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Coagulação sanguínea: origem, função, cinética, fatores de coagulação APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem vamos abordar as vias de origem e fatores envolvidos na Coagulação Sanguínea, que podem ser extrínsecas (ativada pelo fator tecidual) ou intrínsecas (ativada pelo contato do plasma) e a via comum. Também vamos abordar a cinética da formação do tampão plaquetário e a fibrinólise do tampão e como são acionados os fatores de coagulação em diferentes etapas da cascata de coagulação. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a função e o conceito da Coagulação Sanguínea.• Identificar os fatores de coagulação responsáveis pela cascata de coagulação.• Reconhecer as vias extrínseca, intrínseca e comum durante a Coagulação Sanguínea.• DESAFIO Paciente ER, 26 anos, sexo masculino, sem histórico chegou ao médico para fazer um check-up de rotina, não mostrava nenhum sinal de mal-estar ou doente. Acompanhe o hemograma: Eritrócitos 4,67x106/mm3 (4,15 – 4,90 x106/mm3) Hemoglobina 14,9g/dL (12 – 16g/dL) Hematócrito 42,6% (37 – 48%) VCM 91,2fl (80 – 100 fl) HCM 31,9pg (27 – 33 pg) CHCM 35,0% (30 – 36 %) RDW-CV 12,4% (13 – 15 %) Plaquetas: 100.000/mm3 (140.000 – 450.000/mm3) VPM: 13,6 (6-11) Leucócitos Totais: 7400 (3.500 – 11.000/mm3) Neutrófilos Segmentados: 43,5% (40 – 70%) Linfócitos: 45,7% (20 – 60%) Monócitos: 8,8% (2 – 10%) Eosinófilos: 1,7% (0 – 8%) Basófilos: 0,3% (0 – 3%) Diante do caso, interprete o hemograma e responda as seguintes perguntas: 1) Qual alteração observamos neste hemograma? 2) Qual a provável causa? INFOGRÁFICO No infográfico, veremos um esquema da ativação dos fatores da coagulação durante a cascata de coagulação. CONTEÚDO DO LIVRO A Coagulação Sanguínea é um conjunto de eventos que ocorrem a partir da lesão vascular disparando uma sinalização através do fator tecidual (via extrínseca) ou por contato de fatores contidos no plasma (via intrínseca), com o objetivo de formar um tampão plaquetário e assim impedindo o extravasamento de sangue. Para auxiliar seus estudos e melhor entendimento sobre a Coagulação Sanguínea, acompanhe o trecho do livro “Fundamentos de Hematologia” de Hoffbrand e Moss. Incie sua leitura pelo subtítulo “Coagulação do sangue”. Boa leitura. Fundamentos em Hematologia A.V. Hoffbrand P.A.H. Moss 6ª Edição Fundamentos em Hematologia A.V. Hoffbrand P.A.H. Moss 6ª Edição Fundam entos em Hem atologia H offbran d M oss Hematologia e Oncologia AJCC Manual de Estadiamento do Câncer – 6.ed. Rotinas em Oncologia FAILACE, R. & COLS. Hemograma: Manual de Interpretação – 5.ed. FERREIRA, P.R.F. & COLS. Tratamento Combinado em Oncologia GUIMARÃES, J.L.M.; ROSA, D.D. & COLS. Rotinas em Oncologia HOFFBRAND, A.V.; MOSS, P.A.H Fundamentos em Hematologia – 6.ed. LICHTMAN, M.A. & COLS. Manual de Hematologia de Williams A Artmed Editora é parte do Grupo A, uma empresa que engloba diversos se- los editoriais e várias plataformas de dis- tribuição de conteúdo técnico, científi co e profi ssional, disponibilizando-o como, onde e quando você precisar. www.grupoa.com.br 0800 703 3444 Fundam entos em Hem atologia 6ª Edição H offbran d M oss www.grupoa.com.br HEMATOLOGIA R ecorte aq u i seu m arcad or d e p ág in a. Fundamentos em hematologia, 6ª edição, descreve os princípios básicos em hematologia clínica e laboratorial, apresentando as manifestações de doenças sanguíneas e a maneira como podem ser explicadas a partir dos novos conhecimentos sobre os processos de doenças. A obra inicia pela formação e pelas funções das células sanguíneas, bem como aborda as doenças que surgem a partir de disfunções e rupturas desses processos. Destaques desta edição: • amplamente ilustrada, preserva a linguagem acessível que tornou as edições anteriores bem-sucedidas • reúne as pesquisas mais atuais neste dinâmico campo • contém resumos no fi nal de cada capítulo • inclui tratamentos variados e uma seção ampliada sobre medula óssea e transplantes 37116 Fundamentos em Hematologia.indd 137116 Fundamentos em Hematologia.indd 1 23/07/2012 17:53:0623/07/2012 17:53:06 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 H698f Hoffbrand, A. V. Fundamentos em hematologia [recurso eletrônico] / A. V. Hoffbrand, P. A. H. Moss ; tradução e revisão técnica: Renato Failace. – 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65852-30-2 1. Medicina. 