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DIREITOS HUMANOS 1. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................. 4 1.1. Tratados internacionais ..................................................................................................... 4 1.2. Costume Internacional ...................................................................................................... 5 1.3. Princípios gerais do direito ................................................................................................ 5 1.4. Fontes auxiliares do DIDH ................................................................................................ 5 1.5. Outras fontes .................................................................................................................... 6 2. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ....................................................................... 6 2.1. Classificação clássica – gerações de direitos humanos .................................................... 6 2.2. Classificação conforme o direito internacional: os direitos humanos civis e políticos, os econômicos, sociais e culturais ................................................................................................... 7 2.3. Direitos humanos globais ................................................................................................... 14 3. CARACTERÍSTICAS (PRINCÍPIOS) DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................... 15 3.1. Inerência ......................................................................................................................... 15 3.2. Universalidade ................................................................................................................ 15 3.3. Indivisibilidade e interdependência ................................................................................. 16 3.4. Transnacionalidade ........................................................................................................ 16 3.5. Proibição do Regresso ou Vedação do Retrocesso ........................................................ 16 3.6. Imprescritibilidade ........................................................................................................... 16 3.7. Inalienabilidade ............................................................................................................... 17 3.8. Irrenunciabilidade ........................................................................................................... 17 3.9. Efetividade ...................................................................................................................... 17 3.10. Historicidade ............................................................................................................... 17 SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: DECLARAÇÕES E TRATADOS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. ....................................................................... 17 I. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 17 II. SISTEMA UNIVERSAL: A CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS ................. 18 1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) ......................................... 18 2. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS DE 1966 ........................................... 21 2.1. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos ................................................................. 23 2.1.1. Mecanismo de Proteção: Comitê de Direitos Humanos ............................................... 30 2.2. Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) ....................... 34 2.2.1. Mecanismo de proteção: Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais ............ 37 III. SISTEMA UNIVERSAL: TRATADOS ESPECÍFICOS .............................................................. 38 1. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL ........................................................................................................... 38 1.1. Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial ........................................................ 40 2. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ................................................................................................................... 42 2.1. Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher .................................................................................................. 43 2.2. Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Contra a Mulher........................................... 43 3. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ............................................................................................. 46 3.1. Protocolo Facultativo à Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes ......................................................................................... 50 3.2. Comitê ................................................................................................................................ 50 3.3. Subcomitê para Prevenção da Tortura ............................................................................... 54 4. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA .............................. 55 4.1. Protocolo Facultativo à Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças, relativo à Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil ................................................... 58 4.2. Protocolo Facultativo à Convenção Internacional Sobre Os Direitos Da Criança, Relativo à Participação De Crianças Em Conflitos Armados ...................................................................... 59 4.3. Comitê sobre os Direitos das Crianças ............................................................................... 59 5. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................ 61 5.1. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência .......... 64 5.2. Comitê dos Direitos das Pessoas com Deficiências ........................................................ 64 6. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO CRIME DE GENOCÍDIO ................. 65 7. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS..................................................................................... 65 7.1. Comitê contra Desaparecimentos Forçados ................................................................... 67 8. CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES MIGRANTES E MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS ...................................................................... 68 8.1. Comitê ............................................................................................................................ 69 IV – SISTEMA REGIONAL AMERICANO ..................................................................................... 69 1. CARTA DA OEA .................................................................................................................... 69 2. DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM ............................ 70 3. CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ....................................................... 72 3.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos ............................................................. 79 3.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos ....................................................................82 3.3. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena de Morte ...................................................................................................................... 84 3.4. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, “Protocolo de San Salvador” .................................... 85 4. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA ..................... 86 5. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ ....................................................... 87 6. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA ........................... 91 7. CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE O DESAPARECIMENTO FORÇADO DE PESSOAS..................................................................................................................................... 93 V. OPINIÕES CONSULTIVAS ...................................................................................................... 94 1. Opinião Consultiva 1/82 ......................................................................................................... 95 2. Opinião Consultiva 2/82 ......................................................................................................... 