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1 PROJETO DA MORTE Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi/RN DOSSIÊ-DENÚNCIA 2 SUMARIO 1. APRESENTAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 03 2. DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS--------------------------------------------------------- 04 3. DAS AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO HISTORICO E CULTURAL ---------------- 10 4. DAS AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO ---------------------------------------- 13 5. DA EXPERIÊNCIA DO PERÍMETRO IRRIGADO JAGUARIBE-APODI ------ 23 6. DOS IMPACTOS À PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA E CAMPONESA E FAMILIAR ------------------------------------------------------------------------------------------ 17 7. DO REQUERIMENTO ------------------------------------------------------------------------ 23 8. ANEXO I ------------------------------------------------------------------------------------------ 24 9. ANEXO II ----------------------------------------------------------------------------------------- 34 3 1. APRESENTAÇÃO Aos vinte e oito dias do mês de agosto do corrente ano foi assinada a ordem de serviço (OS) do “Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi” que, capitaneado pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS, deverá ser instalado na região da Chapada do Apodi, entre os municípios de Apodi e Felipe Guerra, ambos no estado do Rio Grande do Norte. O referido projeto pretende desapropriar cerca de 13.855 ha (treze mil oitocentos e cinquenta e cinco) hectares para a implementação de um programa de fruticultura irrigada. Na localidade, compreendendo a área a ser desapropriada e a de influência indireta, hoje habitam cerca de 800 famílias divididas em cerca de 30 comunidades rurais. Tais grupos populacionais possuem aspectos culturais, históricos e sócio- econômicos próprios, sendo referência nacional em produção agroecológica e familiar e que, devido ao modo como o projeto está sendo executado, estão na iminência de uma série de violações aos seus Direitos Humanos, culturais, históricos e patrimoniais. A região apresenta, também, características de relevo, fauna e flora peculiares, possuindo uma ampla lista de espécies endêmicas, bem como formações arqueológicas de grande importância para o patrimônio e histórico e cultural brasileiro que, da mesma forma, encontram-se em risco latente de degradação. Identificamos que, em seu atual contexto, a qualquer momento pode/deve o projeto ser embargado, uma vez que tecnicamente inviável e inexequível. Aceitar sua continuidade, nos moldes até agora propostos, é assumir o risco do dispêndio de milhões de reais dos cofres públicos sem nenhuma perspectiva de resultado econômico e social além de servir como propulsor de uma das maiores tragédias do sertão nordestino dos últimos cem anos. Este documento é uma coletânea das principais irregularidades que afloram no projeto do perímetro irrigado da chapada do Apodi/RN, mas não apenas isso, é, sobretudo, um grito de denúncia ecoado pelas centenas de famílias em iminência de serem expulsas de suas terras e ter sua história apagada. Subscrevem esse dossiê-denúncia as seguintes entidades: A Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares dos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará – RENAP/RN-CE, Comissão Pastoral da Terra, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi/RN, Via Campesina, O Grupo de Estudos em 4 Direito Crítico, Marxismo e América Latina – GEDIC, Projeto Ser-tão, Coopervida, FETARN, Centro Feminista 08 de março, Centro Terra Viva, Rede Pardal, ASA – Potiguar, Fórum da Agricultura Familiar de Apodi, Associação dos Pequenos Produtores da Agrovila Palmares, Escritório Popular, Centro de Referência em Direitos Humanos – UFRN, Pastoral Operária/RN, Mire, Grito dos excluídos/as, com endereço para recebimento de correspondências sobre este feito à Praça da Redenção, 268, Ed. Herculana Praxedes – Sala 303, Centro, Mossoró/RN, na pessoa do Dr. João Paulo do Vale de Medeiros, bem como com correio eletrônico emdefesadachapada1@hotmail.com, que requerem de Vossa Senhoria APURAÇÃO e RESPONSABILIZAÇÃO dos fatos, pelos motivos expostos: 1. DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS Os empreendimentos como os Perímetros Irrigados, segundo a legislação ambiental vigente, necessitam obrigatoriamente passar por um estudo aprofundado que possa dimensionar as agressões ao meio ambiente, bem como as violações humanas, históricas e sociais, não devendo ser tomado como mero protocolo ou formalidade administrativa no processo de licenciamento. Segundo o Relatório de Impactos Ambientais - RIMA, no que se refere à identificação e análise dos impactos ambientais, sejam eles diretos ou indiretos, devem haver “pesquisas com dados confiáveis que permitam a quantificar com precisão a magnitude do impacto causado em decorrência da irrigação” (fl. 76) prevista no projeto. No entanto, apesar do RIMA preconizar a análise exaustiva dos impactos, percebe-se clara inconsistência de dados no decorrer do estudo, pois não quantifica os impactos, tampouco oferece condições reais que possam dimensionar as agressões ao meio ambiente. As explicitações se reduzem às imprecisões no âmbito das possibilidades, não apresentando dados concretos que caracterizem as violações ao Meio Ambiente. Nesse sentido, com base no próprio RIMA, bem como em nossa Carta Magna, os impactos deveriam ter sido avaliados exaustivamente, de modo a garantir a proteção do Meio Ambiente, assim prevê o Art. 225, § 1º, IV da Constituição Federal: Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o 5 dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegura a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Entre os impactos apontados pelo RIMA, porém não aprofundados como deveria, podemos mencionar as agressões ao solo no momento da implantação do projeto, já que, segundo o relatório, haverá desmatamento de grande área e movimentos de terra (fl. 77). Outro ponto importante são as agressões que ocorrerão nas reservas hídricas, ocasionadas pelo escoamento de águas contaminadas por agrotóxico, defensivos agrícolas e fertilizantes utilizados pela produção da fruticultura irrigada. Além disso, verifica-se que com a implantação do projeto, principalmente em função do desmatamento e do manejo com o solo, seja de irrigação ou drenagem, poderão ocorrer problemas de erosão, assoreamento dos corpos de água e falta de controle no uso de fertilizantes e biocidas, além da salinização do solo decorrente do manejo incorreto da técnica e do sistema de drenagem. Tais problemas foram apontados no EIA-RIMA de maneira tão somente superficial, sem nenhuma análise quantitativa dos impactos. Entende-se que não se apresentaram claras as dimensões das agressões, os sujeitos afetados, nem tampouco houve a preocupação de apresentar alternativas a tais violações. O próprio RIMA (fl. 85) aponta a necessidade de que a descrição dos impactos seja feita através da discussão dos mesmos, um a um, associando-se cada ação do empreendimento a cada componente dos meios abiótico, biótico e antrópico. O relatório, apesar de trazer essa previsão, nãocontempla a análise detalhada e individualizada dos impactos. Foram apontados 58 (cinquenta e oito) impactos considerados negativos pelo RIMA, assim como consta na fl. 58, no entanto, não se cumpriu com a previsão de análise individualizada de nenhum destes. A descrição das agressões deveria ser expressa, contemplando todas as possibilidades de violações decorrentes da implantação do projeto. O próprio EIA-RIMA, em sua fl. 87, prevê que com a implantação desse Projeto pode ocorrer a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, devido ao uso de 6 fertilizantes e agrotóxicos, bem como erosão e salinização dos solos, enfatizando que a agricultura irrigada representa um agente potencial desses impactos. Ora, os pequenos agricultores da região da chapada do Apodi possuem uma experiência de mais de 50 (cinquenta) anos na prática da pequena irrigação, como atividade econômica complementar as atividades de sequeiro. Fato este que os faz representar uma das cadeias produtivas mais fortes e organizadas do território potiguar. O município de