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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Graduação em Administração Leandro Vitor Alves XINTOÍSMO: O caminho dos deuses Poços de Caldas 2014 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2 O QUE É XINTOÍSMO .......................................................................................... 3 2.1 Definições iniciais ........................................................................................... 3 2.2 Um pouco da mitologia ................................................................................... 4 2.2.1 A origem do kamis (deuses) ........................................................................... 4 2.2.2 A criação do mundo ........................................................................................ 4 2.2.3 As trevas do guerreiro .................................................................................... 5 2.2.4 A descendência imperial ................................................................................. 6 2.3 Origem e história japonesa ............................................................................. 6 3 A FILOSOFIA XINTOÍSTA .................................................................................... 8 3.1 Crença e cultura ............................................................................................. 8 3.2 As Cerimônias ................................................................................................ 9 3.2.1 Cerimônias no lar .......................................................................................... 10 3.2.2 Cerimônias nos templos ............................................................................... 10 3.3 Símbolos sagrados ....................................................................................... 11 3.4 O Pós-Morte ................................................................................................. 12 4 XINTOÍSMO HOJE ............................................................................................. 13 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 15 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17 3 1 INTRODUÇÃO Xintoísmo é a religião mais antiga do Japão, e significa “caminho dos deuses”. Estimulou por muitos séculos o senso japonês de pertencimento e lealdade. Baseia- se na veneração dos kamis, dos elementos da natureza e dos antepassados, sendo classificada pelos estudiosos como uma religião de características politeísta, animista e que busca a elevação do espírito. Sua prática iniciou-se no século VI, porém seus registros nos antigos livros da história do Japão se deram entre os séculos VII e VIII. É uma religião que se mantém viva pela tradição, não possuindo códigos ou livros sagrados. Dentre suas divindades, a mais conhecida e venerada é a deusa do sol, Amareterasu, que segundo a tradição ensinou a arte da agricultura aos japoneses. A cultura japonesa foi fortemente estimulada pela mitologia xintoísta, o que pode fundamentar e explicar muitas decisões e passagens históricas do país, principalmente a da origem divina dos antigos imperadores. Palavras chave: Xintoísmo, Shinto, kami, deuses. 2 O QUE É XINTOÍSMO 2.1 Definições iniciais Etimologicamente os ideogramas japoneses 神 道 representam respectivamente as palavras “Xin” e “To”, que significam “Deus” e “Caminho”. Desta combinação dá se o nome a religião mais antiga do Japão conhecida como “Xintoísmo”, que pode ser traduzida como “Caminho dos Deuses”. O xintoísmo surgiu no século VI e preservou seu espírito ao longo dos tempos. Trata-se de uma mistura de crenças e práticas de povos diversos, manifestada de forma social e individual. Foi influenciada principalmente pelo budismo, taoismo e pelo confucionismo. Foi formada pela espontaneidade dos povos e reelabora posteriormente pela vontade imperial. É a religião nacional do Japão, porém não possui um fundador especifico, nem livros sagrados, teologia, dogmas ou qualquer tipo de código moral. 