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5.DIREITO INTERNACIONAL

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SUMÁRIO 
 
1. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ............................................................ 03 
2. PERSONALIDADE INTERNACIONAL .............................................................. 07 
3. DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS ............................... 12 
4. NACIONALIDADE ......................................................................................... 14 
5. O HOMEM NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
E O DIREITO PENAL INTERNACIONAL ............................................................. 20 
6. SOLUÇÃO DE CONFLITOS - LITÍGIOS INTERNACIONAIS .............................. 25 
7. DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL MARÍTIMO ...................................... 26 
8. DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO ..................................................... 30 
9. OS GRANDES PACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS ......................................... 33 
10. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ......................................................... 36 
11. CONFLITOS DE LEIS NO ESPAÇO ................................................................ 38 
12. PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL ............................................................ 41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 1.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
Celso D. de Albuquerque Mello1, apoiado nos ensinamentos de Paul Vinogradoff, afirma que 
para estudar o histórico do DI deve-se levar em consideração as formas de organização da sociedade 
e o divide em : Cidades Gregas; Jus Gentium; Republica Cristiana; Relações internacionais entre os 
Estados Territoriais e o desenvolvimento moderno em si. 
Na Antiguidade Oriental, segundo o mesmo autor, pode-se encontrar a existência do DI. O 
tratado mais antigo de que se tem notícia é o do ano 3100 a.C. 
Já na Grécia, segundo Hildebrando Accioly2, talvez devido à sua situação geográfica e política, 
se encontram as primeiras instituições conhecidas do direito das gentes. Os gregos praticaram 
diversos institutos do DI: a arbitragem, a necessidade da declaração de guerra, a inviolabilidade dos 
arautos etc. 
Em Roma, as normas de aspecto internacional se desenvolveram no “jus gentium” e no “jus 
fetiale”. O “jus gentium” era formado pelas normas do direito romano que os estrangeiros podiam 
invocar. Já o “jus fetiale”, por sua vez, era o conjunto de normas utilizadas nas relações com nações 
estrangeiras. Este direito era aplicado pelo colégio dos feciais e como se pode observar era um 
direito nacional de Roma. Tais normas em sua maioria tinham caráter religioso e jurídico3. 
Na Idade Média4, embora desconhecido o Estado como hoje se concebe, mas por força das 
necessidades de comércio, sobretudo o marítimo, os povos cristãos estabeleceram regras, hoje 
apontadas como as primeiras manifestações de um ordenamento internacional. As Leis de Rodes, 
que remontam ao século VII, a Tabula Amalphitana, do século X, as Leis de Oléron, no século XII, as 
Leis de Wisby, especialmente, o consulado do mar, nos séculos XIII ou XIV, e outras pequenas 
codificações de menor importância, constituíram um direito marítimo de caráter internacional. 
Só no Renascimento, contudo, com a formação dos Estados modernos e o estabelecimento 
das relações diplomáticas, é que realmente começa a existir o direito internacional público. Sua 
evolução foi lenta, até que se iniciasse o período orgânico, em meados do século XVI. Alberico 
Gentili, com o De jure belli (1588), é o precursor de Hugo Grotius, autor dos difundidos tratados De 
jure belli ac pacis (1625) e Mare liberum (1609), e de Samuel Pufendorf, com o De jure naturae et 
gentium, os dois primeiros jusnaturalistas e o último já representante das tendências racionalistas da 
terceira fase do direito internacional. 
Seguiu-se uma fase eclética, com Christian Wolf, Emmerich de Vattel e Georg Friedrich von 
Martens. O final do século XVIII coincidiu com a fase influenciada pelo utilitarismo do jurista e 
filósofo inglês Jeremy Bentham, última do período de integração do direito internacional 
O grande acontecimento histórico que marca o início da denominada Idade Contemporânea é 
a Revolução Francesa, que no DIP produziu inúmeras repercussões, como o princípio das 
nacionalidades, sobre o qual se construiu a unidade política da Itália. 
 
1 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 1994. p. 133. 
2 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 11ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 6. 
3 MELLO, op. cit., p. 134. 
4 ACCIOLY, op. cit., P. 7. 
 
 
 
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A imprecisão característica da maioria das regras de direito internacional público deu causa, 
em fins do século XVIII, a um movimento para sua codificação, mediante a fixação por escrito de 
disposições geralmente reconhecidas. Há poucos documentos internacionais aos quais se atribui 
valor de direito positivo. São, entre outros: o Congresso de Viena, de 1815, sobre a hierarquia dos 
agentes diplomáticos; o Congresso de Paris (1856), sobre os princípios jurídicos que regem a guerra 
no mar; e as Convenções de Haia, de 1899 e 1907. 
No entanto, foi com o final da segunda Guerra Mundial, a partir da criação de organismos 
internacionais, a começar com as Nações Unidas, cuja carta foi firmada em São Francisco, na data de 
26 de junho de 1945, que o Direito Internacional Público ganhou destaque no contexto internacional. 
A partir de então o DIP passa a ser visto como sistema normativo capaz de instituir deveres de 
cooperação entre os Estados5. 
 
 1.2 CONCEITO E OBJETO 
Conceitua-se o Direito Internacional Público como a disciplina jurídica que estuda o complexo 
normativo das relações de direito público externo. As relações interestatais não constituem, 
contudo, o único objeto do DIP: além dos Estados, outras entidades são modernamente admitidas 
como pessoas internacionais, ou seja, como capazes de ter direitos e assumir obrigações na ordem 
internacional. 
Tais pessoas, ou são coletividades criadas artificialmente pelos próprios Estados - o que lhes 
empresta um reconhecimento implícito - como as Nações Unidas, a Organização dos Estados 
Americanos (OEA) e entidades congêneres, ou são de criação particular, como a Cruz Vermelha 
Internacional, a Ordem de Malta e outras associações reconhecidas, de âmbito internacional. 
Alguns tratadistas reconhecem no próprio indivíduo personalidade jurídica internacional, vale 
dizer, capacidade para ser sujeito de direitos e obrigações internacionais, em determinadas 
situações. Entre estas cita Hildebrando Accioly a do proprietário do navio ou da carga, perante o 
tribunal de presas; as relações entre o pirata e o Estado que o persiga; as condições de imunidade do 
agente diplomático; e a situação dos apátridas. Há ainda casos especiais de personalidade 
internacional de fato, como o das comunidades beligerantes, reconhecidas como tais, cuja atuação 
incide no âmbito do direito internacional público. 
Por outro lado, no entenderda Corte Internacional de Justiça, órgão jurídico e consultivo da 
Organização das Nações Unidas, o DIP se constitui em fator de organização da sociedade, cujas 
finalidades devem atender precipuamente: a) redução da anarquia das relações internacionais; e b) 
satisfação de interesses comuns dos Estados.6 
 
 1.3 FONTES 
Constituem fontes do Direito Internacional Público, dentre outros, os princípios gerais do 
direito. Nesse sentido, a fonte se confunde com o próprio fundamento do sistema jurídico que rege 
as relações internacionais. Em sentido formal, porém, é fonte positiva das regras que integram o 
aludido sistema o acordo das vontades dos Estados, expresso nos tratados ou convenções 
internacionais. 
 O tratado propriamente dito que representa na ordem internacional o que é o contrato na 
ordem interna privada, é o ajuste bi ou plurilateral que só vincula juridicamente as partes 
contratadas, sejam estados ou entidades capazes de se obrigarem na ordem internacional, e se 
 
5 Ibid., p. 10. 
6 Amaral, Renata Campetti. Direito internacional público e privado. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006, p. 17. 
 
