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Direito Processual Penal Otoni Queiroz OAB 1a Fase

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1ª Fase
Direito Processual Penal
Prof. Otoni Queiroz
MÓDULO COMPLETO
 
 
 
 
 Prof. Otoni Queiroz 
 
 
1 
PROCESSUAL PENAL DIREITO 
 
OAB – 1ª FASE 
 – MÓDULO COMPLETO – 
 
II. COMENTÁRIOS ACERCA DE INQUÉRITO POLICIAL: 
1.  Persecução penal:  ensina Denilson  Feitosa 
que  a  “persecução  penal  ou  persecutio  criminis 
(investigação  da  infração  penal  e  pedido  de 
julgamento  da  pretensão  punitiva)  apresenta  dois 
momentos:  o  da  investigação  –  entregue 
normalmente  a  um  órgão  do  Estado  denominado 
genericamente  polícia  investigativa  (“polícia 
judiciária”)  –  e  o  da  ação  penal  –  entregue 
normalmente  a  outro  órgão  do  Estado  (Ministério 
Público)”.  Assim,  o  inquérito  policial,  por  ser 
instrumento de  investigação, está diretamente  ligado 
ao primeiro momento da persecução penal. 
2. Conceito: procedimento administrativo que 
tem  por  objetivo  reunir  elementos  necessários  à 
apuração  da  prática  de  uma  infração  penal  e  sua 
autoria a  fim de propiciar a propositura da denúncia 
(quando  a  ação  penal  for  pública  e,  portanto, 
proposta  pelo  Ministério  Público  por  meio  da 
denúncia) ou queixa  (no caso de ação penal privado, 
proposta, pois, pelo ofendido através da queixa). Por 
se  tratar  de  um  procedimento  administrativo  (onde 
não há acusação, mas apenas  investigação) é que  se 
entende que eventuais vícios de legalidade existentes 
nesta fase não afetam a ação penal (fase judicial). 
3.  Polícia  Judiciária:  é  aquela  que  exerce 
função auxiliar à justiça, tendo por objeto a apuração 
das  infrações penais e da autoria  (art. 4º, CPP), além 
de outras funções (art. 13, CPP). Nos Estados cabe às 
polícias  civis,  dirigidas  por  delegados  de  polícia  de 
carreira, sem prejuízo de outras autoridades (art. 144, 
§4º  da  CF).  No  âmbito  federal  é  exercida,  com 
exclusividade, pela polícia federal (art. 144, § 1º, IV da 
CF). Vejamos abaixo a disciplina constitucional acerca 
do tema: 
Art.  144.  A  segurança  pública,  dever  do  Estado, 
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a 
preservação da ordem pública e da  incolumidade das 
pessoas  e  do  patrimônio,  através  dos  seguintes 
órgãos: 
I ‐ polícia federal; 
II ‐ polícia rodoviária federal; 
III ‐ polícia ferroviária federal; 
IV ‐ polícias civis; 
V  ‐  polícias  militares  e  corpos  de  bombeiros 
militares. 
§  1º  A  polícia  federal,  instituída  por  lei  como 
órgão permanente, organizado e mantido pela União 
e estruturado em carreira, destina‐se a:(Redação dada 
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
I ‐ apurar infrações penais contra a ordem política 
e  social  ou  em  detrimento  de  bens,  serviços  e 
interesses da União ou de suas entidades autárquicas 
e empresas públicas, assim como outras infrações cuja 
prática  tenha  repercussão  interestadual  ou 
internacional  e  exija  repressão uniforme,  segundo  se 
dispuser em lei; 
II  ‐  prevenir  e  reprimir  o  tráfico  ilícito  de 
entorpecentes  e  drogas  afins,  o  contrabando  e  o 
descaminho,  sem  prejuízo  da  ação  fazendária  e  de 
outros  órgãos  públicos  nas  respectivas  áreas  de 
competência; 
III  ‐  exercer  as  funções  de  polícia  marítima, 
aeroportuária  e  de  fronteiras;  (Redação  dada  pela 
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
IV  ‐  exercer,  com  exclusividade,  as  funções  de 
polícia judiciária da União. 
§  2º  A  polícia  rodoviária  federal,  órgão 
permanente,  organizado  e  mantido  pela  União  e 
estruturado  em  carreira, destina‐se, na  forma da  lei, 
ao  patrulhamento  ostensivo  das  rodovias 
federais.(Redação  dada  pela  Emenda  Constitucional 
nº 19, de 1998) 
§  3º  A  polícia  ferroviária  federal,  órgão 
permanente,  organizado  e  mantido  pela  União  e 
estruturado  em  carreira, destina‐se, na  forma da  lei, 
ao  patrulhamento  ostensivo  das  ferrovias  federais. 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 
1998) 
§ 4º  ‐ às polícias civis, dirigidas por delegados de 
polícia  de  carreira,  incumbem,  ressalvada  a 
competência da União, as funções de polícia judiciária 
e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
§  5º  ‐  às  polícias  militares  cabem  a  polícia 
ostensiva  e  a  preservação  da  ordem  pública;  aos 
corpos  de  bombeiros  militares,  além  das  atribuições 
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de 
defesa civil. 
§ 6º  ‐ As polícias militares e corpos de bombeiros 
militares,  forças  auxiliares  e  reserva  do  Exército, 
subordinam‐se,  juntamente  com as polícias  civis, aos 
Governadores  dos  Estados,  do Distrito  Federal  e  dos 
Territórios. 
§  7º  ‐  A  lei  disciplinará  a  organização  e  o 
funcionamento  dos  órgãos  responsáveis  pela 
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência 
de suas atividades. 
§  8º  ‐ Os Municípios  poderão  constituir  guardas 
municipais  destinadas  à  proteção  de  seus  bens, 
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. 
§  9º  A  remuneração  dos  servidores  policiais 
integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será 
fixada  na  forma  do  §  4º  do  art.  39.  (Incluído  pela 
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
4.  Outras  autoridades  produtoras  do 
inquérito: a lei pode conferir a função investigatória a 
outras  autoridades,  como  temos,  por  exemplo,  as 
Comissões  Parlamentares  de  Inquérito,  o  inquérito 
instaurado  em  caso  de  infração  penal  cometida  na 
sede ou dependência do Supremo Tribunal Federal, o 
inquérito  realizado  pelas  autoridades  militares  para 
apuração  de  infrações  de  competência  da  justiça 
militar, etc. 
5. Características: 
a) Obrigatoriedade:  havendo 
justa  causa,  a  autoridade  policial  está 
obrigada a instaurar inquérito policial. 
b) Discricionariedade:  a 
autoridade  policial,  ao  iniciar  uma 
investigação, atua com liberdade. 
c) Dispensabilidade:  o  inquérito 
não  é  indispensável  à  propositura  da  ação, 
pois, basta ver os arts. 12, 27, § 5º do art. 39 e 
§ 1º do  art.  46,  todos do CPP, para  verificar 
que o Ministério Público pode ajuizar a ação 
penal sem esse procedimento administrativo. 
d) Procedimento escrito (art. 9º, 
CPP). 
e) Sigiloso (art. 20, CPP): que não 
se estende ao Ministério Público nem ao  juiz 
e,  quanto  ao  advogado,  pode  consultar  os 
autos  de  inquérito,  conforme  a  súmula 
vinculante  nº  14,  que,  somente  se  aplica  a 
provas  já  documentadas,  não  atingindo 
demais  diligências  do  inquérito.  “Nesses 
casos,  o  advogado  não  tem  direito  a  ter 
acesso  prévio”,  observou  o  Ministro  Cezar 
Peluso  ao  tratar  da  súmula.  Ou  seja,  a 
autoridade  policial  está  autorizada  a  separar 
partes  do  inquérito  que  estejam  em 
andamento para proteger a investigação. 
f) Oficialidade (art. 144, CF): não 
pode ser feito pelo particular. 
g) Oficiosidade (art. 5º, I, CPP): a 
instauração  do  inquérito  independe  de 
provocação,  sendo  obrigatória  diante  da 
notícia de uma  infração penal, ressalvadas as 
hipóteses de ação penal pública condicionada 
e ação penal privada. 
h) Autoritariedade (art. 4º, CPP): 
é presidido por autoridade pública. 
i) Indisponibilidade  (art.  17, 
CPP):  após  sua  instauração  não  pode  ser 
arquivado pela autoridade policial. 
j) Inquisitivo:  há  concentração 
de poder nas mãos de uma única autoridade, 
no caso, o delegado, e, ainda, a doutrina e a 
jurisprudência  dominantes  entendem  ser 
inaplicável  a  garantia  do  contraditório  e  da 
ampla defesa ao  inquérito policial, que não é 
processo,  porque  não  destinado  a  decidirlitígio algum. Paulo Rangel diz que o “caráter 
inquisitivo  do  inquérito  faz  com  que  seja 
impossível  dar  ao  investigado  o  direito  de 
defesa,  pois  ele  não  está  sendo  acusado  de 
nada,  mas,  sim,  sendo  objeto  de  uma 
pesquisa feita pela autoridade policial”. Outro 
caso particular de tal característica seria o art. 
107  do  CPP,  que  estabelece  não  se  poder 
arguir a suspeição das autoridades policiais. 
6. Valor probatório: o inquérito policial é mera 
peça  informativa  destinada  a  fornecer  elementos 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
necessários para que o Ministério Público proponha a 
ação  penal  pública  ou  o  ofendido  proponha  a  ação 
penal privada. Assim, as provas reunidas no  inquérito 
não  se  prestam,  por  si  só,  para  fundamentar  uma 
sentença condenatória,  sendo necessária a  repetição 
de algumas em juízo. Destaque‐se que o artigo 155 do 
Código  de  Processo  Penal,  alterado  pela  Lei  nº 
11.690/08,  prescreve  que  o  magistrado  não  pode 
fundamentar  sua  decisão  exclusivamente  nos 
elementos  informativos  colhidos  na  investigação, 
ressalvadas  as  provas  cautelares,  não  repetíveis  e 
antecipadas. 
7.  Notitia  criminis:  é  o  conhecimento 
espontâneo  ou  provocado  da  autoridade  policial  da 
ocorrência de um fato criminoso, podendo ser: 
a) Notitia  criminis  de  cognição 
direta  ou  imediata  (também  chamada  de 
notitia  criminis  espontânea):  quando  o 
delegado  descobre  o  acontecimento  por 
meio  de  suas  atividades  rotineiras 
(investigando),  de  jornais,  de  denúncia 
anônima,  etc.  (vale  lembrar  que  a  delação 
apócrifa ou anônima é  também  chamada de 
notícia inqualificada); 
b) Notitia  criminis  de  cognição 
indireta  ou  mediata  (também  chamada  de 
notitia  criminis provocada): quando  a  vítima 
provoca  a  atuação  do  delegado,  bem  como 
quando o promotor ou o juiz requisitar a sua 
atuação, ou, ainda, no  caso da  comunicação 
de uma  infração penal e, se possível, do seu 
autor, à autoridade policial feita por qualquer 
do povo; 
c) Notitia  criminis  de  cognição 
coercitiva:  quando  há  prisão  em  flagrante, 
em  que  a  notícia  do  crime  ocorre  com  a 
apresentação do autor do fato. 
8. Início do inquérito policial: a) nos crimes de 
ação  penal  pública  incondicionada,  o  inquérito 
policial  pode  ser  instaurado  de  ofício  (isto  é,  sem 
requerimento  do  interessado)  pela  autoridade 
policial, por requisição (que é uma exigência legal, não 
sujeita  a  indeferimento)  da  autoridade  judiciária  ou 
do  Ministério  Público,  bem  como  por  requerimento 
do  ofendido  (pedido  passível  de  indeferimento)  ou 
comunicação de qualquer do povo; b) nos crimes de 
ação  penal  pública  condicionada  a  instauração  de 
inquérito policial dependerá de prévia  representação 
(delatio criminis postulatória) do ofendido ou de  seu 
representante  legal,  bem  como  da  prévia  requisição 
do Ministro da Justiça nas raras hipóteses em que se 
exige essa  formalidade;  c) nos  crimes de ação penal 
privada  a  instauração  se  dará  após  prévio 
requerimento  do  ofendido  ou  de  seu  representante 
legal. 
9.  Peças  inaugurais  do  procedimento 
investigatório:  a)  portaria,  quando  instaurado  de 
ofício na  ação penal pública  incondicionada; b)  auto 
de  prisão  em  flagrante,  em  qualquer  espécie  de 
infração penal;  c)  requerimento do ofendido ou  seu 
representante  legal  na  ação  penal  privada  e  na 
pública  incondicionada,  e,  representação,  na  ação 
penal  condicionada;  d)  requisição  do  Ministério 
Público  ou  da  autoridade  judiciária  na  ação  penal 
pública  incondicionada  e  na  ação  penal  pública 
condicionada  somente  quando  acompanhada  da 
representação do ofendido; e) requisição do Ministro 
da  Justiça  na  ação  penal  pública  condicionada  a  tal 
requisição. 
10.  Atos  do  inquérito:  são  diligências  ou 
providências  enunciadas  nos  artigos  6º  e  7º  do  CPP 
que, regra geral, devem ser empreendidas para que a 
autoridade  esclareça  o  fato  delituoso  e  as  suas 
circunstâncias.  Vale  mencionar  que,  embora  o  CPP 
afirme que a autoridade providenciará para que não 
se  altere  o  estado  das  coisas  até  a  chegada  dos 
peritos, em casos de acidente de trânsito a autoridade 
ou agente policial que primeiro  tomar conhecimento 
do  fato  poderá  autorizar,  independentemente  de 
exame do  local, a  imediata remoção das pessoas que 
tenham  sofrido  lesão,  bem  como  dos  veículos 
envolvidos, se estiverem na via pública prejudicando o 
tráfego.  Quanto  a  reprodução  simulada  dos  fatos 
(reconstituição do crime),  registre‐se que o  indiciado 
não está obrigado a participar. 
11. Indiciamento: o indiciado é a pessoa eleita 
pela  autoridade  policial,  dentro  da  sua  convicção, 
como autora da  infração penal; é a pessoa apontada 
como  autora  do  crime  pelos  indícios  colhidos  no 
inquérito policial  (Guilherme de Souza Nucci). Assim, 
o indiciamento é a informação ao suspeito de que ele 
passa a ser o principal foco da investigação. 
12.  Prazos:  regra  geral,  quando  o  indiciado 
estiver  em  liberdade,  a  autoridade  policial  deverá 
concluir  as  investigações  no  prazo  de  trinta  dias 
(podendo haver prorrogação nos  termos do  § 3º do 
artigo 10 do CPP); se o indiciado estiver preso, o prazo 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
para a conclusão do inquérito é de dez dias. Na lei de 
drogas  (Lei  nº  11.343/2006),  o  inquérito  será 
concluído no prazo de 30 dias  se o  indiciado  estiver 
preso  e  de  90  dias  se  estiver  solto,  podendo  haver 
duplicação desse prazo pelo  juiz, ouvido o Ministério 
Público, mediante pedido  justificado do delegado. O 
inquérito que corre na polícia federal tem o prazo de 
15 dias, sujeito a prorrogação por outros quinze dias, 
se  necessário,  bem  como  o  prazo  de  trinta  dias 
estando  o  indiciado  solto.  Nos  crimes  contra  a 
economia popular  (Lei nº 1.521/51) o prazo é de 10 
dias, sem distinção entre indiciado preso ou solto. Nos 
inquéritos militares,  caso o  indiciado  esteja preso, o 
encerramento  do  inquérito  policial  militar  deve 
ocorrer em 20 dias, e, estando solto, o prazo é de 40 
dias,  podendo  haver  prorrogação  por  mais  20  dias 
(art. 20, Código de Processo Penal Militar). 
13.  Arquivamento:  cabe  a  autoridade 
judiciária, a  requerimento do Ministério Público, que 
é o titular da ação penal pública, arquivar o inquérito. 
Atente‐se, o juiz não pode determinar o arquivamento 
de  inquérito policial  se não houver  requerimento do 
Ministério  Público.  A  autoridade  policial  pode, 
independentemente  da  instauração  de  outro 
inquérito,  proceder  a  novas  pesquisas,  mas  para 
desarquivar  o  inquérito  policial,  será  necessário  que 
as  provas  coletadas  sejam  substancialmente  novas  ‐ 
aquelas  desconhecidas  anteriormente  por  qualquer 
das  autoridades  ‐,  sob  pena  de  se  configurar  um 
constrangimento  ilegal  (Guilherme  de  Souza  Nucci). 
Nos casos de ação penal privada, não há necessidade 
do  ofendido  solicitar  o  arquivamento,  basta  deixar 
correr o prazo decadencial de seis meses. 
14. Observações finais: 
a) Incomunicabilidade  (art.  21, 
CPP): a doutrina majoritária entende que não 
foi  recepcionado  pela  Constituição  Federal, 
tendo  em  vista  o  art.  136,  §  3º,  IV  da  Carta 
Magna, que não admite a  incomunicabilidade 
nem mesmo no Estado de Defesa, imagine em 
períodos de normalidade. 
b) O  STF entende que quando o 
inquérito foi arquivado com base na prova da 
atipicidade  do  fato,  esta  decisão  faz  coisa 
julgada  material  (se  tornaimutável  e 
indiscutível), não sendo possível oferecer mais 
a  denúncia  nem  mesmo  se  surgissem  novas 
provas. 
c) A  doutrina  e  a  jurisprudência 
majoritárias  não  aceitam  a  tese  do 
arquivamento  implícito  (quando o Ministério 
Público, em  vez de  requerer o arquivamento 
do inquérito ao juiz, oferece denúncia em face 
de  um  dos  investigados,  mas  não  menciona 
nada  acerca  do  outro  indiciado,  ou  ainda, 
imputa ao indiciado a prática de um fato, sem 
fazer  referência a outro  também apurado no 
inquérito, e, em qualquer dessas situações, o 
juiz  também  não  percebe  a  omissão, 
ocorrendo o arquivamento implícito). 
d) Chama‐se  arquivamento 
indireto  a  hipótese  do  Ministério  Público 
deixar de oferecer denúncia por entender que 
o  juízo  é  incompetente,  requerendo  a 
remessa  dos  autos  ao  órgão  competente. 
Arquivamento  originário  é  o  requerido  pelo 
Procurador‐Geral,  nas  ações  de  competência 
originária  dos  tribunais,  aí  não  tem  como  o 
relator no tribunal invocar o art. 28 do Código 
de  Processo  Penal,  porque  o  pedido  de 
arquivamento  foi  feito  pelo  próprio 
Procurador‐Geral. 
e) Cabe  ao  Ministério  Público 
exercer  o  controle  externo  da  atividade 
policial (art. 129, VII, CF). 
f) Nas  infrações  penais  de 
menor  potencial  ofensivo  (crimes  com  pena 
máxima  não  superior  a  dois  anos  e  as 
contravenções  penais)  não  haverá  inquérito 
policial,  mas  o  termo  circunstanciado  de 
ocorrência  (TCO).  Neste  caso,  exige  a  Lei  nº 
9.099/95  (Lei  dos  Juizados  Especiais)  apenas 
que  se  registre  de  forma  sucinta  o  fato, 
indique  os  envolvidos  e  eventuais 
testemunhas,  devendo  ser  encaminhado  ao 
Juizado imediatamente. 
 
