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CURSO DE DIREITO Carlos Eduardo Roehrs A FIGURA DO AMICUS CURIAE NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Sobradinho 2013 Carlos Eduardo Roehrs A FIGURA DO AMICUS CURIAE NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso, modalidade monografia, apresentado ao Curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Prof. Ms. Rosana Helena Maas Orientadora Sobradinho 2013 TERMO DE ENCAMINHAMENTO DO TRABALHO DE CURSO PARA A BANCA Com o objetivo de atender o disposto nos Artigos 20, 21, 22 e 23 e seus incisos, do Regulamento do Trabalho de Curso do Curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC – considero o Trabalho de Curso, modalidade monografia, do acadêmico Carlos Eduardo Roehrs adequado para ser inserido na pauta semestral de apresentações de TCs do Curso de Direito. Sobradinho, novembro de 2013. Prof. Ms. Rosana Helena Maas Orientadora AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus familiares e próximos pelo incentivo, assim como aos professores e colegas do Curso de Direito pelos ensinamentos e amizade. E, em especial, à professora orientadora, Rosana Helena Maas, pelo encorajamento e sabedoria transmitida na realização deste Trabalho de Conclusão de Curso. RESUMO A figura do amicus curiae com sua atuação e grande importância no controle concentrado de constitucionalidade, apresentando-se como potencial instrumento de abertura da jurisdição constitucional, veio, como novidade, ser implementada pelo Projeto do Novo Código de Processo Civil, nas demandas subjetivas. Dessa forma, analisa-se a figura do amicus curiae no âmbito do processo constitucional, notadamente a importância de sua atuação, seus objetivos, sua função processual e sua natureza jurídica, para, então, estabelecer distinções e semelhanças com a figura que foi inserida no diploma civilista. A problemática consiste em verificar se a função terá resguardada sua importância e funções quando de sua atuação no Projeto do Novo Código de Processo Civil. A fim de dirimir tal questionamento e viabilizar uma melhor explicação acerca do tema, o presente trabalho possui como método de abordagem o dedutivo e quanto à técnica de pesquisa, emprega-se a bibliográfica, com a consulta em livros, periódicos e acervos jurisprudenciais. O amicus curiae é uma figura importantíssima ao processo, seja ele constitucional ou civil, visto que reza pela democratização, pelo aperfeiçoamento das decisões tomadas pelos juristas, ao trazer informações e explicações, porquanto de suma importância a todo ordenamento jurídico brasileiro. Palavras-chave: Amicus curiae; atuação; Novo Código de Processo Civil. ABSTRACT The figure of the amicus curiae with his proceeding and great importance in the concentrated control of constitutionality, presenting itself as a potential tool for opening the constitutional court, came as a novelty, to be implemented by the Project of the New Code of Civil Procedure, the subjective demands. Thus, analyzes the figure of the amicus curiae in the constitutional process, notably the importance of their work, their goals, their function procedural and legal nature, to then establish distinctions and similarities with the figure that was inserted in diploma civilest. The issue is whether the function has guarded its importance and functions when their action in the Project of the New Code of Civil Procedure. In order to settle this question and enable a better explanation of the topic, this work has the method and deductive approach as the research technique employed to literature, with the consultation of books, periodicals and collections jurisprudence. The amicus curiae is an important figure in the process, be it constitutional or civil seen praying for democratization, the improvement of the decisions taken by lawyers, to provide information and explanations, because of paramount importance to all Brazilian legal system. Keywords: Amicus curiae; proceeding; New Code of Civil Procedure. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 2 AMICUS CURIAE: UM DELINEAMENTO NECESSÁRIO ...................................... 3 2.1 Premissas introdutórias ao instituto do amicus curiae: conceituação e importância ............................................................................................................... 3 2.2 Objetivos e função processual.......................................................................... 7 2.3 Natureza jurídica............................................................................................... 13 3 AMICUS CURIAE SUA PREVISÃO NO CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE ...................................................................................... 18 3.1 A finalidade da intervenção do instituto ......................................................... 18 3.2 Amicus curiae e controle concentrado de constitucionalidade: formas e finalidades da intervenção ..................................................................................... 20 3.3 Requisitos e prazos viabilizadores da intervenção da figura ........................ 26 3.4 Poderes e prerrogativas do instituto ............................................................... 28 4 O AMICUS CURIAE NO PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: CONTROVÉRSIAS E CONSENSOS ........................................................................ 33 4.1 Breves apontamentos da previsão do instituto no Projeto do Novo Código de Processo Civil .................................................................................................... 33 4.2 Natureza jurídica, objetivos e funções do instituto no novel diploma ......... 39 4.3 Requisitos, poderes e particularidades da figura no Projeto do Novo Código de Processo Civil .................................................................................................... 43 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 50 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho investigará a previsão da figura do amicus curiae no processo constitucional como no processo civil, notadamente a importância de sua atuação, sua natureza jurídica, suas funções processuais, seus requisitos e outras particularidades. A figura do amicus curiae, hodiernamente, possui grande atuação e importância no processo de controle concentrado de constitucionalidade brasileiro, tem-se o mesmo como um potencial instrumento de abertura da jurisdição constitucional e, verifica-se, justamente, se essa função será resguardada quando de sua atuação no Projeto do Novo Código de Processo Civil. Assim, em primeiro plano, analisar-se-á a figura do amicus curiae, seu conceito, importância, objetivose natureza jurídica. No segundo capítulo, a sua previsão no controle concentrado de constitucionalidade será abordada, notadamente na Ação Direta de Inconstitucionalidade, como os seus requisitos, suas prerrogativas e demais particularidades. Realizar-se-á, outrossim, ao longo do terceiro capítulo, um estudo comparativo entre a intervenção do instituto no controle concentrado de constitucionalidade, especificamente tendo-se em conta a Ação Direta de Inconstitucionalidade, e a sua previsão no Projeto do Novo Código de Processo Civil, a fim de traçar as formas de intervenção e sua atuação no diploma civilista. Ademais, possui-se para esse trabalho o método de abordagem o dedutivo, partindo do estudo das premissas conceituais e históricas do instituto do amicus curiae, para chegar ao estudo de como se dará a intervenção do mesmo no âmbito do Projeto do Novo Código de Processo Civil. E, quanto à técnica de pesquisa, emprega-se a bibliográfica, com a consulta em livros, periódicos e acervos jurisprudenciais. Justifica-se o estudo em tela, pois, o instituto do amicus curiae vela pela busca de decisões judiciais que correspondam aos anseios sociais, faz com que os diversos setores participem em processos que antes eram limitados às partes. É uma figura amplamente utilizada no processo constitucional brasileiro, principalmente nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, onde se configura como potencial instrumento de abertura e democratização da jurisdição constitucional. E, assim sendo, entende-se que este trabalho possui grande relevância social e jurídica, visto que abordará o instituto que permitirá à sociedade vir a participar nas diversas ações que antes não possuía abertura, assim como analisará a forma que deverá realizar essa atuação. Nas demandas individuais, subjetivas, que tiverem relevância à sociedade e consequências aos grupos e entidades, poderá essa figura vir a intervir. Finalizando, a importância do presente estudo, ganha guarida no fato de que, hodiernamente, as questões que aportam ao Judiciário são, por vezes, caóticas e mais complexas, questão aliada ao fato de que o magistrado não conhece de todas as áreas e questões que lhe são levadas para decidir acerca, razão pela qual inevitável e imprescindível a atuação da figura para trazer ao magistrado eventuais informações e/ou explicações. Vale ressaltar que a atuação do amicus curiae no processo civil também poderá deter prerrogativa de instrumento de democratização, visto que certamente concederá abertura à jurisdição processual civil, com o ingresso de representante da sociedade no âmbito processual civilista. Em síntese, o amicus curiae é uma figura importantíssima ao processo, seja ele constitucional ou civil, visto que reza pela democratização e aperfeiçoamento das decisões tomadas pelos juristas, porquanto de suma importância a todo ordenamento jurídico brasileiro. Dito isso, sem mais questões a serem levantadas, passa-se à conclusão. 