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Estudo Dirigido 5 - MA111 A e B - 1S16 Integrac¸a˜o por Partes e Frac¸o˜es Parciais Antes de comec¸ar, vamos introduzir um pouco de notac¸a˜o, nomenclatura e alguns comenta´rios. Nesse cap´ıtulo vamos trabalhar com consequeˆncias do Teorema Funda- mental do Ca´lculo. Por ele, sabemos que se f = g′ para alguma g, ambas definidas no intervalo [a, b], enta˜o∫ b a f = g(b)− g(a). Tambe´m sabemos que, se f for cont´ınua, um exemplo para uma g com tal propriedade e´ F (x) = ∫ x a f = ∫ x a f(t) dt. Isso tudo abordamos com os estudos dirigidos 1 e 2. Pore´m, se pararmos por a´ı, fica um pouco iroˆnico: para obter a inte- gral de f no intervalo [a, b], “basta” voceˆ calcular a integral para o intervalo arbitra´rio [a, x] e depois substituir x = b. O que queremos sa˜o maneiras alternativas de saber todas as func¸o˜es g com a propriedade de g′ = f . De certa forma, queremos falar de uma operac¸a˜o que se comporta como uma in- versa da derivac¸a˜o: na derivac¸a˜o, se uma func¸a˜o f e´ dada por uma expressa˜o, sabemos como obter uma expressa˜o para f ′, a func¸a˜o que a cada valor de x associa a inclinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de f no ponto (x, f(x)). Agora, e´ como se conheceˆssemos essa inclinac¸a˜o para cada ponto e queremos saber a func¸a˜o. Uma primeira noc¸a˜o deve saltar aos olhos: e´ imposs´ıvel obter uma u´nica func¸a˜o. A derivada fala sobre variac¸o˜es. Se conhecermos precisamente todas as variac¸o˜es, ainda assim existira˜o infinitas func¸o˜es g com a propriedade que g′ = f . Por outro lado, ja´ mostramos (usando o Teorema do Valor Me´dio) que se g′ = h′ em um intervalo [a.b], enta˜o h = g+C, para alguma constante C. Assim, a “operac¸a˜o inversa” da derivada, ao inve´s de levar cada func¸a˜o em uma func¸a˜o, leva cada func¸a˜o a uma famı´lia de func¸o˜es: todas as func¸o˜es que, quando derivadas, chegam na func¸a˜o originalmente dada1. Se estamos 1E´ a mesma ideia que, em geral, f−1(b) denota o conjunto das pre´-imagens de b por f , ou seja, todos os valores de x tais que f(x) = b. Apenas se f for 1− 1 e´ que f−1 denota uma func¸a˜o. 1 trabalhando com func¸o˜es definidas em um intervalo, essa famı´lia tem um u´nico paraˆmetro livre: a constante C. O s´ımbolo usual para essa “anti-deri- vada” e´ ∫ f ou ∫ f(x) dx, que deve ser entendido como a famı´lia de func¸o˜es tais que suas derivadas sa˜o dadas por f . Toda func¸a˜o cuja derivada e´ f e´ chamada uma primitiva de f . Assim F e´ uma primitiva de f se F ′ = f e, para func¸o˜es definidas em um intervalo, faz sentido entender que ∫ f = F + C, onde C e´ uma constante, e, em uma notac¸a˜o um pouco misturada2, costu- mamos escrever ∫ f(x) dx = F (x) + C, como, por exemplo, ∫ x2 dx = x3 3 + C. Por fim, ∫ f e´ usualmente chamada integral indefinida de f , enquanto∫ b a f e´ chamada integral definida. Note que, ainda que a notac¸a˜o e a no- menclatura sejam muito parecidas, a segunda vem do conceito de integral de Riemann, enquanto a primeira e´ uma espe´cie de anti-derivada. A relac¸a˜o ı´ntima entre as duas e´ estabelecida pelo Teorema Fundamental do Ca´lculo. Agora ma˜os a massa. Essencialmente, cada propriedade da derivada gera alguma propriedade para a integral. a) Usando que, se f e g sa˜o deriva´veis, (f + g)′ = f ′ + g′, prove uma propriedade ana´loga para ∫ (f + g). Da mesma forma, se a e´ uma constante, o que acontece com ∫ af? b) Vamos agora para a regra de Leibniz: (fg)′ = f ′g + fg′. A partir da expressa˜o equivalente, f ′g = (fg)′− fg′, obtenha uma relac¸a˜o entre as primitivas de f ′g e fg′. 