SÚMULAS: 
 
      STJ: 
• 234.  A  participação  de  membro  do 
Ministério Público na fase investigatória 
criminal não acarreta seu  impedimento 
ou  suspeição  para  o  oferecimento  de 
denúncia. 
 
STF: 
• 397. O poder de polícia da Câmara dos 
Deputados  e  do  Senado  Federal,  em 
caso  de  crime  cometido  nas  suas 
 
 
 
 Prof. Otoni Queiroz 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
dependências,  compreende,  consoante 
o  regimento,  a prisão  em  flagrante do 
acusado e a realização do inquérito. 
• 524.  Arquivado  o  inquérito  policial, 
por  despacho  do  juiz,  a  requerimento 
do  promotor  de  justiça,  não  pode  a 
ação  penal  ser  iniciada  sem  novas 
provas. 
• Súmula  vinculante  14:  É  direito  do 
defensor,  no  interesse  do 
representado,  ter  acesso  amplo  aos 
elementos  de  prova  que,  já 
documentados  em  procedimento 
investigatório  realizado por órgão  com 
competência de polícia judiciária, digam 
respeito  ao  exercício  do  direito  de 
defesa. 
 
 
III. COMENTÁRIOS ACERCA DE AÇÃO PENAL: 
 
1)  Conceito  e  condições:  é  o  direito  do 
Estado‐acusação  (Ministério Público) ou da vítima de 
ingressar  em  juízo,  solicitando  a  prestação 
jurisdicional, representada pela aplicação das normas 
de  direito  penal  ao  caso  concreto  (Guilherme  de 
Souza  Nucci).  Nessa  linha,  o  exercício  regular  do 
direito de ação é condicionado ao preenchimento das 
condições da ação, que “são os elementos e requisitos 
necessários  para  que  o  juiz  decida  do  mérito  da 
pretensão, aplicando o direito objetivo a uma situação 
contenciosa” (José Frederico Marques). São elas: 
 
(a) Possibilidade  jurídica  do 
pedido: o que foi requerido pela parte deve 
ser  admitido  pelo  direito,  assim,  se  o  fato 
narrado evidentemente não constituir crime, 
não será possível analisar o pedido feito. 
 
(b) Interesse de agir: deve haver 
necessidade,  adequação  e  utilidade  para 
ação  penal.  Há  interesse‐necessidade 
quando  a  jurisdição  é  indispensável,  e,  no 
processo penal, a necessidade é presumida, 
já  que  ninguém  pode  fazer  justiça  pelas 
próprias mãos (é crime tipificado no art. 345, 
CP),  tendo que procurar o Poder  Judiciário. 
Já o  interesse‐adequação, significa a escolha 
do mecanismo processual adequado, assim, 
se  a  parte  deseja  trancar  a  ação  penal, 
quando responde a um crime punido apenas 
com  multa,  não  pode  se  valer  do  habeas 
corpus,  já  que  o  direito  de  locomoção  não 
está  correndo  risco  algum  (súmula  693  do 
STF).  Existe  interesse‐utilidade  quando  a 
punição  é  possível,  caso  contrário  a  ação 
penal será inútil. Ora, se o Ministério Público 
vislumbra a prescrição retroativa em face da 
possível pena que será aplicada na sentença 
final, não haverá nenhuma utilidade na ação 
penal. 
 