4 Constitui-se de crenças e práticas religiosas de tipo animista1 e politeísta de culto a natureza e aos ancestrais. É a religião que se vive para esta vida. A história, folclore e lendas japonesas são descritas em dois livros conhecidos como: “Kojiki” (História do Japão ou Anais das coisas antigas) e “Nihon Shoki” (Crônicas do Japão). São os textos mais antigos daquela nação, escritos nos séculos VII e VIII. Eles contêm varias passagens que explicam a origem do Japão, do xintoísmo e de suas divindades. 2.2 Um pouco da mitologia Existem numerosas interpretações dos escritos antigos. Segue abaixo uma breve compilação das principais passagens da mitologia xintoísta, descritas nos livros kojiki e Nihon Shoki e interpretada por diversos autores. 2.2.1 A origem do kamis (deuses) No mais remoto dos tempos o céu e a terra estavam unidos em uma massa caótica, amorfa e silenciosa. Em um dado momento o silêncio foi quebrado devido ao movimento de numerosas partículas. As mais nobres partículas se uniram à luz e se elevaram no firmamento, aquelas partículas que não conseguiram subir suficientemente formaram uma área intermediária chamada Takamagahara (fenda do alto firmamento) ou Takama-no-hara (Alta planície do céu) e muito abaixo desta se acumularam as partículas que formam a terra e as águas aglutinadamente. Na fenda do alto firmamento (Takamagahara) surgiram espontaneamente as cinco divindades primordiais, chamadas de “Divindades Celestiais Independentes” e após estas, surgiram outras sete gerações de kamis. (TAKEMUSSU et al, 1996; ASAKURA, 2012) 2.2.2 A criação do mundo Após a sétima geração de divindades surgiu o kami conhecido como “O Venerável Izanagi” (Izanagui, kami do céu) e sua esposa-irmã, “A Venerável 1 s.m. Filosofia. Ideologia ou crença de acordo com a qual todas as formas identificáveis da natureza (animais, pessoas, plantas, fenômenos naturais, etc) possuem alma. (DICIO, 2014) 5 Izanami” (kami da terra). Os autores são divergentes neste ponto da mitologia, uns interpretam que os kamis superiores delegaram ao “venerável casal” a responsabilidade de organizar aquela massa de terra e água. Outros relatam que o “venerável casal” passeava pelo Takamagahara e ao passarem por uma ponte olharam para baixo e ficaram curiosos quanto ao que havia sob as águas. Izanagi afundou uma grande lança nas águas e quando a emergiu percebeu que se havia formando uma ilha, que chamaram de Ono-Koro, que hoje e conhecida como Japão. Izanagi convidou sua companheira para descer até aquele recém- criado local. Baixaram um gigantesco mastro que uniu a terra à alta planície do céu. Iniciaram uma descida em movimento de espiral pelo mastro, um indo pela direita e outro pela esquerda. Ao se cruzarem no final da primeira volta, admiraram mutuamente seus corpos. Antes do início da descida pelo mastro, Takemussu (1996) cita um diálogo entre o casal, que dá um tom de curiosidade e romantismo ao conto: “Então questionou o Venerável Izanagi a sua irmã: "De que modo formou-se seu corpo?", ao que ela respondeu: meu corpo está completamente formado, mas há uma parte que não cresceu e está selada. E disse o Venerável Izanagi: "Também o meu corpo estátotalmente formado, mas há uma parte que cresceu em excesso. Logo, se inserirmos a parte que me cresceu em demasia e criaremos terras”."Que solução melhor do que procriar?" A Venerável Izanami retorquiu: "Certamente está bem assim”.E O Venerável Izanagi disse: "Andemos em volta dessa Sagrada Coluna Celeste, e quando encontramo-nos do outro lado, haveremos de nos unir”. (TAKEMUSSU, 1996). Daquele prazeroso encontro, Izanami deu a luz a trinta novos kamis que formaram o ambiente natural sobre aquela nova terra. Surgiram as estações, montanhas, ventos, dentre outros. Salgueiro (1996) acrescenta que nesta época também surgiram os povos que habitaram o local. O ultimo dos trinta novos espíritos há nascer foi o kami do fogo, este por sua vez ardeu nas entranhas da venerável Izanami causando-lhe uma grave doença, o que não a impediu de continuar procriando, até que a enfermidade lhe causasse a morte. (TAKEMUSSU; SALGUEIRO, 1996; JAPONESA, 2013). 