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- I , • , PSICOLOGIA DA . CULTURA I Sondagem de atitudes frente à morte em um grupo de unlversltérlos· Coordenadora: WILMA DA COSTA TOBREs** Equipe: W ANDA GURGEL GUEDES RUTH DA COSTA ToBRES THEREZINHA HENRIQUES EBERT 1. Introdução; 2. Metodologia; 3. Resul- tados; 4. Discussão dos resultados; 5. Conclusões. o presente estudo tem por objetivo uma sondagem das atitudes escatOlógicas, pSicológicas e sociais de estudantes universitários frente à morte. Um Questionário de Atitudes Frente à Morte (QAFM) foi espe- cialmente elaborado para a sondagem das atitudes frente à morte nas três áreas. . Os resultados foram analisados considerando-se a amostra total, os diferentes grupos de formação universitária, os dois sexos e os diferentes grupos de posição escatológica. Com base nos resultados obtidos foi possível descrever, ana- lisar e caracterizar as atitudes dos diferentes grupos considerados. 1. Introdução A morte, como diz Feifel (1959), é um símbolo multifacetado cuja importância depende do tipo de desenvolvimento individual e do con- texto cultural dos indivíduos. Na medida em que se vive em uma sociedade negadora da morte, é possível que a forma pela qual os indivíduos se orientem para a morte caracterize-se pela mesma ati- tude. Desta forma, como assinalam Kastenbaum & Costa Jr. (1977), • Projeto desenvolvido pelo Programa. de Estudos e Pesquisas em Tanatologla do Centro Brasileiro de Pesquisas PSicossociais do ISOP/FOV. (Artigo apresen- tado à Redação em 2.6.83.) •• Endereço da autora: Rua da Candelária, 6 - 29 andar - Rio de Janeiro, RJ. Arq. bras. Pelc. Rio de JaneIrO 35(4) :3-48 aut./dez. 1983 mesmo não estando presente o medo manifesto da morte, a negação defensiva pode ser freqüentemente inferida. A análise de Aries (1977; 1982) é uma brilhante inferência da presença não manifesta deste medo em nossa sociedade - medo que leva os homens desta sociedade ocidental moderna a usar de todas as justificativas para eliminar a presença da morte e do morto a fim de reforçar a negação. Como demonstram Kastenbaum~ & Costa Jr. (1977), os estudos disponíveis sobre as atitudes frente à morte apresentam dados con- sistentes acerca da negação da morte em relação a médicos e enfer- meiros (Browers, Brandon, Glaser & Strauss, Livington). Entretanto, a afirmação de que as pessoas em geral mantêm uma atitude de excessiva negação frente à morte não tem sido objeto de verificação empírica 'através de estudos controlados. Por outro lado, como cha- mam atenção Kastenbaum & Costa Jr. (1977), estes estudos para serem realizados requerem considerações cuidadosas tanto de aspec- tos conceituais quanto metodológicos, envolvendo, portanto, uma série de dificuldades. Assim, a distinção entre medo e ansiedade, por exem- plo, requer pesquisa sistemática na medida em que são termos fre- qüentemente usados para caracterizar as atitudes frente à morte. Lester, em 1976, mostrou a importância de se distinguir, quando da elaboração de escalas psicométricas, entre ansiedade livre flutuante e medo de um objeto que está disponível a um conhecimento cons- ciente. Aliás, como observam Kastenbaum & Costa Jr. (1977), é muito questionável que medidas diretas de auto-relato sejam usadas como indicadores de ansiedade frente à morte. Altos escores em tais medidas podem indicar grande medo da morte, o que por definição é distinto de ansiedade que é considerada sendo inconsciente. Bai- xos escorés em tais medidas são geralmente considerados índice de ansiedade, uma vez que se presume derivarem de fortes defesas. Entre- tanto, a menos que existam outros dados disponíveis, esta interpre- tação é gratuita. Sujeitos com baixos escores podem simplesmente não estar muito preocupados com a morte. Desta forma, a evidência sobre fidedignidade e validade das medi- das de auto-relato é insuficiente, exigindo estudo sistemático sobre estes instrumentos. Face às dificuldades mencionadas, as investiga- ções têm focalizado sobretudo as atitudes conscientes e públicas mais do que as motivações profundas da personalidade. Em uma das suas investigações,. Feüel (1959) comparou as ati- tudes frente à morte de doentes mentais, velhos, pessoas normais jovens e adultos de diferentes profissões. Observou que em relação ao significado da morte dois pontos de vista foram predominantes: um, que chamou filosófico, que percebe a morte como processo final, natural da vida; outro, que chamou religioso, que percebe a morte como dissolução da vida corporal e começo de uma nova vida. A perspectiva filosófica surgiu como principal em todos os grupos, à exceção do grupo norm~l de jovens. No que se refere à orientação religiosa, as pesquisas têm demons- trado que a mesma desempenha um papel importante nas atitudes frente à morte (Shneidman, 1971; Wass et alü, 1978/79). Entre- tanto, . com relação ao tipo de influência que a orientação religiosa 4 A.B.P.4/83 • I t f ~ • pode desempenhar nas atitudes frente à morte, os dados não pare- cem ser conclusivos. Bell & Batterson (1979) mencionam os estu- dos de Alderstein que enfatiza a importância de uma orientação religiosa positiva para dominar a ansiedade suscitada pela morte e de Fulton que aponta para o fato de que pessoas muito religiosas revelam maior medo da morte. Os resultados da pesquisa de Kierniesky & Groelinger (1977) parecem apontar para um menor medo da morte nos seminaristas do que nos universitários, o que reforça, segundo esses autores, os dados de outras pesquisas. Por outro lado, os resul- tados de Feifel (1959) revelam que pessoas religiosas, quando com- paradas com as não religiosas, são mais temerosas diante da morte. Verificar se as pessoas religiosas estão sendo mais honestas na admissão de seu medo pessoal da morte será, portanto, fundamental para determinar a relação entre o medo individual da morte e a orientação religiosa .• Malimowiski, citado por Lenüng (1979/80) em séu trabalho sobre o papel da magia e da religião, afirma que a religião funciona para aliviar a ansiedade causada pelas experiências de crise porque pro- porciona aos individuos meios de lidar com os fenômenos extraordi- nários. Radcliffe-Brown, citado no mesmo artigo de Leming, discorda da argumentação de que a religião é a grande aliviadora da ansie- dade e afirma que se não houvesse religião o homem não teria ansiedade frente à morte. A hipótese de Radcliffe-Brown é a de que a religião provoca no homem medos e ansiedades dos quais, sem ela, estaria livre. O conflito entre essas duas perspectivas tem sido objeto de discussão por parte de sociólogos e antropólogos requerendo, portanto, que os estudos prossigam. Em relação à forma como as pessoas se defrontam com a morte, quando situações hipotéticas sugerindo a. iminência da morte são apresentadas aos sujeitos, alguns dados relativos aos mecanismos do ego podem ser inferidos. Na pesquisa de Feifel (1959), à pergunta "se você pudesse fazer apenas uma coisa antes de morrer, o que faria?" as respostas características dos doentes mentais deram prioridade às atitudes que Feifel considera de conteúdo social e religioso, tais como "daria meus bens para fins de caridade", "cessaria a guerra se fosse possivel", "conheceria mais aDeus", em contraste com as respostas do grupo normal que enfatizaram prazeres pessoais e gra- tificações como, por exemplo, "viajar pelo mundo", "viver em uma nova casa". Estes dados parecem apontar para uma diferença na utilização dos mecanismos de defesa, evidenciando ênfase na subli- mação no caso dos doentes mentais enquanto nos normais parece predominar a negação e a formação reativa. Na pesquisa realizada por Shneidman (1971), diante da possi- bilidade de um tempo limitado de vida, quase a metade dos respon- dentes afirmou que muc;iaria suas preocupações em relação aosoutros ou terminaria seus projetos. Embora 1/3 dos respondentes tenha focalizado a importância da contemplação e da introspecção na for- mação de suas atitudes básicas frente à. morte, somente um em 20 passaria o resto de seus dias contemplando ou rezando, 20% mu- dariam seu estilo de vida, enquanto 19% satisfariam suas necessi- dades hedonistas através de viagens, sexo ou droga. O aspecto con- Sondagem de atitudes 5 siderado mais desagradável em relação à morte foi o de "não mais poder ter nenhuma experiência" (36%), seguido. de "o processo de morrer pode ser penoso" (15%). A menor preocupação foi revelada em relação ao sustento dos dependentes (4%) e ao medo do que possa ocorrer com o corpo depois da morte (2%). Na pesquisa realizada por Wass et alii (1978/79), 1/4 dos respon- dentes indicou que a possibilidade de dor era o aspecto mais desa- gradável de morrer. Também os dados de Feifel (1959) parecem demonstrar que para certas pessoas o medo do processo da agonia devido às suas associações com dependência, vergonha e sofrimento pode ser mais assustador do que a própria idéia da morte. Segundo Feifel, a estrutura de caráter, o tipo de personalidade podem ser às vezes mais importantes do que o próprio estimulo da ameaça de morte para determinar uma reação frente à morte - daí a impor- tância de estudos e pesquisas que relacionem as atitudes frente à morte com características de personalidade. Uma questão básica no estudo das atitudes frente à morte é aquela que se relaciona com a informação do diagnóstico de uma doença fatal. Apesar da negação defensiva frente à morte ser uma atitude constante, as pesquisas revelam que as pessoas desejam