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Xintoísmo O caminho dos deuses. ALVES, 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Graduação em Administração 
 
 
 
Leandro Vitor Alves 
 
 
 
XINTOÍSMO: 
O caminho dos deuses 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poços de Caldas 
2014
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 
 
2 O QUE É XINTOÍSMO .......................................................................................... 3 
2.1 Definições iniciais ........................................................................................... 3 
2.2 Um pouco da mitologia ................................................................................... 4 
2.2.1 A origem do kamis (deuses) ........................................................................... 4 
2.2.2 A criação do mundo ........................................................................................ 4 
2.2.3 As trevas do guerreiro .................................................................................... 5 
2.2.4 A descendência imperial ................................................................................. 6 
2.3 Origem e história japonesa ............................................................................. 6 
 
3 A FILOSOFIA XINTOÍSTA .................................................................................... 8 
3.1 Crença e cultura ............................................................................................. 8 
3.2 As Cerimônias ................................................................................................ 9 
3.2.1 Cerimônias no lar .......................................................................................... 10 
3.2.2 Cerimônias nos templos ............................................................................... 10 
3.3 Símbolos sagrados ....................................................................................... 11 
3.4 O Pós-Morte ................................................................................................. 12 
 
4 XINTOÍSMO HOJE ............................................................................................. 13 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 15 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Xintoísmo é a religião mais antiga do Japão, e significa “caminho dos deuses”. 
Estimulou por muitos séculos o senso japonês de pertencimento e lealdade. Baseia-
se na veneração dos kamis, dos elementos da natureza e dos antepassados, sendo 
classificada pelos estudiosos como uma religião de características politeísta, 
animista e que busca a elevação do espírito. Sua prática iniciou-se no século VI, 
porém seus registros nos antigos livros da história do Japão se deram entre os 
séculos VII e VIII. É uma religião que se mantém viva pela tradição, não possuindo 
códigos ou livros sagrados. Dentre suas divindades, a mais conhecida e venerada é 
a deusa do sol, Amareterasu, que segundo a tradição ensinou a arte da agricultura 
aos japoneses. A cultura japonesa foi fortemente estimulada pela mitologia xintoísta, 
o que pode fundamentar e explicar muitas decisões e passagens históricas do país, 
principalmente a da origem divina dos antigos imperadores. 
 
Palavras chave: Xintoísmo, Shinto, kami, deuses. 
 
2 O QUE É XINTOÍSMO 
 
2.1 Definições iniciais 
 
 Etimologicamente os ideogramas japoneses 神 道 representam 
respectivamente as palavras “Xin” e “To”, que significam “Deus” e “Caminho”. Desta 
combinação dá se o nome a religião mais antiga do Japão conhecida como 
“Xintoísmo”, que pode ser traduzida como “Caminho dos Deuses”. 
 O xintoísmo surgiu no século VI e preservou seu espírito ao longo dos 
tempos. Trata-se de uma mistura de crenças e práticas de povos diversos, 
manifestada de forma social e individual. Foi influenciada principalmente pelo 
budismo, taoismo e pelo confucionismo. Foi formada pela espontaneidade dos 
povos e reelabora posteriormente pela vontade imperial. É a religião nacional do 
Japão, porém não possui um fundador especifico, nem livros sagrados, teologia, 
dogmas ou qualquer tipo de código moral. 
4 
 
 Constitui-se de crenças e práticas religiosas de tipo animista1 e politeísta de 
culto a natureza e aos ancestrais. É a religião que se vive para esta vida. 
 A história, folclore e lendas japonesas são descritas em dois livros conhecidos 
como: “Kojiki” (História do Japão ou Anais das coisas antigas) e “Nihon Shoki” 
(Crônicas do Japão). São os textos mais antigos daquela nação, escritos nos 
séculos VII e VIII. Eles contêm varias passagens que explicam a origem do Japão, 
do xintoísmo e de suas divindades. 
 
2.2 Um pouco da mitologia 
 
 Existem numerosas interpretações dos escritos antigos. Segue abaixo uma 
breve compilação das principais passagens da mitologia xintoísta, descritas nos 
livros kojiki e Nihon Shoki e interpretada por diversos autores. 
 
