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Apostila Direito Civil Estudo dirigido

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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1
AULA EXTRA 02 
 
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
 (arts. 233 a 420, CC) 
 
���Itens específicos previstos no edital e que serão abordados nesta aula: 
Obrigações: modalidades das obrigações, transmissão, adimplemento, extinção e 
inadimplemento. 
Subitens: Direito das Obrigações. Teoria Geral. Conceito. Elementos Constitutivos. 
Classificação. Cláusula Penal. Adimplemento e Extinção das Obrigações. Pagamento. 
Direto e Indireto. Dação em Pagamento. Novação. Confusão. Compensação. Remissão 
das Dividas. Arras ou Sinal. Cláusula Penal. Extinção da obrigação sem pagamento. 
Execução forçada por intermédio do Poder Judiciário. Consequências da inexecução da 
obrigação por fato imputável ao devedor (mora, perda e danos e cláusula penal). 
Transmissão (cessão de crédito, cessão de débito e cessão do contrato). Declaração 
unilateral de vontade: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento 
indevido e enriquecimento sem causa e títulos de crédito. 
 
Meus amigos e alunos 
Com essa aula, encerramos nosso curso de Direito Civil, ficando o mesmo 
rigorosamente de acordo com o Edital de ESAF, publicado no dia 06 de julho de 
2012. Este ponto é uma novidade! Até agora ele nunca tinha sido exigido nos 
concursos para AFRFB e mesmo para o AFT. Vamos a ele.... 
CONCEITO DE OBRIGAÇÃO 
Em nosso dia-a-dia assumimos diversas “obrigações”. Com a nossa família 
ou com vizinhos, com a religião que adotamos, com nosso País, etc. Mas a 
obrigação que nos interessa é a “obrigação civil”, ou seja, ligada ao direito. Todo 
direito traz a ideia de obrigação. Isto porque não existe direito sem obrigação e 
nem obrigação sem o correspondente direito. Em um conceito completo e 
técnico dizemos que: 
“Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitória, 
estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação 
pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, 
garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de seu patrimônio”... 
ufa! Mas em um conceito mais resumido podemos dizer que obrigação é o 
direito do credor contra o devedor! Ou seja, confere-se ao credor (sujeito 
ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de 
determinada prestação economicamente apreciável, sendo que no caso de 
descumprimento poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor (art. 
391, CC). Bem... com base nestes conceitos, veremos agora cada um dos 
elementos de uma obrigação. 
 
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ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
1. Elemento Pessoal ou Subjetivo. São os sujeitos (ou as partes) da 
obrigação: 
• Sujeito Ativo: é o credor, o beneficiário da obrigação; é a pessoa (física 
ou jurídica) a quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo o 
direito de exigir o seu cumprimento. 
• Sujeito Passivo: é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, de 
efetuar a prestação, sob pena de responder com seu patrimônio. 
 Observação Cada um desses polos (ativo ou passivo) pode haver mais 
de um credor ou devedor: “A” e “B” são credores e “C” e “D” são devedores. E, 
como veremos, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: digamos que “A” 
pratique um ato ilícito contra “B”. “A” é o devedor.”B” é o credor. Aqui sabe-se 
exatamente quem é o credor e quem é o devedor. Mas em uma compra e 
venda... quem é quem? Aqui temos uma relação complexa; ambos são credores 
e devedores simultaneamente: o comprador é credor da coisa, mas é devedor 
do dinheiro; já o vendedor é credor do dinheiro, mas devedor da coisa... 
2. Elemento Material ou Objetivo. É o objeto de uma obrigação. Para a 
maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a prestação imediata, que é 
sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação: obrigação de dar ou 
fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer). Veremos esta 
classificação logo adiante de forma detalhada. Já o objeto mediato é o bem, 
propriamente dito. 
Exemplo: “A” deve entregar um quadro a “B”. O objeto imediato, que é a 
prestação; no caso é a obrigação de dar. Já o quadro é o bem sobre o qual recai 
o direito, sendo considerado como o objeto mediato. O objeto (prestação), para 
ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente), determinado ou 
determinável e economicamente apreciável (patrimonialidade). É admissível a 
obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja digno 
de tutela o interesse das partes. 
3. Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico. É o vínculo que liga os sujeitos 
ao objeto da obrigação; é o elo que sujeita o devedor a determinada prestação 
(positiva ou negativa) em favor do credor. Ex.: um acidente de trânsito gera um 
ato ilícito; um acordo de vontades produz o contrato). Abrange o dever da 
pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de não 
cumprimento (obligatio). 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES 
Como surgem as relações concretas entre os particulares? Costuma-se dizer 
que a lei é a fonte primária ou imediata de qualquer obrigação (“Ninguém é 
obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei”). Já as fontes 
mediatas seriam: 
• Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex.: 
os contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a 
principal e maior fonte de obrigação. 
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• Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, 
apenas uma pessoa se obriga. Ex.: promessa de recompensa (perdeu-se 
cachorrinho... recompensa-se bem). Com isso eu me obrigo perante quem 
cumpre a tarefa. 
• Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a 
reparar o dano (art. 927, CC) dele decorrente. 
CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS OBRIGAÇÕES 
I. QUANTO À NATUREZA DO OBJETO 
A) Positivas 
1. Obrigação de Dar 
a) coisa certa 
b) coisa incerta 
2. Obrigação de Fazer 
a) fungível 
b) infungível 
B) Negativas 
1. Obrigação de Não Fazer 
II. QUANTO A SEUS ELEMENTOS 
A) Simples – um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. 
B) Compostas – pluralidade de objetos ou de sujeitos. 
1. Pluralidade de Objetos 
a) cumulativa 
b) alternativa 
2. Pluralidade de Sujeitos (Solidariedade) 
a) ativa 
b) passiva 
III. QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS 
• puras e simples 
• condicionais 
• a termo 
• modais 
IV. OUTRAS MODALIDADES 
• líquidas ou ilíquidas 
• divisíveis ou indivisíveis 
• de resultado, ou de meio, ou de garantia 
• instantâneas, fracionadas, diferidas ou de trato sucessivo 
• principais ou acessórias 
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• propter rem 
• naturais 
I. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR 
Obrigação de dar é aquela em que o devedor se compromete a entregar 
alguma coisa (certa ou incerta). A obrigação de dar confere ao credor somente o 
direito pessoal e não o direito real. Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, 
mas não opera a transferência da propriedade. Esta somente se concretiza com 
a tradição (entrega - bens móveis) ou pelo registro (bens imóveis). Ela pode ser 
dividida em: a) específica: obrigação de dar coisa certa (ex.: uma joia, um 
carro, um livro, etc.); b) genérica: obrigação de dar coisa incerta (ex.: a 
obrigação de dar um boi, dentre uma boiada). Vejamos. 
A) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233/242, CC) 
O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada, 
perfeitamente individualizada, que possaser diferenciada de outras da mesma 
espécie (ex.: a vaca Mimosa ou a camisa do Pelé), podendo ser móvel ou 
imóvel. 
���Regra básica: o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais 
valiosa (art. 313, CC). Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex.: 
compra e venda), ou a de entregar a posse (ex.: locador ou comodante que 
deve entregar a coisa). 
Se a coisa a ser entregue tiver um acessório, a obrigação principal 
abrange também os acessórios, salvo se as partes estipularem de modo diverso 
(art. 233, CC). Ex.: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar 
todos os bens móveis da chácara; vendo meu carro, mas estabeleço que posso 
retirar o “som” nele instalado. 
O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao 
credor, bem como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. Mas mesmo 
assim a coisa pode se perder. Até a entrega da coisa esta ainda pertence ao 
devedor. 
1) Consequências jurídicas do perecimento (perda ou destruição total) da 
coisa: 
a) Sem culpa do devedor (caso fortuito ou força maior). Se a perda 
ocorreu antes da tradição resolve-se (extingue-se) a obrigação, para ambas 
as partes, que voltam à situação primitiva; se o vendedor já recebeu o preço 
da coisa que pereceu, deve devolvê-lo com correção monetária; o prejuízo é 
do vendedor. Se a perda ocorreu após a tradição o negócio está mantido e o 
prejuízo é do comprador. 
b) Com culpa do devedor. Indenização pelo valor da coisa (o equivalente 
em dinheiro) mais perdas e danos. 
2) Consequências jurídicas da deterioração (perda ou destruição parcial) da 
coisa antes da tradição (arts. 235/236, CC): 
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a) Sem culpa do devedor. Credor escolhe: resolve-se a obrigação, com 
restituição do preço mais correção monetária ou pode receber a coisa no 
estado que está, com um abatimento proporcional no preço que se perdeu. 
b) Com culpa do devedor. Credor pode optar: extingue-se a obrigação 
pagando o devedor o equivalente em dinheiro mais perdas e danos ou 
recebe a coisa no estado em que se encontra recebendo uma indenização 
pelos prejuízos causados. 
Antes da tradição Sem culpa do 
devedor 
Com culpa do 
devedor 
Perda (extinção total) 
da coisa (art. 234, CC). 
Extingue a obrigação. 
Devolução da quantia 
paga. 