 
(c) Legitimidade das partes:  tem 
legitimidade para ser autor o titular da ação 
penal,  conforme  previsão  legal,  e  para  ser 
réu a pessoa a quem se atribui a imputação. 
Portanto,  no  pólo  ativo  deve  estar  o 
Ministério Público,  titular  exclusivo da  ação 
penal  pública,  ou  o  ofendido  (chamado  de 
querelante na ação penal privada), titular da 
ação  penal  privada,  mas  como  substituto 
processual,  defendendo  em  nome  próprio 
direito  alheio  (pois  o  jus  puniendi  pertence 
ao Estado). No pólo passivo,  como é óbvio, 
deve estar o acusado de praticar a  infração 
penal, (chamado de querelado na ação penal 
privada). Vale destacar que a pessoa jurídica 
pode  ser  sujeito  passivo  da  ação  penal, 
segundo  §  3º  do  art.  225  da  Constituição 
Federal, regulamentado pela Lei nº 9.605/98 
(Lei  dos  crimes  ambientais),  e,  segundo  a 
teoria da dupla  imputação, a ação deve ser 
intentada  não  só  contra  a  pessoa  jurídica 
infratora,  mas  contra  a  pessoa  física 
responsável  pela  administração  da  mesma 
(STJ:  REsp.  889528/SC;  5ª  Turma;  Rel. Min. 
Félix Fischer). 
 
(d) Justa  causa:  é  o  mínimo  de 
prova  necessário  ao  regular  exercício  da 
ação  penal.  É  a  prova  da  materialidade 
(existência) do crime e indícios suficientes de 
autoria. 
 
2)  Classificação:  a  principal  classificação  da 
ação  penal  leva  em  conta  a  sua  titularidade  (quem 
pode  propor  a  ação  penal).  Assim,  a  ação  penal  se 
divide em pública ou privada. Na ação penal pública, 
seu  titular  é  o  Ministério  Público.  Na  ação  penal 
privada,  o  titular  é  o  ofendido  ou  quem  tenha 
capacidade para representá‐lo. 
A  ação  penal  pública,  que  se  iniciará  com  o 
recebimento  da  denúncia,  pode  ser  ainda 
incondicionada ou condicionada. Esta última, por sua 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
vez, pode ser condicionada à representação da vítima 
ou à requisição do Ministro da Justiça. 
A ação penal privada, que  terá  início quando 
recebida  a  queixa‐crime,  se  divide  entre  ação  penal 
privada exclusiva, ação penal privada personalíssima e 
ação penal privada subsidiária da pública. 
 
3) Princípios referentes a ação penal pública 
 
(a) Princípio  da 
oficialidade: há um órgão do Estado a 
quem  cumpre  promover, 
privativamente, a ação penal pública. 
Esse órgão é o Ministério Público (art. 
129, I, CF). 
 
(b) Princípio  da 
obrigatoriedade  (ou  da  legalidade 
processual):  por  esse  princípio, 
presentes  a  prova  da  existência  do 
crime  e  indícios  suficientes  de  sua 
autoria,  o  Ministério  Público  é 
obrigado a ofertar a denúncia. Porém, 
diante das  infrações penais de menor 
potencial  ofensivo  (art.  61,  Lei  nº 
9.099/95),  o  princípio  tem  atenuado 
este  caráter  e  passa  a  ter  um  valor 
relativo,  sendo  chamado de princípio 
da  obrigatoriedade  mitigada  ou  da 
discricionariedade  regrada,  que  é  a 
possibilidade  de  transação  penal 
proposta  pelo  Ministério  Público  (é 
uma  concessão  recíproca:  o  suposto 
autor  do  crime  sesubmete  a  uma 
medida  alternativa,  não  privativa  de 
liberdade,  em  troca,  o  Ministério 
Público não intenta a ação penal). 
 
(c) Princípio  da 
indisponibilidade:  segundo  esse 
princípio,  o  Ministério  Público  não 
pode  dispor  da  ação  penal,  isto  é,  a 
ele não é dado abrir de mão da ação 
penal.  Assim,  ofertada  a  denúncia, 
não  mais  se  admite  a  desistência  da 
ação  (arts.  42,  CPP)  ou  mesmo  do 
recurso  interposto  (art.  576,  CPP),  já 
que o  juiz  terá que  julgar o processo. 
O  legislador  da  Lei  nº  9.099/95 
mitigou  o  referido  princípio  com  a 
previsão da suspensão condicional do 
processo,  cabível  nas  infrações  com 
pena mínima  não  superior  a  um  ano 
(ajuizada  a  ação  penal,  o  Ministério 
Público poderá propor a suspensão do 
processo,  por  dois  a  quatro  anos, 
desde  que  presentes  os  demais 
requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95). 
 
(d) Princípio  da 
divisibilidade:  esse  princípio  permite 
que  a  ação  penal  possa  ser  dividida, 
nada  impedindo  o  desmembramento 
do  processo.  Assim,  por  exemplo, 
nada  impede  que  oferecida  a 
denúncia  contra  um  indiciado, 
posteriormente  seja  ela  aditada 
(complementada),  para  incluir  o  co‐
autor.  Vale  ressaltar  que  existe 
posição  contrária  admitindo  que 
vigora  o  princípio  da  indivisibilidade 
da  ação  penal  pública  (segundo  o 
qual,  o  Ministério  Público  deve 
oferecer  denúncia  em  face  de  todos 
os  envolvidos).  Entretanto,  é  a 
posição  fundada  no  princípio  da 
divisibilidade  que  tem  prevalecido 
dentro do STF e do STJ. 
 
(e) Princípio  da 
intranscendência  ou  pessoalidade:  a 
ação  penal  não  pode  ir  além  da 
pessoa  que  cometeu  o  delito,  não 
atingindo,  por  exemplo,  seus 
familiares. 
 
4)  Ação  penal  pública  incondicionada:  na 
ação  penal  pública  incondicionada  seu  titular  é  o 
Ministério  Público,  chamado  dominus  littis  (dono  da 
ação  penal).  Aqui,  predomina  o  interesse  do  Estado 
em punir o autor da infração penal e, por isso mesmo, 
se  diz  que  a  ação  é  incondicionada,  ou  seja,  não  se 
submete  a  qualquer  condição.  É  a  regra  no  direito 
brasileiro.  O  Código  de  Processo  Penal  autoriza 
qualquer  pessoa  do  povo  a  provocar  a  iniciativa  do 
Ministério  Público,  nos  casos  em  que  caiba  a  ação 
pública,  fornecendo‐lhe  informações  sobre  o  fato 
delituoso (art. 27, CPP). 
 
5) Ação penal pública condicionada 
 
5.1)  Ação  penal  pública  condicionada  à 
representação 
 
Nessas hipóteses, como  já se viu, o  titular da 
ação é o Ministério Publico que, porém, para ofertar a 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
denúncia deve contar, antes, com uma “autorização” 
da  vitima  (art. 24, CPP). A  representação é, assim, a 
manifestação  de  vontade  da  vitima  ou  de  seu 
representante  legal  no  sentido  de  que  quer  ver  seu 
ofensor processado.  
O  crime  será  de  ação  penal  publica 
condicionada  à  representação  quando  a  lei, 
expressamente, apontar essa necessidade. Assim, por 
exemplo,  o  parágrafo  único  do  art.  147  do  Código 
Penal,  diz  que  a  ação  penal  no  crime  de  ameaça 
dependerá da prévia representação do ofendido.  
A  representação  é  uma  condição  de 
procedibilidade,  já  que,  sem  ela,  a  ação  penal  não 
terá  inicio.  Isto é, o Ministério Publico  somente  terá 
condição  de  processar  o  autor  do  fato  se,  antes, 
contar com a  representação da vitima. É claro que a 
oferta  da  representação  não  importa  na 
obrigatoriedade  do  Ministério  Publico  em  ofertar  a 
denúncia.  Ou  seja,  a  representação  permite  que  o 
Ministério público faça a denúncia, mas não o obriga 
a ofertá‐la. Como dono da ação penal (dominus littis), 
ele  analisará  se  é  ou  não  o  caso  de  propor  a  ação 
penal. 
De  se  ver que,  em  se  tratando de  um  crime 
cometido por vários agentes (concurso de pessoas), a 
representação  contra  um  deles  já  é  suficiente  para 
que  o  Ministério  Público  processe  a  todos  (é  a 
chamada eficácia objetiva da representação). 
 
5.1.1)  Legitimidade  para  representar  e 
destinatários da representação 
 
A  legitimidade  para  representar,  isto  é,  a 
titularidade do direito de  representar  é do ofendido 
ou  de  quem  tiver  qualidade  para  representá‐lo,  nos 
termos  do  art.  24  do  Código  de  Processo  Penal. 
Ofendido  é  a  vitima  da  infração  penal  e,  contando 
mais  de  18  anos,  cabe  a  ele,  segundo  critérios 
pessoais, decidir se quer ou não representar contra o 
seu ofensor.  
Sendo  a  vitima  menor  de  18  anos,  a 
representação  pode  ser  ofertada  por  seu 
representante  legal.  Claro:  o menor  de  18  anos  não 
possui  capacidade,  cabendo,  por  isso,  ao  seu 
representante  legal  manifestar  sua  vontade  em  seu 
lugar.  Representante  legal,  como  regra,  são  os  pais, 
mas também podem ser o tutor ou o curador. Caso a 
vitima não tenha um representante legal, cabe ao juiz 
nomear‐lhe  um  curador  especial  (art.  33,  CPP),  a 
quem  cumpre  decidir  se  irá  ou  não  representar.  A 
mesma  solução  se  dará  nas  hipóteses  em  que  o 
ofendido  encontrar‐se  mentalmente  enfermo,  ou 
retardado  mental,  ou  quando  seus  interesses 
colidirem  com  os  interesses  de  seu  representante 
legal.  Nesses  casos,  também  lhe  será  nomeado  um 
curador (art.34, CPP). 
Morrendo  a  vitima  ou  sendo  declarada 
judicialmente  ausente,  o  direito  de  representação  é 
transferido  ao  cônjuge,  ascendente,  descendente  ou 
irmão  (art. 24, parágrafo único, CPP). Tratando‐se de 
pessoa jurídica, a representação deve ser exercida por 
seus  diretores,  sócios  ou  quem  os  respectivos 
contratos designarem (art. 37, CPP). 
A  representação pode  ser dirigida ao  juiz, ao 
Promotor de Justiça e à autoridade policial, conforme 
se  infere da  leitura do art. 39 do Código de Processo 
Penal. E, de acordo com o STF, a representação é peça 
sem  rigor  formal,  sendo  importante  apenas  que  a 
vítima deixe  claro o  seu  interesse de  ver o autor do 
fato processado. 
      