Apodi figurou, ainda, na lista das cinco cidades que mais se destacaram na produção agrícola e pecuária do Rio Grande do Norte, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) no território potiguar, sem a necessidade de recorrer a perímetros irrigados. Desse modo, nos resta a seguinte indagação: Por que o DNOCS, que tem a função de promover obras de combate à seca, planeja desenvolver um projeto que só vai gerar impactos ambientais, sociais e culturais negativos, em uma região que possui uma vasta experiência no âmbito da agricultura e da pecuária? Ainda dentro desse contexto, é importante lembrar que o RIMA prevê, também, o desmatamento da área onde o projeto será implantado, sugerindo três tipos de desmatamento a ser utilizado, a saber: desmatamento manual com destoca manual, desmatamento mecanizado e desmatamento manual sem destoca. O estudo enfatiza que: “O desmatamento trará prejuízos inevitáveis à fauna, mesmo tratando-se de uma área já modificada por ação antrópica, é preciso implantar medidas para o salvamento da fauna”, (fl. 94). Acrescentando, em sua fl. 95, que: “Com o desmatamento a população local ficará sujeita a acidentes com artrópodes, animais peçonhentos e mamíferos.” Percebe-se, nitidamente, que as medidas a serem adotadas para a implantação desse projeto acarretarão enormes prejuízos a fauna, a flora, bem como a população local. Posto que, além dos perigos citados acima, estarão expostos, direta e/ou indiretamente, aos agrotóxicos utilizados nas plantações. O referido relatório alerta para essa problemática, ao aduzir, na fl. 99, que: [...] o uso indiscriminado de agrotóxicos tem resultado em problemas ambientais graves, exigindo um controle rigoroso na sua aplicação. Os pesticidas, aplicados nas culturas, podem alcançar o solo, podendo aí permanecer por muito tempo, e serem carreados para os corpos d água. E continua asseverando que: 7 Entre as consequências negativas do uso indiscriminado de agrotóxicos, podem ser destacadas: danos à saúde humana; aumento do número de pragas resistentes, resultando na necessidade da utilização de outros pesticidas; destruição de plantas úteis; destruição de insetos úteis, como as abelhas e animais polinizadores; mortalidade de animais, como peixes, invertebrados aquáticos, aves e mamíferos silvestres; contaminação de alimentos de origem vegetal ou animal, acumulando-se na cadeia alimentar até alcançar o homem. É importante ressaltar que o Brasil é o líder mundial no uso de agrotóxicos desde 2009. Os impactos ao meio ambiente e à saúde pública tem sido apontados por diversos estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA e pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO. Atualmente já estão em processo de reavaliação 17 princípios ativos de agrotóxicos, que já são proibidos no exterior. Além disso, consta também nos estudos do Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde – TRAMAS/UFC, que os impactos à saúde e ao trabalhador estão intimamente ligados aos Perímetros Irrigados. Tal realidade é bastante preocupante em um território que há décadas se destaca na produção de mel e de poupas de frutas orgânicas, dentro da expressiva experiência de transição agroecológica da Chapada do Apodi. Assim, fica clara a incompatibilidade entre a matriz produtiva existente, baseada no não uso de defensivos agrícolas, com o modelo de produção de commodities em larga escala por meio da utilização de grande quantidade de venenos. Aproximadamente 30 comunidades organizadas cooperativamente e de produção agroecológica estão na iminência de serem atingidas pelo empreendimento, emergindo a necessidade de que os órgãos competentes realizem a defesa e incentivo às experiências sustentáveis supracitadas, assim como preconiza o Decreto nº 7794/12, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Figura como um retrocesso a implantação de um projeto que se baseia no uso intensivo de venenos e que vai de encontro a todas as recomendações dos órgãos de saúde pública, bem como dos diversos estudos realizados nas universidades brasileiras, além de desprivilegiar um modelo de produção sustentável e de respeito à vida e ao meio ambiente. É de suma importância, ainda, observar o que dispõe a Resolução nº1 - CONAMA, de 23 de janeiro de 1986, em seu Art. 11, §2º, que dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. 8 Art. 11. Respeitado o sigilo industrial, assim solicitando e demonstrando pelo interessado o RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão à disposição dos interessados, nos centros de documentação ou bibliotecas da SEMA e do órgão estadual de controle ambiental correspondente, inclusive durante o período de análise técnica. [...] § 2º Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e apresentação do RIMA, o órgão estadual competente ou a SEMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e, sempre que julgar necessário, promoverá a realização de audiência pública para informação sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA. Tal audiência, juntamente com o RIMA, serve de base para analise e parecer final do órgão ambiental licenciador, com relação à aprovação ou não do projeto a ser implantado. Desse modo, faz necessário que seja amplamente divulgada, bem como que demonstre todos os impactos que poderão ocorrer no local, e possibilite a participação das comunidades a serem afetadas, oportunizando, assim, àqueles que serão direta ou indiretamente atingidos o conhecimento sobre as agressões ambientais, sociais, econômicas e culturais a que serão expostos. No caso do Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi não se tem certeza de que tal audiência pública realmente ocorreu, posto que não houve a sua publicização. Portanto, se esta aconteceu foi realizada obscuramente, para assim encobrir os diversos impactos que atingirão a região da Chapada do Apodi se tal projeto se concretizar. Sendo assim, faz-se imprescindível a realização de uma nova audiência pública trazendo esclarecimentos sobre a implantação do referido projeto, e garantindo a efetiva participação daqueles que serão atingidos. Outro dispositivo de relevância para o processo de implantação do Projeto é a Resolução nº 237/97 - CONAMA, que trata da revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamentoambiental. O referido dispositivo, em seu Art. 10, VI, §2º, menciona: Art. 10. O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas: [...] 9 IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios; V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente; VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios; VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico; [...] § 2º No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto ambiental - EIA, se verificada a necessidade de nova complementação em decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o órgão ambiental competente, mediante decisão motivada e com a participação do empreendedor, poderá formular novo pedido de complementação. Assim, nos casos em que os esclarecimentos sobre o empreendimento se mostrem insatisfatórios, é possível ser provocada nova audiência pública, no intuito de tornar transparente o processo, bem como que se possa dimensionar os impactos às comunidades e ao meio ambiente, além de promover efetivo diálogo entre os órgãos competentes e a população. Nesse sentido, um dispositivo fundamental para isso é a já mencionada Resolução nº 237/97 - CONAMA, Art. 19: Art. 19. O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer: I - violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; II - omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença; III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde. Por fim, quanto às violações à questão ambiental que se apresentam de maneira mais clara, é importante ser lembrada a concernente aos recursos hídricos. O RIMA apresenta severas inconsistências no tocante a essa temática asseverando, em sua fl. 34, 10 que: “as águas do açude somente podem atender a um terço da área a ser irrigada, ou seja, 3.000 ha”. E aduz, “O volume útil do seu reservatório permite atender às demandas a ele atribuídas somente até o ano 2020 respeitando as garantias estabelecidas, ou seja, haverá falhas após 2020 se novas fontes hídricas não forem contempladas”. Assim, como se pode perceber, o próprio estudo aponta que a água não será suficiente para atender as demandas do projeto. Cabe questionar se a função múltipla da água também será assegurada, pois é imprescindível a garantia de uma gestão hídrica responsável, com seu uso adequado. Percebemos que além de não haver viabilidade hídrica para o projeto, o uso da água do perímetro irrigado não atenderá às necessidades hídricas da pequena agricultura, estando voltada para a produção em grande escala, típica do agronegócio e com uso excessivo de venenos, que certamente irão provocar diversas contaminações das fontes hídricas. Portanto, ficam claras as violações a direitos humanos, ambientais e sociais decorrentes da implantação do Projeto Santa Cruz do Apodi, além de serem explícitas as omissões e inconsistências do Relatório de Impactos ao Meio Ambiente - RIMA, sugerindo que é necessário um estudo mais aprofundado, que leve em consideração o diálogo com as comunidades diretamente atingidas, bem como o real dimensionamento dos impactos. 