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DIREITO CAMBIARIO

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	Direito Cambiário
Conceito – É um conjunto de normas que regularizam as relações jurídicas entre pessoas vinculadas por uma operação de natureza cambial.
Uma pessoa física ou jurídica, para adquirir um determinado bem a prazo, depende da confiança de que goze em face ao vendedor por sua capacidade financeira de adimplir, no vencimento, a obrigação pecuniária assumida quando da compra, pois, em suma, o que de fato ocorre na venda a prazo é a troca de uma mercadoria atual e presente, que é vendida, pela promessa, futura, de pagamento do respectivo preço.
A venda a prazo tem fundamento na noção de crédito, onde implícitos estão os elementos confiança de quem aceita em troca de sua mercadoria ou de seu dinheiro a promessa futura de pagamento e tempo que consiste no prazo que medeia entre a prestação atual e a prestação futura, tudo de forma a autorizar a conclusão “que a troca de um valor atual, presente e certo, por um valor ausente, futuro e incerto é o fator técnico econômico gerador dos títulos de crédito próprios, destacando-se, ainda, que por decorrência deste mesmo fenômeno o vendedor-credor terá, assim, em seu poder, substituindo o bem corpóreo que vendeu, ativo que lhe integrava o patrimônio, um título cambial de emissão do comprador devedor.”
	Passo seguinte deste fenômeno econômico, quem vendeu e em troca recebeu como promessa de pagamento no futuro um título de crédito, necessitando também honrar seus compromissos, transfere a propriedade do documento em dação em pagamento, em garantia de operação financeira, transformando, de imediato, o título em dinheiro. Esta operação apenas será possível se os títulos cambiais tiverem disciplina especial.
E para que tudo isso seja possível, o Direito Cambiário deixa patente e indiscutível que:
A) - O direito não existe sem o documento que o materializa. 
B) - O direito não se transmite sem que o documento seja transferido.
C) - O direito não pode ser exigido sem a exibição e a entrega do título ao devedor que satisfez a obrigação nele prometida.
D) - O adquirente do título não é sucessor do cedente na relação jurídica que o liga ao devedor, mas investe-se do direito constante do título, como credor originário e autônomo, sendo inoponíveis as defesas pessoais do devedor contra os seus antecessores na propriedade do título, o que só se tornou possível com a aceitação e o aperfeiçoamento dos atributos e predicados do Direito Cambial.
Os atributos e predicados do Direito Cambial, passa ele próprio a ser título de crédito, vivendo para circular sem entraves ou perigos da cessão de crédito do direito comum, cumprindo observar que, neste passo, sendo a confiança em determinada pessoa a própria caracterização do Crédito, portanto personalíssimo, transformado em título, adquire natureza de coisa ou bem móvel, passando, assim, a preponderar não mais o elemento pessoal, mas o real, traduzido no título, razão pela qual as normas devem procurar resguardar a circulação cambiária e o terceiro de boa-fé, de conformidade com o princípio filosófico jurídico da certeza e da segurança, que apenas se logrará obter se o legislador, a doutrina e a jurisprudência prestigiarem os seis atributos ou predicados dos títulos cambiais, ou seja:
a) PREDICADO DO FORMALISMO – ou do rigor formal – o título deve ser criado com rigorosa obediência à forma que a lei lhe exige.
b) PREDICADO DA LITERALIDADE – o título é auto-suficiente para provar os direitos cambiários, eis que contém tudo que necessário ao exercício do direito nele contido ou seja, “o teor do título fixa a medida e os limites da responsabilidade do subscritor.” 
c) PREDICADO DA INDEPENDÊNCIA – o título basta-se a si mesmo, sem necessidade de apelo de outros elementos;
d) PREDICADO DA INCORPORAÇÃO – o direito incorpora-se ao documento, ou seja, quando falamos de incorporação do direito ao título, empregamos uma expressão puramente metafórica, querendo dizer que o título – como coisa corpórea – é o direito documental – como coisa incorpórea – ainda que sejam coisas distintas, se apresentam no mundo jurídico comercial como se fora uma coisa única.
e) PREDICADO DA AUTONOMIA – as obrigações cambiais são autônomas e independentes umas das outras, daí porque o título é invulnerável às exceções oponíveis aos possuidores anteriores do título, o que se explica e se justifica pelo fato de o possuidor ser investido de direito próprio, originário, ficando imune às exceções oponíveis aos precedentes possuidores.
f) PREDICADO DA ABSTRAÇÃO – significa que a exigibilidade do título e o exercício do direito nele contido ou incorporado independe do negócio subjacente que lhe deu origem.
É inegável que a emissão do título pressupõe sempre uma relação fundamental, um negócio subjacente, uma causa, um mútuo consenso entre devedor e credor originários, que pode ter por objeto um contrato de compra e venda, de promessa de compra e venda, de cessão de direitos, de mútuo, de prestação de serviço, de fornecimento, etc.
Entretanto, o negócio fundamental (a compra e venda, o mútuo) e o negócio abstrato (a cambial) apresentam-se em planos diferentes, independentes um do outro. O negócio fundamental rege-se pelas regra do direito comum. Na discussão do negócio fundamental as partes podem tudo alegar e requerer na defesa de seu direito. No negócio abstrato, entretanto, seguem-se as normas do Direito Cambiário, onde os litigantes sofrem sérias limitações legais na dedução de sua defesa.
	