2.2.3 As trevas do guerreiro 6 Os autores consultados não citam como se deu a origem do submundo das trevas, também conhecido como mundo dos mortos ou inferno em outras culturas religiosas. A saga do venerável casal continua com a profunda tristeza que caiu sobre Izanagi após a morte de sua companheira. Foi nesse momento que Izanagi decidiu descer ao mundo dos mortos e resgatar sua amada. Quando Izanami foi encontrada, ficou envergonhada de sua nova aparência, um corpo pútrido e consumido pelos vermes, ao mesmo tempo ficou furiosa pela demora de seu marido em procura-la, pois já havia comido do fruto da morte e naquele momento não poderia mais voltar. Izanami amaldiçoou Izanagi e lançou ao ataque todos os espíritos infernais que dispunha. Izanagi, amedrontado, empenhou-se em disparada carreira até alcançar o reino dos vivos e utilizou-se de uma grande rocha para selar a entrado do submundo, separando-se para sempre de sua amada e separando também a mundo dos vivos do mundo infernal. (TAKEMUSSU,1996; JAPONESA, 2013) 2.2.4 A descendência imperial Asakura (2012) narra que Izanagi ao retornar de sua catábase (descida aos infernos), banhou-se em um rio para se purificar e remover de seu corpo as impurezas impregnadas do submundo. Das vestimentas e das impurezas surgiram varias divindades maléficas, que se espalharam pelo mundo e de seu corpo purificado nasceram três importantes divindades do xintoísmo: Amaterasu (deusa do sol), Tsukiyomi (deus da lua) e o problemático Susanowo (deus do tufão, trovão, tempestade, mar), nomeados por Izanagi como governantes do universo. Passados muitos anos, “a sociedade humana precisava de ordem e comando, e por isso o neto de Amaterasu foi enviado à terra. Um de seus descendentes se tornou o primeiro imperador do Japão. Assim, todos os japoneses têm origem divina, mas em especial o imperador, que é descendente da própria deusa do sol”. (CHAGAS, 2011) 2.3 Origem e história japonesa Conhecendo um pouco da mitologia xintoísta torna-se mais compreensivo o desenrolar dos principais fatos históricos pontuados a seguir: 7 Tempos antigos da mitologia – Surgiram as divindades, o mundo e os povos. Em certo momento, Ninigi, o neto de Amaterasu, desce à Terra... 600 a.C. – Nasce Jimmu Tenno, considerado descendente direto de Amaterasu (deusa do sol e bisneto de Ninigi). É o primeiro membro da raça Yamato (Imperadores descendentes das divindades). Fundou o Império Nipônico (Japonês). Antes do Século VI – Segundo Takemussu (1996), o xinto primitivo surgiu a partir de “uma natureza belíssima, um clima moderado, uma vegetação rica e colorida que fundindo as próprias crenças e ritos com todos esses elementos, formaram uma religião alegre, cheia de gentilezas e amor pela natureza”. Século VI – O xintoísmo inicia uma fase de troca de conhecimentos com o budismo. Erguem-se os primeiros templos e se incorporam os ritos de oração. Século VII – Inicia-se um movimento nacionalista para a criação do xintoísmo estatal (Kokka Xinto). O império proclama uma espécie de ética nacional e institui ritos patrióticos combinando a contemplação da natureza ao culto dos heróis do país. Século VII e VIII – Iniciam-se os registros xintoístas nos livros kojiki e Nihon Shoki. 1800 em diante – Desejava-se fortalecer o poder do imperador Meiji. Através de um golpe de Estado, a religião e política se fundiram numa coisa só com a separação do xintoísmo estatal do xintoísmo popular. O império ergueu um novo santuário para realização dos cultos estatais que exaltavam o povo japonês e divinizavam o imperador. 