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A QUÍMICA DA ATMOSFERA DA TERRA A composição do ar Os constituintes maiores Os constituintes menores A água na atmosfera O ciclo dos principais elementos Aerossóis atmosféricos/Processos fotoquímicos As atmosferas dos outros planetas do Sistema Solar. SISTEMAS TERMODINÂMICOS: SISTEMAS ATMOSFÉRICOS • Do ponto de vista da termodinâmica, um SISTEMA é qualquer corpo com uma dada massa e composição em estudo. Todos os outros corpos com os quais o sistema pode interagir é chamado de sua VIZINHANÇA. • Na atmosfera nos tratamos basicamente com dois tipos de sistemas: aquele composto de AR, com uma umidade que vai de 0 a até a saturação, e as NUVENS, composta de ar saturado alem de gotas de água ou cristais de gelo. Trataremos exclusivamente com a TROPOSFERA. • O ar não saturado pode ser considerado como uma mistura de: • a) AR SECO - uma mistura de gases com composição constante, com peso molecular médio de 28,964 g/mol. • b) VAPOR D’ÁGUA – seu conteúdo pode ser expresso, por exemplo, pela pressão de vapor, ou por sua FRAÇÃO MOLAR NV, definido como: • NV = n° de mols de vapor d’água/n° total de mols ≈ n° de mols de vapor d’água/n° de mols do ar seco • Onde a última a aproximação é devido ao fato de que o número de mols do vapor d’água é sempre menor daquele do ar seco. • Tanto o AR SECO como o VAPOR D’ÁGUA, nas condições atmosféricas, e também sua mistura com a umidade do ar, podem ser considerados em uma boa aproximação como GÁS IDEAL. A química da atmosfera A química da atmosfera trabalha com as seguintes questões principais: 1. A composição do ar e a distribuição dos componentes. 2. Fontes e absorvedores dos diferentes componentes, na atmosfera e suas condições de contorno. 3. Evolução da atmosfera (reações químicas). 4. O ciclo e balanço dos principais elementos. A COMPOSIÇÃO DO AR A atmosfera pode ser considerada como composta de: 1) Uma mistura de gases o qual chamamos de ar seco; 2) A água em seus três estados físicos; 3) As partículas sólidas e líquidas em suspensão, conhecidas como aerossóis atmosféricos. Estudo do ar seco • Mesmo considerando que existem muitos componentes no ar seco, vamos considerar com bastante ênfase uma distinção entre os mais abundantes chamados COMPONENTES PRINCIPAIS e os COMPONENTES MENORES que estão presentes na atmosfera apenas como componentes traços. A Tabela 1 lista os constituintes do ar. • Os quatros principais componentes são: • NITROGÊNIO (N2) e o OXIGÊNIO (O2) perfazem mais de 99% do ar seco. • N2 + O2 + Ar (Argônio ) perfazem 99,97 % do ar seco • N2 + O2 + Ar + (CO2) (Dióxido de Carbono) perfazem mais de • 99,997 % do ar seco. • O dióxido de carbono (CO2 ) é variável no solo, devido ao fato desse gás ser afetado por muitos tipos de combustão (incêndios, atividades industriais, etc. ), fotossíntese e trocas com os oceanos, contudo ele é bastante constante acima da camada superficial da Terra. De fato, a composição do ar seco é extraordinariamente constante através de toda a homosfera, indicando que os processos de mistura são muito eficientes. Constituintes menores ou traços • Os constituintes menores, em seu total estão mostrados na Tabela 1, e perfazem menos de 0,003% ou 30 ppm (parte por milhão em volume) do ar atmosférico. Uma concentração > 30 ppm é considerado como constituinte maior e < 30 ppm, constituinte menor. Eles são, contudo, muito importantes no quadro químico da atmosfera, mesmo em problemas de importância prática como aqueles relacionados com a poluição, ou a existência da ozonosfera, que abordaremos adiante. A Tabela 1 os separam em dois grupos: os não – variáveis e os variáveis. Essa divisão será melhor entendida mais adiante. TABELA 1 - CONSTITUINTES DO AR SECO • Principais constituintes (concentração) Tempo de residência • N2 (Nitrogênio) 78,09% 2 x 10 7 anos • O2 (Oxigênio) 20,95% 2 x 10 7 anos • Ar (Argônio) 0,93% 2 x 107 anos • CO2 (Dióxido de Carbono) 0,040% 5 a 10 anos COMPONENTES TRAÇOS • COMPONENTES NÃO VARIÁVEIS COMPONENTES VARIÁVEIS • Ne 18 ppm O3 > 10 ppm • He 5 ppm H2 > 500 ppb • Kr 1 ppm SO2 0,2 ppb (sobre o solo) • Xe 0,09 ppm NH3 6 ppb (sobre o solo) • CH4 1,5 ppm NO2 100 ppb (sobre o solo) • CO 0,1 ppm CH2O 0 – 10 ppb (sobre o solo • H2 0,02 ppm • N2O 0,25 ppm A ATMOSFERA • A atmosfera é uma camada relativamente fina de gases e material particulado (aerossóis) que envolve a Terra. De fato, 99% da massa da atmosfera está contida numa camada de ~0,25% do diâmetro da Terra (~32 km). Essa camada é essencial para a vida e o funcionamento ordenado dos processos físicos e biológicos sobre a Terra. A atmosfera protege os organismos da exposição a níveis arriscados de radiação ultravioleta, contém os gases necessários para os processos vitais de respiração celular e fotossíntese e fornece a água necessária para a vida. A composição do ar não é constante nem no tempo, nem no espaço. Contudo se removêssemos as partículas suspensas, vapor d'água e certos gases variáveis, presentes em pequenas quantidades, encontraríamos uma composição muito estável sobre a Terra, até uma altitude de ~ 80 km (Fig. 1.1 e Tab. 1.1). • O nitrogênio e o oxigênio ocupam até 99% do volume do ar seco e limpo. A maior parte do restante 1% é ocupado pelo gás inerte argônio. Embora estes elementos sejam abundantes eles tem pouca influência sobre os fenômenos do tempo. A importância de um gás ou aerossol atmosférico não está relacionado a sua abundância relativa. Por exemplo, o dióxido de carbono, o vapor d'água, o ozônio e os aerossóis ocorrem em pequenas concentrações mas são importantes para os fenômenos meteorológicos ou para a vida. COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA PRINCIPAIS GASES DO AR SECO GÁS PORCENTAGEM PARTE POR MILHÃO (PPM) NITROGÊNIO (N2) 78,084 780.084,0 OXIGÊNIO (O2) 20,946 209.460,0 ARGÔNIO (Ar) 0,934 9.340,0 DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) 0,040 400,0 NEÔNIO (Ne) 0,00182 18,2 HÉLIO (He) 0,0053 5,3 METANO (CH4) 0,00014 1,4 KRIPTÔNIO (Kr) 0,00012 1,2 ÓXIDO NITROSO (N2O) 0,00005 0,5 HIDROGÊNIO (H2) 0,00005 0,5 OZÔNIO (O3) 0,000010 0,10 XENÔNIO (Xe) 0,000009 0,09 Classificação dos constituintes do ar seco • Várias classificações podem ser feitas para todos os constituintes do ar seco, as quais ilustram os diferentes comportamentos desses constituintes na atmosfera terrestre. • Vejamos algumas classificações: • a) Pela Abundância – Já mencionamos que os quatro maiores constituintes perfazem mais de 99,997% do ar seco, tendo todas as quatro concentrações maiores do 300 ppm. O segundo grupo na tabela, os constituintes menores não – variáveis, estão presentes em concentrações entre 0,1 a 20 ppm. Os componentes variáveis estão todos abaixo de 0,1 ppm (exceto no ar poluído e no ozônio estratosférico). A distinção entre os grupos, em relação às suas abundâncias, são bastantes pronunciadas.Pela Variabilidade • Todos os componentes principais são não – varáveis, como também o primeiro grupo dos constituintes menores na Tabela 1. • Variabilidade é importante porque indica sempre alguns aspectos sobre o comportamento do gás na atmosfera. A variabilidade está ligada à abundância, com a reatividade e com o tempo de residência da molécula na atmosfera. Dessa forma o CO2 é não – variável, a despeito da existência de grandes fontes de produção, devido ao fato do reservatório atmosférico de CO2 ser tão grande que permite apreciáveis flutuações em sua concentração. Os constituintes menores com alta reatividade, tais como SO, NO e NO2, são variáveis porque eles regem rapidamente e sua abundância é baixa. • Nos não mencionamos ainda o vapor d’água na composição do ar atmosférico porque será motivo de discussão à parte. Mas obviamente ele é um componente maior do ar atmosférico, e existe apenas um motivo para sua considerável variação. O vapor d’água está ligado com os processos de condensação e precipitação e, muitas reações de gases altamente reativos podem ocorrer tanto