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Resenha - Dos Delitos e das Penas

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O célebre livro Dos delitos e das Penas, de Cesare Beccaria, foi publicado em 1764 em Milão na Itália.
Dos delitos e das penas foi uma das obras inauguradoras do humanismo iluminista do sec. XVIII. Período em que pensadores e doutrinas elementares buscavam despertar ideais revolucionários contra as injustiças daquela sociedade. Neste contexto, Beccaria, é no Direito Penal brasileiro, o precursor do pensamento que busca caminhos racionais e humanitários para a instauração da justiça criminal.
Ao deparar-se com as ideias da obra, podemos verificar a influência no avanço no sistema penal, até hoje. É possível verificar, em diversas legislações atuais, princípios defendidos pelo o autor.
Beccaria nos mostra o primeiro problema existente no sistema criminal vigente: o uso das leis em prol de uma minoria da população, ao passo em que a maioria da sociedade vive na miséria, sofrendo com o descaso dos responsáveis. Desta maneira, aponta como solução o uso de boas leis para impedir o abuso por parte da minoria e, consequentemente, promover o bem-estar a todos por meio de uma política de distribuição justa respaldada pelas vias legais. 
O autor enfatiza sua indignação com a legislação vigente da época evidenciando as penas desumanas, bem como as falhar do processo penal:
“Não houve um que se erguesse, senão fracamente, contra a barbárie das penas que estão em uso em nossos tribunais. Não houve quem se ocupasse em reformar a irregularidade dos processos criminais, essa parte da legislação tão importante quanto descurada em toda a Europa” (Beccaria, 2006, p. 16).
Em razão das barbáries e falhas, ele apresenta seu desejo de reforma da legislação em vigor, pautando a utilização de princípios gerais que norteie a seara penal. 
Beccaria utiliza a teoria do Contrato Social de Rousseau para explicar a origem das penas e com isso delimitar o direito de punir. O autor utiliza a teoria do Contrato Social de Rousseau para explicar a origem das penas e com isso delimitar o direito de punir. Segundo ele, cada indivíduo sacrifica uma pequena parcela de sua liberdade para viabilizar a sua sobrevivência na sociedade, devendo o soberano depositário das liberdades, em resposta, oferecer segurança e garantir o bem geral. No entanto, surge a necessidade de punir aqueles que desrespeitam as normas do bom convívio, invadindo as liberdades alheias. Assim, são estabelecidas penas para os infratores das leis. Contudo, as penas não podem exceder a porção mínima de liberdade depositada por cada indivíduo.
Com isso, a finalidade da pena deve se restringir à preservação do bom cumprimento das leis para que se evitem males maiores – consoante a escola utilitarista –, punindo aquele que não se pautou nas normas, desviando-se do contrato social. Qualquer punição que a isso se exceda, de imediato, configurará um abuso. 
Segundo Beccaria, os princípios que devem nortear o sistema processual penal estão aptos a gerar três consequências: a) A primeira delas consiste no respeito à legalidade, não sendo puníveis condutas atípicas, ou seja, aquelas não previstas em lei. Aduz ainda que a competência para a produção legal é exclusiva do legislador, representante da sociedade em virtude do contrato social; b) A segunda consequência reside na criação de leis gerais porque não cabe ao legislador julgar individualmente os infratores, haja vista que o julgamento compete ao magistrado com base na subsunção do fato à norma; c) A última consequência incide na aversão às penas cruéis, odiosas, inúteis e que contrariam os fins propagados pelo contrato social.
A grande preocupação de Beccaria é elaborar penas justas para cada tipo de delito e não penas absurdas que favoreçam, por sua característica severa, o seu não cumprimento e arbitrariedade perante o Estado. Assim, ao tratar da questão do contrabando, explica que, apesar de ser um delito que ofende o “soberano” e a nação, não seria uma ofensa muito grave, uma vez que a opinião pública não empresta nenhuma infâmia a essa espécie de delito e por isso o confisco das mercadorias proibidas – e mesmo de tudo o que se acha apreendido como objetos de contrabando – seria uma pena justíssima. 
O pensamento de Beccaria foi de extrema importância para a criação do Princípio da Responsabilidade Pessoal, determinado pelo art. 5.º, XLV, da atual CF, o qual afirma que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidos aos sucessores e contra eles executados até o limite do valor do patrimônio transferido”. Ou seja, somente a pessoa que foi condenada deverá sofrer a reprimenda estatal, não podendo seus sucessores sofrerem qualquer espécie de punição.
A preocupação de Beccaria no estudo exaustivo dos delitos e das penas era a de um dia conseguir elaborar leis que, ao final, resultassem em uma sentença justa e pura.
No capítulo intitulado “Dos meios de prevenir crimes” de acordo com o autor é, sem dúvida, melhor prevenir os crimes do que ter que os punir, pois em toda boa legislação o fim não é castigar vingativamente os criminosos, mas sim apresentar formas de evitá-los. Um bom método de prevenção é fazer leis simples e claras, que se identifiquem com a nação, semeando a confiança entre os cidadãos, não protegendo nenhuma camada social e promovendo a igualdade intelectual entre as camadas do povo. O julgamento “por seus iguais” – defendido por Beccaria – é previsto atualmente como Tribunal do Júri em nossa Constituição Federal, no art. 5.º, XXXVIII, que assegura: “a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.
É importante ressaltar que o autor, a partir da elaboração intelectual desse pensamento, constroi uma nova linha para a escola penalista inspirada em pensadores como Kelsen, Kant, Voltaire e Diderot, pois enquanto outros pensadores focavam em estratégias vingativas e cada vez mais rígidas de serem cumpridas, Beccaria sugeria penas que deveriam atender suas finalidades específicas para cada tipo de delito. Assim, com a publicação dessa obra, começa o período humanitário da pena, despertando a discussão quanto à intolerabilidade das punições aplicadas e os meios em que as penas deveriam se realizar.
O autor acreditava que, com regras acessíveis a todos, a nação inteira estaria pronta a armar-se para defendê-las, sem que a minoria calcada na arbitrariedade e em interesses particulares se preocupasse constantemente em destruí-las. Linhas adiante, Beccaria mostra mais uma vez um pensamento muito avançado para a época quando afirma que o método mais seguro para os cidadãos deixarem de cometer crimes seria aperfeiçoar a educação. Assim, impulsionou o pensamento moderno para a mudança do tratamento dado ao delituoso, sendo objeto de inspiração a vários países que tomaram suas ideias para modificar suas legislações.
Beccaria assume que, se nem as leis naturais são exatas, sofrendo mutações no decorrer do tempo, não seriam logo as leis humanas perfeitas. No entanto, a busca pela felicidade pública também não deixa de ser natural, embora social – ao Homem como ser político de Aristóteles –, para objetivar leis perfeitas. 
Chega à conclusão, enfim, de que a prevenção dos crimes não se dá meramente com o temor – que pode ser salutar –, mas também e principalmente com a criação de leis balizadas pela moral social, conhecida pela sociedade, provocando o choque entre a religião e a ciência, da ignorância à filosofia e da escravidão à liberdade, orientando o cidadão desde a infância na arte da cidadania e que se chama educação.

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