1945 – (2ª Guerra Mundial). Acontece o impensável pelo povo japonês, o imperador se rende ao exercito americano e é forçado admitir publicamente que não possui linhagem divina, sendo também um mero mortal. Desmorona a condição estatal da religião, mas o xintoísmo popular que se mantinha paralelamente vivo ganha força e une ainda mais o povo japonês em sua nacionalidade. Encerrou-se assim uma milenar época religiosa e política no país. (ASAKURA, 2012; XINTOISTA; 2013; AROSIO, 2014) 8 3 A FILOSOFIA XINTOÍSTA Tendo permeado um pouco da mitologia e conhecendo alguns pontos históricos torna-se bem simples o entendimento do animus que guia a vida dos xintoístas. A religião pode ser definida basicamente na relação entre o homem e a natureza, considerando que a segundo é inexplicável por palavras. As manifestações da fé acontecem através dos cultos e do estudo filosófico do espírito, da essência e da divindade. (XINTOÍSTA et al, 2013). 3.1 Crença e cultura O primeiro fato caracterizador do xintoísmo é a ausência de um deus único, onipotente e onipresente como nas religiões ocidentais e das tradicionais. As várias divindades são reconhecidas em tudo que possuir vida e inclui-se nesta perspectiva a crença que os elementos que compõe o meio ambiente também têm vida e são habitados por kamis. Daí a perspectiva de que tudo e todos merecem respeito, inclusive a figura dos humanos, pois hospedam em seu interior uma essência divina. Acredita-se que os kamis não são dotados de perfeição, sendo suscetíveis ao cometimento de erros. A principal kami xintoísta é a deusa sol, Amaterasu, que ensinou a arte da agricultura aos povos do Japão e os espíritos dos antepassados são considerados protetores da família. A palavra kami também pode significar “espírito”, não necessariamente sendo um espírito de essência divina. Em seu âmbito cultural, o xintoismo exerce grande influência nas atitudes do povo japonês. A crença baseia-se fortemente na importância do sentimento de pertencimento, seja nas tradições familiares ou nas relações com a comunidade local. Baseia-se também na autovigilância contra as impurezas do mundo, em especial com aquelas relacionadas à falsidade. (JOVEM et al, 2014). Como não são adotados manuais que indicam o que deve ser feito, é uma cultura religiosa espontânea e livre, onde o praticante sabe o que deve fazer pela própria consciência natural. Analogicamente pode se comparar ao mandamento cristão: “Amai ao próximo como a si mesmo”. Neste sentido, o xintoísta não fará ao seu próximo àquilo que sua consciência lhe diz que é errado ou injusto. Mesmo sem códigos específicos é possível identificar valorosas virtudes no comportamento do xintoísta, como: O elevado senso de honra, a fidelidade, a obediência aos 9 superiores, o sucesso através do empenho nos estudos e o autocontrole. “O objetivo dos xintoístas é evitar ações que possam provocar a poluição do espírito, como atitudes rudes ou desonestas”. (CUIDAR, 2014). 3.2 As CerimôniasSegundo Chagas e outros (2011), “a essência do xintoísmo são as cerimônias e os rituais, que mantêm o contato com o divino”. Cuidar (2014) acrescenta que “os xintoístas possuem rituais e práticas que visam à elevação do espírito”. As divindades podem ser cultuadas em casa ou nos templos e a contemplação pode ser realizada em qualquer ambiente que se tenha contato com a natureza, o que incentiva a sua preservação. Existem na cultura xintoísta datas muito importantes que merecem comemoração e cerimônia, pois marcam o momento de evolução do ser humano em sua passagem terrena, estes momentos importantes são: Os aniversários de 1, 3, 5, 7 anos, a maioridade, 60, 70, 77, 88, 90 e 99 anos. Para os homens comemoram-se também os 25, 40 e 61 anos. Para as mulheres os 19, 33 e 37 anos; Batizados; Casamentos