	TÍTULOS DE CRÉDITO
“É o documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado”. 
Suas principais características são: 
• literalidade: somente será considerado o que nele esti​ver escrito; 
• cartularidade: é documentado por uma cártula (pa​pel); para o possuidor exercitar os direitos decorrentes do crédito, é necessário sua apresentação; 
• autonomia: representa uma independência nas rela​ções obrigacionais que se firmam no próprio título. 
Classificação dos títulos de crédito 
1. Quanto ao modelo: 
a) livres: não existe um padrão definido para sua confec​ção, podendo ser emitidos de forma livre, observados os requisitos da lei (ex.: nota promissória e letra de câmbio); 
b) vinculados: a lei atribuiu um padrão específico, não permitindo sua livre confecção (ex.: cheque e duplicata). 
2. Quanto à estrutura: 
a) promessa de pagamento: o título apresenta duas rela​ções jurídicas, o emitente - sacador - e o beneficiário - tomador (ex.: nota promissória); 
b) ordem de pagamento: título em que há três relações jurídicas: a do sacador - que dá a ordem; a do sacado - destinatário da ordem; e a do tomador - beneficiário da ordem (ex.: cheque e duplicata). 
3. Quanto à emissão: 
a) não causais: títulos cuja criação independe de uma ori​gem específica (ex.: nota promissória e cheque); 
b) causais: necessitam de uma origem para sua criação (ex.: duplicata mercantil). 
4. Quanto à circulação: 
a) ao portador: titulos em que o emitente não identifica seu beneficiário: encontram-se praticamente abolidos desde o início dos anos 90; 
b) nominativos: títulos em que o emitente identifica o beneficiário, registrando-o em livro próprio (ex.: ações nominativas das S/A); 
c) à ordem: títulos passíveis de endosso, em branco (lança-se a assinatura sem indicar a favor de quem se endossa) ou em preto (endosso com indicação do nome do beneficiário). 
	LETRA DE CÂMBIO
Regulada pela Lei 57.663/66 e parcialmente pelo Decreto 2.044/08 (Lei Uniforme), é uma ordem de paga​mento à vista ou a prazo pela qual o sacador dirige-se ao sacado para que este pague determinada importância a uma terceira pessoa. 
São partes da letra de câmbio: o sacador - aquele que dá a ordem para pagamento; o sacado - a quem a ordem é dirigida; o tomador - o beneficiário da ordem. 
Peculiaridades que envolvem as declarações cambiárias:
Aceite - A letra de câmbio é uma ordem de pagamentodada pelo sacador em face do sacado. E este não é obriga​do a obedecer à ordem contra sua vontade; somente após o ato do aceite o sacado estará vinculado ao cumprimento da obrigação cambial. 
Endosso - E o ato cambial pelo qual O credor de um titulo de crédito com cláusula "à ordem" transfere seus direitos a uma terceira pessoa. Dessa forma, produzem-se dois efeitos: transferência e coobrigação. O endosso pode ser em branco ou em preto, devendo ser puro e simples, sendo nulo o endosso parcial (art. 12, LU). 
Cessão de crédito - O portador do titulo cambial pode não permitir sua circulação por endosso, inserindo, assim, cláusula "não à ordem". Contudo, o título ainda poderá circular, utilizando-se da cessão civil, em que o cedente transfere o crédito a um terceiro, o cessionário. 
Aval- É o ato cambial pelo qual o avalista se compro​mete a garantir o pagamento do título de crédito em favor do avalizado. Ao contrário do endosso, o aval pode ser total ou parcial, isto é, o avalista garante o pagamento de toda a importância avalizada ou apenas de uma parte. 