em solução ou com a ajuda do vapor d’água. A evolução desses gases reativos, dos componentes menores variáveis do ar estão sempre aproximadamente ligados com o ciclo da água. Pela Composição Química • Obviamente, esse aspecto está ligado à reatividade e de outras características da composição dos gases. Por exemplo, o completo comportamento inerte dos gases nobres, torna-os permanentes e estáveis, mesmo em baixas concentrações. Os mais relevantes aspectos químicos na atmosfera são concernentes ao enxofre e ao nitrogênio. Os componentes do carbono, aí incluídos alguns componentes orgânicos, são também importantes. Outros componentes, como os derivados halogenados, [derivado halogenado de um hidrocarboneto é quando se substitui um hidrogênio (H) por um halogênio (os mais comuns são o cloro (Cl) e o bromo (Br)), essa reação é chamada de halogenação], é de pouca importância. Pelo Tempo de Residência • Um importante parâmetro para um gás na química atmosférica é a meia vida ( vida média) ou tempo médio de residência τ. Esse parâmetro é usualmente definido como τ = M/F onde M é a média total da massa do gás na atmosfera, enquanto F pode ser tanto a média do fluxo de entrada ou saída do gás (no qual o tempo médio para toda a atmosfera deve ser igual). O termo 1/τ é chamado de a razão de transferência (rate of turnover). Fica claro que se cada molécula do gás fica em média um tempo τ na atmosfera, ela toma um tempo τ para uma completa transferência; e como F é o fluxo que entra, F . τ deverá ser igual à massa total M, daí justificando as definições anteriores. A importância de τ é que ele indica quão ativo um dado gás se comporta através de um ciclo. Se M é pequeno e o gás é muito reativo, τ será pequeno e a concentração será variável, porque ele não terá tempo de se distribuir homogeneamente a partir da localização da fonte. Do ponto de vista do tempo de residência, os componentes do ar podem ser grosseiramente classificados em três categorias: 1) Gases permanentes com grande τ a exemplo do He com τ ≈ 2 milhões de anos. 2) Gases semipermanentes, com τ de alguns meses a anos. Esse é o caso dos quatro gases indicados na Tabela 1, como semipermanentes, os quais têm várias similaridade a despeito de suas diferentes composições químicas. 3) Gases variáveis. São gases com τ com períodos de dias a semanas. Esses são os gases ativos quimicamente, como mostrado no último grupo da tabela. Seus ciclos estão relacionados com o ciclo da água; τ para o vapor d’água é da ordem de 10 dias. Pela origem • A classificação seguinte pela origem dos gases, segue os seguintes casos principais: • Combustão – Natural – exemplo, CO2 • - Antropogênica – exemplo, CO2 , SO2 , NO. • - Processos biológicos (atividade bacterial e fotossíntese) - CH4 , N2O, H2 , NH3 , H2S, NO. • Outras origens, como atividades vulcânicas, são de menor importância. TABELA 2 – SUMÁRIO DAS MAIS IMPORTANTES ESPÉCIES NA QUÍMICA ATMOSFÉRICA • Componentes do S Componentes do N Componentes do C Outros • H2S (R) NH3, NH4 + (R) CH4 (B, NV ) H2 (B, NV) • SO2 (R) N2 O ( B, NV) • SO3, SO4 = (R) NO (R) CO ( B, NV ) O3 NO2 (R ) NO3 - ( R ) CO2 (NV ) Estrutura = componentes envolvidos no mesmo ciclo. R = reativo, dinâmica ligada ao ciclo da água; pequeno τ ; reativo. • B = principalmente biológico • NV = não variável (semi-permanente) SUMÁRIO DOS COMPONENTES MAIS IMPORTANTES DA QUÍMICA ATMOSFÉRICA • Na Tabela 2, está apresentada, de uma forma simplificada, a classificação dos mais importantes componentes a serem considerados na química atmosférica. Nenhuma consideração é feita para o N2 e os gases nobres, devido eles serem inertes, ou para o O2, mesmo que esse gás tome parte nas equações de oxidação. A estrutura da tabela indica os grupos das espécies que estão relacionados uns aos outros pelas reações químicas, de tal forma que eles podem ser considerados juntos em um ciclo. Então, por exemplo, H2S, SO2 e SO3 são três componentes relacionados nas reações de oxidação; quando o SO3 é formado, ele absorverá rapidamente o vapor d’água para produzir H2SO4 , o qual pode se combinar com substâncias básicas dos aerossóis atmosféricos para produzir sulfetos; isso é indicado por SO4 - . Esse grupo de NO, NO2, NO3 - e os NH3 e NH4 + , contêm os gases reativos, de curto tempo de residência, alta variabilidade, baixa concentração e estão relacionados ao ciclo da água. Sumário dos componentes mais importantes na química atmosférica • Fora os gases provenientes do CO2 , os quatro gases formados por eles mesmos na Tabela, o NO2, CH4, CO e H2 apresentam similaridades, como já foi mencionado acima: eles têm pouca reatividade, são relativamente abundantes na atmosfera, e têm dessa forma pouca variabilidade e longo tempo de residência, e seus ciclos são principalmente biológicos (atividade bacteriológica), pelo menos em relação às suas origens. O CO2 é um caso particular, sendo um dos principais constituintes da atmosfera; ele tem seu próprio ciclo separado. • O O3 pode ser considerado à parte, toma parte do ciclo do NO e do NO2, e provavelmente também no ciclo dos componentes do enxofre, como um oxidante. As Tabelas 1 e 2 são complementadas pela Tabela 3, na qual vem sumarizadas as principais fontes e sumidouros dos diferentes componentes. Faremos considerações adiante à sua química e ciclos, contudo daremos atenção primeiro a um constituinte maior e essencial do ar, na qual as suas propriedades e peculiaridades resulta em importantes consequências no comportamento da atmosfera: a ÁGUA. Fontes e sumidouros das mais importantes espécies químicas da química atmosférica Fontes Componentes Sumidouros Componentes do S - Biológica (decomposição H2S → Rainout, washout bacterial da matéria orgânica )Combustão SO2 → Absorção pelas plantas Spray do mar SO4 = Componentes do N – Biológica → NH3 , NH4 + → Rainout, washout Bactéria no solo → N2O → Bactéria no solo Decomposição na Estratosfera Biológica, combustão → NO, NO2, NO3 - → Rainout, washout Componentes do C - Biológica ( arrozais, pântanos) → CH4 → Oxidado no solo, decomposição na estratosfera (10%) Gás natural → Fotossínteses por micro-organismos → CO → Bactéria no solo no mar e biosfera terrestre Reação na estratosfera Combustão → CO2 → Fotossíntese e CaCO3 nos Respiração oceanos Bactérias (decomposição da matéria orgânica) Outros Biológica (decomposição da matéria orgânica) → Atividade bacterial. A ÁGUA • O ciclo da água está ligado aos processos mais importantes da atmosfera: • 1) A condensação e a evaporação da água resulta em importantes consequências para os processos termodinâmicos da atmosfera e para a estabilidade vertical da atmosfera. • 2) A água é, obviamente, essencial na formação das nuvens e no desenvolvimento da precipitação. • 3) O ciclo da água é importante na limpeza da atmosfera através de dois processos: • RAINOUT – Este é o nome dado a um processo de remoção de substâncias ocorrendo dentro da nuvem. O processo principal é a participação dos aerossóis higroscópicos na formação das gotas de nuvens (núcleos de condensação de nuvens). Muitas dessas gotas de nuvens tornam-se gotas de chuva ou outros elementos da precipitação e dessa forma são levadas ao solo. Outros processos de menor importância, como captura de pequenas pelas gotas, devido ao movimento Browniano , podem contribuir pra o rainout . Podemos definir ainda como, a remoção de material particulado da atmosfera para a formação de gotas de nuvens sobre a partícula e agem como núcleos de condensação, seguida pela precipitação. Esse é geralmente um mecanismo mais efetivo na remoção de partículas da atmosfera do que o washout. A ÁGUA • WASHOUT – Esse é o nome dado ao mecanismo diretamente envolvido na eliminação dos gases pela dissolução das partículas de aerossóis através da captura pela queda da gota d’água. O washout inclui os processos ocorrendo abaixo da nuvem. Ou é o mecanismo de remoção dos aerossóis em uma camada da atmosfera pelo impacto com as gotas de chuva