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Evolução histórica da população

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Universidade Federal de Juiz de Fora 
Instituto de Ciências Humanas 
Curso de Geografia 
Geografia da População 
Prof. Luiz Fernando Soares de Castro 
 
População e Desenvolvimento - Uma análise econômica 
Evolução Histórica da População 
 Paulo César Milone 
 
 
 Pesquisando-se os escritos dos séculos passados, descobrem-se numerosas referências à população 
e às modificações de seus componentes: fecundidade, mortalidade e migração. 
 Na Bíblia encontram-se indicações de estímulo à fecundidade caracterizada pela expressão: “Sede 
férteis e multiplicai-vos”. Também são muitas citações aos movimentos migratórios dos povos bíblicos. Todas 
estas informações são descritivas e não implicam generalizações para outros grupos. 
 Os antigos filósofos chineses combinaram os seus valores a respeito da população com os aspectos 
da análise demográfica. Confúcio e os seus seguidores avançaram a idéia de que o crescimento da população 
poderia diminuir o produto por trabalhador, deprimir os padrões de vida das massas e causar guerras. Eles 
também reconheceram a noção de “distribuição ótima da população” através da movimentação de indivíduos 
de terras superpovoadas para outra subpovoadas. Na sua maioria, estes escritores eram favoráveis ao 
aumento da população pelo casamento e procriação. 
 Na Grécia, Platão e Aristóteles consideraram o tamanho da população e a sua distribuição como sendo 
os elementos críticos de seus ideais acerca da “Cidade Estado”. Eles acreditavam que era necessário otimizar 
o tamanho da população e da terra, para que a defesa e a segurança pudessem ser maximizadas, os recursos 
pudessem ser adequados para o povo e o governo pudesse utilizá-los de forma eficiente. Para Platão, no caso 
de estar diante de uma situação de superpopulação, a solução deveria ser através da prática do controle de 
nascimentos e de políticas de colonização e, no caso de subpopulação, a solução deveria ser atingida através 
do incentivo ao aumento da taxa de nascimentos e da migração. 
 Durante o Império Romano, a visão do problema populacional passa a ser dirigida para os interesses 
do “Grande Império” em substituição à pequena Cidade-Estado da Grécia antiga. Neste aspecto, em particular, 
os romanos eram claramente favoráveis ao crescimento da população, visto que era necessária a 
disponibilidade de um número sempre crescente de homens com a finalidade de serem utilizados na ocupação 
e manutenção das terras conquistadas. As leis romanas facilitavam o o casamento e a gravidez incentivando a 
formação de grandes populações. 
 Os líderes religiosos hebreus, cristãos e mulçumanos, assim como os escritores do período medieval, 
encorajaram grandemente a expansão populacional. 
 Durante o período “mercantilista”, enfatizou-se grandemente o poder e a riqueza do “Estado”. 
Favoreceu-se a acumulação de dinheiro, de pedras preciosas e foram estimulados o comércio exterior e o 
desenvolvimento das manufaturas. Botero, porta-voz da visão mercantilista, ressaltou o poder do Estado de 
intervir na atividade econômica, bem como de determinar o tamanho da população. 
 Os primeiros estudos numéricos sobre a população surgem com John Graunt em 1662 e Willian Petty 
em 1676. Graunt publicou as suas “tabelas de mortalidade” para a cidade de Londres, nas quais observou a 
regularidade de várias estatísticas vitais. Petty procurou associar as mudanças populacionais com as 
condições sociais e econômicas existentes na época. Baseada nestes trabalhos, no final do século XVII, fez-se 
uma primeira estimativa realística da população da Inglaterra, que foi da ordem de 5,5 milhões de habitantes. 
Estas evidências influenciaram os legisladores sobre a importância das chamadas estatísticas vitais w dos 
censos. 
 Os “fisiocratas”, que representam uma reação ao pensamento mercantilista, acreditavam na 
importância estratégica das áreas agrícolas para o desenvolvimento econômico da economia. Quesnay, lider 
entre os escritores fisiocratas, defendeu a posição de que o crescimento populacional deveria ser limitado 
pelos meios de subsistência e, conseqüentemente, não deveria ser muito rápido. Para ele o ser humano não 
deveria procriar além do ponto representativo da “população ótima”. 
 A contínua discussão sobre o crescimento da população e os meios de subsistência ganhou 
importância durante o século XVIII. Surgiram então dois grupos: os “otimistas” e os “pessimistas”. 
 Os otimistas foram liderados por Willian Godwin e pelo francês marquês de Condorcet, que 
acreditavam na perfeição humana e nos avanços científicos como sendo capazes de proverem os meios de 
subsistência necessários; e também acreditavam na racionalidade do indivíduo para regular a sua própria 
reprodução. Eles diziam que a condição de pobreza poderia ser eliminada através de modificações nas 
instituições sociais, que poriam fim às barreiras entre as classes sociais e redistribuiriam a riqueza. 
 Thomas Robert Malthus foi o primeiro escritor a apresentar e desenvolver uma teoria populacional 