e suas bodas de 10, 30, 50 e 60 anos; Gravidez; Ano novo; Funerais; Cerejeiras em flor (esperança e renovação, realizadas nos parques xintoístas na forma de pic-nic). Originalmente as cerimônias eram regidas por pessoas com alto nível hierárquico dentro do contexto social, variando desde os chefes de família ou clã até os príncipes ou mesmo o próprio imperador. Independentemente de onde as cerimônias forem realizadas, quatro elementos sempre estão presentes em sua “liturgia”. Chagas e outros (2011) concordam que um possível roteiro descreve as fases das cerimônias, sendo: 10 Purificação – Fase em que o objetivo é banir o mau e se limpar das impurezas, em especial, aquelas geradas pelas funções carnais. Pode se resumir em um ato simples, como lavar a boca ou molhar os dedos. Sacrifício – São oferendas feitas para que o indivíduo não perca o contato com os kamis. Podem ser materializadas na forma de doações em dinheiro, alimentos e bebidas ou através de apresentações artísticas e esportivas realizadas em honra as divindades. Oração – Ato incorporado da cultura budista. Inicia-se com o louvor ao kami a quem se dirige em forma de gratidão, apresentam-se as oferendas e pode se realizar um pedido ao final da oração. Refeição Sagrada – Fase que encerra a cerimônia. Podem ser consumidos os alimentos apresentados na fase de sacrifício ou recebida pelo sacerdote uma pequena quantidade de vinho e arroz. 3.2.1 Cerimônias no lar Não existe no xintoísmo a obrigação de comparecer frequentemente aos cultos sociais, podendo o praticante realizar seus costumes em seu próprio lar. “Em quase todos os lares existe um pequeno altar chamado kamidana. Neste, há objetos simbólicos, como um amuleto para o kami, um pequeno espelho, uma vela, um vaso contendo galhos da árvore sakaki. Dá-se início ao ritual lavando a boca e as mãos. Em seguida, põe-se um sacrifício diante do altar; pode ser algo tão comum como uma tigela com água ou alguns grãos de arroz. O suplicante senta ou fica em pé sobre um tapetinho, com a cabeça respeitosamente curvada. Após uma pequena oração, ele inclina a cabeça duas vezes, bate palmas duas vezes com as mãos erguidas e inclina mais algumas vezes a cabeça para finalizar o culto. Todos os alimentos que foram oferecidos são depois retirados e comidos à mesa”. (CHAGAS, 2011) 3.2.2 Cerimônias nos templos Ao contrário do tradicional conceito de templo, segundo Chagas (2011) “o templo xintoísta não é um local para pregações, é a morada de um kami”, o lugar onde este é representado simbolicamente por um objeto sagrado e cultuado. Os templos xintoístas tem disposição física e estrutural bem semelhante e podem ser esquematizados assim: 11 1. Tori - Portão Shinto, entrada do santuário; 2. Escadas de pedra 3. Sando - Abordagem ao santuário 4. Chōzuya ou temizuya - Fonte de purificação para limpar as mãos e boca 5. Toro - Lanternas de pedra decorativos 6. Kagura-den - edifício dedicado ao Noh ou a dança sagrada kagura 7. Shamusho - escritório administrativo do santuário 8. Ema - Placas de madeira que carregam orações ou desejos 9. Sessha / Massha - Pequenos santuários auxiliares 10. Komainu - Os chamados "cães-leões", guardiões do santuário 11. Haiden - Oratória ou sala de culto 12. Tamagaki - cerca em torno do honden 13. Honden - Salão principal, que consagra o kami 3.3 Símbolos sagrados Um templo se torna um local sagrado devido à presença de um objeto ali presente que simboliza uma importante divindade. Existem três objetos considerados os tesouros mais sagrados do Japão: O espelho, a espada e a joia. Estas três relíquias são mostradas em cerimônias oficiais da família imperial. Takemussu (1996) as descreve da seguinte maneira: O ESPELHO que representa o sol, a bandeira nacional, a capacidade de olhar para si; A ESPADA que representa a origem dos samurais que trazem a justiça; A JOIA ORMAMENTAL que representa a riqueza do país e a união entre todos. 