em queda para o solo. • 4) A água está diretamente envolvida na química da atmosfera tanto como vapor d’água participando nas reações químicas ou através de reações de outras substâncias que ocorrem em soluções aquosas. • 5)Tanto o vapor d’água quanto as nuvens contribuem com enorme importância na transferência de radiação através da atmosfera. • A água também pode ser usada como um indicador da circulação na estratosfera. A composição isotópica da água (conteúdo em HDO16 ou em H2O 18 ) pode ser usados como traçadores no estudo de certos processos atmosféricos. A ÁGUA • Considerações sobre a água na atmosfera é dessa forma de importância fundamental. Contudo não abordaremos ainda o ciclo hidrológico e faremos considerações apenas à distribuição vertical do vapor d’água na troposfera e estratosfera. • A concentração do vapor d’água é muito variável e a despeito da grande massa de água contida na atmosfera, seu tempo de residência é muito curto; ele pode ser estimado como aproximadamente em 10 dias. Ele tem, para qualquer temperatura, um elevado limite de concentração de vapor d’água no ar; isso é dado pela pressão parcial que o satura. Por definição, essa pressão de saturação de vapor é a pressão parcial de vapor na qual o vapor d’água pode coexistir em equilíbrio com a água no estado líquido. Ela é praticamente independente da presença e pressão do ar seco. Pode-se derivar, termodinamicamente, que a dependência da pressão de saturação do vapor com a temperatura é dada pela expressão: • • d ln ps /dT = lv Mv/RT 2 • Conhecida como equação de Claussius – Clapeyron, onde ps = pressão de vapor de saturação de vapor, T = temperatura absoluta, lv = calor latente de vaporização, Mv = peso molecular do vapor d’água, R = constante dos gases. lv varia com T, mas não muito; se em uma primeira aproximação a consideramos como uma constante. Podemos então, integrar a equação acima, resultando em: • ps = const. X exp (-lv Mv/RT) • • O qual indica um crescimento muito rápido de ps com a temperatura.Uma imediata consequência dessas propriedades é que apenas nas camadas baixas e quentes da troposfera pode conter altas concentrações de vapor d’água. Nas regiões frias das altas camadas (onde são sempre frias), o vapor d’água é abruptamente limitado pelo valor de saturação. Distribuição do vapor d’água na troposfera e estratosfera • Vamos considerar agora a distribuição vertical do vapor d’água na troposfera e estratosfera em médias latitudes. As medidas na estratosfera podem ser obtidas por diferentes métodos, incluindo a determinação do ponto de orvalho (ver Capítulo IV) em voos, espectroscopia e determinação do ponto de orvalho por radiossondas. Contudo estes métodos de medidas têm sido objetos de controvérsias, agora bem estabelecido que umidades muito baixas existam na baixa estratosfera em médias latitudes. Esta situação está sumarizada esquematicamente na Figura 2, onde uma curva aproximada (linha cheia) sugerida por um número de casos é desenhada, indicando uma variação da umidade com a altura. A variação da umidade é aqui chamada de razão de mistura de massa, definida como a massa (em gramas) do vapor d’água por unidade de massa (kg) do ar seco; a vantagem desta variável estequiométrica é que ela não depende de mudanças na pressão ou em qualquer processo não envolvendo condensação. Desta forma, se tivesse uma troca ativa de ar através da tropopausa, a razão de mistura poderia permanecer o mesmo valor acima da tropopausa, porque nesta região a temperatura não decresce mais com a altura e desta forma nenhuma condensação poderá ocorrer. A curva de temperatura pode também ser indicada (linha pontilhada) para a região de interesse. A característica interessante desse gráfico são os extremamente baixos valores da umidade na baixa estratosfera, com abrupto decréscimo continuadoabaixo da tropopausa. Uma terceira curva (tracejada) dá a umidade em termos do ponto de congelamento, o qual pode ser definido como a temperatura