Indenização (valor da 
coisa) mais perdas e 
danos. 
Deterioração (extinção 
parcial) da coisa (arts. 
235/236, CC). 
Extingue a obrigação ou 
abatimento proporcio- 
nal do preço. 
Indenização (valor da 
coisa) mais perdas e 
danos ou aceita a coisa 
mais perdas e danos. 
���Atenção: só haverá perdas e danos se houver culpa do devedor ��� 
A obrigação de dar a coisa certa se equipara à obrigação de 
restituir (ou de devolver). A obrigação de restituir se difere da obrigação de 
dar, pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição (entrega), enquanto 
na obrigação de restituir a coisa pertence ao credor, apenas sua posse é que foi 
transferida ao devedor. Ex.: quando se aluga um carro, a locadora continua 
sendo proprietária dele; é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na 
locação o cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o 
prazo acertado, pois a propriedade já era do credor antes do surgimento da 
obrigação. Locação e empréstimo (comodato e mútuo) são exemplos de 
obrigação de restituir, ficando a coisa em poder do devedor, mas mantendo o 
credor direito de propriedade sobre ela. 
���Importante ��� Tanto na obrigação de dar coisa certa, como na de restituir 
(locação, comodato e mútuo), aplica-se a regra res perit domino (ou seja, a 
coisa perece para o dono). No caso da restituição, como a coisa pertence ao 
credor, o extravio antes da devolução traz prejuízo ao próprio credor. Assim, se 
a obrigação for de restituir coisa certa e esta se perder antes da tradição, sem 
culpa do devedor, sofrerá o credor a perda e a obrigação se extinguirá, 
ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Já na obrigação de dar o 
extravio antes da tradição traz prejuízo ao devedor, pois este ainda é o seu 
proprietário. 
 Cômodos (art. 237, CC): são as vantagens produzidas pela coisa. Até a 
tradição (entrega) a coisa pertence ao devedor, com todos os seus 
melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá pedir aumento no preço. Ex.: 
uma pessoa vende a vaca Mimosa, que antes da entrega deu uma cria. 
Observem que o devedor se obrigou a entregar a vaca, não sendo obrigado a 
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entregar o bezerro. Surgem então duas opções: a) devedor entrega o filhote, 
podendo exigir um aumento no preço; b) se o credor não aceitar a pagar o 
aumento resolve-se (extingue-se) a obrigação. Neste caso não podemos dizer 
que o bezerro é um acessório; ele não acompanha o principal. Quanto aos 
frutos: os percebidos até a tradição pertencem ao devedor; já os pendentes 
pertencem ao credor (são acessórios que acompanham o principal). 
 
B) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (arts. 243/246, CC) 
Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva, como na 
obrigação de dar coisa certa. O objeto é indicado apenas de forma genérica no 
início da obrigação. No entanto ele deve ser determinável pelo gênero e 
quantidade (art. 243, CC), faltando determinar a qualidade. Ex.: entregar dez 
bois. Trata-se de uma obrigação de dar coisa incerta. A princípio parece ser uma 
obrigação de dar coisa certa. No entanto eu tenho uma boiada de mil bois e 
devo entregar dez! Quais os dez bois que eu irei entregar? Eles ainda não foram 
individualizados! Por isso chamamos de obrigação de dar a coisa incerta (ou 
genérica). Coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”. Mas sim coisa sujeita a 
determinação futura. Observem que já há determinação quanto ao 
gênero=bois. E também quanto à quantidade=dez. Falta individualizar quais 
os bois que serão entregues. A coisa está indeterminada, porém será suscetível 
de determinação futura; o estado de indeterminação é transitório. 
A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média 
qualidade. Trata-se de um ato jurídico unilateral, também chamado de 
concentração, que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem, etc. A 
escolha cabe, em regra, ao devedor (art. 244, CC) salvo se for estabelecido 
de modo diverso no contrato. Neste caso, por exceção, a escolha caberá ao 
credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio. 
Realizada a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, 
inicialmente de dar a coisa incerta, se transforma em obrigação de dar a coisa 
certa (havendo a individualização da prestação), aplicando-se todas as regras 
que vimos mais acima (art. 245, CC). 
Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar 
perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito 
(genus nunquam perit: o gênero nunca perece). Os riscos correm por conta do 
devedor. Exemplo: se “A” deve mil laranjas a “B”, ele não pode deixar de 
cumprir a obrigação alegando que as laranjas que colheu se estragaram, pois 
‘mil laranjas são mil laranjas’. Se a plantação de “A” se perder ele pode comprar 
as frutas em outra fazenda para cumprir a obrigação assumida. No entanto, 
após a escolha, caso as laranjas se percam (ex.: incêndio no armazém) a 
obrigação se extingue, voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se 
eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos. 
���Atenção!! ���Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o 
devedor não poderá dar a coisa pior, nem ser obrigado a prestar melhor 
(art. 244, CC). 
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Obrigação Pecuniária 
Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma 
espécie de obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de 
danos e pagamento de juros. Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro 
será feito em moeda corrente. Deve ser realizado no lugar do cumprimento da 
obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em real (que é nossa unidade 
monetária atual). 
São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda 
estrangeira (chamamos isso de obrigação valutária – valutaria = valuta = 
divisa, moeda estrangeira), salvo os contratos e títulos referentes à importação 
e exportação (art. 318, CC). 
Outras formas de pagamento (ex.: cheque, cartão de crédito ou débito, 
etc.) são facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não 
recebê-los. Alguns estabelecimentos colocam uma placa bem à mostra “não 
aceitamos cheques”. Isso é permitido? –Sim!! Trata-se de um risco que o 
comerciante está assumindo em não atrair clientes que iriam pagar com 
cheques. 
II. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER (arts. 247/249, CC) 
Obrigação de fazer consiste na prestação de uma atividade (prestação de 
um serviço ou execução de uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita 
do devedor (ex.: trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc.). 
Pergunto agora: o que ocorre quando o devedor não faz o que deveria fazer? 
Resposta: a impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem 
como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (não 
cumprimento do contrato). Sim... mas e se eu desejo que o ato ou serviço seja 
realizado? Posso obrigá-lo a cumprir a tarefa? Vimos que nas obrigações de dar 
é possível a atuação do Estado no sentido de se obter a execução específica 
da obrigação, por meio das ações judiciais. Mas... e nas obrigações de fazer? 
Nestas, geralmente ocorre o contrário, porquanto é difícil compelir 
compulsoriamente o devedor a realizar uma prestação que se obrigou, já que a 
nossa ordem jurídica repudia o emprego de força física para isso. 
Portanto, em primeiro lugar precisamos saber se o devedor agiu com culpa. 
Nos termos do art. 248, CC, se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) 
resolve-se a obrigação sem indenização. Ex.: cantor que ficou afônico, 
mercadoria que deveria ser entregue não é mais achada no mercado, etc. 
Repõem-se as partes no estado anterior da obrigação. Por outro lado, se o 
próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por perdas e danos. A 
recusa voluntária induz culpa do devedor. Mas a obrigação em si será 
cumprida? Resposta: depende se esta obrigação de fazer é fungível ou 
infungível. Vejamos. 
Espécies: 
 Obrigação de Fazer Fungível: fungível quer dizer que a prestação do ato 
pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa, sem prejuízo para 
o credor (ex.: obrigação de pintar um muro – em tese qualquer pessoa 
pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível). Se houver recusa 
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ou mora (que é o atraso, a demora) no cumprimento da obrigação, sem 
prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode 
mandar executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado 
no resultado da atividade do devedor, não se exigindo capacidade especial 
deste para realizar o serviço. Trata-se da aplicação do art. 249 do Código 
Civil e dos arts. 633 e 634 do Código de Processo Civil. 
 Obrigação de Fazer Infungível (personalíssima ou intuitu personae) – a 
prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza 
(aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; 
não há a possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a 
obrigação, pois esta pessoa, contratualmente falando, é insubstituível. Ex.: 
contrato um artista famoso para pintar um quadro; ou um cirurgião 
especialista para realizar uma operação, etc. 
A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em 
perdas e danos (art. 247, CC), pois não se pode constranger fisicamente o 
devedor a executá-la. No entanto, atualmente, admite-se a execução 
específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta pelo Juiz (e somente pelo 
Juiz), uma multa periódica, chamada de astreinte (observem o art. 461 e 
seu §4º do CPC). O inadimplemento de emitir declaração de vontade no caso 
de um compromisso de compra e venda dá ensejo à propositura de ação de 
adjudicação compulsória. 
 Resumindo: inadimplemento da obrigação de fazer 
A) Sem culpa do devedor → extinção da obrigação sem qualquer 
indenização; volta-se tudo ao estado anterior (devolve-se a importância 
recebida). 
B) Com culpa do devedor: 
1) Prestação fungível → credor manda a obrigação ser realizada por 
terceiro e executa o devedor inicial, ressarcindo-se pelas despesas no 
cumprimento da obrigação, mais perdas e danos. 
2) Obrigação não fungível (ou infungível) 
a) indenização por perdas e danos. 
b) ação judicial requerendo o cumprimento da obrigação. Imposição de 
astreinte. Em algumas situações → adjudicação compulsória. 