ser informadas do diagnóstico em caso de doença terminal (Blumenfield, 1978/79; Shneidman, 1971). Ainda no que se refere a esta questão, um dos problemas reside no conflito entre as atitudes dos médicos e o desejo expresso pelos pacientes. Carey & Posavac (1978/79) refe- rem-se aos achados de Shultz & Aderman que, em uma revisão da literatura, concluíram que a maioria dos médicos não comunica a seus pacientes o diagnóstico de uma doença terminal. Para embasar esta conclusão estes autores mencionam as pesquisas realizadas por Fitts & Ravdin, Rennick, Oken e Caldwell & Nishara. Pesquisas mais recentes, entretanto, parecem apontar para uma mudan(!a de ati- tude por parte dos médicos, na última década. Rea e colaboradores, ainda citados por Carey & Posavac (1978/79), entrevistaram 152 médicos de 10 especialidades. Destes, 61 % consideravam que o paciente portador de doença terminal deveria ser informado independente- mente do estado físico, da idade ou da expectativa de vida do paciente. Na pesquisa de Carey & Posavac, finalmente, 87% dos médicos res- ponderam que o paciente terminal tem o direito de ser informado acerca de suas condições. Nesta pesquisa, o médico é ainda apontado como aquele que deve fornecer a informação. Em relação à questão da eutanásia, uma revisão da literatura mostra uma mudança de atitude indicando que a população parece ter se tornado mais favorável à prática da mesma. Conforme men- cionam Jorgenson & Neubecker (1980/81), enquanto uma pesquisa Gallup realizada em 1950 mostrou que 36% aprovavam a eutanásia, a mesma pesquisa em 1973 demonstrou que 53 % aprovavam. Em ambas, as perguntas envolviam decisões a serem tomadas pelo paciente, família e médico. Na pesquisa de Carey & Posavac (1978/79) houve também um apoio quase unânime à eutanásia passiva por parte dos médicos (91 % ). Por outro lado, observou-se uma quase total rejei- ção da eutanásia ativa, pois somente 17% dos médicos declararam-se a favor desta. Na pesquisa de Shneidman (1971), menos de um indi- 6 A.B.P.4/83 • - r , viduo em 10 declarou que todos os esforços devem. ser feitos para manter vivo o paciente, em qualquer circunstância, sendo que os homens se revelaram mais propensos que as mulheres a acreditar que a vida é boa, mesmo quando existe dor ou senilidade. Jorgenson & Neubecker (1980/81), em sua revisão da literatura, mencionam que a crença religiosa indica alguma diferença nas atitudes frente à eutanásia. Descrevem a investigação de Kalish com uma amostra de 220 estudantes na qual os católicos parecem ser menos favorá- veis à eutanásia do que os que se identificaram como ateus ou agnós- ticos. Diferenças não foram encontradas nesta pesquisa quando o sexo foi considerado. Em sua pesquisa Jorgenson & Neubecker exa- minaram diversas variáveis relacionadas com as atitudes frente à eutanásia, a fim de identificar o que distingue os que são pr6-euta- násia dos que a ela se opõem. Nesta pesquisa o sex;o feminino foi nega- tivamente associado às atitudes pró-eutanásia enquanto que as variá- veis sexo masculino, cor branca e atitude favorável ao suicídio foram positivamente associados. As atitudes relativas aos rituais ligados à morte são uma impor- tante questão a considerar na medida em que os ritos realizados com os mortos têm efeito importante sobre os vivos. Como chama a aten- ção Mandelbaum (1959), em todas as sociedades existe um padrão para lidar com a morte e é indispensável que os indivíduos dispo- nham de um meio conhecido para reajustar-se após a perda de um de seus membros. Quando os indivíduos descobrem que não têm estes padrões - como no caso de grupos recém-organizados - ou quando descobrem que os antigos padrões não são mais plausíveis, surge a necessidade de estabelecer um novo plano -para lidar com o evento da morte. As cerimônias fúnebres, desta forma, estão geralmente vinculadas aos motivos centrais de uma cultura e sua realização ajuda a fortalecer a solidariedade do grupo social. Em nossa cultura os estudos antropológicos e sociais têm demons- trado um esvaziamento dos rituais como forma de lidar com a morte. Em relação às atitudes frente aos funerais, o estudo de Shneidman (1971) parece também apontar para uma cultura em transição na qual os antigos padrões de rituais não são mais plausíveis. Tanto assim que apenas 2 % dos respondentes gostariam de funerais for- mais tão completos quanto possível, enquanto a terça parte não deseja funeral de espécie alguma. Quanto menos religiosa. é uma pessoa, menor é a possibilidade de que queira funeral, sendo que os funerais formais são rejeitados com certa animosidade pelos res- pondentes anti-religiosos e pelos que não acreditam em uma outra vida. Também na pesquisa de Wass et ali (1978/79), com pessoas idosas, 31 % atribuíram alguma importância aos funerais, mas quase 44% consideraram os funerais e outros rituais como tendo relativa ou nenhuma importância.· . Quanto à atitude relativa ao destino do corpo dos mortos, na pesquisa de Shneidman (1971) 32% dos respondentes declararam que doariam seu corpo para escolas de medicina ou para estudos cientí- ficos. Uma maior tendência para doar o corpo foi observada nos que acreditam em reencarnação e nas pessoas que preferem que não Sondagem de atitudes 7 haja outra vida após a morte. Também os protestantes foram mais propensos a doara corpo e optar pela cremação do que os judeus ou católicos. Na pesquisa de Wass et alü (1978/79) cerca de 45% dos velhos desejariam ser enterrados, enquanto 28% desejariam ser cre- mados e 15 % eram indiferentes em relação ao destino do corpo após a morte. Como se constata através da análise de literatura, as atitudes frente à morte dependem da influência de inúmeros fatores indivi- duais e sociais, possibilitando múltiplas abordagens. O presente estudo foi planejado visando as atitudes frente à morte como parte do pro- cesso de desenvolvimento. Tem por objetivo investigar as atitudes escatológicas, psicológicas e sociais de estudantes universitários frente à morte. 2. Metodologia 2.1 População e amostra A população-alvo deste estudo é formada de 409 sujeitos de ambos ossexos, estudantes do curso de formação pedagógica, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio, de Janeiro. A escolha desta faculdade se deve aos seguintes fatores: o apoio integral pro- porcionado pelo Gabinete de Aconselhamento e o fato de o curso de formação pedagógica congregar estudantes oriundos de diferentes cursos de formação universitária. De . posse da listagem das turmas, fornecida pelo Gabinete de Aconselhamento, decidiu-se que seriam submetidos ao questionário exclusivamente os alunos que comparecessem às aulas nos dias pro- gramados para a aplicação. Desta forma, a amostra ficou constituída de um total de 226 sujeitos. A tabela 1 apresenta a distribuição dos sujeitos da população e da amostra por curso de origem. Tabela 1 Distribuição dos sujeitos da população e da amostra por curso de origem Curso de origem Música/desenho/artes plásticas Português/literatura Português/inglês Educação física Enfermagem/Biologia Física Filosofia Química Total 8 Número de sujeitos População Amostra 44 49 65 80 44 35 35 27 409 20 26 32 53 32 17 6 18 226 A.B.P.4/83 • - .. 2.2 Instrumentos o Questionário de Atitudes Frente à Morte (QAFM) foi especial- mente elaborado para esta pesquisa e planejado para avaliar as a~t-: tudes frente à morte em três áreas: escatológica, psicológica e social. Em sua forma definitiva consta de 56 itens de tipo alternativo assim distribuídos: três itens para a sondagem da área escatológica desti- nados a avaliar a atitude em relação à sobrevivência depois da morte; 43 itens para a sondagem da área psicológica, subdividida em duas subáreas: a subárea afetiva, com 38 itens, sendo 18 destinados a avaliar os mecanismos de defesa - sublimação (8), negação (N), depressão (D), racionalização (R), formação reativa (FR) - e a atitude de aceitação (A) frente à morte, e 20 itens destinados a avaliar as atitudes frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer - dependência no processo de morrer (DPM), isolamento na morte (IM), sofrimento e pânico no processo de morrer (8PPM), indignidade no processo de morrer (IPM), desconhecimento sobre o além da morte (DAM), deterioração física que acompanha a morte (DFM), deixar projetos inacabados (DPI), sofrimento das pessoas amadas (8PA), perda de identidade pela morte (PIM), ruptura de comunicação pela morte (RCM) - a subárea volitiva com cinco itens destinados a avaliar os tipos de decisão frente à informação do diag- nóstico de uma doença terminal e a qualificação do informante; 10 itens para a área social, sendo três destinados a avaliar a atitude frente à eutanásia - ativa e passiva -, três itens relativos ao culto dos mortos e quatro relativos ao destino a ser dado ao corpo dos mortos . Algumas alternativas de respostas das áreas escatológica e social são desdobradas a fim de possibilitar informações adicionais. Na área escatológica, o item relativo à crença na sobrevivência indaga sobre a natureza da crença, se de ordem religiosa, filosófica ou cientifica. Na área social, o item relativo à aceitação do culto aos. mortos com cerimônias públicas indaga sobre o tipo de cerimônia - como, por exemplo, velório, dia universal dedicado aos mortos - e o item rela- tivo à cr~mação indaga sobre o destino a ser dado às cinzas. Com relação aos itens da subárea afetiva da área psicológica, a instrução solicita inicialmente do sujeito que responda a todos os itens em termos de sim ou não e, posteriormente, a fim de controlar até certo ponto o possível mascaramento das atitudes expressas, que coloque em ordem de importância três dos itens assinalados com a alterna- tiva. A folha de rosto do QAFM solicita informações relativas a dados pessoais quanto a idade, sexo, estado civil e tipo de forma- ção universitária destinados a possibilitar a caracterização dos sujei- tos da amostra. 