 
 
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destina a conciliar vontades divergentes, fazendo-as convergir numa solução jurídica comum. O 
tratado-convenção ou lei internacional é o ajuste multilateral, geralmente admitindo adesões, por 
força do qual vários Estados elaboram e promulgam normas de conduta internacional para o futuro. 
São essas convenções que integram princípios e regras já trabalhados pelos doutrinadores ou 
costumes estabelecidos, a fonte direta e mais importante do direito internacional público. 
 Quanto ao costume, mesmo ainda não consubstanciado em convenções, é admitido como 
fonte direta do ordenamento jurídico internacional, se resulta de prática geral e uniforme, 
consagrada por uso antigo e repetido, aceito pela consciência universal. 
Indica-se igualmente, como fonte formal do direito público internacional, em certos casos, as 
próprias decisões de órgãos internacionais encarregados de dirimir controvérsias, como a Corte 
Permanente de Justiça Internacional, órgão das Nações Unidas, com sede em Haia. Tal 
jurisprudência, contudo, não constitui propriamente uma fonte de regras jurídicas, mas apenas um 
meio idôneo de verificação de sua existência e validade. 
Vale referir que o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça enumera quais sejam 
as fontes formais do Direito Internacional: 
1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam 
submetidas, deverá aplicar; 
2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente 
reconhecidas pelos Estados litigantes; 
3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito; 
4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; 
5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, 
como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. 
6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, 
se convier às partes. 
 
Alguns doutrinadores vêm incluindo os atos unilaterais (notificação, renúncia, 
reconhecimento) e as decisões tomadas por Organizações Internacionais como fontes do DIP, muito 
embora não estejam listados no referido artigo do Estatuto da Corte Internacional.7 
 
 LEMBRE-SE: 
 
 
7 Importante frisar a existência das chamadas soft law, ou seja, normas jurídicas de normatividade de menor grau, em contraposição às 
tradicionais normas internacionais que se chamam hard law. As primeiras ganham importância na medida da crescente a atuação da 
diplomacia multilateral. Nesse sistema, o cumprimento de tais normas é meramente recomendado aos Estados, sem qualquer sanção pelo 
seu não-cumprimento. 
 
 
 
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 1.4 TRATADOS 
Tratado é o acordo formal concluído entre os sujeitos de Direito Inter-nacional Público – 
Estados, organismos internacionais e outras coletividades – destinado a produzir efeitos jurídicos na 
órbita internacional. É um ato jurídico complexo que envolve pelo menos duas vontades. Os Estados, 
sujeitos primários da ordem internacional, são, em geral, os que concluem tratados. Eventualmente, 
os tratados poderão ser concluídos pela Santa Sé (Cúpula da Igreja Católica), por um organismo, 
como o Fundo Monetário Internacional – FMI, ou como a OIT – Organização Internacional do 
Trabalho (eles próprios, produtos de tratados), ou por uma associação regional de Estados, como o 
MERCOSUL ou a União Europeia. 
As Convenções de Viena de 1969 e 1986 estabeleceram as normas pelas quais rege-se o 
tratado no Direito Internacional Público. Consoante prevê a Convenção de Viena, tratado designa um 
acordo regido pelo direito inter-nacional, qualquer que seja a sua denominação. Nesse sentido, seria 
uma designação genérica, onde estão abrangidas as expressões: convenção, convênio, protocolo, 
compromisso, etc. 
Contudo, segundo a hierarquia e finalidade específica de cada tratado, algumas diferenças têm 
sido levantadas para se estabelecer uma classificação: 
 Convenção – refere-se a tratado multilateral que estabelece normas gerais a 
todos os partícipes, por exemplo, Convenção de Viena sobre Tratados, 
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, Convenções da OIT 
(Organização Internacional do Trabalho) etc. 
 Acordo – é empregado para os tratados mais simples, quase sempre de 
natureza econômica. Tem características técnicas, administrativas. É 
normalmente temporário, por exemplo, acordos que o Brasil fez com o FMI 
(Fundo Monetário Internacional). 
 Protocolo – é um tratado secundário, atrelado a um tratado principal. Vem 
para complementar o tratado principal, implementar algumas de suas cláusulas, 
corrigir os rumos do tratado original para alcançar o objetivo proposto pelos 
países envolvidos, por exemplo, Protocolo de Brasília de 1991, estabelecendo 
formas de solução de controvérsia, em matérias comerciais, e consolidando a 
estrutura do MERCOSUL. 
 Carta, Estatuto – tais nomes são utilizados para representar o tratado 
constitutivo das entidades internacionais, por exemplo, a Carta da ONU 
(Organização das Nações Unidas), a Carta da OEA (Organização dos Estados 
Americanos), a Carta da OIT (Organização Internacional do Trabalho), etc. 
 Concordata – é nome usado exclusivamente para tratado de que participe a 
Santa Sé (Cúpula da Igreja Católica). 
 Memorando de entendimento – utilizado para registrar princípios gerais que 
orientarão as relações entre as partes, seja nos plano político, econômico, 
cultural ou em outros. 
 
 As fases pelas quais um tratado deve percorrer, no Brasil, para ser incluído no ordenamento 
jurídico interno, nos termos dos artigos 49, I e 84, VIII, da Constituição Federal, são: 
 Negociação: todo tratado inicia-se com a negociação, o bilateral, entre dois 
Estados, com a troca de cartas, ou o multilateral, envolvendo mais de dois 
Estados, com uma conferência diplomática. 
 
 
 
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 Assinatura: os representantes do Estado assinam o tratado concluído, 
autenticando o texto, mas não obrigam internacionalmente o Estado por essa 
assinatura. 
 Aprovação Legislativa: fase que vemdepois da assinatura. O texto é 
apreciado pelo Congresso Nacional e, se aprovado, encaminhado para a 
Presidência da República, que enviará uma Carta de Ratificação. 
 Ratificação: é o ato unilateral do Estado, copartícipe de um tratado, quando 
expressa, em definitivo, sua vontade perante a comunidade internacional. A 
ratificação se dá por meio de um decreto de promulgação. 
 Promulgação: Se dá por meio de Decreto do executivo e determina a eficácia 
jurídica interna do texto do tratado. 
 Adesão: tem igual natureza da ratificação e ocorre quando, nos tratados 
unilaterais, um ou outro país, que não participou das negociações iniciais, quiser 
aderir ao tratado. 
 
Observação: A Emenda Constitucional nº. 45 inovou em relação aos tratados, eis que, a partir 
de sua vigência, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos 
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
 
 
 
 
 
 2.1 CAPACIDADE DE AÇÃO 
Capacidade de ação nada mais é do que o reconhecimento da personalidade jurídica de um 
determinado ente na ordem jurídica internacional. Por exemplo, para que um Estado figure como 
sujeito de direitos e obrigações em âmbito internacional, deve ele deter independência e soberania, 
pois não pode manter relações na comunidade internacional caso encontre-se subordinado a outro 
Estado. 
As organizações internacionais, assim como os Estados, também possuem personalidade, 
independentemente da de seus membros. No entanto, sobre a capacidade das organizações, 
entende-se que elas possuem capacidade legal internacional limitada, que decorre 
fundamentalmente das delimitações impostas por seus tratados constitutivos, ou seja, está adstrita 
aos países que a reconhecem e resultam da vontade de seus membros. 
Em relação ao indivíduo e sua capacidade frente ao DIP, há entendimento majoritário no 
sentido de que a sua capacidade se estende até o limite permitido pelas normas internacionais 
aplicáveis diretamente a ele. Conforme exemplifica Amaral8 “Exemplo prático desse entendimento é 
a permissão do acesso de indivíduos a alguns tribunais internacionais, para proteção de seus 
direitos”. 
 
8 AMARAL, op. cit., p. 27. 
 
 
 
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 2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS INTERNACIONAIS 
Os sujeitos do Direito Internacional são os Estados – sujeitos primários – e os organismos 
internacionais – sujeitos secundários, porque criados pelos Estados. 
Por outro lado, são considerados como sujeitos, ainda, na ordem internacional: a Santa Sé, e o 
próprio indivíduo, com as limitações previstas no direito internacional, como beneficiário das normas 
internacionais protetivas. No que se refere ao indivíduo, contudo, há ainda controvérsias sobre sua 
caracterização enquanto sujeito de DIP. 
 
