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1Acadêmicos do curso de Farmácia - UFPE UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE FARMÁCIA BIOQUÍMICA I BIOQUÍMICA DA HEMOSTASIA ALINE ALBUQUERQUE1 AMANDA CORREIA1 CAMILLA TENÓRIO1 ELOÍZA MARCELE1 ERIKA DANIELLE1 MATHEUS NEGREIRO1 SAMUEL ALEIXO1 RECIFE 2016 2 Introdução O sangue coagula em três fases: primeiro é formado uma rolha plaquetária que se consolida em uma rolha estável. Em seguida é formada uma rede de fibrina que permanece até o vaso se regenerar e em seguida é quebrada. A Fibrina é formada a partir do Fibrinogênio, “[...] uma molécula dimérica de 2 pares de 3 cadeias diferentes de polipeptídeos chamados cadeias α, β e γ” (RAPAPORT, 1990). A Trombina catalisa (além da ativação do fator XIII) a clivagem de pequenos peptídeos a partir do segmento aminoterminal das cadeias α (originando fibrinopeptídeo A) e β (originando fibrinopeptídeo B). Esses fibrinopeptídeos são novamente quebrados em monômeros de fibrina que se polimeriam em bandas insolúveis de fibrina usadas para construir as Redes de Fibrina que estabilizam as rolhas plaquetárias. Aí vem o fator XIIIa e estabiliza a molécula de fibrina polimerizada ao ligar um γ- carboxil de uma glutamina em uma molécula de fibrina a um grupo ε-amino de um resíduo de lisina em outra fibrina. O fator XIIIa também liga cruzado a fibrina à fibronectina e estas ao colágeno subendotelial. Para isso tudo acontecer, a Protrombina deve ser catalisada em Trombina através dos Fatores de Coagulação. Esse processo é catalisado pelo fator Xa, que é ativado pelos fatores IXa e VIIa. O fator IXa é ativado pelo fator XIa e o mecanismo de ativação do fator XIa é desconhecido. O fator VIIa é ativado pelo Fator Tecidual. Essa cascata ocorre para fortalecer a rolha plaquetária secundária formada pela compressão do tampão plaquetário através da formação de redes de Fibrina. A agregação plaquetária decorre de alterações morfológicas das plaquetas devido a presença de três fatores: TXA2; PAF; ADP; Não confundir esses fatores com os fatores de coagulação. Os fatores de agregação plaquetária crescem muito rápido porque plaquetas ativadas disparam mais Tromboxanos A2 (TXA2) que atrai mais plaquetas e entra em loop. 3 Mas como a plaqueta começa isso? Na via intrínseca ela começa sendo ativada pelo colágeno na face luminal do endotélio desde que exista três condições para isso: No endotélio deve haver locais de adesão para plaquetas; No plasma deve haver multímeros de Fator de von Willebrand; Na GP Ib da face extracelular da membrana plasmática da plaqueta deve ter local de ligação do Fator de von Willebrand; Apesar disso, não está claro o papel do Fator de von Willebrand na coagulação sanguínea. Assim, em uma ruptura, a plaqueta adere ao colágeno subendotelial e passa a ser ativado, atraindo novas plaquetas para formar um coágulo. Com o coágulo pronto, as plaquetas sofrem uma condensação que “une” e veda o local. Nesse ponto, os fatores de coagulação constroem uma rede de fibrila que dura de 7 a 10 dias. A sensibilidade das plaquetas aos estímulos de agregação plaquetária é regulada pela concentração de AMPc, de modo que um aumento de AMPc causa ativação da proteoquinase A, que diminui a sensibilidade plaquetária. O AMPc pode ser aumentando pela inibição da Adenil Ciclase (pela PGI2, por exemplo) e pode ser diminuído pela inibição da fosfotiesterase (pela dipiridamol, por exemplo). A ativação plaquetária se dá por segundos mensageiros aparentemente semelhantes às vias adrenérgicas/colinérgicas. Sabe-se que a Trombina e o Colágeno ligam-se às plaquetas por receptores diferentes e isso causa ativação da fosfolipase C, que catalisa a produção de DAG e IP3. O DAG ativa uma proteína que promove excreção dos grânulos plaquetários. O IP3 abre canais de cálcio no Sistema Tubular Denso e também na membrana plasmática da plaqueta para captar cálcio na matriz extra celular. O cálcio se liga à calmodulina e juntos fosforilam a cadeia leve da miosina. Além disso, o aumento da concentração intracelular de cálcio ativa a Fosfolipase A2 que produz mais ácido araquidônico, aumentando o PGH2. 