2 . 3 Procedimentos A aplicação do QAFM foi realizada durante todo o mês de setembro de 1981, na própria faculdade, seguindo programação estabelecida em colaboração com o Gabinete de Aconselhamento da mesma. Esta Scmdagem de atitudes 9 programação foi planejada visando o aproveitamento do horário de aulas a fim de evitar a evasão dos alunos. Assim, os grupos de alu- nos a serem testados eram informados, no momento da aula, pela professora responsável. Em todas as turmas o questionário foi apli- cado coletivamente pelos próprios pesquisadores, isto é, três psicó- logos integrantes do Programa de Estudos e Pesquisas em Tanato- logia, do CBPP, do ISOP, que iniciavam a aplicação com o seguinte esclarecimento: "Somos psicólogos do Centro de Pesquisas Psicos- sociais do ISOP da Fundação Getulio Vargas. No momento estamos realizando um estudo sobre a atitude dos estudantes universitários frente à morte e por isso precisamos que vocês colaborem conosco respondendo a um questionário. Entretanto, vocês são inteiramente livres para fazê-lo." Encerrada a aplicação, agradecia-se a colaboração. Nenhum dos sujeitos recusou sua participação. O levantamento das respostas dos 226 sujeitos participantes da pesquisa aos itens relativos a dados pessoais foi realizado a fim de possibilitar a elaboração do perfil da amostra. As respostas dadas aos 56 itens relativos às três áreas de son- dagem foram tabuladas e agrupadas seguindo diferentes critérios a fim de possibilitar: a) avaliar as atitudes escatológicas, psicológi- cas e sociais predominantes na amostra total; b) avaliar as atitudes escatológicas, psicológicas e sociais predominantes nos grupos de dife- rente formação universitária; c) avaliar as atitudes escatológicas, psi- cológicas e sociais predominantes nos dois sexos; d) avaliar as atitu- des psicológicas e sociais predominantes nos grupos de diferentes posi- ções escatológicas. Para agrupar os sujeitos da amostra segundo o tipo de forma- ção universitária, utilizou-se um critério lógico em função do con- teúdo e/ou grau de abstração dos cursos. Desta forma os cursos foram assim agrupados: a) música/desenho/artes plásticas (M/D/AP); b) português literatura/português inglês (PL/PI); c) física/quimica/biologia/enfermagem (F /Q/B/E); , d) filosofia/matemática (F /M) ; e) educação física (EF). Em seguida procedeu-se à estimativa de cada parâmetro estu- dado. Considerando-se a amostra total - excluída a diferenciação' quanto à formação universitária, sexo ou posição escatológica - cal- cularam-se as percentagens para cada uma das categorias de res- postas nas diversas áreas de sondagem. Posteriormente cada grupo foi estudado verificando-se a perti- nência das percentagens obtidas pelos mesmos em cada categoria de resposta aos limites dos parâmetros na amostra total. Este procedi- mento estendeu-se à formação universitária, sexo e posição escato- lógica. , Para tal, adotou-se um intervalo de confiança de 95%, a partir do seguinte desenvolvimento: 10 A..B.P. 4/83 .. IP - 1,96 EP % < P < p + 1,96 EP % I 95% Finalmente, procedeu-se ao levantamento das respostas aos itens da área psicológica relativos aos mecanismos de defesa/atitude de aceitàção frente à morte e aos aspectos inquietadores da morte e do morrer, considerando-se a ordenação dada pelos sujeitos da amos- tra total e de cada grupo estudado segundo o critério de importân- .. cia, a fim de possibilitar um certo controle dos dados estatísticos "Obtidos na etapa anterior e dados complementares para a análise qualitativa dos resultados. 3. Resultados 3.1 Perfil da amostra O levantamento das respostas do QAFM referente aos dados pes- soais revelou ser o universitário típico respondente da pesquisa pre- dominantemente do sexo feminino, solteiro, com idade média de 25 anos e sem nítida caracterização do ponto de vista religioso, na medida em que apenaspouco mais da metade dos respondentes se declarou religioso, com ou sem filiação doutrinãria. A tabela 2 demonstra a distribuição das respostas dadas pelos sujeitos da amostra relativas aos dados pessoais. Tabela 2 Distribuição das respostas dos sujeitos da amostra relativas aos dados pe~oais Dados pessoais NQ % Sexo feminino 158 69,92 Sexo masculino 68 30,09 Total 226 100,00 Solteiro 170 75,23 Casado ou vivendo maritalmente 50 22,13 Separado, divorciado ou viúvo 6 2,66 Total 226 100,00 Sem religião 103 45,58 Religioso sem filiação doutrinária 34 15,05 Espiritualista e/ou orientalista 24 10,62 Católico 59 26,11 Evangélico 6 2,66 Total 226 100,00 sondagem de atitudes 11 A distribuição das respostas relativas aos dados pessoais para os diferentes grupos de formação universitária se encontra na tabela 3'. Tabela 3 Distribuição das respostas relativas aos dados pessoais para os diferentes grupos de formação universitária .. Grupos Dados M/D/AP PL/PI F/Q/B/E M/F ED pessoais NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) Sexo feminino 15 75,00 56 96,55 41 61,19 20 71,43 27 50,94 Sexo masculino 5 25,00 2 3,45 26 38,81 8 28,57 26 49,06 Total 20 100,00 58 100,00 67 100,00 28 100,00 53 100,00 Solteiro 12 60,00 40 68,97 55 82,09 16 57,14 46 86,79 Casado ou vi- vendomari- talmente 8 40,00 16 27,59 9 13,43 10 35,71 7 13,21 Separado, di- vorciadoou viúvo 2 3,45 3 4,48 2 7,14 Total 20 100,00 58 100,00 67 100,00 28 100,00 53 100,00 Sem religião 14 70,00 25 43,10 38 56,72 13 46,43 25 47,17 Religião sem filiação dou- trinária 7 12,07 5 7,46 3 10,71 4 7,55 Espiritualista e/ou orien- talista 2 10,00 6 10,34 9 13,43 2 7,14 7 13,21 Católico 4 20,00 17 29,31 15 22,39 10 35,71 14 26,42 Evangélico 3 5,17 3 5,66 Total 20 100,00 58 100,00 67 100,00 28 100,00 53 100,00 3.2 Avaliação das respostas relatipas às áreas de sondagem do Questionário de Atitudes Frente à Morte O levantamento das respostas aos itens do QAFM referente às três áreas de sondagem - escatológica, psicológica e social - é , apresentado na seguinte ordem: distribuição das respostas escatoló- gicas, psicológicas e sociais na amostra total, nos grupos de diferente formação universitária, nos dois sexos; distribuição das respostas psi- 12 A.B.P.4/83 .. cológicas e sociais nos diferentes grupos de posicionamento escatoló- gico. 3 .2.1 Distribuição das respostas das áreas escatológica, psicológica, e social na amostra total A. Area escatológica Tabela 4 Distribuição das respostas da área escatológica na amostra total Categorias de resposta NQ (%) Sobrevivência 129 57,08 filosófica 6 4,65 religiosa 101 78,29 científica 7 5,43 religiosa/filosófica/científica 5 3,88 ,filosófica/religiosa 1 0,08 religiosa/científica 6 4,65 não especificada 3 2,33 Não sobrevivência , 32 14,16 Agnóstico 65 28,76 Total 226 100,00 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) calculadas para cada categoria de resposta da ár.ea escatológica: • sobrevivência 50,73 < P < 63,43 • não sobrevivência 9,61 < P < 18,71 • agnóstico 22,86 < P < 34,66 Sondage,m de atitudes 13 B. Area psicológica Tabela 5 Distribuição das respostas da amostra total para as categorias mecanismos de defesa e atitude de aceitação frente à morte Categorias de Sim Não resposta NQ (%) NQ (%) Negação 219 32,30 459 67,70 Formação reativa 204 30,09 474 69,41 Racionalização 138 20,35 540 79,65 Depressão 183 26,99 495 73,01 Sublimação 454 66,96 224 33,04 Aceitação 387 57,08 291 42,92 Total 1.585 2.483 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95 %) calculadas para cada categoria de resposta relativa aos mecanismos de defesa e atitude de aceitação: • negação 28,77 < P < 35,83 • formação reativa 26,64 < P < 33,54 • racionalização 17,31 < P < 23,39 • depressão 23,64 < P < 30,34 • sublimação 64,40 < P < 70,50 • aceitação 53.36 < P < 60,80 14 A.B.P.4/83 "- • .. .. Tabela 6 Distribuição das respostas da amostra total para as categorias aspectos inquietadores da morte e do morrer Categorias de Sim Não resposta N9 (%) N9 (%) DPM 342 75,67 110 24,34 IM 288 63,72 164 36,~9 SPPM 327 72,35 125 27,65 IPM 295 65,27 157 34,74 DAM 201 44,47 251 55,53 DFM 80 17,70 372 82,30 DPI 254 56,20 198 43,81 SPA 362 80,09 90 19,92 PIM 92 20,36 360 79,65 RCM 248 54,87 204 45,14 Total 2.489 2.031 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) calculadas para cada categoria de resposta relativa aos aspectos inquietadores da morte e do morrer: • dependência no processo de morrer (DPM) 72,44 < P <78,90 • isolamento na morte (IM) 60,09 < P < 67,35 • sofrimento e pânico no processo de morrer (SPPM) 68,99 < P < 75,72 • indignidade no processo de morrer (IPM) 61,68 < P < 68,86 • desconhecimento sobre o além da morte (DAM) 40,73 < P < 48,21 • deterioração física que acompanha a morte (DAM) 14,82 < P < 20,58 • deixar projetos inacabados (DPI) 52,46 < P < 59,94 • sofrimento das pessoas amadas (SPA) 77,09 < P < 83,09 • perda de identidade pela morte (PIM) 17,32 < P < 23,40 • ruptura de comunicação pela morte (RCM) , 51,12 < P < 58,62 Sondagem de atitudes 15 Tabela 7 Distribuição das respostas da amostra total para os tipos de decisão relativos ao diagnóstico de doença terminal Tipos de decisão NQ (%) Informado pelo médico 151 66,82 Informado pela família 19 8,41 Informado pelo sacerdote 4 1,77 Não ser informado e sim a família 25 11,07 Todos ocultarem 27 11,95 Total 226 100,00 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) calculadas para as alternativas de resposta relativas à informação sobre o diagnóstico de doença terminal: • ser informado pelo médico 60,69 < P < 72,95 • ser informado pela família 4,78 < P < 2,04 • ser informado por sacerdote 0,05 < P < 3,49 • não ser informado e sim a família 6,97 < P < 15,17 • todos ocultarem 7,72 < P < 16,18 16 A.B.P.4/83 C. Área social Tabela 8 Distribuição qas respostas da amostra total para os itens relativos à eutanásia Procedimentos médicos para N9 (%) com o doente terminal Todos os esforços para manter vivo 59 26,11 Não manter vivo artificialmente (eu- tanásia passiva) 121 53,54 Amparo legal para extinguir a vida (eutanásia ativa) 46 20,35 Total 226 100,00 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) ca:Iculadas para cada alternativa de resposta relativa à eutanásia: . • todos os esforços para manter vivo o doente terminal 2,39 < P < 31,83 • não manter vivo artificialmente o doente terminal 47,03 < P < 60,05 • amparo legal pa~ extinguir a vida. 15,10 < P < 25,60 'Tabela 9 Distribuição das respostas da amostra total para os itens relativos ao culto dos mortos Categorias de resposta N9 (%) Não culto 87 38,50 Culto sem cerimônia 77 34,07 Culto com cerimônia 62 27,43 velório 45 45,92 cerimônias religiosas 31 31,63 cerimônias cívicas 8 8,16 dia dos mortos 14 14,29 Total 226 100,00 sondagem de atttudes 17 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) calculadas para cada alternativa de resposta relativa ao culto dos mortos: • não realizar culto 32,15 < P < 44,85 • realizar culto sem cerimônia 27,90 < P < 40,24 • realizar culto com cerimônia 21,61 < P < 33,25 Tabela 10 Distribuição das respostas da amostra total para os itens relativos ao destino do corpo dos mortos Categorias de resposta NQ (%) Enterrar 65 28,76 Doar parafins cientificas 46 20,35 Cremar 84 37,17 espalhar cinzas 73 86,90 monumento mortuário 11 11,10 Indiferente 31 13,72 Total 226 100,00 Estimativas dos parâmetros para o intervalo de confiança esti- pulado (95%) calculadas para cada alternativa de resposta relativa ao destino do corpo dos mortos: • enterrar 22,86 < P < 34,65 • doar para fins científicos 15,10 < P < 25,60 • cremar 30,80 < P < 43,46 • indiferente 9,23 < P < 18,21 18 A.B.P.4/83 ... • 3 .2 .2 Distribuição das respostas das áreas escatológica, psicológica, e social para os diferentes grupos de formação universitária Os resultados para os diferentes grupos de formação universitária são apresentados juntamente com os limites de cada parâmetro esti- mado nas três áreas de sondagens, a fim de facilitar as comparações . A. Area escatológica Tabela 11 Distribuição das respostas da área escatológica nos diferentes grupos de formação universitária Categorias de resposta Grupos M/D/AP PL/PI F/Q/B/E M/F EF Total Sobrevivência 50,73-63,43 N9 (%) 11 55,00 36 62,07 34 50,75- 17 60,72 31 58,49 129 B. Area p8icológicct Não sobrevivência Limites do parâmetro 9,61-18,71 N9 (%) 1 5,00 4 6,90 10 14,93 7 25,00 10 18,87 32 Agnóstico 22,86-34,66 N9 (%) 8 40,00 18 31,04 23 34,33 4 14,29 12 22,65 65 As distribuições das respostas das subáreas afetiva e volitiva da área psicológica para os diferentes grupos de formação universitária encon- tram-se nas tabelas 12, 13 e 14. Sondagem de atitudes 19 Tabela 12 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de formaÇão universitária aos itens relativos aos mecanismos de defesa e atitude de aceitação frente à morte1 Categorias de resposta Negação Formação Racionalização Depressão Sublimação Aceitação reativa Grupos Limites do parâmetro 28,77-35,83 26,64-33,54 17,31-23,39 23,64-30,34 63,40-70,50 53,36-60,80 NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) (sim) . (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) M/D/AP 17 28,34 23 38,34 18 30,00 15 25,00 42 70,00 34 56,67 PL/PI 46 26,.i4 32 18,39 31 17,82 53 30,46 125 71,84 109 59,20 F/Q/B/E 69 34,33 68 33,83 41 20,40 60 29,85 117 58,21 113 56,22 M/F 26 30,95 26 30,95 21 25,00 22 26,19 49 58,33 46 44,76 ED 61 38,37 55 34,60 27 16,99 33 20,76 121 76,10 91 57,24 Total 219 204 138 183 454 387 1 As percentagens -foram calculadas considerando-se, em cada grupo, o número total de respostas sim e não para cada cate- goria isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas apenas as percentagens de respostas sim . • • Grupos M/D/AP PL/PI F/QIB/E MJF EF Total DPM Tabela 13 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de formação universitária aos itens relativos aos aspectos inquietadores da morte e do morrer1 Categorias de resposta IM SPPM IPM DAM DFM DPI SPA Limites do parã.metro • PIM ReM 72,44-78,90 60,09-67,35 68,99-75,72 61,68-68,85 40,73-48,21 14,82-20,58 52,46-59,94 77,09-83,09 17,32-23,40 51,12-58,62 N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) N9 (%) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) 33 82,50 15 37,50 30 75,00 27 67,50 10 25,00 8 20,00 22 55,00 34 85,00 7 17,50 18 45,00 92 79,31 79 68,11 92 79,31 75 64,66 60 51,73 25 21,56 69 59,49 93 80,18 19 16,38 68 58,62 95 70,90 80 59,71 93 69,41 82 61,20 65 48,50 20 14,93 69 51,50 94 70,15 23 17,17 68 50,75 39 69,65 37 66,08 36 64,29 38 67,85 22 39,22 7 12,50 29 51,79 50 89,29 10 17,85 28 50,00 83 78,30 77 72,65 76 71,70 73 68,86 /,44 41,51 20 18,87 65 61,32 91 85,85 33 31,14 66 62,27 342 288 327 295 201 80 254 362 92 248 1 As percentagens foram calculadas considerando-se, em cada grupo, o número total de respostas sim e não para _cada cate- gOria isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas apenas as percentagens de respostas sim. Tabela 14 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de formação universitária aos itens relativos aos tipos de decisão no diagnóstico Categorias de resposta Informado Informado Informado Não infor- Todos mado e pelo pela por sim a ocul- médico família sacerdote família tarem Grupos Limites do parâmetro 60,69-72,95 4,78-12,04 0,05-3,49 6,97-15,17 7,72-16,18 N9 (%) N9 (%) . N9 (%) N9 (%) N9 (%) M/D/AP 11 55,00 2 10,00 O O 3 15,00 4 20,00 PL/PI 38 65,52 4 6,90 1 1,73 7 12,07 8 13,80 F/Q/B/E 52 77,62 4 7,02 2 3,51 5 7,47 4 5,97 M/F 21 75,00 2 7,15 O O 2 7,15 3 10,72 EF 29 54,72 7 13,21 1 1,89 8 15,10 8 15,10 'rotal 151 19 4 25 27 C. Area social Tabela 15 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de" formação universitária aos itens relativos aos procedimentos adotados com doente terminal Grupos M/D/AP PL/PI F/Q/B/E M/F ED Total 22 Todos os esforços para manter vivo 20,39-31,83 NQ (%) 4 20,00 11 18,97 24 35,82 7 25,00 13 24,53 59 Categorias de re,sposta Não man- ter vivo com apa- relhagem Limites do parâmetro 47,03-60,05 NQ (%) 14 70,00 3~ 62,07 25 37,32 15 53,58 31 58,49 121 Amparo legal para extinguir a vida 15,10-25,60 NQ (%) 2 11 18 6 9 46 10,00 18,97 26,87 21,43 16,99 A.B.P.4/83 .. Tabela 16 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de formação universitária aos itens relativos ao culto dos mortos Não culto Grupos 32,15-44,85 NQ (%) M/D/AP 9 45,00 PL/PI 19 32,76 F/Q/B/E 33 42,26 M/F" 8 28,58 ED 18 33,97 Total 87 Categorias de resposta Culto sem cerimônia Limites do parâmetro 27,90-40,24 NQ (%) 7 35,00 20 34,49 19 28,36 . 13 46,43 18 33,97 77 Tabela 17 Culto com cerimônia 21,61-33,25 NQ (%) 4 20,00 19 32,76 15 22,39 7 25,00 17 32,08 62 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de formação universitária aos itens relativos ao destino do corpo dos mortos Categorias de resposta Doar Enter- para fins Cre- Indi- rar cientí- mar ferente Grupos ficos Limites do parâmetro 22,86-34,66 15,10-25,60 30,88-43,46 8,23-18,21 NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) M/D/AP 4 20,00 22 10,00 11 55,00 3 15,00 PL/PI 17 29,31 10 17,25 23 39,66 8 13,80 F/Q/B/E 14 20,90 15 22,39 27 40,30 11 16,42 M/F 11 39,29 7 25,00 7 25,00 3 .10,72 ED 19 35,85 12 22,65 16 30,19 6 11,32 Total 65 46 84 31 Sondagem de atitudes 23 3.2.3. Distribuição das respostas das áreas escatológica, psicológica e social para os dois sexos Os. resultados para cada sexo são apresentados juntamente com os limites de cada parâmetro estimado nas três áreas de sondagem a fim de facilitar comparações. A. Área escatológica Tabela 18 Distribuição das respostas da área escatológica nos dois sexos Sobre- vivên- cia Grupos 50,73-63,43 NQ (%) Feminino 94 59,49 Masculino 35 51,47 Total 129 B. Área psicológica Categorias de resposta Não sobre- vivência Limites do parâmetro Agnóstico 9,61-18,71 22,86-34,66 NQ 17 15 32 (%) 10,76 22,06 47 18 65 (%) 29,75 26,47 As distribuições das respostas das subáreas afetiva e volitiva da área psicológica para os dois sexos encontralP-se nas tabelas 19, 20 e 21. 