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A dominação masculina - Resumo

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Em sua obra “ A dominação masculina”, Bourdieu analisou a cultura Cabila, sociedade que possui sua tradição cultural baseada no princípio androcêntrico, o que quer dizer que masculino e feminino são opostos e assimétricos, o masculino é visto como hierarquicamente superior e construído contra e em relação ao feminino.
O objetivo principal da obra é desnaturalizar, desmitificar, desfatalizar as estruturas de dominação, que com o decorrer da história assumiram um caráter natural. Para Bourdieu a dominação masculina é violência simbólica, violência que não é percebida pelas próprias vítimas, que esconde-se na visão cosmológica de uma sociedade, enraíza-se nas práticas culturais, esconde-se na diferenciação sexual, utiliza-se do corpo feminino como instrumento de controle. O resultado da violência simbólica é a submissão paradoxal, que expressa-se no reconhecimento e respeito pelas condutas dominantes. 
O sociólogo analisa a construção social naturalizada do gênero como habitus sexuado. Segundo Bourdieu (1989,p.61) " o habitus como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e também um haver, um capital o habitus, a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural”. O conceito de habitus faz com que se torne possível compreender a construção da dicotomia entre masculino/ feminino, a oposição de ambos ressalta a diferenciação que além de biológica (referente a anatomia dos corpos) é construída socialmente. Em decorrência disso, a própria socialização dos corpos estaria tingida por essas ideias, como afirma Bourdieu (1995, p. 156), “os princípios fundamentais da visão androcêntrica do mundo são naturalizados sob a forma de posições e disposições elementares do corpo que são percebidas como expressões naturais de tendências naturais.”
Essa biologização do social, legitima a dominação masculina tornando dispensável uma justificação coerente para tal imposição da visão androcêntrica.
A linguagem é um dos mecanismos evidentes dessa dominação, em seus estudos na região da Cabília, Bourdieu verificou a predominância de estruturas morfológicas que evocam a plenitude e superioridade masculina, o sêmen simboliza o preenchimento, leite, aquilo que dá a vida e a mulher é mera receptora, representado o vazio a ser preenchido e que se encherá de vida. Essas representações possuem um caráter místico e faz parte da concepção ritualística da fertilidade. Mas Bourdieu ressalta que os dominadores são ao mesmo tempo dominados por essas representações, visto que o homem que não corresponde a certos atributos, podem passar de dominantes a dominados, já que as mulheres podem se alicerçar nos esquemas de percepções dominantes.Outro ponto essencial ressaltado pelo autor é a concepção do ato sexual como uma relação de dominação, a mulher é vista como uma figura passiva, frívola e o homem é o ator principal, o ser que possui, o dominador. 
O controle dos corpos faz parte da socialização e posteriormente da naturalização das condutas morais, o homem desde criança aprende a porta-se de maneira viril, deixando de lado qualquer sinal de feminilidade, as meninas aprendem a esconder seu corpo, educar seu olhar e postura e reconhecer o homem como uma figura de autoridade. Como o autor coloca no texto, a postura da mulher cabila não difere das mulheres ocidentais, pois a figura feminina possui um caráter quase universal de submissão, docilidade, sujeição ao homem. Apesar da obra ter sido escrita no sec. XX matem-se bastante atual, as mulheres conquistaram alguns direitos e estão mais conscientes da sua igualdade e reconhecimento social, mas muitos valores arcaicos perpetuam-se até os dias atuais, como a visão machista de que a mulher ainda deve saber se portar diante da sociedade, não deve se expôr ou mostrar demais seu corpo ou até mesmo suas ideias.
Bourdieu afirma que entre o homem e a mulher existe uma dissimetria fundamental a do objeto e sujeito, agente e instrumento) que no terreno de trocas simbólicas, as enxerga como passiva, objeto, ou melhor, instrumento simbólico da política masculina, ficando a seu cargo a função de perpetuar ou acumular o capital simbólico dos homens, que concede à eles uma posição de destaque dentro do campo.
Para que elas possam cumprir com tal papel, devem manter-se virgens e fieis, por tal, existe um quase paranoico controle da virgindade e comportamento sexual delas, sempre mantidas longe da ofensa e suspeita que as isentaria de valor simbólico e não mais poderiam ser usadas como moeda de troca no mercado matrimonial, deixando de permitir aos homens produzir alianças, ou seja, capital social, e aliados prestigiosos, isto é, capital simbólico. 
A divisão sexual do trabalho além de fazer a manutenção do capital social e simbólico serve também para criar e reforçar estereótipos e a desigualdade de gênero ao conceder aos homens o monopólio de todas as atividades públicas, de representação e dos espaços onde são realizados os jogos sociais (mercado e assembleia) e às mulheres cabe a exclusão de tais espaços e atividades ocultas, secretas, consideradas fáceis e sempre realizadas fora de vista.
Visto que, nos tempos hodiernos, as mulheres deixaram de habitar somente o doméstico e passaram a ocupar também os espaços de poder que lhe eram proibidos, já possuem autonomia, por terem de forma parcial se “emancipado” da dominação masculina, os homens temendo perder os direitos e poderes sobre elas, visam conservar seu capital simbólico por meio de estratégias, matrimonias, econômicas, todas orientadas no sentido de transmissão de capital. Tornaram-se mais agressivos na demonstração de sua virilidade numa tentativa de assustar e manter as mulheres reclusas para que eles possam manter seus privilégios.