4 Um detalhe interessante é que na plaqueta inativa, o fosfatidilserina está na face citosólica, mas durante a ativação plaquetária sofre flip-flop e reage com fatores de coagulação na face externa da membrana plasmática. Características das Plaquetas As plaquetas (ou trombócitos) são células pequenas pertencentes aos elementos figurados do sangue. Sua baixa chama-se Trombocitopenia e sua alta chama-se Plaquetose. Mudam muito sua organização celular entre as formas ativadas e inativadas. Há em sua membrana plasmática numerosas e importantes glicoproteínas transmembranosas além de glicocálix. As glicoproteínas são abreviadas como GP e um numeral romano por ordem decrescente de peso molecular segundo um estudo de eletroforese em gel de poliacrilamida sulfato dodecil sódico: GP I, GP II, GP III. Estudos posteriores revelaram novos picos entre esses e as proteínas foram nomeadas como uma letra minúscula junto do numeral, como é o caso da GP Ib. Segundo RAPAPORT, 1990, na forma inativa são células redondas com uma “camada” de microtúbulos circundando toda a periferia celular. Ainda segundo o autor, as organelas ficam distribuídas aleatoriamente pelo citoplasma e são elas: Grânulos Grandes: são de três tipos – corpúsculos densos, grânulos alfa e grânulos lisossomais. Ao microscópio eletrônico de transmissão, os corpúsculos densos apresentam-se eletrondensos e os grânulos alfa e lisossomais são eletronlucentes e indistinguíveis entre si; Grânulos finos de glicogênio: são eletrondensos e pequenos; Sistema Canalicular Aberto: invaginações da membrana que servem para secretar os grânulos durante a ativação plaquetária; Sistema Tubular Denso: é o Retículo Endoplasmático da plaqueta, servindo para depósito de cálcio intracelular; Mitocôndrias; Nas plaquetas ativadas, todas as organelas são concentradas na região central da célula pelos microtúbulos, também passando a apresentar pseudópodes – prolongamentos membranosos do citoplasma que aumenta a superfície de contato da plaqueta para promover adesão plaquetária. 5 As plaquetas também possuem um mecanismo de contração com a presença de Actina e Miosina, porém longe de ser a estrutura sofisticada do sarcômero, neste caso ela é chamada de Actomiosina Plaquetária. Também há a presença de Gelsolina que corta filamentos de actina (Actina-F). Para mais informações checar material dos Padovan. As plaquetas podem mudar entre a forma ativada e a forma inativada livremente com boa velocidade. Isso significa que uma plaqueta ativada e fixada em um ponto do endotélio ao cessar os fatores de coagulação naquela região, a plaqueta pode se desprender e voltar a forma inativa, circulando no sangue normalmente. Mecanismo de adesão plaquetária Pode-se dizer que havendo três condições, a plaqueta se fixa no endotélio: • No endotélio deve haver locais de adesão para plaquetas; • No plasma deve haver multímeros de Fator de von Willebrand (vWF); • Na GP Ib da face extracelular da membrana plasmática da plaqueta deve ter local de ligação do Fator de von Willebrand; Considere um local que acabou de sofrer uma lesão vascular. As plaquetas estão expostas ao colágeno endotelial agora e ancorada nele uma plaqueta se ativa e dispara a cascata de síntese de Tromboxano A2 (TXA2) a partir da cascata do ácido araquidônico via tromboxano sintetase – uma molécula instável com meia vida de aproximadamente30 segundos, tornando- se expontaneamente no Tromboxano B2 (TXB2) que é inativo. (GOODMAN & GILMAN, 2005). O tromboxano vai ser um fator de quimiotaxia plaquetária, se me permitem o uso da palavra, pois vai atrair mais plaquetas circundantes para formar uma agregação plaquetária primária. O que acontece é que a superfície do vaso fica “colante” e a plaqueta “se cola” no local e passa a ficar “colante” também para outras plaquetas que passam ali. Logo há tantas plaquetas que estancam a hemorragia. Porém