no qual a umidade corresponde à saturação sobre o gelo, para aquela pressão local: ver Capítulo IV parágrafo 4. Nos vimos que a umidade decresce de uma razão de mistura de mais ou menos 0.012 g/kg (ou a um ponto de congelamento de -66 oC) na tropopausa para mais ou menos 0.0025 g/kg (ou abaixo de - 80o C) a poucos quilômetros acima. Este é um resultado surpreendente, indicando que o ar na baixa estratosfera não pode vir da troposfera por trocas através da tropopausa. Distribuição do vapor d’água na troposfera e estratosfera • Para entender o significado dessas observações, vamos voltar à distribuição vertical de temperatura na troposfera e estratosfera, com alguns detalhes a mais. A Figura 3 mostra a distribuição média da temperatura para • Regiões polares - inverno e verão • Regiões temperadas - inverno e verão • Regiões tropicais - (sem diferenças entre inverno e verão) • O gráfico mostra que a tropopausa (mudança brusca no comportamento da temperatura) é muito mais alta nos trópicos, e desta forma, e a despeito de começar em temperaturas superficiais altas, a temperatura alcança valores muito baixos - uma temperatura de - 80o C a mais ou menos 17 km de altura. Também, a estratosfera polar no verão tem suas mais altas temperaturas. Em relação ao vapor d’água, no qual indica que o ar na estratosfera nas latitudes temperadas deve vir da troposfera através da tropopausa tropical, no sentido de explicar seu conteúdo muito baixo de vapor d’água; através dessa região, o vapor d’água se condensará em cristais de gelo, os quais irão cair e deixará o ar com uma pressão de vapor de saturação correspondente ao gelo a - 80oC. Existe, no entanto, uma circulação meridional na estratosfera, partindo dos trópicos através de altas latitudes. Isto é mostrado esquematicamente na Figura 4. A COMPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO UMA FUNÇÃO DA ALTURA • Na ausência de fontes e sumidouros, a proporção dos vários constituintes gasosos em qualquer nível na atmosfera é determinada por dois processos físicos antagônicos: difusão molecular e mistura devido aos movimentos dos fluidos. • A difusão por movimento aleatório molecular tende a produzir uma atmosfera no qual o peso molecular médio da mistura de gases gradualmente decresce com a altura ao ponto onde apenas os gases mais leves (hidrogênio e hélio) estarão presentes nas altitudes mais elevadas. De fato, cada constituinte gasoso comporta-se como se ele estivesse sozinho presente. A densidade de cada gás cai exponencialmente com a altura, como indicado na equação ρ (z) ≈ ρ(0) exp (─ z/H), contudo a escala de altura H é diferente para cada gás. A densidade das gotas dos gases mais leves diminui mais vagarosamente do que aqueles dos gases mais pesados, com a escala de altura sendo inversamente proporcional ao peso das moléculas. • Devemos enfatizar que a atmosfera é notavelmente fina em comparação com a dimensão da terra. Metade da massa da atmosfera está abaixo do nível de 500 mb de pressão, o qual está situado grosseiramente a 5,5 km acima do nível do mar (menos do que 0,001 do raio terrestre), e 99% da massa da atmosfera está contida abaixo dos 30 km acima do nível do mar. • Em contraste com a difusão molecular, a mistura devido aos movimentos de macro-escala de parcelas do ar não é tratada diferentemente com base no peso molecular. Dentro dos níveis onde esses processos são dominantes, a composição da atmosfera tende a ser independente com a altura. • A relativa efetividade da difusão molecular aumenta em proporção à velocidade quadrática média dos movimentos moleculares aleatórios, e, do livre caminho médio entre as colisões. A dependência da taxa de difusão do livre caminho médio está também implícita no processo de separação dos sexos enquanto buscam seus respectivos banheiros durante o intervalo de um concerto. Quanto mais está superlotado o “lobby” (isto é, menor livre caminho médio), menor é a taxa com que se dá a separação. Na mistura por