2. DAS AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO HISTORICO E CULTURAL Segundo o Relatório de Impactos ao Meio Ambiente – RIMA, há na área de influência indireta do empreendimento grande associação fossilífera do período cretáceo, com a presença de fósseis de grupos vertebrados e invertebrados, cuja importância se ressalta em função de seu valor histórico, científico e cultural para o estado do Rio Grande do Norte. Nesse sentido, de acordo com o Decreto-Lei nº 25/1937, que trata do tombamento de monumentos naturais de feição notável, os jazigos fossilíferos potiguares encontram amparo legal, objetivando sua proteção e conservação, assim como se observa no Art. 1º,§2º do Decreto citado: Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a 11 fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. [...] § 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pelo indústria [sic] humana. Desse modo, por tratar-se de empreendimento potencialmente capaz de agressão ao patrimônio, faz-se necessária, para a garantia da conservação da supracitada associação fossilífera, a exaustiva descrição dos impactos que possam ocorrer com a instalação do projeto. Nesse sentido, observou-se clara omissão do EIA-RIMA em relação aos impactos diretos e indiretos às supracitadas associações de fósseis, sendo realizada apenas menção de sua existência, de modo que não foi possível visualizar as reais dimensões das agressões. Outro ponto importante é que o ‘Lajedo de Soledade’, um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil, onde pode ser encontrados fósseis de animais pré-históricos, bem como pinturas rupestres datadas de 3 a 10 mil anos, está localizado na área de influência do Projeto de Irrigação. Com uma formação de rocha calcária do período paleolítico, com idade geológica estimada em 90 milhões de anos, o Lajedo de Soledade consiste em um dos mais importantes patrimônios hitóricos-culturais do país. Nesse sentido, a Lei 3.924/1964, que trata da proteção pelo Poder Público dos Monumentos Arqueológicos e Pré-históricos, conceitua em seu Art. 2, alínea “d” que: Art. 2 – Consideram-se monumentos arqueológicos ou pré- históricos: [...] d) As inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividades de paleoameríndios; No entanto, os impactos ao ‘Lajedo de Soledade’ não foram contemplados no RIMA, percebendo-se sua supressão do relatório, assim como consta nas fls. 57-59, que tratam dos aspectos culturais, históricos e arqueológicos da área afetada pelo empreendimento e ferindo o que dispõe a Portaria 230/02 – IPHAN, art. 1º, que trata dos procedimentos sobre o Estudo de Impactos Ambientais, bem como do Relatório de 12 Impactos ao Meio Ambiente – EIA/RIMA na fase de licenciamento prévio de empreendimentos potencialmente capazes de afetar o patrimônio cultural arqueológico: Art. 1º – Nessa fase, dever-se-á proceder à contextualização arqueológica e etno-histórica da área de influência do empreendimento por meio de levantamento exaustivo de dados secundários e levantamento arqueológico de campo. (grifo nosso) Além disso, a omissão por parte do EIA-RIMA no que se refere ao ‘Lajedo de Soledade’, fere o que se dispõe no Art. 2º e no inciso I, da mesma Portaria 230/02 - IPHAN, em que se exigeque seja realizado o levantamento arqueológico, pelo menos, da área diretamente afetada: Art. 2 – No caso de projetos afetando áreas arqueologicamente desconhecidas, pouco ou mal conhecidas, que não permitam inferências sobre a área de intervenção do empreendimento, deverá ser providenciado levantamento arqueológico de campo pelo menos em sua área de influência direta. Este levantamento deverá contemplar todos os compartimentos ambientais significativos no contexto geral da área a ser implantada e deverá prever levantamento prospectivo de sub-superficie. I – O resultado final esperado é um relatório de caracterização e avaliação da situação atual do patrimônio arqueológico da área de estudo, sob a rubrica Diagnóstico. Foi possível avaliar que o EIA-RIMA não apresentou o levantamento exigido no supracitado artigo, além de que, após sua apresentação aos órgãos competentes e da expedição da Licença Prévia ao empreendimento, não foi elaborado o Programa de Prospecção e Resgate exigido na fase de licenciamento prévio, como consta no Art. 4º da citada Portaria 230/02: Art. 4 – A partir do diagnóstico e avaliação dos impactos, deverão ser elaborados os Programas de Prospecção e Resgate compatíveis com o cronograma de obras e com as fases de licenciamento ambiental do empreendimento, de forma a garantir a integridade do patrimônio cultural da área. 13 Ainda em relação ao ‘Lajedo de Soledade’, deve ser mencionado o Museu da Pedra, localizado na área de influência do projeto, cuja referência foi insuficiente no tocante ao dimensionamento dos impactos. Outro ponto no qual houve apenas menção, ficando clara a omissão dos impactos diretos e indiretos, foi o da existência das cavernas arqueológicas do município de Felipe Guerra (área de influência direta). Do mesmo modo que as Associações Fossilíferas mencionadas acima, as cavernas têm amparo legal e proteção do poder público, de acordo com a já citada Lei 025/1937, Art. 1º, §2º. Também, segundo o RIMA, o Vale do Apodi possui uma quantidade indefinida de cavernas, das quais, graças ao trabalho de grupos de pesquisa voluntários, já foi possível catalogar cerca de 20, que deveriam ter sido contempladas de maneira pormenorizada no estudo de impactos ambientais. Verificou-se a incompletude do relatório, já que permitiu passar por despercebido o estudo de tantos exemplares que compõem o patrimônio histórico e cultural da área de implantação do projeto. Outro ponto de suma importância se refere à menção do EIA-RIMA à existência da comunidade de Soledade, que, segundo o próprio relatório, se caracteriza como comunidade tradicional de remanescência quilombola. A proteção a esses grupos está prevista na Constituição Federal, ao tratar do patrimônio cultural brasileiro, sejam eles bens de natureza material e imaterial. Segundo o Art. 226 – CF, incisos I e II: Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; [...] Assim, é imprescindível a defesa desses grupos e do seu modo de vida tradicional, sendo necessário que sejam especificados no RIMA, explicitamente, quais serão os impactos à comunidade, de modo que se garanta a proteção à cultura, história e memória desses grupos, buscando efetivar a defesa dos direitos culturais e dos modos de vida tradicionais, enquanto direitos humanos. 