o coágulo formado é muito instável, então a actomiosina plaquetária promove um “esmagamento” plaquetário que veda a região e aumenta a resistência do coágulo. Quando o PGH2 está no endotélio, este secreta prostaciclina (PGI2), que possui função oposta ao TXA2, inibindo a agregação plaquetária. Esse número dois subscrito no TXA2 e no PGI2 significa que são derivados do ácido araquidônico, apenas. Assim, um indivíduo com deficiência genética para a coagulação via colágeno (via Intrínseca) ainda tem o tempo de coagulação praticamente normal devido à rota do Fator 6 Tecidual (Via Extrínseca). Porém um indivíduo que tem deficiência genética para as duas vias tem um risco para hemorragias severas muito aumentado. É digno de nota que o uso do antiinflamatório ácido acetilsalicílico (AAS) inibe a ciclooxigenase, prejudicando a hemostasia e favorecendo hemorragias. Essas duas vias para a ativação plaquetária resulta na ativação da fosfolipase C. RAPAPORT (1990) não indica por qual o mecanismo isto ocorre. GOODMAN & GILMAN (2005) indica que os receptores de prostaglandina para Tromboxano A2 é o PGTP possuindo como agonista natural o próprio TXA2 e PGH2. O receptor PGTP é conectado com a proteína Gq utilizando como segundo mensageiro o IP3, DAG e Ca 2+. Para informações a respeito do funcionamento das proteínas G, cheque o quadro abaixo: Quadro 1: Mecanismo de funcionamento das Proteínas Gs, Gq e Gi SOBRE AS PROTEÍNAS DA FAMÍLIA G É importante um pequeno resumo a respeito das proteínas da família G devido a sua importância farmacológica não só nesse momento. São proteínas transmembranosas com sete alças formadas por um trímero de subunidades: α, β e γ. Na subunidade α há uma molécula de GDP ligada. A ligação do primeiro mensageiro no sítio de ligação extracelular causa uma mudança conformacional que culmina com a troca do GDP pelo GTP, dissociando a proteína G no dímero βγ e a subunidade α-GTP parte para o citosol, estimulando o efetor característico. Para a Gq ativa-se a fosfolipase C citosólica que produz Inositol-1,4,5-Trifosfato (IP3) e Diacilglicerol (DAG) a partir do fosfatidilinositol da membrana plasmática disponibilizado por uma acil-hidrolase. O IP3 liga-se ao receptor para IP3 no Retículo Endoplasmático (rIP3), abrindo canais de cálcio que flui por difusão passiva da cisterna do RE para o citosol. O aumento da concentração de Ca2+ ativa a fosfolipase A que promove a ação de acil-hidrolase, promovendo um pequeno “ciclo”. O Diacilglicerol ativa a proteinoquinase C que fosforila diversas proteínas e estimula a secreção plaquetária e/ou glandular. Para a Gs promove a estimulação da Adenil Ciclase que aumenta a concentração de Monofosfato de Adenosina cíclico (AMPc). Para a Gi promove inibição da Adenil Ciclase, reduzindo a concentração de AMPc e consequentemente a atividade de todas as enzimas dependentes de AMPc. 7 RAPAPORT (1990) fornece um resumo útil dos eventos que acontecem durante a Ativação Plaquetária: 1. Alteração da forma das plaquetas. 2. Coesão entre as plaquetas (agregação). 3. Produção de produtos lipídicos que amplificam ou deprimem a ativação. 4. Secreção do conteúdo dos grânulos plaquetários. 5. Uma reorganização da membrana da plaqueta tornando a fosfatidilserina disponível para interagir com os fatores de coagulação e permitindo que osfatores de coagulação se liguem à trombina e produzam trombina na superfície da plaqueta. 6. Uma contração orientada, centrípeta da actomiosina que compacta o agregado de plaquetas e assim consolida a rolha hemostática plaquetária. Assim, podemos passar a checar os fatores de coagulação que produzem a fibrina. Fatores de Coagulação A primeira coisa a saber a respeito dos fatores de coagulação é que são enzimas que catalisam certas reações. Existem duas formas de escrever o nome deles. Tomemos por exemplo o fator X que catalisa a conversão de Protrombina em Trombina. Existe o Fator X e o Fator Xa. Na verdade, trata-se do mesmo fator na versão inativa e ativada: o a subscrito serve apenas para notificar que o fator está na sua forma ativada. Observe a cascata de coagulação na imagem 1: Imagem 1: Cascata de coagulação. Os numeros romanos representam os fatores de coagulação, a conformação inativa apenas o numeral e a conformação ativa o numeral e a letra a subscrita. O termo PL na imagem refere-se a atividade pró-coagulante fosfolipíde (sic). Adaptado de RAPAPORT (2005), GYUTON & HALL (2006) e OLIVEIRA (2016). 