2 AMICUS CURIAE: UM DELINEAMENTO NECESSÁRIO 2.1 Premissas introdutórias ao instituto do amicus curiae: conceituação e importância Não é tarefa fácil conceituar o instituto do amicus curiae, haja vista a parca existência, ou mesmo inexistência, de normas sistemáticas sobre o assunto, cujos atributos e características ainda não estão determinados, mas sim em constante construção, conforme ensinamentos de Aguiar (2005, p. 03). Nesse sentido, salientou Pereira (2003, p. 44, grifado no original) que “o conceito do amicus curiae entre nós ainda está inseguro, o seu desenvolvimento dependerá de evolutiva construção pretoriana”. Na mesma trilha, conforme Bisch (2010, p. 155, grifado no original), “existe inegável imprecisão nas definições conceituais do amicus curiae, uma vez que o instituto, além de ter sofrido modificações desde seu surgimento, recebeu disciplina legal diversa nos países em que foi adotado”. Entretanto, há quem arrisque asseverar uma concepção sobre a figura do amicus curiae, e, dentre esses poucos, Medina (2010, p. 17), num viés constitucional, conceitua-o como: um terceiro que intervém em um processo, do qual ele não é parte, para oferecer à corte sua perspectiva acerca da questão constitucional controvertida, informações técnicas acerca de questões complexas cujo domínio ultrapasse o campo legal ou, ainda, defender os interesses dos grupos por ele representados, no caso de serem, direta ou indiretamente, afetados pela decisão a ser tomada. De maneira um pouco distinta, Aguiar (2005, p. 05) conceitua a figura em comento como uma: pessoa física ou jurídica, estranha à lide e alheia ao processo e que nele ingressa, legitimada pela função de prestar auxílio ao órgão julgador através de apresentação de informações sobre questões jurídicas, esclarecimentos fáticos ou mesmo interpretações normativas. Quanto à importância do instituto, traz-se Santos (2007?),o qual afirma que neste mundo moderno, por vezes caótico, e, certamente, mais complexo, as questões legais tornam-se incessantemente mais intrincadas, a contrario sensu da realidade das antigas, onde um estudioso conhecia desde matemática, astronomia até de política e poesia. Hodiernamente, a figura do amicus curiae revela sua maior importância no processo constitucional brasileiro, notadamente, no controle concentrado de constitucionalidade, pois, apresenta-se como potencial e notável instrumento de democratização da jurisdição constitucional, concedendo abertura à jurisdição constitucional, visto que possibilita a sociedade intervir no processo constitucional, retirando a exclusividade da interpretação da Constituição aos órgãos oficiais; mas, assevera-se que, a figura não tende a excluir esses órgãos de sua tarefa de interpretar a Constituição, vem atuar justamente como um auxílio aos mesmos (LEAL e MAAS, 2010, p. 12). Todavia, apesar de haver maior notoriedade e importância no processo constitucional, a figura do amicus curiae está ganhando, cada vez mais, espaço em outros âmbitos do ordenamento jurídico e, um exemplo disso, é a previsão explícita da figura no Projeto do Novo Código de Processo Civil, cuja matéria, mais adiante, ganhará capítulo específico no presente trabalho. Com efeito, Aguiar (2005, p. 05, grifado no original) abarca a função do amicus curiae, tratando-a como “figura ímpar no campo processual, haja vista caracterizar-se como especial elemento de colaboração ao exercício da jurisdição, através de uma singular ampliação da discussão em pauta, que resulta em verdadeiro ‘fator de aprimoramento da tutela jurisdicional’”. Continua a autora dizendo, que sua importância não se resume, tampouco se limita, ao referido alhures, veja-se: através da ampliação do debate do objeto da causa, proporciona-se ao órgão julgador uma visão mais completa da questão a ser decidida, que compreende, além de aspectos fáticos e jurídicos, a dimensão das consequências (inclusive sociais) do julgamento, enfim, o “pleno conhecimento de todas as suas implicações ou repercussões”, elementos informativos estes que poderiam passar desapercebidos à análise da Corte (AGUIAR, p. 05, grifado no original). Destarte, em que pese a figura em comento estar em destaque ultimamente no processo de controle abstrato de constitucionalidade, não o teve durante suas mais de três décadas de existência, ou seja, durante sua previsão na Lei n°6.616, de 1978. Acredita-se que houve demora em vir à tona a importância de tal instituto devido à ideia fechada e estrita dos legisladores e julgadores do século passado,que pensavam de forma privada, limitando-se ao egocentrismo, a contrario sensu do que ocorre hoje [em parte], que todo ordenamento jurídico vem criando e mantendo entendimento a favor da intervenção da sociedade; ela vem sendo convidada a participar e, frente aos últimos acontecimentos, anseia por participação. Nas palavras de Medina (2010, p. 17, grifado no original): no paradigma do Estado Democrático de Direito e na perspectiva da jurisdição constitucional, a intervenção do amicus curiae afigura-se como um tema de indiscutível relevância, especialmente em razão do seu potencial pluralizador do debate constitucional, em uma dimensão inclusivo- participativa. Outro grande fator de importância de que se reveste a figura do amicus curiae é sua originária imparcialidade ao atuar no processo, uma vez que busca sempre pela melhor opção voltada à coletividade. Diga-se, originária, pois, hodiernamente, verifica-se cada vez mais um terceiro que intervém com um fim específico, ou seja, na procedência ou não da demanda. Assim, não se pode dizer que o amicus curiae é exclusivamente e totalmente imparcial nas lides em que atua, pois, ao contrário, atua de forma parcial frente aos interesses da coletividade. Nesses rumos, abarca-se manifestação de Aguiar (2005, p. 3-4): já que foram, os Estados Unidos da América, responsáveis por seu desenvolvimento. Eis, destarte, o que se depreende do significado oferecido à expressão pelo The Lectric Law Library’sLexiconOn: termo latino que se refere à pessoa que, ainda que não seja diretamente envolvida na lide em questão, tem interesse no resultado da causa e é admitida a trazer informação (geralmente na forma de memoriais) para a Corte, que pode conferir-lhe o valor que deseje. Busca defini-la, outrossim, o Tech Law Journal, aduzindo que a manifestação do friendoftheCourt, que não é parte do litígio, mas acredita que a decisão da Corte poderá afetar seus interesses, pode trazer informações valiosas sobre os argumentos legais ou como o caso será capaz de afetar outras pessoas estranhas aos feito. Nesse mesmo sentido, é a lição de Medina (2010, p. 169), onde leciona que o caráter parcial do amicus curiae não obsta sua atuação sempre que ele possa contribuir para o aperfeiçoamento da jurisdição, sendo que a função informacional por ele exercida só contribui para o aperfeiçoamento e pluralização do processo de tomada de decisão. Ainda, quanto ao assunto, Maas expõe, em muitas páginas, vários excertos sobre o tema, esse, no que segue: pode-se conceituar o instituto como um terceiro que intervém na lide de forma interessada, com um perfil de um terceiro que, apesar não estar litigando, possui interesse na matéria sub judice e que pretende, com a sua intervenção, beneficiar os interesses de uma das partes na causa, ou uma determinada posição – visto o caráter objetivo das ações do controle concentrado de constitucionalidade –, abandonando, dessa forma, a sua pretensa neutralidade original ou conceitual (MAAS, 2011, p. 64, grifado no original). Acrescenta a mesma (2011, p. 67, grifado no original) que, dessa forma, pode-se concluir que “materialmente, o amicus curiae abandona a sua neutralidade original e toma feições de um amigo da causa, um amigo da parte, o que, apesar de ‘desvirtuar’ o instituto em face de seu nome, não diminui a sua importância”. O que não ocorre formalmente, como aduz a autora, visto que a figura é terceiro e não parte do processo. Prosseguindo, não poder-se-ia, a fim de dar continuidade ao tema, deixar de trazer em jurisprudências o que o Supremo Tribunal Federal leciona sobre o assunto. E, nesse sentido, a Ministra Relatora Rosa Weber, em despacho datado de 07/05/2013, no Recurso Especial n° 630852/RS, aduz: por amicus curiae entende-se, em geral, o sujeito que, por determinação da Corte ou por sua própria iniciativa, acolhida pela Corte, colabora com esta, aportando informações e auxiliando o Tribunal na apreciação de qualquer assunto relevante para a solução da lide (WEBER, 2013, < http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28% 28630852%2ENUME%2E+OU+630852%2EDMS%2E%29%28%28ROSA+ WEBER%29%2ENORL%2E+OU+%28ROSA+WEBER%29%2ENPRO%2E +OU+%28ROSA+WEBER%29%2EDMS%2E%29%29+NAO+S%2EPRES% 2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/lb9qxfe>). Em síntese, o amicus curiae é uma figura importantíssima ao processo, seja ele constitucional ou não, visto que reza pela democratização e aperfeiçoamento das decisões tomadas pelos juristas, porquanto de suma relevância a todo ordenamento jurídico brasileiro. Feitas essas considerações, passa-se a análise dos objetivos e da função processual do instituto do amicus curiae. 