 2.3 ESTADOS E ORGANIZAÇÕES 
Dentre os sujeitos, na ordem internacional, certamente, o Estado é o mais importante. 
Segundo Rezek, “O Estado, personalidade originária de direito internacional público, ostenta três 
elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área 
e uma forma de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior”.9 
Assim, conforme estabelece, igualmente, a Convenção Interamericana sobre os Direitos e 
Deveres dos Estados, para ser considerado como tal, um Estado deve possuir no mínimo os seguintes 
elementos: 
 
 
 
 
 
 
A população permanente refere-se ao conjunto de indivíduos que habitam o território em 
determinado momento. Não se confunde com a noção de povo, que é um conceito que diz respeito 
ao aspecto social. Esse elemento potencializa o princípio da continuidade do Estado. 
O território, por sua vez, é o espaço sobre o qual o Estado soberano exerce a sua ampla e 
irrestrita jurisdição e competências de ordem legislativa e administrativa, sem qualquer concorrência 
oposta por outro ente na ordem internacional. Deve-se referir que um Estado, mesmo que não tenha 
suas fronteiras definidas, pode ser reconhecido como ente soberano pela ordem internacional. Por 
fim, o Governo e a capacidade de manter relações com outros Estados dizem estritamente com a 
soberania, ou seja, somente será considerado Estado aquele ente que não for subordinado, ou seja, 
aquele que possui plena e irrestrita capacidade no cenário internacional. 
Os Estados são classificados, quanto a sua estrutura, em simples e compostos: 
a) Estados Simples: são aqueles que apresentam um poder único e centralizado. São 
plenamente soberanos e representam um todo homogêneo e indivisível, onde não há divisão interna 
de autonomias. Como exemplo pode-se citar a França. 
b) Estados Compostos: têm vários poderes em um território considerado. Há a 
descentralização política – ainda que possa haver, também, a administrativa. Há várias fontes ou 
mais do que uma fonte de decisão política. É o caso do Brasil. Têm estrutura complexa e dividem-se 
em compostos por coordenação e compostos por subordinação. 
 
9 Rezek, José Francisco. Direito internacional público. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 163. 
 
 
 
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b.1) Compostos por coordenação: São aqueles em que, entre um e outro poder, a 
subordinação é mínima: Estado Federal, Confederação de Estados, Uniões de Estados e a 
Commonwealth. 
- Estado Federal: formado pela união de vários Estados, que perdem a soberania em favor da 
União Federal. A personalidade internacional é da União, possuindo esta o direito de convenção – 
celebrar tratados – e o direito de legação – receber e enviar diplomatas. Exemplo de Estados 
Federais: Brasil e EUA. 
- Confederação de Estados: conjunto de Estados com finalidades comuns ditadas a partir da 
associação. O órgão central da Confederação é a “dieta” e suas deliberações são tomadas por 
unanimidade ou maioria qualificada. Como característica, destaca-se o direito de secessão dos 
Estados que a formam. No passado, por exemplo, tivemos a Confederação dos EUA (1777-1787). 
- Uniões de Estados: uniões de Estados podem ser: união pessoal e união real. A união pessoal 
resulta de um acaso nas leis de sucessão. O monarca de um Estado torna-se soberano de outro em 
virtude de um fato acidental. Um exemplo ocorreu na época de Carlos I da Espanha, coroado 
imperador da Alemanha (1519-1566). Na união real, a identidade do chefe de Estado é desejada e 
não resulta de um fato acidental, mas sim de um ato jurídico interno ou internacional. Exemplo, 
Brasil-Portugal (1815). 
- Commonwealth: formação ímpar, que abrange colônias autônomas, colônias da Coroa e 
territórios sob tutela. Não possui personalidade internacional e o símbolo dessa união é a Coroa 
Britânica. A Commonwealth possui uma Conferência de Primeiros Ministros, que se reúne em 
Londres sem prazo marcado e com objetivo consultivo. 
b.2) Compostos por subordinação: São aqueles que se subordinam ao outro, de modo a influir 
na soberania: Estados vassalos, Protetorado, Estado-cliente, Estado-satélite, Estado-exíguo. Tais 
Estados não mais existem na atualidade. 
Por outro lado, um Estado pode surgir das seguintes situações: 
- separação de parte da população e território de um Estado; 
- dissolução total de um Estado, não subsistindo sua antiga personalidade; 
- fusão para criação de um estado novo. 
Observação: O reconhecimento de um Estado é ato unilateral. Para que um Estado passe a 
manter relações internacionais necessáriose faz o seu reconhecimento pelos demais Estados 
existentes. O reconhecimento mútuo é requisito apenas para a celebração de tratados bilaterais, não 
de tratados multilaterais. 
Ainda, segundo as Convenções de Viena de 1978 e 1983, a sucessão de Estados se dá pela 
substituição de um estado (predecessor) por outro (sucessor) nas suas responsabilidades 
internacionais. A sucessão pode ocorrer: a) pela fusão ou agregação de Estados; b) pela secessão ou 
desmembramento de Estados; ou c) pela transferência territorial. 
Já os organismos internacionais, diferentemente dos Estados, são formados por uma 
associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional, constituída por ato internacional e 
disciplinada nas relações entre as partes por normas de direito internacional, que se realiza em um 
ente de aspecto estável, que possui um ordenamento jurídico interno próprio, por meio do qual 
realiza as finalidades comuns de seus membros mediante funções particulares e o exercício de 
poderes que lhe foram conferidos. 
 
 
 
 
 
 
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Características: 
 Não possuem território, nem população. 
 Compreendem apenas um elemento: os órgãos aptos a exercerem as funções que lhes foram 
estabelecidas. 
 As organizações e seus agentes se beneficiam de imunidades funcionais. 
 Possuem o direito de cooperar com outras organizações. 
 A responsabilidade ativa e passiva da organização é consequência da participação de fato 
numa atividade internacional. 
 Cada organização tem um direito próprio que define os elementos de sua personalidade. 
 Nenhuma organização internacional é soberana, no sentido em que os Estados o são; apenas 
tem atribuições próprias, limites de competência e funcionais determinados em sua carta 
constitutiva. 
 Em virtude de seu estatuto jurídico, têm capacidade de concluir acordos internacionais no 
exercício de suas funções e para realização de seu objeto. 
 
Dentre as organizações de maior importância, deve-se destacar a ONU e a OEA. A Organização 
das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 191 Estados soberanos, fundada 
após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais 
entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e os direitos humanos. Os 
membros são unidos em torno da Carta da ONU, assinada em 26 de junho de 1945, em São 
Francisco, que se consubstancia em um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos 
membros da comunidade internacional. 
As Nações Unidas são constituídas por seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho 
de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de 
Justiça e o Secretariado. Todos eles estão situados na sede da ONU, em Nova York, com exceção do 
Tribunal, que se localiza em Haia, na Holanda. 
Ligados à ONU há organismos especializados que trabalham em áreas tão diversas como 
saúde, agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS (Organização Mundial 
da Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário 
Internacional). Estes organismos especializados, juntamente com as Nações Unidas e outros 
programas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF), compõem o 
Sistema das Nações Unidas. 
Os propósitos das Nações Unidas são10: 
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas 
efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da 
paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito 
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma 
perturbação da paz; 
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de 
igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas 
ao fortalecimento da paz universal; 
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de 
caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos 
 
10 Disponível em: < www.onu-brasil.org.br>. 
 
 
 
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direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua 
ou religião; e 
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos 
comuns. 
 
Ainda, consoante o artigo 2º da Carta, a Organização e seus membros, para a realização dos 
propósitos mencionados, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros. 
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens 
resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles 
assumidas de acordo com a presente Carta. 
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, 
de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais. 
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da 
força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou 
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. 
5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas 
recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o 
qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo. 
6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de 
acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da 
segurança internacionais. 
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos 
que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a 
submeterem tais assuntos a uma solução. 
 
