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PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO CIVIL LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES DO ARTIGO 233 AO 420 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE 2002. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Conceito: PLURÍVICO –vários sentidos. É a relação jurídica pessoal e transitória que existe entre devedor e credor, onde este pode exigir daquele o cumprimento de uma prestação/comportamento, que pode consistir em um dar, um fazer ou um não fazer. Exemplos. • Realizar um pagamento (obrigação de dar dinheiro); • Construir uma casa (obrigação de fazer um serviço); • Na construção de um prédio, não fazer mais de dois andares (obrigação de não fazer). OBRIGAÇÕES DECORREM: • DA LEI – pagamentos de tributos • DA VONTADE – casamento, testamento, contratos MODALIDADES OBRIGACIONAIS • Obrigações propter rem (próprias da coisa): são aquelas que aderem à coisa, e não à pessoa, transmitindo-se automaticamente ao seu novo titular, com a transferência proprietária. Ex. IPTU, IPVA, taxas condominiais • Obrigações de ônus real: é aquela que limita o uso e o gozo da propriedade, consistindo em um gravame, um ônus. Ex. João doa uma fazenda para Maria, obrigando esta (Maria) a destinar 50% da safra colhida, todo ano, para Caio. Outros exemplos: penhor, hipoteca. • Obrigações de eficácia real: sem perder o caráter do direito a uma prestação, ganha oponibilidade contra terceiros, que adquiram direitos sobre determinado bem. São obrigações erga omnes, ou seja, as obrigações se transmitem. Ex. João alugou um imóvel de Pedro e, dentro do prazo de locação, João subloca esse imóvel para Paulo. As obrigações do contrato primitivo atingirão até mesmo o terceiro que sublocou o imóvel. ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO • Subjetivo: Devedor e credor • Material: prestação • Imaterial: vínculo jurídico. O vínculo jurídico é a ligação que existe entre o devedor e o credor, que é composta por dois elementos: débito e responsabilidade. Significa que há duas questões ligando devedor e credor: • a existência de uma dívida (débito); • a possibilidade de cobrança judicial em caso de inadimplemento (responsabilidade). Exemplo: Tício contratou Mévio para prestar serviços de marceneiro pelo valor de R$ 20.000,00. Tício já pagou o valor integral à Mévio. Mévio tem a obrigação de fazer o serviço para Tício. ATENÇÃO! Dois sujeitos em uma relação obrigacional significa dizer que existem 2 lados e não apenas 2 pessoas. O QUE ACONTECE SE O DEVEDOR NÃO CUMPRIR COM A OBRIGAÇÃO? R. O Credor poderá exigir judicialmente o cumprimento da obrigação inadimplente. Isso só é possível por que a relação jurídica entre credor e devedor é integrada por um Direito Subjetivo. O que é Direito Subjetivo? R. É o DIREITO QUE A PESSOA TEM de exigir de OUTRA uma prestação. Um DEVER de prestar algo em seu favor. COMO O JUIZ PODERÁ OBRIGAR O DEVEDOR A CUMPRIR COM A OBRIGAÇÃO? Exemplos: • Se for obrigação de pagar (dar dinheiro), o juiz poderá penhorar valores na conta bancária do devedor ou penhorar bens. • Se for uma obrigação de fazer, o Juiz poderá fixar multa diária (astreintes) pelo descumprimento. • Se for uma obrigação de não fazer uma construção, o Juiz poderá mandar demolir a obra ou embargá-la. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES As obrigações podem ser classificadas em 2 grupos: básico (dar; fazer e não fazer) e especial (alternativa, divisível e indivisível). Obrigações Positivas • Dar: coisa certa ou incerta • Fazer: fungível ou infungível Obrigações Negativas • Não fazer BÁSICA • Obrigação de dar A obrigação de dar é aquela em que a prestação do devedor consiste na entrega de um bem. A obrigação de dar pode ser de dois tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Devedor: dono da coisa Credor: aquele que comprou a coisa Obrigação de dar coisa certa: o devedor tem a prestação de entregar um bem específico – bem individualizado. “Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstancias do caso”. Ex. João vende uma BMW, placa BMW2424, 2017, cor vermelha para Pedro. Junto com o carro, João terá que entregar a câmera de ré instalada no carro. (acessórios) A ideia de que o acessório segue o principal é decorrente do princípio da gravitação jurídica. Atenção! Pertenças são diferentes de acessórios. Os acessórios: “Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal”. “Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso”. “Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro”. Pertenças: são bens que foram feitos para utilizar no bem principal, mas não é parte integrante dele. Por este motivo, a pertença não acompanha o bem principal, salve se estiver determinado por lei ou por convenção das partes. Ex. João vende o seu carro para Maria mas não está obrigado a entregar junto com o veículo o suporte para celular que comprou para ajuda-lo na localização via gps. • Prestação de dar, perda total do bem, sem culpa do devedor “Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos”. Como ainda não houve a tradição, a coisa pertence ao devedor (dono da coisa), que estará obrigado a devolver ao credor o que já houver recebido pelo negócio. Ex. João (devedor) vende seu carro para José (credor), mas antes da entrega o carro cai em uma ribanceira por ser levado pela correnteza da inundação provocada por violenta tempestade. Consequência: não há responsabilidade para nenhuma das partes, resolve-se a obrigação, mas os danos no veículo serão suportados pelo devedor. (“res perit domino”) – a coisa perece para o dono. Prestação de dar, perda total do bem com culpa do devedor (art. 234): Havendo culpa do devedor, o credor que já houver pago o preço tem o direito de receber o equivalente do objeto perecido, sempre em dinheiro, que é a moeda universal das sub-rogações, além, é claro, das perdas e danos, também em dinheiro, pelos prejuízos material e imaterial sofridos. Ex. João (devedor) vende um carro para José, mas antes da entrega o destrói porque provoca um acidente com perda total do carro por dirigir embriagado. Será devedor no equivalente. Consequência: devolve o valor recebido ou não o recebe (caso não tenha ainda recebido) acrescido de perdas e danos. • Prestação de dar, deterioração do bem sem culpa do devedor: perda parcial da coisa certa “Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”. Ocorrendo antes da tradição, o prejuízo será, novamente, suportado pelo dono ou devedor. Nesse caso, o credor poderá: • Não aceitar a coisa deteriorada e considerar extinta a obrigação; • Aceitar a coisa deteriorada, abatido (ou receber) o valor que perdeu com a depreciação do bem. Ex. João vende seu carro para José, mas antes da entrega o carro é amassado por bater em um poste ao ser levado pela correnteza da inundação provocada por violenta tempestade. Consequência: José poderá optar em desfazer o negócio ou aceitar o carro amassado, abatendo do seu preço o valor perdido pela deterioração. É o dono que sofre a perda, pois ficou sem dinheiro e com o carro amassado ou sem o carro pagando pela deterioração. • Prestação de dar, deterioração do bem, com culpa do devedor: “Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”.Nessa hipótese, o credor poderá: • Não aceitar a coisa deteriorada e