2.2.1 A origem do kamis (deuses) 
 
 No mais remoto dos tempos o céu e a terra estavam unidos em uma massa 
caótica, amorfa e silenciosa. Em um dado momento o silêncio foi quebrado devido 
ao movimento de numerosas partículas. As mais nobres partículas se uniram à luz e 
se elevaram no firmamento, aquelas partículas que não conseguiram subir 
suficientemente formaram uma área intermediária chamada Takamagahara (fenda 
do alto firmamento) ou Takama-no-hara (Alta planície do céu) e muito abaixo desta 
se acumularam as partículas que formam a terra e as águas aglutinadamente. Na 
fenda do alto firmamento (Takamagahara) surgiram espontaneamente as cinco 
divindades primordiais, chamadas de “Divindades Celestiais Independentes” e após 
estas, surgiram outras sete gerações de kamis. (TAKEMUSSU et al, 1996; 
ASAKURA, 2012) 
 
2.2.2 A criação do mundo 
 
 Após a sétima geração de divindades surgiu o kami conhecido como “O 
Venerável Izanagi” (Izanagui, kami do céu) e sua esposa-irmã, “A Venerável 
 
1
 s.m. Filosofia. Ideologia ou crença de acordo com a qual todas as formas identificáveis da natureza 
(animais, pessoas, plantas, fenômenos naturais, etc) possuem alma. (DICIO, 2014) 
5 
 
Izanami” (kami da terra). Os autores são divergentes neste ponto da mitologia, uns 
interpretam que os kamis superiores delegaram ao “venerável casal” a 
responsabilidade de organizar aquela massa de terra e água. Outros relatam que o 
“venerável casal” passeava pelo Takamagahara e ao passarem por uma ponte 
olharam para baixo e ficaram curiosos quanto ao que havia sob as águas. 
 Izanagi afundou uma grande lança nas águas e quando a emergiu percebeu 
que se havia formando uma ilha, que chamaram de Ono-Koro, que hoje e conhecida 
como Japão. Izanagi convidou sua companheira para descer até aquele recém-
criado local. Baixaram um gigantesco mastro que uniu a terra à alta planície do céu. 
Iniciaram uma descida em movimento de espiral pelo mastro, um indo pela direita e 
outro pela esquerda. Ao se cruzarem no final da primeira volta, admiraram 
mutuamente seus corpos. 
 Antes do início da descida pelo mastro, Takemussu (1996) cita um diálogo 
entre o casal, que dá um tom de curiosidade e romantismo ao conto: 
 
“Então questionou o Venerável Izanagi a sua irmã: "De que modo formou-se 
seu corpo?", ao que ela respondeu: meu corpo está completamente 
formado, mas há uma parte que não cresceu e está selada. E disse o 
Venerável Izanagi: "Também o meu corpo estátotalmente formado, mas há 
uma parte que cresceu em excesso. Logo, se inserirmos a parte que me 
cresceu em demasia e criaremos terras”."Que solução melhor do que 
procriar?" A Venerável Izanami retorquiu: "Certamente está bem assim”.E O 
Venerável Izanagi disse: "Andemos em volta dessa Sagrada Coluna 
Celeste, e quando encontramo-nos do outro lado, haveremos de nos unir”. 
(TAKEMUSSU, 1996). 
 
 Daquele prazeroso encontro, Izanami deu a luz a trinta novos kamis que 
formaram o ambiente natural sobre aquela nova terra. Surgiram as estações, 
montanhas, ventos, dentre outros. Salgueiro (1996) acrescenta que nesta época 
também surgiram os povos que habitaram o local. O ultimo dos trinta novos espíritos 
há nascer foi o kami do fogo, este por sua vez ardeu nas entranhas da venerável 
Izanami causando-lhe uma grave doença, o que não a impediu de continuar 
procriando, até que a enfermidade lhe causasse a morte. (TAKEMUSSU; 
SALGUEIRO, 1996; JAPONESA, 2013). 
 
