as direções”. 2.2.2 Conceito de pressões mais utilizadas na estática dos fluidos Pressão atmosférica: é a força exercida pela atmosfera na superfície terrestre. Esta força equivale ao peso dos gases que estão presentes no ar e que compõem a atmosfera. A pressão atmosférica 16 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE pode variar de um lugar para o outro, em função da altitude e das condições meteorológicas (como a umidade e a densidade do ar). Ao nível do mar esta pressão é aproximadamente de 760 mmHg, ou 1 atm. Quanto mais alto o local, mais rarefeito é o ar e, portanto, menor a pressão atmosférica. O instrumento que mede a pressão atmosférica é o barômetro. Pressão efetiva ou relativa: é determinada tomando-se como referência a pressão atmosférica local. Para medi-la, usam-se instrumentos denominados manômetros; por essa razão, a pressão relativa é também chamada de pressão manométrica. A maioria dos manômetros é calibrada em zero para a pressão atmosférica local. Assim, a leitura do manômetro pode ser positiva, quando indica o valor da pressão acima da pressão atmosférica local, ou negativa, quando se tem um vácuo. Quando se fala em pressão de uma tubulação de gás, refere-se à pressão relativa ou manométrica. Pressão estática: é o peso exercido por um líquido em repouso ou que esteja fluindo perpendicularmente a tomada de impulso, por unidade de área exercida. Assim, cg gh p (2.7) p - carga estática (N/m2, kgf /m 2, lbf /ft 2, mca ) - densidade do líquido (kg.m-3, lbm.ft-3 ) h - altura do líquido acima do ponto considerado (m, ft) gc - constante gravitacional ou de proporcionalidade, utilizada apenas quando não se emprega o sistema americano de unidades. s lb ft 17405,32 f m c lb g Em sistemas abertos, como em um reservatório líquido com a sua superfície em contato com a atmosfera, a pressão estática é normalmente denominada de pressão manométrica. Pressão absoluta: é a pressão total verdadeira, resultante da soma das pressões manométrica e atmosférica local. A Figura 2.1 apresenta as relações existentes entre as pressões manométrica, atmosférica e absoluta. 17 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Figura 2.1 – Relações entre as pressões manométrica, atmosférica e absoluta. Fonte: Munson et al., Fundamentos da Mecânica dos Fluidos, 2004. Da Fig. 2.1 podemos tirar que: manatmabs PPP (2.8) Conforme pode ser observado na Fig. 2.1, a escala absoluta é a escala de pressão que adota como zero o vácuo absoluto, o que justifica a afirmação que nesta escala só existem pressões positivas. Teoricamente poderíamos ter a pressão igual a zero, que representaria a pressão do vácuo absoluto. A pressão manométrica, escala efetiva ou relativa de pressão, é a escala de pressão que adota como zero a pressão atmosférica local, o que justifica a afirmação de que nesta escala existem pressões negativas (depressões ou vácuos técnicos), nulas e positivas. Para o estudo básico de mecânica dos fluidos, tanto a escala absoluta como a escala efetiva ou relativa, são igualmente importantes. Pressão hidráulica: o termo pressão hidráulica refere-se a pressões transmitidas por fluidos, como óleos em máquinas hidráulicas, em cilindros hidráulicos (como nos macacos hidráulicos e freios hidráulicos de veículos), em fenômenos relacionados com o principio de Pascal (variações de pressão sofridas por um volume de um líquido são transmitidos integralmente a todos os pontos deste líquido e às paredes do recipiente onde este está contido), etc. 2.2.2.1 Unidades de pressão A Tabela 2.1 apresenta as principais unidades empregadas para a pressão e os fatores de conversão entre elas. 18 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Tabela 2.1 – Unidades de pressão e respectivos fatores de conversão. Exemplos de leitura da Tabela 2.1 Partindo sempre da coluna 1: 1 kPa = 0,0100 bar 1 bar = 100,00 kPa 2.2.3 Equilíbrio estático A fim de determinar a variação de pressão, p = f (x, y, z), considere o elemento de fluido indicado na Figura 2.2. As forças que atuam sobre o elemento de fluido são as tensões no fluido vizinho (pressões) e a força devida à gravidade (peso). 