5.1.2) Prazo para a representação 
 
O prazo para a representação é de seis meses, 
nos termos dos arts. 38 do CPP e 103 do CP. A inércia 
da  vitima  ou  de  seu  representante  legal  acarreta  a 
decadência,  que  significa  que  a  perda  do  direito  de 
agir  pelo  decurso  do  prazo  estabelecido  em  lei, 
ensejando a extinção da punibilidade (art. 107, IV, do 
CP). O marco  inicial para a contagem desse prazo  se 
dá na data em que a vitima ou seu representante legal 
toma conhecimento sobre a autoria do crime. 
   
5.1.3) Retratação 
 
É  possível  que,  tendo  a  vitima,  inicialmente, 
ofertado  a  representação,  ela  pretenda, 
posteriormente,  se  retratar.  Retratação  é  o  ato  de 
voltar  atrás,  desdizer  o  que  dissera.  De  forma  que, 
tendo  manifestado  sua  intenção  de  ver  o  agente 
processado,  nada  impede  que,  depois,  a  vitima  se 
arrependa  e,  conseqüentemente,  apresente  uma 
retratação.  A  retratação  é  possível  até  a  oferta  da 
denúncia (art. 25). 
Tem‐se  admitido,  também,  a  chamada 
retratação  da  retratação.  Explicamos  melhor  num 
exemplo.  Suponha‐se  que  a  vitima  de  um  crime  de 
lesão corporal  leve,  inicialmente, represente contra o 
seu ofensor. Posteriormente, arrependida, se retrate. 
Pode, depois disso, tornar a representar, naquilo que 
se  chama  –  repita‐se  –  retratação  da  retratação.  É 
necessário,  contudo,  que  não  tenha  se  operado  a 
extinção  da  punibilidade  pela  decadência  (ou  seja, 
não  pode  ter  passado  os  seis  meses  comentados 
acima).Prof. Otoni Queiroz 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
5.2)  Ação  penal  pública  condicionada  à 
requisição do Ministro da Justiça 
 
Há  situações  em  que  embora  o  Ministério 
Público  seja o  titular da  ação penal, ele depende da 
prévia  requisição do Ministro da  Justiça. É o mesmo 
que  ocorre  com  a  representação  acima  estudada, 
quando  a  vitima  “autoriza”  o  Ministério  Público  a 
atuar.  Aqui,  essa  “autorização”  é  formulada  pelo 
Ministro da Justiça e tem a natureza  jurídica (como a 
representação) de uma  condição de procedibilidade, 
ou seja, o Ministério Público somente poderá oferecer 
a  denúncia  se,  antes,  contar  com  a  requisição  (art. 
24). Ressalte‐se, porém, que a  requisição não  tem o 
caráter  de  ordem  e,  por  conseqüência,  uma  vez 
apresentada  não  obriga  o  Ministério  Publico  a 
denunciar. Ele, como titular da ação (dominus littis), é 
quem vai analisar se é caso, ou não, de oferecimento 
da denúncia. 
A requisição, ao contrário do que ocorre com 
a  representação,  não  se  submete  a  nenhum  prazo 
decadencial  e  pode  ser  ofertado  a  qualquer  tempo, 
desde  que,  por  óbvio,  não  tenha  ocorrido  a 
prescrição. 
 
6) Ação penal privada 
 
Em determinadas situações o Estado (que tem 
o direito de punir) transfere ao particular o direito de 
acusar. Ou  seja,  a  acusação  que,  normalmente,  tem 
como  titular  o  Ministério  Público,  em  hipóteses 
expressamente  previstas  na  lei  é  transferida  para  o 
particular.  É  o  que  ocorre  na  ação  penal  privada. 
Assim, o ofendido é um substituto processual, ou seja, 
pleiteia em nome próprio direito alheio (como vimos, 
o direito de punir pertence ao Estado). 
 
6.1)  Princípios  que  regem  a  ação  penal 
privada 
 
a)  Princípio  da  conveniência  ou 
oportunidade:  por  esse  principio,  fica  a  critério  da 
vitima decidir se quer ou não processar o seu ofensor. 
Esse princípio, portanto,  se distingue do princípio da 
obrigatoriedade,  vigente na  ação penal pública, pelo 
qual o Ministério Público é obrigado, preenchidos os 
requisitos  legais,  a  ofertar  a  denúncia.  O  ofendido 
pode deixar de  exercer o direito de  ação  através da 
decadência  (ficando  inerte  até  transcorrer  o  prazo 
decadencial de seis meses para oferecer a queixa: art. 
38, CPP) ou da  renúncia  (abrindo mão do direito de 
queixa de  forma expressa ou tácita: arts 49, 50 e 57, 
CPP). 
 
b) Princípio da disponibilidade: na ação penal 
privada,  o  ofendido  pode,  a  qualquer  momento, 
depois  de  iniciado  o  processo,  simplesmente 
abandoná‐lo ou perdoar o querelado. Na ação penal 
pública,  ao  contrário,  como  já  vimos,  vigora  o 
princípio  da  indisponibilidade.  O  princípio  da 
disponibilidade  se manifesta através do perdão  (que 
precisa ser aceito e é concedido de forma expressa ou 
tácita:  arts.  51,  53,  55,  56,  57,  58  e  59,  CPP)  e  da 
perempção  (que é uma  sanção  imposta ao ofendido 
desidioso que abandona a ação: art. 60, CPP). 
 
c)  Princípio  da  indivisibilidade:  conforme 
analisamos  no  item  acima,  a  decisão  de  processar 
cabe  exclusivamente  ao  ofendido,  segundo  sua 
conveniência  e  oportunidade.  Mas,  a  partir  do 
momento  em  que  resolve  processar,  deve  propor  a 
queixa‐crime contra todos os autores da infração. É o 
que  diz  o  art.  48  do  Código  de  Processo  Penal.  Em 
outras  palavras,  ou  processa  todos  ou  não  processa 
ninguém.  Ainda:  o  art.  48  dispõe  que  caberá  ao 
Ministério Publico velar pela indivisibilidade da ação 
penal  privada  e  o  art.  45  lhe  faculta  aditar 
(complementar)  a  queixa.  Daí  se  indagar  se  é 
admissível ao Ministério Publico aditar a queixa para 
incluir co‐autor ou partícipe do crime que foi omitido 
dolosamente  pelo  querelante.  Exemplificando:  a 
vitima  foi  caluniada  por  A,  B  e  C.  Promove,  então, 
queixa  contra  A  e  B.  Poderia  o  Ministério  Público 
aditar a queixa para nela  incluir C? Para a maioria da 
doutrina  a  resposta  é  negativa,  pois  processar  C 
depende,  como  já  visto,  da  conveniência  e  da 
oportunidade  da  vitima  (querelante).  A  forma, 
portanto,  do  Ministério  Público  velar  pela 
indivisibilidade,  nesse  caso,  se  dará  através  de  um 
pedido  para  que  a  renúncia  em  relação  a  C,  se 
estenda  também  para  A  e  B.  De  sorte  que  a 
possibilidade  de  aditamento  prevista  no  art.  45  do 
CPP  é  cabível  apenas  para  que  o  Ministério  Público 
corrija  algum  defeito  formal  da  queixa,  como,  por 
exemplo, a  classificação do  crime, a qualificação dos 
querelados etc., mas não para  incluir eventual autor 
do  delito  não  mencionado  dolosamente  pelo 
querelante. 
 
d)  Principio  da  intranscendência  ou 
pessoalidade:  é  exatamente  o  mesmo  que  vige, 
também,  na  ação  penal  pública,  segundo  o  qual  a 
ação penal não pode ir além da pessoa que cometeu o 
delito, não atingindo, por exemplo, seus familiares. 
 
 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
6.2) Prazo e titularidade 
 
  A disciplina  a  respeito do prazo  e da 
legitimidade  na  ação  penal  privada  é  exatamente  a 
mesma aplicada a ação penal publica condicionada à 
representação, analisada acima, à qual  remetemos o 
leitor. Assim, o prazo para oferta da queixa é de seis 
meses, sob pena de decadência, contando da data em 
que a vitima tem conhecimento sobre quem é o autor 
do ilícito penal.  
  A  titularidade  para  oferta  da  queixa, 
por seu turno, é da vitima, dependendo de sua idade. 
Contando  mais  de  18  anos,  cabe  a  ela, 
exclusivamente,  ajuizar  a  ação  penal.  Contando 
menos de 18 anos, cumprirá aos seus representantes 
legais  fazê‐lo  (conforme  novo  Código  Civil). 
Verificando‐se  a  morte  da  vitima,  sendo  ela 
mentalmente  enferma  ou  na  colidência  de  seus 
interesses com o de seu representante  legal (art. 33), 
incidem  os  mesmos  ensinamentos  já  verificados 
acima,  quando  tratamos  da  ação  penal  pública 
condicionada a representação. 
  Vale  destacar  que  a  queixa, 
tecnicamente  falando,  é  a  petição  inicial  na  ação 
penal  privada,  formulada  pela  vitima  (querelante), 
assim  como  a  denúncia  é  a  petição  inicial  na  ação 
penal pública, subscrita pelo Ministério Público. 
 
6.3) Espécies 
 
São  três as espécies de ação penal privada, a 
saber: 
 
a) ação  penal  exclusivamente 
privada: é aquela que pode  ser proposta 
pelo  próprio  ofendido,  ou  por  seu 
representante  legal  (art.30,CPP),  ou  por 
seu  curador  (art.  33,  CPP),  ou  por  seus 
sucessores (art. 31, CPP). 
 
b) Ação  penal  privada 
personalíssima:  é  aquela  que  somente 
pode ser proposta pelo próprio ofendido. 
Sendo  ele  menor,  há  que  aguardar  que 
atinja  a  maioridade,  não  podendo  ser  a 
queixa  ajuizada  por  seus  representantes 
legais.  Tampouco  sendo  falecido,  já  que 
seus  sucessores  não  poderão  propor  a 
ação,  ocorrendo,  nesse  caso,  a  extinção 
da  punibilidade.  Também  se  for 
mentalmente  enfermo  o  ofendido,  não 
cabe a nomeação de curador, devendo se 
aguardar a sua cura. O único caso de ação 
penal  privada  personalíssima  é  o  crime 
previsto no art. 236, do CP (induzimento a 
erro  essencial  e  ocultação  de 
impedimento), cuja queixa somente pode 
ser apresentada pela pessoa que contraiu 
o  casamento por  engano, nos  termos do 
parágrafo único do mencionado artigo. 
 
c) Ação penal privada subsidiaria 
da  pública:  vem  prevista  na  Constituição 
Federal  (art.  5º,  LIX),  e  nos  arts.  29  do 
Código de Processo Penal e 103, § 3º, do 
Código Penal. É  cabível apenas quando o 
crime  for de ação penal publica e houver 
inércia  do  MinistérioPúblico.  Melhor 
explicando:  tomemos  o  exemplo  de  um 
crime  de  roubo,  que  é  de  ação  penal 
publica.  Recebido  o  inquérito  policial, 
abrem‐se  três  alternativas  para  o 
Ministério Publico. Ou oferta a denúncia, 
ou  pede  o  arquivamento  ou  requer  a 
devolução dos autos à Delegacia de Policia 
para novas diligencias. Ora,  se passado o 
prazo  legal  para  o  oferecimento  da 
denúncia  (5  dias  se  o  indiciado  estiver 
preso  e  15  dias  se  estiver  solto), 
nenhuma dessas alternativas  for adotada 
pelo  Promotor  de  Justiça,  está 
configurada  a  sua  inércia  e,  por 
conseqüência,  pode  a  vitima  (ou  seus 
sucessores,  representante  legal  ou 
curador),  apresentar  a  queixa  que  irá, 
exatamente,  substituir  a  denúncia  do 
Ministério Público. 
 