2.2.3 As trevas do guerreiro 
 
6 
 
 Os autores consultados não citam como se deu a origem do submundo das 
trevas, também conhecido como mundo dos mortos ou inferno em outras culturas 
religiosas. 
 A saga do venerável casal continua com a profunda tristeza que caiu sobre 
Izanagi após a morte de sua companheira. Foi nesse momento que Izanagi decidiu 
descer ao mundo dos mortos e resgatar sua amada. Quando Izanami foi encontrada, 
ficou envergonhada de sua nova aparência, um corpo pútrido e consumido pelos 
vermes, ao mesmo tempo ficou furiosa pela demora de seu marido em procura-la, 
pois já havia comido do fruto da morte e naquele momento não poderia mais voltar. 
Izanami amaldiçoou Izanagi e lançou ao ataque todos os espíritos infernais que 
dispunha. Izanagi, amedrontado, empenhou-se em disparada carreira até alcançar o 
reino dos vivos e utilizou-se de uma grande rocha para selar a entrado do 
submundo, separando-se para sempre de sua amada e separando também a mundo 
dos vivos do mundo infernal. (TAKEMUSSU,1996; JAPONESA, 2013) 
 
2.2.4 A descendência imperial 
 
 Asakura (2012) narra que Izanagi ao retornar de sua catábase (descida aos 
infernos), banhou-se em um rio para se purificar e remover de seu corpo as 
impurezas impregnadas do submundo. Das vestimentas e das impurezas surgiram 
varias divindades maléficas, que se espalharam pelo mundo e de seu corpo 
purificado nasceram três importantes divindades do xintoísmo: Amaterasu (deusa do 
sol), Tsukiyomi (deus da lua) e o problemático Susanowo (deus do tufão, trovão, 
tempestade, mar), nomeados por Izanagi como governantes do universo. 
 Passados muitos anos, 
 
“a sociedade humana precisava de ordem e comando, e por isso o neto de 
Amaterasu foi enviado à terra. Um de seus descendentes se tornou o 
primeiro imperador do Japão. Assim, todos os japoneses têm origem divina, 
mas em especial o imperador, que é descendente da própria deusa do sol”. 
(CHAGAS, 2011) 
 
2.3 Origem e história japonesa 
 
 Conhecendo um pouco da mitologia xintoísta torna-se mais compreensivo o 
desenrolar dos principais fatos históricos pontuados a seguir: 
7 
 
 
 Tempos antigos da mitologia – Surgiram as divindades, o mundo e os povos. 
Em certo momento, Ninigi, o neto de Amaterasu, desce à Terra... 
 600 a.C. – Nasce Jimmu Tenno, considerado descendente direto de 
Amaterasu (deusa do sol e bisneto de Ninigi). É o primeiro membro da raça 
Yamato (Imperadores descendentes das divindades). Fundou o Império 
Nipônico (Japonês). 
 Antes do Século VI – Segundo Takemussu (1996), o xinto primitivo surgiu a 
partir de “uma natureza belíssima, um clima moderado, uma vegetação rica e 
colorida que fundindo as próprias crenças e ritos com todos esses elementos, 
formaram uma religião alegre, cheia de gentilezas e amor pela natureza”. 
 Século VI – O xintoísmo inicia uma fase de troca de conhecimentos com o 
budismo. Erguem-se os primeiros templos e se incorporam os ritos de oração. 
 Século VII – Inicia-se um movimento nacionalista para a criação do xintoísmo 
estatal (Kokka Xinto). O império proclama uma espécie de ética nacional e 
institui ritos patrióticos combinando a contemplação da natureza ao culto dos 
heróis do país. 
 Século VII e VIII – Iniciam-se os registros xintoístas nos livros kojiki e Nihon 
Shoki. 
 1800 em diante – Desejava-se fortalecer o poder do imperador Meiji. Através 
de um golpe de Estado, a religião e política se fundiram numa coisa só com a 
separação do xintoísmo estatal do xintoísmo popular. O império ergueu um 
novo santuário para realização dos cultos estatais que exaltavam o povo 
japonês e divinizavam o imperador. 
 1945 – (2ª Guerra Mundial). Acontece o impensável pelo povo japonês, o 
imperador se rende ao exercito americano e é forçado admitir publicamente 
que não possui linhagem divina, sendo também um mero mortal. Desmorona 
a condição estatal da religião, mas o xintoísmo popular que se mantinha 
paralelamente vivo ganha força e une ainda mais o povo japonês em sua 
nacionalidade. Encerrou-se assim uma milenar época religiosa e política no 
país. (ASAKURA, 2012; XINTOISTA; 2013; AROSIO, 2014) 
 
8 
 
3 A FILOSOFIA XINTOÍSTA 
 
 Tendo permeado um pouco da mitologia e conhecendo alguns pontos 
históricos torna-se bem simples o entendimento do animus que guia a vida dos 
xintoístas. A religião pode ser definida basicamente na relação entre o homem e a 
natureza, considerando que a segundo é inexplicável por palavras. As 
manifestações da fé acontecem através dos cultos e do estudo filosófico do espírito, 
da essência e da divindade. (XINTOÍSTA et al, 2013). 
 