 Distinção: obrigação de dar X obrigação de fazer 
Enquanto na obrigação de dar o objeto da prestação é a entrega de uma 
coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço (ex.: ministrar 
uma aula, fazer um show, construir um muro, etc.). Na obrigação de dar o 
devedor não precisa fazê-la previamente, enquanto na obrigação de fazer o 
devedor deve confeccionar a coisa para depois entregá-la. Além disso, na 
obrigação de dar, que requer a tradição, a prestação pode ser fornecida por 
terceiro, estranho aos interessados, enquanto na obrigação de fazer, em 
princípio, o credor pode exigir que a prestação seja realizada exclusivamente 
pelo devedor. Concluindo e perguntando: se eu quero comprar um quadro e 
encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Resposta: 
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depende... se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar; se o artista 
ainda for confeccionar o quadro a obrigação será de fazer. 
III. OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER (arts. 250/251, CC) 
Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não 
praticar certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se 
obrigado. Seu conteúdo é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex.: 
proprietário se obriga a não construir um muro acima de certa altura para não 
obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não trazer animais domésticos 
para o cômodo alugado, um comerciante se obriga a não se estabelecer em 
determinado bairro para não fazer concorrência a outro estabelecimento, etc. 
Estas obrigações podem ser bem variadas, mas é evidente que as imorais e 
antissociais, ou as que sacrifiquem a liberdade das pessoas são proibidas. Além 
disso, pode haver um limite temporal para a obrigação. 
Se a pessoa praticar o ato que se obrigou a não praticar, ela se tornará 
inadimplente e o credor poderá exigir o desfazimento do que foi realizado. 
Entretanto há casos em que somente resta o caminho da indenização. Ex.: 
pessoa se obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer 
é sempre uma obrigação pessoal, devendo ser cumprida pelo próprio devedor 
(personalíssima e indivisível). Por isso se “A” se comprometer a não elevar o 
muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a propriedade, quem 
comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo contrato). 
Lembrando que o direito das obrigações vincula as pessoas entre si... A saída 
então é fazer uma servidãopredial (direito das coisas). Neste caso todos os 
futuros proprietários estarão vinculados. Isto porque o direito das coisas vincula 
a pessoa à coisa (observem como o Direito das Coisas é “mais forte” que o 
Direito Obrigacional). E só para completar: e se a Prefeitura obrigar José a 
aumentar o muro por uma questão de urbanismo ou segurança? Neste caso o 
muro deve ser erguido e a outra parte nada poderá fazer (o Direito Público 
predomina sobre o Direito Privado; é o chamado “Fato do Príncipe”, em alusão 
aos monarcas que governavam os países na Europa medieval). 
���Observação. Sempre que houver urgência na obrigação de fazer (art. 249, 
parágrafo único, CC) ou na de não fazer (art. 251, parágrafo único, CC) credor 
pode mandar fazer ou desfazer independentemente de autorização judicial 
e sem prejuízo de posterior ressarcimento. 
 Resumindo: descumprimento da obrigação de não fazer 
A) Sem culpa (impossibilidade da abstenção do fato sem culpa do devedor: 
alteração de uma lei) → exoneração do devedor. 
B) Com culpa (inexecução culposa do devedor) → desfazimento do ato à sua 
custa e ressarcimento das perdas e danos ou reparação do prejuízo, ante a 
impossibilidade de desfazimento do ato. 
OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS 
1. OBRIGAÇÕES SIMPLES (ou singulares). São as que se apresentam com 
um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a 
produzir um único efeito. 
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2. OBRIGAÇÕES COMPOSTAS (complexas ou plurais). São as que 
apresentam uma pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou 
alternativas) ou uma pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias – ativa ou 
passiva). 
a) Obrigações Cumulativas (ou conjuntivas): são as compostas pela 
multiplicidade de prestações. O devedor deve entregar dois ou mais objetos, 
decorrentes da mesma causa ou do mesmo título (ex.: obrigação de dar um 
carro e um apartamento) devidamente especificado. O inadimplemento de uma 
prestação envolve o descumprimento total da obrigação; o devedor só se 
desonera cumprindo todas as prestações. Dependendo de ajuste prévio entre as 
partes, o pagamento pode ser simultâneo (tudo de uma vez) ou sucessivo. Mas 
o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar por partes, se assim 
não se ajustou. 
b) Obrigações Alternativas (ou disjuntivas – arts. 252/256, CC): 
também são compostas pela multiplicidade de prestações heterogêneas, porém 
estas estão ligadas pela disjuntiva “ou”. Assim, embora a obrigação tenha duas 
ou mais prestações, apenas uma delas será cumprida como pagamento. O 
devedor se desonera com o cumprimento de qualquer uma delas. Ex.: obrigo-
me a entregar um touro ou dois cavalos; vendo a casa por cem mil ou troco por 
dois terrenos na praia. 
Nas obrigações alternativas, a escolha, em regra, pertence ao 
devedor, se o contrário não for estipulado no contrato (pode ser do credor, de 
um terceiro ou até mesmo escolhido por sorteio). Comunicada a escolha 
(concentração), não se pode mais modificar o objeto. 
Se uma das prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar 
inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. Ex.: devo entregar um touro ou 
quatro cavalos; o touro morreu sem culpa das partes; deve-se então cumprir a 
obrigação que restou: a entrega dos cavalos. Se a impossibilidade for de todas 
as prestações (sem que haja culpa do devedor), resolve-se (extingue-se) a 
obrigação, sem que haja o dever de indenização. E se houver culpa do devedor? 
Neste caso, depende: Se a escolha cabia ao devedor, ficará ele obrigado a pagar 
o valor da que por último se impossibilitou (mais perdas e danos). Mas se a 
escolha pertencia ao credor, pode ele (credor) exigir o valor de qualquer das 
prestações (mais perdas e danos). Não confundir com a obrigação de dar coisa 
incerta (nesta também há escolha), pois na alternativa há pelo menos dois 
objetos. 
 Resumindo a responsabilidade na obrigação alternativa 
A) Perecimento de uma das obrigações 
1) Escolha do devedor: havendo ou não culpa do devedor, subsiste o 
débito quanto à outra obrigação. 
2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor, subsiste o 
débito quanto à outra obrigação; b) havendo culpa do devedor o credor 
pode optar pela prestação subsistente ou o valor da que pereceu mais 
perdas e danos. 
B) Perecimento das duas obrigações 
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1) Escolha do devedor: a) não havendo culpa do devedor, extingue-se 
a obrigação; b) havendo culpa do devedor, há indenização pelo valor da 
que se impossibilitou por último, mais perdas e danos. 
2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor extingue-se a 
obrigação; b) havendo culpa do devedor há indenização pelo valor de 
qualquer uma das obrigação mais perdas e danos. 
c) Obrigações Facultativas: são variantes das obrigações alternativas, 
aceitas pela doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é 
simples (há apenas uma prestação), mas há a possibilidade do devedor 
substituir o objeto. Ex.: quem encontra coisa perdida deve restituí-la ao dono, 
sendo que este fica obrigado a recompensar quem a encontrou. No entanto o 
dono pode, ao invés de pagar a recompensa, simplesmente abandonar a coisa, 
e aí quem encontrou a coisa poderá ficar com ela. Pagar a recompensa é a 
prestação principal do devedor; o abandono da coisa é prestação facultativa do 
dono. O abandono não é obrigação, mas faculdade do dono. Outro exemplo: 
agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se reserva no direito 
de substituí-lo por outro. Na obrigação facultativa (ao contrário da alternativa) o 
credor não opção, só podendo exigir a prestação principal; somente o devedor é 
pode optar pela prestação facultativa. 
d) Obrigações Solidárias (arts. 264 a 285, CC): ocorre quando há 
pluralidade de credores ou devedores (ou de ambos), sendo que eles têm 
direitos e/ou obrigações pelo total da dívida. Havendo vários devedores cada um 
responde pela dívida inteira, como se fosse um único devedor. O credor pode 
escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas se houver vários credores, 
qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único 
credor (art. 264, CC). Nota-se, portanto, três espécies de obrigações solidárias: 
• Solidariedade Ativa: pluralidade de credores. Ex.: na conta bancária 
“e/ou” qualquer correntista é credor solidário dos valores depositados e 
pode exigir do banco a entrega de todo o numerário. Outro exemplo: 
mandato outorgado a vários advogados, sendo que qualquer um deles 
poderá exigir os honorários integralmente do cliente. Observem também o 
art. 2° da lei de locações (Lei n° 8.245/91). 
• Solidariedade Passiva: pluralidade de devedores. Ex.: o credor pode 
demandar tanto o devedor principal, como o seu avalista, pois ambos são 
devedores solidários. Exemplo de solidariedade passiva decorrente de lei: 
art. 585, CC: “Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente 
comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o 
comodante”. 
• Solidariedade Mista (ou recíproca): neste caso há uma pluralidade de 
devedores e de credores. 
���Regra básica: “A solidariedade não se presume, 
resultando da lei ou da vontade das partes” (art. 265, 
CC). 