Contudo essa necessidade de afirmação de poder e virilidade que lhe é ensinada desde a infância e reforçada durante toda a sua socialização o coloca sob um sistema de exigências que além de lhe cobrar tal afirmação lhe proíbe a demonstração de sensibilidade que o feminizaria. Quando o homem sofre por não se enquadrar dentro do que é esperado, quando é passivo, quando demonstra fraqueza é quando a virilidade se torna uma cilada, por exigir sua constante (re) afirmação.
É também no processo de socialização, onde reforçam um lugar social de construção de masculino e feminino, que as mulheres aprendem a manter seu corpo e vida disponíveis para satisfação masculina, aprendem a submissão e abnegação e os homens aprendem a consumir o corpo da mulher, a serem ativos, a não terem medo.
Bordieu trata a virilidade como uma questão relacional, que envolve os homens entre si contra a feminilidade, sinônimo de fraqueza que gera medo do feminino. Por isso, ela deve ser validada diante dos outros homens e reconhecida em seu caráter de violência real e potencial.
Regular o comportamento sexual da mulher, suas vestimentas, os locais onde anda, nada mais é do que - travestido de boa intenção e cuidado,- noções do senso comum que estão na base da violência sexual - que possui ligação com a virilidade, fato que é explicitado na tradição brasileira ao associar o pênis a uma arma.
Primeiro é de que a culpa é sempre da mulher, se ela sofreu abuso, é porque não se cuidou, estava com uma roupa, num lugar e horário inadequados, quando mantem condutas contrárias ao que é esperado, e o homem, aquele que é incapaz de resistir aos seus instintos nada pode fazer a não ser dar vazão à violência.
A segunda é que na verdade, elas são a ameaça, é nelas que reside o perigo, por isso são elas quem devem se esconder, que devem ser segregadas como no vagão rosa, são quem devem mudar o comportamento para não serem estupradas, tanto que quando sofrem de tal violência são seus antecedentes que são buscados ao invés do acusado. Julgam-lhe moralmente e legalmente tiram-lhe direitos.
O medo do feminino é também o princípio de certas formas de coragem masculinas, como quando para demonstrar bravura, negligenciam métodos de segurança no trabalho, nos setores militares e escolares, por medo de serem taxados de “fracos”, “mulherzinha” e perdera consideração perante os “companheiros”.
A dominação masculina nos diversos âmbitos escolares e profissionais, onde as mulheres são relegadas a postos de trabalho que de alguma forma possuem relação com o trabalho que desenvolveriam em casa (cuidados, assistência, educação) e que, mesmo com melhores capacidades técnicas e acadêmicas elas nunca ocupam postos de comando e/ou onde devem comandar homens. E mesmo assim, seus salários ainda vão ser menores que os deles.
Essa cultura vêm sendo construída desde a escola, onde os pais e os próprios educadores incentivam as crianças do sexo feminino a buscarem trabalhos em que possam apenas ajudar, e não exercer posições de comando, sob risco de ambientes vexatórios e que não lhe fazem bem. Portanto, além de lutar contra o assédio físico, sexual e moral, a mulher também luta contra uma sociedade onde sistematicamente o homem possui mais privilégios mesmo sendo menos preparado no mercado de trabalho e sempre possui mais vantagens em detrimento a mulher, que sempre possuem vagas destinadas a postos mãos subservientes e de auxílio. 
Através da Igreja e do Direito, temos no casamento um símbolo maior do guardião do capital simbólico, onde mesmo com o exercício da sexualidade desvinculada do matrimônio, ainda temos o patrimônio sendo transmitido através do casamento, e com isso a mulher de certa forma se torna uma das próprias moedas de troca, sendo designada a aceitar o matrimônio como forma de perpetuação e agregação de riquezas entre famílias. Vemos aí também o fato das mulheres sempre serem vistas ou pelo menos sentidas como valores, patrimônios, em detrimento do seu real significado; onde elas devem ter um cuidado todo redobrado com sua beleza e aparência, mesmo que não queira, afim de satisfazer o ambiente ao seu redor, o sexo oposto que enxerga na mulher um ser inferior relegado a sua condição de cuidadora, progenitora e assistente.
Pode-se observar que o autor busca elencar os mais diversos meios de dominação simbólica, afim de mostrar que somente deles (seja a família, a escola, o trabalho) deve partir o início da mudança e consequentemente o fim dessa dominação. Também é mostrado a dificuldade dele enquanto autor da obra um próprio ser dominante na sociedade por ser justamente do sexo oposto ao dominado e o que isso pode acarretar sobre impressões e pensamentos sobre sua obra.Por fim, identificamos a busca pela conscientização, pela ação de trazer à tona toda a dominação masculina impregnada em nosso mundo desde os seus primórdios e que a obra leva consigo um objetivo de mostrar como e o porque a dominação masculina deve ser debatida e combatida.

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