19 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Figura 2.2 – Forças sobre um elemento fluido Aplicando a primeira lei de Newton, F = 0, obtemos as seguintes equações escalares em três direções mutuamente ortogonais: 0)()( zypzypF xxxx (2.9) 0)()( zxpzxpF yyyy (2.10) 0)()( yxpyxpF zzzz (2.11) Dividindo cada uma das equações por x y z e tomando o limite quando x, y, z tendem a zero, obtemos 0 x p f x (2.12) 0 g y p f y (2.13) 0 z p f z (2.14) Onde f é a força externa por unidade de volume ou, em forma vetorial: 20 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 0 gpf (2.15) A Equação 2.15 é conhecida como Equação Geral da Estática dos Fluidos e pode ser reescrita sob a seguinte forma: 0 g z p y p x p (2.16) Ou, ainda, 0)( gp (2.17) Onde o vetor g possui três componentes mutuamente ortogonais, gx , gy , gz , com as respectivas distribuições de pressão afetadas de mesmo modo, por exemplo, 0 zg z p (2.18) É necessário, obviamente, conhecermos a natureza de e g a fim de integrar esta equação. Exemplo de cálculo: Determine a pressão absoluta em um nível 2 de uma massa de água, situado 5 m abaixo da superfície, sabendo que na superfície (nível 1) age a pressão atmosférica. Considere a massa específica da água constante e igual a 1000 kg/m3. Solução: tomando como base a Equação 2.17 temos que gdzdp 2 1 2 1 z z P P gdzdp )( 2112 zzgpp )5(81,9.10001013252 p Pap 1503752 2.2.4 Manometria Manometria é o nome dado à técnica de medida da pressão. O padrão básico para medidas de pressão é o manômetro diferencial de coluna de mercúrio, mostrado na Figura 2.3, embora o mais confiável seja o manômetro de pistão, conhecido como manômetro de peso morto, cujo esquema é apresentado na Figura 2.4. A pressão P no manômetro de peso é dada pela relação W/A, acrescida da leitura na escala. Outros instrumentos de medida de pressão com base em coluna de fluido são: barômetro de mercúrio (Figura 2.5) e o piezômetro (Figura 2.6). 21 Fenômenosde Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE O barômetro de Torriceli, empregado para medir a pressão atmosférica, foi originalmente proposto utilizando mercúrio como fluido manométrico. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, podem-se encontrar barômetros acoplados a relógios digitais a um custo razoável. O piezômetro é comumente utilizado para a determinação de pressões neutras (pressões que atuam na água) e sub-pressões (regiões com vácuo) em obras de engenharia, tais como, maciços de terra, taludes e fundações. Figura 2.3 – Manômetro de Mercúrio Figura 2.4 – Manômetro de peso. Fonte: Roma, 2003. Fenômenos de Transporte Fonte: Roma, 2003. Fenômenos de Transporte para Engenharia. para Engenharia. Figura 2.5 – Barômetro de Torricelli Figura 2.6 – Piezômetro Fonte: Roma, 2003. Fenômenos de Transporte Fonte: Roma, 2003. Fenômenos de Transporte para Engenharia. para Engenharia. 22 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.2.5 Força hidrostática sobre superfícies planas submersas A Fig. 2.7 mostra a força resultante (FR) desenvolvida no fundo de um tanque aberto contendo fluido armazenado. Figura 2.7 – Distribuição da força hidrostática sobre a superfície horizontal do fundo de um tanque aberto. Para uma superfície horizontal, como a mostrado na Fig. 2.7, o módulo da força resultante FR sobre a superfície é: PAFR (2.19) Onde, para este caso de tanque aberto, P=ρh. A força resultante atua no centróide (centro geométrico) da área da superfície inferior porque a pressão é constante e está distribuída uniformemente nesta superfície. Para o caso de uma superfície plana inclinada, como apresentado na Figura 2.8, a determinação de FR (direção, sentido, módulo e ponto de aplicação) que atua nesta superfície é definida pela Equação 2.20. Figura 2.8 – Força hidrostática numa superfície plana, inclinada. 23 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE PAdhgF A R (2.20) onde, h = y senθ. Se ρ, g e θ são constantes, então: AdysengF A R (2.21) A integral da Eq. 2.21 é o momento de primeira ordem da área em relação ao eixo x. Deste modo, nós podemos escrever AyAdy C A onde, yc é a coordenada y do centróide medido a partir do eixo x que passa através de 0. Assim, a Eq. 2.21 pode ser reescrita como AhgsenyAgF CCR (2.22) onde hc é a distância vertical entre a superfície livre do fluido e o centróide da área. A coordenada yR da força resultante pode ser determinada pela soma dos momentos em torno do eixo x, ou seja, o momento da força resultante precisa ser igual aos momentos das forças devidas a pressão. Assim, AdysengFdyyF AA RR 2 Como FR=ρgAycsenθ, então Ay Ady y C A R 2 A integral no numerador desta equação é o momento de segunda ordem da área A ou momento de inércia Ix em relação ao eixo formado pela intersecção do plano que contém a superfície e a superfície livre (eixo x). Assim, pode-se escrever que Ay I y c x R 24 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Se utilizar o teorema dos eixos paralelos, Ix pode ser expresso como 2 cxcx yAII onde Ixc é o momento de segunda ordem em relação ao eixo que passa no centróide e é paralelo ao eixo x. Assim, têm-se que: c c xc R y Ay I y (2.23) A Eq. 2.23 mostra que a força resultante não passa através da centróide mas sempre atua abaixo dele visto que Ixc/ycA>0. A coordenada xR do ponto de aplicação da força resultante pode ser determinada de modo análogo, ou seja, somando-se os momentos em relação ao eixo y. Deste modo, AdxysengxF A RR e Ay I Ay Axyd x c xy c A R onde Ixy é o produto de inércia em relação aos eixos x e y. Utilizando novamente o teorema dos eixos paralelos, tem-se que c c xyc R x Ay I x (2.24) O ponto de aplicação (xR, yR) da força resultante (FR) é denominado centro de pressão. A Figura 2.9 apresenta as coordenadas do centróide e os momentos de inércia de algumas figuras geométricas usuais. 