12 As três relíquias tem sua significância baseada na mitologia do país. Kuwan (2011) resume que a espada foi encontra por Susanowo em uma das caudas do gigantesco monstro Yamata-no-Orochi (uma dragão de 8 cabeças), que este matou para proteger uma família de camponeses. Susanowo deu a espada de presente a sua irmã Amaterasu como forma de se redimir de seus atos maldosos para com ela. Os três itens foram dados de presente por Amaterasu à Ninigi, seu neto, quando este veio ao mundo dos mortais, para impor-lhe ordem e comanda-ló. O primeiro imperador do Japão, Jimmu Tenno (600 a. C.) seria bisneto de Ninigi. Os objetos são passados de geração em geração por ocasião da sucessão do imperador. Pelo caráter sagrado das peças, proibi-se que sejam tiradas fotos ou que as reproduzam em forma de desenho. As relíquias ficam guardadas, cada qual, em um dos três maiores santuários existentes no Japão. Outro símbolo amplamente difundido do xintoísmo à cultura japonesa é o Tori. Trata-se de um grande portal construído tradicionalmente em madeira que representa a divisão entre o mundo físico e mundo espiritual. Suas Colunas representam as pilares que sustentam o céu e suas vigas transversais representam a Terra. Todos os santuários xintoístas possuem um tori em suas entradas. Os toris não são exclusivamente usados nos santuários ou templos, eles podem ser encontrados em vários outros locais públicos e privados. Simbolicamente o tori tem por objetivo lembrar cotidianamente todos àqueles que passam por ele que a vida material é passageira. 3.4 O Pós-Morte “As religiões, nas quais a inquietude com o além-vida tem escassa ou pouca importância, concentram seus ritos no bem-estar individual e na felicidade terrena. Visam uma vida natural harmoniosa dentro do cosmo, às vezes povoado por forças e seres espirituais, nem sempre considerados divindades, como o xintoísmo. Nessas religiões, a salvação é constituída pela harmonia da integração social ou tribal nesta vida, mais do que pela preocupação com a existência de um além, não admitido por elas”. (AROSIO, 2014) Arosio e outros (2014) explicam que a religião xintoísta baseia-se no bem estar do hoje, não reconhecendo que existe o “paraíso” após a morte carnal. Explica também que a morte acontece quando o shinuru, que significa “o hálito”, sai do 13 corpo humano. O espírito desencarnado mantém suas recordações e consciência, ele continua vivendo no mundo numa situação indefinida, podendo se tornar um kami. Aqueles que tiveram uma vida impura vão habitar um tenebroso mundo subterrâneo ou se tornam um yomi (espírito do mal). Mas o submundo não é o fim eterno como em outras crenças. O espírito que conseguir escapardas trevas deve passar por rituais de purificação para retornar a superfície. Criou-se na nação japonesa o entendimento que o mundo material é bom e que não existe o pecado no sentido clássico da culpa. Apenas existem as impurezas que devem ser purificadas para não sofrer com as influências dos yomis. 4 XINTOÍSMO HOJE Estima-se que o xintoísmo possui 120 milhões de praticantes no Japão (cerca de 94% da população). É uma quantidade expressiva, mas há de se considerar que se incluem neste cálculo aqueles que possuem também outros costumes religiosos, não sendo necessariamente o xintoísmo sua religião principal. Existem também sacerdotes que conduzem as cerimônias podendo dedicar sua vida ao sacerdócio em tempo integral ou parcial. Estes sacerdotes são nomeados pelas organizações religiosas dos templos. No pós-guerra as mulheres passaram a ser elegíveis ao sacerdócio. (CHAGAS et al, 2011). Outra característica própria da cultura xintoísta e que por ser uma religião étnica japonesa não há o envio de missionários pelo mundo para realizar a divulgação e expansão no número de seguidores. Em algumas universidades de cultura xinto-budista, nos cursos