pretender receber o valor equivalente já pago + perdas e danos; • Aceitar a coisa deteriorada + o valor da depreciação + perdas e danos. A indenização, no caso, deve se basear na diferença entre o valor da coisa, antes e depois da deterioração. • Prestação de dar, melhora do bem: “Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor (dono) a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes”. Melhoramento é tudo aquilo que aumenta a qualidade do bem. Acréscimo é tudo aquilo que se acrescenta ao bem, aumenta o bem em sí. Até a tradição, se o devedor realizar ou aumento ou acréscimo no bem, o devedor (dono do bem) poderá exigir um acréscimo no preço e se o credor não aceitar, o devedor poderá por fim à obrigação. Ex. João assinou um contrato de promessa de compra e venda comprometendo-se a transferir sua fazenda para Rafael no prazo de 1 ano, quando Rafael pagará a quantia de 500 mil reais. Nesse meio tempo, formou-se uma ilha no rio que passa em frente a fazenda de João. João entendeu que houve um acréscimo em seu imóvel, tendo em vista que a ilha passou a pertencer à fazenda. Diante desse acréscimo, João pretende exigir um aumento no preço , para que Rafael pague a quantia de 600 mil reais. Caso Rafael não aceite pagar o acréscimo no preço, João poderá dar por extinta a obrigação. Consequências: O vendedor poderá pedir aumento de preço, pois é o dono e ele se beneficia com a vantagem. Se o comprador não aceitar pagar o acréscimo, poderá o vendedor resolver a obrigação, ou seja, desfazer a venda. E se, ao invés de melhoramento ou acrescido, o bem deu frutos? Os frutos percebidos ou colhidos antes da tradição são do devedor, pois ele ainda é dono do bem, mas se pendente quando da tradição, será do credor, pois o bem acessório segue a sorte do bem principal. Ex. Ana vende uma cadela da raça buldogue francês para entregar tempo depois à Maria, e antes da entrega o animal engravida. Se na época da entrega o filhote já nasceu será de Ana, mas se estiver na barriga da cadela na época da entrega, será de Maria. • Prestação de restituir, perda do bem sem culpa do devedor: “Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. Na obrigação de restituir: Devedor: aquele que está em posse da coisa Credor: dono da coisa - proprietário Caso haja a perda da coisa, sem culpa do devedor, o dono da coisa (credor) sofre a perda. Ex. João alugou seu carro por 10 dias para seu vizinho Rafael. Ao término do prazo de 10 dias, Rafael terá a obrigação de devolver (restituir) o carro para João. Entretanto, no quinto dia do aluguel do carro, o veículo foi furtado dentro da garagem de Rafael. Levando em consideração que o carro de João se perdeu sem culpa de Rafael, ele não será obrigado a devolver o carro ou indenizar João, sendo que a obrigação de restituir o carro será extinta. Utilizando a última parte do artigo 238, temos: “[...] ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. Utilizando o mesmo exemplo de Aluguel, Rafael não terá obrigação de restituir o carro para João, mas, terá que pagar o valor do aluguel até o dia do furto. • Prestação de restituir, perda do bem, com culpa do devedor: “Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”. Havendo culpa do devedor no perecimento, o credor não suportará prejuízo algum. O devedor, além de restituir o equivalente em dinheiro, indenizará o credor pelos danos materiais e imateriais eventualmente suportados. Ex. João alugou seu carro para Rafael. No quinto dia Rafael perdeu a direção do carro e colidiu contra um poste, vindo a causar a perda total do veículo de João. Tendo em vista a culpa de Rafael, ele terá que pagar a João o valor equivalente do bem, mais perdas e danos eventualmente sofridos por João • Prestação de restituir, deterioração do bem com culpa do devedor “Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no Art. 239”. Havendo culpa do devedor, o credor receberá a coisa danificada, acrescida do valor referente à depreciação e ainda as perdas e danos. Ex. Tício vende seu carro para Mévio, mas antes da entrega o amassa ao bater por dirigir embriagado. O credor poderá escolher entre receber o equivalente pago mais perdas e danos ou aceitar o bem no estado em que se acha acrescido de perdas e danos, incluindo o abatimento do valor em razão da deterioração. • Prestação de restituir, deterioração do bem sem culpa do devedor: “Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no Art. 239”. Ex. Tício vende seu carro para Mévio, mas antes da entrega o carro é amassado por bater em um poste ao ser levado pela correnteza da inundação provocada por violenta tempestade. O dono é o credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz que ele receberá o bem deteriorado sem direito de indenização. • Prestação de restituir, melhora do bem (sem despesa do devedor): “Art. 241. Se, no caso do Art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização”. Os acréscimos e a valorização ocorridos antes da tradição e decorrentes de fatos naturais para os quais não contribuiu o devedor pertencem ao dono da coisa, que aqui vem a ser o credor. Se os melhoramentos tiverem resultado do trabalho ou de despesa do devedor, aplicar-se-á a regra do artigo seguinte. Ex. Devedor de uma fazenda por tê-la recebida emprestada do credor, mas antes da entrega o bem se valoriza em razão do acréscimo de terra trazido pela correnteza das águas (fenômeno chamado de avulsão). Por evidente, será do credor o ganho, pois ele é o dono do bem, recebendo-o de volta valorizado, desobrigado de indenizar. • Considerando que o devedor não contribuiu para o melhoramento ou acréscimo do bem, não trabalhou ou pagou para que ocorresse o melhoramento, ele não terá direito a indenização. • E pelo fato do credor ser o proprietário da coisa, ele terá direito de receber o bem com melhoramento ou acréscimo, sem indenizar o devedor. Ex. João emprestou sua fazenda para seu primo Rafael para o cultivo de milho pelo prazo de 2 anos. Durante esse período, o rio que margeava a fazenda de João secou, aumentando em 10% a área da fazenda. Acessão natural. Por evidente, será do credor o ganho, pois ele é o dono do bem, recebendo-o de volta valorizado, desobrigado de indenizar. • Prestação de restituir, melhora do bem (com despesa do devedor): “Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se- á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé”. As disposições acerca das benfeitorias do possuidor de boa-fé e má-fé estão disciplinadas no artigo 1.219 ao 1.221 do c.c. • Melhoramentos ou acréscimos feitos pelo devedor de boa-fé na coisa a ser restituída ao credor: 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. • Benfeitorias necessárias:São aquelas que se destinam à conservação do imóvel ou que evitem que ele se deteriore, portanto são lançados diretamente em Despesas de Manutenção. Exemplos: reparos de um telhado, reparo na parede para evitar a infiltração de água ou a substituição dos sistemas elétricos e hidráulico danificados. • Benfeitorias úteis: As obras que aumentam ou facilitam o uso do imóvel. Ex. a construção de uma garagem, a instalação de grades protetoras nas janelas ou fechamento de uma varanda, porque tornam o imóvel mais confortável, seguro ou ampliam sua utilidade. • Benfeitorias voluptuárias: As que não aumentam ou facilitam o uso do imóvel, mas podem torná-lo mais bonito ou mais agradável. Ex. obras de jardinagem, de decoração ou alteração meramente estética como cerca viva, Colocação de Coluna Romanas no Hall de Entrada, Construção de Lago para embelezamento do local. Em relação às benfeitorias necessárias e úteis, enquanto o credor não pagar o valor da indenização pelas benfeitorias realizadas, o devedor poderá continuar em posse do bem. Já em relação às benfeitorias voluptuárias: 1- Se puderem ser levantadas sem detrimento do bem principal o credor poderá optar: • Ficar com as benfeitorias e indenizar o devedor; • Permitir que o devedor levante as benfeitorias. 