3.1 Crença e cultura 
 
 O primeiro fato caracterizador do xintoísmo é a ausência de um deus único, 
onipotente e onipresente como nas religiões ocidentais e das tradicionais. As várias 
divindades são reconhecidas em tudo que possuir vida e inclui-se nesta perspectiva 
a crença que os elementos que compõe o meio ambiente também têm vida e são 
habitados por kamis. Daí a perspectiva de que tudo e todos merecem respeito, 
inclusive a figura dos humanos, pois hospedam em seu interior uma essência divina. 
Acredita-se que os kamis não são dotados de perfeição, sendo suscetíveis ao 
cometimento de erros. A principal kami xintoísta é a deusa sol, Amaterasu, que 
ensinou a arte da agricultura aos povos do Japão e os espíritos dos antepassados 
são considerados protetores da família. A palavra kami também pode significar 
“espírito”, não necessariamente sendo um espírito de essência divina. 
 Em seu âmbito cultural, o xintoismo exerce grande influência nas atitudes do 
povo japonês. A crença baseia-se fortemente na importância do sentimento de 
pertencimento, seja nas tradições familiares ou nas relações com a comunidade 
local. Baseia-se também na autovigilância contra as impurezas do mundo, em 
especial com aquelas relacionadas à falsidade. (JOVEM et al, 2014). 
 Como não são adotados manuais que indicam o que deve ser feito, é uma 
cultura religiosa espontânea e livre, onde o praticante sabe o que deve fazer pela 
própria consciência natural. Analogicamente pode se comparar ao mandamento 
cristão: “Amai ao próximo como a si mesmo”. Neste sentido, o xintoísta não fará ao 
seu próximo àquilo que sua consciência lhe diz que é errado ou injusto. Mesmo sem 
códigos específicos é possível identificar valorosas virtudes no comportamento do 
xintoísta, como: O elevado senso de honra, a fidelidade, a obediência aos 
9 
 
superiores, o sucesso através do empenho nos estudos e o autocontrole. “O objetivo 
dos xintoístas é evitar ações que possam provocar a poluição do espírito, como 
atitudes rudes ou desonestas”. (CUIDAR, 2014). 
 
3.2 As CerimôniasSegundo Chagas e outros (2011), “a essência do xintoísmo são as cerimônias 
e os rituais, que mantêm o contato com o divino”. Cuidar (2014) acrescenta que “os 
xintoístas possuem rituais e práticas que visam à elevação do espírito”. 
 As divindades podem ser cultuadas em casa ou nos templos e a 
contemplação pode ser realizada em qualquer ambiente que se tenha contato com a 
natureza, o que incentiva a sua preservação. 
 Existem na cultura xintoísta datas muito importantes que merecem 
comemoração e cerimônia, pois marcam o momento de evolução do ser humano em 
sua passagem terrena, estes momentos importantes são: 
 
 Os aniversários de 1, 3, 5, 7 anos, a maioridade, 60, 70, 77, 88, 90 e 99 anos. 
Para os homens comemoram-se também os 25, 40 e 61 anos. Para as 
mulheres os 19, 33 e 37 anos; 
 Batizados; 
 Casamentos e suas bodas de 10, 30, 50 e 60 anos; 
 Gravidez; 
 Ano novo; 
 Funerais; 
 Cerejeiras em flor (esperança e renovação, realizadas nos parques xintoístas 
na forma de pic-nic). 
 