Importante:  O  prazo  para  oferta  da 
queixa  na  ação  penal  privada  subsidiária  da 
pública  continua  sendo  de  seis  meses, 
iniciados  do  encerramento  do  prazo  que  o 
Ministério Público dispõe para atuar (5 ou 15 
dias,  a  depender  da  existência  ou  não  de 
prisão),  e,  caso  o  ofendido  não  apresente  a 
queixa,  a  qualquer  momento  pode  o 
Ministério Publico ofertar a denúncia,  já que 
para  ele  não  há  decadência.  Apresentada  a 
queixa,  pode  o  Ministério  Público  aditá‐la 
livremente e até pedir sua  rejeição.  Intervirá, 
ainda,  em  todos  os  atos  do  processo, 
requerendo  a  produção  de  prova  e 
interpondo  recursos  (art  29,  CPP).  Caso  o 
querelante  abandone  a  ação  penal  privada 
subsidiaria  da  publica,  não  há  nesse  caso, 
perempção  ou  perdão  (somente  verificáveis 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
na ação penal exclusivamente privada), já que 
o Promotor de Justiça reassume a titularidade 
da ação penal como parte principal. Repita‐se, 
por  último,  que  somente  é  cabível  essa 
espécie de ação quando  se verificar, como  já 
dito, a  inércia do Ministério Público. Assim se 
o  órgão  pede  o  arquivamento  do  inquérito 
policial,  não  há  inércia  e,  portanto,  não  se 
admite a queixa subsidiaria. O mesmo ocorre 
quando requer novas diligências. 
 
7) Peças iniciais da acusação 
 
A  denúncia  é  a  peça  apresentada  pelo 
Ministério  Público  contendo  a  imputação  contra  o 
agente;  a  queixa‐crime  é  a  peça  oferecida  pelo 
ofendido descrevendo a  imputação contra o autor do 
delito. Tanto a denúncia como a queixa‐crime devem 
conter  a  exposição  do  fato  criminoso  com  suas 
circunstâncias,  bem  como  a  qualificação  do  acusado 
ou  elementos  que  possam  identificá‐lo,  além  da 
classificação do crime (artigo do Código Penal) e o rol 
das testemunhas (art. 41, CPP).  
Quanto à descrição do fato, com todas as suas 
circunstâncias  (art.  41,  I, CPP),  registre‐se que o  réu 
defende‐se dos fatos e não do artigo de lei, portanto, 
a narrativa deve ser minuciosa, abrangendo  todos os 
aspectos  necessários  para  enquadramento  no  tipo 
penal.  Caso  a  descrição  da  inicial  seja  deficiente,  a 
petição  é  inepta,  ocorrendo  a  nulidade  da  causa. 
Todavia,  o  STF  entende  que  a  inépcia  da  inicial  só 
pode  ser questionada até antes de dada a  sentença, 
depois,  só a própria  sentença condenatória pode  ser 
atacada, não mais a inicial que deu ensejo à mesma. 
Outro  ponto  de  destaque  diz  respeito  à 
denúncia genérica, não admitida pelo STF (HC 88.879‐
STF).  Em  crimes  societários  (denominados  crimes de 
gabinete), mesmo não podendo detalhar a conduta de 
cada  um  dos  sócios,  não  é  possível  a  denúncia 
genérica,  é  necessário  que  a  acusação  narre  um 
vínculo mínimo entre a conduta e o resultado. 
Já vimos que o prazo para o oferecimento da 
denúncia é de 5 dias, se o denunciado estiver preso, e 
15 dias,  se  solto, mas, a  legislação extravagante  traz 
prazos especiais, senão vejamos: 
• 10 dias, para crime eleitoral (art. 357, 
Código Eleitoral); 
• 10  dias,  para  tráfico  de  drogas  (art. 
54, III, Lei nº 11.343/06); 
• 48  horas,  para  crime  de  abuso  de 
autoridade (art. 13, Lei nº 4.898/65); 
• 02  dias,  para  crimes  contra  a 
economia popular (art. 10, § 2º, Lei nº 
1.521/51). 
No  que  se  refere  ao  prazo  para  oferta  da 
queixa‐crime, sabemos que é de 6 meses contados do 
conhecimento  do  autor  da  infração,  mas  também 
temos prazos especiais: 
• Crime de induzimento a erro essencial 
e  ocultação  de  impedimento  ao 
casamento (art. 236, parágrafo único, 
Código  Penal):  6  meses  após  o 
trânsito em  julgado da sentença que, 
no cível, anule o casamento; 
• Crimes contra a propriedade imaterial 
que deixem vestígios (art. 529, caput, 
CPP):  30  dias,  contados  da 
homologação do laudo, que ficará em 
cartório  à  disposição  do  ofendido 
para  que,  querendo,  oferte  a  sua 
ação. 
Por  fim,  saliente‐se  que,  ao  receber  a 
denúncia ou queixa, o juiz não precisa fundamentar a 
decisão, pois a fundamentação seria uma antecipação 
indevida  do  exame  do  mérito  (posição  majoritária, 
inclusive dos Tribunais Superiores). 
 
8) Observações finais: 
 
a) No caso de ofensa á honra do funcionário 
público que diga respeito ao exercício das 
funções, o STF entende que a legitimidade 
é  concorrente,  ou  seja,  existe  a 
possibilidade  de  ação  penal  pública 
condicionada  à  representação  ou  ação 
penal privada (súmula 714). 
b) O artigo 395 do Código de Processo Penal, 
alterado  pela  Lei  nº  11.719/08,  trata  da 
rejeição  da  denúncia  ou  queixa,  que 
anteriormente  era  tratada  no  art.  43  do 
referido  Código,  mas  foi  revogado 
expressamente  pela  nova  lei.  Vejamos  a 
nova redação do artigo 395: 
        Art.  395.   A  denúncia  ou  queixa  será  rejeitada 
quando: 
        I ‐ for manifestamente inepta; 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
         II  ‐  faltar  pressuposto  processual  ou  condição 
para o exercício da ação penal; ou 
         III  ‐  faltar  justa  causa  para  o  exercício  da  ação 
penal. 
        Parágrafo único.  (Revogado) 
 
SÚMULAS 
 
STF: 
• 554. O pagamento de cheque emitido 
sem  provisão  de  fundos,  após  o 
recebimento da denúncia, não obsta 
ao prosseguimento da ação penal. 
• 594.  Os  direitos  de  queixa  e  de 
representação  podem  ser  exercidos, 
independentemente,  pelo  ofendido 
ou por seu representante legal. 
• 608. No  crime de estupro, praticado 
mediante violência real, a ação penal 
é pública incondicionada. 
• 609. É pública  incondicionada a ação 
penal por crime de sonegação fiscal. 
• 714. É concorrente a  legitimidade do 
ofendido,  mediante  queixa,  e  do 
Ministério  Público,  condicionada  à 
representação  do  ofendido,  para  a 
ação penal por crime contra a honra 
de  servidor  público  em  razão  do 
exercício de suas funções. 
 
 
IV.  COMENTÁRIOS  ACERCA  DE  JURISDIÇÃO  E 
COMPETÊNCIA: 
 
1. JURISDIÇÃO 
 
É a função estatal de aplicar o direito ao caso 
concreto  (jurisdictio  =  ação  de  dizer  o  direito).  São 
características essenciais da jurisdição a unidade (para 
cada  Estado  soberano,  só  há  uma  jurisdição),  a 
imparcialidade  (é  atividade  eqüidistante  e 
desinteressada  do  conflito),  a  substitutividade 
(substitui a atuação das partes), a inércia (Ne procedat 
iudex ex officio, ou seja, o juiz depende de provocação 
para exercer a jurisdição) e, apesar das divergências, a 
lide (conflito de  interesses qualificado pela pretensão 
resistida). 
Dentre  os  seus  princípios,  podemos  citar:  (1) 
princípio do juiz natural (artigo 5º, incisos XXXVII e LIII, 
da  CF);  (2)  princípio  da  investidura;  (3)  princípio  da 
indelegabilidade; (4) princípio daindeclinabilidade; (5) 
princípio da inafastabilidade (artigo 5º, inciso XXXV da 
CF); (6) princípio da inevitabilidade, e; (7) princípio da 
correlação ou relatividade (a sentença prolatada pelo 
juiz deve corresponder ao pedido feito pelo titular da 
ação penal). 
 
2. COMPETÊNCIA 
 
É  o  limite  de  atuação  do poder  jurisdicional. 
Delimita a  jurisdição, conforme regras constitucionais 
e  processuais  sempre  voltadas  à  garantia  do  juiz 
natural, evitando‐se o juízo de exceção. 
 
Regras  fundamentais:  elege‐se,  como 
parâmetro,  o  lugar  do  crime.  Excepciona,  às  vezes, 
esse  parâmetro  a  natureza  da  matéria  discutida  no 
processo  (militar  ou  eleitoral)  ou  a  prerrogativa  de 
função (foro privilegiado). Por outro lado, quando não 
se souber (ou for duvidoso) o lugar do delito, pode‐se 
optar  pelo  foro  de  domicílio  ou  residência  do  réu. 
Eleito  um  (lugar  da  infração,  regra  geral  prevista  no 
art.  70,  CPP)  ou  outro  (domicílio  do  réu,  regra 
subsidiária prevista no art. 72, CPP), havendo mais de 
um  juízo,  segue‐se  o  critério  da  distribuição  (sorteio 
aleatório entre as Varas). Excepciona‐se a distribuição, 
devendo o processo  seguir para  juízo certo, em caso 
de conexão ou continência ou mesmo de prevenção. 
 