2. Hematologia. I. Moss, P. A. H. II. Título. CDU 616.15 320 A. V. Hoffbrand e P. A. H. Moss Reação de liberação e amplificação das plaquetas A ativação primária por vários agonistas induz sinalização intracelular, levando à liberação do conteúdo dos grânulos �. Este desempenha pa- pel importante na formação e estabilização de agregados plaquetários e, além disso, o ADP liberado dos grânulos densos desempenha im- portante papel de realimentação (feedback) do estímulo à ativação plaquetária. O tromboxano A2 (TXA2) é o pivô do segundo mais importante ciclo de realimen- tação da amplificação secundária da ativação plaquetária, necessária à firmeza e à estabili- dade do agregado plaquetário. É formado de novo pela ativação da fosfolipase citosólica A2 (PLA2) (Figura 24.6). TXA2 é uma substân- cia lábil que diminui os níveis plaquetários de monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) e inicia a reação de liberação (Figura 24.6). Além de potencializar a reação de agregação, o TXA2 tem intensa atividade vasoconstritora. A reação de liberação é inibida por substâncias que aumentam o nível de cAMP nas plaque- tas. Uma dessas substâncias é a prostaciclina (PGI2), sintetizada pelas células endoteliais vasculares. Trata-se de um inibidor potente da agregação de plaquetas e evita sua deposição no endotélio vascular normal. Atividade pró-coagulante das plaquetas Depois da agregação e da liberação das plaque- tas, o fosfolipídio da membrana exposto (fator plaquetário 3) fica disponível para duas reações na cascata da coagulação. Ambas as reações me- diadas pelo fosfolipídio são dependentes do íon cálcio. A primeira (Xase*) envolve os fatores IXa, VIIIa e X na formação do fator Xa (Figura 24.7). A segunda (protrombinase) resulta na formação de trombina a partir da interação dos fatores Xa, Va e protrombina (II). A superfí- cie do fosfolipídio constitui-se em molde ideal para a concentração e a orientação cruciais des- sas proteínas. * N. de T. Xase é Dez (X: número romano do fator) + ase (enzima) = “Dezase”. Em inglês, Tenase. Número de fator seguido de “a” significa estar “ativado” (p. ex., VIIa = fator VII ativado). Fator de crescimento O PDGF encontrado nos grânulos � das pla- quetas estimula a multiplicação das células mus- culares lisas dos vasos, o que acelera a cicatriza- ção da lesão vascular. Inibidores naturais da função plaquetária O óxido nítrico (NO) é liberado constitucio- nalmente das células endoteliais, dos macrófa- gos e das plaquetas. Tem meia-vida curta, de 3 a 5 segundos. Inibe a ativação plaquetária e promove vasodilatação. A prostaciclina, sinteti- zada pelas células endoteliais, também inibe a função plaquetária (Figura 24.8) e causa vaso- dilatação por aumentar os níveis de guanosina- -monofosfato cíclico (GMP). Uma ectonucleo- tidase (CD39) age como uma ADPase e ajuda a prevenir a agregação plaquetária nas paredes vasculares íntegras. Coagulação do sangue A cascata da coagulação A coagulação do sangue envolve um sistema biológico de amplificação, no qual relativa- mente poucas substâncias de iniciação ativam em sequência, por proteólise, uma cascata de proteínas precursoras circulantes (os fatores enzimáticos da coagulação), culminando na geração de trombina. Esta, por sua vez, conver- te o fibrinogênio solúvel do plasma em fibrina (Figura 24.7). A fibrina infiltra os agregados de plaquetasnos locais de lesão vascular e conver- te os tampões primários e instáveis de plaquetas em tampões hemostáticos firmes, definitivos e estáveis. A relação