movimento do fluido o análogo do livre caminho médio é o “comprimento de mistura” que depende do espectro de escalas de movimentos presentes na atmosfera. A COMPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO UMA FUNÇÃO DA ALTURA Dos vários fatores que influenciam a eficácia da difusão molecular e a mistura do movimento do fluido, é de longe o mais importante o crescimento do livre caminho médio com a altura. Na baixa atmosfera o livre caminho livre é tão pequeno que o tempo requerido para a separação vertical entre os constituintes pesados e leves pela difusão molecular é de muitas ordens de grandeza daquele tempo necessário para o movimento turbulento do fluido para homogeneizá-lo. Próximo de uma altitude de 100 km os dois processos, isto é, difusão molecular e movimento turbulento, são de importância equivalente, enquanto bem acima de 100 km a mistura vertical dos constituintes da atmosfera é essencialmente controlada pela difusão molecular. O nível de transição de mistura turbulenta para difusão molecular é conhecido como turbopausa. Com o propósito de descrever a composição atmosférica a região de mistura bem homogenia abaixo da turbopausa é conhecida como a homosfera; a região acima é chamada de heterosfera. A composição da parte mais baixa da heterosfera é fortemente influenciada pela fotodissociação do oxigênio diatômico, o qual libera um grande número de átomos de oxigênio livre. Acima de 120 km de altura o oxigênio está na forma de oxigênio atômico. A produção do oxigênio atômico será abordada adiante quando falarmos sobre o ozônio. O OXIGÊNIO ATMOSFÉRICO E A VIDA • Como o oxigênio é muito importante para vários processos atmosféricos e a vida, teceremos alguma consideração sobre essa importe substância. • Existem pelo menos duas possíveis fontes para o oxigênio atmosférico: a dissociação da água, • • 2H2O → 2H2 + O2 (1.1) • e a reação de fotossíntese, • H2O + CO2 → CH2O + O2 (1.2) • • Ambas as reações envolvem a radiação solar; (1.1) requer radiação ultravioleta e a (1.2) requer radiação visível. • É bem estabelecido que a reação de fotossíntese (1.2) tem produzido significante quantidade de oxigênio sobre a terra muito mais, de fato, do que a quantidade atualmente presente na atmosfera, como é observada que para uma molécula de oxigênio diatômico produzido na reação (1.2) uma molécula de carbono é incorporada nos componentes da matéria orgânica. A maior parte desses átomos de carbono são oxidados novamente na respiração ou no decaimento da matéria orgânica, • • CH2O + O2 → H2O + CO2 (1.3) • • Contudo para algumas poucas centenas ou milhares de moléculas de carbono foto sintetizados, uma molécula escapa da oxidação sendo enterrada ou “fossilizada”. A maioria do carbono terrestre não oxidado está contida nos folhelhos, enquanto menor quantidade é armazenada em formas mais concentradas em combustíveis fósseis como o carvão, petróleo e gás natural. Uma relativamente e pequena armazenagem de carbono orgânico na biosfera representa uma diminuta fração do total armazenada. O OXIGÊNIO ATMOSFÉRICO E A VIDA • A queima de combustíveis fósseis anula o trabalho da fotossíntese. Na presente taxa de consumo de combustíveisfósseis, que o homem queima em um ano, é equivalente ao que a fotossíntese leva para produzir em aproximadamente em mil anos. Essa razão de consumo parece menos alarmante quando se leva em consideração que a fotossíntese tem trabalhado por centenas de milhões de anos. Podemos ainda levar em conta o fato de que o total do carbono orgânico na crosta terrestre esta armazenada em uma forma muito diluída para o homem poder explorá-la. • A quantidade de oxigênio que é produzido pelas plantas, isto é, pela fotossíntese subtraindo aquela destruída pelo decaimento da matéria orgânica, durante a história da terra, apenas uma pequena parte de cerca de 10%, está atualmente armazenada na atmosfera. A maior parte do oxigênio reagiu formando óxidos tais como o Fe2O3 e em compostos carbonáticos