2.2 Objetivos e função processual Assevera-se que quanto aos objetivos da figura do amicus curiae, já diziam Leal e Maas (2010, p. 12), que os mesmos ultrapassam os das partes que litigam no processo, atingindo, consequentemente, toda a sociedade, sendo um “instrumento de abertura e consequente democratização da jurisdição constitucional, sendo esse o seu princípio maior, ou seja, propiciar a abertura da jurisdição constitucional”. Del Prá (2007, p. 29) ensina que um dos objetivos do amicus curiae é “alimentar a Corte com informações relevantes para a causa, possibilitando que o julgamento, cuja solução terá influência na sociedade, seja o mais próximo possível de um ideal de verdade e justiça”. Com efeito, o interesse da figura do amicus curiae é trazer a realidade da sociedade mais próxima possível dos olhos do julgador, fazendo-se com que a decisão seja mais justa e consciente, atendendo aos anseios da sociedade. Em outras palavras, tal intervenção objetiva-se a facilitar as comunicações da sociedade, de maneira individual ou coletiva, com o Poder Judiciário, a fim de que sejam ouvidas e analisadas da melhor forma possível as pretensões desta sociedade. Assim, independentemente do seu notório caráter parcial, como mencionado alhures, o instituto do amicus curiae é formalmente imparcial, e, assim, o seu maior objetivo é trazer informações ao juízo. No mesmo sentido, todavia, falando-se do instituto do amicus curiae no âmbito constitucional, Souza (2007, p. 236) traz o ensinamento de que a figura possui por objetivo um profundo interesse em uma questão jurídica levada à discussão junto ao Poder Judiciário, sendo que, originariamente, é considerado amigo da Corte e não amigo das partes, pois se insere no processo como terceiro, que não os litigantes iniciais da causa, movido por um interesse maior que o daqueles, representando a própria sociedade no debate constitucional. Binenbojm (2005, <http:www.direitodoestado.com.br/artigo/gustavo-binen- bojm/a-dimensao-do-amicus-curiae-no-processo-constitucional-brasileiro-requisitos- poderes-processuais-e-aplicabilidade-no-ambito-estadual>, grifado no original) cita a figura em tela como “partícipe ativo da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”, utilizando-se da teoria da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição, de Peter Häberle, concluindo que o amicus curiae objetiva uma ação participativa junto aos estudiosos e aplicadores da norma constitucional. Por sua vez, Maas (2011, p. 52), leciona, que: o legislador de 1999 promoveu uma abertura no procedimento da jurisdição constitucional, possibilitando a participação de outras vozes, normalmente alijadas do debate, por meio da manifestação do instituto do amicus curiae. Proporcionou, nesse sentido, um debate público em um mundo fechado e, muitas vezes, tecnicista, estreito e objetivo do processo de controle concentrado de constitucionalidade. E, continua,acentuando a sua preocupação em atribuir ao instituto à função de legitimação do ato judicial. Nesse diapasão, verifica-se o que doutrina a autora (2011, p. 53-54, grifado no original): cumpre fazer referência que o amicus curiae pode ser sim um instrumento que concede a legitimação ao ato judicial, todavia, sua função não pode se resumir a isso, ou seja, ele não pode converter-se em mero mecanismo de legitimação formal das decisões, tendo em vista que o instituto veio a ser formulado, construído, para permitir a participação social no debate constitucional e, desse modo, a sua voz tem de ser ouvida e tomada em conta na decisão. O Tribunal Constitucional não pode apenas fazer uso da figura para legitimar as suas formas de decidir, devido ao fato de que, sendo assim, a interpretação ainda será fruto exclusivo dos órgãos oficiais. Entretanto, não se quer afirmar, com isso, que os órgãos oficiais “perderam” a prerrogativa de decidir, mas que não se admite mais que eles decidam de forma “isolada”, desconectada da sociedade. Se a boa e correta aplicação da justiça no processo constitucional, e noutros processos, é o que se busca como resultado, a intervenção da figura do amicus curiae nesses procedimentos é meio pelo qual se irá objetivar tal resultado. Seguindo esses rumos, abarca-se Didier Jr. (2003, p. 33-34): é o amicus curiae verdadeiro auxiliar do juízo. Trata-se de uma intervenção provocada pelo magistrado ou requerida pelo próprio amicus curiae, cujo objetivo é o de aprimorar ainda mais as decisões proferidas pelo Poder Judiciário. A sua participação consubstancia-se em apoio técnico ao magistrado. Com outros olhos, o Ministro Relator Celso de Mello, no julgamento do AI n° 560223, em 12.04.2011, cuja decisão faz parte do Informativo n° 623 do Supremo Tribunal Federal (2011, <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/- informativo623.htm>, grifado no original), lecionou que a base normativa legitimadora da intervenção processual do amicus curiae no processo constitucional, qual seja, o artigo 7º, §2º, da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, tem por objetivo “pluralizar o debate constitucional, permitindo que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução da controvérsia”. Continua o mesmo (2011, <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo- /documento/infor-mativo623.htm>) afirmando que tal abertura procedimental visa “superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões emanadas desta Corte quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade”. Nas palavras de Medina (2010, p. 75), enquanto doutrina sobre a representação da figura pelos entes públicos, os amici buscavam “influir nas disputas privadas que teriam repercussões na fixação dos contornos do sistema federalista”. Aqui, faz-se mister ressaltar, a título de explicação, que, segundo Maas (2011), o termo “amici curiae” revela ser a forma plural do termo “amicus curiae”, que por sua vez, e, como já sabido, se trata da forma singular de referência à figura objeto do presente trabalho. Prosseguindo, ainda, de forma clara a Ministra Relatora Rosa Weber, na Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4304/PI, julgada em 06.05.2013, traz que: a intervenção dos amici curiae (sic) objetiva enriquecer o debate jurídico- constitucional, mediante o aporte de novos argumentos, pontos de vista, possibilidades interpretativas e informações fáticas e técnicas, o que acentua o respaldo social e democrático da jurisdição constitucional exercida por esta Corte (WEBER, 2013, <HTTP://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%2 8%284304%2ENUME%2E+OU+4304%2EDMS%2E%29%28%28ROSA+W EBER%29%2ENORL%2E+OU+%28ROSA+WEBER%29%2ENPRO%2E+O U+%28ROSA+WEBER%29%2EDMS%2E%29%29+NAO+S%2EPRES%2E &base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/knz85wm>). A Ministra continua dizendo que: a sua intervenção é admitida apenas para enriquecer o debate jurídico e contribuir para a Suprema Corte chegar à decisão mais justa, em consonância com as peculiaridades das múltiplas relações interpessoais que diariamente são submetidas à sua apreciação (WEBER, 2013, <HTTP://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%2 8%284304%2ENUME%2E+OU+4304%2EDMS%2E%29%28%28ROSA+W EBER%29%2ENORL%2E+OU+%28ROSA+WEBER%29%2ENPRO%2E+O U+%28ROSA+WEBER%29%2EDMS%2E%29%29+NAO+S%2EPRES%2E &base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/knz85wm>). Acerca da função processual do instituto em comento, uma conceituação francesa pode ser analisada na seguinte passagem do Dictionnaire de Droit Privé (2000?, <http://sbraudo.club.fr/dictionnaire/A.html>), veja-se: terminologia latina para designar a pessoa que a jurisdição civil pode ouvir sem formalidades com o objetivo de buscar elementos próprios para facilitar sua informação. Por exemplo, para conhecer termos de usos e costumes locais ou uma regra profissional não escrita. O amicus curiae não é uma testemunha, nem um perito, e nem se submete às regras de recusa de oitiva pelas partes. Com efeito, tem-se que a figura do amicus curiae legitima-se, conforme Aguiar (2005, p. 5), “pela função de prestar auxílio ao órgão julgador através da apresentação de informações sobre questões jurídicas, esclarecimentos fáticos ou mesmo interpretações normativas”. O Ministro Relator Celso de Mello, no julgamento do AI n° 560223, em 12.04.2011, cuja decisão faz parte do Informativo n° 623 do Supremo Tribunal Federal (2011, <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo623.