que realizam experimentos como animais são celebradas cerimônias com intuito de confortar os espíritos dos animais mortos. A tabela abaixo mostra um pouco da relação numérica entre templos, sacerdotes e seguidores das principais culturas religiosas no Japão. Item Xintoísmo Budismo Cristianismo Outras Santuários, templos, igrejas, outras organizações 88.591 85.439 9.344 38.107 Religiosos (sacerdotes, ministros, etc.) 76.190 348.662 35.129 216.560 Membros 102.756.326 84.652.539 2.773.096 9.435.317 Tabela 1: Instituições religiosas no Japão Fonte: Agência de assuntos culturais do Japão, 2012 14 Percebe-se claramente que as práticas religiosas no país ainda se baseiam no xintoísmo seguido de perto pelo budismo. Porém, segundo Arosio: “Embora o xintoísmo mantenha profunda raiz cultural japonesa, vai evoluindo, e essas crenças se reduzem mais a aspectos de um folclore histórico para celebrar as festas nacionais, mas deixam, no entanto, um vazio na alma japonesa, bombardeada pelo progresso técnico, vertiginoso e materialista”. (AROSIO, 2012) Bem antes de Arosio (2012), Takemussu e outros (1996) já apontavam situações que demonstravam um declínio do xintoísmo. Em especial, citou as mudanças socioeconômicas ocorridas na sociedade japonesa moderna e alertou que se a religião não mudasse radicalmente a forma de se entender na mitologia, ampliasse sua atuação social e não se abrisse para outros povos, estaria fadada ao desaparecimento. Apesar de parecer uma religião muito distante do ocidente, o xintoísmo esteve muito próximo das crianças brasileiras nos anos 80, 90 e 2000, através dos mangás (histórias em quadrinhos) e dos animes (desenhos animados) exibidos principalmente pela extinta rede Manchete e também pelas redes Globo de televisão, SBT, Bandeirantes e outras emissoras regionalizadas no Brasil ou pelas emissoras fechadas. Como alguns exemplos desses animes e mangás podem se citados: Dragon Ball (1984, Manchete, SBT). A série se baseia na história de um menino com força e capacidade de luta fora do comum, que viaja pelo mundo procurando as “esferas do dragão” (são sete joias místicas que quando reunidas são capazes de invocar um poderoso deus dragão que realiza desejos). Durante os dez anos de exibição, o anime revelou muitos elementos do xintoísmo como: a descrição do mundo espiritual, a possibilidade de se retornar do reino dos mortos, o aparecimento de varias das divindades mitológicas da China e do Japão, os cenários mostram subjetivamente santuários, altares e símbolos religiosos xintoístas. Yuyu Hakusho (1995, Manchete). O nome pode ser traduzido como “O livro em branco do Poltergeist”. Relata a historia de um jovem bad boy que morre ao salvar uma criança de um acidente automobilístico. Como sua morte não 15 era espera pelo mundo espiritual ele recebe a chance de retornar a vida com a condição de ser uma espécie de “detetive do mundo espiritual”, combatendo youkais (criaturas sobrenaturais) que se infiltrassem no mundo dos humanos. Naruto (1999, SBT). Naruto é um menino que tem o sonho de se tornar o ninja mais poderoso e o líder da vila onde vive. É um menino solitário e excluído pela sociedade, pois quando era bebê teve aprisionado em seu corpo um poderoso youkai que iria destruir a vila onde vive. Durante as cenas de combate os lutadores se utilizam de invocações dos elementos da natureza para desferir golpes especiais em seus oponentes. Um dos golpes mais poderosos do anime baseia-se na invocação de Amaterasu, deusa do sol. Earth Girl Arjuna (2001, Animax Brasil). O anime é uma critica em defesa ao meio ambiente que é amplamente venerado no xintoísmo, mostrando os abusos da sociedade consumista e a “robotização” do cotidiano. A personagem principal é a reencarnação da deusa do tempo que pode sentir as dores do planeta sendo destruído. InuYasha (2002, Cartoon Network, Globo, Band). O nome pode ser traduzido como “Fantástica História do Período Feudal de Inuyasha". Conta a historia de um jovem que nasceu da união de uma mulher humana e de um youkai, vivendo no período feudal japonês, lutando contra os espíritos malignos e protegendo as pessoa que ama. Existem vários outros animes e mangás que relatam a história do Japão e introduzem misticamente em seus roteiros elementos de sua cultura religiosa. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há como não dizer que a mitologia japonesa é simplesmente belíssima, envolvente e que a partir dela o povo japonês evoluiu individual e sócio culturalmente. Após compreenderem-se os mitos, a história e a cultura japonesa, pode-se ter uma melhor visão do estilo de vida japonês e criar alguns paralelos, como: A adoção do “venerável casal” como principal ponto criacionista do mundo remete ao entendimento dos fortes laços familiares existente no japonês 16 juntamente como o senso de pertencimento, fidelidade e lealdade à comunidade em que vive. Demonstra a força que possui o instituto familiar, ampliado com a veneração dos antepassados, adotando-os como guias e protetores da família. Como o xintoísmo é uma religião politeísta, o pluralismo esta presente no dia- a-dia, desconsiderando que exista uma verdade absoluta e fazendo com que cada indivíduo respeita a opinião e crença alheia, mesmo se os pontos de vista sejam vertiginosamente opostos. Roga-se pela coexistência harmônica e respeitosa. A característica animista demonstra que o xintoísmo esta muito a frente de seu tempo, enquanto hoje, o ocidente inicia um processo de percepção da importância do meio ambiente, os xintoístas já o preservavam e entendiam o quão importante é cada fagulha de vida e seus inter-relacionamentos. Entender que os kamis não são seres perfeitos ajuda ao praticante a se manter vigilante no processo de constante purificação e busca pela paz consigo mesmo, com os outros e com o meio em que esta inserido. Como não há dogmatização da religião, o praticante não carrega consigo o sentimento de eterna culpa ou sentimento de pecado, que as culturas dogmatizadas incutem nas mentes dos seguidores. Não é por menos que os japoneses são conhecidos como o um dos povos mais inteligentes do mundo, até mesmo nos aspectos religiosos eles exigem de si mesmos, uma compreensão do espírito através dos estudos filosóficos. Apesar da grande aceitação do xintoísmo como religião e estilo de vida no oriente, ela esta se tornando aospoucos apenas um elemento folclórico e sendo esquecida pela modernidade dos mais jovens e morrendo junto com as tradições dos mais idosos. Ao contrário do budismo, que tem tido uma melhor aceitação por outros povos do mundo. 17 REFERÊNCIAS AROSIO, Ernesto. Xintoísmo é a salvação. Disponível em: <http://www.pime.org.br/mundoemissao/religxintoismosalvacao.htm>. Acesso em: 25 fev 14. ASAKURA, Felipe. Xintoísmo. 03 Set 12. Disponível em: <http://www.shamankingbr.com/index.php/xintoismo>. Acesso em: 26 fev 14. CHAGAS, Carlos. Xintoísmo: Sua doutrina, vida religiosa e teologia. Disponível em: <http://cristaoshoje.blogspot.com.br/2011/09/xintoismo-sua-doutrina-vida- religiosa-e.html>. Acesso em: 03 mar 14. CUIDAR. Xintoismo. Disponível em: <http://www.cuidar.com.br/xintoismo> . Acesso em: 25 fev 14. DICIO, dicionário online de português. Disponível em: <http://www.dicio.com.br>. Acesso em: 02 mar 14. ESTRANHO. Mundo. Como é a religião xintoísta. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-e-a-religiao-xintoista>. Acesso em: 26 fev 14. JAPÃO, Embaixada do. Japan fact sheet. Disponivel em: <http://www.br.emb- japan.go.jp/cultura/religiao.html>. Acesso em: 08 mar 14. JAPONESA. Cultura. Xintoísmo. Disponível em: <http://www.culturajaponesa.com.br/?page_id=213> . Acesso em: 02 mar 14. JOVEM, Jornal Missão. Minha religião: xintoísmo. 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