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DIREITO CIVIL AULA 05



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DIREITO CIVIL - AULA 05 (17/04/12)
Continuação dos Defeitos do Negócio Jurídico
05) Lesão
- O Direito Romano já diferenciava a lesão enorme da lesão enormíssima, o que bem demonstra a raiz antiga do presente instituto. Vale observar que a lesão enorme seria aquela superior à metade do preço justo e a enormíssima, superior a 2/3 do preço justo.
- Conceito: a lesão, vício invalidante do negócio jurídico, consiste na desproporção existente entre as prestações do negócio, em virtude da necessidade ou inexperiência de uma das partes, que experimenta o prejuízo.
- A Lesão tem um aspecto mais genérico do que o Estado de Perigo. A agiotagem é considerada como Lesão.
- A previsão deste defeito, consagrada no CC/2002 e ausente no CC/1916 atende ao princípio da função social.
OBS: Coube a uma lei criminal (art. 4º, da L. 1.521/51 – Lei de Economia Popular), e, posteriormente ao CDC (art. 6º, inc. V; art. 39, inc. V; e art. 51, inc. IV) reconhecer a lesão antes do CC/2002.
- Caso o negócio jurídico viciado pela lesão haja sido celebrado sob a égide do CC/1916, não é correto defender-se a aplicação retroativa do CC/2002. Mais razoável é sustentar-se a sua nulidade por afronta ao princípio constitucional da função social, valendo acrescentar que julgado do STJ também chega a conclusão de nulidade por “ilicitude do objeto” (REsp. 434.687/RJ). 
OBS: Para a discussão de um negócio jurídico, deve utilizar o regramento da época. Não há que se falar em retroatividade neste caso.
- Após a entrada em vigor do CC/2002, à luz do art. 157, a lesão, PARA OS NEGÓCIOS CIVIS EM GERAL, foi tratada como causa de anulabilidade do negócio jurídico, diferentemente do CDC, que, PARA OS NEGÓCIOS DE CONSUMO, considera a lesão causa de nulidade absoluta.
- Na hora da prova, se perguntarem o que a lesão gera, a resposta será que depende se o negócio é civil em geral ou de consumo.
- Tradicionalmente, a doutrina costuma reconhecer dois requisitos na lesão: um requisito material/objetivo e um requisito imaterial/subjetivo. O requisito material é a desproporção entre as prestações do negócio e o requisito imaterial é, de um lado, a necessidade/inexperiência da parte prejudicada, e do outro lado, a intenção de prejudicar (dolo de aproveitamento).
- Contudo, o CC/2002 não exigiu a comprovação da intenção de prejudicar (dolo de aproveitamento), para que se configure a lesão. Isto porque esta é uma prova muito complexa de se realizar perante o judiciário. Portanto, de acordo com o CC/2002, os requisitos da lesão são a desproporção entre as prestações do negócio e a necessidade/inexperiência da parte prejudicada.
OBS: Ficar atento para o caso que a necessidade seja em razão de perigo à saúde ou à própria vida, pois, neste caso, estamos diante do estado de perigo.
- Utilizou-se um sistema aberto para analisar a existência da desproporção, não havendo regra matemática para saber qual o valor da desproporção (art. 157, § 1°, CC).
- Empréstimo consignado é lícito, mas é possível que haja lesão neste tipo de contrato.
OBS: Sílvio Rodrigues observa que a lesão só é passível de ocorrer em negócios comutativos, e não nos aleatórios, porquanto nestes últimos o risco é previamente assumido. Contrato comutativo é aquele que tem prestações certas (compra e venda). Contrato aleatório é aquele que tem risco (safra de cana a um preço fixo).
- Vale acrescentar a diferença entre o contrato de compra e venda aleatório emptio spei (em que o contratante assume o risco de não ganhar coisa alguma), e o emptio rei speratae (em que o alienante se obriga a entregar alguma quantidade do objeto do negócio).
- Caio Mario observa que mesmo o indivíduo milionário pode ser vítima de lesão.