2Pense um pouquinho o que ha´ de misturado nessa notac¸a˜o. 2 c) Conclua, a partir do item b), a relac¸a˜o∫ b a f ′(x)g(x) dx = [f(x)g(x)]ba − ∫ b a f(x)g′(x) dx. O item a) fala da linearidade da integral indefinida. Os itens b) e c) sa˜o chamados integrac¸a˜o por partes3. A primeira vista, estamos “trocando seis por meia du´zia”. Os exemplos a seguir devem desfazer essa impressa˜o. d) Calcule ∫ xex dx. (Sugesta˜o: Considere f ′(x) = ex e g(x) = x na integrac¸a˜o por partes.) e) Calcule ∫ x2ex dx. f) Argumente que se p e´ um polinoˆmio, integrac¸a˜o por partes permite obter ∫ b a p(x)ex dx, bem como ∫ b a p(x) cosx dx e ∫ b a p(x) sen x dx. g) Agora um caso curioso: queremos calcular I = ∫ b a ex cosx dx. Use integrac¸a˜o por partes. Voceˆ deve ter chegado em uma expressa˜o para I que parece pouco estimulante, por ainda envolver uma integral... Insista! Use integrac¸a˜o por partes na integral que ainda fazia parte da sua expressa˜o. Aqui, duas coisas podem acontecer, dependendo de algumas escolhas suas: ou voceˆ obteve algo pouco esclarecedor como I = I (nesse caso, volte na segunda integrac¸a˜o por partes e escolha diferentemente quem chamar de f ′ e quem chamar de g), ou voceˆ chegou em uma equac¸a˜o envolvendo I, que pode ser resolvida! Ja´ deve estar claro que integrac¸a˜o por partes e´ mais interessante do que parece, a` primeira vista. Voceˆ pode testar mais casos, por exemplo, nos exerc´ıcios 3, 13 e 14 do cap´ıtulo 19 do Spivak. Agora vamos pular para uma te´cnica espec´ıfica para func¸o˜es racionais. Lembrando, func¸o˜es racionais sa˜o aquelas da forma r(x) = p(x) q(x) , onde p e q sa˜o polinoˆmios. 3Uma observac¸a˜o sobre notac¸a˜o: [f(x)g(x)] b a = f(b)g(b) − f(a)g(a) denota a variac¸a˜o entre a e b do termo entre colchetes. De fato, a notac¸a˜o mais comum e´f(x)g(x)|ba = f(b)g(b) − f(a)g(a). A escolha pela primeira e´ para deixar mais claro que tudo que esta´ dentro do colchetes deve ser considerado. 3 g) Prove que para mostrar que para toda func¸a˜o racional pode ser ex- plicitada uma primitiva, e´ suficiente mostrar que isso e´ verdade para polinoˆmios p e q com coeficiente l´ıder igual a 1 e com a condic¸a˜o deg(p) < deg(q). (deg(p) denota o grau do polinoˆmio p e func¸o˜es ra- cionais com deg(p) < deg(q) sa˜o chamadas pro´prias, da mesma forma que frac¸o˜es com numerador menor que o denominador sa˜o chamadas pro´prias.) A ideia central no me´todo e´ que, dada uma func¸a˜o racional pro´pria, seu denominador pode ser fatorado e a func¸a˜o reescrita como uma soma de ou- tras func¸o˜es racionais, onde em cada parcela ha´ apenas um dos fatores do denominador como denominador. Vamos nos concentrar aqui nos casos mais simples... Depois voceˆ pode pensar nos casos mais complicados. h) Considere r(x) = ax2 + bx+ c (x− α)(x− β)(x− γ) , onde α, β, γ sa˜o nu´meros re- ais distintos. Mostre que r(x) = A x− α + B x− β + C x− γ , com A,B,C sendo nu´meros reais obtidos como soluc¸a˜o de um sistema de equac¸o˜es lineares obtido a partir da afirmac¸a˜o: dois polinoˆmios reais coincidem se, e somente se, os respectivos coeficientes de monoˆmios de mesmo grau coincidem. Por fim, obtenha uma primitiva para r (su- gesta˜o: deixe essa primitiva em termos dos paraˆmetros A,B,C, α, β, γ.) i) De forma ana´loga, considere r(x) = ax2 + bx+ c (x2 + αx+ β)(x− γ) , onde x 2 + αx+ β e´ um polinoˆmio sem ra´ızes reais. Mostre que r(x) = Ax+B x2 + αx+ β + C x− γ e obtenha uma primitiva para r. Pense um pouco sobre quais outros casos poderiam aparecer e como eles devem ser tratados. Teste e amplie seus conhecimentos sobre frac¸o˜es parciais (como se chama esse me´todo) fazendo o exerc´ıcio 6 do cap´ıtulo 19 do Spivak. 4
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