24 A.B.P.4/83 • Grupos Feminino Masculino Total • Tabela 19 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos aos mecanismos de defesa e atitude de aceitação frente à mortel Categorias de resposta Negação Formação Raciona- Depressão Sublimação reativa lização Limites do parâmetro 28,77-35,83 26,64-33,54 17,31-23,39 23,64-30,34 63,40-70,50NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) 156 32,91 127 26,79 81 17,09 139 29,32 336 70,89 63 30,38 77 37,75 57 27,94 44 21,57 118 57,84; 219 204 138 183 454 I Aceitação 53,36-60,80 NQ (%) (sim) 265 55,91 12~ 59,80 387 1 As percentagens foram calculadas considerando-se em cada grupo o número total de respostas sim e não para cada cate- goria isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas apenas as percentagens de respostas sim. Tabela 20 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos aos aspectos inquietadores da morte e do morrer! Grupos Feminino Masculino Total Categorias de resposta DPM IM SPPM IPM DAM DFM DPI SPA PIM RCM Limites do parâmetro 72,44-78,90 60,09-67,35 68,99-75,72 61,68-68,86 40,73-48,21 14,82-20,58 52,46-59,94 77,09-83,09 17,32-23,40 51,12-58,62 NQ (%) (sim) NQ (%) (sim) NQ (%) (sim) NQ (%) NQ (%) (sim) (sim) 250 79,11 225 71,20 245 77,53 216 68,35 151 47,78 92 67,55 63 46,32 82 60,29 79 58,09 50 36,76 342 288 327 295 201 NQ (%) (sim) NQ (%) (sim) NQ (%) NQ (%) NQ (%) (sim) (sim) (sim) 62 19,62 178 56,33 267 84,49 18 13,24 76 55,88 95 69,85 80 254 362 69 21,84 183 57,91 23 16,91 65 47,79 92 248 ! As percentagens foram calculadas considerando-se em cada grupo o número total de respostas sim e não para cada cate- gOria isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas as percentagens de respostas sim. • Tabela 21 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos aos tipos de decisão do diagnóstico de doença terminal Categorias de resposta Infor- Infor- Infor- Não Todos mado mado mado informado oculta- Grupos pelo pela por sim a rem médico família sacerdote familla Limites do parâmetro 60,69-72,95 4,78-12,04 0,05-3,48 6,97-15,17 7,72-16,18 Fem1n1no Masculino Total NQ 101 50 151 (%) 63,92 73,53 NQ (%) NQ 14 8,86 3 5 7,35 1 19 4 Tabela 22 (%) NQ (%) NQ (%) 1,90 22 13,92 18 11,39 1,47 3 4,41 9 13,24 25 27 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos aos procedimentos adotados com doente terminal Grupos Feminino Masculino Total Categorias de resposta Todos os esforços para manter vivo Não manter vivo com apa- relhagem Limites do parâmetro Amparo legal para extin- guir a vida 20,39-31,83 47,03-60,05 15,10-25,60 39 20 59 (%) 24,68 29,41 90 31 121 (%) 56,76 45,59 29 17 46 (%) 18,35 25,00 Sondagem de atitudes 27 Tabela 23 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos ao culto dos mortos Grupos Feminino Masculino Total Categorias de resposta Não Culto sem culto cerimônia Limites de parâmetro 32,15-44,85 27,90-40,24 NQ (%) NQ (%) 56 35,44 61 38,61 31 45,59 16 23,53 ~7 77 Tabela 24 Culto com cerimônia 21,61-33,25 NQ (%) 41 25,95 21 30,08 62 Distribuição das respostas dos dois sexos aos itens relativos ao destino do corpo dos mortos Enterrar Grupos 22,86-34,66 NQ (%) Feminino 44 27,85 Masculino 21 30,88 Total 65 Categorias de resposta Doar para fins cientificos Cremar Limites do parâmetro 15,10-25,60 30,88-43,46 NQ (%) NQ (%) 31 .19,62 65 41,44 15 22,06 19 27,94 46 84 Indiferente 9,23-18,21 N9' (%) 18 11,39 13 19,12 31 3 . 2 .4 Distribuição das respostas das âreas psicológica e social para os grupos de diferentes posições escatológicas Os resultados para os diferentes grupos de posição escatológica são apresentados juntamente com os limites de· cada parâmetro estimado nas duas âreas de sondagem, a fim de facilitar as comparações. A. Área psicológica As distribuições das respostas das subâreas afetiva e volitiva da ârea psicológica para os diferentes grupos de posição escatológica encon- tram-se nas tabelas 25, 26 e 27. 28 A.B.P.4/83 li 'I #d'lfl1~*'tt'!- Tabela 25 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de posição escatológica aos itens relativos aos mecanismos de defesa e atitude de aceitação frente à morte1 Categorias de resposta Negação Formação Ràciona- Depressão Sublimação Aceitação reativa lização Grupos Limites do parâmetro 28,77-35,83 26,64-33,54 17,31-23,39 23,64-30,34 63,40-70,50 53,36-60,80 NQ (%) NQ (%) NQ, (%) NQ (%) NQ (%) NQ (%) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) (sim) Sobrevivência 118 30,49 121 31,27 84 21,71 113 29,20 285 73,65 224 57,89 Não sobrevivência 34 35,42 36 37,50 26 27,08 22 22,92 43 44,79 51 53,13 . Agnóstico 67 34,36 47 24,11 28 14,36 . 48 25,62 126 64,62 112 57,44 Total 219 204 138 183 454 387 1 As percentagens foram calculadas considerando-se em cada. grupo o número total de respostas sim e não para cada cate- goria, isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas apenas as percentagens de respostas sim. Tabela 26 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de posição escatológica aos itens relativos aos aspectos inquietadores da morte e do morrer1 Grupos Sobrevivência Não sobrevi- vência Agnóstico Total Categorias de resposta DPM IM SPPM IPM DAM DFM DPI SPA PIM RCM Limites do parâmetro 72,44-78,9060,09-67,35 68,99-75,7261,68-68,86 40,73-48,2114,82-20,58 52,46-59,9477,09-83,09 17,32-23,4051,12-58,62 NQ (%) NQ (%) (sim) (sim) NQ (%) (sim) NQ (%) (sim) 188 72,87 169 65,51 188 72,87 159 61,63 48 75,00 106 81,54 342 32 50,00 87 66,93 288 40 62,50 99 76,16 327 44 68,75 92 70,77 295 NQ (%) (sim) NQ (%~ (sim) NQ (%) (sim) NQ (%) (sim) 99 38,38 35 13,57 131 50,78 208 80,62 24 37,50 78 60,00 201 6 9,38 39 30,00 80 38 59,38 51 79,69 85 65,39 103 79,23 254 362 NQ (%) (sim) NQ (%). (sim) 50 19,38 137 53,10 10 15,63 32 24,62 92 37 57,82 74 56,93 248 1 As percentagens foram calculadas considerando-se em cada grupo o número total de respostas sim e não para cada cate- goria, isoladamente. Na elaboração desta tabela foram anotadas apenas as percentagens de respostas sim . . .. • Tabela 27 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de diferentes posições escatológicas aos itens relativos aos tipos de decisão no diagnóstico de doença terminal Categorias de resposta Infor- Infor- Infor- Não m- mado mado mado formado Todos pelo pela por sim a ocul- Grupos médico familla sacerdote família tarem Limites do parâmetro 60,69-72,95 4,78-12,04 0,05-3,49 6,97-15,17 7,72-16,18 NQ (%) NQ (%) NQ (%) N9 (%) NQ (%) Sobrevivência 86 66,67 15 11,63 4 3,10 14 10,86 10 7,76 Não sobre- vivência 22 68,75 3 9,38 4 13,00 3 9,38 Agnóstico 43 66,15 1 1,54 7 10,77 14 21,54 Totai 151 19 4 25 27 B. Area social Tabela 28 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de posição escatológica aos itens relativos aos procedimentos adotados com doente terminal Grupos Sobrevivência Não sobrevivência Agnóstico Total Sondagem tU atitudes Categorias de resposta Todos os esforços para manter vivo Não manter. vivo com aparelhagem Amparo legal para extin- guir a vida Limites de parâmetro 20,39-31,83 47,03-60,05 15,10-25,60 NQ (%) NQ (%) NQ (%) 35 27,14 79 61,24 15 11,63 5 15,63 15 46,88 12 37,50 19 29,23 27 41,54 19 29,23 59 121 46 31 Tabela 29 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de posição escatológica aos itens relativos ao culto dos mortos Categorias de resposta Não Culto sem Culto com culto cerimônia cerimônia Grupos Limites do parâmetro 32,15-44,85 27,90-40,24 21,61~33,25NQ (%) NQ (%) NQ (%) Sobrevivência 37 28,68 51 39,53 41 31,78 Não sobrevivência 19 59,38 3 9,38 10 31,25 Agnóstico 31 47,60 23 35,38 11 16,92 Total 87 77 62 Tabela 30 Distribuição das respostas dos diferentes grupos de poSIçao escatológica aos itens relativos ao destino do corpo dos mortos Grupos Sobrevivência Não sobrevivência Agnóstico Total 32 Enterrar 22,86-34,66 NQ (%) 45 34,88 8 25,00 12 18,47 65 Categorias de resposta Doar para Indife~ fins cien- Cremar rente titicos Limites do parâmetro 15,10-25,60 30,88-43,46 9,23-18,21 NQ (%) NQ (%) NQ (%) 23 17,83 45 34,88 16 12,41 4 12,50 16 50,00 4 12,50 19 29,23 23 35,39 11 16,93 46 84 31 A.B.P.4/83 • " 3.2.5 Levantamento das respostas aos itens da área psicológica em função da ordenação dos itens segundo Oi critério de impOrtância Com relação à área psicológica, além da avaliação em termos de per- centagem, as respostas pertinentes aos mecanismos de defésa/atitude de aceitação frente à morte e aos aspectos inquietadores da morte e do morrer foram. também avaliadas quanto à ordenação dos itens segundo o critério de importância. Os dados obtidos forneceram informações acerca da qualida4e e do conteúdo das respostas de cada grupo considerado, possibilitando, até certo ponto,.controlar, ampliar e apurar a compreensão dos resul- tados obtidos na etapa anterior. Quanto à ordenação dos itens relativos aos mecanismos de defesa e atitude de aceitação frente à morte, a análise dos dados revelou o seguinte: . - os sujeitos da amostra total e dos grupos de sexo feminÜlo e de crença na sobrevivência atribuem maior importância ao item de subli- mação de conteúdo religioso (item 3: "procuraria uma maior aproxi- mação com Deus"), que ocupa o primeiro e segundo lugares na ordenação, seguido do item de depressão culposa (item 15: "tentaria reparar meus erros") que ocupa o terceiro lugar na ordenação, sendo que para o grupo de crença na sobrevivência surge também em ter- ceiro lugar com igual freqüência o item relativo à depressão para- lisante (item 4: "nada mais me restaria senão pensar nas oportu- nidades perdidas"); - o grupo de crença na não sobrevivência segue praticamente a mesma tendência dos grupos anteriores, porém ordenando em pri- meiro e segundo lugares o item de sublimação de conteúdo assisten- cial (item 5: "doaria um dos meus órgãos para salvar um seme- lhante") ; - os sujeitos do grupo de português literatura e português inglês atribuem maior importância ao item de sublimação de conteúdo reli- gioso (item 8 : "procuraria uma maior apromixação com Deus"), ,seguido do item relativo à depressão culposa (item 15: "tentaria repa- rar meus erros") em segundo lugar, o qual persiste no terceiro lugar em termos de ordenação, com a mesma freqüência