2- Caso as benfeitorias não puderem ser levantadas sem detrimento do bem principal, existem as seguintes possibilidades de resoluções: • O devedor não terá direito a levantar as benfeitorias; • O devedor não terá direito à indenização. • Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. O devedor de boa-fé que houver contribuído para o acréscimo tem direito à indenização pelos melhoramentos considerados úteis e necessários e a levantar os voluptuários, bem como de exercer o direito de retenção, até que o credor venha a indenizá- lo. Se estiver de má-fé, terá direito apenas à indenização pelas benfeitorias necessárias, desde que existentes ao tempo da restituição, mas não poderá levantar as voluptuárias, nem poderá exercer o direito de retenção. Quanto aos frutos percebidos, vide arts. 1.214 a 1.216. Obrigação de dar coisa incerta: é aquela em que o devedor assume a obrigação de dar um gênero em certa quantidade. “Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”. O art. 104 diz que a validade do negócio jurídico requer um objeto lícito, possível, determinado ou determinável. Objeto determinado: coisa certa (quantidade, qualidade e gênero); Objeto determinável: coisa incerta (quantidade e gênero). Sendo assim, o objeto determinável não acarretará em invalidade do negócio jurídico. Exemplos de coisa certa, incerta e indeterminável: Certa: Carro Uno, Fiat, branco, 2018, placa BMV-0000, Renavan 000000000, chassi 9BD1234567899. Quantidade: 1 Gênero: CARRO Qualidade: Uno, Fiat, branco, 2018, placa BMV-0000, Renavan 000000000, chassi 9BD1234567899. Negócio jurídico válido! Incerta: João fica obrigado a entregar, no dia 28 de agosto de 2019, 1.000 (mil) camisetas à Pedro. Quantidade: 1.000 Gênero: camisetas Negócio Jurídico válido! Indeterminada: João fica obrigado a entregar camisetas à Pedro no dia 28 de agosto de 2019. Negócio jurídico inválido! Ex (coisa incerta): João vende três cavalos de sua fazenda. Em dado momento, os bens a serem entregues deverão ser escolhidos, o que chamamos de concentração da prestação. A quem cabe a escolha? Arts. 244 e 245 do c.c. Se nada for dito no contrato, a escolha caberá ao devedor, que não poderá escolher o pior nem ser obrigado a escolher o melhor. Feita a escolha, a obrigação de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa, aplicando-se as regras que lhe são próprias. Se antes da escolha o bem se perder ou se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou motivo de força maior, o devedor não se exime de cumprir a prestação, pois o gênero não perece, podendo o bem ser substituído por outro da mesma espécie para ser entregue ao credor. “Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”. O devedor, nesse caso, deverá dar uma coisa de qualidade média. Também chamado de critério da qualidade média. Ex. João comprou 200 kg de feijão do produtor da Fazenda Esmeralda. Quantidade (200 kg) e gênero (feijão) = coisa incerta. 3 qualidades de feijão: A, B e C. Pergunta-se: Qual qualidade de feijão deverá ser entregue a João, já que o contrato não prevê nada nesse sentido? O devedor (produtor) é quem escolherá o tipo de feijão a ser entregue ao credor (João). Entretanto, não é obrigado a entregar o melhor tipo (A) e nem poderá entregar o pior (C), restando o de qualidade média: TIPO B. Aplicação do artigo 244 do c.c. É preciso que, após o devedor fazer a escolha de qual coisa será entregue ao credor, aquele dê ciência a este acerca da sua escolha. Isso pode ser feito por notificação, e-mail, carta, etc.). Art. 245 do c.c. Feita a escolha e notificação, a obrigação de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa (regida pelos artigos 233 ao 242 do c.c.), aplicando-se as regras que lhe são próprias. Perda ou deterioração da coisa incerta: art. 246 do c.c. Se antes da escolha o bem se perder ou se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou motivo de força maior, o devedor não se exime de cumprir a prestação, pois o gênero não perece, podendo o bem ser substituído por outro da mesma espécie para ser entregue ao credor. Por que o devedor não poderá alegar a perda ou deterioração da coisa incerta? Pois, antes da escolha, não se sabe o que será entregue ao credor, já que a coisa é incerta. O gênero não perece (genus nunquam perit)! Ex. Cooperativa Andrade comprou e pagou para o fazendeiro Francisco Alves a quantia de 4.000 kg (quantidade) de gado bovino (gênero) vivo ou abatido que seria entregue posteriormente. Coisa incerta. Quando da data da entrega do gado, o fazendeiro alegou perecimento da coisa, sendo que o Tribunal não aceitou, fundamentado na expressão de que a coisa não perece e por fundamentação legal do artigo 246 do c.c. OBRIGAÇÃO DE FAZER Conceito: Obrigação de fazer é aquela em que a prestação do devedor consiste na realização de uma atividade, como na contratação da prestação de um serviço. “Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível”. A obrigação de fazer pode ser de dois tipos: personalíssima (infungível) ou não personalíssima (fungível). • Personalíssima: quando só o devedor puder cumprir a prestação. Ex. contratação de um pintor famoso para pintura do retrato do credor em um quadro. • Não personalíssima: quando não só o devedor, mas outra pessoa também puder cumprir a prestação. Ex. contratação de um pintor para pintura das paredes de uma casa. Por que diferenciar? Se for obrigação personalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la ou por sua culpa se tornou impossível, responde por perdas e danos. Se for obrigação não personalíssima, poderá o credor optar em reclamar indenização por perdas e danos ou mandar executar às custas do devedor. Como isso é feito? Ajuizamento de ação com orçamento do serviço, pedindo condenação do devedor do fazer a pagar. Todavia, se for urgente, poderá o credor mandar executar o fato independente de prévia autorização judicial, buscando em juízo depois o ressarcimento do que foi gasto. Classificação das obrigações de fazer: podem ser classificadas em obrigação de meio e de resultado ou de fim. Nas obrigações de resultado, o devedor se vincula a atingir determinado resultado, sob pena de inadimplemento e, consequentemente, dever de indenizar perdas e danos. Ex. segundo a jurisprudência do STJ,o cirurgião plástico, embora seja um médico, tem obrigação de resultado, quando se tratar de intervenção meramente estética ou embelezadora. Já na obrigação de meio, o devedor não se vincula a atingir determinado resultado, mas sim a corresponder no meio para atingi-lo, ou seja, a empregar a diligência na busca do resultado. Não responde se o resultado não for atingido, apenas se não empregou a diligência necessária. Ex. Um advogado ou um médico tem obrigação de meio. OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER Conceito: A obrigação de não fazer é uma obrigação a uma abstenção. Ex. advogado que, em razão de seu ofício, toma conhecimento de certos fatos relacionados ao seu cliente, fica impedido, pelo Código de Ética da categoria, de divulgá- los. Se o devedor descumprir a obrigação, fazendo o que se obrigou a não fazer, deverá indenizar o credor em perdas e danos? Nem sempre, pois às vezes se tornou impossível, sem culpa do devedor, abster-se do ato. “Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar”. A obrigação de não fazer pode resultar da lei (relações de vizinhança, servidões etc.), de sentença ou de convenção das partes. Em qualquer dessas hipóteses, se o ato é praticado inexistindo culpa do devedor, resolve-se a obrigação, retornando-se ao statu quo ante. Se houver culpa, o credor fará jus a perdas e danos. Nesse caso, apenas se resolve a obrigação (volta ao estado anterior do negócio), não tendo que indenizar perdas e danos. Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o muro para impedir que a água invadisse sua casa. A obrigação de não fazer também compreende obrigação do devedor permitir ou tolerar algo. Exemplo: O dono do imóvel deve permitir a passagem de fiação elétrica pública em seu terreno. O que acontece se o devedor fizer o que se obrigou a não fazer? “Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”. Nessa hipótese, o credor poderá exigir judicialmente: • que o devedor desfaça o ato • desfaça o ato a custa do devedor • requerer perdas e danos. Caso não seja mais possível desfazer o ato a obrigação de não fazer será convertida em perdas e danos. É o que disciplina o artigo 823 do c.c. Ex. João comprou um terreno em um condomínio fechado. A passagem para o campo de futebol se dá pelo terreno de João. Ao comprar o imóvel, João se obrigou a não fechar essa passagem. Com o tempo, João foi se irritando com o barulho e construiu uma cerca, impedindo os demais condôminos de acessar o campo de futebol. Consequência: O condomínio poderá requerer judicialmente que João desfaça a cerca, ou que se desfaça a custa de João, além de perdas e danos. Exemplo: João alugou uma sala comercial. Constava no contrato de locação que João deveria pagar e manter acesas as luzes do estacionamento do prédio (obrigação de não apagar/ desligar as luzes) que estavam no relógio da sua sala. No primeiro mês da locação, João desfez as ligações de luz deixando todo o estacionamento do prédio no escuro. Consequência: Pelo fato da urgência (estacionamento todo no escuro – seguranças dos demais condôminos), o condomínio, por conta própria, poderá providenciar a ligação da luz e requerer judicialmente de João as despesas que teve, mais perdas e danos. Parágrafo único do artigo 251: “Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido”. OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS Previstas do artigo 252 ao 256 do Código Civil. Essas obrigações alternativas poderão ser: • Quanto ao modo de execução: Simples ou composta. • Obrigação Simples: É aquela em que possui apenas 1 prestação. Exemplos: Construir uma casa; Entregar 10 celulares; Desmatar 1 terreno. Extingue-se a obrigação após o cumprimento dessa única prestação. • Obrigação Composta/complexa: É aquela que possui 2 ou mais prestações. Exemplos: • Construir uma casa e reformar um depósito; • Entregar um celular ou um computador; • Desmatar um terreno e fazer um jardim em outro terreno. Quando irá se extinguir a obrigação composta, que tem mais de 1 prestação? Depende: Se a obrigação composta for cumulativa, todas as demais prestações devem ser cumpridas para que o devedor fique desobrigado, ou seja, para que a obrigação seja extinta. Exemplo: João assumiu a obrigação de entregar um carro e entregar um trator a Rafael. Como a obrigação é cumulativa, ele deverá entregar tanto o carro quanto o trator para se desonerar da obrigação. Obrigação alternativa Existem 2 ou mais obrigações, mas o devedor se desonera da obrigação cumprindo apenas 1 das prestações. Exemplo: João assumiu a obrigação de entregar a Pedro um carro ou um trator. A entrega de um carro OU de um trator. Desobriga o devedor da obrigação. Quem irá escolher qual das prestações deverá ser cumprida? “Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou”. Ou seja, se no contrato não constar que a escolha da prestação cabe ao credor (ou a um terceiro), a escolha caberá ao devedor. “§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra”. A obrigação escolhida deverá ser cumprida na sua integralidade. “§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período”. O que é prestação periódica? Prestação que é cumprida de tempos em tempos. Por exemplo: semanalmente, mês a mês, ano a ano. Para as prestações periódicas, caso não conste no contrato que é o credor que irá escolher, o devedor escolherá a prestação que irá cumprir em cada período. Exemplo: Tício obrigou-se a entregar semanalmente a merenda escolar de uma creche. No contrato havia disciplinado que João poderia entregar frutas ou sanduíches. Toda semana (período), João poderá escolher se irá entregar frutas ou sanduíches. Obrigação divisível e indivisível – ARTS. 257 A 263 • Conceito Obrigações divisíveis são aquelas cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos, ou seja, as que admitem o cumprimento fracionado ou parcial da prestação. (art. 257) As indivisíveis são as obrigações que só podem ser cumpridas por inteiro (art. 258, CC). Exemplo: A e B devem a C 20 sacos de café. Cada um pode pagar dez. Obrigação divisível. Porém, se A e B devem a C um caminhão, então é coisa indivisível. Obrigação indivisível. Vale lembrar que o art. 88 do Código Civil estabelece que a indivisibilidade, quanto aos bens, decorre: i) da natureza das coisas (material) – quando decorre da própria natureza a prestação. Exemplo: a entrega de um animal reprodutor; ii) de determinação legal (jurídica) – quando decorre de norma legal. Exemplo: a pequena propriedade agrícola (Módulo rural); as servidões prediais, nos termos dos art. 1.386, do CC; iii) por vontade das partes (convencional) – quando estipulado em contrato. Divisibilidade e indivisibilidade nas obrigações de dar, fazer e não fazer: • A obrigação de dar e fazer, dependendo da possibilidade de fracionamento do objeto de sua prestação, tanto pode ser divisível quanto indivisível. • A obrigação de não fazer, em princípio, é indivisível, pois não tem como dividir uma abstenção. Mesmo que tal abstenção seja parcial, implicará em descumprimento obrigacional. • Efeitos da divisibilidade e da indivisibilidade: • Divisibilidade: • a) Um credor e um devedor: Mesmo o objeto sendo divisível, quando há apenas um credor e um devedor a obrigação é indivisível (art. 314 , CC). • b) Pluralidade de devedores ou credores : Divide-se a obrigação por partes. “Concursu partes fiunt” (As partes se satisfazem pelo rateio) (art. 257, CC). Há presunção, no caso da obrigação divisível, de que está repartida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantosos credores ou devedores. • Indivisibilidade: a) Pluralidade de devedores (concurso passivo): Cada um é obrigado pela dívida toda e aquele que paga fica com o direito de cobrar dos demais (art. 259, CC). • b) Pluralidade