dos fatores de coagulação está na Tabela 24.1. O funcionamento dessa cascata de enzimas necessita de uma concentração loca- lizada dos fatores de coagulação circulantes nos sítios de lesão. As reações mediadas por superfície ocor- rem no colágeno exposto, no fosfolipídio pla- quetário e no fator tecidual. Com exceção do fibrinogênio, que é a subunidade do coágulo de fibrina, os fatores de coagulação são precur- sores de enzimas ou cofatores (Tabela 24.1). Todas as enzimas, exceto o fator XIII, são serina-proteases, isto é, sua capacidade de hi- Hoffbrand_6ed_24.indd 320Hoffbrand_6ed_24.indd 320 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 Fundamentos em Hematologia 321 Sangue Inicia a coagulação Fator tecidual Vasodilatação Inibição da agregação plaquetária Adesão plaqueta-colágeno Inibição da coagulação Fibrinólise Tecido conectivo subendotelial Célula endotelial Colágeno Membrana basal Fator von Willebrand Microfibrilas Elastina Mucopolissacarídios Fibronectina Prostaciclina Óxido nítrico Fator von Willebrand Antitrombina Inibidor da via do fator tecidual, Proteína S Ativação da proteína C Ligação de proteína C Ativador tecidual do plasminogênio Transporte de fator VIII Trombo- modulina Receptor de proteína C Figura 24.8 A célula endotelial forma uma barreira entre plaquetas e fatores de coagulação plasmáticos e os tecidos conectivos subendoteliais. As células endoteliais produzem substâncias que podem iniciar a coagulação, causar vasodilatação, inibir a agregação plaquetária e a hemostasia, ou ativar a fibrinólise. TF VIIa Xa Va TF VIIa X IX V VIIIa IXa XIIIaXIII II XIa XI Trombina Protrombina Fibrinogênio Monômero de fibrina Fibrinopeptídios A � B Fibrina estável Polímero de fibrina VIII VWF Lesão vascular Contato Figura 24.7 Via da coagulação do sangue iniciada pelo fator tecidual (TF) na superfície da célula. Quando o plasma entra em contato com o TF, o fator VII liga-se ao TF. O complexo TF e VII ativado (VIIa) ativa X e IX. O inibidor da via do TF (TFPI) é um importante inibidor de TF/VIIa. O complexo VIIIa-IXa amplia muito a produção de Xa a partir de X. A geração de trombina a partir da protrombina pela ação do complexo Xa-Va conduz à formação de fibrina. A trom- bina também ativa XI (linha pontilhada), V e XIII. A trombina separa VIII do seu carreador fator von Willebrand (VWF), aumentando muito a formação de VIIIa-IXa e, assim, de Xa-Va. Verde-claro, serina-proteases; amarelo, cofatores. Hoffbrand_6ed_24.indd 321Hoffbrand_6ed_24.indd 321 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 322 A. V. Hoffbrand e P. A. H. Moss drolisar ligações peptídicas depende do amino- ácido serina como centro ativo (Figura 24.9). A escala de ampliação atingida nesse sistema é considerável; por exemplo, 1 mol de fator XI ativado por meio de ativação sequencial dos fatores IX, X e protrombina pode gerar até 2 � 108 mols de fibrina). Coagulação in vivo A geração de trombina in vivo é uma complexa rede de alças de amplificação e feedback negativo que assegura uma produção localizada e limita- da. A geração de trombina é dependente de três complexos enzimáticos, cada um constituído de protease, cofator, fosfolipídios (PL) e cálcio. Os Tabela 24.1 Fatores da coagulação Número do fator** Nome descritivo Forma ativa I Fibrinogênio Subunidade de fibrina II Protrombina Serina-protease III Fator tecidual Receptor/cofator* V Fator lábil** Cofator VII Proconvertina** Serina-protease VIII Fator anti-hemofílico** Cofator IX Fator Christmas** Serina-protease X Fator Stuart-Prower** Serina-protease XI Antecedente de tromboplastina plasmática** Serina-protease XII Fator Hageman (contato) Serina-protease XIII Fator estabilizador da fibrina Pré-calicreína (fator Fletcher) HMWK (fator Fitzgerald) Transglutaminase Serina-protease Cofator* HMWK, quininogênio de alto peso molecular. * Ativo sem modificação proteolítica. ** N. de T. Os nomes descritivos estão em desuso, e os fatores são designados só pelos