do item de aceita- ção (item 1: '''conversaria com outras pessoas a respeito de minha morte") ; - os grupos de mÚSica/desenho/artes plásticas, fisica/qufmicajbio- logia/enfermagem, educação física, ,sexo masculino e agnóstico atri- buem maior importância e de maneira quase exclusiva aos itens de sublimação, os quais surgem com a maior freqüência em todas as três ordenações. Os grupos de música/desenho/artes plásticas, física/ química/biologia/enfermagem e agnóstico dão maior ênfase aos itens de conteúdo assistencial (item 5: "doaria um. dos meus órgãos para salvar um semelhante") e os grupos de educação física e sexo mas- culino dão maior ênfase ao item de conteúdo 'religioso (item 8:' "pro- curaria uma maior aproximação com Deus")'. Com relação ao grupo masculino, as respostas de aceitação (item 17: "vivenciaria a expe- Sond4gem de atitudes 33 riên:cia") surgem também em terceiro lugar, com igual fz:eqüência das respostas de sublimação de conteúdo assistencial; - o grupo de matemática/filosofia atribui maior importância ao item de sublimação de conteúdo assistencial (item 5: "doaria um dos meus órgãos para salvar um semelhante"), o qual ocupa o primeiro lugar na ordenação, seguido· do item de aceitação (item 7: "assumiria a responsabilidade quanto à suspensão de tratamentos destinados ao prolongamento de minha vida") com maior freqüência, em segundo lugar e, finalmente, do item de depressão culposa (item 15: "tentaria reparar meus erros") com maior freqüência em terceiro lugar. Quanto à ordenação dos itens relativos aos aspectos inquietadores da morte e do morrer, a análise dos dados revelou o seguinte: - os sujeitos da amostra total e de todos os demais grupos atribuem maior importância, ordenando com maior freqüência em primeiro lugar, ao item relativo ao sofrimento das pessoas amadas (item 3: "causar dor e solidão às pessoas que amo"), diversificando-se apenas em relação às ordenações subseqüentes; . - para os sujeitos da amostra total e dos grupos de música/desenho/ artes plásticas, português literatura/ português inglês, educação física, sexo feminino, crença na sobrevivência, crença na não sobrevivência e agnóstico, segue-se com maior freqüência em segundo lu~ o item relativo à ruptura de comunicação pela morte (item 10: "não mais poder me comunicar com meus parentes e amigos"), diversifican- do-se estes grupos apenas no que se refere à terceira ordenação. Assim, na amostra total e nos grupos de. educação física, sexo feminino e crença na sobrevivência, surge com maior freqüência, em terceiro lugar, o item relativo à indignidade no processo de morrer (item 13: "sofrer a perda das funções mentais e permanecer inválido até a morte"), sendo que no grupo de sexo feminino, . surge ainda em terceiro lugar, com igual freqüência, o item relativo a sofrimento e pânico no processo de morrer (item 15: "ter uma morte dolorosa"); - no grupo de música/desenho/artes plásticas surge com maior fre- qüência, em terceiro lugar, o item relativo à dependência no processo de morrer (item 9: "tomar-me dependente dos outros quanto às minhas necessidades físicas") e no grupo de português literatura/por- tuguês inglês o item relativo a sofrimento e pânico no processo de morrer (item 15: "ter uma morte dolorosa"); - os grupos de crença na não sobrevivência e agnóstico, embora semelhantes aos anteriores no que se refere à ordenação dos itens para o primeiro e segundo lugares, caractez:izam-se por apresentar uma grande dispersão quanto aos itens que ocupam o terceiro lugar na ordenação; - os grupos de matemática/filosofia e sexo masculino persistem em ordenar em segundo lugar, com maior freqüência, itens relativos ao sofrimento das pessoas amadas (item 3: "causar dor e solidão às pes- soas que amo" e item 6: "acarretar cansaço e abatimento a meus parentes e amigos"), ordenando com maior freqüência, em terceiro lugar, o item relativo à indignidade no processo de morrer (item 13: "sofrer a perda das funções mentais e permanecer inválido até a morte"), o qual, no grupo masculino, surge com a mesma freqüência 34 A.B.P.4/83 do item relativo à depen4ência no processo d.e morrer (item 9: "tor- nar-me dependente dos outros quanto às minhas necessidades físi- cas") ; - finalmente, o grupo de física/qufm1ca/biologia/enfermagem ordena com maior freqüência, em segundo. lu~, o item relativo à dependên- cia no processo dé morrer (item. 9: "tornar-me dependente.dos outros .. quanto às minhas necessidades físicas") e em terceiro lugar, nova- mente o mesmo item ordenado em primeiro lugar e relativo ao sofri- mento das pessoas amadas (item 3: "causar dor e solidão às pessoas que amo"). 4. DIscussão dos resultados O exame dos resultados obtidos pelos sujeitos no QAFM permitiu identificar, descrever e analisar as atitudes predominantes nas três ãreas de sondagem. Quanto à atitude escatOlógica, prevalece, para a amostra total, para todos os grupps de formação universitãria e para ambos os sexos, a crença na sobrevivênciadepois da morte, predominando, entre as várias formas de convicção, a de tipo religioso. Em relação aOs diferentes grupos de formação wiiversitãria, os grupos mÚSica/desenho/artes plásticas e ffsica/química/biologia/eri- fermagem ,revelam paralelamente crença na sobrevivência e tendência para a posição agnóstica, e os grupos de matemática/f"J.losofia e edu- cação física, tendência para a crença na não sobrevivência, tendência esta que surge, ainda, no grupo de sexo masculino. Quanto à utilização dos mecanismos de defesa e atitude de acei- tação frente à morte, quando os sujeitos foram solicitados a assinalar todos ·os itens com sim ou não, os resultados demonstraram para a amostra total um alto índice percentual das respos~as de sublimação (66,96%), seguidas da atitude de aceitação (35,08%), dos mecanis- mos de negação (32,30 % ), de formação reativa (30,09 % ), depressão (26,99%) e, por último, do mecanismo de racionalização (20,35%) ~ Uma análise inicial destes dadOs chama atenção para o fato de a atitude de aceitação preceder os mecanismos de defesa, à exceção do de sublimação. Isto porque a repressão frente à morte funciona para a maior parte das pessoas de maneira eficaz, levando-as a todos os tipos de defesa, o que aliás vem sendo confirmado, em parte, pelos achados empíricos, que demonstram ser a aceitação a última das eta- pas no confronto com a morte, pelo menos no que se refere ao doente terminal (Kübler-Ross, 1977). É possível, portanto, que estes resulta- dos indiquem que a atitude verbalmente expressa do sujeito sadio ao se defrontar com a possibilidade de sua morte iminente não cor- responda à sua atitude íntima ou real e que a aceitação revelada pelos sujeitos da amostra constitua a rigor um indicativo da repressão, " sendo conseqüentemente uma forma·de. mascarar o próprio confronto com a morte. Chama a atenção ainda o índice percentual do mecanismo de formação reativa ~ uma vez que de uma perspectiva antropológica Sondagem de atitudes 35 e social a importância deste mecanismo fica demonstrada na relação morte-sexo, a qual surge sem interdito nos rituais primitivos e tam- bém, embora de maneira mais velada, na sociedade ocidental - e o baixo índice percentual do mecanismo de racionalização - possivel- mente um dos mecanismos socialmente mais utilizados no confronto com a morte. Quanto ao elevado índice percentual das respostas de sublima- ção, este resultado até certo ponto jâ era esperado por ser talvez entre todas as formas de defesa para lidar com a morte aquela mais criativa e a que melhor possibilita ao homem a crença na transcen- dência e na imortalidade (Becker, 1976). A anâlise da possível relação entre os diversos mecanismos de defesa revelou que os grupos de física/quimica/biologia/enfermagem, matemâtica/filosofia, sexo masculino e crença na não sobrevivência, que se situam abaixo do limite inferior do parâmetro no mecanismo de sublimação, sistematicamente ultrapassam o limite superior do parâmetro nos mecanismos de racionalização ou de formação reativa ou em ambos; o que parece sugerir uma relação inversa na utilização destes mecanismos, ou seja, quanto mais baixa a sublimação frente à liiituação de morte, mais alta a formação reativa e/ou racionaliza- ção. l!i possível que estes resultados, a rigor, estejam apontando para duas vias bâsicas para lidar com a morte: a da sublimação e a da racionalização e/ou formação reativa. Ainda com relação aos grupos estudados, cabe dizer que aqueles que mais tendem a se aproximar dos parâmetros estimados na amos- tra total são os de música/des.enho/artes plâsticas, física/química/ biologia/enfermagem, matem~tica/filosofia, sexo feminino, agnóstico e crença na sobrevivência; os que mais tendem a se afastar destes parâmetros são os de português literatura/português inglês, educa- ção física, sexo masculino e o de crença na não sobrevivência. A anâlise dos dados não mais considerando as respostas dadas a todos os itens em termos percentuais mas em função da orde- nação dos três itens mais importantes entre os assinalados com sim demonstrou que a sublimação permanece como principal mecanismo de def~sa utilizado, pela amostra total, surgindo com maior freqüên- cia, em primeiro lugar, o item de conteúdo religioso e com maior freqüência, em segundo lugar, o item de conteúdo assistencial, o que parece apontar para a via religiosa como a preferencial para lidar com a morte, desde que, evidentemente, não ocorra uma perse- . veração da sublimação ~esmo do