• Conexão: é a vinculação entre duas ou mais 
infrações,  levando  à  reunião  dos  processos 
que  os  apuram  em  um  só  juízo,  tanto  por 
economia  processual  na  colheita  da  prova 
como  para  evitar  decisões  conflitantes.  A 
conexão vem prevista no art. 76, CPP e pode 
ser  divida  em  conexão  intersubjetiva, 
objetiva e instrumental. Ela existe quando: 
1. Ocorrendo  duas  ou 
mais  infrações, 
houverem  sido 
praticadas,  ao  mesmo 
tempo,  por  várias 
pessoas  reunidas  (art. 
76,  I,  CPP).  É 
denominada  de 
conexão  intersubjetiva 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
por  simultaneidade 
(ou  ocasional). 
Exemplo:  várias 
pessoas,  após  o 
tombamento  de  um 
caminhão  na  rodovia, 
correm  para  saquear 
sua  mercadoria.  Todos 
os  autores  do  furto 
devem ser  julgados em 
um  único  processo. 
Diz‐se  ocasional 
porque  não  se  exige 
nenhum  ajuste  prévio 
entre  os  agentes,  ou 
seja,  um  planejamento 
anterior  quanto  à 
prática dos crimes; 
2. Ocorrendo  duas  ou 
mais  infrações  penais, 
houverem  sido 
praticadas  por  várias 
pessoas  em  concurso, 
embora  diverso  o 
tempo e o lugar (art. 76, 
I,  2º  parte,  CPP).  É 
denominada  conexão 
intersubjetiva  por 
concurso  (ou 
concursal).  Exemplo: 
com  o  objetivo  de 
roubar  um  banco,  um 
agente furta um veículo 
para  fuga,  outro 
adquire  arma  e  outro 
ingressa no banco. 
3. Se  as  infrações  forem 
cometidas  por  duas  ou 
mais  pessoas,  umas 
contra  as  outras  (art. 
76,  I última parte, CPP) 
é  denominada  conexão 
intersubjetiva  por 
reciprocidade. 
Exemplo:  lesões 
corporais  recíprocas 
decorrentes  de  uma 
briga envolvendo várias 
pessoas. 
4. Se  as  infrações  foram 
cometidas  para  facilitar 
ou  ocultar  outra,  ou 
para  conseguir 
impunidade  ou 
vantagem em  relação a 
outra (art. 76,  II, CPP) é 
denominado  conexão 
objetiva    ou 
teleológica.  Exemplo: 
comparsa  que  mata  o 
outro  para  ficar  com  o 
produto do  crime  (para 
conseguir vantagem). 
5. Se  a  prova  de  uma 
infração ou de qualquer 
de  suas  circunstâncias 
elementares  influir  na 
prova de outra  infração 
(art.  76,  III,  CPP). 
Denomina‐se  conexão 
instrumental  ou 
probatória.  Exemplo: 
furto  e  recepção  serão 
julgados 
simultaneamente,  já 
que a prova do primeiro 
crime  é  fundamental 
para  caracterizar  o 
segundo. 
• Continência:  é  a  relação  de  conteúdo 
detectada  entre  infrações,  seja  porque  há 
vários  agentes  cometendo  uma  só  infração 
(concurso de pessoas), seja porque existe um 
só fato que congrega dois ou mais resultados 
(concurso  formal),  levando  à  reunião  dos 
processos que apuram  tais delitos  (ou  fatos) 
para  que  exista  uma  solução  uniforme, 
evitando‐se o risco de decisões conflitantes e 
em  desacordo  com  as  normas  penais.  Ela 
vem prevista no art. 77, CPP e ocorre: 
1. Por  cumulação 
subjetiva  (art.  77,  I, 
CPP): verifica‐se quando 
duas  ou  mais  pessoas 
forem  acusadas  da 
mesma  infração. 
Exemplo:  dois  autores 
de  um  furto,  em 
concurso  de  agentes, 
serão  julgados 
conjuntamente. 
2. Por cumulação objetiva 
(art. 77,  II, CPP): ocorre 
nas  hipóteses  das 
infrações  serem 
cometidas na forma dos 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
arts.  70,  73,  2º  parte  e 
74,  2º  parte,  ou  seja, 
em concurso formal, na 
aberratio  ictus  e  na 
aberratio  criminis. 
Exemplo:  se  o  agente 
dispara um tiro e atinge 
duas pessoas, não  faria 
sentido  responder  a 
dois processos diversos. 
 
A  conexão  e  a  continência  não  são  bem  um 
critério  de  fixação  de  competência,  e  sim  de 
modificação  da  mesma,  atraindo  para  um 
determinado  juízo  os  crimes  ou  infratores  que 
poderiam  ser  julgados  separadamente,  por  órgãos 
diversos. Nessas hipóteses, são necessárias regras que 
irão definir qual o juízo competente. Os critérios para 
se estabelecer o foro prevalente (ou seja, aquele que 
chamará para  si, por  força de  lei, a  responsabilidade 
para julgar todos os crimes ou infratores interligados) 
estão  relacionados  no  art.  78  do  CPP.  Entretanto,  é 
possível  que,  mesmo  havendo  conexão  ou 
continência, os processos tramitem separadamente, e 
nesse  caso  teremos  a  separação  de  processos  que 
pode  ser  obrigatória  (prevista  no  art.  79,  CPP)  ou 
facultativa (prevista no art. 80, CPP). 
 
•  Prevenção: é o conhecimento, 
em primeiro  lugar, por um determinado  juiz, 
de  um  processo  que  poderia,  em  tese,  ser 
cabível  também  a  outros  magistrados, 
fazendo  com  que  se  fixe  a  competência.  É 
prevento  o  juiz que primeiro pratica  ato do 
processo  ou medida  a  este  relativa, mesmo 
que anteriores ao oferecimento da denúncia 
ou  da  queixa  (art.  83,  CPP).  Exemplo:  o  juiz 
que  decide  durante  a  fase  de  investigação 
acerca  da  prisão  preventiva  ou  de  um 
mandado de busca e apreensão torna‐se, pela 
prevenção,  competente  para  a  futura  ação 
penal.  O  CPP  estabelece  os  casos  em  que  a 
competência  será  fixada  pela  prevenção  nos 
arts.  70,  §  3º,  71,  72  §§  1º  e  2º,  e  na 
determinação da competência por conexão ou 
continência  quando  não  ocorre  a  solução 
pelos  critérios  do  art.  78,  II,  “a”  e  “b”,  a 
competência  é  também  firmada  pela 
prevenção.  Ressalte‐se  que  não  firma 
prevenção  a  atuação  do  magistrado  em 
plantão,  bem  como  a  apreciação  do  habeas 
corpus. 
 
•  Prerrogativa de  função:  trata‐
se  do  direito  de  determinadas  pessoas,  por 
ocuparem  cargos  ou  funções  públicas,  ao 
cometerem um delito, de serem  julgadas por 
foro  especial,  estabelecido  na  Constituição 
Federal  e  nas  Constituições  Estaduais. 
Vejamos: 
1) Supremo Tribunal Federal: 
1.1)  Poder  Executivo: 
Presidente,  Vice‐Presidente, 
Ministros  de  Estado, 
Advogado‐Geral  da  União, 
Presidente  do  Banco  Central, 
Controlador‐Geral da União. 
1.2)  Poder  Legislativo: 
Membros  do  Congresso 
Nacional  (Deputados Federais 
e Senadores). 
1.3)  Poder  Judiciário: 
Membros  dos  Tribunais 
Superiores (STF, STJ, TST, TSE, 
STM). 
1.3)  Outras  autoridades: 
Procurador‐Geral  da 
República,  Comandantes  das 
Forças Armadas, Membros do 
Tribunal de Contas da União e 
chefes de missão diplomática 
permanente. 
2) Superior Tribunal deJustiça: 
2.1)  Poder  Executivo: 
Governadores. 
2.2) Poder Legislativo: ‐ 
2.3)  Poder  Judiciário: 
Membros  dos  TRF,  TRE,  TJ  e 
TRT. 
2.4)  Outras  autoridades: 
Membros  dos  Tribunais  de 
Contas  dos  Estados,  Distrito 
Federal  e  Municípios,  bem 
como Membros do Ministério 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
Público  da  União  que  atuam 
perante Tribunais. 
3) Tribunais de Justiça: 
3.1)  Poder  Executivo: 
Prefeitos. 
3.2)  Poder  Legislativo: 
Deputados  Estaduais  (desde 
que  previsto  na  Constituição 
Estadual). 
3.3)  Poder  Judiciário:  Juízes 
de Direito. 
3.4)  Outras  autoridades: 
Membros  do  Ministério 
Público Estadual. 
4) Tribunais Regionais Federais: 
4.1)  Poder  Executivo: 
Prefeitos (segundo STF). 
4.2)  Poder  Legislativo: 
Deputados  Estaduais 
(segundo STF). 
4.3)  Poder  Judiciário:  Juízes 
Federais,  Juízes  do  Trabalho, 
Juízes Militares da União. 
4.4)  Outras  autoridades: 
Membros  do  Ministério 
Público da União. 
 
É  importante  fazer  algumas 
observações  acerca  do  foro  por  prerrogativa 
de  função.  Primeiro,  uma  vez  encerrado  o 
cargo  ou  o  mandato,  não  ocorre  a 
manutenção  do  foro  privilegiado  (ADI  nº 
2.797‐2 e ADI nº 2.860‐0). 
Segundo,  mesmo  que  a  autoridade 
cometa  uma  infração  fora  da  jurisdição  do 
tribunal que tem competência para apreciar o 
fato, será julgada perante tal tribunal, ou seja, 
se um juiz estadual do Ceará pratica um crime 
no  Estado  do  Rio  Grande  do  Norte  será 
julgado no Tribunal de Justiça do Ceará. 
Terceiro,  o  foro  por  prerrogativa  de 
função  consagrado  na  Constituição  Federal 
prevalece  em  face  da  competência  do 
Tribunal  do  Júri,  que  também  é  prevista  na 
Constituição  Federal.  Mas  se  o  foro  por 
prerrogativa  de  função  foi  estabelecido 
exclusivamente  pela  Constituição  estadual 
(como ocorre com deputados estaduais, vice‐
governadores)  prevalece  a  competência 
constitucional do Júri (Súmula 702 do STF). 
E  quarto,  os  prefeitos  serão  julgados 
perante o Tribunal de  Justiça  (art. 29, X, CF), 
mas apenas no caso de praticarem crimes de 
competência  da  justiça  estadual,  nos  demais 
casos,  a  competência  originária  caberá  ao 
respectivo tribunal de segundo grau (TRF, nos 
crimes federais e TRE nos crimes eleitorais). O 
mesmo entendimento vale para os deputados 
estaduais. 
 