números. Os números dos fatores, embora romanos (ordinais), são lidos como arábicos (numerais) (p. ex., fator VIII = fator “oito”, e não oitavo). Cadeia leve Sítio ativo da serina em que ataca o IXa Cadeia pesada Fator X PM � 60.000 Fator Xa Ativo Peptídio de reação PM � 14.000 S-S � S-S SeSe Figura 24.9 Atividade de serina (Se)-protease. Este exemplo mostra a ativação do fator X pelo fator IX. PM, peso molecular. Hoffbrand_6ed_24.indd 322Hoffbrand_6ed_24.indd 322 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 Fundamentos em Hematologia 323 complexos são Xase extrínseca (VIIa, TF, PL, Ca2+) e Xase intrínseca (IXa, VIIIa, PL, Ca2+), gerando FXa – e complexo protrombinase (Xa, Va, PL e Ca2+) – gerando trombina. A geração de trombina que segue lesão vascular ocorre em duas ondas de magnitude e funções diferentes. Duran- te a fase inicial, são geradas pequenas quantidades (concentrações picomolares) que preparam a cas- cata da coagulação para a segunda onda, conside- ravelmente amplificada, quando são produzidas concentrações micromolares, isto é, um milhão de vezes maiores do que as da primeira fase. Iniciação A coagulação inicia-se pela interação do fator tecidual (TF), ligado à membrana, exposto após lesão vascular e ativado por uma proteína enzi- mática dissulfeto-isomerase, com fator VIIa. O fator tecidual é o único iniciador da geração de trombina e formação de fibrina. Ele está expres- so em fibroblastos da adventícia e nos pequenos músculos da parede vascular, em micropartícu- las na corrente sanguínea, e em outras células não vasculares. Entre 1 e 2% do fator VII total do plasma circula em forma ativada, mas não expressa atividade proteolítica, exceto quando ligado ao TF. O complexo fator VIIa-TF (Xase extrínseca) ativa tanto o fator IX quanto o X. O fator Xa, na ausência de seu cofator, transfor- ma pequenas quantidades de protrombina em trombina. Isso é insuficiente para iniciar signi- ficativa polimerização de fibrina; há necessidade de amplificação, o que será discutido a seguir. Amplificação A via inicial, ou Xase extrínseca, é rapidamente inativada pelo inibidor da via do fator tecidual (TFPI), que forma um complexo quaternário com VIIa, TF e Xa. A geração ulterior de trom- bina passa agora a ser dependente da tradicional via intrínseca. Fatores VIII e V são convertidos em VIIIa e Va pelas pequenas quantidades de trombina geradas durante a iniciação. Nesta fase de amplificação, a Xase intrínseca, formada por IXa e VIIIa na superfície de fosfolipídio e na presença de Ca2+, ativa Xa suficiente que, em combinação com Va, PL, e Ca2+, forma o com- plexo protrombinase e resulta na geração explo- siva de trombina. Esta age no fibrinogênio para formar o coágulo de fibrina. Aparentemente o fator XI não tem papel na iniciação fisiológica da coagulação. Tem um papel suplementar na ativação do fator IX que pode ser importante em locais de traumatismo relevante e no campo cirúrgico. Pacientes de- ficientes em fator XI sangram excessivamente nessas eventualidades. A trombina hidrolisa o fibrinogênio, libe- rando fibrinopeptídios A e B para formar monô- meros de fibrina (Figura 24.10). Os monômeros de fibrina unem-se espontaneamente por meio de pontes de hidrogênio para formar um polí- mero frouxo e insolúvel de fibrina. O fator XIII também é ativado por trombina e cálcio. Uma vez ativado, estabiliza os polímeros de fibrina com a formação de ligações covalentes cruzadas. O fibrinogênio tem PM 340.000 e consiste em duas subunidades idênticas, cada uma con- tendo três cadeias polipeptídicas dissimilares (�, � e �), ligadas por pontes dissulfeto. Depois da clivagem pela trombina de pequenos fibrino- peptídios A e B das cadeias � e �, o monômero de fibrina constitui-se de três cadeias pareadas �, � e � que rapidamente polimerizam.Algumas das propriedades dos fatores da coagulação estão relacionadas na Tabela 24.2. A atividade dos fatores II, VII, IX e X depende da vitamina K, responsável