25 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Figura 2.9 – Propriedades geométricas de algumas figuras. Fonte: Munson et al. (2004), Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. 26 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Exemplo de cálculo A figura apresentada a seguir mostra o esboço de uma comporta circular inclinada que está localizada num grande reservatório de água (γ = 9,80 kN/m3). A comporta está montada num eixo que corre ao longo do diâmetro horizontal da comporta. Se o eixo está localizado a 10 m da superfície livre, determine: (a) o módulo e o ponto de aplicação da força resultante na comporta, e (b) o momento que deve ser aplicado no eixo para abrir a comporta. Solução: (a) Cálculo do módulo: uso da Eq. 2.22 AhgF CR Considerando, ρ = 1000 kg/m3 e g = 9,8 m/s2 FR = (9800)(10)(4π) = 1,23x106 N Cálculo do ponto de aplicação: uso das Eq. 2.23 e 2.24 c c xc R y Ay I y c c xyc R x Ay I x Por inspeção, xR = 0 pois a superfície da comporta é simétrica e o centro de pressão precisa estar localizado ao longo da linha A-A. 27 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Para o cálculo de yR note que a Fig. 2.9 fornece 4 4R I xc . Assim, para yc = 10/sen60º e R=2m: myR 6,11 A distância entre o eixo da comporta e o centro de pressão (ao longo da comporta) é myy cR 0866,0 Resumindo, a força que atua perpendicularmente sobre a comporta apresenta módulo igual a 1230 kN, atua num ponto localizado a 0,0866 m abaixo da linha do eixo e pertence a linha A-A. (b) O diagrama de corpo livre mostrado na Fig. C pode ser utilizado para determinar o momento necessário para abrir a comporta. Observe que W é o peso da comporta, Ox e Ou são as reações horizontal e vertical do eixo na comporta. A somatória dos momentos em torno do eixo da comporta é nula; portanto 0 cM . Daí, temos que: NmxxyyFM cRRc 56 1007,1)0866,0)(1023,1()( 28 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3 Dinâmica dos fluidos Estuda o comportamento dos fluidos durante o seu escoamento. Uma vez que há bastante sobreposição nos tipos de escoamentos encontrados, não há padrão de classificação universalmente aceito para a dinâmica dos fluidos. Uma possível classificação é mostrada na Figura 2.10. Figura 2.10 – Classificação da dinâmica dos fluidos. Fonte: Fox & Mcdonald (1998), Introdução à Mecânica dos Fluidos. 2.3.1 Viscosidade É a propriedade associada à resistência que o fluido oferece à deformação por cisalhamento. De outra maneira, pode-se dizer que a viscosidade corresponde ao atrito interno nos fluidos devido, basicamente, às interações intermoleculares. A viscosidade dos fluidos varia com a temperatura T e com a pressão P, sendo, porém, mais sensível à temperatura que à pressão. Nos líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura enquanto que, para os gases, aviscosidade aumenta. A viscosidade da maioria dos líquidos não é afetada por pressões moderadas; porém, grandes aumentos foram verificados a pressões muito altas. Por exemplo, a viscosidade da água a 10.000 atm é o dobro daquela a 1 atm. Compostos mais complexos apresentam um aumento de viscosidade de diversas ordens de grandeza para a mesma faixa de pressão. A viscosidade dos gases independe essencialmente da pressão entre alguns centésimos de uma atmosfera e algumas atmosferas. Entretanto, a pressões elevadas aumenta com a pressão (ou a massa específica). 2.3.1.1 – Viscosidade dinâmica, ou absoluta ( ) 29 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE De acordo com a Lei de Newton para a Viscosidade (Eq. 2.25), é a proporcionalidade entre a resistência ao fluxo no interior do material, expressa em termos da relação da tensão de cisalhamento e a resultante relação de deformação sob cisalhamento ( y/u ). y u (2.25) - tensão de cisalhamento (N.m-2 ) - viscosidade dinâmica (N.s.m-2 ) y/u - gradiente de velocidade, ou taxa de deformação ou taxa de cisalhamento (s-1 ) u - velocidade do fluido na direção x (m.s-1 ) y - distância entre as duas camadas limites consideradas (m) De acordo com a Eq. 2.25 (válida para fluidos newtonianos), quanto maior a aplicada em um fluido maior será a sua deformação (escoamento). A viscosidade dinâmica é normalmente determinada em viscosímetro do tipo rotacional (viscosimetria rotativa) e é independente da densidade do líquido. É medida em poises (P) e centipoises (cP) Unidades mais comuns: Pa.s, N.s.m-2, poise (P), centipoises (cP), lbf .s.ft -2 , lbm ft -1s-1, slug.ft-1s-1., Pa.s (N.s.m-2 ) 1 Pa.s = 1 N.s.m-2 = 1 kg.m-1s-1 1 P = 100 cP 1 cP = 0,001 Pa.s 2.3.1.2 Viscosidade aparente (η ou µa) Assim como a viscosidade dinâmica, a viscosidade aparente é determinada em viscosímetros rotacionais e possui as mesmas unidades. É utilizada para caracterizar fluidos não-Newtonianos, nos quais a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação (Eq. 2.26). A maioria dos fluidos não-Newtonianos tem valores de η relativamente elevadas em comparação à viscosidade da água. 1a n dydu k (2.26) k – índice de consistência n – índice de comportamento do escoamento. A apresentação de valores de η devem ser acompanhados do valor da tensão de cisalhamento utilizada no viscosímetro. 2.3.1.3 Viscosidade cinemática () 30 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE É normalmente determinada em viscosímetros de fluxo dotados de orifícios capilares através dos quais o material escoa por gravidade (reometria capilar). Os valores de são dependentes da densidade do líquido e podem ser obtidos, também, a partir de . Assim, (2.27) Unidades mais comuns: m2.s-1, Stokes (S) ou centiStokes (cS), ft2.s-1 1 cS = 1x10-6 m2.s-1 = 1,076x10-5 ft.s-1 2.3.1.4 Viscosidade relativa ou taxa de viscosidade (Rel) Este termo se refere à relação de tempo necessário para que uma solução específica (resina, tinta, polímero, etc.), em um solvente, escoe através de um orifício e o tempo para que igual volume do solvente puro escoe através deste mesmo orifício. 00Re t t l (2.28) t - tempo de escoamento da solução t0 - tempo de escoamento do solvente puro ν - viscosidade cinemática da solução ν0 - viscosidade cinemática do solvente 2.3.1.5 Viscosidade intrínseca ou n° de viscosidade limite (int) Tem seu valor normalmente empregado na caracterização de macromoléculas na indústria de polímeros e na indústria de tintas e vernizes. È calculada pela Equação 0 0 0 0 int t tt (2.29) Quanto mais favorecido a interação polímero-solvente (bom solvente) maior será o valor de int 2.3.1.6 Viscosidade específica (esp) Seu valor é obtido a partir dos valores da viscosidade aparente da solução (η) e da viscosidade aparente do solvente (η0), conforme Equação 2.30. 1Re0 0 lEsp (2.30) 31 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3.1.7 Viscosidade reduzida ou número de viscosidade (red) Este termo é usado para definir a relação entre a viscosidade específica e a concentração da solução (C). C Esp dRe (2.31) 2.3.1.8 Viscosidade inerente ou n° de viscosidade logarítmica (inh) É o logaritmo natural da relação entre a viscosidade relativa e a concentração, ou seja, é o logaritmo natural da viscosidade reduzida. Assim, C ln lReInh (2.32) Nota: os óleos lubrificantes de motores e transmissões são classificados pela viscosidade de acordo com normas estabelecidas pela Society of Automotive Engineers (SAE). Os números de viscosidade seguidos da letra W (por ex., óleo SAE 40W) são classificados pela viscosidade medidos a 0 °F (- 17,778 ºC). Aqueles sem W são classificados pela viscosidade a 210 F (98,889 ºC). Ex.: óleo do motor óleo SAE 5W a 50W óleo da transmissão óleo SAE 75W a 250W Para classificar um óleo como SAE 5W, por exemplo, a sua viscosidade cinemática não deverá ser maior do que 1.300 cS, para um óleo SAE 10W, a sua viscosidade deverá estar na faixa de viscosidade compreendida entre 1.300 cS e 2.600 cS, para um óleo SAE 20W, de 2.600 cS a 10.500 cS, e assim por diante. 2.3.2 Classificação reológica dos fluidos Newtoniano – taxa de cisalhamento ( ) do fluido é diretamente proporcional à taxa de deformação aplicada ( y/u ). Ex.: água, glicerina, gasolina, etc. Aplica-se a Equação de Newton da viscosidade (Eq. 2.25). Não-newtoniano – a taxa de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação. Ex.: tintas, creme dental, polímeros, etc. Numerosas equações empíricas têm sido propostas para elaborar o modelo matemático dessas relações. Para o escoamento unidimensional o seguinte modelo exponencial tem sido usado: 32 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE n y y u k (2.33) o expoente n é chamado de índice de comportamento do escoamento e k de índice de consistência. Esta equação reduz-se à lei de Newton para n = 1 e k = pseudoplástico – é um fluido não-newtoniano cuja viscosidade aparente diminui com taxa de deformação crescentes (n1). Ex.: soluções poliméricas dilatante - é um fluido não-newtoniano cuja viscosidade aparente aumenta com taxa de deformação crescentes (n1). Ex.: soluções de amido e areia plástico Bingham ou ideal – é um fluido não-newtoniano que se comporta como um sólido até que uma tensão mínima y seja excedida. Subseqüentemente, a relação linear entre tensão e taxa de deformação é verificada. Ex.: suspensão de argilas e creme dental y u y 0 (2.34) A Figura 2.11 apresenta a classificação dos fluidos de acordo com o seu comportamento. Os fluidos nos quais a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação são não-newtonianos. Figura 2.11 – (a) Tensão de cisalhamento τ, e (b) Viscosidade aparente η como função da taxa de deformação para o escoamento unidimensional de diversos fluidos não-newtonianos. Fonte:Fox & Mcdonald (1998), Introdução à Mecânica dos Fluidos. 