3. DAS AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO 14 Segundo o Relatório de Impactos ao Meio Ambiente – RIMA o investimento para a instalação do empreendimento gira em torno de R$ 209.208.693,00 (duzentos e nove milhões, duzentos e oito mil, seis e noventa e três reais). Entretanto, no site 1 Oficial do DNOCS o valor informado é da ordem de R$ 280.000.000,00 (duzentos e oitenta milhões), sendo R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões) destinados a obras de infraestrutura – valor bem acima do citado pelo relatório de impacto ambiental – e apenas R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões) para ações complementares, como desapropriações, reassentamento, aquisição de área de preservação e ações ambientais. É possível detectar equívocos no que se refere aos valores de investimento, como foi supracitado, além de que percebemos uma desvalorização referente às propriedades, pois no processo de desapropriação de 13.000ha estão previstos apenas 40 milhões em ações de indenização. O Relatório de Impactos Ambientais - RIMA, afirma que para a viabilidade do Projeto Santa Cruz do Apodi serão realizadas desapropriações nos municípios de Felipe Guerra e Apodi, sem, contudo, informar a área total a ser desapropriada, exigência constante na resolução 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Apenas encontramos tal informação no decreto de desapropriação S/N, de 10 de junho de 2011, constando que serão desapropriadas cerca de 13.855 ha (treze mil, oitocentos e cinquenta e cinco hectares). O RIMA além de não apresentar a informação supra, entra em CONTRADIÇÕES no que se refere à superfície agrícola a ser utilizada, posto que em sua fl. 02 encontramos que a área agricultável útil será de 9.236 ha (nove mil, duzentos e trinta e seis hectares), enquanto que nas fls. 10 e 21, por exemplo, já seria de apenas 5.200 ha (cinco mil e duzentas hectares), sendo a superfície agricultável bruta de 8.197 ha (oito mil cento e noventa e sete hectares). Trabalhando com os imprecisos dados do relatório, temos que o referido projeto será executado em duas grandes etapas, a primeira com 3.000 ha (três mil hectares) e uma segunda incorporando 6.236 ha (seis mil duzentos e trinta e seis hectares). 1 http://www.dnocs.gov.br/php/comunicacao/noticias.php?f_registro=2721&f_opcao=imprimir&p_view=short&f_hea der=1& 15 No que se refere a questão hídrica encontramos mais um entrave. De início, na página 03 do RIMA, o estudo afirma que a viabilidade do projeto dependerá das águas oriundas da transposição do Rio São Francisco. Todavia, tal informação será contraditada no mesmo estudo, como na página 18, onde se afirma que as águas do Rio São Francisco não alimentarão o projeto: Diferentemente do primeiro estudo, o consórcio TECNOSOLO/HYDROS optou por considerar exclusivamente a disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica do rio Apodi até a barragem Santa Cruz, sem reforços decorrentes da Transposição do Rio São Francisco, em virtude desta não representar uma infra- estrutura hídrica disponível na atualidade. Mais a frente há um breve diagnóstico do panorama hídrico da região (fl. 34): Observa-se do balanço hídrico que na região de Apodi ocorre déficit hídrico mensal durante quase todo o ano. O período de maior deficiência hídrica, apresentando valores superiores a 150 mm, está compreendido entre os meses de outubro e dezembro, fato decorrente da elevada evapotranspiração potencial, alcançando valores da ordem de 180 mm, e das baixas precipitações pluviométricas. Mesmo durante os meses de março e abril, quando ocorrem precipitações mais intensas, a pluviometria não é suficiente para gerar excedente hídrico. (grifo nosso) Pelo que foi exposto até o momento, chegamos a duas conclusões: A primeira, de que o potencial hídrico do projeto se resumirá às águas da barragem de Santa Cruz. E a segunda, de que essa mesma barragem, por si só, não é capaz de dar segurançaa imensa demanda de um projeto de irrigação como esse, uma vez que além de sua vazão limitada, é já utilizada para diversos outros fins, como mencionado no RIMA. Assim conclui o relatório: As águas do açude somente podem atender a um terço da área a ser irrigada, ou seja, 3.000 ha. O volume útil do seu reservatório permite atender às demandas a ele atribuídas somente até o ano 2020 respeitando as garantias estabelecidas, ou seja, haverá falhas após 2020 se novas fontes hídricas não forem contempladas”. (pag. 34) Mesmo diante dessas fragilidades, o Relatório de Impacto Ambiental aponta que o projeto de irrigação tem um HORIZONTE DE 50 ANOS, a contar do início das obras. Aritmética básica nos basta para mostrar que tal prazo é totalmente inexequível. 16 Temos que: o respectivo relatório é datado de setembro de 2009, porém a ORDEM DE SERVIÇO somente foi assinada 3 anos depois (em 28/08/2012). Nesse ínterim, as desapropriações, ações judiciais, instalação do canteiro de obras, contratação dos trabalhadores, entre outros, demandarão razoável quantidade de tempo. Supondo que as obras comecem em 2013, e sendo finalizadas em meados de 2015, tomando por base experiências similares, estimamos que A PRIMEIRA ETAPA DO PERÍMETRO IRRIGADO SÓ FUNCIONARÁ POR 05 (CINCO) ANOS. Diga-se primeira a única etapa, já que, conforme anteriormente foi citado, o potencial de vazão da barragem Santa Cruz do Apodi para esta obra é até o ano de 2020. Sendo assim, uma vez que o projeto apenas será abastecido pelas águas da barragem Santa Cruz do Apodi, com reservas tão somente até 2020, e que não há nenhuma previsão de novas fontes hídricas, teremos um gasto de dinheiro público no porte de R$ 280.000.000,00 (duzentos e oitenta milhões), para um projeto que terá vida útil de uma média de cinco anos. 4. DA EXPERIÊNCIA DO PERÍMETRO IRRIGADO JAGUARIBE-APODI Na porção cearense da Chapada do Apodi, é marcante, a partir dos anos 2000, a implementação de grandes empresas transnacionais e nacionais de fruticultura para exportação, incentivadas pelo governo estadual através da disponibilidade de água para irrigação dos cultivos, bem como das águas do Aquífero Jandaíra, que também perpassa o solo potiguar A expansão do agronegócio na região, por sua vez, caracteriza-se por transformações nas relações e condições de trabalho, no ambiente e na saúde das populações camponesas, bem como no modo vida das comunidades. É de ressaltar que a moradia e o acesso à terra, também, são relevantemente alterados nesse processo, posto que comunidades inteiras são extintas, muitas vezes, com violência, como aconteceu com a comunidade denominada de KM 69, em Limoeiro/CE, onde um dos artifícios empregados foi espalhar enxofre na direção dos ventos para as casas, obrigando as famílias a deixarem suas terras. Desse modo, em decorrência da pressão exercida pelos latifundiários e pela nuvem tóxica que chega em suas casas carreada pelo vento, sempre que pulverizam as grandes plantações, os pequenos agricultores são obrigados a migrar para a periferia das 17 cidades, e se transformam em empregados do agronegócio, uma vez que não veem outro caminho que não seja aceitar o emprego oferecido nelas, passando assim de pequenos produtores para assalariados do agronegócio, que geralmente contrata por safra ou produção, tornando o vínculo trabalhista sazonal. Com relação ao ambiente e à segurança alimentar, estudos identificaram a contaminação das águas subterrâneas na região. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) analisou dez amostras de água de poços na Chapada do Apodi-CE, no intuito de verificar a presença de resíduos de agrotóxicos, e os encontrou em seis dessas amostras. Além disso, foram analisadas, também, 23 amostras de águas superficiais e para consumo humano, provenientes dos canais que abastecem as comunidades, ou seja, das caixas d’água e de poços profundos, tendo constatado a presença de princípios ativos em todas elas. Percebemos, então, que os agrotóxicos utilizados para que a cultura da fruta apresente resultados satisfatórios ao produtor são, em sua maioria, muito tóxicos, além de altamente persistentes no ambiente. No tocante a saúde pública, podemos citar a pesquisa realizada por Raquel Rigotto, professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, sobre a intensa exposição ocupacional a agrotóxicos e fertilizantes. A referida pesquisa investigou 540 trabalhadores, dos quais 341 são do agronegócio, 156 agricultores familiares camponeses e 43 trabalhadores dos assentamentos e comunidades agroecológicas. Os estudos demonstraram um quadro de grave problema de saúde pública, haja vista que mais de 97% dos trabalhadores, dos dois primeiros grupos, estão expostos a agrotóxicos. Por fim, podemos dizer que o Perímetro Jaguaripe-Apodi traz implicações para o trabalho, o ambiente e a saúde, a saber: a concentração de terras e os deslocamentos compulsórios da população; a violência; o comprometimento da segurança alimentar; imposição de novos hábitos culturais; mudanças nas práticas sociais e nos laços de vida comunitária, bem como na dinâmica de cidades vizinhas, com a formação de “favelas” rurais; uso intensivo de novas tecnologias de mecanização e de insumos (fertilizantes e agrotóxicos); relações e condições de trabalho precarizadas com baixa remuneração, e, consequentemente, descumprimento da legislação trabalhista, intensificação do trabalho, exposição a situações de risco à saúde; redução da biodiversidade e dos serviços ambientais, degradação do solo pela monocultura e risco de desertificação; elevado consumo de água; contaminação do ar e de águas superficiais e subterrâneas 18 por fertilizantes e agrotóxicos; exposição das comunidades do entorno das fazendas à contaminação pelos agrotóxicos utilizados de forma intensiva. Todavia, ocultar todos esses problemas faz parte da estratégia de sustentação do desenvolvimento desse projeto de morte, que é o projeto de perímetro irrigado. 