pela carboxilação de vários resíduos terminais de ácido glutâmico em cada uma de suas moléculas (ver Figura 26.8). Fibrinogênio Liberação de fibrinopeptídio Ponte de hidrogênio Ponte transamidase Monômero de fibrina Trombina XIII XIIIa Polímero de fibrina Fibrina com ligação cruzada Figura 24.10 Formação e estabilização de fibrina. Hoffbrand_6ed_24.indd 323Hoffbrand_6ed_24.indd 323 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 324 A. V. Hoffbrand e P. A. H. Moss Embora não sejam enzimas proteases, os cofatores VIII e V circulam na forma de precur- sores que necessitam de clivagem limitada pela trombina para expressão total da sua atividade de cofatores. Células endoteliais Têm um papel ativo na manutenção da integri- dade vascular. Fornecem a membrana basal que separa o colágeno, a elastina e a fibronectina do tecido conectivo subendotelial do sangue circu- lante (Figura 24.8). Perda ou dano ao endotélio resulta em hemorragia e ativação do mecanismo hemostático. A célula endotelial também tem uma influência inibitória potente na respos- ta hemostática, principalmente pela síntese de prostaglandina, óxido nitroso, e a ectonucleoti- dase CD39 – que tem propriedades vasodilata- doras e inibe a agregação plaquetária. A síntese do fator tecidual que inicia a hemostasia só ocorre nas células endoteliais se houver ativação. O inibidor natural da via do fa- tor tecidual, TFPI, também é sintetizado. A sín- tese endotelial de prostaciclina, VWF, ativador, antitrombina e trombomodulina – a superfície proteica responsável pela ativação da proteína C – supre agentes vitais tanto para as reações plaquetárias como para a coagulação do sangue (Figura 24.8). Resposta hemostática (Figura 24.1) Vasoconstrição Uma constrição imediata do vaso lesado e a cons- trição reflexa das artérias e arteríolas adjacentes são responsáveis por uma diminuição inicial do fluxo sanguíneo na região da lesão. Quando há lesão extensa, essa reação vascular evita a exsan- guinação. A diminuição do fluxo sanguíneo per- mite ativação de contato de plaquetas e fatores de coagulação. As aminas vasoativas e o trom- boxano A2 (TXA2) liberados das plaquetas (Fi- gura 24.6), além dos fibrinopeptídios liberados durante a formação de fibrina (Figura 24.10), também têm atividade vasoconstritora. Reações plaquetárias e formação do tampão hemostático primário Depois da ruptura do revestimento endotelial há aderência inicial de plaquetas (via receptores GP1a e GP1b) ao tecido conectivo exposto, mediada pelo VWF. Em condições de fluxo sob pressão (p. ex., nas arteríolas), a matriz subendotelial exposta reveste-se inicialmente de VWF. A exposição de colágeno e a geração de trombina pela ativação do fator tecidual produzida no sítio da lesão fazem as plaquetas aderentes liberarem o conteúdo dos Tabela 24.2 Algumas propriedades dos fatores de coagulação Fator Meia-vida plasmática (h) Concentração plasmática (mg/L) Comentários II 65 100 Grupo protrombínico: necessitam de vitamina K para a síntese, e Ca2+ para a ativação. VII 5 0,5 IX 25 5 X 40 10 I 90 3.000 Trombina interage com estes fatores. Aumentam em inflamações, durante a gravidez, no uso contraceptivos orais. V 15 10 VIII 10 0,1 XI 45 5 XIII 200 30 } } Hoffbrand_6ed_24.indd 324Hoffbrand_6ed_24.indd 324 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 Fundamentos em Hematologia 325 grânulos e ativarem a síntese de prostaglandina, levando à formação de TXA2. O ADP liberado provoca ingurgitamento e agregação das plaque- tas. Plaquetas rolando no sentido do fluxo sobre VWF exposto, com ativação dos receptores de GPIIb/IIIa, aderem de modo ainda mais firme. Plaquetas adicionais do sangue circulante são atra- ídas para a região da lesão. Essa agregação contí- nua de plaquetas promove crescimento do tampão hemostático, o qual logo cobre o tecido conectivo exposto. O tampão hemostático primário instável, produzido por essas reações das plaquetas já ao fim do primeiro minuto depois da