33 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Todos os tipos de fluidos da Figura 2.11 são independentes do tempo de duração da aplicação da tensão. Os fluidos tempo-dependentes são os tixotrópicos e os reopéticos. fluidos tixotrópicos – viscosidade aparente reduz com o tempo de deformação sob tensão de cisalhamento constante. Ex.: tintas. fluidos reopéxicos – viscosidade aparente aumenta com o tempo de deformação sob tensão de cisalhamento constante. Ex.: maionese. 2.3.3 Tipos de escoamento a) Regime permanente – as velocidades não dependem do tempo b) Regime não-permanente – existe dependência do tempo c) Escoamento laminar – ocorre quando as partículas do fluido percorrem trajetórias paralelas sem que haja uma mistura microscópica. d) Escoamento turbulento – ocorre em velocidades mais elevadas de escoamento de um fluido. As trajetórias são curvilíneas e irregulares, emaranhando-se de tal modo que é impossível identificá-las na prática. Em cada ponto da corrente fluida, a velocidade varia em módulo, direção e sentido. Re 2300 (ver definição de Re no item 1.7) e) Escoamento ideal – escoamento de um fluido em que não ocorre perdas de energia. O movimento das partículas é análogo ao movimento de um sólido sobre um plano, sem atrito. f) Escoamento real – possui, ao contrário do escoamento ideal, um perfil de escoamento variável com tensões de cizalhamento g) Escoamento compressível – ocorrem variações consideráveis da densidade do fluido. Os escoamentos de gases com transferência de calor são exemplos desse tipo de escoamento h) Escoamento incompressível – escoamentos em que as variações da densidade do fluido são desprezíveis. Exemplo: escoamento de líquidos em geral onde / t = 0 i) Escoamento interno – escoamentos envoltos por superfícies sólidos. São também conhecidos por escoamentos em dutos. Os escoamentos em rios, fossos e aquedutos são considerados, também, como escoamentos internos (dutos incompletos) j) Escoamento externo – aqueles em torno de corpos imersos num fluido não-contido. Os fluxos sobre uma placa plana semi-infinita e em volta de um cilindro são exemplos de escoamentos externos. k) Escoamento invíscidos – viscosidade do fluido é nula. Os fluidos invíscidos não existem porque todo fluido apresenta uma tensão de cisalhamento quando é submetido a uma taxa de deformação. Entretanto, existem escoamentos onde os efeitos viscosos são relativamente pequenos (quando comparados com os outros efeitos presentes). Assim, nós podemos obter uma aproximação de primeira ordem para estes casos se ignorarmos os efeitos viscosos. Por exemplo, as forças viscosas encontradas em muitos escoamentos de água apresentaram ordens de grandeza muito menores do que as das outras forças presentes no escoamento, tais como as provocadas pela aceleração da gravidade ou pelas diferenças de pressão. De modo análogo, normalmente os efeitos viscosos associados com os escoamentos de gases são desprezíveis mas, em algumas circunstâncias, estes efeitos podem ser muito importantes. 34 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3.4 Número de Reynolds (Re ou NRe ) Re = DD (2.35) Onde, D é o diâmetro da tubulação, é a velocidade média de escoamento do fluido, é a densidade do fluido, a sua viscosidade dinâmica, é a sua viscosidade cinemática. . O número de Reynolds é, por definição, qualquer de várias quantidades adimensionais da forma (D / ) as quais são todas proporcionais à razão entre a força inercial e a força viscosa num sistema em escoamento. O número de Reynolds crítico indica a transição do escoamento laminar para o turbilhonar quando a velocidade é aumentada. Seu valor (2000 a 3000) depende da geometria do duto. 2.3.5 Outros conceitos comumente empregados no estudo da Mecânica dos Fluidos a) Gradiente - é a derivada direcional ao longo de um caminho onde ocorre valores máximos. Ex.: xT , t , tm , etc. b) Volume de controle (VC) - é uma região do espaço sujeito a um estudo, em que a quantidade, a natureza da matéria e a condição energética podem variar, mas a sua forma é fixa. O VC é definido quando a análise envolve um fluxo de massa. c) Superfície de controle (SC) – é a fronteira do VC. Uma superfície de controle é caracterizada por uma região fixa do VC. d) grandeza escalar – necessita apenas da especificação de uma magnitude para completa descrição (apenas do seu valor). Ex.: temperatura, viscosidade, etc. e) grandeza vetorial – necessitam além da magnitude, de uma especificação direcional completa. Ex.: velocidade, força, aceleração, etc. 2.3.6 Equações fundamentais da mecânica dos fluidos 2.3.6.1 Equação da continuidade Considere o volume de controle não deformável em repouso em relação a eixos de referência x, y, z, conforme apresentado na Figura 2.12. 