5. DOS IMPACTOS À PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA, CAMPONESA E FAMILIAR O município de Apodi – RN, historicamente, tem articulado sua economia na produção agrícola tradicional, de sequeiro, com fortes experiências agroecológicas e sustentáveis, bem como na pecuária de ovinos e caprinos. Outro elemento que se destaca na economia rural de Apodi é a produção de mel, sem utilização de agrotóxicos, que tem gerado renda e aumentado a qualidade de vida dos agricultores da região, os quais, em sua maioria, estão organizados em cooperativas. Apodi tem se destacado no campo da produção agrícola e pecuária do território potiguar, figurando na lista das cinco cidades que se sobressaem nessas atividades, segundo estudo realizado pelo IBGE em 2009. O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte apresentou aumento no campo da agropecuária, mostrando o potencial econômico relacionado com a produção agroecológica e sustentável no vale e na Chapada do Apodi. No Vale e Chapada do Apodi, está concentrada uma das mais fortes e organizadas cadeias produtivas do território potiguar; destacando-se a produção de arroz, frutas, hortaliças, mel de abelha, castanha de caju, criação de caprinos, ovinos e bovinos, projetos de piscicultura, criação de galinhas e várias outras atividades. Nesse sentido, a implantação do Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi, direcionado aos grandes empreendimentos da fruticultura irrigada, poderá ser o fator de desarticulação da experiência agroecológica e de agricultura familiar no município nos seguintes aspectos: Existe, primeiramente, um confronto de modelos econômicos e matrizesde produção entre o que tem se desenvolvido em Apodi acerca de 50 anos e o projeto que se pretende instalar. O primeiro traduz um modelo tradicional, policultor, que busca a convivência com o semiárido e a agroecologia, de modo a tornar sustentável a produção e reduzir os impactos ao meio ambiente. O segundo, prioriza a monocultura e a 19 exploração de grandes extensões de terra, com grande utilização de agrotóxicos, causando diversos problemas aos recursos naturais e à vida humana, assim como tem-se provado pelos estudos realizados em diversas universidades e por instituições como a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( com a reavaliação de diversos princípios ativos de agrotóxicos, que já se encontram proibidos em outros países) e a ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva (que já mostrou os impactos à saúde e ao meio ambiente por meio do Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos à saúde). Nesse sentido, percebe-se que há uma incompatibilidade de modelos de produção, onde se sobressaem a agroindústria e o agronegócio sobre a agricultura familiar e os modos de vida e produção tradicionais das comunidades. A partir disso, fica clara a necessidade de defender e preservar as experiências agroecológicas no município de Apodi, em consonância com o que expressa no Decreto nº 7794/12, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Outro aspecto se refere à produção de mel orgânico na Chapada do Apodi: o empreendimento levará ao desmatamento de grande área de maneira abrupta, o que causará grandes impactos à apicultura, pois esta depende da vegetação natural para ser realizada, como também a utilização de agrotóxicos poderá comprometer a qualidade do mel produzido, retirando seu status de orgânico, pois poderá ser contaminado pelos venenos, já que estes são muito voláteis e se dispersam pelo ar, água e solo, contaminando-os. Além disso, muitas das comunidades que serão atingidas, direta ou indiretamente, pelo empreendimento são assentamentos rurais advindos do plano de reforma agrária brasileira. Os assentamentos conseguiram se organizar, produzir e ser hoje, referência na produção de poupas de fruta e de mel orgânico no estado, sendo imprescindível seu amparo. Em razão dessa problemática as comunidades camponesas bem como os movimentos sociais da região têm resistido fortemente à implantação desse projeto, dando origem assim a um conflito ambiental de caráter territorial e distributivo. Posto que estes sujeitos defendem um modelo de desenvolvimento rural baseado em alternativas agroecológicas, divergindo assim do que o projeto se propõe a fazer, que é a instalação da agroindústria na região, e por conseguinte disseminação do uso incriminado de agrotóxicos. 20 A negação a esse projeto baseia-se, principalmente, na experiência da Chapada do Apodi da parte que compreende o Ceará, a qual está sendo alvo de inúmeros problemas sociais e ambientais trazidos pelo agronegócio. Por esse motivo, torna-se inaceitável a implantação de um projeto de irrigação baseado numa ótica de desenvolvimento totalmente contraditória à realidade local. Portanto, a partir das observações supracitadas, é preocupante a implantação do Projeto Santa Cruz do Apodi, pois correm risco de desaparecer as ainda resistentes experiências de sustentabilidade no estado do Rio Grande do Norte, que merecem proteção e incentivo por parte desse Ministério. Sobre a legislação que diz respeito à política agrária brasileira foram encontrados diversos diplomas legais, que fundamentam nossa argumentação. Nos fazemos valer da Constituição Federal, lei maior do nosso estado, de decretos federais, das leis orgânicas dos municípios afetados e demais regulamentações correlatas, enumeradas subsequentemente. A Constituição Federal garante que a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Além de assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações ( CF/88, arts. 193 e 225), a Carta Magna indica que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (CF/88, art. 225, § 3º). O decreto federal de nº 7.775/12, de 4 de julho de 2012, regulamenta a lei que institui o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, dispõe, em seu artigo 2º, as finalidades do PAA, quais sejam: I - incentivar a agricultura familiar, promovendo a sua inclusão econômica e social, com fomento à produção com sustentabilidade, ao processamento, à industrialização de alimentos e à geração de renda; II - incentivar o consumo e a valorização dos alimentos produzidos pela agricultura familiar; III - promover o acesso à alimentação, em quantidade, qualidade e regularidade necessárias, às pessoas em situação de insegurança 21 alimentar e nutricional, sob a perspectiva do direito humano à alimentação adequada e saudável; IV - promover o abastecimento alimentar por meio de compras governamentais de alimentos, inclusive para prover a alimentação escolar nos âmbitos municipal, estadual, distrital e federal, e nas áreas abrangidas por consórcios públicos; V - constituir estoques públicos de alimentos produzidos por agricultores familiares; VI - apoiar a formação de estoques pelas cooperativas e demais organizações formais da agricultura familiar; VII - fortalecer circuitos locais e regionais e redes de comercialização; VIII - promover e valorizar a biodiversidade e a produção orgânica e agroecológica de alimentos, e incentivar hábitos alimentares saudáveis em nível local e regional; e IX - estimular o cooperativismo e o associativismo. As recomendações enumeradas serão comprometidas com a inserção do projeto nos municípios uma vez que a agricultura familiar será impossibilitada, devido as atividades desempenhadas pelo agronegócio. Já o decreto nº 