A OEA – Organização dos Estados Americanos, por sua vez, foi criada pela IX Conferência 
Internacional de Estados Americanos (Bogotá, maio de 1948), com base em mandato contido na 
Resolução IX da Conferência Internacional Interamericana sobre os Problemas de Guerra e Paz 
(México, 1945). A referida Resolução encomendava a reorganização, consolidação e fortalecimento 
do Sistema Interamericano. Da referida Conferência, emanaram importantes documentos do sistema 
interamericano, como a própria Carta da OEA, o Tratado Americano de Soluções Pacíficas, conhecido 
como Pacto de Bogotá, e a Declaração Interamericana de Direitos e Deveres do Homem, assinada 
sete meses antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
As principais áreas de atuação da OEA são: o fortalecimento da democracia; segurança 
hemisférica; construção da paz; promoção e defesa dos direitos humanos; estímulo ao comércio 
entre as nações; combate às drogas; preservação do meio ambiente; combate ao terrorismo; 
incentivo à probidade administrativa e cooperação para o desenvolvimento. 
Destarte, pode-se ainda destacar como sujeitos na ordem internacional, os indivíduos e 
empresas, cujo reconhecimento de sua personalidade jurídica ainda encontra resistência por parte 
da doutrina, mas que, a partir da modernização do DIP, não há como negar que cada vez mais vêm 
recebendo proteção por parte do Direito Internacional Público. 
Também vale frisar a participação da Santa-Sé – a cúpula da Igreja Católica- como membro 
internacional, cuja personalidade jurídica fora reconhecida , em 1929, a partir dos acordos de Latrão. 
As relações entre a Igreja e os Estados se corporificam por meio de concordatas e o vínculo entre as 
pessoas que residem no Vaticano não é de nacionalidade, mas sim de cunho funcional, por isso que 
preservam a sua nacionalidade originária. 
 
 
 
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 3.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS 
O Estado, enquanto sujeito do DIP, atua no cenário internacional gozando dos direitos e 
deveres reconhecidos pelo direito internacional. Atualmente, não mais se discute acerca da 
igualdade jurídica dos Estados, de modo que todos – os mais poderosos e os mais fracos – desfrutam, 
por exemplo, dos direitos reconhecidos na Carta das Nações Unidas. 
Dentre os direitos fundamentais dos Estados, ressaltamos: 
a) Direito à liberdade: confunde-se com a noção de soberania, a qual pode ser dividida em 
soberania interna e soberania externa. A primeira refere-se ao poder do Estado com relação às 
pessoas e coisas que se encontram em seu território, também denominada autonomia. 
Compreende os direitos de organização política, de legislar e de jurisdicionar. Soberania 
externa é aquela atribuída pelo direito internacional e se manifesta a partir da liberdade com 
que o Estado desempenha suas relações internacionais. Confunde-se, assim, com o conceito 
de independência. A soberania externa compreende os direitos de celebrar tratados, o de fazer 
guerra ou paz, etc.11 
b) Direito de igualdade: o art. 4° da Convenção Panamericana sobre Direitos e Deveres dos 
Estados (Montevidéu, 1933) dispõe que “os Estados são juridicamente iguais, gozam dos 
mesmos direitos e têm a mesma capacidade no seu exercício”. Os direitos de cada um não 
dependem do poder que tenha para assegurar o seu exercício, mas do simples fato de sua 
existência como pessoa de direito internacional. De acordo com o direito de igualdade, cada 
Estado terá direito de voto para decisão de questões internacionais, sendo que os votos dos 
mais fracos têm o mesmo valor dos votos dos mais fortes. Além disso, nenhum Estado tem o 
direito de reclamar jurisdição sobre outro Estado, de modo que os tribunais de um Estado não 
têm jurisdição sobre outro. Esse último princípio, porém, não é absoluto, pois se tem 
entendido que o Estado pode renunciar – tácita ou expressamente – à imunidade de jurisdição 
(por meio de tratado, quando propõe ação perante tribunal estrangeiro, quando exerce atos 
de comércio/gestão perante Estado estrangeiro). Além disso, a jurisprudência tem aplicado a 
renúncia da imunidade de jurisdição em ações relativas a questões trabalhistas. A imunidade 
de execução, contudo, é compreendida como absoluta. 
c) Direito de defesa e conservação: prática de medidas contra inimigos internos e externos, tais 
como a expulsão de estrangeiros nocivos à ordem nacional e a celebração de alianças 
defensivas. Esse direito, contudo, não é absoluto, pois é limitado pelo direito de defesa e 
conservação dos demais Estados. 
d) Direito ao desenvolvimento: com base nesse princípio, a ONU adotou várias resoluções 
objetivando a melhoria das condições dos Estados em desenvolvimento, como a Conferência 
sobre Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD. 
 
 3.2 DEVERES DOS ESTADOS 
Para Hans Kelsen, “as normas do direito internacional geral impõem deveres sobre os Estados 
e ao fazê-lo conferem direitos aos demais”. E, ainda, “se os deveres forem formulados corretamente, 
a formulação do direito correspondente é supérflua”. 
 
11 SILVA & ACCIOLY, op. cit., p. 103. 
 
 
 
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Passemos, assim, à análise dos deveres dos Estados soberanos. 
 
 3.2.1 DEVER DE NÃO-INTERVENÇÃO 
Intervenção é “a ingerência de um Estado nos negócios peculiares, internos ou externos, de 
outro Estado soberano com o fim de impor a este a sua vontade”.12 
A Carta da OEA determina, em seu artigo 18, “nenhum Estado ou grupo de Estados tem o 
direito de intervir, direta ou indiretamente, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro”. Já 
a Carta da ONU possui um dispositivo bem menos rigoroso, que prevê “todos os membros deverão 
evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou 
a independência política de qualquer Estado ou outra ação incompatível com os propósitos das 
Nações Unidas” (art. 2, item 4). 
 
Alguns Estados, contudo, vêm defendendo o uso do instituto da intervenção em defesa dos 
direitos humanos e do meio ambiente. 
Em regra, não configura intervenção uma ação coletiva decorrente de compromisso firmado 
em tratado, como o da ONU, que confere ao Conselho de Segurança poderes para adotar as medidas 
destinadas a manter ou restabelecer a paz e segurança internacionais. 
Destacamos, a seguir, algumas espécies de intervenção: 
- intervenção em nome do direito de defesa e conservação; 
- intervenção para proteção dos direitos humanos; 
- intervenção para proteção dos nacionais 
 
 3.3 RESPONSABILIDADE POR DANOS 
A responsabilidade internacional impõe a todo o Estado que der causa a um ato ilícito em 
desfavor de outro Estado o dever de reparar o dano de forma adequada. Conforme explica Rezek 
“Cuida-se de uma relação entre sujeitos de direito das gentes: tanto vale dizer que, apesar de 
deduzido em linguagem tradicional, com mera referência a Estados soberanos, o conceito se aplica 
igualmente às organizações internacionais”. 13 
De acordo com a melhor doutrina constituem elementos essenciais para a apuração da 
responsabilidade internacional: 
- ato ilícito: para a caracterização do ilícito basta afronta a um princípio geral, uma regra 
costumeira, um dispositivo de tratado em vigor; 
- imputabilidade: a ação ou omissão deve ser imputada a uma pessoa jurídica inscrita na 
ordem internacional. Diz-se indireta quando o Estado responde por ilícito provocado por 
dependência sua (tutela ou protetorado). A responsabilidade direta do Estado advém quando a ação 
ou omissão decorre de seus órgãos de qualquer categoria hierárquica podendo, inclusive, ser 
responsabilizado em razão do exercício indevido de competências judiciárias ou legislativas. 
- dano: para se falar em responsabilidade internacional deve existir dano. Esse dano não 
necessariamente será de cunho material, ou seja, haverá dano muitas vezes destituído de valor 
econômico. Igualmente, somente o Estado que sofrer o dano estará legitimado a pleitear a 
reparação. 
 