1) SOLIDARIEDADE ATIVA 
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• Cada um dos credores pode exigir a prestação por inteiro (art. 267, CC). Ou 
seja, o devedor não pode pretender pagar a dívida ao credor demandante de 
forma parcial (apenas a sua quota-parte), sob a alegação de que deveria 
ratear a quantiaentre os demais credores. Ele deve pagar tudo a quem lhe 
exigir a prestação. 
• Cada um dos credores poderá promover medidas assecuratórias do direito do 
crédito e constituir o devedor em mora, sem o concurso dos demais credores. 
• Qualquer um dos credores poderá ingressar em juízo visando à satisfação 
patrimonial; mas só poderá executar a sentença o próprio credor-autor, e 
não outro estranho à lide. 
• Se um dos credores se tornar incapaz, este fato não influenciará a 
solidariedade prevista. 
• Enquanto não for demandado por algum dos credores, o devedor pode pagar 
a qualquer um (art. 268, CC). 
• O pagamento feito a um dos credores extingue inteiramente a dívida, o 
mesmo ocorrendo em caso de novação, compensação e remissão. 
• A conversão da prestação em perdas e danos não extingue a solidariedade; 
ela continua existindo para todos os efeitos (art. 271, CC). Os juros de mora 
revertem em proveito de todos os credores. 
• O credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento 
responde aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272, CC). 
• O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, 
entretanto o julgamento favorável aproveita-lhes, exceto se baseado em 
exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274, CC). Isto quer dizer que se 
uma ação entre um dos credores solidários e o devedor for julgado 
procedente, esta decisão é extensível aos demais credores (isto porque 
satisfaz o interesse dos demais credores solidários, sem causar prejuízo 
injustificado ao devedor, pois ele teve oportunidade de se defender no 
primeiro processo); no entanto se este credor perdeu a demanda esta 
decisão não é extensiva aos demais credores solidários (evitando-se, assim, 
que estes sejam afetados pela inépcia ou pouca diligência do credor 
acionante na condução do processo – ou mesmo evitando-se um possível 
conluio do credor perdedor da ação e o devedor). 
• Não importará renuncia à solidariedade a propositura de ação pelo credor 
contra um ou alguns dos devedores (art. 275, parágrafo único, CC). 
Extinção da solidariedade 
• Se os credores desistirem dela (da solidariedade) pactuando que o 
pagamento da dívida será pro rata (ou seja, por rateio), cada credor será 
responsável por sua quota. 
• Se um dos credores falecer seu crédito passará a seus herdeiros sem a 
solidariedade (salvo se a prestação for indivisível – ex.: entregar um 
cavalo). 
2) SOLIDARIDADE PASSIVA 
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• O credor pode escolher qualquer devedor para cumprir a prestação; pode 
exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente o 
valor da dívida comum; se o pagamento for parcial, mantém-se a 
solidariedade passiva quanto ao remanescente (art. 275, CC). 
• Morrendo um dos devedores solidários, a dívida se transmite aos seus 
herdeiros, mas cada herdeiro só responde por sua quota da dívida, salvo se 
indivisível a obrigação; neste caso, todos os herdeiros reunidos são 
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores 
(art. 276, CC). Ex.: A, B e C são devedores solidários. “A” faleceu deixando 
dois filhos (D e F). Pergunta-se: os filhos de “A” continuam devedores 
solidários? Resposta: se o objeto da prestação for divisível (dinheiro), 
extingue-se a solidariedade e cada um responde apenas com seu quinhão na 
herança; se o objeto for indivisível (um touro reprodutor) a solidariedade 
permanece. Isso ocorre não pela solidariedade em si, mas pela 
indivisibilidade 
• O pagamento parcial feito por um devedor ou a remissão (perdão da dívida) 
obtida só aproveitam aos demais devedores pelo valor pago ou relevado (art. 
277, CC). 
• Nenhuma cláusula estipulada entre um devedor e o credor pode agravar a 
situação dos demais devedores, sem o consentimento deles (art. 278, CC). 
• Impossibilitando-se a prestação: a) sem culpa dos devedores → extingue a 
obrigação; b) por culpa de um devedor → a solidariedade continua para 
todos; todos os devedores continuam com a obrigação e responderão pelo 
equivalente em dinheiro; mas só o devedor culpado responderá pelas perdas 
e danos (art. 279, CC). 
• Todos os devedores respondem pelos juros de mora, ainda que a ação tenha 
sido proposta contra um, mas o culpado responde aos outros pelo acréscimo 
(art. 280, CC). 
• Propondo a ação contra um devedor, o credor não fica inibido de acionar os 
demais. 
• O devedor demandado pode opor as exceções (formas de defesa) pessoais e 
as comuns a todos; porém não pode opor as pessoais de outro devedor (art. 
281, CC). Ex.: A e B devem para C. No entanto C também deve para B. Por 
este dispositivo, somente B pode alegar a compensação, pois esta é 
considerada como uma "exceção pessoal". E continuando: B não pode alegar 
a eventual compensação entre A (o outro devedor) e C, pois esta é uma 
exceção pessoal de A e não de outro devedor. 
• Se o credor renunciar à solidariedade em favor de um ou de alguns 
devedores, só poderá acionar os demais abatendo o valor do débito a parte 
ou àqueles correspondentes, entretanto, se um dos coobrigados for 
insolvente, o rateio da obrigação atingirá também o exonerado da 
solidariedade (art. 282, parágrafo único, CC). Ex.: “A” é credor de “W”, “X”, 
“Y”, “Z”, no valor de 200 (50 cada devedor) sendo que ele renuncia à 
solidariedade em relação a “W”. Neste caso “A” somente pode demandar “X”, 
“Y” e “Z” solidariamente por 150. “A” continua credor de “W” no valor de 50. 
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Mas sem a solidariedade. Vejam que houve renúncia à solidariedade. E não 
renúncia ao crédito. 
• O devedor que paga toda a dívida tem o direito de regresso, isto é, pode 
exigir a quota dos demais devedores, rateando-se entre todos, o quinhão do 
insolvente, se houver; presumem-se iguais as partes de cada devedor; essa 
presunção admite prova em contrário (juris tantum - art. 283, CC). 
• Se a dívida interessa apenas a um dos devedores, responde este perante o 
qual a paga. Ex.: avalista que paga uma nota promissória; como garantidor 
da obrigação, ele deve ser reembolsado pelo total pago; neste caso não se 
fala em quotas (art. 285, CC). 
Extinção da solidariedade 
• Morrendo um dos codevedores, desaparece a solidariedade em relação a 
seus herdeiros, embora continue a existir quanto aos demais 
coobrigados. 
• Renúncia total do credor. 
 Observação 
Se um devedor solidário for demandado sozinho em um processo de 
conhecimento (réu), poderá, no prazo da contestação, trazer os demais 
devedores a este processo (no polo passivo da lide), utilizando-se do instituto 
“chamamento ao processo”, que é uma forma de intervenção de terceiros 
provocada a fim de que a sentença disponha sobre a responsabilidade de todos 
os envolvidos. Assim, o devedor que quitar a dívida ficará sub-rogado nos 
direitos do credor, podendo exigir dos demais a respectiva cota (arts. 77 a 80, 
CPC). 
OUTRAS IMPORTANTES MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO 
A) Obrigações quanto ao Conteúdo (de resultado, meio ou garantia). 
1) Obrigações de Resultado (ou de fim): quando só se considera 
cumprida com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo próprio 
devedor. Ex.: contrato de transporte (levar o passageiro a seu destino são e 
salvo); a doutrina costuma também citar o exemplo do médico especialista em 
“cirurgia plástica-estética”. Na obrigação de resultado o devedor responde 
independentemente de culpa (há, portanto, responsabilidade objetiva). Ou seja 
o credor deve apenas provar que o resultado não foi atingido. Porém, é possível 
a demonstração de que o resultado não foi alcançado por fator alheio à atuação 
do devedor (ex.:caso fortuito, força maior, culpa exclusiva do credor, etc.), o 
que excluiria sua responsabilidade. 
2) Obrigações de Meio (ou de diligência): quando o devedor só é 
obrigado a empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja 
alcançado. Ex.: o advogado em relação ao cliente; ele não se obriga a vencer a 
causa, mas trabalhar com empenho para ganhá-la. Se o resultado visado não 
for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se 
provar a sua falta de diligência (ou seja, a sua culpa: responsabilidade 
subjetiva). O mesmo ocorre com um médico para salvar a vida de um paciente. 
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3) Obrigações de Garantia: seu objetivo é a estipulação de uma 
garantia pessoa em um contrato (ex.: fiança). 
B) Obrigações quanto à Divisibilidade 
1) Obrigações Divisíveis (art. 257, CC): são as que comportam 
fracionamento, quer quanto à prestação, quer quanto ao próprio objeto sem 
prejuízo de sua substância ou de seu valor. Havendo pluralidade de credores ou 
devedores será feito um rateio (ou concurso) entre eles (“as partes se 
satisfazem pelo concurso”). A obrigação presume-se dividida em tantas partes 
iguais e distintas, quantos forem os credores ou devedores. 