como o CaCO3 e MgCO3 existentes na crosta terrestre. A formação dos compostos carbonáticos é de particular interesse desde que ele é o maior absorvedor do gás carbônico que foi liberado pelas atividades vulcânicas. O SISTEMA SOLAR ATMOSFERAS PLANETÁRIAS PLANETAS INTERIORES ou ROCHOSOS PLANETAS PRINCIPAIS CONSTITUINTES PERCENTAGEM GÁS (%) SATÉLITES MERCÚRIO Atmosfera extremamente rarefeita Contem moléculas de: Oxigênio (42%), gás sódio (29 %), hidrogênio (22%), hélio (6%) e potássio (0,5%) Não tem nenhum VÊNUS Dióxido de Carbono; Nitrogênio. CO2 (96,5%), N2 (3,5%) Não tem nenhum TERRA Nitrogênio, Oxigênio, Argônio e Dióxido de Carbono. N2 (78,08%) O2 (20,95%) Ar (0,93%) CO2 (0,039%) 1 Lua MARTE Dióxido de Carbono, Nitrogênio, Argônio. CO2 (95,3%), N2 (2,7%), Ar (1,6%) 2 Deimos e Fobos PLANETAS EXTERIORES JÚPITER Hidrogênio, Hélio H2 (75%) He (24%) 63 Principais: Io, Europa; Ganimedes e Calisto. SATURNO Hidrogênio, Hélio H2 (93,2%) He (6,7) 60 Principais: Titã (tem atmosfera); Enceladus; Mimas; Iapetus, Dione; Rhea; Tethys URANO Hidrogênio Hélio Metano H2 (82,5%) He (15,2 %) CH4 (2,3) 27 Principais: Ariel, Umbriel, Oberon, Miranda e Titânia NETUNO Hidrogênio Hélio Metano H2 (80%) He (19%) CH4 (vestígios) 13 Principais: Tritão e Nereida PLANETAS ANÕES (PLANETAS TRANSNETUNIANOS - CINTURÃO DE KUIPER) (Menos Ceres) PLANETAS ANÕES PRINCIPAIS CONSTITUINTES PERCENTAGEM GAS (%) SATÈLITES CERES Possivelmente está circundado por uma atmosfera tênue de vapor de água e gelo em sua superfície. ? 0 PLUTÃO Nitrogênio (99,97%), metano e monóxido de carbono na superfície. ? 3 Caronte, Nix e Hydra ERIS (Plutoide) Gelo e metano congelado na superfície. ? 1 Disnomia MAKEMAKE (Plutoide) Não conhecido ? Não possui satélites conhecidos. HAUMEA (Plutoide) Gelo de água cristalina na superfície. ? 2 Namaka e Hi´iaka PLANETAS ANÕES CINTURÃO DE KUIPER • O planeta anão CERES, não faz parte do Cinturão de Kuiper e sim do Cinturão Principal de Asteroides, está em média a 415 milhões de km do Sol, entre Marte e Júpiter. Desde 2006, Ceres deixou de ser asteroide e passou a ser chamado de planeta anão. Sua forma é quase esférica, bem diferente daquela exibida pelos asteroides, como Juno, Palas, Gaspra, Mathilde, Eros e Ida. Um ano de Ceres corresponde a 4,6 anos terrestres. Ceres é pequeno. Seu diâmetro é de apenas 950 km. Mas é, de longe, o maior objeto do Cinturão de Asteroides. Um terço (1/3) da massa total dos objetos, que estão no Cinturão de Asteroides, pertence à Ceres. • O planeta anão PLUTÃO é pequeno. Ele tem apenas 2/3 do diâmetro da nossa Lua. Um dia em Plutão corresponde a 6,387 dias terrestres, mas um ano lá corresponde a 247,9 anos terrestres. Plutão está a aproximadamente a 5, 906 bilhões de km do Sol. Plutão tem três satélites. Caronte, Nix e Hydra. Caronte tem um diâmetro de 1.186 km, um pouco maior a metade do diâmetro de Plutão, que é de 2.390 km. Plutão era o deus romano do submundo, o reino dos mortos. Caronte era o barqueiro que levava as almas dos mortos para o submundo. Nix era a deusa grega da escuridão e da noite. Hydra era o monstro que guardava as águas do submundo. • O planeta anão ERIS está em média a cerca de 10 bilhões de km do Sol. Tem um diâmetro de cerca de 2400 km, ou seja, um pouco maior do que Plutão. Um ano em Eris equivale a 557 anos terrestres. A temperatura em sua superfície varia de -217 a -243 graus Celsius. Eris tem um satélite, cujo nome é Disnomia. • O planeta anão MAKEMAKE tem um diâmetro de cerca de ¾ o de Plutão. Está a 7,930 bilhões de km do Sol. Não tem satélite conhecido. • O planeta anão HAUMEA está a 7,708 bilhões de km do Sol. Possui dois pequenos satélites naturais, Hi´iaka e Namaka, que, acredita-se, sejam destroços que se separaram de Haumea devido a uma antiga colisão. É um plutoide com características pouco comuns, tais como a rápida rotação, elongação extrema e albedo elevado, devido a gelo de água cristalina na superfície.
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