- htm>, grifado no original), trouxe que: sabemos, tal como assinalei em decisões anteriores (ADI 2.130-MC/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 02/02/2001), que a intervenção do “amicus curiae”, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional Ou seja, para fazer valer sua função processual, necessita a figura, legitimar-se perante o litígio constitucional, e, para tanto, deve buscar amparo em motivações que o transformam em figura útil e desejável perante a demanda. Em síntese, a função processual da figura do amicus curiae é garantir maior efetividade e atribuir maior legitimidade às decisões do Supremo Tribunal Federal, concernentes às ações do controle concentrado de constitucionalidade, valorizando o sentido democrático dessa participação processual e enriquecendo as tomadas de decisões através das informações e dos acervos de experiências que o mesmo poderá transmitir à Corte Constitucional (MELLO, 2011, <http://www.stf.jus.br/arqui- vo/informativo/documento/informativo623.htm>). Quanto à legitimação das decisões, pondera-se que deve se ter em mente as críticas de Maas alhures referidas. Ainda mais, no processo de controle concentrado de constitucionalidade, “cujas implicações políticas, sociais, econômicas, jurídicas e culturais são de irrecusável importância, de indiscutível magnitude e de inquestionável significação para a vida do País e a de seus cidadãos”, conforme ensinamento do eminente Ministro Relator Celso de Mello, quando da relatoria do Recurso Extraordinário n° 597165/DF, julgado em 04 de abril de 2011, cuja decisão foi objeto de matéria exposta no Informativo n° 623 do Supremo Tribunal Federal (2011, www.stf.jus.br). Interessante trazer à baila, nesse momento, breves diferenciações existentes entre a intervenção de terceiros, prevista no Código de Processo Civil em vigor, assim como em leis extravagantes, e as existentesnas Ações do Controle Concentrado de Constitucionalidade. Pois bem, quanto aos institutos de intervenção de terceiros previstos no atual diploma processualista civil temos as figuras do opoente/oposto na oposição [artigos 56 e seguintes do Código de Processo Civil], as figuras do nomeante/nomeado na nomeação à autoria [artigos 62 e seguintes do Código de Processo Civil], as figuras do denunciante/denunciado na denunciação da lide [artigos 70 e seguintes do Código de Processo Civil] e as figuras do chamante/chamado no chamamento ao processo [artigos 77 e seguintes do Código de Processo Civil]. A fim de evitar desnecessário alongamento, deixa-se de explanar acerca destes institutos, pois fogem do objeto de análise do presente trabalho. Pelo que se percebe, e como já referido, o vigente Código de Processo Civil não previa a figura do amicus curiae como terceiro interveniente, e mais, sequer lhe permitia previsão no diploma. Pelo qual se refere que o Novo diploma processual civilista inovou nesse aspecto. Por outro lado, tem-se a intervenção de terceiros em leis extravagantes do ordenamento jurídico brasileiro, quais cita-se como exemplo: Lei n° 6.385/76, que disciplina o Mercado de Valores Imobiliários; Lei n° 8.884/94, que dispõe sobre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE; assim como a Lei n° 9.279/96, a qual dispõe sobre o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI. A importância do estudo sobre as leis acima referidas encontra guarida no fato de que a Comissão de Valores Mobiliários – CVM [Lei n° 6.385/76, artigo 31], o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE [Lei n° 8.884/94, artigo 89] e o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI [Lei n° 9.279/96], na grande maioria das vezes, atuaram, no âmbito de suas competências, como terceiro interveniente especial, como amicus curiae. No mesmo sentido, Del Prá (2007, p. 70, grifado no original) conclui seu pensamento dizendo que: a atuação desses terceiros, nessas hipóteses, dá-se de forma descomprometida em relação às partes, mas comprometida com sua função institucional de polícia (no mercado de capitais, da defesa da concorrência ou na execução das normas atinentes à propriedade industrial). Assim, seu interesse em participar naquelas demandas, na verdade, é o interesse que a própria lei cometeu à instituição. Não agem a CVM, o CADE e o INPI em defesa de interesses somente a eles referidos, mas de determinados interesses, cuja defesa lhes foi outorgada pela lei. Continua o mesmo (2007, p. 71, grifado no original) lecionando que: a figura do amicus curiae no direito positivo brasileiro, até esse momento histórico, representava vantagem para a atividade jurisdicional apenas no sentido técnico-processual. Ou seja, o auxilio das informações trazidas pela CVM, pelo CADE e pelo INPI possibilita ao juiz obter melhor desempenho na construção da decisão, e a essa função restringia-se a atividade do amicus curiae até então. Por sua vez, afirma-se que, por sua informalidade e peculiaridade, o amicus curiae não guarda nenhuma verossimilhança com a intervenção de terceiros, formada por diversos institutos processuais previstos pelos artigos 56 a 80 do Código de Processo Civil, como já mencionado acima. Isso ocorre, visto que na intervenção de terceiros, tem-se como alterada subjetivamente a relação processual que existe originariamente entre juiz, autor e réu, ora para substituí-los, ora para acrescentar-lhes outros sujeitos que passarão a integrar a relação já existente ou formarão, in simultaneus processus, uma nova relação jurídica processual com uma das partes, sendo que, desse modo, a intervenção transforma o terceiro em parte do processo, o que, de fato, não ocorre quando há a intervenção do amicus curiae, pois uma vez admitido que esta figura se manifeste, ela não se agrega à relação processual, porque seu interesse, no litígio, é decorrente do direito à participação no processo. O que reforça o fato de que processualmente o amicus curiae é neutro, em virtude de que, não adere à relação processual. Outra diferença que se pode apontar, diz respeito ao interesse com o qual os institutos intervêm no processo, o interveniente típico deve demonstrar interesse jurídico na demanda, sendo que esta, dependendo do deslinde da questão, poderá influenciar em uma relação jurídica deste interveniente, interesse jurídico que não é preciso o amicus curiae provar, devido à sua atuação decorrer da compreensão do relevante interesse público na jurisdição e da busca de se permitir a participação política por meio do processo, uma vez que a importância de sua intervenção seria política e seu interesse ideológico, de exercer parcela de participação manifestando- se nos autos. Feitas essas considerações, passar-se-à análise da natureza jurídica do instituto do amicus curiae. 2.3 Natureza jurídica A natureza jurídica do instituto do amicus curiae traz uma eminente discussão, haja vista a inexistência de consenso entre os doutrinadores da área, apesar de se já visualizar uma doutrina majoritária (MAAS, 2011, p. 70-71). Nesse rumo, há quem assevere que a natureza jurídica do amicus curiae seja uma modalidade de intervenção de terceiros, qual seja, a assistência qualificada; por outro lado, há quem afirme que seria uma intervenção “atípica” de terceiros, sendo esta corrente a majoritária; e, ainda, quem considera o amicus curiae como mero auxiliar do juízo (MAAS, 2011, p. 70-71). Nesse sentido, traz-se-á alguns comentários sobre o tema. Assim, conforme ensinamento de Bueno (2010, grifado no original), o instituto do amicus curiae: é um terceiro interveniente. Assim, para esta figura também se aplica a clássica distinção entre “partes” e “terceiros” de inspiração Chiovendiana: parte é quem pede e em face de quem se pede; terceiros, por exclusão, todos os outros, variando sua qualidade de atuação no plano do processo consoante seja mais ou menos intenso o seu interesse jurídico na intervenção. Continua o mesmo autor (2010, grifado no original): o que enseja a intervenção deste “terceiro” no processo é a circunstância de ser ele, desde o plano material, legítimo portador de um “interesse institucional”, assim entendido aquele interesse que ultrapassa a esfera jurídica de um individuo e que, por isso mesmo, é um interesse meta- individual (sic), típico de uma sociedade pluralista e democrática, que é titularizado por grupos ou por segmentos sociais mais ou menos bem definidos. O amicus curiae (sic) não atua, assim, em prol de um indivíduo ou uma pessoa, como faz o assistente, em prol de um direito de alguém. Ele atua em prol de um interesse, que pode, até mesmo, não ser titularizado por ninguém, embora seja compartilhado difusa ou coletivamente por um grupo de pessoas e que tende a ser afetado pelo que vier a ser decidido no processo. Ou seja, a figura do amicus curiae não pode ser confundida como parte no processo em que atua, uma vez que, como já referido anteriormente, não possui interesse direto e imediato na causa, a contrario sensu do ocorre com a parte, seja ela demandante ou demandada. Há na figura um interesse institucional, conceituado sucintamente por Bueno (2010) como um “interesse que ultrapassa a esfera jurídica de um individuo”. E, mais, ainda segundo Bueno (2006, p. 204), o instituto do amicus curiae possui natureza jurídica de “terceiro interveniente em processo alheio”, como já referido, aliás, leciona que não só pode, como deve, ser entendido como tal. Todavia, o mesmo (2006, p. 204) aduz ainda que, sendo ele terceiro interveniente em processo alheio, não se quer dizer, tampouco,autoriza-se dizer, que ele atua como assistente