2) Obrigações Indivisíveis (art. 258 CC): são aquelas em que a 
prestação é única. Devido à convenção das partes (ex.: pagamento à vista) ou, 
dada a natureza do objeto (ex.: um cavalo, um touro), não admitem cisão na 
prestação. Ainda que o objeto seja divisível (ex.: dinheiro) não pode o credor 
ser obrigado a receber em partes, se assim não se ajustou. 
Regras aplicáveis às obrigações indivisíveis: 
• Havendo dois ou mais devedores cada um será obrigado pela dívida toda. O 
devedor que paga a dívida inteira sub-roga-se no direito do credor, havendo 
ação de regresso em relação aos demais coobrigados. 
• Havendo pluralidade de credores, o devedor (ou devedores) somente se 
desobrigará pagando a todos conjuntamente ou a um dos credores, dando 
este caução (garantia) de ratificação dos outros credores. 
• Caso somente um dos credores receba toda a dívida, os demais poderão 
exigir deste a parte que lhes cabia em dinheiro. 
• No caso de remissão (perdão) por parte de um dos credores, a obrigação não 
ficará extinta em relação aos demais, que poderão exigir as suas quotas, 
descontada a parte remitida. 
• Se o objeto vier a perecer por culpa do devedor, a obrigação passa a ser de 
perdas e danos. Neste caso o objeto perde a indivisibilidade e passa a ser 
divisível, pois o objeto primitivo (indivisível) será substituído pelo equivalente 
em dinheiro, mais perdas e danos (que é divisível). Se houver culpa de todos 
os devedores, responderão todos por parte iguais; se a culpa for só de um, 
somente este responderá pelas perdas e danos. 
• As obrigações de dar e fazer podem ser divisíveis ou indivisíveis. Já as de não 
fazer somente podem ser indivisíveis. 
 Exemplo Clássico. Imaginem que “A” e “B” se obrigam a entregar a “C” um 
touro reprodutor, premiado em exposições. Esta é uma obrigação divisível ou 
indivisível? É indivisível, claro! Pois um touro reprodutor não pode ser dividido, 
dada a sua natureza. E a obrigação de entregar o touro é solidária? Como vimos 
anteriormente a solidariedade não se presume! Ela deve estar expressa na 
lei ou no contrato (vontade das partes). Como a pergunta nada menciona sobre 
a solidariedade, devemos entender que a obrigação é apenas indivisível (e não 
solidária). Desta forma, se o examinador deseja perguntar algo sobre a 
solidariedade, deve deixar isto bem claro na questão. E se o touro morrer antes 
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da entrega, por culpa do devedor? Como vimos, a obrigação de entregar o touro 
que morreu será substituída pela indenização (dinheiro – que é divisível) e por 
tal motivo a obrigação passará a ser divisível. 
 Solidariedade X Indivisibilidade 
a) Na indivisibilidade, se ocorrer a conversão em dinheiro, ela deixa de 
existir (a obrigação passa a ser divisível). No entanto se a obrigação é solidária 
e a coisa pereceu, a solidariedade continua. Ex.: um boi (objeto de uma 
obrigação solidária) morreu; neste caso a obrigação se transforma em dinheiro; 
o credor continua com a possibilidade de exigir a quantia integral de qualquer 
um dos devedores. No caso da indivisibilidade as perdas e danos só podem ser 
exigidas do culpado pelo perecimento do objeto (arts. 263, §2°, CC); já na 
solidariedade a prestação e as perdas e danos podem ser exigidas de qualquer 
um dos codevedores, mas quem pagou tem ação de regresso contra os demais, 
acrescido, contra o culpado das perdas e danos (arts. 271 e 279, CC). 
b) A solidariedade está baseada em relação jurídica subjetiva, resultante 
da lei ou da vontade das partes, trazendo maior garantia ao credor; já a 
indivisibilidade está baseada em relação jurídica objetiva, em razão da natureza 
indivisível do objeto da prestação. 
c) A solidariedade cessa com a morte, não se transmitindo aos 
sucessores; já a obrigação indivisível se transmite aos sucessores tal como 
pactuada (ou seja, a obrigação, mesmo com a morte de um dos contratantes, 
não se desnatura; continua sendo indivisível). 
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES 
A) QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS 
1) Obrigações Puras e Simples: são as que não estão sujeitas a 
nenhum elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo. 
2) Obrigações Condicionais: são as que contêm cláusula que subordina 
seu efeito a evento futuro e incerto (ex.: eu lhe darei um carro se você entrar 
em uma universidade pública). 
3) Obrigações a Termo: são aquelas que contêm cláusula que subordina 
seu efeito a evento futuro e certo (ex.: eu lhe darei um carro no fim deste ano) 
4) Obrigações Modais: são as oneradas de um encargo, um ônus à 
pessoa contemplada pela relação jurídica (ex.: dou-lhe dois terrenos, mas em 
um deles deve ser construída uma escola). 
B) QUANTO À AUTONOMIA DE EXISTÊNCIA (INDEPENDÊNCIA) 
1) Obrigações Principais: são as que independem de qualquer outra 
para ter validade (ex.: compra e venda, locação, etc.); são dotadas de vida 
própria e autònoma. 
2) Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a 
outra relação jurídica (ex.: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao 
contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em relação 
a uma obrigação qualquer, etc.). A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição 
da obrigação principal reflete-se na acessória. Lembre-se da regra segundo a 
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qual o acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). O 
inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum vício na obrigação 
acessória, em nada afetará a principal. 
C) QUANTO À LIQUIDEZ 
1) Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e 
determinadas quanto ao objeto. Ex.: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, 
etc. Nelas se acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade 
e a natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida 
constitui o devedor em mora de pleno direito se não for cumprida no prazo 
(falaremos da mora ainda nesta aula). 
2) Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade; 
dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda 
é indeterminado. 
D) QUANTO AO MOMENTO PARA O CUMPRIMENTO 
1) Obrigações Instantâneas: são as que são cumpridas no momento 
em que o negócio é celebrado (ex.: compra e venda à vista).2) Obrigações Fracionadas: quando o objeto do pagamento é 
fracionado em prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a 
execução de cada uma delas é feita ao longo do tempo (ex.: compro um terreno 
por 10 mil, pagando mil por mês, durante dez meses). 
3) Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada em um único 
ato, porém em momento posterior ao surgimento da obrigação (ex.: compra e 
venda com pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias). 
4) Obrigações de Trato Sucessivo (ou periódicas ou execução 
continuada): quando o cumprimento se dá por meio de subvenções periódicas 
(se protrai no tempo), resolvendo-se em intervalos de tempo (regulares ou 
não). Ex.: obrigação do inquilino em pagar aluguel; a do condômino em pagar 
as despesas condominiais. Quando uma parcela é paga a obrigação está 
quitada. Mas neste instante inicia-se a formação de outra prestação que deverá 
ser paga no fim do próximo período. 
Observação. A doutrina, além de todas estas espécies de obrigações, ainda 
acrescenta outras: 
• Obrigações Propter Rem: são obrigações híbridas, ou seja, parte direito 
real, parte direito pessoal (alguns autores as chamam de reipersecutórias 
ou ambulatórias). Elas recaem sobre uma pessoa (daí ser um direito 
pessoal), mas por força de um direito real (como por exemplo, a 
propriedade). O devedor não se obriga por sua vontade, mas sim por ser 
proprietário do bem. Ex.: obrigação de um proprietário de não prejudicar a 
segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para 
a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do 
edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera, etc. 
Os exemplos mais comuns são os das taxas de condomínio e do pagamento 
do IPTU. 
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• Obrigações Naturais (também chamadas de imperfeitas ou incompletas): 
são aquelas em que o credor não possui instrumento judicial para exigir a 
prestação do devedor. A dívida existe: há um credor e um devedor, mas 
falta a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria compelido a pagar. 
O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo o 
credor. No entanto, tais obrigações podem gerar efeitos, pois se o devedor 
capaz pagar a dívida, o pagamento é considerado válido e irretratável, sendo 
que ele não pode pedir de volta o que foi pago. Ex.: dívida prescrita; dívidas 
resultantes de jogo e apostas não permitidas legalmente (arts. 814 e 815, 
CC): seu pagamento não é obrigatório; mas se o devedor pagar... valeu. 
CLÁUSULA PENAL (arts. 408/416, CC) 
É a penalidade imposta pela inexecução parcial ou total da obrigação 
(infração contratual) ou pela mora (atraso ou demora) no cumprimento da 
obrigação. É pactuada pelas partes no caso de violação do contrato, motivo pelo 
qual é também chamada de multa contratual ou convencional. Trata-se de 
obrigação acessória que visa garantir o cumprimento da obrigação principal, 
bem como fixar o valor de eventuais perdas e danos no caso de eventual 
descumprimento (caráter condicional). Pode ser estipulada no próprio contrato 
ou em ato posterior. Para se exigir a multa não é necessário que o credor alegue 
prejuízo; ela decorre do próprio descumprimento do contrato. 
Funções 
• Coerção: intimida o devedor a saldar a obrigação principal para não ter que 
pagar a acessória; possui caráter preventivo, pois reforça o vínculo 
obrigacional e a necessidade de cumprir a obrigação. 