 Originalmente as cerimônias eram regidas por pessoas com alto nível 
hierárquico dentro do contexto social, variando desde os chefes de família ou clã até 
os príncipes ou mesmo o próprio imperador. Independentemente de onde as 
cerimônias forem realizadas, quatro elementos sempre estão presentes em sua 
“liturgia”. Chagas e outros (2011) concordam que um possível roteiro descreve as 
fases das cerimônias, sendo: 
10 
 
 
 Purificação – Fase em que o objetivo é banir o mau e se limpar das 
impurezas, em especial, aquelas geradas pelas funções carnais. Pode se 
resumir em um ato simples, como lavar a boca ou molhar os dedos. 
 Sacrifício – São oferendas feitas para que o indivíduo não perca o contato 
com os kamis. Podem ser materializadas na forma de doações em dinheiro, 
alimentos e bebidas ou através de apresentações artísticas e esportivas 
realizadas em honra as divindades. 
 Oração – Ato incorporado da cultura budista. Inicia-se com o louvor ao kami a 
quem se dirige em forma de gratidão, apresentam-se as oferendas e pode se 
realizar um pedido ao final da oração. 
 Refeição Sagrada – Fase que encerra a cerimônia. Podem ser consumidos os 
alimentos apresentados na fase de sacrifício ou recebida pelo sacerdote uma 
pequena quantidade de vinho e arroz. 
 
3.2.1 Cerimônias no lar 
 
 Não existe no xintoísmo a obrigação de comparecer frequentemente aos 
cultos sociais, podendo o praticante realizar seus costumes em seu próprio lar. 
 
“Em quase todos os lares existe um pequeno altar chamado kamidana. 
Neste, há objetos simbólicos, como um amuleto para o kami, um pequeno 
espelho, uma vela, um vaso contendo galhos da árvore sakaki. Dá-se início 
ao ritual lavando a boca e as mãos. Em seguida, põe-se um sacrifício diante 
do altar; pode ser algo tão comum como uma tigela com água ou alguns 
grãos de arroz. O suplicante senta ou fica em pé sobre um tapetinho, com a 
cabeça respeitosamente curvada. Após uma pequena oração, ele inclina a 
cabeça duas vezes, bate palmas duas vezes com as mãos erguidas e 
inclina mais algumas vezes a cabeça para finalizar o culto. Todos os 
alimentos que foram oferecidos são depois retirados e comidos à mesa”. 
(CHAGAS, 2011) 
 
3.2.2 Cerimônias nos templos 
 
 Ao contrário do tradicional conceito de templo, segundo Chagas (2011) “o 
templo xintoísta não é um local para pregações, é a morada de um kami”, o lugar 
onde este é representado simbolicamente por um objeto sagrado e cultuado. 
 Os templos xintoístas tem disposição física e estrutural bem semelhante e 
podem ser esquematizados assim: 
11 
 
1. Tori - Portão Shinto, entrada do santuário; 
2. Escadas de pedra 
3. Sando - Abordagem ao santuário 
4. Chōzuya ou temizuya - Fonte de purificação 
para limpar as mãos e boca 
5. Toro - Lanternas de pedra decorativos 
6. Kagura-den - edifício dedicado ao Noh ou a 
dança sagrada kagura 
7. Shamusho - escritório administrativo do 
santuário 
8. Ema - Placas de madeira que carregam 
orações ou desejos 
9. Sessha / Massha - Pequenos santuários 
auxiliares 
10. Komainu - Os chamados "cães-leões", 
guardiões do santuário 
11. Haiden - Oratória ou sala de culto 
12. Tamagaki - cerca em torno do honden 
13. Honden - Salão principal, que consagra o kami 
 
3.3 Símbolos sagrados 
 
 Um templo se torna um local sagrado devido à presença de um objeto ali 
presente que simboliza uma importante divindade. Existem três objetos 
considerados os tesouros mais sagrados do Japão: O espelho, a espada e a joia. 
Estas três relíquias são mostradas em cerimônias oficiais da família imperial. 
Takemussu (1996) as descreve da seguinte maneira: 
 
 O ESPELHO que representa o sol, a bandeira nacional, a capacidade de 
olhar para si; 
 A ESPADA que representa a origem dos samurais que trazem a justiça; 
 A JOIA ORMAMENTAL que representa a riqueza do país e a união entre 
todos. 
12 
 