12 SILVA & ACCIOLY, op. cit., p. 112. 
13 Op. Cit., p. 271. 
 
 
 
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Observação: Há casos em que a ilicitude será excluída, como por exemplo, nos casos de 
legítima defesa levada a efeito por um Estado que venha a sofrer um ataque armado.14 Além dessa 
excludente a doutrina revela mais três causas: represálias – compreende atos em si mesmo ilícitos, 
porém justificados como único meio de combate a outros atos igualmente ilícitos. Só podem ser 
admitidas em face de um ato prévio que constitua infração ao direito, contrária a quem as emprega 
e, se proporcionais à gravidade da infração. Pode acrescer-se ainda, a condição de que o ofendido 
não tenha encontrado um meio lícito de impedir a violação de seu direito. Prescrição liberatória – o 
elemento básico da prescrição liberatória ou extintiva, em matéria internacional, é o silêncio do 
credor durante umespaço de tempo mais ou menos longo, sobre o que, a jurisprudência arbitral já 
indicou a necessidade, para aplicação, de que seja invocada. Culpa do lesado – considera-se que a 
responsabilidade do Estado pode desaparecer ou ser atenuada, quando o comportamento do 
indivíduo tenha dado ensejo ao fato gerador do dano ou tenha fortemente contribuído para a 
ocorrência. 
Nos casos de responsabilidade internacional por lesão a um indivíduo, o Estado de origem 
desse indivíduo poderá exercer seu direito de proteção diplomática. Nada mais é que o Estado da 
nacionalidade lesada poderá apresentar uma reclamação, via diplomática, contra o Estado infrator 
para obter a devida reparação15. Essa outorga de proteção diplomática de um Estado a um particular 
chama-se endosso e tem como pressupostos a nacionalidade, ou seja, o Estado que confere o 
endosso deve ser o da nacionalidade do particular, e o esgotamento dos recursos judiciais locais do 
Estado que praticou a lesão. 
 
 
 
 
 
 4.1 IMIGRAÇÃO 
Imigrante é a pessoa que sai de seu país e entra em outro, temporariamente ou 
permanentemente, com intenção de trabalho ou residência. A imigração em geral ocorre por 
iniciativa pessoal, pela busca de melhores condições de vida e de trabalho por parte dos que 
imigram, ou ainda para fugir de perseguições ou discriminações por motivos religiosos ou políticos. 
Tais acontecimentos foram os principais motivos dos movimentos migratórios ocorridos da 
Europa e da Ásia para as Américas no século XIX e também no início do século XX (muito embora 
houvesse também o interesse na entrada de imigrantes, por razões demográficas ou para o 
"branqueamento" de sua população, por parte dos países de acolhimento). Mas pode também ser 
incentivada por países que queiram aumentar o tamanho e/ou a qualificação de sua população, 
como ainda fazem, por exemplo, o Canadá e Austrália desde o século XX. 
 
 
 
 
14 Carta da ONU, artigo 51 – “Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de 
ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias 
para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse direito de legítima defesa 
serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade 
que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao 
restabelecimento da paz e da segurança internacionais”. 
15 AMARAL, op. cit., p. 83. 
 
 
 
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 4.2 NACIONALIDADE BRASILEIRA 
O direito à nacionalidade apresenta duas facetas. Trata-se de direito fundamental e de um 
direito humano. É direito fundamental, reconhecido em âmbito interno, pois consta do catálogo do 
Título II de nossa Constituição. É direito humano, pois se liga ao gênero humano. Toda pessoa, então, 
pelo simples fato de existir, deve ter direito a uma nacionalidade, como se encontra estabelecido no 
art. XV da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Daí o esforço que se tem verificado nos 
últimos anos para reduzir os casos de pessoas sem nacionalidade, os denominados apátridas, em 
virtude de conflito negativo de nacionalidades. Como direito fundamental, é tratado pelo Direito 
Constitucional, enquanto que, como direito humano, é da alçada do Direito Internacional Público. 
Para alguns autores, a nacionalidade é um vínculo jurídico. Para outros, trata-se de vínculo 
político. Entretanto, parece haver consenso no sentido de ser a nacionalidade, a um só tempo, uma 
ligação jurídica e política que se estabelece entre o indivíduo e o Estado. 
A nacionalidade pode ser adquirida por diferentes formas. Levando-se em consideração o 
critério do tempo, pode-se classificar a nacionalidade em duas categorias: nacionalidade originária e 
nacionalidade derivada, esta última também chamada de secundária ou, impropriamente, adquirida. 
Para a atribuição da nacionalidade originária, aquela que se alcança pelo nascimento, pode-se 
apontar dois sistemas legislativos: jus soli e jus sanguinis. Ressalte-se, contudo, que esses sistemas 
não são adotados de forma inflexível, admitindo-se temperamentos. 
 No sistema do jus soli, a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o 
indivíduo tenha nascido. Pelo sistema do jus sanguinis, a nacionalidade originária obtém-se de 
acordo com a dos pais, à época do nascimento. Ambos os sistemas são adotados pelo Brasil. 
A nacionalidade derivada ou secundária é alcançada por meio da naturalização, hoje 
predominantemente voluntária, embora no passado tenham ocorrido casos de naturalização 
imposta, e por meio do casamento. Quando a naturalização ocorre de forma voluntária, o 
naturalizado perde a nacionalidade anterior, constituindo-se manifestação do direito de renúncia, 
que, em algumas legislações, pode ser tácita. 
No Brasil, segundo o artigo 12 da Constituição Federal, a aquisição originária da nacionalidade 
(primária, brasileiros natos) se dá nos seguintes casos: 
 
Já a naturalização é forma derivada de aquisição da nacionalidade. Sua concessão, em regra, é 
feita discricionariamente pelo Estado, segundo suas conveniências. Desse modo, ainda que 
preenchidos determinados requisitos, por não haver, em princípio, direito público subjetivo à 
 
 
 
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naturalização, pode ao estrangeiro ser negada a aquisição da nacionalidade brasileira. No Brasil, a 
concessão da naturalização é de competência exclusiva do Poder Executivo. Assim a naturalização é 
um ato unilateral e discricionário do Estado no exercício de sua soberania, exceto no caso do artigo 
12, II, b da Constituição federal. 
 A Constituição de 1988, no art. 12, II, não prevê hipóteses de nacionalização tácita. Ao 
contrário do que ocorre com a nacionalidade originária, casos de aquisição de nacionalidade 
secundária podem ser definidos por legislação infraconstitucional, tendo em vista a expressão "na 
forma da lei", constante do art. 12, II, a. 
 Nossa Constituição prevê duas formas de naturalização expressa, que depende de manifestação 
de vontade do naturalizando: ordinária (art. 12, II, a) e extraordinária (art. 12, II, b). 
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de 
países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; 
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há 
mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade 
brasileira. 
Em relação à naturalização ordinária, cabe distinguir entre estrangeiros a) não-originários de 
países de língua portuguesa e b) originários de países de língua portuguesa. 
Os estrangeiros que não sejam oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, de 
acordo com o art. 112 do Estatuto do Estrangeiro, interessados em naturalizar-se devem 
corresponder às seguintes exigências: 
- Capacidade civil segundo a lei brasileira; 
- Possuir visto permanente; 
- Residência contínua por quatro anos; 
- Ler e escrever em português; 
- Boa conduta e boa saúde; 
- Exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; 
- Bom procedimento; 
- Inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso 
a que sejacominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada superior a um ano. 
 
Entretanto, os estrangeiros originários de países de língua portuguesa devem ter apenas: 
- Capacidade civil; 
- Residência por um ano ininterrupto no Brasil; 
- Idoneidade moral, para requererem a nacionalidade brasileira. 
As formas de perda da nacionalidade brasileira encontram-se previstas no art.12, § 4º, da 
Constituição Federal. Assim, perde-se a condição de brasileiro pelas seguintes formas: a) 
cancelamento da naturalização (perda-punição) e b) naturalização voluntária (perda-mudança). 
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: 
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao 
interesse nacional; 
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; 
 
 
 
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b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado 
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos 
civis 
 
Ocorre cancelamento da naturalização, quando recair sobre o naturalizado sentença penal 
condenatória transitada em julgado, por ato nocivo ao interesse nacional. Os efeitos do 
cancelamento da naturalização não retroagem, são ex nunc. 
A segunda hipótese de perda da nacionalidade brasileira consiste na naturalização voluntária, 
que compreende o pedido e a aceitação da nacionalidade de outro Estado. Contudo, a aceitação de 
nacionalidade originária concedida por lei estrangeira não importa a perda da nacionalidade 
brasileira, pois a aquisição da nacionalidade do outro país não decorre da vontade do indivíduo. Da 
mesma forma, a imposição de naturalização, por lei estrangeira, a brasileiro residente no exterior, 
como condição de permanência e de exercício de direitos civis, não lhe retira a nacionalidade 
brasileira, por faltar voluntariedade. 
Observação: em princípio, não há distinção entre brasileiros natos e naturalizados. As únicas 
distinções que devem existir estão previstas na Constituição, não podendo a lei estabelecer outras 
(art. 12, § 2º). Os casos previstos na Constituição são: extradição (art. 5º, LI), cargos (art. 12, § 3º), 
função (art. 89, VII), direito de propriedade (art. 222), e perda da nacionalidade (art. 12, § 4º, I). 
Consoante o art. 36 da Lei n. 818 de 1949, em caso de cancelamento da naturalização (perda-
punição), esta não será mais recuperada, a menos que seja desfeito o cancelamento por ação 
rescisória. Por outra via, caso a perda da nacionalidade decorra de naturalização voluntária (perda-
mudança), poderá ser readquirida, em caso de domicílio no Brasil, por decreto do Presidente da 
República. 
 