Vencimento - E o ato cambial pelo qual se opera a exi​gibilidade da letra, podendo ocorrer: à vista - quando o sacado recebe o título, devendo honrar, imediatamente, a obrigação; a certo termo da data - o vencimento come​çará a ser contado da emissão da letra; a certo termo da vista - o prazo para contagem do vencimento ocorrerá somente a partir do visto ou do aceite do sacado; a dia certo - quando as partes estipulam um dia certo e deter​minado para seu vencimento. 
A falta ou recusa de aceite, a falência do sacado ou a falência do aceitante poderão ensejar seu vencimento por antecipação. 
Protesto - É o ato solene e formal pelo qual se com​prova o descumprimento de uma obrigação. Encontra-se regulado pela Lei 9.492/97. Os prazos para protesto da letra de câmbio poderão variar conforme a obrigação assumida pelo devedor: por falta de aceite - a letra deve ser entregue a protesto, findo o prazo de apresentação para aceite, ou no dia seguinte, se o sacado a recebeu para aceite; por falta· de pagamento - a letra deve ser apresentada a protesto no prazo de dois dias úteis após seu vencimento. 
Ação cambial e prescrição - A ação cambial é um meio processual pelo qual o credor visa a satisfazer os direitos decorrentes de um título. O portador da letra deverá ingressar com a ação cambial em tempo hábil, sob pena de supressão do direito pelo decurso do tem​po. Assim, o prazo prescricional será: contra o aceitan​te e seu avalista, de três anos, a contar do vencimento; contra os endossantes e seus avalistas e contra o saca​dor, de um ano, a contar do protesto; dos endossantes, uns contra os outros, e contra o sacador, de seis meses, a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado. 
	NOTA PROMISSÓRIA
É uma promessa direta de pagamento dada pelo deve​dor em favor do credor. Quando emitida, enseja duas relações jurídicas: emitente ou sacador - aquele que se compromete a pagar; beneficiário ou tomador - aquele a quem assiste o direito de receber. Aplica-se à nota promis​sória a legislação da letra de câmbio, no que couber. 
Prazos para apresentação - A letra deve ser apresenta​da a protesto no prazo de dois dias úteis após seu vencimen​to. A inobservância do prazo acarretará a perda do direito contra os coobrigados, endossantes e seus avalistas. 
Ação cambial e prescrição - O prazo prescricional para a propositura da ação cambial da nota promissória será: contra o emitente e seu avalista, de três anos, a con​tar do vencimento; contra os endossantes e seus avalistas, de um ano, a contar do protesto; dos endossantes, uns con​tra os outros, e contra o emitente, de seis meses, a contar do dia em que o endossante pagou a nota. 
	CHEQUE
É uma ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco, mediante fundos disponíveis do emitente, em po​der do sacado, provenientes de depósito ou de contrato de abertura de crédito. Previsto na Lei 7.357/85 (Lei do Che​que), estabelece as seguintes relações jurídicas: sacador ou emitente - aquele que dá a ordem; sacado ou banco - a quem a ordem é dirigida; tomador ou portador - o beneficiário da ordem. 
Aceite - O cheque não admite aceite, apesar de ser urna ordem de pagamento, uma vez que o banco (sacado) não é o devedor da relação jurídica. 
Endosso - Assim como na letra de câmbio e na nota promissória, o cheque admite endosso e produz os mes​mos efeitos já vistos.
 