 
 As três relíquias tem sua significância baseada na mitologia do país. Kuwan 
(2011) resume que a espada foi encontra por Susanowo em uma das caudas do 
gigantesco monstro Yamata-no-Orochi (uma dragão de 8 cabeças), que este matou 
para proteger uma família de camponeses. Susanowo deu a espada de presente a 
sua irmã Amaterasu como forma de se redimir de seus atos maldosos para com ela. 
Os três itens foram dados de presente por Amaterasu à Ninigi, seu neto, quando 
este veio ao mundo dos mortais, para impor-lhe ordem e comanda-ló. O primeiro 
imperador do Japão, Jimmu Tenno (600 a. C.) seria bisneto de Ninigi. 
 Os objetos são passados de geração em geração por ocasião da sucessão do 
imperador. Pelo caráter sagrado das peças, proibi-se que sejam tiradas fotos ou que 
as reproduzam em forma de desenho. As relíquias ficam guardadas, cada qual, em 
um dos três maiores santuários existentes no Japão. 
 Outro símbolo amplamente difundido do xintoísmo à cultura japonesa é o Tori. 
Trata-se de um grande portal construído tradicionalmente em madeira que 
representa a divisão entre o mundo físico e mundo espiritual. Suas Colunas 
representam as pilares que sustentam o céu e suas vigas transversais representam 
a Terra. Todos os santuários xintoístas possuem um tori em suas entradas. Os toris 
não são exclusivamente usados nos santuários ou templos, eles podem ser 
encontrados em vários outros locais públicos e privados. Simbolicamente o tori tem 
por objetivo lembrar cotidianamente todos àqueles que passam por ele que a vida 
material é passageira. 
 
3.4 O Pós-Morte 
 
“As religiões, nas quais a inquietude com o além-vida tem escassa ou pouca 
importância, concentram seus ritos no bem-estar individual e na felicidade 
terrena. Visam uma vida natural harmoniosa dentro do cosmo, às vezes 
povoado por forças e seres espirituais, nem sempre considerados 
divindades, como o xintoísmo. Nessas religiões, a salvação é constituída 
pela harmonia da integração social ou tribal nesta vida, mais do que pela 
preocupação com a existência de um além, não admitido por elas”. 
(AROSIO, 2014) 
 
 Arosio e outros (2014) explicam que a religião xintoísta baseia-se no bem 
estar do hoje, não reconhecendo que existe o “paraíso” após a morte carnal. Explica 
também que a morte acontece quando o shinuru, que significa “o hálito”, sai do 
13 
 
corpo humano. O espírito desencarnado mantém suas recordações e consciência, 
ele continua vivendo no mundo numa situação indefinida, podendo se tornar um 
kami. Aqueles que tiveram uma vida impura vão habitar um tenebroso mundo 
subterrâneo ou se tornam um yomi (espírito do mal). Mas o submundo não é o fim 
eterno como em outras crenças. O espírito que conseguir escapardas trevas deve 
passar por rituais de purificação para retornar a superfície. 
 Criou-se na nação japonesa o entendimento que o mundo material é bom e 
que não existe o pecado no sentido clássico da culpa. Apenas existem as impurezas 
que devem ser purificadas para não sofrer com as influências dos yomis. 
 
4 XINTOÍSMO HOJE 
 
 Estima-se que o xintoísmo possui 120 milhões de praticantes no Japão (cerca 
de 94% da população). É uma quantidade expressiva, mas há de se considerar que 
se incluem neste cálculo aqueles que possuem também outros costumes religiosos, 
não sendo necessariamente o xintoísmo sua religião principal. 
 Existem também sacerdotes que conduzem as cerimônias podendo dedicar 
sua vida ao sacerdócio em tempo integral ou parcial. Estes sacerdotes são 
nomeados pelas organizações religiosas dos templos. No pós-guerra as mulheres 
passaram a ser elegíveis ao sacerdócio. (CHAGAS et al, 2011). 
 Outra característica própria da cultura xintoísta e que por ser uma religião 
étnica japonesa não há o envio de missionários pelo mundo para realizar a 
divulgação e expansão no número de seguidores. 
 Em algumas universidades de cultura xinto-budista, nos cursos que realizam 
experimentos como animais são celebradas cerimônias com intuito de confortar os 
espíritos dos animais mortos. 
 A tabela abaixo mostra um pouco da relação numérica entre templos, 
sacerdotes e seguidores das principais culturas religiosas no Japão. 
 