7794/12, que institui a política nacional de agroecologia, tem por objetivo integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis. Como supracitado, Apodi possui uma das maiores experiências agroecologógicas do País, mostrando concordância com a política nacional. O agronegócio, por sua vez, foge à perspectiva agroecológica, confrontando a política nacional. Concordam sobre os mesmos pontos a legislação dos municípios atingidos e a Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, sobre as questões referentes a agricultura e ao meio ambiente. A Lei Orgânica do Município de Apodi atribui ao município a competência de zelar pelo meio ambiente e coibir a poluição, além de ao desenvolvimento da propriedade em todas as suas potencialidades, a partir da vocação e da capacidade de uso do solo, levada em conta a proteção ao meio ambiente; (art.6°, VIII; art. 100, VI; art. 144, I, II, III, IV, V, VI). Compete, ainda, ao Município, 22 concorrentemente com a União ou o Estado, ou supletivamente a eles estimular o melhor aproveitamento da terra, bem como as defesas contra as formas de exaustão do solo; promover a defesa sanitária vegetal e animal, a extinção de insetose animais daninhos (art.8°, III,V,VI). O regulamento é claro ao defender o bem-estar do homem como o fim essencial da produção e do desenvolvimento econômico, a valorização econômica e social do trabalho e do trabalhador, associada a uma política de expansão das oportunidade de emprego e de humanização do processo social de produção, com defesa dos interesses do povo. Protege a democratização do acesso à propriedade dos meios de produção e, ao mesmo tempo, condena os atos de exploração do homem pelo homem e exploração predatória da natureza, considerando-se juridicamente ilícito e moralmente indefensável qualquer ganho individual ou social auferido com base neles (art.100, II, III, VI, VII; arts. 132 e 133). Deve-se exigir, na forma da lei, para instalação de obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, realidade do Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade, na prerrogativa de proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua funções ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (art. 110, II, III). Estas disposições estão recepcionadas pela Constituição Estadual em seus arts. 150 e 152. O lajedo de Soledade, que sofrerá impactos advindos do projeto, é patrimônio comum de todos os apodienses, possuindo especial tutela do Município, dentro de condições que assegurem a preservação e o manejo racional dos ecossistemas (art. 110, §2°). Diante de tantas e reiterada garantias assumidas pelo Município, concorrentemente com a União ou o Estado, ou supletivamente a eles e em vista, acredita-se que a implementação por parte do DNOCS, do projeto de irrigação de Santa Cruz do Apodi ferirá todas essas garantias, uma vez que, baseando-se em experiências similares, os tópicos tão salvaguardados por esses diplomas jurídicos foram, e estão sendo, violados. 6. DOS REQUERIMENTOS Pelo exposto, vem-se requerer de V. Exa. enquanto prefeito eleito que se apurem as denúncias relatadas acima, no sentido de que, em caso de confirmação das 23 irregularidades nos procedimentos para instalação do “Projeto Santa Cruz do Apodi”, sejam tomadas as devidas providências no intuito de efetivar a proteção ao patrimônio histórico e cultural, material e imaterial, ambiental e sócio econômico das centenas de pessoas afetadas. Apodi-RN 31 de outubro de 2012. STTR– APODI CPT RENAP GEDIC 24 ANEXO I Iniciativas de Resistência ao Projeto da Morte: Breve registro cronológico das iniciativas de resistência dos agricultores do Município de Apodi e Movimentos Sociais contra o Projeto Santa Cruz do Apodi. 25 10 de junho de 2011 – é assinado o decreto de desapropriação da Chapada do Apodi: No dia 10 de junho de 2011, o Governo Federal assinou o decreto de desapropriação de uma área de mais de 13 mil hectares na Chapada do Apodi - RN, para a implantação do Projeto de irrigação na área. A obra é patrocinada pelo Ministério da Integração Nacional e está sob o comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o DNOCS. Para a implementação do projeto está previsto um gasto que ultrapassa os 240 milhões de reais, para garantir a irrigação de até 10 mil hectares destinado à fruticultura para exportação. Mais de 150 famílias de pequenos agricultores terão que sair das terras onde tradicionalmente vivem há mais de 60 anos para dar lugar ao Projeto. Além de atingir diretamente as famílias dos pequenos agricultores, o projeto também vai impactar oito assentamentos que estão no entorno. Todo esse dinheiro ameaça por fim às experiências desenvolvidas por pequenos agricultores e agricultoras, que tornaram a região da Chapada do Apodi uma referência nacional e internacional de convivência com o Semi-árido e de produções agroecológicas. De acordo com Antônio Nilton, agente da Comissão Pastoral da Terra de Mossoró, é nesta região onde há uma das maiores produção agroecológica de mel do país, além da caprinocultura, manejo da caatinga e diversas formas de experiências desenvolvidas pelas agricultoras e agricultores da região. O Projeto de irrigação no Rio Grande do Norte é uma extensão do perímetro irrigado de Limoeiro e Russas no Ceará – que compreende também a Chapada do Apodi. Naquela região onde o Projeto já foi instalado, as comunidades de camponeses e camponesas praticamente desapareceram, apenas algumas famílias permanecem resistindo e sofrendo as consequências deste projeto. Um dos maiores problemas enfrentados pela população local é a intensa utilização dos agrotóxicos, que tem sido alvo de denuncias e pesquisas, a exemplo do estudo desenvolvido pelo Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (Tramas), da Universidade Federal do Ceará (UFC) que identificou os problemas ambientais e de saúde nas comunidades do Baixo Jaguaribe (inserida no projeto de irrigação) que estão expostas à contaminação ambiental e aos agrotóxicos. O resultado é assustador: foi identificado uma grande incidência de pessoas acometidas de câncer, com registros de várias mortes ligadas ao contato com os agrotóxicos, contaminação do lençol freático, contaminação do solo, alimentos, etc. 26 Em manifesto entregue ao DNOCS no último dia 16 de junho, os trabalhadores rurais, Sindicatos Rurais, organizações e movimentos sociais do campo destacaram que “Neste momento, nossa luta central é resistir, denunciar e exigir que o Governo Federal, REVOGUE o decreto que torna de utilidade pública 13.855,13 hectares na Chapada do Apodi para fins de desapropriação pelo DNOCS, e DIALOGUE com os movimentos sociais, outra proposta, que leve em consideração a longa e dura luta dos agricultores familiares camponeses da Chapada do Apodi na convivência com o Semi-árido Potiguar que serve de exemplo em todo Brasil. 16 de junho de 2011 – FOCAMPO ressurge aglutinando as diversas representações do campo potiguar, segue matéria: MANIFESTO DO FÓRUM DO CAMPO POTIGUAR No dia 16 de junho de 2011 o Fórum do Campo Potiguar – FOCAMPO, organismo criado no início da década de 90 que congrega movimentos de representação política dos agricultores e agricultoras familiares e entidades de assessoria que atuam no meio rural retomam suas ações no Rio Grande do Norte (RN), fortalecido pela unidade das Lutas no Campo, focado na construção cotidiana de uma proposta de convivência com o Semi-árido como um processo de aprendizagem social amplo, marcada pelo respeito à natureza, se contrapondo ao modelo agrícola baseado no agronegócio, no uso de agrotóxico e no monocultivo, concentrador de terra e renda e destruidor do meio ambiente e da Vida. Neste, fazemos um registro que no decorrer dos anos no RN os trabalhadores no Campo vivenciaram as experiências falidas e desastrosas dos Grandes Projetos de Irrigação, a exemplo dos Projetos localizados hoje nos Perímetros Irrigados implantados pelo DNOCS nos municípios de Pau dos Ferros, Caicó, Cruzeta e no Baixo Açú. É constatado por toda sociedade norte-rio-grandense que essas iniciativas provocaram sérios desastres ambientais, econômicos e sociais, acentuadamente com endividamentos dos agricultores familiares,tornando-os reféns dos agentes financeiros, forte contaminação ambiental do solo e da água, e da saúde da