na lide. Um relevante exemplo acerca do tema vem explicitado no julgamento da Arguição de Impedimento de n° 8/SP (2011, <www.stf.jus.br>), cuja relatoria ficou a cargo do Ministro Cezar Peluso, Presidente do Supremo Tribunal Federal à época do julgamento, que se deu em 10 de agosto de 2011. Na ocasião, discutia-se exceção de impedimento arguida pelo Sindicato dos Policiais Federais do Estado de Santa Catarina – SINPOFESC, em face da participação do Ministro Dias Toffoli, no julgamento do Recurso Especial n° 565.089. O excipiente alegava o impedimento do excepto, haja vista o Ministro Dias Toffoli ter atuado como advogado da União em centenas de processos de análoga natureza. Todavia, fora admitido como mero terceiro interveniente, sendo impossível alegar, “por meio de exceção, a incompetência (art. 112), o impedimento (art. 134) ou a suspeição (art. 135)” [CPC. Art. 303], uma vez que tais prerrogativas são apenas das partes, como se verá no próximo capítulo que abarcar-se-á os poderes e prerrogativas do instituto no processo constitucional. Em síntese, pelo que se percebe da análise do julgado retro é que o Sindicato, após requisição, foi admitido a ingressar no processo como terceiro interveniente, investido como amicus curiae. Cumpre ressaltar ainda, que o principal foco do julgado se deu acerca da possibilidade ou não de o terceiro interveniente apresentar exceção de incompetência, matéria esta já sepultada, pois, requer simplesmente leitura de dispositivo legal, artigo 303 do Código de Processo Civil. Todavia, o objetivo de trazer à baila este exemplo, diz respeito ao fato de que o Sindicato [amicus curiae] foi admitido como terceiro interveniente, sujeitando- se às regras da intervenção de terceiros e, assim, fica impossibilitado de arguir exceções, conforme o já referido artigo 303 do Código de Processo Civil. Corrobora ao exposto, a ideia de que há quem pregue, ainda que de forma minoritária, que a natureza jurídica do amicus curiae seja a assistência qualificada, isto é, uma modalidade de intervenção de terceiros, como já referido. Data vênia ao entendimento de Bueno Filho, mas equivocado, pois, conforme Aguiar (2005, p. 44), a finalidade do assistente vai de encontro às finalidades da figura ora em comento, veja-se: a finalidade do assistente, portanto, é coadjuvar uma das partes a fim de que ela obtenha vitória no processo, possuindo, para tanto, poderes limitados que lhe permitem produzir provas e praticar atos processuais que sejam benéficos ao assistido, não formulando pedido algum em prol de direito seu nem podendo praticar atos contrários à vontade daquele. Prosseguindo, a figura, majoritariamente, é vista “como forma de intervenção ‘atípica’ de terceiros”, conforme posicionamento de Cabral (2004, p. 17, grifado no original). O mesmo autor (2004, p. 17, grifado do original) leciona ainda, que “o amigo da Corte é um terceiro sui generis (ou terceiro especial, de natureza excepcional) e sua intervenção pode ser classificada como atípica”. Acrescenta ainda Cabral (2004, p. 17, grifado no orignal) que: intervir tem raiz latina (intervenire) e significa ‘entrar no meio’. Assim, toda vez que alguém ingressar em processo pendente, tal conduta reputar-se-á interventiva. Entendemos que, diante do conceito de terceiro e da etimologia da palavra intervenção, deve ser considerada a manifestação do amicus curiae como intervenção de terceiros. Mas as semelhanças terminam por aí. Esta modalidade de intervenção guarda características próprias que a diferencia das formas clássicas de ingresso de sujeitos estranhos ao processo previstas no Código de Processo Civil e que ganham similares em inúmeros ordenamentos estrangeiros. Nesse mesmo sentido, tem-se as palavras do Ministro Ricardo Lewandowski, quando da relatoria no julgamento, cujo se deu em 27 de junho de 2008, da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental de n° 134/CE, onde citou Cléver Vasconcelos, dizendo: o amicus curiae (sic) (...), conquanto considerado fenômeno de uma intervenção atípica, porque o 'amigo da corte' não pretende que a ação seja julgada a favor de ou contra uma das partes, mas sim colabora para uma decisão justa do Poder Judiciário, por meio de uma participação meramente informativa (LEWANDOWSKI, 2008, <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub- /paginador.jsp?docTP=AC&docID=599158>). Ademais, Cunha Junior (2007?, grifado no original) acrescenta quanto ao tema em tela que a figura do amicus curiae baseia-se em “um terceiro especial que pode intervir no feito para auxiliar a Corte, desde que demonstre um interesse objetivo relativamente à questão jurídico-constitucional em discussão”. Outrossim, Maas (2011, p. 72) cita Binenbojm (2007?) quando leciona que a mesma corrobora à ideia de que o amicus curiae é uma forma “atípica” de intervenção de terceiros, como vinha se explanando. A título de ilustração, e nesse sentido, Binenbojm (2007?) assevera que a figura em comento teve tratamento de terceiro especial pela redação do artigo 7°, §2°, da Lei n° 9.868/99, ao proporcionar- lhe o direito de ingressar de forma intensa na relação processual, podendo praticar determinadas prerrogativas processuais inerentes à sua condição, matéria esta que será objeto de análise no presente trabalho mais adiante. Não bastasse, Pereira (2002, p. 10) também conclui ser o amicus curiae um terceiro especial “ou de natureza excepcional”, conforme Maas (2011, p. 72). Por fim, cumpre ressaltar, de forma breve e sucinta, que há quem entende que a figura do amicus curiae possui a natureza jurídica de um mero auxiliar do juízo, dentre esses estão Didier Jr. (2003) e Aguiar (2005, p. 58). Assim, Aguiar (2005, p. 58, grifado no original) preleciona que “afigura-se claramente absurda a atribuição de outra natureza jurídica ao instituto que não a de auxiliar do juízo”, acrescendo que: o principal fito da admissão de uma pessoa ou entidade, completamente estranha à causa, é justamente a contribuição que poderá prestar à Corte, das mais diversas formas, ampliando o contraditório e trazendo a lume questões que poderiam escapar ao órgão julgador, municiando-o com o máximo de informações possíveis acerca do themadecidendum, da hermenêutica normativa, de suas implicações e repercussões, de forma a brindar suas decisões com maior qualidade e legitimidade. No mesmo sentido, é o ensinamento de Didier Jr. (2003), o qual traz que a própria expressão: amigo da cúria, já indica sua natureza jurídica, como sendo verdadeiro auxiliar do juízo. Assim seja, ficou claro que majoritariamente a intervenção do instituto do amicus curiae possui natureza de uma intervenção “atípica” de terceiros, ou seja, que nada tem em comum com a intervenção típica prevista do Código de Processo Civil, como verificado alhures. Ainda, para a continuação da segunda parte do presente trabalho, a motivação e os fins da intervenção do instituto é matéria a ser perquerida. 3 AMICUS CURIAE SUA PREVISÃO NO CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE 3.1 A finalidade da intervenção do instituto Adentrando pouco a pouco no mérito da proposta, Bueno (2006, p. 204) leciona que esse terceiro pode “desempenhar todo e qualquer ato processual que seja correlato ao atingimento daquela finalidade”, ou seja, age de forma livre, dentro de suas particularidades, para atingir a finalidade que pleiteia. Por outro lado, conforme Leal e Maas (2009. p. 28), a figura do amicus curiae, no processoconstitucional, age como uma ponte, um verdadeiro instrumento democrático, entre a sociedade e o debate constitucional, objetivando e propiciando assim, a abertura e, consequente, democratização da jurisdição constitucional. De forma clara e objetiva, pode-se dizer que o objetivo principal da intervenção da figura em comento no processo é trazer informações à Corte, sejam elas técnicas ou jurídicas, auxiliando no esclarecimento e na interpretação da causa (MAAS, 2011, p. 63). Aguiar (2005), enquanto lecionava sobre a natureza jurídica do amicus curiae como auxiliar do juízo, teceu o seguinte comentário acerca da motivação da figura: podendo-se definir como seu principal - talvez não único - escopo a colaboração à administração da justiça, propiciando aperfeiçoamento da tutela jurisdicional. Sua atuação pode ser proveitosa a alguma das partes, como também, pode não sê-Ia, prestando-se apenas a veicular esclarecimentos de fato ou direito; visando à sua correta apreciação pelo juízo e melhor aplicação da lei ao caso concreto, o que, em tese, seria de interesse comum aos litigantes Com efeito, Maas (2011, p. 108, grifado no original) traz consideração acerca da distinção existente entre a intervenção voluntária e por requisição do relator e da audiência pública, dizendo que se tem um amicus curiae gênero, que por sua vez se subdivide em duas espécies: amicus curiae em sentido estrito e amicus curiae em sentido lato, todavia, haja vista que tal matéria será abordada mais adiante nesse trabalho, por ora se colaciona apenas os ensinamentos acerca dos objetivos de cada uma das “espécies” da figura tutelada, veja-se: amicus curiae gênero, que possibilita a abertura da jurisdição constitucional, [...] amicus curiae em sentido estrito, [...] tendo