Item Xintoísmo Budismo Cristianismo Outras 
Santuários, templos, igrejas, outras organizações 88.591 85.439 9.344 38.107 
Religiosos (sacerdotes, ministros, etc.) 76.190 348.662 35.129 216.560 
Membros 102.756.326 84.652.539 2.773.096 9.435.317 
Tabela 1: Instituições religiosas no Japão 
Fonte: Agência de assuntos culturais do Japão, 2012 
14 
 
 
 Percebe-se claramente que as práticas religiosas no país ainda se baseiam 
no xintoísmo seguido de perto pelo budismo. Porém, segundo Arosio: 
 
“Embora o xintoísmo mantenha profunda raiz cultural japonesa, vai 
evoluindo, e essas crenças se reduzem mais a aspectos de um folclore 
histórico para celebrar as festas nacionais, mas deixam, no entanto, um 
vazio na alma japonesa, bombardeada pelo progresso técnico, vertiginoso e 
materialista”. (AROSIO, 2012) 
 
 Bem antes de Arosio (2012), Takemussu e outros (1996) já apontavam 
situações que demonstravam um declínio do xintoísmo. Em especial, citou as 
mudanças socioeconômicas ocorridas na sociedade japonesa moderna e alertou 
que se a religião não mudasse radicalmente a forma de se entender na mitologia, 
ampliasse sua atuação social e não se abrisse para outros povos, estaria fadada ao 
desaparecimento. 
 Apesar de parecer uma religião muito distante do ocidente, o xintoísmo esteve 
muito próximo das crianças brasileiras nos anos 80, 90 e 2000, através dos mangás 
(histórias em quadrinhos) e dos animes (desenhos animados) exibidos 
principalmente pela extinta rede Manchete e também pelas redes Globo de 
televisão, SBT, Bandeirantes e outras emissoras regionalizadas no Brasil ou pelas 
emissoras fechadas. Como alguns exemplos desses animes e mangás podem se 
citados: 
 
 Dragon Ball (1984, Manchete, SBT). A série se baseia na história de um 
menino com força e capacidade de luta fora do comum, que viaja pelo mundo 
procurando as “esferas do dragão” (são sete joias místicas que quando 
reunidas são capazes de invocar um poderoso deus dragão que realiza 
desejos). Durante os dez anos de exibição, o anime revelou muitos elementos 
do xintoísmo como: a descrição do mundo espiritual, a possibilidade de se 
retornar do reino dos mortos, o aparecimento de varias das divindades 
mitológicas da China e do Japão, os cenários mostram subjetivamente 
santuários, altares e símbolos religiosos xintoístas. 
 Yuyu Hakusho (1995, Manchete). O nome pode ser traduzido como “O livro 
em branco do Poltergeist”. Relata a historia de um jovem bad boy que morre 
ao salvar uma criança de um acidente automobilístico. Como sua morte não 
15 
 
era espera pelo mundo espiritual ele recebe a chance de retornar a vida com 
a condição de ser uma espécie de “detetive do mundo espiritual”, combatendo 
youkais (criaturas sobrenaturais) que se infiltrassem no mundo dos humanos. 
 Naruto (1999, SBT). Naruto é um menino que tem o sonho de se tornar o 
ninja mais poderoso e o líder da vila onde vive. É um menino solitário e 
excluído pela sociedade, pois quando era bebê teve aprisionado em seu 
corpo um poderoso youkai que iria destruir a vila onde vive. Durante as cenas 
de combate os lutadores se utilizam de invocações dos elementos da 
natureza para desferir golpes especiais em seus oponentes. Um dos golpes 
mais poderosos do anime baseia-se na invocação de Amaterasu, deusa do 
sol. 
 Earth Girl Arjuna (2001, Animax Brasil). O anime é uma critica em defesa ao 
meio ambiente que é amplamente venerado no xintoísmo, mostrando os 
abusos da sociedade consumista e a “robotização” do cotidiano. A 
personagem principal é a reencarnação da deusa do tempo que pode sentir 
as dores do planeta sendo destruído. 
 InuYasha (2002, Cartoon Network, Globo, Band). O nome pode ser traduzido 
como “Fantástica História do Período Feudal de Inuyasha". Conta a historia 
de um jovem que nasceu da união de uma mulher humana e de um youkai, 
vivendo no período feudal japonês, lutando contra os espíritos malignos e 
protegendo as pessoa que ama. 
 Existem vários outros animes e mangás que relatam a história do Japão e 
introduzem misticamente em seus roteiros elementos de sua cultura religiosa. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Não há como não dizer que a mitologia japonesa é simplesmente belíssima, 
envolvente e que a partir dela o povo japonês evoluiu individual e sócio 
culturalmente. 
 Após compreenderem-se os mitos, a história e a cultura japonesa, pode-se ter 
uma melhor visão do estilo de vida japonês e criar alguns paralelos, como: 
 A adoção do “venerável casal” como principal ponto criacionista do mundo 
remete ao entendimento dos fortes laços familiares existente no japonês 
16 
 