 4.3 CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRANGEIROS 
Condição jurídica do estrangeiro é o conjunto de direitos que o mesmo goza em determinado 
país, que não o de sua origem, em certa época. É o estado de estrangeiro em oposição ao estado de 
nacional. 
Segundo Accioly, "É o direito público interno de cada Estado que fixa seus direitos e deveres 
nas relações jurídicas com seus nacionais, dentro dos limites de seu território. Quando, porém, se 
trata de nacionais que residem em país estrangeiro, suas relações com os Estados aos quais 
pertencem entram na esfera do direito internacional".16 
Assim, inúmeras são as Convenções Internacionais que dispõe sobre a condição jurídica do 
estrangeiro, merecendo destaque: 
- Convenção de Havana, de 1928, que dispõe em seu artigo 1°: "Os Estados têm o direito de 
fixar, por meio de leis, as condições de entrada e residência dos estrangeiros nos seus territórios"; 
- Convenção de Haia, de 1930, que dispõe no seu artigo 1°: "Cabe a cada Estado determinar por 
sua legislação quais são os seus nacionais. Essa legislação será aceita por todos os outros Estados, 
desde que esteja de acordo com as convenções internacionais, o costume internacional e os princípios 
de direito geralmente reconhecidos em matéria de nacionalidade"; 
- Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados, assinada em Montevidéu, em 1933, que 
acolheu, em seu artigo 9°, o princípio da igualdade entre nacionais e estrangeiros. 
 
16 ACCIOLY, op. cit., p. 78. 
 
 
 
 
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Nesse sentido, os direitos que, segundo o Direito Internacional, devem ser reconhecidos aos 
estrangeiros são: os direitos do homem, ou individuais, isto é, a liberdade individual e a 
inviolabilidade da pessoa humana, com todas as consequências daí decorrentes, tais como a 
liberdade de consciência, a de culto, a inviolabilidade do domicílio, o direito de comerciar, o direito 
de propriedade, os direitos civis e de família. 
O ordenamento jurídico brasileiro garante direito e atribui deveres aos estrangeiros em seu 
território, por intermédio de vários dispositivos constitucionais e legais. Os direitos e deveres 
individuais e coletivos são assegurados pela Constituição Federal, nos termos do Art. 5°: "Todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, ...". Por meio deste dispositivo, o estrangeiro goza dos mesmos direitos 
fundamentais que o brasileiro. 
A Constituição garante ainda que nenhum estrangeiro será extraditado por crime político ou 
de opinião (Art. 5°, LII). Entretanto, a própria Constituição Federal estabelece algumas restrições à 
equiparação de direitos definida no seu artigo 5°. Assim, nega aos estrangeiros o direito ao voto (Art. 
14, § 2°) e impõe limitações à aquisição ou arrendamento de propriedade rural (Art. 190). 
A Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro, define a 
situação jurídica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração, e dá outras 
providências. Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto n°. 86.715, de 10 de dezembro de 1981. 
O Estatuto do Estrangeiro positivou no ordenamento jurídico pátrio a tradição brasileira de 
liberalidade no tratamento aos estrangeiros, turistas ou imigrantes, e o respeito do Brasil aos 
costumes internacionais. Assim, reza o seu art. 1°: "Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poderá, 
satisfeitas as condições desta Lei, entrar e permanecer no Brasil e dele sair, resguardados os 
interesses nacionais." 
O estrangeiro, para entrar no Brasil, deve satisfazer as condições estabelecidas no Estatuto do 
Estrangeiro, dentre as quais ressalta a exigência da obtenção de visto de entrada, que pode ser de 
trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial ou diplomático. Como nessa área 
predomina o poder discricionário do Estado, o visto constitui mera expectativa de direito. 
 
 4.4 DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO, EXTRADIÇÃO, ASILO 
Tendo ingressado no território brasileiro, o estrangeiro passa a se submeter às regras de 
extradição, expulsão e deportação. Na deportação e na expulsão a questão é administrativa. Há 
doutrinadores que as chamam de “sanções administrativas”. Não há participação do Poder Judiciário. 
No entanto, na extradição, há participação do Poder Judiciário, sendo a competência do STF (CF, art. 
102, I, “g”), para o exame de sua legalidade. 
Deportação – é a saída compulsória do estrangeiro do território nacional, baseado em: 
a) o seu ingresso irregular no país (clandestino); ou 
b) a permanência irregular (o estrangeiro entrou no país regularmente, mas a sua permanência 
se tornou irregular).As causas de deportação são absolutamente estranhas à prática de crime. Os seus efeitos são 
imediatos, bastando a configuração da causa que a legitimou para que se opere, 
independentemente, de manifestação da Justiça ou de participação do Governo. 
Quem deporta é o departamento de Polícia Federal, por meio de seus agentes. O art. 57, 
“caput”, do Estatuto do Estrangeiro (Lei nº. 6.815/1980), prevê que “nos casos de entrada ou estada 
irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado 
 
 
 
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em Regulamento, será promovida sua deportação”. Esse prazo é de três a oito dias. O estrangeiro 
deportado pode retornar ao país, desde que com a documentação regularizada e caso esteja sanada 
a irregularidade causadora da deportação, pois não se trata de penalidade, mas de medida 
administrativa. 
Expulsão – é a medida repressiva por meio da qual se retira do território nacional aquele 
estrangeiro que, de alguma forma, ofendeu ou violou as leis locais, a ordem pública, os bons 
costumes ou a soberania ou integridade territorial do Estado. 
O estrangeiro expulso deverá ser entregue ao primeiro país que aceitá-lo, embora o seu Estado 
patrial tenha o dever de recebê-lo. O art. 66 do Estatuto do Estrangeiro prevê que caberá 
exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência e a oportunidade da 
expulsão ou de sua revogação. Essa competência foi delegada por meio do decreto 3347/00 ao 
Ministro da Justiça. 
A consequência da expulsão é que não há a possibilidade de retorno do expulso ao território 
nacional. No Brasil, passa a ser considerado “persona non grata”. O art. 65 do Estatuto do 
Estrangeiro enumera os casos que ensejam a expulsão. 
Já o art. 22 da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José de Costa Rica), 
em seu § 8º prevê que “em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, 
seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de violação em 
virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas”. Essa regra 
não consta da CF/88 e nem de leis nacionais. Por outro lado, o §9º proíbe a expulsão coletiva de 
estrangeiros. 
O art. 75, II do Estatuto do Estrangeiro prevê outros casos de proibição de expulsão: 
- se configurar extradição dissimulada ou de fato; 
- quando o estrangeiro tiver cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de 
fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de cinco (cinco) anos; ou 
filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente. 
O § 1º prevê que “não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de 
filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar”, e o § 2º prevê que, “verificados o abandono 
do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer 
tempo”. 
Expulsão não é banimento e não é desterro. Banimento também é retirada compulsória do 
território nacional, mas refere-se a nacionais. Desterro, por sua vez, é o isolamento do nacional 
dentro do território nacional. 
 