• Ressarcimento: pré-fixação das perdas e danos no caso de inadimplemento 
da obrigação; caráter repressivo. 
Espécies 
• Compensatória: estipulada para a hipótese de total inadimplemento 
(inexecução) da obrigação – art. 410, CC. 
• Moratória: estipulada para evitar o retardamento culposo no cumprimento 
da obrigação ou em segurança especial de outra cláusula determinada – art. 
411, CC. 
Limite 
 O limite da cláusula penal compensatória é o valor da obrigação 
principal (art. 412, CC). Tal valor não pode ser excedido. Se um eventual 
excesso estiver estipulado em um contrato, o Juiz determinará a sua redução. 
Algumas leis limitam ainda mais o valor da cláusula penal moratória. Ex.: 10% 
da dívida ou do valor da prestação em atraso no compromisso de compra e 
venda de imóveis loteados; 02% da dívida em contratos sob a égide do Código 
de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90); 02% da dívida em condomínio 
edilício, etc. 
 Se houver o cumprimento parcial da obrigação ou se o valor da 
penalidade for manifestamente excessivo o valor pode ser reduzido 
equitativamente pelo Juiz (art. 413, CC - Princípio da Função Social do 
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Contrato, que veremos na próxima aula), daí se dizer que há uma 
“imutabilidade relativa” quanto ao seu valor. 
 Cláusula Penal X Perdas e Danos 
 Diferem-se porque na cláusula penal o valor é antecipadamente pactuado 
pelos próprios contratantes. Nas perdas e danos o valor será fixado pelo Juiz 
com base nos prejuízos alegados e provados (danos emergentes e/ou lucros 
cessantes). 
 Cláusula Penal X Arras 
 A cláusula penal é exigível em caso de inadimplemento ou mora; as arras 
(ou sinal) são pagas por antecipação, servindo para garantir o cumprimento do 
contrato. A cláusula penal pode ser reduzida pelo Juiz; já o valor das arras pode 
ser pactuado livremente pelas partes. 
Cláusula Penal nas Obrigações Indivisíveis e Divisíveis 
Referindo-se à obrigação indivisível, e existindo mais de um devedor, 
incorrendo um devedor em falta, todos estarão incorrerão na pena (ex.: dois 
locatários do mesmo imóvel; se um deles transgredir o contrato, os dois serão 
penalizados). A pessoa que não for culpada terá direito de ação regressiva 
contra o que deu causa à aplicação da pena. 
Referindo-se à obrigação divisível, e existindo mais de um devedor, 
incorrendo apenas um devedor em falta, só ele responde e incorre na pena (ex.: 
dois compradores de uma boiada, metade para cada um, atrasando um no 
pagamento quanto a sua quota, somente ele responderá pela penalidade). 
PERDAS E DANOS (arts. 402/405, CC) 
Perdas e danos constituem o equivalente do prejuízo ou dano suportado pelo 
credor, em virtude do devedor não ter cumprido, total ou parcialmente a 
obrigação, expressando-se em uma soma de dinheiro correspondente ao 
desequilíbrio sofrido pelo lesado. Abrange: 
• Danos Emergentes (ou Positivos): trata-se do prejuízo real e efetivo no 
patrimônio de um dos contratantes. 
• Lucros Cessantes (ou frustrados) ou Danos Negativos: trata-se do 
lucro que o contratante deixou de auferir, em razão do descumprimento da 
obrigação pelo devedor. 
Em qualquer das duas situações acima é necessária a comprovação do nexo 
de causalidade entre a inexecução da obrigação pelo devedor e os eventuais 
prejuízos. 
As perdas e danos também incluem atualização monetária segundo os 
índices oficiais, cláusula penal (se houver previsão no contrato), juros, custas e 
despesas processuais, além dos honorários advocatícios. Os juros de mora 
devem ser contados desde a citação inicial no processo. 
DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES 
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Constituída a obrigação, deverá ser cumprida, de modo que o credor 
poderá exigir a prestação e o devedor terá o dever de efetuá-la. 
O Código Civil estabelece algumas regras gerais sobre a extinção das 
obrigações, e sobre as consequências de sua inexecução, que é o 
descumprimento da obrigação ou inadimplemento. 
Regra geral: “A obrigação, não sendo personalíssima, opera 
entreas partes e entre seus herdeiros”. 
Isto quer dizer que, em regra, as obrigações se transferem aos 
herdeiros (ou seja, elas se transmitem aos sucessores em caso de morte do 
devedor), que deverão cumpri-las até o limite das forças da herança, salvo 
quando se tratar de obrigação personalíssima, isto é, contraída em atenção 
às qualidades especiais do devedor (ex.: obrigação de um pintor famoso que 
faleceu sem realizar a obra: por ser uma obrigação personalíssima, não se 
transmite aos seus herdeiros). 
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
I. PAGAMENTO DIRETO (arts. 304 a 333, CC) 
As obrigações extinguem-se normalmente pelo pagamento direto. 
Pagamento é sinônimo de solução, cumprimento, adimplemento, implemento, 
execução, etc. O pagamento deve ser realizado no tempo, forma e lugar 
previstos no contrato. São seus requisitos essenciais: 
a) existência de um vínculo obrigacional, decorrente da lei ou de um 
negócio jurídico, pois o pagamento pressupõe a existência de uma dívida. 
b) animus solvendi (intenção de solver, de pagar), pois o pagamento é 
execução voluntária. 
c) cumprimento exato do que é devido: o devedor exonera-se da obrigação 
entregando efetivamente a coisa devida (obrigação de dar), ou praticando 
determinada ação (obrigação de fazer), ou abstendo-se de certo ato (obrigação 
de não fazer). Como vimos, o credor não pode ser compelido a receber coisa 
diversa da pactuada mesmo que mais valiosa (art. 313, CC) e o devedor não 
pode compelir o credor a receber em partes aquilo que foi convencionado de 
ser pago por inteiro (art. 314, CC), da mesma forma que o devedor deve 
satisfazer a execução pelo modo devido, pontualmente e no lugar determinado. 
d) presença da pessoa que efetua o pagamento (solvens) e da pessoa que 
recebe o pagamento (accipiens). 
Vejamos agora os elementos que compõe o pagamento: 
A) ELEMENTOS SUBJETIVOS DO PAGEMENTO: solvens e accipiens. 
1) SOLVENS – É a pessoa que deve pagar; geralmente é o próprio devedor, 
principalmente se a obrigação for personalíssima. No entanto, o pagamento 
também pode ser realizado por outras pessoas que não o devedor. Vejamos: 
• Qualquer pessoa interessada na extinção da dívida. Trata-se, 
evidentemente de um interesse jurídico-patrimonial. O “interesse” é 
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usado em sentido técnico. Ou seja, qualquer pessoa que eventualmente 
possa ser responsabilizada pelo débito. O exemplo clássico é o do fiador 
que acaba pagando a dívida para não agravar sua responsabilidade no 
futuro (como multas, juros, etc.). Pagando, o fiador se sub-roga nos 
direitos do credor, sendo-lhe transferidos todos os direitos, ações e 
garantias do primitivo credor (arts. 304 e 346, CC). Outros exemplos: 
sublocatário que paga a dívida do inquilino principal perante o locador (pois 
caso contrário será ele quem sofrerá o despejo), avalista, coobrigado, 
herdeiro, adquirente de imóvel hipotecado, etc. 
• Terceiro não interessado (juridicamente). É aquele que não está 
vinculado à relação obrigacional existente entre credor e devedor (embora 
possa ter um interesse moral ou afetivo: pai que paga a dívida do filho). 
Situações: 
A) Se o terceiro age em seu próprio nome tem direito ao 
reembolso do que pagou (art. 305, CC), por meio de uma ação movida 
contra o devedor (chamada de in rem verso), mas não se sub-roga nos 
direitos de credor. Por outro lado, o credor não pode recusar o 
pagamento de terceiro, mesmo sendo do terceiro desinteressado (salvo 
se houver cláusula expressa proibindo ou nas obrigações intuitu personae, 
ou seja, personalíssimas). Mesmo que o devedor se oponha ao pagamento 
por parte do terceiro, este pode ser feito. Ou seja, a oposição do devedor 
não impede ou invalida o pagamento. 
B) Se o terceiro não interessado age em nome e por conta do 
devedor, há uma subdivisão. Em algumas situações ele age assim, 
representando o devedor. Vamos supor que eu viaje e deixe uma pessoa 
encarregada de pagar o condomínio em meu nome ou que haja uma 
imobiliária que paga ao locador a dívida de uma locação que está sob sua 
administração. Nestas hipóteses não há um interesse (jurídico) daquele 
que pagou a dívida (pois não são fiadores, coobrigados, etc.). Mesmo 
assim, quem pagou tem direito ao reembolso da quantia paga (embora 
não haja a sub-rogação). Já em outras situações, o terceiro age por mera 
liberalidade (isso deve ficar expresso no documento), como se fosse uma 
doação. Nestas hipóteses não poderá reaver o que pagou. 