de credores (concurso ativo): Cada credor pode exigir a dívida por inteiro, mas o devedor se desobrigará do total, ou pagando a todos ou a um dos credores, que dará caução de ratificação (quitação de um com o reconhecimento dos direitos dos demais, registrada no Cartório de Notas). Art. 260, do Código Civil de 2002: “Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I – a todos conjuntamente; II – a um, dando este caução de ratificação dos outros Credores”. Ex. Se dois credores tem o direito de receber 1 carro, cada credor poderá exigir o carro por inteiro. Se somente 1 credor receber a obrigação indivisível, esse deverá entregar a parte equivalente para os demais credores. Conforme o que disciplina o artigo 261. • Remissão da dívida por um dos credores: Se um dos credores perdoar sua parte na dívida, continua valendo para os demais credores, descontando o valor daquele que perdoou. Se o bem não for divisível, os demais credores pagarão a diferença da cota daquele que perdoou. Se não tiver como, vende o bem e resolve a obrigação (art. 262, CC). • Perecimento da obrigação por culpa do devedor Em caso de culpa do devedor, resolve -se a obrigação mais perdas e danos. Pagam-se as perdas e danos apenas o culpado, ou divide -se entre os culpados. Por isso, perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos, em caso de perecimento com culpa do devedor (art. 263, CC). OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS - ARTS. 264 A 285, DO CC/2002 • Conceito O conceito de obrigação solidária está explicitado no art. 264 do Código Civil e afirma que existe solidariedade quando na mesma relação jurídica obrigacional, concorre mais de um credor (solidariedade ativa), ou mais de devedor (solidariedade passiva), sendo cada um, com direito, ou obrigado, à dívida toda. Desta forma, a obrigação é solidária quando há vários devedores e cada um responde pela dívida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de credores, pela exegese do art. 264, CC, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse o único credor. Atenção: • A solidariedade não se presume. Pode a obrigação solidária resultar da lei ou da vontade das partes (contrato) (art. 265, CC/2002). • Na solidariedade de relação jurídica obrigacional, seja ela prevista no contrato ou em lei, excepciona-se o princípio da divisibilidade das obrigações estipulado pelo art. 257, do Código Civil de 2002. Exemplos de obrigações solidárias previstas em lei: • Solidariedade entre representante e representado (art. 149, CC/2002); • Cedente e cessionário (art. 1.146, CC/2002); • Fiadores (art. 829, CC/2002); • Gestores (art. 867, parágrafo único, CC/2002); • Autores da ofensa (art. 942, CC/2002); • Sócios (arts. 990, 993, 1.039, 1.045 seg., CC/2002); • Administradores de sociedade (arts. 1.009, 1.012, 1.016 seg., CC/2002); • Cônjuges (art. 1.6 44, CC/2002); • Testamenteiros (art. 1.986, CC/2002) etc. • Características das obrigações solidárias: a) Pluralidade de credores, de devedores ou de uns e de outros; b) Integralidade da prestação; c) Corresponsabilidade dos interessados. • Espécies de obrigações solidárias: a) Obrigação solidária ativa: se existe mais de um credor; b) Obrigação solidária passiva: quando há pluralidade de devedores. • Diferenças entre solidariedade e indivisibilidade: a) Na obrigação solidária, a indivisibilidade do objeto é condição de sua própria existência, seja ou não, naturalmente divisível esse objeto. b) Na obrigação indivisível (indivisibilidade) a coisa não pode ser dividida, ou porque apresenta natureza insusceptível de divisão, ou porque a vontade das partes a torna indivisível, ou porque a lei cria a indivisibilidade em face do objeto. c) Na obrigação indivisível, perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (art. 263, CC). d) Na solidariedade, isto não ocorre, pois cada devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido. Vale dizer, na obrigação solidária, convertendo -se a obrigação em perdas e danos, subsiste a solidariedade continuando indivisível o objeto (arts. 271 e 279, CC/2002) c) A solidariedade origina-se de uma relação jurídica subjetiva, com base na nas pessoas, nos sujeitos dessa mesma relação – credores e devedores. A indivisibilidade surge de uma relação objetiva, relacionando-se com a unidade do objeto, que integra a prestação. Solidariedade ativa Conceito: Solidariedade ativa é a relação jurídica por meio da qual concorrem dois ou mais credores, podendo qualquer deles receber integralmente a prestação devida (art. 267, CC/2002). Preleciona Fábio Ulhoa Coelho, que nesta espécie de solidariedade “o polo credor da relação obrigacional é ocupado por vários sujeitos, sendo que cada um deles tem o direito de exigir do devedor o cumprimento da obrigação por inteiro”. • Efeitos: a) O devedor libera -se pagando a qualquer dos credores, que, por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um. b) Enquanto algum dos credores solidários não demandar o devedor comum, a qualquer deles poderá este pagar (art. 268, CC). Cessa esse direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o pagamento pode ser efetuado. c) O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago (art. 269, CC). d) Convertendo-se a prestação em perdas e da nos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271, CC). e) O credor que tiver remitido a dívida, ou recebido o pagamento, responderá aos outros pela parte que lhe s caiba (art. 272, CC), podendo ser convencido em ação regressiva por estes movida. • Solidariedade passiva Conceito: A solidariedade passiva ocorre quando há dois ou mais devedores, na mesma relação jurídica, cada um com dever de prestar a dívida toda, ou seja, todo o objeto da prestação. Os devedores são solidários. Dois ou mais devedores são obrigado s pela inteira prestação, isto é, por toda a dívida, ainda que seja ela divisível. O art. 275, do Código Civil, estabelece que, na solidariedade passiva, o credor tem o direito de exigir e receber de um, de alguns ou de todos o s devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum. A solidariedade passiva não se presume, ela te m que estar expressa, ou pela vontade das partes ou pela lei (art. 275, CC). • Efeitos: a) Alteração posterior de contrato – Qualquer alteração posterior do contrato, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, que venha a agravar a situação dos demais, só terá validade se for efetivada com a concordância destes (art. 278, CC). b) Impossibilidade da prestação – no caso de a p restação se tornar impossível por culpa de um dos devedores solidá rios, o credor terá direito a o equivalente mais perdas e danos, como em qualquer obrigação. Pelo equivalente, responderão todos os devedores solidários, mas pelas perdas e danos, apenas o devedor culpado pela perda da prestação (art. 279, CC). Se for sem culpa resolve-se a obrigação. Exemplo: Sebastião e Maria Helena venderam a Geraldo o último frasco de sêmen disponível de um famoso touro reprodutor já falecido e obrigaram-se solidariamente pela entrega. O preço foi totalmente pago de forma antecipada. Porém, a coisa se perdeu antes da execução da obrigação por culpa exclusiva de Sebastião. Neste caso, Geraldo poderá cobrar o valor da prestação perdida (valor pago pelo sêmen) de qualquer um dos devedores