lesão, costuma ser suficiente para controle temporário do sangra- mento. O aumento estreitamente localizado da atividade plaquetária por ADP e TXA2 resulta em uma massa plaquetária suficiente para cobrir a área de lesão endotelial. É provável que a prostaci- clina, produzida pelas células endoteliais e muscu- lares lisas na parede do vaso adjacente à região da lesão, seja importante na limitação da extensão do tampão inicial de plaquetas. Estabilização do tampão plaquetário pela fibrina A hemostasia definitiva é obtida quando a fibrina, formada pela coagulação do sangue, é acrescenta- da à massa de plaquetas e pela retração/compacta- ção do coágulo induzida pelas plaquetas. Depois da lesão vascular, a formação de Xase (VIIa, TF, PL e Ca2+) inicia a cascata da coagulação. A agregação de plaquetas e as rea- ções de liberação aceleram o processo de coa- gulação pelo fornecimento abundante de fos- folipídio de membrana. A trombina gerada no sítio da lesão converte o fibrinogênio solúvel do plasma em fibrina, potencializa a agregação e as secreções das plaquetas, e também ativa os fatores XI e XIII e os cofatores V e VIII. A fibri- na, como componente do tampão hemostático, aumenta à medida que as plaquetas fundidas se Via intrínseca Aumento da fibrinólise Trombina Fibrinogênio Fibrina Célula endotelial Inibe Inibe Promove Trombina Trombomodulina TPAI Proteína C ativada Proteína C EPCR Cofator proteína S Va VIIIa V VIII Figura 24.11 Ativação e ação da proteína C pela trombina ligada à trombomodulina na superfície da célula endo- telial. A proteína S é um cofator que facilita a ligação da proteína C ativada na superfície da plaqueta. A inativação dos fatores Va e VIIIa resulta na inibição da coagulação do sangue. A inativação do inibidor tecidual do ativador do plasminogênio (TPAI) favorece a fibrinólise. EPCR, receptor endotelial da proteína C. Fator XIIa Calicreína Plasminogênio Plasmina Fibrina Produtos de degradação da fibrina (FDPs) TPA Ativador semelhante à uroquinase Ativação intrínseca Ativação extrínseca Estreptoquinase Figura 24.12 O sistema fibrinolítico. TPA, ativador teci- dual do plasminogênio. Hoffbrand_6ed_24.indd 325Hoffbrand_6ed_24.indd 325 16/07/12 13:5216/07/12 13:52 DICA DO PROFESSOR Acompanhe no vídeo uma introdução sobre a Coagulação Sanguínea, seus fatores e sua cascata que ao final formam o tampão plaquetário: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual Fator é responsável pela ativação da via extrínseca na Coagulação Sanguínea? A) a) Fator Tecidual. B) b) Fator Stuart-Prower. C) c) Fator I. D) d) Fator II. E) e) Fator VIII. 2) Estão envolvidos na formação do tampão plaquetário, exceto? A) a) Fator Tecidual. B) b) Fibrinogênio. C) c) Plasminogênio. D) d) Protrombina. E) e) Fator de Von Willebrand. 3) Qual fator é responsável pela fibrinólise? A) a) Protrombina. B) b) Fator Tecidual. C) c) Fibrinogênio. D) d) Plasminogênio. E) e) Fator de Von Willebrand. 4) O fator Stuart-Prower é o iniciador de qual via? A) a) Via Extrínseca. B) b) Via Intrínseca. C) c) Via Comum D) d) Via Fibrinolítica. E) e) Via das pentoses. Qual é o cofator utilizado na formação da trombina além dos fosfolipídios, Fatores X 5) e V? A) a) III. B) b) I. C) c) Fe++. D) d) Ca++. E) e) Ácido fólico. NA PRÁTICA Observe na imagem abaixo um caso mostrando satelitismo plaquetário. É comum encontrarmos no hemograma o número total de plaquetas abaixo do esperado, assim necessitando da confecção de uma lâmina de sangue, em que só é possível confirmar as plaquetas aderidas nos leucócitos, principalmente nos neutrófilos: SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: BAIN, B.J.. Células Sanguíneas: Um Guia Prático.4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Coagulação do Sangue Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fisiologia da coagulação, anticoagulação e fibrinólise Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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