população atingida com notável elevação de casos de câncer nas famílias dos trabalhadores, expropriação dos imóveis de famílias que viveram culturalmente há anos, e por fim, casos de trabalho 27 escravo e condições precárias de trabalho. É esse o cenário nefasto que o DNOCS deseja instalar na Chapada do Apodi. Diante desses impactos já comprovados pela história, a Chapada do Apodi encontra-se AMEAÇADA com o projeto de irrigação da Barragem Santa Cruz em Apodi que vem na contramão dessa celebração da Vida, que acontece nas comunidades e nos assentamentos rurais do Sertão do Apodi há mais de 100 anos. Nessa região se concentram as principais experiências de Agroecologia e produção de alimentos da Agricultura Familiar voltada para a segurança alimentar das famílias camponesas e da população das cidades através da caprinocultura, produção de leite, apicultura, cultivos agroecológicos que incluem variedades encontradas somente em Apodi no caso do Arroz Vermelho, certificação orgânica da produção, organização das mulheres, o cooperativismo solidário responsável pelo beneficiamento e comercialização para o mercado institucional e na exportação do mel e da amêndoa da castanha de caju, o manejo da caatinga, a valorização do conhecimento popular e artesanato, a captação e gestão das águas com as cisternas de placas, barragens subterrâneas e o desenvolvimento de práticas que valorizam o sentimento de pertencimento e a integração da população ao semiárido. É salutar destacar que toda essa dinâmica são frutos da organização dessas famílias e dos investimentos de vários Ministérios do Governo Federal, especialmente pela Reforma Agrária executada pelo INCRA, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, o Programa Nacional de Crédito Fundiário – PNCF, o Projeto Dom Helder Câmara - PDHC, Programa Territórios da Cidadania, entre outros. Neste momento, nossa luta central é resistir, denunciar e exigir que o Governo Federal, REVOGUE o decreto que torna de utilidade pública 13.855,13 hectares na Chapada do Apodi para fins de desapropriação pelo DNOCS, e DIALOGUE com os movimentos sociais, outra propositura, que leve em consideração a longa e dura luta dos agricultores familiares camponeses da Chapada do Apodi na convivência com o Semi- árido Potiguar, que serve de exemplo, para todo Brasil. As grandes conquistas sempre foram e será obra do povo organizado. E, nós do Fórum do Campo Potiguar unidos aos demais movimentos sociais libertários deste estado, nos comprometemos a lutar, combater e resistir toda e qualquer ação que gere injustiça contra o povo trabalhador do campo e da cidade. 28 “Fora DNOCS e pela Vida em Apodi”!!! Assinam o Manifesto: ARTICULAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO – ASA POTIGUAR | ASSEMBLÉIA POPULAR (RN) | COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT | FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – FETARN | FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA AGRICULTURA FAMILIAR – FETRAF | MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST | MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DOS SEM TERRA – MLST | REDE NACIONAL DE ADVOGADOS E ADVOGADAS POPULARES – RENAP | SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE APODI 19 de julho de 2011 – Ministro da Integração Nacional recebe membros do FOCAMPO na tentativa de abrir um dialogo com o Governo Federal, segue matéria: Ministro manda rever projeto da chapada Brasília/Apodi - Os pequenos agricultores da Chapada do Apodi conseguiram ontem uma vitória no Ministério da Integração Nacional na luta contra o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), sobre como aproveitar a água da Barragem de Santa Cruz, em Apodi. O Dnocs propõe transpor as águas para uma região da chapada e os agricultores defendem que a água da barragem seja usada para fomentar a agricultura familiar. A reunião foi realizada no gabinete do ministro Fernando Bezerra, da Integração Nacional, ao meio-dia de ontem, com a presença da governadora Rosalba Ciarlini, do senador/ministro Garibaldi Alves, da deputada federal Fátima Bezerra, deputado estadual Fernando Mineiro, e uma comitiva de agricultores do município de Apodi e também da região do Vale do Jaguaribe. Também participou da audiência o presidente do Dnocs, o ex-deputado federal Elias Fernandes. Os primeiros debates foram vencidos pelos grandes produtores que fortalecem a ideia da agroindústria em território do Rio Grande do Norte e do Ceará. O Dnocs já estava trabalhando (realizando audiências públicas) para desapropriar uma área de 14 mil hectares na chapada do Apodi e investir um valor aproximado a R$ 280 milhões na instalação de um sistema adutor e a instalação da estrutura de alvenaria na região da Chapada do Apodi para assentar 351 agricultores. 29 Entretanto, o projeto de criação do Distrito Irrigado da Chapada do Apodi não recebeu o aval dos produtores da região. Alegam vários motivos. O primeiro foi exposto pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi, Edilson Neto. "O Dnocs está querendo fazer o inverno da reforma agrária. É que esta área que está para ser desapropriada pertence a centenas de pequenos produtores rurais e depois seria para grandes produtores", explica Edilson Neto. O segundo problema foi exposto pela engenheira florestal, mestre em Meio Ambiente e doutora em Agricultura Tropical, Verlândia Morais. Segundo ela, esse tipo de distrito irrigado proposto pelo Dnocs para a Chapada do Apodi tem vários fracassados pelo Nordeste. Exemplos não faltam. Verlândia observa o alto custo de manutenção do sistema adutor (energia) e também da estrutura de distribuição de água dentro do distrito irrigado. De forma mais incisiva, a doutora Raquel Rigotto, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, declarou que a grande quantidade de agrotóxico usada pelo agronegócio está causando uma série de doenças crônicas na população rural, alem de prejuízos evidentes à economia das famílias. Assim como os demais, Rigotto orienta a necessidade de mais investimentos na agricultura familiar. Segundo Procópio Lucena, coordenador da Articulação do Semi Árido (ASA), o caminho correto para aproveitar o potencial hídrico da barragem de Santa Cruz, assim também como da Barragem de Umari, é investir na agricultura familiar. No caso de Apodi, o melhor é fazer o sistema adutor para irrigar a região de várzea nos períodos de estiagem por gravidade. Ao menos é isto que os pequenos produtores querem e estão dispostos a ir às ruas por isto. Todas as questões foram expostas ao ministro Fernando Bezerra ontem pelos representantes legais dos trabalhadores da região de Apodi e também do Vale do Jaguaribe. O presidente do Dnocs, Elias Fernandes, assistiu a tudo. Em alguns momentos ainda tentou sustentar a sua tese de que o melhor é investir no agronegócio na Chapada do Apodi, mas seus argumentos apresentaram-se fracos diante da quantidade e a qualidade técnica versado no sentido contrário. 30 25 de julho de 2011 – 2.000 Agricultores/as vão as ruas de Apodi dizer NÃO ao Projeto da Morte, segue matéria: RN diz não ao Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi. No dia do Trabalhador (a) Rural cerca de 2.000 Agricultores (as) lotaram as ruas de Apodi –RN. Uma grande caminhada pelas ruas da cidade marcou o dia. Os agricultores (as) aproveitaram o dia para protestar contra o Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi e apresentaram suas alternativas. 12 de agosto de 2011 – Dialogam com o governo federal através do Ministério da Agricultura e Ministério da Integração Nacional, segue matéria : Movimento que se propõe rediscutir o Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi avança nas Discussões Ontem (12) As Organizações que compõem o FOCAMPO (Fórum do Campo Potiguar) que representam os trabalhadores (as) que atuam no campo no Estado do Rio Grande do Norte juntamente com alguns Agricultores (as) de Assentamentos da Chapada do Apodi estiveram reunidos com o Secretário Nacional de Irrigação Ramon, representante do Ministério de Integração; e com Vital representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). As discussões foram bastante positivas diante das proposições apresentadas pelos movimentos e agricultores, onde o Secretário Nacional de irrigação o Senhor Ramon afirmou que “O Projeto precisa ser rediscutido e revisto de modo que este não venha a prejudicar os agricultores que moram na Chapada do Apodi”. Ainda estiveram presentes nessa reunião com a Deputada Federal do RN Fátima Bezerra, e o Deputado Estadual Fernando Mineiro. 