tipo religioso em detrimento d~ outras formas de conduta igualmente necessârias no confronto com a morte. Aliâs, é interessante ressaltar a importância concedida à via religiosa por autoridades em tanatologia, tais como Cicely Saunders (1975) e Kübler-Ross (1975;1980). O mecanismo que surge ordenado em terceiro lugar com maior freqüência é o de depressão, com o item relativo à depressão culposa. Portanto, o que chama atenção no caso da' amostra total é o fato de que a anâlise dos dados em função da ordenação confirma' os resultados obtidos em termos percentuais no que se refere ao meca- 'nismo de sublimação, que permanece em primeiro lugar, mas não 36 A.B.P. 4/83 " no que diz respeito à atitude de aceitação que não mais segue asubli- nutção, cedendo lugar à depressão. . Em relação aos diferentes grupos estudados, o mecanismo de sublimação persiste ordenado com maior freqüência em primeiro lugar para todos eles. Chama atenção, entretanto, o fato de os gru- pos de música/desenho/artes plásticas, física/química/biologia/erifer- magem, educação física, sexo masculino e agnóstico ordenarem em primeiro, segundo e terceiro lugares itens pertinentes ao mecanismo de sublimação, sendo que no grupo masculino a aceitacão surge também ordenada em terceiro lugar com a mesma freqüência da sublimação. Esta persistência na sublimação parece sugerir a rigor maior dificuldade destes grupos para se defrontarem com a ansiedade sus- citada pela situação de morte, podendo, inclusive, ser uma forma. de mascarar a atuação subjacente do meçanismo de formação rea- tiva. Esta interpretação, aliás, parece confirmada: a) pelos resulta- dos percentuais, uma vez que estes grupos, à exceção dos agnósticos, se situam acima do limite superior do parâmetro em formação rea- tiva; b) pelo fato de que nos demais grupos, quando da ordenação, a sublimação vem seguida da depressão. . Ainda quando a avaliação é em termos da ordenação dos itens, a depressão aparece com maior ênfase no gr~po de pOrtuguês lite- ratura/português inglês, surgindo com maior freqüência _tanto em segundo como em terceiro lugar. A aceitação do componente depres- sivo neste grupo não é de estranhar face à própria formação profis- sional, pois, como assinala Morin (1951), em nossa cultura Ocidental, a literatura é uma das únicas áreas que não fez da morte um tabu. Aliás, é tamõém o grupo de português aquele que, de todos os grupos estudados, menos se utiliza do mecanismo de negação·diante da morte. Por último, ainda no que se refere à depressão, é interessante ressaltar que as respostas em termos de ordenação demonstram o grande predomínio da depressão culposa, o que indica uma dificul- dade dos sujeitos para aceitarem a form~ paralisante de depressão, possivelmente a mais ameaçadora, nQ. medida em que ela envolve o risco de suicídio. O mecanismo de negação - que em termos percentuais se segue ao mecanismo de sublin'lação e à atitude de aceitação - desaparece quando a análise é feita em termos de ordenação dos itens, o que parece sugerir que uma atitude de maior introspecção, como a exi- gida neste tipo de resposta, reduz a possibilidade de utilização deste mecanismo. Desta fórma, pareCe haver um certo paralelismo entre estes dados eo que ocorre em relação ao doente terminal, no 'qual a negação,embora sendo a primeira etapa detectada (Kübler-Ross, 1977), também não subsiste. Quanto à atitude de aceitação, que na análise dos dados em termos percentuais aparece, na grande maioria dos grupos, logo após o mecanismo de sublimação, quando analisada em termos de orde': nação dos itens, surge apenas nos grupos de matemática/filosofia, português literatura/português iriglês e sexo masculino. Sondagem de atitudes 37 Esta atitude de aceitação, entretanto, deve ser interpretada com cautela, poiS pode significar ainda um resíduo de mascaramento, sobretudo no que se refere aos grupos de matemática/filosofia e masculino. Isto porque o grupo de matemática/filosofia assume os aspectos depressivos com certa relutância, na medida em que ordena com maior freqüência, em segundo lugar, os itens de aceitação e só posteriormente, em terceiro lugar, os de depressão e o grupo de sexo masculino está entre aqueles que, como se viu, persevera, quando da ordenação dos itens, na escolha: dos itens de sublimação. Portanto, a análise conjunta das duas formas de avaliação per- mite concluir que os grupos se comportam em relação aos meca- nismos de defesa e atitude "de aceitação frente à morte da seguinte maneira: - os grupos que mais tendem a se afastar dos parâmetros são os de português literatura/português inglês, educação física, sexo masculino e crença na não sobrevivência; - o grupo de português se afasta da amostra total, situando-se aci- ma do parâmetro em sublimação e depressão e abaixo do parâmetro em negação e formação reativa, mecanismos que usa menos do que todos os grupos. Além disso, é o grupo que mais aceita os aspectos depressivos do morrer; .quando da ordenação dos itens. É possível que estes dados apontem para uma menor repressão da morte neste grupo; - o grupo de educação física se afasta da amostra total situando-se acima do parâmetro em sublimação, negação e formação reativa e abaixo do parâmetro em depressão e racionalização. Além disso está entre os grupos que não assumem os aspectos depressivos do morrer, persistindo na ordenação de respostas de sublimação, o que parece ser indicativo de maior resistência para lidar com a ansiedade da morte; - o grupo masculino se afasta da amostra total situando-se acima do parâmetro em racionalização e formação reativa e abaixo do parâ- metro em sublimação e depressão. Quando da ordenação dos itens, resiste em aceitar os aspectos depressivos, perseverando na ordena- ção dos itens de sublimação. Estes dados parecem apontar para uma maior repressão da morte também neste grupo; "'\" quanto ao grupo de crença na não sobrevivência que em prin- cíp~o se configuraria como o último anteriormente analisado, não obstante, quando forçado a uma atitude de maior introspecção, acaba por assumir os aspectos depressivos da morte; - os grupos que mais tendem a se aproximar dos parâmetros da amostra total são os de música/desenho/artes plásticas, ffsica/quf- mica/biologia/enfermagem, matemática/filosofia, sexo feminino, cren- ça na sobrevivência ~ agnóstico; - entretanto, o grupo de música/desenho/artes plásticas afasta-se da amostra total nos mecanismos de formação reativa e racionalização, nos quais se situa acima do parâmetro, e no de negação, no qual se situa abaixo do parâmetro. Além disto está entre aqueles grupos que perseveram na. ordenação de respostas de sublimação, resistindo em 38 A.B.P.4/83 aceitar os aspectos depressivos da morte. Estes dados parecem, por- tanto, apontar para uma maior repressão em relaçãp à morte·; - o grupo de física/quimica/biologia/enfermagem afasta-se da amos- tra total apenas nos mecanismos de formação reativa, no qual se situa acima do parâmetro e de sublimação, no qual se situa abaixo do parâmetro. Entretanto, está entre aqueles grupos que perseveram na ordenação das respostas de sublimação, não assumindo os aspec- tos depressivos, o que leva a supor a existência de maior repressão' da morte também neste grupo; - o grupo de matemática/filosofia só se afasta da amostra total nos mecanismos de racionalização, no qual se situa acima do parâ- metro, e de sublimação, no qual se situa abaixo do parâmetro. Por outro lado assume os aspectos depressivos com certa relutância. i possível que estes dados estejam apontando para uma tendência, neste grupo, a lidar com a morte de forma intelectualizada, inclusive, como recursos para se defender da depressão; - já· os grupos de crença na sobrevivência e sexo feminino afastam-se ambos Qa amostra total no mecanismo de sublimação, no qual se situam acima do parâmetro, e o grupo feminino ainda no de racio- nalização, no qual se situa abaixo do parâmetro. Além disso, nenhum dos dois grupos persevera na ordenação exclusiva de itens de subli- mação. Estes dados parecem indicar menor repressão frente à morte; - finalmente, o grupo agnóstico só se afasta dos parâmetros em formação reativa e racionalização, mecanismos que utiliza menos que a amostra total. Surpreendentemente, entretanto, a repressão surge na medida em que, quando forçado a uma atitude de maior intros- pecção, persiste exclusivamente na ordenação de itens de sublima- ção, nãoass~do os aspectos depressivos da morte. Com relação à atitude frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer quando os sujeitos foram solicitados a assinalar todos os itens com sim ou não, os resultados em termos percentuais para a amostra total foram: SPA (80,09%)'; DPM (75,67%), SPPM (72,35%), IPM (65,27%), IM (63,72%), DPI (56,20%), RCM(54,87%), DAM (44,47%), PIM (20,36%),DFM (17,70%). Uma análise inicial destes dados chama atenção para o alto índice percentual em SPA. Este resultado aponta para a direção esperada na medida em que refietea negação da morte pessoal que é projetada para um futuro distante, atitude característic~ da faixa etária em que se' encontram os sujeitos da amostra, pois. o desmas- caramento em relação à morte pessoal começa a se dar na meia-idade. Como chama atenção Elliot Jacques (1965) "é a entrada na cena psicológica da realidade e inevitabilidade da eventualidade da própria morte pessoal a característica central e crucial do meio da vida - fato que precipita a natureza crítica do período". Desta forma, na etapa de vida em que se encontram os· sujeitos da amostra, cuja idade média é de 25 anos, o desejo e a ilusão da lmortalidade são mantidos pelo mecanismo de projeção. A dor é projetada no outro - os parentes - e conseqüentemente é deslocada também para eles a problemática da morte. SOndagem ele atitudes 39 Aliás, este mito da imortalidade - típica da fase inicial adulta - reflete-se ainda no baixo índice percentual das respostas relativas a deixar projetos inacabados, que se transforma em. um dos aspec- tos mais inquietadores da morte e do morrer somente a partir do momento em que se assume a- possibilidade da morte pessoal. Com relação aos diferentes grupos estudados, cabe dizer que os que mais tendem a se aproximar dos parâmetros da amostra total são os de música/desenho/artes plásticas, educação física, sexo femi- nino, crença na sobrevivência e crença na não sobrevivência; os que mais tendem a se. afastar destes parâmetros são Os de português lite- ratura/português inglês, física/quimica/biologia/enfermagem, mate- mática/filosofia, sexo masculino e agnóstico. O sofrimento ~as pessoas amadas permanece, em todos os gru- pos, como a área de maior índice percentual, à exceção do grupo agnóstico, o que aparentemente parece apontar para uma menor repressão em relação à própria morte pessoal. 