compreensiva e consistente com as condições econômicas existentes na época. Em seu trabalho, Essay on 
the Principle of Population datado de 1798, explicita um conjunto de idéias que irão influenciar de forma 
marcante as teorias econômica e populacional. 
 O pensamento “socialista” teve como expoentes Karl Marx e Engles. Para Marx, Malthus estava 
errado, pois não existia em ação uma lei geral que pudesse explicar o comportamento da população em todas 
as sociedades. Na realidade, cada país tinha a sua própria lei populacional. E mais, o conflito existente entre a 
população crescente e o bem-estar não era devido à elevação do número de indivíduos num país, mas 
resultante do sistema de produção capitalista. A solução de Marx ao dilema malthusiano era a da mudança de 
um regime capitalista para uma organização em moldes socialistas. Em uma sociedade socialista a economia 
poderia sempre encontrar lugares para o trabalho disponível. Além desta possibilidade, como as diferenças na 
fecundidade e na mortalidade por classes eram determinadas por variações nos padrões de vida, estas 
desigualdades poderiam ser diminuídas através de uma distribuição menos desigual da riqueza entre 
indivíduos da sociedade. Engels elaborou o pensamento marxista , indicando que em uma sociedade 
planejada a fecundidade poderia ser controlada. E acrescentou que o poder produtivo do ser humano era 
ilimitado e, conseqüentemente, o crescimento populacional não deveria ser entendido como uma situação 
alarmante. 
 As análises científicas sobre as mudanças demográficas evoluíram acentuadamente quando foi aceito 
que a população não poderia ser vista como um fenômeno unitário isolado, mas como resultado líquido de 
diversos processos demográficos. 
 No início do presente século, Landry e mais tarde Thompson e Notestein compararam as tendências 
da fecundidade e da mortalidade de vários países em diferentes estágios de desenvolvimento econômico e 
generalizaram acerca da sequência de variações que eles atribuíram para a urbanização e para a 
industrialização. Esta formulação tornou-se conhecida como a teoria da “transição demográfica” e consiste, 
basicamente, em três estágios. 
 No “1º estágio”, a população apresenta taxas de nascimentos e mortes elevadas. Como o crescimento 
da população é determinado unicamente pela diferença entre nascimentos e mortes, a população neste 
estágio apresenta uma taxa de crescimento baixa e em alguns momentos taxas declinantes. Este estágio foi 
chamado malthusiano e as sociedades podem ser caracterizadas como tendo uma economia pré-industrial e 
um meio ambiente não urbanizado. As taxas de mortes determinam a direção e a intensidade das variações 
populacionais das sociedades. 
 O “2º estágio” apresenta taxas de nascimentos elevadas e e taxas de mortes baixas. Estes dados 
implicam taxas de crescimento da população muito elevadas. A economia nesteestágio está nitidamente em 
desenvolvimento. 
 No “3º estágio”, em geral, há taxas de nascimentos e de mortes baixas. O crescimento populacional é 
lento e caracteriza os países industrializados modernos. Neste estágio as taxas de nascimentos regulam o 
crescimento e o declínio das populações. 
 Além destes enfoques existem outros, alternativos e complementares, dentre os quais se destacam: 
 - o “ecológico”: onde a estrutura e a modificação demográfica baseiam-se na noção biológica dos 
organismos adaptando-se aos seus meio ambientes; 
 - “sócio-cultural”: no qual o processo populacional é influenciado pelas interações entre as partes que 
compõem a complexa estrutura organizacional de uma sociedade; 
 - “institucional”: cujo interesse central está concentrado em como as particulares formas institucionais 
afetam o processo demográfico; 
 - “psicológico”: onde os modelos de decisão das populações partilham a hipótese geral de que as 
escolhas individuais são no mínimo parcialmente determinadas pela crença dessas populações acerca das 
conseqüências que poderão resultar de uma determinada decisão; 
 - “econômico”: no qual o entendimento do problema populacional está no processo de decisão 
econômica que os indivíduos fazem com relação aos custos de terem e criarem os filhos e as oportunidades 
que estas crianças terão no futuro. 
 
 Com certeza, analisar as variações da população em termos de suas componentes: fecundidade, 
mortalidade, e migração têm representado um significante progresso em relação à visão da população como 
um fenômeno unitário. Todavia as teorias da transição e as demais citadas são frágeis, pois consideram 
somente, numa direção limitada, quais os fatores causadores das modificações nos componentes da 
população. Desta maneira, só uma teoria completa para explicar as variações da população poderá responder 
a questões tais como: 
 - Por que a fecundidade cresce e decresce ? 
 - Por que algumas sociedades apresentam mortalidade mais elevada do que outras ? 
 - Por que os indivíduos migram ? 
 
 
 
 
 
MILONE, Paulo César, in População e Desenvolvimento - Uma análise econômica, Edições Loyola, São Paulo 1991.

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