juntamente como o senso de pertencimento, fidelidade e lealdade à 
comunidade em que vive. Demonstra a força que possui o instituto familiar, 
ampliado com a veneração dos antepassados, adotando-os como guias e 
protetores da família. 
 Como o xintoísmo é uma religião politeísta, o pluralismo esta presente no dia-
a-dia, desconsiderando que exista uma verdade absoluta e fazendo com que 
cada indivíduo respeita a opinião e crença alheia, mesmo se os pontos de 
vista sejam vertiginosamente opostos. Roga-se pela coexistência harmônica e 
respeitosa. 
 A característica animista demonstra que o xintoísmo esta muito a frente de 
seu tempo, enquanto hoje, o ocidente inicia um processo de percepção da 
importância do meio ambiente, os xintoístas já o preservavam e entendiam o 
quão importante é cada fagulha de vida e seus inter-relacionamentos. 
 Entender que os kamis não são seres perfeitos ajuda ao praticante a se 
manter vigilante no processo de constante purificação e busca pela paz 
consigo mesmo, com os outros e com o meio em que esta inserido. 
 Como não há dogmatização da religião, o praticante não carrega consigo o 
sentimento de eterna culpa ou sentimento de pecado, que as culturas 
dogmatizadas incutem nas mentes dos seguidores. 
 
 Não é por menos que os japoneses são conhecidos como o um dos povos 
mais inteligentes do mundo, até mesmo nos aspectos religiosos eles exigem de si 
mesmos, uma compreensão do espírito através dos estudos filosóficos. 
 Apesar da grande aceitação do xintoísmo como religião e estilo de vida no 
oriente, ela esta se tornando aospoucos apenas um elemento folclórico e sendo 
esquecida pela modernidade dos mais jovens e morrendo junto com as tradições 
dos mais idosos. Ao contrário do budismo, que tem tido uma melhor aceitação por 
outros povos do mundo. 
17 
 
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<http://www.pime.org.br/mundoemissao/religxintoismosalvacao.htm>. Acesso em: 25 
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Acesso em: 02 mar 14. 
 
ESTRANHO. Mundo. Como é a religião xintoísta. Disponível em: 
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26 fev 14. 
 
JAPÃO, Embaixada do. Japan fact sheet. Disponivel em: <http://www.br.emb-
japan.go.jp/cultura/religiao.html>. Acesso em: 08 mar 14. 
 
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<http://www.culturajaponesa.com.br/?page_id=213> . Acesso em: 02 mar 14. 
 
JOVEM, Jornal Missão. Minha religião: xintoísmo. Disponível em: 
<http://www.pime.org.br/missaojovem/mjregxintodeuses.htm>. Acesso em: 05 mar 
14. 
 
KUWAN, Aoi. Os três tesouros do Japão. 2011. Disponível em: 
<http://aoikuwan.com/2011/04/11/os-tres-tesouros-do-japao/>. Acesso em: 24 mar 
14. 
 
SALGUEIRO, Mauro. O santuário xintoísta in TAKEMUSSU, Instituto. Religião 
xintoísta. 1996 . Disponível em: 
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TAKEMUSSU, Instituto. Religião xintoísmo. 1996. Disponível em: 
<http://www.aikikai.org.br/site.php?pagina=Xintoismo.html>. Acesso em: 28 fev 14. 
 
THEA, Teia de. Amaterasu omi kami: a senhora da luz celestial. 2014. Dispnível 
em: < http://www.teiadethea.org/?q=node/135>. Acesso em: 23 mar 14. 
 
XÍNTOISTA, Templo. O que é xintoísmo. Disponível em: 
<http://temploxintoista.org.br/2013/>. Acesso em: 24 fev 14.

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