E se o devedor se opuser ao pagamento do terceiro não interessado? Neste 
caso, segundo parte da doutrina o terceiro não teria direito algum. No entanto, 
a teoria majoritária é que mesmo havendo oposição, o terceiro que pagou em 
nome do devedor continuaria com o direito de reembolso. Isso é assim baseado 
no princípio da proibição do enriquecimento sem causa; nosso Código não 
admite o ganho de uma pessoa em detrimento de outra, sem que haja uma 
justificativa legal. 
No entanto, não haverá reembolso ao terceiro (seja interessado ou não) se 
o devedor tinha meios de evitar a cobrança (art. 306, CC). Ou seja, por algum 
motivo (prescrição, pagamento anterior, compensação, etc.), se o credor 
cobrasse a dívida do devedor, não iria conseguir o seu intento. Não há 
cabimento algum exigir do devedor que reembolse o terceiro uma quantia que 
ele não pagaria ao credor, caso fosse acionado. Além disso, em qualquer 
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hipótese o pagamento de terceiro não pode piorar a situação do devedor. 
Exemplo: se o terceiro paga a dívida antes do vencimento, somente poderá 
exigir do devedor eventual reembolso da quantia paga após o vencimento da 
dívida 
2) ACCIPIENS – É a pessoa a quem se deve pagar. Em regra é o credor. O 
credor não é obrigado a aceitar pagamento parcial. O pagamento deve ser feito 
ao(s): 
• Credor, propriamente dito. 
• Representantes legais (ex.: pais, tutores, curadores) ou convencionais 
(mandatários com poderes especiais para receber o pagamento) do 
credor. 
• Sucessores do credor (ex.: herdeiros, legatários, etc.). 
Fora daí, o pagamento só vale se o credor ratificar (confirmar) o 
recebimento ou se este, comprovadamente, reverter em seu proveito (art. 
308, CC). O pagamento também não valerá se: a) o devedor efetua o 
pagamento a credor incapaz de quitar (ex.: absolutamente incapaz); b) o 
credor estiver impedido legalmente de receber (ex.: crédito penhorado). 
 Lembrem-se do brocardo: "Quem paga mal ... paga duas vezes" 
 Há uma exceção a esta regra: o pagamento feito de boa-fé ao credor 
putativo (onde há uma suposição de legitimidade) é válido, ainda que provado 
depois que ele não era credor verdadeiro (art. 309, CC). Ou seja, se o devedor, 
agindo de boa-fé, paga para uma pessoa a quem aparentava ser credor (mas 
não o era), o pagamento, ainda que feito de forma errônea, é considerado 
válido. Ex.: herdeiro aparente, herdeiro excluído posteriormente da sucessão 
por indignidade, procurador cujo mandato foi revogado sem conhecimento de 
terceiros, etc. Exigem-se dois requisitos: a) accipiens tinha aparência de 
verdadeiro credor; b) boa-fé do solvens. 
A) ELEMENTOS OBJETIVOS: objeto e prova do pagamento (arts. 313/326, 
CC). 
O objeto do pagamento é a prestação. Pelo art. 313, CC o credor pode 
se negar a receber outra prestação da que lhe é devida, mesmo que mais 
valiosa. Já pelo art. 314, CC o credor não é obrigado a receber, nem o devedor 
a pagar em partes, salvo previsão expressa no contrato, mesmo que o objeto 
seja divisível. A entrega, quando é feita em dinheiro faz-se em moeda corrente 
e pelo valor nominal (art. 315, CC: princípio do nominalismo).Na hipótese de 
pagamento de prestações sucessivas, é lícito convencionar o aumento 
progressivo no valor destas prestações (art. 316, CC). O art. 318, CC 
determina que são nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda 
estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da 
moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial (ex.: 
contratos referentes a importação e exportação de mercadorias). 
Pelo princípio da justiça contratual pode o Juiz corrigir o valor da 
prestação, para mais ou para menos, quando verificar que há uma desproporção 
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significativa entre o valor vigente quando do negócio e aquele verificado quando 
do cumprimento da obrigação (art. 317, CC). 
O devedor que paga tem direito à quitação, fornecida pelo credor (art. 
319, CC). A quitação é a prova efetiva de que houve o pagamento; é um 
documento pelo qual o credor reconhece que recebeu o pagamento e exonera o 
devedor da obrigação. Trata-se do que conhecemos por recibo. Se o credor 
promover a cobrança judicial da dívida, cabe ao devedor o ônus de demonstrar 
que o pagamento foi realizado. A quitação pode ser dada por instrumento 
particular (ainda que a obrigação resulte de instrumento público), devendo ter 
os elementos do art. 320, CC (valor e espécie de obrigação, identificação de 
quem está pagando, tempo, lugar, assinatura do credor ou de quem o 
represente, etc.). No entanto estes elementos não são essenciais; ainda que 
eles faltem, valerá a quitação se houver prova de que o valor foi revertido 
para o credor. 
Se o credor não der a quitação, o devedor pode exigi-la judicialmente. 
A regra é que a quitação da última prestação ou quota periódica faz 
presumir a quitação das anteriores, salvo prova em contrário (art. 322, CC). 
Trata-se de uma presunção relativa, que admite prova em contrário (juris 
tantum). Por isso, no caso de pagamento de despesa condominial do último 
mês, não se presume a quitação dos meses anteriores. 
C) Do Lugar do Pagamento (arts. 327/330, CC) 
Lugar do pagamento é o local estabelecido para o cumprimento da 
obrigação. Onde o pagamento deve ser feito? Estabelece o art. 327, CC que 
“efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes 
convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da 
obrigação ou das circunstâncias”. 
Como no Código Civil predomina a autonomia das vontades, na prática o 
lugar do pagamento é o estipulado no próprio título constitutivo do 
negócio jurídico (princípio da liberdade de escolha). Ou seja, o próprio 
contrato estipula o domicílio onde devem se cumprir as obrigações e se 
determina a competência do juízo onde eventual ação será proposta em caso de 
descumprimento do contrato (vejam, também, o art. 78, CC). Mas se o contrato 
for omisso o lugar será no domicílio do devedor (art. 327, CC). Se forem 
designados dois ou mais lugares para o pagamento é o credor quem escolherá 
em qual deles a prestação será realizada. E se o pagamento consistir na entrega 
de imóvel (ou em prestações relativas a imóvel), este deverá ser feito no lugar 
onde estiver situado o bem (art. 328, CC). 
O art. 329, CC prevê que ocorrendo motivo grave (a lei não diz quais são 
eles) para que não se efetue o pagamento no lugar pactuado, o devedor poderá 
fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Com isso, está se mitigando a 
força obrigatória de um contrato, em razão do princípio da função social do 
contrato. 
���Importante ��� O pagamento reiteradamente feito em outro local faz 
presumir que o credor renunciou ao previsto no contrato (art. 330, CC). Trata-
se de outra presunção relativa (admite prova em contrário), relativizando mais 
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uma vez a rigidez do contrato. A doutrina chama este fenômeno de supressio, 
ou seja, para o credor há a perda de um direito (no caso do pagamento ser 
feito no local combinado), pelo seu não exercício durante certo tempo, não mais 
podendo exercê-lo sem contrariar a boa-fé. Por outro lado, essa inércia do 
credor faz surgir um direito subjetivo ao devedor de efetuar o pagamento em 
outro local, diverso do pactuado (surrectio). 
Sobre o local do pagamento existem duas situações. A primeira quando 
se paga no domicílio do devedor (neste caso dizemos que a dívida é quérable) e 
a outra quando se paga no domicílio do credor (dizemos que a dívida é 
portable). Vejamos: 
 QUÉRABLE (quesível: deriva do verbo latino quaerere=procurar →→→ o 
credor “procura” o devedor para receber): quando o pagamento se faz no 
domicílio do devedor. Quando não houver nada estipulado, há uma 
presunção de que o pagamento é quesível (esta é a regra geral), uma 
vez que deve ser procurado pelo credor no domicílio do devedor, salvo se o 
contrato, nas circunstâncias, a natureza da obrigação ou a lei impuserem 
em contrário. 
 PORTABLE (portável): quando se estipula expressamente no contrato que 
o local do cumprimento da obrigação é o domicílio do credor (ou de uma 
terceira pessoa); o devedor deve levar o título e oferecer o pagamento 
nesse local (o devedor porta o título e o paga no domicílio do credor). 
 Observação Para não confundir as situações, recomendo a memorização 
do seguinte esqueminha: 
= Q.D.  P.C. = 
(Quérable → Devedor – Portable → Credor) 
D) Tempo do Pagamento (arts. 331/333, CC) 
Quando deve ser feito o pagamento? O momento em que se pode 
reclamar a dívida chama-se vencimento, que é o momento a partir do qual se 
verifica a exigibilidade da obrigação (princípio da pontualidade). A data do 
pagamento também pode ser fixada livremente pelas partes no 
contrato. A regra é de que o credor não pode cobrar a dívida antes do 
vencimento, nem o devedor pagar após a data prevista (sob pena de mora - 
atraso). O devedor também não pode forçar o credor a receber antes do 
vencimento. 