35 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Figura 2.12 – Sistema e volume de controle: (a) no instante t; (b) no instante tt Fonte: Sisson & Pitts, Fenômenos de Transporte, 1988, pág. 272 Um campo arbitrário de velocidade t,z,y,xVV conduz a massa da região I para dentro do volume de controle (CV), enquanto a massa deixa o CV para a região III Pela Lei da Conservação de massa ( 0 dt dm ), temos que: tt,IIItt,IIt,IIt,I mmmm (2.36) A massa que sai da região I, no intervalo de tempo t, é igual a massa que deixa o CV para a região III no mesmo intervalo de tempo. Portanto, se t 0 também mI e mIII tendem a zero. Então, t mm t mm ttIIItI t tIIttII t ,, 0 ,, 0 limlim (2.37) O lado esquerdo torna-se: CV CV dV dt d dt dm (2.38) Desenvolvendo-se, agora o lado direito da equação em termos do vetor área dA temos a Forma Integral da Equação da Continuidade. Ou seja, CSCV dAdV t (2.39) 36 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE O primeiro termo representa a taxa da variação de massa dentro do volume de controle CV; o segundo, a vazão líquida em massa saindo pela superfície de controle. A conservação da massa exige que a soma dois termos seja nula. Ela afirma que a taxa de decréscimo da massa dentro do CV é igual à taxa de efluxo líquido da massa através da superfície de controle CS (regiões I e III). Esta equação é válida para qualquer fluido: viscoso ou ideal, compressível ou incompressível, puro ou multicomponente, escoamento com transferência de calor ou sem, etc. 2.3.6.1.1 Equação da continuidade para escoamento permanente Escoamento permanente (ou uniforme) numa seção implica em velocidade constante através de toda a área da seção. Neste caso, a equação da continuidade fica: 0 CS dA (2.40) Quando a densidade é constante numa seção, a integral da vazão em massa pode ser substituída por um produto. Assim, quando se supõe escoamento uniforme numa seção: sainentran AA )()( (2.41) n = velocidade perpendicular a superfície n = cos 2.3.6.1.2 Equação da continuidade para escoamento permanente unidimensional Um escoamento é unidimensional quando as propriedades do fluido e todas as características doescoamento puderem ser expressas em função de uma coordenada espacial e do tempo; as propriedades são uniformes numa direção perpendicular ao escoamento. Para um fluido num escoamento estacionário unidimensional, a equação da continuidade é expressa por 222111 AA (2.42) Para um fluido incompressível ( cte ): 2211 AA (2.43) 2.3.6.2 Equação de Navier-Stokes Considerando o deslocamento de uma partícula em coordenadas retangulares x, y e z, a equação de Navier-Stokes nessas três direções combinadas com a equação da conservação da massa fornecem uma descrição matemática completa do escoamento incompressível de um fluido Newtoniano. Devido a 37 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE sua complexidade (as equações de Navier-Stokes são diferenciais parciais de segunda ordem e não lineares) essas equações somente têm sido aplicadas com sucesso na solução analítica de escoamentos simples, como por exemplo, no escoamento laminar (ver Munson et al., Fundamentos da Mecânica dos Fluidos, pág. 312-322). A Equação de Navier-Stokes pode ser desenvolvida a partir da 2ª lei de Newton do movimento: sistemadt dM F (2.44) F - força externa resultante que atua sobre um corpo dM - variação da quantidade de movimento linear dt - variação do tempo A quantidade de movimento, M , do sistema (método de Lagrange), é dada por: )(sistemamassa sistema dmVM (2.45) V - campo de velocidade (= velocidade do centro de massa do sistema) dm - variação da massa do sistema Então, para um sistema infinitesimal de massa dm, a 2ª lei de Newton se sistema dt Vd dmFd (2.46) Onde, dt Vd é a aceleração que está atuação sobre a partícula, dentro do sistema. As variáveis vetoriais de força e de aceleração precisam ser equacionadas. Assim, 2.3.6.2.1 Equacionamento da variável aceleração Considerando que num instante t, a partícula está na posição x, y, z e tem uma velocidade corresponde à velocidade naquele ponto no espaço; decorrido t+dt , a partícula moveu-se para uma nova posição, com as coordenadas x+dx, y+dy, z+dz, e pode ter uma nova velocidade.Então, a variação da velocidade desta partícula de t para t+dt, é: dt t V dz z V dy y V dx x V Vd pppp (2.47) 38 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Fazendo, u dt dxp , v dt dyp e w dt dz p , A aceleração fica (para a direção x, por exemplo): t u z u w y u v x u u Dt Du x a p (2.48) A derivada DtDi , usualmente chamada de derivada substancial, material ou de partícula, é utilizada para nos lembrar de que a aceleração que ela representa é a que atua sobre uma partícula de “substância”. Dt Di = aceleração total de uma partícula fluida na direção i z i w y i v x i u = aceleração convectiva (*) na direção i t i = aceleração local (**) na direção i (*) A aceleração convectiva ocorre quando a partícula fluida é conduzida para uma região de velocidade mais alta (ou mais baixa). (**) é devido ao escoamento não-permanente onde o campo de velocidade é função do tempo. 