solidários, mas só poderá cobrar a indenização de Sebastião. Ainda, vale lembrar, que se Sebastião pagar a Geraldo, poderá, em regresso, cobrar a metade do valor da prestação de Maria Helena,mas nada do que tiver pago a título de perdas e danos. Observação: Se a prestação não restou impossível, mas houve mora na entrega ao credor, todos são responsáveis pela prestação, mas somente o responsável pelo atraso responde pelos juros de mora (art. 280, CC). • c) Falecimento de um dos devedores solidários – o espólio é responsável pela parte do devedor falecido, sendo que a obrigação passa a ser divisível pelos herdeiros (credores do espólio) (art. 276, CC). • d) Defesas do devedor solidário –em caso de demanda (ação judicial), o devedor só pode utilizar para se defender matéria relativa a ele ou a todos, não podendo utilizar-se de defesa de outro (art. 281, CC). e) Extinção da solidariedade pela renúncia – É permitido ao credor, sem abrir mão de seu crédito, “renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores” (art. 282, CC). f) Quota do insolvente – O devedor que satisfaz a dívida por inteiro tem direito a exigir de ca da um dos codevedores a sua quota, dividindo -se igualmente por todos a do insolvente, se houver, presumindo -se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores (art. 283, CC). Vide art. 284, CC Em outros termos, o devedor que cumpre (voluntária ou forçadamente) a obrigação tem direito de cobrar, em regresso, dos demais devedores solidários. Exemplo: Se A, B e C são de vedores solidários de R$ 300,00 a D, aquele que pagar o credor pode regressivamente cobrar R$ 100,00 de cada um dos outros (codevedores). Desta forma, perante o credor os devedores respondem sempre pela totalidade da dívida, em razão da solidariedade, mas, entre eles, dá -se o rateio (relação interna da solidariedade). TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Haverá transmissão da obrigação quando houver uma substituição subjetiva em seus polos, ou seja, uma troca de devedor ou de credor. As modalidades de transmissão das obrigações estão sistematizadas nos artigos 286 ao 303 do código civil. São modalidades de transmissão das obrigações: • Cessão de crédito (artigo 286 ao 298): Há uma substituição no polo ativo, ou seja, há uma troca de credores, pois o credor cede a um terceiro o seu crédito. • Assunção de dívida (artigo 299 ao 303): Na assunção de dívida há uma substituição no polo passivo, ou seja, uma troca de devedores, pois um terceiro assume a obrigação do Devedor. • Cessão de crédito A cessão de crédito se caracteriza pela substituição no polo ativo da obrigação, havendo uma troca de credores em razão da alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito a um terceiro, que se tornará o novo credor da obrigação. A lei permite a cessão do crédito quando a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei ou o acordo das partes. Quem cede o crédito é chamado de cedente e quem o recebe é chamado de cessionário. A cessão do crédito independe da concordância do devedor. A lei exige apenas a notificação da cessão, para que ele não pague à pessoa errada. E se não houver notificação do devedor? Caso o devedor não seja notificado e pague de boa-fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só restando ao verdadeiro credor cobrar do cedente, que indevidamente recebeu o pagamento. Em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor, ou seja, caso o cessionário não consiga receber o crédito em razão da insolvência do devedor, não poderá cobrar a dívida do cedente. • No entanto, responderá se vier expresso no contrato. Quando o cedente não responde pela solvência do devedor, a cessão é chamada de cessão de crédito pro soluto; Quando o cedente responde pela solvência do devedor, é chamada de cessão de crédito pro solvendo. Embora o cedente, em regra, não responda pela solvência do devedor, ele responde pela existência do crédito, ou seja, se ceder um crédito que não existe, aí sim poderá ser cobrado pelo cessionário. O cedente responderá pela existência do crédito tendo o cedido gratuita ou onerosamente. Se ceder de forma onerosa, responderá tendo agido de má- fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu pela cessão, devolvendo o valor auferido. No entanto, na cessão gratuita, como nada recebeu em troca, só responderá se tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabia da inexistência do credito que cedeu. Na cessão de crédito vigora o princípio da oponibilidade das exceções pessoais contra terceiros. O que significa isso? Significa que, quando o cessionário cobrar a dívida do devedor, este poderá se defender alegando as defesas pessoais que cabiam contra o cedente (art. 294 do CC). Exemplo: o devedor comprou um carro usado do credor, mas não vai pagar porque apresentou vício redibitório. Só que o credor cedeu o crédito a um terceiro, que é quem cobra a dívida. O devedor poderá se defender contra o cessionário alegando o vício redibitório, mesmo sendo uma defesa pessoal contra o cedente. • Assunção de dívida A assunção de dívida se caracteriza pela substituição no polo passivo da obrigação, havendo uma troca de devedores. A lei permite que terceiro assuma a dívida do devedor, mas exige a concordância expressa do credor. No entanto, independe de consentimento do devedor, podendo a assunção de dívida ser por delegação (com consentimento do devedor) ou por expromissão (sem consentimento do devedor). O terceiro que assume a obrigação é chamado de assuntor. Quando o terceiro assume a obrigação, o devedor primitivo está exonerado, pois deixou de ser o devedor. Todavia, há um caso em que o devedor primitivo não estará exonerado, podendo ser cobrado pelo credor: Se a cessão foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou por não saber do fato. Com a assunção de dívida, salvo consentimento expresso do devedor primitivo, estarão extintas as garantias dadas por ele, afinal ele não é mais o devedor. Se a substituição vier a ser anulada, restaura-se o débito do devedor primitivo, com todas as garantias que existiam. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES O meio normal de extinção da obrigação é o devedor cumprir a prestação, o que chamamos de pagamento. Pagamento em sentido técnico é cumprir a prestação, seja um dar (dinheiro ou qualquer outro bem), um fazer ou até um não fazer. No entanto, a obrigação pode ser extinta por meios anormais, havendo extinção da obrigação de uma forma alternativa, de uma forma diferente do que o cumprimento da prestação. São formas anormais de extinção da obrigação: • pagamento em consignação; • pagamento com sub-rogação; • imputação de pagamento; • dação em pagamento; • Novação; • Compensação; • Confusão; • remissão. • Da forma normal: Pagamento Pagamento é o meio normal de extinção da obrigação, ou seja, o cumprimento da prestação (dar, fazer ou não fazer). O CC inicia o tema abordando quem deve pagar (chamado de solvens) e a quem se deve pagar (chamado de accipiens). O CC trata de quem deve pagar, mas, na verdade, o que se estabelece são regras sobre quem pode pagar. A obrigação pode ser paga por qualquer pessoa que tenha algum tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por um terceiro. A lei, no entanto, estabelece consequências diferentes para o pagamento sendo feito pelo