como objetivo pluralizar o debate constitucional; e amicus curiae em sentido lato, [...] que trazem elementos técnicos, informativos ao processo, como as informações adicionais apresentadas por requisição do relator e a [...] oitiva de pessoas com experiência e autoridade na matéria, isto é, são intercessões que permitem trazer informações de forma ampla ao juízo. Sobre a finalidade da intervenção da figura em comento tem-se uma informação com viés mais histórico, que revela, segundo Del Prá (2007, p. 25, grifado no original), que a figura do amicus curiae “já se encontrava nos chamados Year Books, nos séculos XIV a XVI”, o que significa que o instituto em comento ascendeu nos Estados Unidos, sendo que, naquele período, o instituto do amicus curiae “cumpria um papel meramente informativo e supletivo, mas de clara importância para a corte”, enquanto participava do processo apontando precedentes jurisprudenciais não mencionados pelas partes ou ignorados pelo julgador, atuando em benefício de menores, chamando a atenção do juízo para certos fatos, como o erro manifesto, a morte de uma das partes, o descumprimento do procedimento correto ou a existência de norma específica regulando a matéria. Ainda, conforme Medina (2010, p. 17), este terceiro intervém, em processo alheio, do qual não é parte, primeiro a fim de oferecer ao juízo sua perspectiva sobre o objeto sub judice, segundo para levar informações a este sobre questões que fogem da alçada jurídica. Com as palavras de Del Prá (2007, p. 35-36, grifado no original), faz-se uma cessão de direito comparado, apenas a título de ilustração, acerca do tema em comento, veja-se: na Itália, como também na França, a figura desse terceiro, que cumpriria a função de amicus curiae, representa instrumento à disposição do julgador, para aperfeiçoamento da decisão, colocando-a dentro de seus poderes outorgados pela lei para o descobrimento da verdade. A princípio, poderia ou não assumir ele (amicus curiae) uma função ativa, mas agindo sempre em benefício da própria corte. Assim, sua pretensão de participar do processo somente se justifica em benefício da Justiça, e não em benefício próprio ou de outras pessoas por ele representadas. Assim seja, as doutrinas Italiana e Francesa têm a figura do amicus curiae como um verdadeiro terceiro interveniente que não possui nenhum interesse em portar-se parcialmente a favor de uma ou outra parte daquele processo em que intervém, assim, sua finalidade única e exclusiva é trazer a juízo informações em benefício da verdadeira justiça. Trazidas tais premissas sobre a finalidade da intervenção do instituto do amicus curiae, abarca-se a sua previsão no controle concentrado de constitucionalidade brasileiro, assim como as formas de sua intervenção. 3.2 Amicus curiae e controle concentrado de constitucionalidade: formas e finalidades da intervenção Tem-se a previsão da intervenção do instituto do amicus curiae em todas as ações do controle concentrado de constitucionalidade, ou seja, na Ação Direta de Inconstitucionalidade, na Ação Declaratória de Constitucionalidade e na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (LEAL e MAAS, 2010, p. 15). A título de ilustração, a Ação Direta de Inconstitucionalidade e a Ação Declaratória de Constitucionalidade estão previstas na Lei 9.868/99 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental na Lei 9.882/99. As Leis 9.868/99 e 9.882/99 introduziram uma figura institucional que prima pelo auxílio aos julgadores na busca de soluções a problemas da forma mais rente à realidade da sociedade, cuja figura ganhou espaço e fora identificada como o amicus curiae. Neste sentido, Leal e Maas (2010, p. 16, grifado no original) já afirmaram que: a Lei 9.868/99 atenta ou não à norma regimental, introduziu no processo do controle abstrato de constitucionalidade uma novidade de grande importância ao permitir, conforme o § 2° do artigo 7°, a manifestação de órgãos e de entidades na Ação Direta de Inconstitucionalidade, prevendo, assim, conforme Bueno, ‘expressamente, a admissão daquilo que, pouco a pouco, nossa doutrina e nossa jurisprudência, inclusive a do Supremo Tribunal Federal, têm identificado como a figura do amicus curiae, no procedimento da ação direta de inconstitucionalidade’. Leal e Maas (2010, p. 12) lecionam que na Ação Direta de Inconstitucionalidade, na Ação Declaratória de Constitucionalidade e na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ou seja, nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, não existem partes nos polos das demandas, por tal razão é que tal processo se reveste de caráter objetivo. Conforme Bueno (2006, p. 135-136), a expressão “processo objetivo”, utilizada para qualificar o processo de controle concentrado de constitucionalidade está relacionada à ideia de que o Supremo Tribunal Federal não conhece de nenhum interesse ou direito subjetivo, não há partes em lados opostos esperando a procedência da ação, há a defesa da Constituição - por isso a importância do estudo da intervenção do instituto prevista no Projeto do Novo Código de Processo Civil. Assim, cumpre trazer à baila ensinamento sobre a importância da figura do amicus curiae perante o controle de constitucionalidade, e, na dicção de Maas (2011, p. 12) este instituto “potencializa-se como um instrumento de pluralização do debate constitucional e como uma forma de abertura e, consequente, de democratização da jurisdição constitucional”. Explica-se, a figura do amicus curiae insere-se no interior do processo constitucional a fim de servir como ferramenta para alargar o debate acerca de questões de relevante valor social, político e institucional que lhes são confiadas, permitindo-se, assim, com que a população tenha oportunidade de colocar suas opiniões e anseios, contribuindo, consequentemente, para um entendimentodemocrático, que, por sua vez, formará a jurisdição constitucional aberta. Por sinal, esta é a justificativa pela qual o artigo 7°, caput, da Lei n° 9.868/99, que regula a Ação Direta de Inconstitucionalidade, veda a intervenção de terceiros prevista no Código de Processo Civil, uma vez que “torna-se impossível ampliar o debate instaurado no controle concentrado da constitucionalidade para abarcar interesses individuais e concretos dos eventuais interessados” (DEL PRÁ, 2007, p. 79). Como forma de reforçar a ideia da existência de diferenças entre as intervenções de terceiros, prevista tanto no novo ordenamento processual civilista, quanto nas ações do controle concentrado de constitucionalidade, tem-se que nestas é permitida apenas a intervenção da figura do amicus curiae, a fim de trazer aos olhos do julgador do processo constitucional os anseios e as mazelas da população, buscando-se um julgamento cada vez mais voltado à verdade real, isto é, numa visão flagrantemente coletiva e democrática. Com efeito, como o próprio §2° do artigo 7° da Lei 9.868/99 admite a intervenção do amicus curiae no controle de constitucionalidade, levando-se em consideração, pelo relator, a relevância da matéria e representatividade dos postulantes, e, por outro lado, o caput do mesmo dispositivo veda expressamente a intervenção de terceiros, depreende-se claramente que a figura em comento “não se confunde com a intervenção de terceiros, propriamente dita”, ou seja, as trazidas pelo atual diploma civilista (LEAL e MAAS, 2010, p. 16). Bueno Filho (2002, http://www.direitopublico.com.br/pdf_14/DIALOGO-JURI- DICO-14-JUNHO-AGOSTO-2002-EDGARD-SILVEIRA-BUENO-FILHO.pdf, grifado no original) leciona sobre o tema, todavia em outra perspectiva, pois, dita que: apesar de o caput não admitir a intervenção de terceiros, o referido parágrafo 2° criou uma exceção à regra, de modo a permitir a manifestação de órgãos ou entidades, desde que os postulantes demonstrem a sua representatividade e relevância da matéria. No entanto, de acordo com o entendimento de Leal e Maas (2010, p. 17) não se criou exceção à regra, mas sim, se trouxe para o interior das questões de controle de constitucionalidade a figura do amicus curiae, que, aliás, como já dito, não se confunde com a intervenção de terceiros, prevista no atual Código de Processo Civil. Continuando, a intervenção do amicus curiae pode se dar através de duas formas no controle concentrado de constitucionalidade: voluntariamente e por requisição do relator; sendo que na primeira forma o instituto requer a sua manifestação e, na segunda, ele é requerido pelo Ministro Relator (LEAL e MAAS, 2010, p. 12). Cumpre se ter em apreço o ensinamento da Ministra Relatora Rosa Weber, quando do julgamento do Recurso Extraordinário n° 590880/CE, em 12 de dezembro de 2012, veja-se: como filtro à proliferação indevida de requerimentos de ingresso como amici curiae, impõe-se o requisito da representatividade adequada, conjugado com os requisitos concernentes à utilidade e à conveniência da intervenção (WEBER, 2012, <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurispru- denciaasp?s1=%28%28590880%2ENUME%2E+OU+590880%2EDMS%2E %29%28%28ROSA+WEBER%29%2ENORL%2E+OU+%28ROSA+WEBER %29%2ENPRO%2E+OU+%28ROSA+WEBER%29%2EDMS%2E%29%29+ NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/n7a 8qly>). Ou seja, a regra prevista no §2° do