Extradição – é o ato pelo qual um Estado entrega à Justiça Penal de outro um indivíduo lá 
processado ou condenado e aqui encontrado. O fundamento da extradição é a cooperação dos 
Estados na repressão de crimes (cooperação internacional para prevenção e repressão de crimes). O 
Supremo Tribunal Federal é o órgão competente para decidir originariamente sobre a legalidade do 
pedido de extradição formulado pelo Poder Executivo do Estado estrangeiro ao Governo Brasileiro. 
A sua materialização decorre: 
- da existência de um Tratado; ou 
- com base no Princípio da Reciprocidade. 
 
O tratado de extradição não cria o direito, mas enumera os crimes que dão ensejo a ele. Para 
que haja extradição é preciso que o crime cometido esteja tipificado no ordenamento jurídico 
brasileiro, ainda que com outro nome. 
A extradição pressupõe sempre: 
- a existência de dois Estados soberanos; 
- a similitude do tipo penal; 
 
 
 
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- a existência de processo penal, em andamento ou findo, no país de origem; 
- a existência de crime comum (crimes de opinião ou políticos não ensejam a extradição). 
- ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao 
extraditando as leis penais desse Estado; e 
- existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada 
por Juiz, Tribunal ou autoridade competente do Estado requerente. 
Classificação da Extradição: 
a) Extradição Ativa e Passiva. Ativa é aquela em que o nosso país requer a extradição de um 
nacional foragido. Passiva é a que ocorre quando um país estrangeiro requer a extradição de um 
foragido seu (deve ser requerida pelo Governo estrangeiro, não podendo ser concedida de ofício); 
b) Extradição Instrutória e Executória – se o processo penal no estrangeiro está em 
andamento, a extradição é instrutória. Se já foi concluído, é executória (cumprimento de pena). 
 
Asilo político - consoante Rezek, “é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido 
alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial – por causa de 
dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do 
Estado, não configuram quebra do direito penal comum”.17 
A Constituição Federal, no art. 4º, X, dispõe o asilo como um dos princípios que regem as 
relações internacionais da República Federativa do Brasil. Trata-se de instituto ligado ao Direito 
Internacional Público, com fundamento nos direitos humanos e no dever de solidariedade 
internacional a todos aqueles oprimidos por regimes baseados na força e no arbítrio. 
O asilado político no Brasil se sujeita às disposições pertinentes do Estatuto do Estrangeiro. 
Dessa forma, não poderá sair do Brasil sem autorização do governo federal, sob pena de perder o 
direito de asilo e de impedimento de retorno nessa condição. 
A admissão do estrangeiro, nesse caso, pode ser admitida de duas formas: 
- asilo diplomático: proteção conferida ao estrangeiro em embaixadas, navios aeronaves 
governamentais etc; 
- asilo territorial: se constitui no próprio território do Estado em que o estrangeiro tenha 
ingressado e aí tenha requerido o asilo. 
 
 
 
 
5.1 CRIMES CONTRA A HUMANIDADE 
Crime contra a Humanidade é um termo de direito internacional que descreve atos de 
perseguição, agressão ou assassinato contra um grupo de indivíduos, ou expurgos, assim como o 
genocídio, passíveis de julgamento por tribunais internacionais por caracterizarem a maior ofensa 
possível. 
 
17 Op. Cit., p. 219. 
 
 
 
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Em julho de 1998, representantes de 120 países reunidos em uma conferência em Roma 
aprovam o projeto de criação de um Tribunal Penal Internacional Permanente. A Corte Penal 
Internacional (CPI) ou Tribunal Penal Internacional (TPI) é a primeira corte penal internacional 
permanente. Tem jurisdição não-retroativa e complementar ao do Estado da nacionalidade do réu. O 
exercício da sua jurisdição pressupõe o consentimento do Estado onde ocorreu o crime e do Estado 
de origem do réu. Foi estabelecida em 2002, em Haia, nos Países Baixos. 
Consoante o artigo 5º do Estatuto de Roma, a competênciado Tribunal restringiu-se aos 
crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do referido 
Estatuto, o Tribunal tem competência para julgar os seguintes crimes: 
 
 
 
Além disso, o Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão 
desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o 
crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. 
Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas. 
Observação: Embora contestado pela doutrina, os crimes internacionais podem ser 
submetidos a tribunais internacionais chamados ad hoc, como foi o caso do Tribunal de Nuremberg. 
 
5.2 PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, ACORDOS E 
MECANISMOS; 
Ao longo da segunda metade do século XX, desenvolveu-se o ramo do direito atualmente 
conhecido como Direito Internacional dos Direitos Humanos. A fundação da Organização das Nações 
Unidas marca o início dos esforços pela proteção ao ser humano, não como cidadão de um Estado, 
não como trabalhador ou em determinadas situações ou sob certas condições, mas do ser humano 
propriamente considerado. 
A Carta das Nações Unidas, o tratado multilateral de 1945 que instituiu a Organização, incluiu 
entre seus objetivos a proteção internacional dos direitos humanos. De fato, já em sua primeira 
sessão regular (1947-1948), a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas – órgão subsidiário 
do Conselho Econômico e Social (Ecosoc) – elaborou um projeto de Declaração Universal dos Direitos 
do Homem, que veio a ser aprovado sem dissensões por resolução da Assembleia Geral, em 
dezembro de 1948. 
Desta forma restou expresso no preâmbulo da Declaração “A Assembleia Geral proclama a 
presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos 
e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os orgãos da sociedade, tendo-a 
constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito 
desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e 
internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as 
populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua 
jurisdição”. 
 
 
 
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A Declaração é considerada o núcleo da Carta Internacional de Direitos Humanos, a qual é 
integrada também pelos Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, ambos de 1966. Esses Pactos, sim, são tratados multilaterais e acarretam 
obrigação juridicamente cogentes às suas partes. A Carta e as quatro convenções internacionais 
temáticas são consideradas o núcleo duro legislativo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, 
no que diz respeito às Nações Unidas.18 
Além dessa estrutura do sistema das Nações Unidas, a necessidade de responder a desafios e 
violações específicos levou à elaboração de um vasto corpus normativo de proteção internacional 
aos direitos humanos, cujos instrumentos variam em origem (Nações Unidas, agências especializadas 
e organizações regionais), natureza e efeitos jurídicos (de declarações a convenções ratificadas); 
âmbito de aplicação (global ou regional); destinatários ou beneficiários (geral ou setorial); órgãos 
exercendo distintas funções (informação, instrução, conciliação e tomada de decisão); e mecanismos 
de controle e supervisão (métodos de petições ou denúncias, relatórios e investigações); e no 
próprio escopo de direitos protegidos. 19 
No que diz respeito ao âmbito de aplicação das normas, foram estabelecidos sistemas 
regionais de proteção aos direitos humanos, que guardam uma relação de complementari-dade com 
o sistema da ONU. Segundo relatório da Comissão para o Estudo da Organização da Paz, “o 
instrumento global deve conter um standard normativo mínimo, enquanto que o instrumento 
regional deve ir além, adicionando novos direitos, aperfeiçoando outros, levando em consideração as 
diferenças peculiares em uma mesma região ou entre uma região e outra”.20 
Com relação às Américas, seu sistema de proteção teve início antes mesmo da Declaração 
Universal da ONU e se estrutura em torno da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do 
Homem, aprovada pela IX Conferência Internacional Americana, em abril de 1948. Além dessa 
Declaração, o instrumento mais importante dessa região é a Convenção Americana de Direitos 
Humanos, ou Pacto de San José de Costa Rica (1969). Por praticamente só contemplar direitos civis e 
políticos, essa Convenção foi completada por um Protocolo Adicional em Matéria de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), de 1988, o qual prevê o envio de 
relatórios sobre medidas adotadas e processos alcançados no que se refere aos mecanismos de 
proteção, efetivação e monitoramento dos Direitos Humanos consagrados no seu texto; 
 A Convenção Americana de Direitos Humanos prevê, logo em seus primeiros artigos que os 
Estados-partes comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir 
seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação 
alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra 
natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição 
social. Segundo a Convenção, toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve 
ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da 
vida arbitrariamente, sendo que nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só 
poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal 
competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o 
delito sido cometido. Além disso, a Convenção Interamericana dispõe que a pena de morte não 
poderá ser imposta àquele que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, 
nem aplicada à mulher em estado gestacional. 
 