devedor, por terceiro interessado ou por terceiro não interessado. Quando se fala em interessado ou terceiro interessado, fala-se em interesse jurídico, pois, se o terceiro paga, algum tipo de interesse ele tem. O terceiro será interessado quando puder ser cobrado pela dívida. Exemplos: um fiador que paga a dívida do afiançado é um terceiro interessado, mas o pai que paga a dívida de um filho maior de idade, embora tenha um interesse sentimental, é considerado um terceiro não interessado. Se o devedor efetuar o pagamento, extinta estará a obrigação e ele estará exonerado. Se um terceiro pagar, também estará extinta, mas ele poderá reaver o valor pago, embora de forma diferente a depender de quem pagou: Se terceiro interessado, sub-roga-se nos direitos do credor; Se terceiro não interessado, apenas tem direito de reembolso, não se sub-rogando nos direitos do credor. Emambos os casos, o terceiro cobra do devedor o que pagou por ele, mas diferem porque, ao se sub-rogar nos direitos do credor, terá as garantias especiais dadas a ele, o que não ocorre no mero direito de reembolso. Detalhe: Isso ocorrerá se o terceiro pagar em seu nome, pois se pagar em nome do devedor, é considerado uma mera ajuda, não tendo direito de reaver o que pagou. ASSUNÇÃO/ CESSÃO DE DÍVIDA A assunção de dívida se caracteriza pela substituição no polo passivo da obrigação, havendo uma troca de devedores. A lei permite que terceiro assuma a dívida do devedor, mas exige a concordância expressa do credor. Ex. A possui uma dívida com B. C (assuntor) assume a dívida de A (devedor primitivo) e se torna o devedor principal de B (beneficiário) • Anuências – art. 299 A lei permite que terceiro assuma a dívida do devedor, mas exige a concordância expressa do credor. “Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Ou seja, se o credor não manifestar expressamente seu aceite, não tem validade a assunção de dívida. Atenção! Em caso de silêncio do credor, não há de se falar em anuência. Ex. Pedro quer ceder uma dívida para Paulo. Pedro notifica seu credor e este não responde. Isso significa que o credor recusou a cessão de dívida. CONDIÇÕES SUBJETIVAS/ESPECIAIS DO PAGAMENTO • Quem paga? A regra geral é que seja o devedor principal que adimpla a obrigação, mas nada impede que um terceiro realize o pagamento. Sujeito ativo: devedor Sujeito passivo: credor Existem dois tipos de terceiros: o interessado e o desinteressado. • Interessado: Aquele que, se não pagar, será penalizado juntamente com o devedor principal em razão do inadimplemento. Art. 304. Ex. fiador, avalista Se sub-roga nos direitos do credor • Desinteressado que paga em nome próprio: interesse moral ou econômico simples. Art. 305 Ex. Pai que paga a dívida do filho O terceiro não interessado tem direito ao reembolso, mas não se sub-roga nos direitos do credor. Atenção! O pagamento feito por terceiro desinteressado e com protesto do devedor não autoriza o reembolso ao terceiro, se o devedor provar que tinha meios de adimplir a obrigação. Ex. o devedor tinha meios de pagar a dívida e o terceiro não interessado pagou a obrigação com protesto do devedor. Uma vez comprovado o protesto do devedor, o terceiro não terá direito ao reembolso. • A quem se deve pagar? Ao credor ou seu representante. Art. 308 A um terceiro – só será válido se tiver a ratificação do credor ou se ficar provado que o credor se beneficiou do que foi pago a terceiro. CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO • Objeto do pagamento O credor não é obrigado a receber objeto ou prestação diversa daquela pactuada em contrato. Arts. 313 e 314 Se no momento do adimplemento, por razões imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação - momento em que foi ajustado e momento do pagamento, o juiz pode corrigir. Art. 317. Se forem prestações em quotas periódicas, a quitação da última torna presumível que as outras foram quitadas. • Lugar do pagamento Em regra, o domicílio do devedor (podendo ser convencionado entre as partes). Art. 327 Designado dois ou mais lugares, caberá ao credor a escolha. Se bem imóvel – lugar onde o bem está localizado, podendo ser alterado se houver motivo grave e sem prejuízo do credor. Arts. 328 e 329. • Tempo do pagamento Em regra, na data do seu próprio vencimento ou se não havia data convencionada, imediatamente. Arts. 331 e 332. “Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las; Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes”. OUTRAS MODALIDADES DE PAGAMENTOS Existem pagamentos diretos, ou seja, aqueles que acontecem diretamente ao credor e que extinguem a obrigação. Em contrapartida, existem outras modalidades de pagamentos, também chamadas de indiretos, em que não são feitas diretamente ao credor, mas, quando realizadas, também extinguem a obrigação. Exemplos desses pagamentos indiretos, são: • Em consignação • Sub-rogação • Imputação ao pagamento • Dação em pagamento DA CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO Art 334 c.c. • Conceito: É um modo indireto extintivo de uma obrigação, onde o devedor, voluntariamente, realiza um depósito, satisfazendo o interesse do credor. Sempre será pela forma de depósito. “Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais”. • Natureza Material, ou seja, tratado pelo direito civil, e ainda processual, ou seja, para que alguém deixe em depósito um pagamento (dinheiro, bem móvel ou imóvel), é preciso uma AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO DE PAGAMENTO. É um ato do devedor! • Objeto É somente uma modalidade da obrigação de dar. • Anuência do credor Do mesmo modo que o devedor tem o direito de se ver livre da obrigação, pagando os seus débitos, o credor tem o direito de não anuir, caso o devedor queira pagar valor que está em desacordo com o entendimento entre as partes. Daí nasce o pagamento em consignação para o devedor não incorrer em mora. • Hipóteses de pagamento em consignação Previstas no artigo 335 do código civil: “Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento”. • Levantamento em depósito Enquanto o credor não for citado para se manifestar em relação ao depósito ou não impugná-lo, o devedor pode se retratar sobre o valor que ele consignou. “Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito”. • O depósito poderá ser: • Extrajudicial – valor em espécie depositado no banco oficial que fica instalado no prédio do fórum. Art. 539, § 1º do NCPC. • Judicial – por meio de ação de consignação em pagamento. Art. 334 C.C • Despesas quanto ao depósito Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. • Aceite do depósito Aceitando o credor o depósito consignado, ocorrerá então o pagamento, exonerando o devedor da obrigação. Ex. João alugou sua casa para Antônio. Na data do recebimento do aluguel João recusou o recebimento por discordar do valor pago. Antônio, para não incorrer em mora e não sofrer ação de despejo por acumulação de prestações, poderá pagar em consignação. IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO ARTS. 352 • Conceito Ocorre quando há mais de uma dívida, de igual natureza, entre os mesmos credores e devedores. Esse direito de imputar (especificar o pagamento) é do devedor. Ex. Joana deve ao Banco X. Ela de 2 mil reais de cheque especial; deve 2 mil reais de financiamento e deve também 2 mil reais de crédito