Aval - O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo pelo signatário do título.
 
Modalidades - Cheque visado - o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lança e assina, no ver​so do título, visto, certificado ou declaração de suficiência de fundos para fins de liquidação (só pode ser emitido de forma nominativa e não endossável - art. 7.°, LC); cheque administrativo - é emitido pelo próprio sacado para liqui​dação em uma de suas agências; cheque cruzado - tem dois traços transversais e paralelos no anverso do título (art. 44, LC); cheque para se levar em conta - o emitente ou por​tador legitimado proíbe o pagamento do título em dinheiro, mediante inscrição transversal, no verso do título, da cláusu​la "para ser creditado em conta", ou outra equivalente.
 
Prazo para apresentação - O cheque deve ser apre​sentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 dias, quando emitido na mesma praça, e 60 dias, quando emitido em praça diversa ou no exterior.
 
Prazos para protesto - O cheque deverá ser apresen​tado para protesto a cartório no prazo de 30 dias, a contar da emissão, quando emitido na mesma praça, e 60 dias, em praça diversa.
 
Ação cambial e prescrição - A ação de execução do che​que prescreve em seis meses, contados da expiração do prazo de apresentação (art. 59, LC). Por sua vez, a ação de regres​so de um obrigado ao pagamento do cheque contra o outro prescreve em seis meses, contados do dia em que o obrigado efetuou o pagamento ou do dia em que foi acionado.
	DUPLICATA
 
Título de crédito de origem brasileira. Regulada pela Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas), tem a finalidade de documentar as operações mercantis. E um título causal, pois só pode ser emitida para documentar uma compra e venda mercantil ou uma prestação de serviço. Repre​senta uma ordem de pagamento que estabelece as seguin​tes relações jurídicas: sacador ou vendedor; sacado ou comprador; tomador ou vendedor.
 
Aceite - A duplicata deverá ser enviada ao sacado para aceite, reconhecendo a exatidão das informações e da obrigação de pagar. O aceite é obrigatório; o devedor se obriga ao pagamento ainda que não assine a letra. O prazo para remessa da duplicata será de 30 dias, contados da emissão, quando emitida pelo próprio sacador. O com​prador poderá liberar-se da obrigação de aceitar somente nas hipóteses previstas no art. 8.° da LO: avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; vícios, defeitos e dife​renças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
 
Endosso - A duplicata circula livremente, isto é, admite endosso e produz os mesmos efeitos da legislação cambiaria.
 
Aval - O pagamento da duplicata poderá ser assegura​do por aval, sendo o avalista equiparado aquele cujo nome indicar.
 
Prazo para protesto - A duplicata será entregue a car​tório para protesto dentro de 30 dias, contados de seu ven​cimento. A duplicata é protestável por: falta de aceite; falta de devolução; falta de pagamento. O protesto será tirado conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata ou por simples indicações do portador, na falta de devolução. Caso o portador não tire o protesto da duplica​ta em forma regular e dentro de 30 dias, contados da data de seu vencimento, perderá o direito de regressocontra os endossantes e seus avalistas (art. 13, § 4.°, LD).
 
Duplicata de prestação de serviços - Os prestadores de serviços poderão emitir fatura e duplicata para documentar as obrigações assumidas entre o sacador e o sacado.

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