Salvo disposição em contrário, não se ajustando uma data determinada 
para o pagamento, o credor pode exigir seu cumprimento imediatamente 
(satisfação imediata). No entanto a doutrina entende que a expressão 
“imediatamente” (do art. 331, CC) não deve ser entendida “ao pé da letra”, pois 
às vezes é necessário que haja um certo tempo (por menor que ele seja) para 
que a prestação seja cumprida. E isso irá depender da natureza do negócio, do 
lugar onde será cumprida a obrigação (que muitas vezes pode ser diverso do 
local da celebração) ou de suas circunstâncias. É o que se chama de “tolerância 
de prazo moral ou razoável”. Como o vencimento é uma data que favorece o 
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devedor ele pode optar por pagar antes do vencimento. Já as obrigações 
condicionais comprem-se na data do implemento da condição. 
O credor não pode exigir o pagamento antes do vencimento (sob as penas 
do art. 939, CC). No entanto, admite-se a cobrança antecipada da dívida em 
situações excepcionais, previstas no art. 333, CC: 
• Abertura de concurso creditório, ou seja, uma ação de execução contra o 
devedor (insolvência civil), ou quando ele falir, etc. 
• Se os bens dados em garantia real (hipoteca, penhor ou anticrese) forem 
penhorados em uma ação de execução por outro credor. 
• Se cessarem ou tornarem-se insuficientes as garantias reais ou 
fidejussórias e o devedor se negue a reforçá-las. Melhor esclarecendo: 
Garantia Real é o penhor, a hipoteca e a anticrese. Garantia 
Fidejussória é o mesmo que garantia pessoal, ou seja, a fiança e o aval. 
MORA (arts. 394/401, CC) 
Uma obrigação surge para ser cumprida. E o modo normalde seu 
cumprimento é o pagamento. Havendo o pagamento, a obrigação se extingue 
de forma normal. No entanto, às vezes, a obrigação não se desenvolve 
normalmente e o devedor deixa de cumprir a prestação devida. Trata-se do 
inadimplemento (não cumprimento) da obrigação, que pode ser: 
a) Absoluto ou Definitivo (arts. 389 e 395, parágrafo único, CC): 
quando o cumprimento se torna impossível ou quando houver a perda do 
interesse do credor (já que neste caso o pagamento se tornou inútil para ele). 
Havendo o inadimplemento total o devedor responderá com todos os seus bens 
(art. 391, CC) pelas perdas e danos (danos emergentes e lucros cessantes – art. 
402, CC), juros, atualização monetária, custas, honorários de advogado e a 
cláusula penal (se houver previsão expressa no contrato). 
b) Relativo: quando ainda é possível e útil a realização da prestação. 
Neste caso estamos diante da mora. Assim, mora é o retardamento ou o 
imperfeito cumprimento da obrigação, desde que não tenha ocorrido caso 
fortuito ou força maior. Dispõe o art. 394, CC: 
“Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento 
e o credor que não o quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a 
lei ou a convenção estabelecer”. 
Situações 
O não cumprimento de obrigação positiva (dar ou fazer) no dia do seu 
vencimento constitui em mora o devedor (art. 397, CC) de imediato. Não 
havendo um prazo determinado para o dia do vencimento é necessária uma 
interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, parágrafo único, CC). 
Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em 
mora desde que o praticou (art. 398, CC). Ou seja, desde o momento da prática 
do evento danoso, independentemente de qualquer notificação ou interpelação 
judicial. 
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Já na hipótese de obrigação negativa (não fazer) considera-se o 
devedor em mora no dia em que executar o ato de que deveria se abster (art. 
390, CC). 
Devemos lembrar que, nos termos do art. 396, CC não havendo fato ou 
omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. 
Tanto o devedor, quanto o credor podem incidir em mora. Vejamos: 
 1) Mora do Devedor (mora solvendi ou debitoris). Ocorre quando o 
devedor não cumpre, por culpa sua, a prestação devida na forma, tempo e lugar 
estipulados. Neste caso, os principais efeitos da mora são: responsabilização 
por todos os prejuízos causados ao credor, que pode exigir além da prestação 
propriamente dita, também os juros moratórios, a correção monetária, a 
cláusula penal (se houver previsão expressa) e a reparação de qualquer outro 
dano ou prejuízo que porventura tenha sofrido. A mora do devedor pode ser 
dividida em: 
1.1) Mora ex re: decorre de fato previsto em lei ou em contrato. 
Quando a obrigação é positiva (dar, fazer) e líquida (certa quanto à 
existência e determinada quanto ao valor), com data fixada para o 
pagamento, o seu não cumprimento (inadimplemento) implica na mora do 
devedor de forma automática, sem necessidade de qualquer providência do 
credor. O simples não pagamento no dia determinado já é o suficiente para a 
caracterização da mora de pleno direito (art. 397, caput, CC). 
1.2) Mora ex persona: quando não houver estipulação de uma data 
certa para a execução da obrigação, a mora depende de uma providência 
do credor (ex.: interpelação judicial ou extrajudicial, notificação, etc.) do 
credor, conforme o art. 397, parágrafo único, CC. 
2) Mora do Credor (arts. 394, segunda parte e 400, CC – mora accipiendi 
ou creditoris) - Como vimos, o credor também pode incidir em mora. Ela ocorre 
quando o credor se recusa aceitar o adimplemento (cumprimento) da obrigação 
no tempo, lugar e forma devidos, sem ter um motivo justo para assim proceder. 
A mora do credor subtrai o devedor, isento de dolo, à responsabilidade pela 
conservação da coisa. Isto é, se o credor não quiser aceitar a coisa e esta vier a 
estragar, o devedor não responderá por estes danos. Além disso, obriga o 
credor a ressarcir as despesas empregadas na conservação da coisa, e o sujeita 
a recebê-la pela sua mais alta estimação, se o seu valor oscilar entre o tempo 
do contrato e o do pagamento. Acrescente-se que a mora do credor possibilita a 
ação de consignação em pagamento (falaremos sobre isso logo adiante, ainda 
na aula de hoje) da coisa pelo devedor. 
���Observação ��� Quando as moras são simultâneas, ou seja, mora do 
devedor e mora do credor ao mesmo tempo (ex.: nenhum dos contratantes 
comparece ao local escolhido para o pagamento), uma elimina a outra, como se 
nenhuma das partes houvesse incorrido em mora. A doutrina chama isso de 
“compensação dos atrasos”. 
Juros Moratórios (arts. 406/407, CC) 
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 Juros são os frutos ou rendimentos do capital empregado. Eles são 
considerados como bens acessórios. Há duas espécies de juros: 
1) Juros Compensatórios: decorrem de uma utilização consentida do 
capital alheio. É o empréstimo de dinheiro a juros. Normalmente é objeto de 
convenção (contrato) entre os interessados, como ocorre no mútuo feneratício 
(empréstimo de dinheiro a juros). Ainda que o mutuário pague em dia, quando 
devolver o empréstimo deve pagar os juros pela remuneração do uso do 
dinheiro. 
2) Juros Moratórios: constituem uma pena imposta ao devedor pelo 
atraso no cumprimento da obrigação, atuando como se fosse uma 
indenização. São devidos a partir da constituição em mora, independentemente 
da alegação de prejuízo. Podem ser convencionais ou legais. 
Ocorrem os juros moratórios convencionais no caso em que as partes 
estabelecem a taxa de juros (até 12% anuais ou 1% ao mês – era a sistemática 
do art. 192, §3° da CF/88 que foi revogado pela Emenda Constitucional n° 
40/03). 
Já os juros moratórios legais ocorrem quando as partes não os 
convencionam. Mas, mesmo não convencionados os juros moratórios são 
devidos, na taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos 
devidos à Fazenda Nacional (art. 406, CC: trata-se da taxa SELIC). Seja em um 
caso, seja noutro, ainda não há um consenso sobre qual o critério a ser utilizado 
diante da redação do art. 406, CC. Saliente-se que o Superior Tribunal de 
Justiça (STJ) tem entendido que o critério correto é o que consta do art. 161, 
§1° do Código Tributário Nacional (1% ao mês). Por isso entendemos que esta 
questão não pode cair em concurso por ser muito polêmica. Se cair a sugestão é 
de se adotar a posição do STJ. 
Purgação da Mora (art. 401, CC) 
Purgar (ou emendar) a mora é neutralizar os efeitos da mora. Ou seja, a 
parte que incorreu em mora, corrige, sana a sua falta, de forma voluntária, 
cumprindo a obrigação que fora anteriormente descumprida. Deve ressarcir, 
também, os eventuais prejuízos causados à outra parte. 
Purgação da mora feita pelo devedor: é a oferta da prestação (ou 
seja, o pagamento da dívida principal), acrescida da importância dos prejuízos 
ocorridos até o dia deste pagamento (juros, correção monetária, multa, 
honorários advocatícios, etc.). 
Purgação da mora feita pelo credor: quando este se oferece para 
receber o pagamento, sujeitando-se aos efeitos da mora já ocorridos. Há casos 
em que a lei permite ao devedor a purgação da mora para impedir que o 
contrato seja resolvido (extinto), desde que o faça durante o prazo de resposta 
da ação judicial proposta pelo credor. Ex.: ação de despejo – art. 62 da Lei do 
Inquilinato. 
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA 
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Enriquecer sem causa é enriquecer de forma repentina e sem motivo

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