Observações finais: 
a)  No  processo  penal,  o  juiz  pode 
reconhecer de ofício,  independentemente de 
alegação  das  partes,  a  incompetência,  seja 
absoluta ou relativa. Ressalte‐se que relativa é 
a  competência  territorial e absoluta  todas as 
demais. 
b)  Temos  três  teorias  acerca  da 
competência  territorial  (ratione  loci): a  teoria 
da  atividade  (local  da  ação  ou  omissão), 
adotada  nos  casos  de  crime  tentado  e  nos 
Juizados  Especiais  Criminais  (art.  63,  Lei  nº 
9.099/95);  a  teoria  do  resultado  (local  da 
consumação  do  delito),  prevista  no  art.  70, 
CPP, e;  teoria da ubiqüidade  (local da ação e 
da  consumação),  aplicada  nos  crimes  à 
distância (§§ 1º e 2º, art. 70, CPP). 
c)  Conforme  a  Lei  dos  Juizados 
Especiais  Criminais,  havendo  reunião  de 
processos  perante  o  juízo  comum  ou  o 
tribunal  do  júri,  decorrente  das  regras  de 
conexão  e  continência,  deve  ser  aplicada  a 
transação  penal  e  a  composição  civil  dos 
danos  às  infrações  de  menor  potencial 
ofensivo  interligadas  (parágrafo único do art. 
60, Lei nº 9.099/95). 
d)  A  competência  ratione  materiae 
pode  ser  comum  (federal  ou  estadual)  e 
especial  (militar e eleitoral). A  justiça comum 
estadual  é  competente  para  julgar  todas  as 
causas  que  não  sejam  de  competência  da 
justiça  especializada  ou  da  justiça  comum 
 
 
 
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federal (chamada de competência residual). A 
competência  da  justiça  comum  federal  está 
prevista no art. 109 da CF. Confira‐se: 
Art.  109.  Aos  juízes  federais  compete  processar  e 
julgar: 
I ‐ as causas em que a União, entidade autárquica 
ou  empresa  pública  federal  forem  interessadas  na 
condição  de  autoras,  rés,  assistentes  ou  oponentes, 
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as 
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; 
II  ‐  as  causas  entre  Estado  estrangeiro  ou 
organismo  internacional  e  Município  ou  pessoa 
domiciliada ou residente no País; 
III  ‐ as  causas  fundadas  em  tratado ou  contrato 
da  União  com  Estado  estrangeiro  ou  organismo 
internacional; 
IV  ‐  os  crimes  políticos  e  as  infrações  penais 
praticadas  em  detrimento  de  bens,  serviços  ou 
interesse da União ou de suas entidades autárquicas 
ou empresas públicas, excluídas as  contravenções e 
ressalvada  a  competência  da  Justiça  Militar  e  da 
Justiça Eleitoral; 
V ‐ os crimes previstos em tratado ou convenção 
internacional, quando, iniciada a execução no País, o 
resultado  tenha  ou  devesse  ter  ocorrido  no 
estrangeiro, ou reciprocamente; 
V‐A as causas relativas a direitos humanos a que 
se  refere  o  §  5º  deste  artigo;(Incluído  pela  Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004) 
VI  ‐ os crimes contra a organização do trabalho 
e, nos  casos determinados por  lei,  contra o  sistema 
financeiro e a ordem econômico‐financeira; 
VII ‐ os "habeas‐corpus", em matéria criminal de 
sua  competência  ou  quando  o  constrangimento 
provier  de  autoridade  cujos  atos  não  estejam 
diretamente sujeitos a outra jurisdição; 
VIII  ‐  os mandados  de  segurança  e  os  "habeas‐
data" contra ato de autoridade federal, excetuados os 
casos de competência dos tribunais federais; 
IX  ‐  os  crimes  cometidos  a  bordo  de  navios  ou 
aeronaves,  ressalvada  a  competência  da  Justiça 
Militar; 
X  ‐  os  crimes  de  ingresso  ou  permanência 
irregular  de  estrangeiro,  a  execução  de  carta 
rogatória,  após  o  "exequatur",  e  de  sentença 
estrangeira,  após  a  homologação,  as  causas 
referentes  à  nacionalidade,  inclusive  a  respectiva 
opção, e à naturalização; 
XI ‐ a disputa sobre direitos indígenas. 
§ 1º ‐ As causas em que a União for autora serão 
aforadas  na  seção  judiciária  onde  tiver  domicílio  a 
outra parte. 
§  2º  ‐  As  causas  intentadas  contra  a  União 
poderão  ser aforadas na  seção  judiciária em que  for 
domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o 
ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja 
situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. 
§  3º  ‐  Serão  processadas  e  julgadas  na  justiça 
estadual,  no  foro  do  domicílio  dos  segurados  ou 
beneficiários,  as  causas  em  que  forem  parte 
instituição  de  previdência  social  e  segurado,  sempre 
que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, 
e,  se  verificada  essa  condição,  a  lei  poderá  permitir 
que  outras  causas  sejam  também  processadas  e 
julgadas pela justiça estadual. 
§  4º  ‐  Na  hipótese  do  parágrafo  anterior,  o 
recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional 
Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau. 
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos 
humanos,  o  Procurador‐Geral  da  República,  com  a 
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações 
decorrentes  de  tratados  internacionais  de  direitos 
humanos  dos  quais  o  Brasil  seja  parte,  poderá 
suscitar,  perante  o  Superior  Tribunal  de  Justiça,  em 
qualquer  fase do  inquérito ou processo,  incidente  de 
deslocamento de competência para a  Justiça Federal.  
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
SÚMULAS: 
 
      STJ: 
• 42.  Compete  à  JustiçaComum 
Estadual  processar  e  julgar  as  causas 
cíveis  em  que  é  parte  sociedade  de 
 
 
 
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economia mista e os crimes praticados 
em seu detrimento. 
• 48.  Compete  ao  juízo  do  local  da 
obtenção da vantagem  ilícita processar 
e  julgar  crime de estelionato  cometido 
mediante falsificação de cheque. 
• 53.  Compete  à  Justiça  Comum 
Estadual processar e julgar civil acusado 
de prática de  crime  contra  instituições 
militares estaduais. 
• 62.  Compete  à  Justiça  Estadual 
processar  e  julgar  o  crime  de  falsa 
anotação  na  Carteira  de  Trabalho  e 
Previdência Social, atribuído à empresa 
privada. 
• 73.  A  utilização  de  papel‐moeda 
grosseiramente  falsificado  configura, 
em  tese,  o  crime  de  estelionato,  da 
competência da Justiça Estadual. 
• 75.  Compete  à  Justiça  Comum 
Estadual  processar  e  julgar  o  policial 
militar  por  crime  de  promover  ou 
facilitar  a  fuga  de  preso  de 
estabelecimento penal. 
• 78.  Compete  à  Justiça  Militar 
processar  e  julgar  policial  de 
corporação estadual, ainda que o delito 
tenha sido praticado em outra unidade 
federativa. 
• 104.  Compete  à  Justiça  Estadual  o 
processo  e  julgamento  dos  crimes  de 
falsificação  e  uso  de  documento  falso 
relativo a estabelecimento particular de 
ensino. 
• 122.  Compete  à  Justiça  Federal  o 
processo  e  julgamento  unificado  dos 
crimes conexos de competência federal 
e estadual, não se aplicando a regra do 
art.  78,  II,  a,  do  Código  de  Processo 
Penal. 
• 140.  Compete  à  Justiça  Comum 
Estadual  processar  e  julgar  crime  em 
que  o  indígena  figure  como  autor  ou 
vítima. 
• 147.  Compete  à  Justiça  Federal 
processar e  julgar os crimes praticados 
contra  funcionário  público  federal, 
quando  relacionados  com  o  exercício 
da função. 
• 151. A competência para o processo e 
julgamento  por  crime  de  contrabando 
ou  descaminho  define‐se  pela 
prevenção do Juízo Federal do  lugar da 
apreensão dos bens. 
• 165.  Compete  à  Justiça  Federal 
processar  e  julgar  crime  de  falso 
testemunho  cometido  no  processo 
trabalhista. 
• 172.  Compete  à  Justiça  Comum 
Estadual  processar  e  julgar  militar  por 
crime  de  abuso  de  autoridade,  ainda 
que praticado em serviço. 
• 200. O Juízo Federal competente para 
processar e  julgar acusado de crime de 
uso  de  passaporte  falso  é  o  do  lugar 
onde o delito se consumou. 
• 208.  Compete  à  Justiça  Federal 
processar  e  julgar  prefeito  municipal 
por desvio de verba sujeita a prestação 
de contas perante órgão federal. 
• 209.  Compete  à  Justiça  Estadual 
processar  e  julgar  prefeito  por  desvio 
de  verba  transferida  e  incorporada  ao 
patrimônio municipal. 
• 244.  Compete  ao  foro  do  local  da 
recusa  processar  e  julgar  o  crime  de 
estelionato  mediante  cheque  sem 
provisão de fundos. 
 
STF: 
• 521.  O  foro  competente  para  o 
processo  e  julgamento  dos  crimes  de 
estelionato,  sob  a  modalidade  de 
emissão dolosa de cheque sem provisão 
de  fundos, é o do  local onde  se deu a 
recusa do pagamento pelo sacado.  
• 522. Salvo ocorrência de tráfico para o 
exterior,  quando  então  a  competência 
será  da  Justiça  Federal,  compete  à 
Justiça  dos  Estados  o  processo  e 
julgamento  dos  crimes  relativos  a 
entorpecentes. 
• 603. A competência para o processo e 
julgamento  de  latrocínio  é  do  juiz 
singular e não do tribunal do júri. 
• 702.  A  competência  do  Tribunal  de 
Justiça para julgar prefeitos restringe‐se 
aos  crimes  de  competência  da  Justiça 
comum  estadual;  nos  demais  casos,  a 
competência  originária  caberá  ao 
respectivo tribunal de segundo grau. 
• 704.  Não  viola  as  garantias  do  juiz 
natural,  da  ampla  defesa  e  do  devido 
processo  legal  a  atração  por 
 
 
 
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continência  ou  conexão  do  co‐réu  ao 
foro por prerrogativa de  função de um 
dos denunciados. 
• 706. É  relativa  a nulidade decorrente 
da inobservância da competência penal 
por prevenção. 
• 721. A competência constitucional do 
tribunal do  Júri prevalece  sobre o  foro 
por  prerrogativa  de  função 
estabelecido  exclusivamente  pela 
Constituição Estadual. 
 
 
V. COMENTÁRIOS ACERCA DE PROVAS: 
 
1.  Ônus  da  prova:  a  regra  geral  é  de  que  o 
encargo de provar incumbe à parte que alegar o fato. 
Assim sendo, enquanto a acusação deve comprovar a 
ocorrência  de  um  fato  típico  e  sua  autoria  (fatos 
constitutivos), à defesa incumbe comprovar as causas 
excludentes  do  crime  e  da  culpabilidade.  Todavia, 
como  alerta  Vicente  Grego,  “O  descumprimento  do 
ônus,  contudo,  por  parte  do  réu,  não  acarreta 
necessariamente a procedência da imputação, porque 
para a defesa é um ônus imperfeito, ou diminuído, em 
virtude  do  princípio  in  dubio  pro  reo,  que  leva  à 
absolvição, no  caso de dúvida quanto  à procedência 
da  imputação. Assim, em princípio, à defesa  incumbe 
a iniciativa da prova das excludentes, mas basta‐lhe a 
prova  que  suscite  uma  dúvida  razoável,  porque  a 
dúvida milita  em  seu  favor”.  Essa  é  a  linha  adotada 
pelo Código de Processo Penal no art. 156, caput c/c 
inc. VI do art. 386 (este com nova redação dada pela 
Lei nº 11.690/08). 
 