2.3.6.2.2 Equacionamento da variável força As forças que atuam sobre uma partícula fluida podem ser divididas em dois grupos: (1) FB - forças de campo (força gravitacional, força devido a um campo elétrico e/ou magnético) e (2) FS - forças de superfícies que são as forças normais (pressão hidráulica) e as forças tangenciais (de cisalhamento). Considerando a força gravitacional devido a aceleração da gravidade (g) como única força de campo que atua sobre a partícula fluida temos para FB : gdmFd B (2.49) Onde, o componente do vetor aceleração da gravidade na direção x, por exemplo, é: 39 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE xBx gdmdF (2.50) Em relação à FS, considerando as forças de pressão (FN) e de cisalhamento (FC), como forças de superfície que atuam sobre uma superfície arbitrária na massa de fluido, temos, na direção x, em cada face do elemento (obtidas por um desenvolvimento em série de Taylor em relação ao centro do elemento): dxdydz zyx dF zx yxxx Sx (2.51) onde e simbolizam a tensão normal (devido a pressão hidráulica) e a tensão de superfície (devido ao cisalhamento), respectivamente. Expressões para as tensões e As tensões e podem ser expressas em termos dos gradientes de velocidade e das propriedades dos fluidos, em coordenadas retangulares, como segue para o caso da direção x: x u Vp xx 2 3 2 (2.52) y u x v yxxy (2.53) Onde µ é a viscosidade do fluido, p é a pressão termodinâmica local. Substituindo as expressões da aceleração e das forças atuantes sobre a partícula fluida, juntamente com as expressão de e , na Eq. 4.11 obteremos as Equações de Navier-Stokes na direção x: V x u xx p g t u z u w y u v x u u x 3 2 2 z u x w zx v y u y (2.54) Da mesma maneira, podemos obter as equações nas direções y e z. Procedimento semelhante pode ser empregado para definir as equações de Navier-Stokes em coordenadas cilíndricas e esféricas . 40 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3.6.3 Equação de Euler do movimento Considere a equação de Navier-Stokes desenvolvida anteriormente para a direção x. Essa equação, quando aplicada ao escoamento invíscido (onde a tensão de cisalhamento é nula ( = 0) e a tensão normal () pode ser substituída por p ) se reduz a: 2 2 2 2 2 2 z u y u x u µ x p g t u z u w y u v x u u x (2.55) Para o caso do escoamento sem atrito (µ=0), essa equação do movimento reduz-se à Equação de Euler do movimento. Assim, x p g t u z u w y u v x u u x (2.56) Para aplicação em coordenadas cilíndricas ou esféricas, ver anexos de BIRD et al (Fenômenos de Transporte, 2004); ROMA (Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2003); FOX e McDONALD (Introdução à Mecânica dos Fluidos, 1998); SISSON e PITTS (Fenômenos de Transporte, 1979); BENNETT e MIERS (Fenômenos de Transporte,1978), entre outros. 2.3.6.4 Equação de Bernoulli Aplicada somente para escoamento não-viscoso, a equação de Bernoulli é originada da equação geral da continuidade e deduzida pela integração da equação de Euler para escoamento permanente ao longo de uma linha de corrente s. Assim, ss z g s p 1 (2.57) Se a partícula fluida mover-se de uma distância ds ao longo da linha de corrente, então, ) de longo ao pressão de (variação sdpds s p ) de longo ao altura de (variação sdzds s z 41 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE ) de longo ao e velocidadde (variação sdds s Assim, constante dzgd dp (2.58) Para o caso especial de escoamento incompressível ( = constante), a integração desta equação resulta na Equação de Bernoulli, constante 2 12 2 1 2 212 zzg pp (2.59) Restrições da equação de Bernoulli: (1) Escoamento permanente (2) Escoamento incompressível (3) Escoamento sem atrito (4) Escoamento ao longo de uma linha de corrente Outras formas de representação da equação de Bernoulli encontradas na literatura são: constante 2 12 2 1 2 2 12 zzpp (2.60) constante 2 12 2 1 2 212 zz gg pp (2.61) ou, simplesmente, constante 2 2 z gg p (2.62) 42 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3.7 Cálculo de bombas 2.3.7.1 Equação Modificada de Bernoulli A Eq. de Bernoulli (Eq. 2.59 – 2.62) representa o balanço de energia entre dois