artigo 7° da Lei 9.868/99, tem por objetivo servir-se de filtro aos vários requerimentos vazios de intervenção como amicus curiae no processo do controle concentrado de constitucionalidade. Antes de tudo, quanto à segunda matéria a ser analisada, cumpre trazer à baila a diferenciação e classificação acerca dos critérios de finalidade, trazida por Maas em uma tabela, verifica-se: Amicus curiae (gênero) Abertura processual Amicus curiae em sentido estrito Artigo 7°, §2°, da Lei 9.868/99 Pluralização do debate Amicus curiae em sentido lato Artigos 9°, §1°, e 20, §1°, da Lei 9.868/99 e o artigo 6°, §§1° e 2°, da Lei 9.882/99 Informação ampla ao juízo Fonte: tabela elaborada por Maas (2011, p. 136, grifado no original). Em palavras, Maas (2011) subdivide, a um, em sentido estrito, ou strito sensu, a qual é ditada pelo artigo 7°, §2°, da Lei n° 9.868/99, sendo objetivada pela pluralização do debate constitucional; e, a dois, em sentido lato, ou latu sensu, que vem expressa nos artigos 9°, §1° e 20, §1°, ambos da Lei n° 9.868/99, onde traz informações adicionais requisitadas pelo relator, assim como no âmbito da audiência pública, com a oitiva de indivíduos conhecidos da matéria, na forma de elementos técnicos e informativos. Dito isso, cumpre analisar as formas com que a figura em comento irá intervir no processo alheio, ou seja, de forma voluntária e por requisição do relator. Antes de trazer o estudo acerca das formas de intervenção do instituto na Ação Direta de Inconstitucionalidade e na Ação Declaratória de Constitucionalidade, traz-se o dispositivo autorizador daquela, iniciando-se pela forma voluntária na Ação Direta de Inconstitucionalidade, a qual está prevista no artigo 7°, §2°, da Lei n° 9.868/99, que assim dispõe: Artigo 7°. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade. [...] §2°. O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades. Dito isso, passa-se ao dispositivo que vedou expressamente a autorização da intervenção da figura em comento, pela forma voluntária, na Ação Declaratória de Constitucionalidade, qual seja, artigo 18 da Lei n° 9.868/99 (grifado no original), veja- se: Artigo 18. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação declaratória de constitucionalidade. [...] §2°. (Vetado.) Por sua vez, passa-se a demonstração da forma espontânea, voluntária, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, que vem disposta no artigo 6°, §2°, da Lei n° 9.882/99, observa-se: Artigo 6°. Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as informações às autoridades responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de dez dias. [...] §2°. Poderão ser autorizadas, a critério do relator, sustentação oral e juntada de memoriais, por requerimento dos interessados no processo. Outra forma de intervenção da figura em comento a por requisição do relator, que vem insculpida, com relação à Ação Direta de Inconstitucionalidade, no artigo 9°, §1°, e, quanto à Ação Declaratória de Constitucionalidade, no artigo 20, §1°, ambos dispositivos legais da Lei n° 9.868/99 e de mesmo teor, observa-se: Artigo 9°. Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento. §1°. Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria. [...] Artigo 20. Vencido o prazo do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento. §1°. Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais,designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria. Nesse sentido, aborda-se, por fim, a intervenção por requisição do relator na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental presente no artigo 6°, §1°, da Lei n° 9.882/99: Artigo 6°. Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as informações às autoridades responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de dez dias. §1°. Se entender necessário, poderá o relator ouvir as partes nos processos que ensejaram a arguição (sic), requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria. Conclui-se, portanto, que, num viés estritamente positivista, apenas na Ação Declaratória de Constitucionalidade não existe a forma voluntária de atuação interveniente da figura, por força da vedação trazida pelo artigo 18 da Lei n° 9.868/99. Sendo que tanto na Ação Direta de Inconstitucionalidade quanto na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é aceita tal forma de intervenção, com base no artigo 7°, §2°, da Lei n° 9.868/99 e no artigo 6°, §2°, da Lei n° 9.882/99, respectivamente. Entretanto, há entendimentos jurisprudenciais que entendem que, apesar da existência de vedação de intervenção na forma voluntária na Ação Declaratória de Constitucionalidade, deve-se utilizar a previsão do instituto constante na Ação Direta de Inconstitucionalidade para permitir a intervenção. Neste sentido, colaciona-se o seguinte julgado do Pretório Excelso (AURÉLIO, 2008, <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.a- sp?numero=19&classe=ADC&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgam ento=M>), o qual deixa clara a utilização da norma prevista na legislação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Lei n° 9.868/99) pela Ação Declaratória de Constitucionalidade, a despeito da vedação prevista na Lei que regulamenta esta referida ação: AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. PROCESSO OBJETIVO. ADMISSÃO DE TERCEIRO. [...] 2. A regra é não se admitir intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade, iniludivelmente objetivo. A exceção corre à conta de parâmetros reveladores da relevância da matéria e da representatividade do terceiro, quando, então, por decisão irrecorrível, é possível a manifestação de órgãos ou entidades ' artigo 7º da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999. [...] 3. Admito-os como terceiros. [...] (Supremo Tribunal Federal, ADC 19/DF, Petição n° 166.238/2008, Min. Rel. Marco Aurélio, Data de julgamento: 13.12.08). No mesmo sentido, ainda tem-se o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal, cuja relatoria também é de responsabilidade de Marco Aurélio (2008, <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=19&clas se=ADC&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>): AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE ' INTERVENÇÃO DE TERCEIRO ' CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL ' ADMISSIBILIDADE. [...] 2. Embora o artigo 7º da Lei nº 9.868/99 refira-se à ação direta de inconstitucionalidade, entendo-o aplicável à declaratória de constitucionalidade prevista na mesma lei. É que ambas são de mão dupla, podendo-se chegar quer à conclusão sobre a harmonia do ato normativo com a Carta Federal, quer a resultado diverso, assentando-se a pecha. No mais, reconheço ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil papel em defesa da própria sociedade. Então, em jogo a denominada Lei Maria da Penha' Lei nº 11.340/2006 ', tenho como acolhível o pleito formalizado. [...] (Supremo Tribunal Federal, ADC 19/DF, Petição n° 127.567/2008, Min. Rel. Marco Aurélio, Data de julgamento: 06.10.08). Conclui-se, também que, em todas as ações do controle concentrado de constitucionalidade, é aceita a forma de requisição pelo relator, conforme artigo 9°, §1°, da Lei n° 9.868/99, quanto à Ação Direta de Inconstitucionalidade, no artigo 20, §1°, da Lei n° 9.868/99, em relação à Ação Direta de Constitucionalidade e no artigo 6°, §1°, da Lei n° 9.882/99, quanto à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Trazidas essas premissas, analisam-se os requisitos e os prazos para a figura intervir na Ação Direta de Inconstitucionalidade, por se a ação que mais ocorre a sua intervenção. 3.3 Requisitos e prazos viabilizadores da intervenção da figura Quanto aos requisitos viabilizadores da intervenção da figura tem-se que, com muita propriedade, Medina (2010, p. 85, grifado no original) traz que “ao disciplinar o ingresso do amicus curiae na ADI, o legislador submeteu o requerimento à presença dos requisitos da relevância da matéria, bem como da representatividade do postulante”, que são os requisitos que constam na Lei 9.868/99. Destaca-se que o primeiro deles gira em torno da vontade e da livre discricionariedade do julgador constitucional, ou seja, antes de tudo, cabe, mais precisamente, ao relator do processo, admitir ou não a intervenção da figura do amicus curiae no processo constitucional. Neste sentido é o ensinamento de Medina (2010, p. 76): pode-se dizer, sim, pluralização do debate, na medida em que outras luzes poderão iluminar o processo de tomada de decisão judicial. Contudo, essas luzes apenas poderão ser lançadas a partir do crivo discricionário do relator do processo. Indiretamente, outros requisitos viabilizadores da intervenção do amicus curiae podem ser percebidos, como: o necessário cumprimento da função informacional que lhe é intrínseca; além da indicação de complexidade técnica da matéria objeto de análise. Grande exemplo disso vê-se no ensinamento explicativo de Medina (2010, p. 79-80), observa-se: na ADI 3.510, a questão constitucional controvertida (pesquisas com células-tronco embrionárias) reunia vários aspectos que favoreciam a participação de terceiros interessados. O ingresso desses atores sociais, por sua vez, cumpriu