2.  Vedação  das  provas  ilícitas:  o  art.  5º,  inc. 
LVI,  da  Constituição  Federal  diz  que  “são 
inadmissíveis,  no  processo,  as  provas  admitidas  por 
meio  ilícitos”.  Também  a  nova  redação  do  art.  157, 
dada  pela  Lei  nº  11.690/08  passou  a  disciplinar  o 
assunto. A jurisprudência e a doutrina pátrias adotam 
algumas teorias acerca das provas ilícitas, destacando‐
se: 
ƒ Prova  ilícita  por 
derivação  (teoria  dos 
frutos  da  árvore 
envenenada):  advinda 
do  direito  norte‐
americano (fruits of the 
poisonous  tree), 
pressupõe  que  a  prova 
lícita,  derivada  de  uma 
ilícita,  também  é 
contaminada  por  esta. 
Por  exemplo,  a 
apreensão  de  droga 
feita  regularmente, 
mas  cuja  notícia  se 
originou  de  uma 
interceptação 
telefônica  clandestina, 
não pode  ser admitida. 
A  teoria  dos  frutos  da 
árvore  envenenada 
sofre  restrições  com  a 
limitação  da  fonte 
independente 
(admitida  pelo  CPP  no 
art. 157, § 1º, com nova 
redação  dada  pela  Lei 
nº  11.690/08), 
limitação  da 
descoberta  inevitável 
(prevista  pelo  CPP  no 
novo  art.  157,  §  2º, 
com  redação dada pela 
Lei  nº  11.690/08)  e 
limitação  da 
contaminação 
expurgada  ou  conexão 
atenuada. 
ƒ Teoria  da 
proporcionalidade:  o 
conflito  entre  bens 
protegidos  pelo 
ordenamento  jurídico 
leva  o  intérprete  a  dar 
prevalência àquele bem 
de  maior  relevância. 
Assim,  a  doutrina 
majoritária  entende 
admissível  a  prova 
ilícita  pro  reo,  ou  seja, 
para  comprovar  a 
inocência do acusado. 
ƒ Teoria  da  exclusão  da 
ilicitude:  outro 
fundamento  invocado 
para  a  admissão  da 
prova  ilícita  pro  reo  é 
que  estaria,  a  conduta 
 
 
 
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PROCESSUAL PENAL DIREITO 
do  agente  na  captação 
da  prova,  amparada 
pelo  direito,  ou  seja, 
haveria  exclusão  da 
ilicitude.  Exemplo 
ocorreria se o réu, para 
demonstrar  a  sua 
inocência,  adentra  na 
residência  de  terceiro 
sem autorização, com o 
objetivo de obter prova 
de sua inocência. 
 
3.  Prova  emprestada:  é  aquela  que  foi 
produzida  em  um  processo  e  transferida 
documentalmente para  outro. Requisitos: que  tenha 
sido produzida em processo entre as mesmas partes; 
que tenham sido observadas, no processo anterior,as 
formalidades previstas em  lei durante a produção da 
prova; que o fato probando seja o mesmo; que tenha 
havido o contraditório no processo original. Ressalte‐
se que, quanto à forma é sempre documental. 
Lembre‐se  que  o  STF  considerou  que  não 
ofende a Constituição Federal ou à lei o entendimento 
de  que  a  prova  decorrente  de  interceptação 
telefônica  lícita,  autorizada  e  realizada  em 
procedimento  criminal,  inquérito  ou  processo‐crime, 
contra  certa  pessoa,  na  condição  de  suspeito, 
indiciado  ou  réu,  possa  ser‐lhe  oposta  (ou  seja, 
utilizada contra essa pessoa), na esfera própria (que é 
a administrativa), pelo mesmo Estado, encarnado por 
órgão  Administrativo  ou  Judiciário  a  que  esteja  o 
agente submisso, como prova do mesmo ato visto sob 
a  qualificação  jurídica  de  ilícito  administrativo  ou 
disciplinar (STF, Inq 2725 QO/SP). 
Nessa linha, o Supremo assentou que no caso 
examinado a prova foi  licitamente produzida entre as 
mesmas partes e que, portanto, o mesmo Estado que 
já conhece os fatos não poderia ignorar esses mesmos 
fatos em outro processo. O  fato que configura  ilícito 
penal  também  configura  ilícito  administrativo  e  o 
Estado  pode  utilizar  os  dados  colhidos  para  aplicar 
uma  sanção  ao  agente  sujeito  ao  seu  controle 
administrativo,  na  tutela  de  relevante  interesse 
público  e  para  restaurar  a  integridade  do 
ordenamento  jurídico  que  foi  rompido  quando  o 
agente praticou o ilícito. 
Em  outras  palavras,  Os  dados  obtidos  em 
inquérito  policial  podem  ser  utilizados  em 
procedimento  administrativo  disciplinar,  contra 
outros  servidores,  cujos  eventuais  ilícitos 
administrativos  teriam  despontado  à  colheita  dessa 
prova. 
 
4. Provas em espécie: 
 
A‐ PERÍCIA: 
 
01. Considerações gerais: 
As  perícias,  em  regra,  são  realizadas  apenas 
por  um  perito  oficial.  Sendo  a  perícia  complexa, 
abrangendo  mais  de  uma  área  do  conhecimento,  é 
possível a atuação de mais de um perito oficial, cada 
um em sua respectiva especialidade (art. 157, § 7º). O 
perito  oficial  não  será  compromissado  pela 
autoridade, afinal, a assunção do compromisso se deu 
quando foi empossado no cargo. 
Na  falta  de  perito  oficial,  a  autoridade  pode 
valer‐se  de  peritos  não‐oficiais,  ou  seja,  pessoas 
idôneas,  portadoras  de  curso  superior, 
preferencialmente  na  área  específica  (serão 
nomeadas e compromissadas). 
A  perícia  poderá  ser  autorizada  pela 
autoridade  policial  ou  judiciária,  ex  officio  ou  por 
provocação. Ressalvado o exame de corpo de delito, 
que não pode ser denegado quando a  infração deixe 
vestígios,  as  demais  perícias,  se  não  necessárias  ao 
esclarecimento  da  verdade,  poderão  ser  indeferidas 
pela autoridade. 
Os quesitos, que são as perguntas formuladas 
pela  autoridade  e  pelas  partes  para  resposta  pelos 
peritos, podem ser formulados até o ato da diligência. 
As partes poderão requerer ainda a oitiva dos peritos 
em audiência, no objetivo de responder a quesitos ou 
esclarecer  a  prova,  sendo  que  o  mandado  de 
intimação  e  os  quesitos  ou  as  questões  a  serem 
esclarecidas  devem  ser  remetidas  aos  peritos  com 
antecedência mínima de dez dias (art. 159,§ 5º, inciso 
I, CPP). 
Surgindo divergências entre os peritos, devem 
estas  ficar  consignadas  no  auto  do  exame,  podendo 
cada um elaborar separadamente o seu próprio laudo, 
nomeando  a  autoridade  um  terceiro  perito  para 
apreciar  a matéria. Divergindo  este  dos  outros  dois, 
poderá  o  juiz  determinar  a  realização  de  um  novo 
exame,  por  outros  peritos.  A  nomeação  é  uma 
faculdade do  juiz, pois,  convencido do acerto de um 
dos peritos, mesmo presente a divergência apontada, 
poderá julgar de forma fundamentada, acolhendo um 
dos laudos.  
É  importante  ressaltar  que  o  juiz  não  estar 
vinculado  ao  laudo  pericial,  podendo  rejeitar  ou 
acolher, total ou parcialmente. É que o Brasil adotou o 
 
 
 
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sistema  liberatório de apreciação do  laudo  (art. 182, 
CPP). 
 
02. Exame de corpo de delito: 
O corpo de delito são os vestígios (a prova da 
existência do crime), ao passo que o exame de corpo 
de  delito  é  a  perícia  que  irá  apurá‐lo.  Se  a  infração 
penal deixa vestígios, é obrigatório o exame de corpo 
de delito, seja ele direto ou indireto (art. 158). Exame 
de  corpo  de  delito  direto  é  o  que  recai  sobre  os 
próprios  vestígios  do  crime.  O  exame  de  corpo  de 
delito  indireto  ocorre  quando,  não  sendo  possível  o 
exame  de  corpo  de  delito  direto,  por  haverem 
desaparecidos os vestígios do crime, será suprido pela 
prova testemunhal (que é o exame de corpo de delito 
indireto, segundo STJ e STF). 
Vale  lembrar  que,  em  nenhuma  hipótese,  a 
confissão poderá suprir o exame de corpo de delito. 
 
03. Outras perícias: 
Vejamos abaixo algumas generalidades acerca 
de determinadas perícias. 
a) Necropsia ou autópsia (é o exame  interno do 
cadáver, que  será  realizado, no mínimo,  seis 
horas após a morte): dispensado pelo exame 
externo nos casos de morte violenta sem que 
haja  infração penal  a  ser apurada ou, ainda, 
mesmo  havendo  infração  penal  a  ser 
apurada,  as  lesões  externas  permitirem 
precisar a causa da morte. 
b) Exumação:  é o desenterramento do  cadáver 
(exige  ordem  judicial)  e  a  inumação  é  o 
enterramento do cadáver. 
c) Lesões  corporais  graves  pela  incapacidade 
para  as  ocupações  habituais  por  mais  de 
trinta dias: o exame deverá ser feito logo que 
decorra  o  prazo  de  trinta  dias,  contado  da 
data do  crime  (conta  conforme o  art.  10 do 
Código Penal, ou seja, incluindo o dia do início 
na  contagem). Não pode  ser  realizado  antes 
do decurso desse prazo. 
d) Perícia  de  laboratório  (realizada  em  lugares 
próprios):  findo  o  exame,  os  peritos  devem 
guardar  material  suficiente  do  produto 
analisado para nova perícia. 
e) Furto  qualificado  pelo  rompimento  de 
obstáculo  ou  mediante  escalada:  deve  ser 
feita perícia para materializar a violação ou o 
esforço anormal. 
f) Incêndio  (crime  previsto  no  art.  250,  CP): 
importante para determinar se o  incêndio foi 
acidental ou criminoso. 
g) Reconhecimento  de  escritos:  a  pessoa  a 
quem  se  atribua  o  escrito  não  poderá  ser 
obrigada  a  fornecer de  seu próprio punho o 
material para exame em face do privilégio da 
não  auto‐incriminação  ou  princípio  nemo 
tenetur  se  detegere  (assim,  não  foi 
recepcionada a previsão do art. 174, IV, CPP). 
h) Instrumentos  do  crime  (arma  de  fogo,  faca, 
pedaço  de  madeira,  etc.):  importante  para 
verificar a natureza  (espécie e qualidade) e a 
eficiência  (eficácia  do  instrumento)  para 
produzir determinado resultado. 
 
B‐ INTERROGATÓRIO: 
 
01. Natureza jurídica: 
O  interrogatório  é predominantemente meio 
de defesa, embora não tenha perdido sua natureza de 
meio de prova. Com as mudanças ocorridas no Código 
de Processo Penal tornou‐se indispensável a presença 
do advogado de defesa no interrogatório, tendo o réu 
direito  de  entrevista  pessoal  e  reservada  com  seu 
defensor antes do  início do  interrogatório. Antes das 
mudanças, apenas o  juiz podia  realizar perguntas  ao 
réu,  agora,  acusação  e  defesa  podem  realizar 
perguntas  ao  réu  por  meio  do  juiz  (continuou  o 
sistema presidencialista de  inquirição, onde as partes 
fazem perguntas por meio do juiz).  
A  novel  legislação  reformulou  toda  a 
sistemática do interrogatório (arts 185 a 196 do CPP), 
que  passou  a  constituir  instrumento  não  só  de 
autodefesa,  mas  também  de  prova,  exigindo

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