pontos de um sistema com as restrições impostas de escoamento permanente, incompressível, sem atrito e ao longo de uma linha de corrente. Se considerarmos escoamento com perda de carga a equação fica: fhz g p z g p 2 2 22 1 2 11 22 (2.63) Ou, Hhzz g pp f 12 2 1 2 212 2 (2.64) Onde hf é a perda de carga total no escoamento entre as seções 1 e 2 e H representa a altura manométrica total, definida como a diferença entre a altura manométrica de descarga ou recalque (Hd) e a de sucção (Hs) . Para a determinação da altura manométrica (H), com o objetivo de se entrar nos catálogos dos fabricantes de bombas com o par Q e H e escolher o tipo de bomba ideal, é necessário o cálculo da perda de carga fh , ou melhor, da energia que o líquido irá despender ao passar por todo o sistema hidráulico (encanamento), do ponto 1 ao ponto 2 do escoamento. A perda de carga, ou de energia, resulta do atrito interno do líquido, que é função da viscosidade do fluido e da resistência ao fluxo oferecida pela rugosidade das tubulações, e das alterações nas trajetórias das partículas líquidas impostas pelas peças e dispositivos intercalados nos encanamentos. Estes dois tipos de perdas são conhecidos como perda de carga devido ao atrito (perda distribuída ou devida ao deslocamento) ( dh ) e perda de carga devido às singularidades ou conexões. (perda localizada ou singular) ( sh ). Assim, f gD L hd 2 2 Equação de Darcy-Weisbach (2.65) g Khs 2 2 (2.66) 43 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE Onde, L – comprimento linear do encanamento (m) D – diâmetro interno da tubulação (m) f - fator de atrito ou fator de Fanning (adimensional) - velocidade média do fluido em escoamento (m/s) K - coeficiente de perda de carga tabelado para cada singularidade (adimensional) A Eq. 2.66 pode ser reescrita em termos do comprimento equivalente ( eqL ) de cada conexão ou componente da tubulação. Nesta terminologia, a perda de carga é fornecida em termos do comprimento de conduto que produz a mesma perda de carga que o componente. Deste modo, para o componente considerado ds hh . Portanto, f gD L g K eq 22 22 E, conseqüente: f D KLeq (2.67) Os valores de Leq para a maioria das singularidades podem ser encontrados em tabelas disponíveis na literatura que trata sobre o assunto. Utilizando o conceito de comprimento equivalente, a perda de carga total fh pode ser reescrita como: f gD LL h eq f 2 2 (2.68) Retornando à Eq. 2.64, caso se deseje calcular a energia necessária ao sistema para equilibrá-lo (H = -WE/g), tem-se que: 0 2 12 2 1 2 212 g W hzz g pp E f (2.69) Onde WE é a potência do eixo. WE será positivo caso haja energia sobrando no sistema, ou seja, o sistema é GERADOR de energia. 44 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE WE será negativo caso haja necessidade de adicionar energia ao sistema, ou seja, o sistema é CONSUMIDOR de energia. Em sistemas de deslocamento de fluidos o consumo de energia é feito através do uso de bombas. Assim, podemos estimar a potência de uma bomba ( OP ) necessária para o sistema como: QWQWP SSO (2.70) A Figura 2.13 apresenta um exemplo típico da instalação de uma bomba centrífuga. Observe que na Eq. 2.69, no cálculo de WE não foi levado em conta o valor da eficiência operacional da bomba, ou seja, o seu rendimento (η). O valor de η pode variar de 10 (η = 0,1) a 80% (η = 0,8) para a maioria das bombas. Reescrevendo a Eq. 2.69 temos que: 0 2 12 2 1 2 212 g W hzz g pp S f (2.71) A Eq. 2.71 é conhecida como Equação Modificada de Bernoulli para cálculo de bombas. Figura 2.13– Sistema hidráulico típico. Fonte: MUNSON et al. (2004). 45 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 2.3.7.1 Curva característica É a curva de desempenho da bomba, ou seja, a curva mostrando a variação da altura manométrica da bomba (H) com a vazão (Q), a velocidade constante. A Fig. 2.14, apresenta um conjunto de curvas características típicas de uma bomba centrífuga em operação. Figura 2.14 - Comportamento típico de uma bomba centrífuga que opera com velocidade constante. Fonte: Gomide (1997). In: Operações Unitárias, Vol. II (2ª parte), Operações com Fluidos. NPSH (net positive suction head) – é a carga total no bocal de sucção da bomba, menos a pressão de vapor do líquido à temperatura de bombeamento. Fisicamente esse parâmetro é a sobrepressão mínima relativa à pressão de vapor do líquido a ser mantida no bocal de sucção a fim de garantir um estado de ausência de cavitação na bomba. 46 Fenômenos de Transporte Prof. Ozair Souza - UNIVILLE 3. TRANSPORTE DE CALOR 3.1 Definição de TC Transporte ou Transferência de calor (TC) é o estudo do modo e da velocidade com que o calor é transferido de um corpo a outro. Bennett & Miers (1978) definem TC como o “Transporte de energia que ocorre devido à força motriz que chamamos