- Qual é a diferença entre lesão e teoria da imprevisão? R: A lesão é vício invalidante que nasce com o próprio negócio, ou seja, o desequilíbrio entre as prestações é originário; Diferentemente, na teoria da imprevisão, o negócio é originariamente válido e o desequilíbrio superveniente. A teoria da imprevisão não invalida, mas apenas resolve ou revisa o contrato (Será visto no intensivo II).
06) Simulação
- Até o CC/1916, a simulação foi tratada como causa de anulabilidade do negócio jurídico; A partir do CC/2002 (art. 167) a simulação passou a ser tratada como causa de nulidade absoluta do negócio jurídico.
- Conceito: Na simulação, celebra-se um negócio jurídico aparentemente normal, mas que, em verdade, não pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir.
- A simulação é bilateral, porque as duas partes celebram um negócio para causar lesão a um terceiro.
- A doutrina traz dois tipos de simulação: absoluta e relativa (dissimulação).
- Na simulação absoluta, as partes criam um negócio jurídico destinado a não gerar efeito jurídico algum. O negócio é nulo de pleno direito. Ex1: O marido e seu amigo celebram um contrato para transferir os valores e bens do casal para que posteriormente o marido separe da esposa sem que tenha que dividir seus bens. Ex2: Lide simulada na área trabalhista. O empregador mancomunado com o empregado busca o judiciário para obter a homologação do juiz. Ex3: Na declaração de imposto de renda, o irmão do sujeito entra com uma ação de alimentos e eles celebram um acordo falso para abater o valor no imposto de renda.
- Na simulação relativa, também chamada de dissimulação, as partes celebram um negócio destinado a encobrir um outro negócio que produzirá efeitos proibidos pelo ordenamento jurídico.
OBS: Na simulação relativa, nos termos da parte final do art. 167, e do enunciado 153 da 3ª Jornada de Direito Civil, é possível, à luz do princípio da conservação, aproveitar-se o negócio dissimulado se não houver ofensa à lei ou a terceiros. Ou seja, se o negócio encoberto puder ser aproveitado, o juiz aproveitará. Ex: É o marido que, juntamente com a amante, simula uma compra e venda para encobrir uma doação de um imóvel.
- Também há o caso de simulação relativa por interposta pessoa. Ex: O marido doa o imóvel a um amigo, que posteriormente doa à amante do marido.
OBS: O Novo CC acabou com a figura da “simulação inocente”, prevista no art. 103 do CC/1916, aquele tipo de simulação desprovida da intenção de prejudicar terceiros ou violar a lei. Na mesma linha, nos termos do Enunciado 294 da 4ª Jornada de Direito Civil, perdeu espaço a regra do art. 104 do CC/1916 que proibia uma parte de alegar simulação contra a outra. Ora, por ser causa de nulidade absoluta, qualquer pessoa pode impugnar ou até mesmo o juiz reconhecer o defeito de ofício.
- O que se entende por reserva mental (ou reticência)? R: O Direito Romano, segundo Mario Talamanca, considerava a reserva mental irrelevante. O CC/1916 nada dispunha sobre o tema. Referência, todavia, é encontrada no § 116 do BGB (Código Civil Alemão). Na reserva mental, o agente emite a declaração de vontade, resguardando no seu íntimo o recôndito propósito de não cumprir o que manifestou ou atingir um fim diverso do ostensivamente declarado. O CC Brasileiro, em seu art. 110, na linha de pensamento do Ministro Moreira Alves, dispõe ser o negócio inexistente, se a outra parte toma conhecimento da reserva; Todavia, corrente há na doutrina que sustenta, não a inexistência, mas a invalidade do negócio quando da reserva toma conhecimento a outra parte (Carlos Roberto Gonçalves).
- O que é contrato de Vaca-Papel? R: É uma patologia jurídica, no campo da simulação. Segundo o Prof. Marco Pissurno, em sua pesquisa intitulada “A parceria pecuária, a patologia da vaca-papel e o Novo Código Civil”, trata-se de um negócio simulado pelo qual, a pretexto de se celebrar um contrato de parceria pecuária, encobre-se um contrato de empréstimo de dinheiro a juros extorsivos (REsp. 595.766/MS).