consignado, totalizando 6 mil reais que serão cobrados todos no dia 15 de novembro. Joana percebe que sóterá 2 mil reais para saldar suas dívidas. Pergunta-se: Qual das contas Joana irá pagar? Joana terá a faculdade de escolher qual conta irá pagar. Joana irá imputar o pagamento à dívida que mais lhe for vantajosa quitar. Nesse caso, será necessário que o devedor, ao oferecer a prestação em pagamento, identifique qual dívida está sendo paga naquele momento. Entretanto, se o devedor não exercer o seu direito de imputar, passará a ser do credor, que o exercerá por meio de declaração na quitação. E se o credor não escolher? Art. 335 “Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”. DAÇÃO EM PAGAMENTO ARTS. 356 • Conceito É quando o credor e o devedor acordam que a prestação do pagamento será aquela diferente do que foi pactuado quando da criação do negócio jurídico entre as partes A dação em pagamento é uma exceção ao que está disposto no artigo 313 do código civil, vejamos: “Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. Efeito A dação em pagamento tem efeito liberatório em relação ao devedor, ou seja, extingue a obrigação igualmente na forma do pagamento direto. Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. • O que pode ser dado em pagamento? Qualquer bem ou serviço que seja equivalente ao valor da obrigação. Ex. João deve a quantia de 3 mil reais a Pedro para pagar no dia 10 de setembro de 2019. Na data combinada, João oferece sua moto como forma de pagamento. • Elementos para a constituição da dação em pagamento Que exista uma dívida O credor tem que dar a anuência ( de todas as formas) Diversidade de prestação (objetos diferentes) • Defeito da coisa dada Havendo defeito da coisa dada em pagamento, a quitação ficará sem efeito nenhum. “Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros”. DA NOVAÇÃO ART. 360 DO CÓDIGO CIVIL • Conceito Criação de uma nova obrigação para extinguir uma outra obrigação anterior. • Efeitos Cria uma nova obrigação Extingue obrigação já existente Natureza: Contratual. Depende da manifestação das partes – animus novandi. O credor adquiri um outro direito de crédito, mas não há a satisfação da obrigação, ou seja, o pagamento! • Espécies de novação Objetiva: Há novação no objeto da obrigação. Ex. A realiza um negócio jurídico com B e firmam contrato no valor de 5 mil reais e a forma de pagamento nesse contrato primitivo é em espécie (dinheiro) para 90 dias. A não consegue vender sua motocicleta que é avaliada também em 5 mil reais e pede para B para realizarem um novo contrato com forma de pagamento diferente, por meio da motocicleta. B aceita e cria-se, então, uma nova obrigação (em relação ao objeto). • Subjetiva: Mudança das partes, podendo ser ativa ou passiva (cessão de crédito ou assunção de dívida). Realiza-se um novo contrato com partes diferentes. • Mista Quando ocorre novação tanto em relação ao objeto quanto em relação às partes. COMPENSAÇÃO – art. 368 • Conceito Ocorre quando as partes são credoras e devedoras mútuas. As dívidas devem ser líquidas, vencidas e fungíveis. Ex. A deve para B a quantia de 1.000 reais. B deve para A a quantia de 800 reais. • Espécies compensação legal: ocorre por força da lei, mesmo que uma das partes se oponha, sempre que as dívidas forem líquidas ( = valor certo), vencidas e homogêneas (= mesma espécie e qualidade, 369); compensação judicial: determinada pelo juiz no caso concreto, ao decidir que deve haver compensação por uma questão de economia processual, por uma questão de praticidade, justificando o magistrado na sentença; Ex. Se o autor cobra do réu a importância de R$ 100.000,00, e este cobra, na reconvenção, R$ 110.000,00, e ambas são julgadas procedentes, o juiz condenará o autor a pagar somente R$ 10.000,00, fazendo a compensação. c) compensação convencional: decorre do acordo de vontades, decorre da transação entre as partes, e no direito civil a liberdade das partes é grande, as partes podem dispor de seus bens com ampla liberdade, é a chamada autonomia privada. Efeitos Os mesmos do pagamento: extingue a obrigação, satisfaz o credor e libera o devedor. DA CONFUSÃO ARTS. 381 • Conceito É mais um modo de extinção das obrigações semelhante ao pagamento por impossibilidade lógica de permanecer o vínculo. Ex. A é inquilino de seu pai B, mas o pai morre e A herda o apartamento, extinguindo a obrigação de pagar o aluguel face à confusão, pois A vai reunir as qualidades de credor e devedor, afinal ninguém pode ser devedor ou credor de si mesmo. DA REMISSÃO DE DÍVIDAS ARTS. 385 • Conceito É a liberação do devedor pela autoridade do credor que, voluntariamente, dispensa o crédito, perdoa o débito e extingue a obrigação (385). Pode ser total ou parcial. É um ato bilateral, ou seja, deve ter anuência do credor e devedor. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES • Conceito A regra nos negócios jurídicos é o adimplemento das obrigações, ficando como exceção o inadimplemento. “Ter-se-á o inadimplemento da obrigação quando faltar a prestação devida, isto é, quando o devedor não a cumprir, voluntária ou involuntariamente”. Maria Helena Diniz. • Espécies de inadimplementos Absoluto: Quando o devedor não cumpre a obrigação e não é mais útil que ele cumpra - descumprimento. (Inadimplemento) Ex. Cantor A foi contratado por um casal de noivos para cantar no casamento deles. Na data da cerimônia o cantor não aparece. Ele inadimpliu o contrato e o casal não se casará em outra data para que o cantor possa adimplir a obrigação. A consequência é perdas e danos. • Relativo: Houve o inadimplemento, mais ainda é útil para o credor que o devedor cumpra - atraso. (mora) Ex. Pedro tem uma dívida que irá vencer no dia 10 de novembro de 2019. No dia datado, ele não adimple/paga. Nesse caso, mesmo estando inadimplente, é útil para o credor que Pedro pague a sua dívida. • Purga-se a mora: Pagamento do principal e seus acessórios • Cumprindo depois do vencimento, acrescido dos encargos moratórios (correção monetária, juros de mora, perdas e danos e honorários advocatícios). • Cláusula Penal – art. 408 Uma multa que é uma prefixação de perdas e danos Preestabelecer perdas e danos. • Espécies Compensatória (descumprimento total): pré-fixada já para perdas e danos. Moratória (descumprimento (relativo): prefixação de perdas e danos (juros de mora) e multa. Arras: art 417 c.c. É um sinal/garantia de um pagamento. Ex. João reserva um hotel em Angra dos Reis, para 5 diárias (sendo cada uma 2 mil reais), totalizando 10 mil reais. O hotel pede a João um sinal de 20%, ou seja, 2 mil reais para garantia das diárias. Atenção para 2 situações! Art. 418 1ª Se João arras e não compareceu, ele descumpriu o contrato, o hotel terá direito ao valor dado em garantia. 2ª Se João compareceu ao hotel e o estabelecimento não cumpriu o contrato (deixou reservado o quarto), João terá direito à devolução das arras (2 mil) mais o equivalente (2 mil). Totalizando a devolução de 4 mil reais. Se João comprovar que teve maiores prejuízos, poderá pedir perdas e danos com as arras como valor de taxa mínima. Art. 419 Se no contrato entre João e o Hotel estiver estipulado cláusula de arrependimento (penitência), o cliente não terá direito ao valor de indenização. Art. 420.
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