1: possível que isto també~ favoreça maior expressão de sua ansiedade frente aos aspec- tos inquietadores da morte e do morrer, o que por sua vez parece demonstrado Pelo fato de se situar acima do limite .superiordos parâ- metros estimados em sete dos 10 aspectos sondados. Ainda em relação aosdiferentes grupos estudados, aqueles que men~s expressam ansiedade frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer são o grupo masculino e o de física/qufmica/biologia/en- fermagem, os quais se situam abaixo do limite inferior dos parâme- tros da amostrá total respectivamente em nove e sete dos 10 aspec- tos pesquisados. Estes dados reforçam análises anteriores, apontando para maior repressão frente à morte, nestes grupos. Também o grupo de matemática/filosofia está entre os que expressam menor ansie- dade frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer, situan- do-se abaixo do limite inferior dos parâmetros em seis dos 10 aspec- tos pesquisados.1: possível que, também neste caso, este dado esteja reforçando a dificuldade deste grupo, já analisado; para assumir os aspectos depressivos. Finalmente, observa-se também no grupo de crença na não sobrevivência uma certa tendência a reprimir a ansie- dade frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer, na . medida em que, embora só se afastando dos parâmetros da amos- tra total em cinco dos aspectos, o faz situando-se abaixo do limite inferior dos mesmos. Os grupos de crença na sobrevivência e sexo feminino são aqueles que· mais se aproximam dos p8.râmetros da amostra total, revelando, portanto, menor ansiedade frente aos aspec- tos inquietadores da morte e do morrer. . A análise dos gados não mais em função das respostas dadas a todos os itens mas em função da ordenação dos três itens mais importantes entre os assinalados com sim demonstra que o sofri- mento das pessoas amadas permanece como o aspecto mais inquie- tador da morte e do morrer para a amostra total e para todos os grupos, surgindo como item de maior freqüência, em primeiro lugar, aquele relativo a causar dor e solidão às pessoas amadas, refletindo, conseqüentemente, mais uma vez, a resistência, nesta faixa etária, para o confronto com a própria morte pessoal. Entretanto, surge com 40 A.B.P.4/83 • maior freqüência em .segundo lugar, para oito dos 11 grupos estu- dados; o item relativo à ruptura de comunicação pela morte - "não mais poder me comunicar com as pessoas amadas" - que, na etapa anterior, obteve um baixo índice percentual. Este dado parece demons- trar mais uma vez - tal como ocorreu em relação à sondagem. dos mecanismos de defesa e à àtitude de aceitação frente à morte - que uma. atitude de maior introspecção tende a quebrar a resistência ao confronto pessoal com a morte, na medida em que a ruptura de comunicação é talvez o aspecto que fenomenologicamen,te mais reflete a inquietacão metafísica do homem quanto ao seu destino ontológico e à possibilidade de·continuidade de seu existir. ' Os três únicos grupos nos quais a ruptura de comunicação não, surge, persistindo a tendência para ordenar com maior freqüência em s~gundo ou terceiro lugar itens relativ<»; ao sofrimento das pes- soas amadas, são os de físicajquímicajbiologia/enfermagem, mate- mática/filosofia, sexo masculjno, o que reforça dados anteriores rela- tivos a maior dificuldade destes grupos para vencer a resistência ao confronto da morte pessoal. ' . ' Quando a análise das respostas é feita em termos de ordena,- ção, chama atenção, ainda, a dispersão de itens ordenados em ter- ceiro lugar nos grupos agnóstico e de crença na não sobrevivência, o que parece refletir a ansiedade, frente aos aspectos inquietadores da morte e do morrer, já evidente no grupo agnóstico, quando da análise em termos percentuais. No que se refere ao desejo de ser ou não informado do diagnós- tico de uma doença terminal, os resultados demonstram que em ter- mos de 'atitudes expressas a maioria dos sujeitos de todos os grupos deseja a informação. Estes dados, por um lado, confirmam achados da literatura (Kübler-Ross, 1975, 1977, 1980; Blumenfield, 1978/79) que menciQnam, inclusive, a necessidade que têm os doentes terminais de falar de seu estado e o alivio que sentem quando isto lhes é per- mitido, e refutam a prática corrente na instituição hospitalar, a qual em função de suas próprias dificuldades e do tabu frente à morte, de modo geral, recusa qualquer informação ao paciente; por outrq lado, apontam para a discrepância nos sujeitos da amostra, entre a atitude afetiva e o posicionamento intelectual, uma vez que as análises anteriores demonstram, para a maioria dos grupos, as difi- culdades e a repressão frente à morte. Quanto à qualidade do informante, o desejo de ser informado pelo médico é uma constante em todos os grupos estudados assim como o desejo de que a informação não seja dada pelo ~ sacer~ote. :fl pos- sível que esta desvalorização do sacerdote reflita, pelo menos em algum grau, a própria negação da morte, uma vez que o sacerdote é provav~lmente aquela figura diante da qual esta negação é menos viável. . Chama ainda atenção uma certa ambivalência observada nos grupos de música/desenho/artes plásticas e agnóstico, os quais, em- bora expressando o desejo de que o diagnóstico lhes seja informado pelo médico, revelam paralelamente uma tendência para desejar que Sondagem de atitudes 41 o diagnóstico lhes seja ocultado, o que reforça dados anteriores que apontam para repressão e/ou ambivalência nestes grupos. Cabe, portanto, ressaltar que, apesar de as atitudes expressas apontarem nitidamente para o desejo de ser informado no caso de uma doença terminal, este dado deve ser visto com cautela, sobre- tudo em termos da prática médica, pois o que parece ocorrer, pelo menos nos sujeitos da amostra, é um mascaramento da r.epressão e uma desarticulação entre o racional e o afetivo, entre a atitude inte- lectualmente expressa e a atitude afetiva, íntima; desarticulação típica de uma reação contrafóbica. Tanto é assim que o grupo de física/química/biologia/enfermagem, apesar de se encontrar entre os mais repressivos, é o que mais deseja ser i~formado e o que menos deseja que o diagnóstico lhe seja ocultado. Com relação à prática da eutanásia, apesar da ambivalência e indecisão de alguns grupos, os resultados apontam para a aceitacão da eutanásia passiva e rejeição da eutanásia ativa. Estes resultados a favor da eutanásia passiva parecem mais uma vez contrariar a prática corrente da instituição hospitalar, na qual o poder médico decide sobre o momento da morte, recusando aos indivíduos qual- quer possibilidade de opinar em relação ao prolongamento artificial de suas próprias vidas. Tal prática, como demonstra Ziegler (1977), é um reflexo da negação da morte, típica desta: sociedade da qual os próprios médicos são vítimas. É possível, portanto, que o fato de os sujeitos da amostra se inclinarem para a -aceitação da eutanásia passiva signifique sobretudo uma reação contra a tirania tecno- lógica e, ainda, uma primeira tentativa de reação contra a própria negação da morte, se bem que possa ainda expressar apenas a desar- ticulação entre o intelectual e o emocional. Esta hipótese parece refor- çada pelo fato de que, quando solicitados a ordenarem os três itens mais importantes entre os assinalados com sim, somente o grupo de matemática/filosofia ordenou com maior freqüência em segundo lugar o item "assumiria a responsabilidade quanto à suspensão de trata- mentos destinados ao prolongamento de minha vida", que implica a aceitação da eutanásia passiva. O grupo de física/química/biologia/enfermagem é aquele que revela maior ambivalência em relação à prática da eutanásia, osci- lando entre uma atitude de recusa e de aceitação. Os grupos que se caracterizam por uma certa tendência para a aceitação da eutanásia ativa. são os de crença na não sobrevivência e agnóstico. Com relação ao culto dos mortos, prevalece, para a amostra total e para a maioria dos grupos estudados, a rejeição do culto, o que reflete, mais uma vez, a atitude negadora da amostra em relação à morte. Esta negação, aliás, é
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