8 No esquema está representado a cascata de ativação dos Fatores de Coagulação. Note que é desconhecido o mecanismo de ativação do Fator XI e que o Fator Tecidual (TF) é cofator do Fator VII porém mesmo na ausência de TF a cascata de coagulação acontece via Fator XIa normalmente, pois o Fator IX é ativado tanto pelo Fator VIIa quanto pelo Fator XIa. Existem outros fatores com cofatores também. O fator VIII e o fator V devem ser clivados para servirem como cofatores dos fatores IX e X, respectivamente. Em palavras, temos que: a conversão de Fibrinogênio em Polímero de fibrina é catalisada por Trombina. A conversão de Protrombina em Trombina é catalisada pelo Fator Xa. A conversão do Fator X em Fator Xa é catalisada pelos fatores VIIa e IXa. A conversão do fator IX em IXa é catalisada pelo fator XIa. A conversão do fator XI em fator XIa é catalisada por enzima ou mecanismo desconhecido. O fator VIIa possui como cofator o Fator Tecidual, e é fisiologicamente inútil sem esse cofator, assim como os fatores IXa e Xa sem seus respectivos cofatores. Regulação da Hemostasia Normalmente o sangue não coagula dentro dos vasos porque: 1. As plaquetas dentro da luz endotelial não estão expostas a fatores de coagulação; 2. Misturado ao sangue há presenta de anticoagulantes naturais; Assim, relembrando a cascata do ácido araquidônico, temos que no endotélio o PGH2 é convertido a PGI2 que funciona como um anticoagulante que faz contrapeso na fixação da plaqueta ao colágeno subendotelial. Temos como principal anticoagulante endógeno a Antitrombina III (AT-III) que é o inibidor primário dos fatores Xa e IXa. Sua ação é inibindo irreversivelmente a trombina e consequente produção da fibrina (MIGUEL JUNIOR, 2013). Segundo RAPAPORT (1990) heterozigotos para deficiência de AT-III com presença de doença trombótica venosa mas um homozigoto nunca foi identificado provavelmente porque é incompatível com a vida. Também é importante ressaltar o papel da proteína C. É dependente de vitamina K e utiliza como cofator a proteína S e Ca2+. Seu papel é degradar a proteína Va e VIIIa que atuam como cofatores dos fatores Xa e IXa, respectivamente (MIGUEL JUNIOR, 2009). A ativação 9 de proteína C é lenta na presença de trombina, mas rápida quando a trombina se liga com a trombomodulina na parede do endotélio. Quando o trombo de fibrina está formado, o plasminogênio (uma grande molécula secretada pelo endotélio) liga-se à fibrina e na presença de certo ativador (Ativador Tecidual de Plasminogênio – AP-t – ou Uroquinase) o plasminogênio é convertido a plasmina, sua forma ativada. A plasmina então cliva o plasminogênio em produtossolúveis na corrente sanguínea. Referências GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10 ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2005. p 503-510. GUYTON, Arthur C. HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p 457-468. MIGUEL JUNIOR, Armando. Coagulação – Proteína C Funcional. [s.l.]: Medicina Geriátrica, 2009. Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2009/09/16/anticoagulante- natural-proteina-c-funcional/>. Acesso em 24 jun. 2016. ______. Coagulação – Antitrombina III. [s.l.]: Medicina Geriátrica, 2013. Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2013/01/04/coagulacao-antitrombina-iii/>. Acesso em 24 jun. 2016. OLIVEIRA, Maria Betania Melo de. TTPA: via intrínseca. 17 de Maio de 2016. Imagem de Apresentação do Power Point. RAPAPORT, Samuel I. Introdução à Hematologia. 2 ed. São Paulo: Roca, 1990. p 330-358.
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