18 de Novembro de 2011 – Camponesas de Apodi enviam cerca de duas Mil cartas a Presidência da Republica contra o Projeto da Morte, segue matéria : Agricultoras apodienses enviam 2.000 Cartas a Presidente da República. Na manhã da última sexta-feira (18), a Comissão de Mulheres do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras rurais do município de Apodi enviaram cerca de 500 cartas, endereçadas à Presidência da República, pedindo a Presidenta Dilma Rousseff a revogação do Decreto Nº 0-001 de 10 de junho de 2011 para desapropriação de mais de 31 13 mil hectares de terra na região da Chapada do Apodi que expulsará de suas casas, terras e de sua história mais de 150 famílias. Quem coordena o projeto de desapropriação e, ao mesmo tempo, de expulsão dessas dezenas de famílias é o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS). “O DNOCS em tese deveria lutar juntamente com trabalhadores e trabalhadores do Nordeste para a convivência sustentável no Semiárido, no entanto o que a instituição está fazendo com esse projeto é se juntar com as empresas do agro e hidronegócio para nos expulsar de nossas casas, nossas terras e nossa história que temos construído ao longo de mais de 60 anos somente nessa região”, declara Francisca de Lima, mais conhecida como Kika, coordenadora da Comissão de Mulheres do STTR Apodi. “O envio destas cartas para a nossa presidenta, que é uma mulher de luta, é para mostrar que nós não queremos esse projeto aqui em Apodi, pois não vai trazer benefícios para nós pequenas agricultoras e apicultoras, ao contrário vai envenenar nossas abelhas, vai envenenar nossa comida e nossa água”, declara Francisca, trabalhadora rural do Assentamento Sítio do Góis. De acordo com Kika a iniciativa de escrever tantas cartas para a Presidenta Dilma surgiu em uma das reuniões da Comissão de Mulheres do STTR Apodi quando se discutia as alternativas de barrar esse projeto no município. “Foi um desafio muito grande para as mulheres escreverem essa carta, pois a maioria sabe escrever muito pouco e muitas vezes tínhamos que dizer letra por letra para que todas pudessem expressar em suas próprias palavras sua luta e indignação contra o projeto”, afirma Kika. Enviadas essa última remessa, de um total de 2.000 cartas, começa agora uma nova fase, o momento para outras pessoas que não são de Apodi enviarem cartas para o planalto se solidarizando com a luta da Chapada. Para o envio de cartas a presidência o endereço é: Presidência da República | Palácio do Planalto | Praça dos Três Poderes | Zona Física Administrativa | Cep.: 70150.900 | Brasília/DF. Urgente! Mulheres da MMM do Brasil pedem solidariedade a Apodi Companheiras, A Marcha Mundial das Mulheres do Brasil solicita a solidariedade de companheiras e companheiros de todo o mundo em sua luta para revogar o Decreto Nº 0-001 de 10 de Junho de 2011. Esse decreto irá desapropriar mais de 13 mil hectares de terra na região da Chapada do Apodi, na região Nordeste brasileira, expulsando mais de 150 famílias, que correspondem a cerca de 500 pessoas. 32 A maioria dessas famílias e grupos é constituída de militantes da Marcha Mundial das Mulheres e de outros movimentos sociais brasileiros que serão expulsos de suas casas, de suas terras e de uma história de afirmação da agricultura camponesa, baseada na agroecologia e na soberania alimentar, que vem sendo construída por esses trabalhadores e trabalhadoras há mais de 60 anos. O objetivo desse projeto de desapropriação, coordenado pelo Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), um departamento do governo Brasileiro, é beneficiar 5 (cinco) grupos de empresários do hidro e agronegócio, desviando as águas da Barragem de Santa Cruz do Apodi para a irrigação. A ação dessas empresas em regiões próximas já mostrou seus efeitos perversos: contaminação da água da terra e do ar com veneno usado nas plantações e exploração do trabalho das mulheres no campo.. Solicitamos sua solidariedade urgente por meio do envio de manifestações contrárias á aprovação deste projeto, diretamente para a Secretaria-Geral da Presidência da República antes da data de 27 de novembro de 2011. Encaminhamos abaixo um modelo de mensagem. Por favor, podem copiar o conteúdo e enviar assinado por seu movimento ou entidade para o email: sg@planalto.gov.br com copia parainfo@marchemondiale.org Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Marcha Mundial das Mulheres – Brasil 21 de Dezembro de 2011 – Movimentos do Campo do RN e do Brasil vão a secretaria Geral da Presidencia da Republica denunciar o Projeto da Morte, segue a matéria : Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República recebe hoje (21) lideranças do campo do RN. Hoje (21) o Ministro Gilberto Carvalho (Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República) estará recebendo pela manhã às 10h30min. várias lideranças que compõem o Fórum do Campo Potiguar, onde na oportunidade será pautado o Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi. A audiência foi solicitada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), além das várias lideranças que estarão presentes a reunião contará com a presença do Professor João Abner que é doutor em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 33 Edilson Neto também estará participando da reunião representando os agricultores (as) familiares do município de Apodi. Logo mais traremos maiores informações sobre a Audiência que acontece no Ministério da Sec. Geral da Presidência da República. 25 de Julho de 2012 – Cerca de 3.000 agricultores/as fazem caminhada em Apodi para dizer Não ao Projeto da Morte, segue a matéria : Mais de três mil agricultoras e agricultores, mulheres militantes da Marcha Mundial das Mulheres e demais movimentos sociais da região para protestar contra o Projeto do Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi proposto pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Foi realizada uma caminhada de 5 km e a multidão tomou conta das ruas da cidade de Apodi com faixas, cartazes, carro de som e palavras de ordem para alertar a sociedade e barrar a execução desse projeto que irá desapropriar mais de 13 mil hectares de terra da Chapada do Apodi para entregar a 05 empresas do agronegócio expulsando centenas de famílias e interrompendo os processos de agroecologia e soberania alimentar que estão em curso na Região. Os agricultores e agricultoras propõe, além de outras reivindicações, que os recursos desse projetosejam para o fortalecimento da agricultura familiar e arranjos produtivos com base na agroecologia, e ainda assistência técnica para as famílias com a continuidade e ampliação do Projeto Dom Helder Câmara. As mulheres da Chapada do Apodi estão firmes nesta luta juntamente com as organizações sociais por serem protagonistas de inúmeras experiências produtivas e de geração de renda nesta região refletindo a autonomia conquistada a partir dos processos de auto organização das mulheres desse município. A nossa Luta é Todo Dia! Nossa Chapada Não é Mercadoria! 34 ANEXO II Registro Fotográfico das Experiências de Resistência ao Projeto da Morte: Breve registro fotográfico das iniciativas de resistência dos agricultores do Município de Apodi e Movimentos Sociais contra o Projeto Santa Cruz do Apodi. 35 Audiência do Ministro da Integração Nacional e membros do FOCAMPO – 19/07/2011 2.000 Agricultores vão às ruas de Apodi para dizer NÃO ao Projeto da Morte – 25/072011 36 2.000 Agricultores vão às ruas de Apodi para dizer NÃO ao Projeto da Morte – 25/072011 2.000 Agricultores vão às ruas de Apodi para dizer NÃO ao Projeto da Morte – 25/072011 37 Audiência com o Ministério da Agricultura e com o Ministério da Integração Nacional – 12/08/2011 3.000 Agricultores vão novamente às ruas de Apodi dizer NÃO ao Projeto da Morte – 25/07/2012 38 Trabalhadora rural em Apodi, falando contra o Projeto da Morte – 25/07/2012 39 Trabalhador rural em Apodi, falando contra o Projeto da Morte – 25/07/2012
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