a função de informar à corte acerca das escolhas em orientações políticas de vários setores da sociedade, além de indicar a grande complexidade técnica da matéria, uma vez que as pesquisas com as células-tronco estão na vanguarda do conhecimento técnico-científico. Outro requisito é, num viés mais voltado ao controle concentrado de constitucionalidade, o especial interesse na validação ou invalidação da norma sub judice. Conforme ensinamento de Bisch (2010, p. 158, grifado no original) a jurisprudência brasileira tem manifestado diferentes posicionamentos [...], ora proibindo as intervenções nitidamente parciais, ora exigindo, como requisito para participação de interessados, especial interesse na validação ou na invalidação da norma sob julgamento. Continuando, Medina (2010, p. 85) traz os principais motivos para o indeferimento do pedido de ingresso pela figura observada, o que revela, de certa forma, serem requisitos a ser respeitados quando do pleito de ingresso, veja-se: ausência de informação relevante ou simples reiteração de razões da petição inicial; ausência de representatividade; superposição (no caso de mais de uma pessoa jurídica, de um ente público ou categoria requererem o ingresso no mesmo processo); pedido após o término da fase de instrução da ação (fora do prazo das informações; às vésperas ou após iniciado o julgamento). Ainda quanto aos requisitos, Medina (2010, p. 87) inova ao asseverar que: o oferecimento de informações relevantes [...]é, sem dúvida, um importante papel a ser desempenhado pelo amigo da corte. Esse requisito dialoga com duas das mais recorrentes causas de indeferimento do pedido de ingresso: a simples reiteração dos argumentos da parte e a ausência de representatividade (ou superposição). Prosseguindo, quanto ao prazo, cabe dizer que apesar de o §1º do artigo 7º da Lei 9.868/99 ter sido vetado, necessita-se realizar uma interpretação sistemática para suprir-se tal lacuna; fazendo-a através da combinação dos artigos 7º, §2º, e 6º, parágrafo único, assim, tem-se que o prazo para o amicus curiae manifestar-se é 30 dias, no entanto, contados da data da publicação da decisão que admitiu a sua intervenção e não contados do recebimento do pedido, como assim o dispositivo reza. Observado o prazo para que o amicus curiae possa realizar a sua manifestação quando intervém na Ação Direta de Inconstitucionalidade, cumpre analisar, também, o instante procedimental da sua intervenção para os fins do artigo 7º, §2º, da Lei 9.868/99. Havia o entendimento de que esse instante seria a qualquer tempo, desde que antes de iniciado o julgamento final da ação. Entretanto, em 2009, mais precisamente no julgamento do dia 22 de abril, no Agravo Regimental interposto contra decisão que negara seguimento à Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4701/DF, o Tribunal decidiu que a possibilidade de intervenção do amicus curiae está limitada à data da remessa dos autos à mesa para julgamento, sendo que, ao intervir no feito, receberá o processo no estado em que se encontra. Trazidas tais considerações, passa-se a análise dos poderes e prerrogativas do instituto do amicus curiae. 3.4 Poderes e prerrogativas do instituto Os poderes e/ou prerrogativas do instituto em comento, são, hodiernamente: a apresentação de memoriais, a possibilidade de realizar sustentação oral e a prerrogativa recursal. Numa visão ainda geral acerca do tema em comento, o Ministro Relator Celso de Mello, quando da relatoria do Recurso Extraordinário n° 597165/DF, julgado em 04 de abril de 2011, cuja decisão foi objeto de matéria exposta no Informativo n° 623 do STF, prega pela: necessidade de assegurar, ao “amicus curiae”, mais do que o simples ingresso formal no processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, a possibilidade de exercer a prerrogativa da sustentação oral perante esta Suprema Corte (MELLO, 2011, <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo- /documento/informativo623.htm>, grifado no original). Continua ele (MELLO, 2011, <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/do- cumento/informativo623.htm>, grifado no original) lecionando que: a atuação processual do “amicus curiae” não deve limitar-se à mera apresentação de memoriais ou à prestação eventual de informações que lhe venham a ser solicitadas. Essa visão do problema [...] culminaria por fazer prevalecer, na matéria, uma incompreensível perspectiva reducionista, que não pode (nem deve) ser aceita por esta Corte, sob pena de total frustração dos altos objetivos políticos, sociais e jurídicos visados pelo legislador na positivação da cláusula que, agora, admite o formal ingresso do “amicus curiae” no processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. Cumpre permitir, desse modo, ao “amicus curiae”, em extensão maior, o exercício de determinados poderes processuais, como aquele consistente no direito de proceder à sustentação oral das razões que justificaram a sua admissão formal na causa. Assim, tem-se que o amicus curiae possui o poder, uma vez inserido no processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade de apresentar não só memoriais, mas também sustentar suas teses oralmente, assim como trazer demais informações no interior do processo. Por sua vez, quanto ao poder e/ou prerrogativa do amicus curiae de utilizar- se dos memoriais, a fim de apresentar suas razões finais, tem-se que, conforme Medina (2010, p. 83), tal situação revelava, no Pretório Excelso, anteriormente às Leis n° 9.868/99 e n° 9.882/99, uma participação informal, pois não existia, assim como nos dias de hoje, regramento para a entrega de tal manifestação. Quanto a importância da apresentação dos memoriais pela figura do amicus curiae, nas palavras de Medina (2010, p. 76), tem-se que “a permissão para entrega [...] sempre foi mais um ato de boa vontade da corte do que uma questão de direito”, acrescendo que a atuação do instituto em comento depende da livre discricionariedade do julgador constitucional, o que revela a subjetividade do direito ao acesso ao processo constitucional. Ainda leciona ele (2010, p. 76, grifado no original) que “se não há de se falar em direito subjetivo ao acesso do amigo da corte à jurisdição constitucional, não há como falar em papel democratizador do amicus”. Ou seja, a efetividade do papel democratizador cujo amicus curiae busca, depende do direito subjetivo ao seu acesso no processo constitucional, e este, por sua vez, depende da vontade e da livre percepção do julgador, que poderá se dar, através da apresentação de alegações finais escritas, na forma de memoriais, pela figura telada. Hodiernamente Medina (2010, p. 84) assevera que: o excesso na entrega de memoriais acaba comprometendo o aproveitamento das informações aduzidas ou exaustivamente reiteradas. Percebe-se que, em face da ausência de regramento, o memorial pode se distanciar da sua função informadora para transmutar-se em uma forma, encontrada pelas partes, de influenciar os julgadores. Nesses casos, os memoriais são meras reiterações dos argumentos exaustivamente desenvolvidos no processo. Porquanto, na visão de Medina (2010) a apresentação excessiva de alegações finais na forma de memoriais pela figura em comento perde o caráter informativo, acabando por se transformar em uma manifestação, única e exclusivamente, influenciadora na decisão. É claro que existem outros Ministros que entendem pela apresentação harmônica de memoriais pelo amicus curiae, dentre eles, pode-se citar o Ministro Celso de Mello (MELLO, 2011, <www.stf.jus.br>). Da mesma forma como anteriormente dito, a título de explicação, a apresentação de alegações finais em forma de memoriais pela figura do amicus curiae, não foge à regra do dia a dia forense. Por fim, quanto ao tema acerca da possibilidade, ou não, da apresentação de recursos pelo instituto do amicus curiae, encontram-se diversos ensinamento, ora pela admissibilidade, ora pela inadmissibilidade. Segundo Medina (2010, p. 77, grifado e abreviado no original) “a maioria dos ministros do STF não admite a legitimidade recursal do amicus curiae”. Nesse sentido é o Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n° 632238/PA, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, julgado em 23.05.2013; o Agravo de Instrumento n° 755754/SP, de relatoria da Ministra Rosa Weber, julgado em 09.10.2012; e a Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 2996, de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence, julgado em 25.04.2007, dentre vários outros. De acordo com a ementa do primeiro julgado acima referido, resta límpida a razão pela inadmissibilidade recursal da figura do amicus curiae no referido expediente, trazida pelo Ministro Relator Dias Toffoli (2013, <http://- www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28632238%2ENU ME%2E+OU+632238%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.co m/q6ddhwp>), veja-se: agravo regimental no recurso extraordinário. Insurgência oposta pelos amicicuriae (sic) admitidos nos autos. Inadmissibilidade. Posição processual que não lhes permite interpor recursos contra as decisões proferidas nos processos em que admitidos. 1.
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