18 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O direito internacional em um mundo em transformação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. Cap. 14. p. 
634. 
19 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos . 
São Paulo: Saraiva, 1991 p. 3. 
20 PIOVESAN, Flávia, "Introdução ao Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: a Convenção Americana de Direitos 
Humanos" in: GOMES, Luiz Flávio e PIOVESAN, Flávia (Coord.). O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2000. Cap. I. p. 24). 
 
 
 
 
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O sistema interamericano conta com uma Comissão e uma Corte de direitos humanos, que 
analisam e buscam reparações para violações da Convenção. Como só a Comissão aceita denúncias 
feitas por indivíduos e grupos, na prática, ela funciona como um filtro que condiciona a chegada das 
mesmas à Corte. A jurisdição desses órgãos é facultativa aos Estados-membros da OEA. 
 
 São submetidas ao exame da Comissão denúncias ou queixas formuladas por qualquer 
pessoa ou grupo de pessoas, entidades não-governamentais e Estados-Partes. É necessário, contudo, 
que o Estado denunciado tenha reconhecido a competência da Comissão para equacionar o conflito. 
Não obstante, é preciso salientar que, para quequalquer denúncia ou queixa chegue à 
Comissão, a Convenção determina o preenchimento de alguns requisitos de admissibilidade, dentre 
os quais, destaca-se a necessidade de esgotamento dos recursos proporcionados pela jurisdição 
interna (regra de esgotamento dos remédios locais). 
A Comissão e os Estados Membros têm poderes para submeter a matéria à análise da 
Corte Interamericana de Direitos Humanos. Partes privadas não poderão iniciar uma demanda na 
Corte, mas poderão apresentar solicitações, argumentos e provas de forma autônoma durante o 
processo perante a Corte (art. 23, 1 do Regimento da Corte). As sentenças da Corte são definitivas e 
inapeláveis, podendo, se for o caso, ordenar o pagamento de indenização justa à parte lesada. 
Tanto a Comissão quanto a Corte Interamericana podem emitir decisões liminares, no 
caso de perigo atual ou iminente que pode causar danos irreparáveis às vítimas. No caso da 
Comissão, as medidas emergenciais são chamadas cautelares e, no caso da Corte, provisórias. Em se 
tratando de questões ainda não submetidas à análise da Corte, esta poderá editar medidas 
provisórias a pedido da Comissão. Isso porque as medidas cautelares estão previstas no Regulamento 
da Comissão, que foi aprovado por meio de uma Resolução da Assembléia Geral da OEA, deste 
modo, não possuem status convencional, ou seja, não têm obrigatoriedade de tratado. As medidas 
provisórias, por outro lado, encontram-se previstas no artigo 63 (2) da Convenção Americana de 
Direitos Humanos e no art. 25 do Regulamento da Corte21. Desta feita, sua aceitação ou desrespeito 
pelo Estado torna-se uma violação internacional. 
As medidas provisórias: (i) baseiam-se na presunção razoável de que os fatos alegados 
correspondem à verdade; e (ii) têm caráter tutelar, pois salvaguardam o direito, não se limitando a 
assegurar a eficácia da prestação jurisdicional. 
Tradicionalmente, as medidas provisórias visavam apenas a proteger a vida e a 
integridade física das pessoas. Atualmente, contudo, atendendo ao princípio da indivisibilidade dos 
direitos humanos, o escopo dos direitos protegidos tem sido ampliado para abranger direitos como a 
saúde (distribuição de remédios), liberdade pessoal, de locomoção, direito à propriedade, à 
educação e à nacionalidade. 
 
 
 
 
21 Artigo 25. Medidas Provisórias 
 1. Em qualquer fase do processo, sempre que se tratar de casos de extrema gravidade e urgência e quando for necessário para evitar 
prejuízos irreparáveis às pessoas, a Corte, ex officio ou a pedido de qualquer das partes, poderá ordenar as medidas provisórias que 
considerar pertinentes, nos termos do artigo 63.2 da Convenção. 
2. Tratando-se de assuntos ainda não submetidos à sua consideração, a Corte poderá atuar por solicitação da Comissão. 
3. Nos casos contenciosos que já se encontrem em conhecimento da Corte, as vítimas ou as supostas vítimas, seus familiares ou seus 
representantes devidamente acreditados, poderão apresentar diretamente a esta uma petição de medidas provisórias em relação aos 
referidos casos[†]. 
4. A solicitação pode ser apresentada ao Presidente, a qualquer um dos juízes ou à Secretaria, por qualquer meio de comunicação. Seja 
como for, quem houver recebido a solicitação deverá levá-la ao imediato conhecimento do Presidente. 
5. Se a Corte não estiver reunida, o Presidente, em consulta com a Comissão Permanente e, se for possível, com os demais juízes, requererá 
do governo interessado que tome as providências urgentes necessárias a fim de assegurar a eficácia das medidas provisórias que a Corte 
venha a adotar depois em seu próximo período de sessões. 
6. Os beneficiários de medidas provisórias ou medidas urgentes do Presidente poderão apresentar diretamente à Corte suas observações 
ao relatório do Estado. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos deverá apresentar observações ao relatório do Estado e às 
observações dos beneficiários das medidas ou seus representantes. 
7. A Corte, ou seu Presidente se esta não estiver reunida, poderá convocar as partes a uma audiência pública sobre as medidas provisórias. 
8. A Corte incluirá em seu Relatório Anual à Assembléia Geral uma relação das medidas provisórias que tenha ordenado durante o período 
do relatório e, quando tais medidas não tenham sido devidamente executadas, formulará as recomendações que considere pertinentes. 
 
 
 
 
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No âmbito da proteção dos direitos humanos, podemos, ainda, destacar: 
(i)A Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, 
ratificada pelo Brasil, a qual possui um protocolo facultativo, que permite a apresentação de 
denúnicas sobre violação dos direitos por ela consagrados. Segundo a Convenção, a expressão 
"discriminação contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e 
que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela 
mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos 
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil 
ou em qualquer outro campo; 
 
(ii) O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que prevê que todos os povos têm 
direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e 
asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural. Há, ainda, a previsão do 
envio de relatórios de monitoramento, como ocorre no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais; 
 
 
(iii) A Convenção sobre os Direitos da Criança, a qual determina, dentre outras, a obrigação de 
os Estados-Partes zelarem para que a criança tenha acesso a informações e materiais procedentes de 
diversas fontes nacionais e internacionais, especialmente informações e materiais que visem a 
promover seu bem-estar social, espiritual e moral e sua saúde física e mental, encorajando os órgãos 
de comunicação social a levar em conta as necessidades liguísticas das crianças indígenas ou que 
pertençam a um grupo minoritário. 
 
 
5.3 PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE EM NÍVEL 
INTERNACIONAL 
A proteção internacional do meio ambiente teve como marco duas Conferências 
Internacionais de grande repercussão. A primeira, em 1972, realizada em Estocolmo e a segunda, a 
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro 
em 1992. 
Tais Conferências propiciaram a consolidação de princípios norteadores de uma efetiva 
proteção ambiental a ser realizada, principalmente, pelos países ditos desenvolvidos. 
Assim, a partir destas Conferências foram estabelecidos os princípios que atualmente regem a 
proteção ambiental internacional: 
- princípio do desenvolvimento sustentável; 
- princípio da cooperação; 
- princípio da precaução e prevenção; 
- princípio do poluidor-pagador; 
- princípio do fornecimento de informações e consulta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 6.1 ARBITRAGEM INTERNACIONAL 
Conflito internacional é todo o desacordo que se estabelecer sobre certo ponto de direito ou 
de fato ou toda a contradição ou oposição de teses jurídicas ou de interesses entre dois Estados. Vale 
lembrar que outros sujeitos que não os Estados soberanos poderão ser protagonistas em um conflito 
internacional, como as organizações internacionais. 
Hodiernamente o Direito Internacional passou a repudiar veementemente o uso da força 
bélica para a solução de conflitos, optando,

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