95 3. Opinião Consultiva 3/83 ......................................................................................................... 97 4. Opinião Consultiva 4/84 ......................................................................................................... 98 5. Opinião Consultiva 5/85 ......................................................................................................... 98 6. Opinião Consultiva 6/86 ......................................................................................................... 99 7. Opinião Consultiva 7/86 ....................................................................................................... 100 8. Opinião Consultiva 8/87 ....................................................................................................... 101 9. Opinião Consultiva 9/87. ...................................................................................................... 102 10. Opinião Consultiva 10/89 ................................................................................................. 104 11. Opinião Consultiva 11/90. ................................................................................................ 105 12. Opinião Consultiva 12/91 ................................................................................................. 106 13. Opinião Consultiva 13/93 ................................................................................................. 107 14. Opinião Consultiva 14/94. ................................................................................................ 108 15. Opinião Consultiva 15/97. ................................................................................................ 109 16. Opinião Consultiva 16/99 ................................................................................................. 110 17. Opinião Consultiva 17/97 ................................................................................................. 113 18. Opinião Consultiva 18/03 ................................................................................................. 113 19. Opinião Consultiva 19/05 ................................................................................................. 114 20. Opinião Consultiva 20/09 ................................................................................................. 114 21. Opinião Consultiva 21/11. ................................................................................................ 115 1. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS Entende-se como Direitos Humanos Internacionais1 a soma dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e coletivos estipulados pelos instrumentos internacionais e regionais e pelo costume internacional. Deste conceito extraem-se as principais fontes formais do DIDH, quais sejam: os tratados internacionais e o costume internacional – os princípios também são considerados como fonte formal primária. Há, ainda, as fontes auxiliares, tais como a doutrina e decisões judiciais. O art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça traz as fontes do Direito Internacional. Artigo 38 1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar; 2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito; 4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; 5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. 6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes Segundo André de Carvalho Ramos, são fontes do Direito Internacional, apesar de não mencionadas no artigo 38, os atos unilaterais e as resoluções vinculantes das organizações internacionais. 1.1. Tratados internacionais Importante ressaltar que não existe hierarquia entre as fontes principais. Embora seja mais fácil e prático aplicar um tratado internacional, pois está escrito, do que um costume internacional, algo “invisível”. Tradados são acordos juridicamente obrigatórios e vinculantes, firmados entre sujeitos de Direito Internacional, também chamados de Convenções, Pactos. Não se confundem com as declarações (DUDH e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, por exemplo) que, por não gerarem efeitos jurídicos (direitos e obrigações), não podem ser entendidas como tratados, constituindo categoria diversa2. No âmbito do sistema global têm-se os seguintes tratados (considerados os mais importantes3): os Pactos de Direitos Humanos de 1966, as Convenções sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1966, e contra a Mulher, de 1979; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984, e a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989; a Convenção Internacional sobre a Proteção 1 Conceito extraído do Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais, da ESMPU. 2 Explicadas em tópico apropriado. 3 Há alguns tratados que não tratam exclusivamente de direitos humanos, como exemplo os tratados de Direito Penal Internacional (Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 1948), bem como os tratados que tratam de direito humanitário. Porém, isto não lhes tira a qualidade de fonte de DIDH. dos Direitos de Todos os Migrantes Trabalhadores e dos Membros de suas Famílias, de 1999; a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assim como a Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra Desaparecimento Forçado. Além disso, é também amplamente reconhecido que à categoria de tratados universais de direitos humanos acrescenta-se algumas convenções da OIT, como, por exemplo, a Convenção n. 1694 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, de 1989, e a Convenção n. 182 sobre a Proibição e a Ação Imediata para a Eliminação das Piores Formas de Trabalho Infantil, de 1999. No sistema regional (OEA) tem-se a Convenção Americana sobre Direitos Humanos(Pacto de San José), de 1969; a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985; a Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas, de 1994; e, do mesmo ano, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, de 1999. 1.2. Costume Internacional O costume internacional resulta da prática geral e consistente dos Estados de reconhecer como válida e juridicamente exigível determinada obrigação. Os costumes aplicam-se a todos os Estados, até àqueles que deliberadamente recusaram- se a ratificação de um tratado internacional de direitos humanos, ou que tentaram liberar-se de uma das suas disposições por meio de reservas. O costume internacional é formado por dois elementos, quais sejam: a) Elemento objetivo: é a prática geral, ou seja, a conduta oficial de órgãos estatais; referem-se aos fatos interestaduais, e, por isso, podem ter relevância para a formação do novo Direito Internacional Público. b) Elemento subjetivo: é a opinião jurídica dos Estados. Determina que os atos praticados pelos Estados sejam uma obrigação jurídica, por isso surgem novos direitos. A Corte Internacional de Justiça decidiu expressamente pelo caráter de norma costumeira da Declaração Universal de Direitos Humanos, considerada como elemento de interpretação do conceito de direitos fundamentais insculpido na Carta da ONU. 1.3. Princípios gerais do direito Prevalece a posição de que os princípios gerais de direito internacional são aqueles aceitos por (quase) todos os ordenamentos jurídicos, a exemplo da boa-fé, do respeito à coisa julgada, do direito adquirido e do pacta sunt servanda. 1.4. Fontes auxiliares do DIDH a) Decisões judiciais: são as chamadas jurisprudências internacionais. As quais são reiteradas decisões no mesmo sentido. Nota-se que é chamada de fonte auxiliar, pois não criam novos direitos, mas sim determinam o modo como devem ser interpretados. 4 Na segunda fase da DPE/ES, em Direitos Humanos, caiu uma questão sobre esta Convenção. b) Doutrina: refere-se aos autores de renome. Além disso, inclui-se aqui a Comissão de Direito Internacional da ONU, criada pelas Nações Unidas para “incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação”. 1.5. Outras fontes Embora não constem no rol do art. 38 do Estatuto da CIJ, são considerados como fonte de DIDH: a) Atos unilaterais dos Estados: são atos que não possuem normatividade. Contudo, criam obrigações aos Estados que os proclamam. Assim, quando assumir unilateralmente um compromisso publicamente, mesmo quando não efetuado no contexto das negociações internacionais, o Estado deverá cumpri-lo obrigatoriamente, em respeito à boa-fé. b) Decisões de organizações internacionais: a partir do momento que um Estado é parte em uma organização internacional, ele assume obrigações para com ela, dentre as quais a de cumprir aquilo que vier a ser decidido em suas assembleias ou órgãos deliberativos. c) Analogia e equidade: são soluções eficientes para enfrentar o problema da falta de norma jurídica regulamentadora a determinado caso concreto, ou ainda para suprir a inutilidade da norma existente, a fim de que se possa solucionar, com um mínimo de justiça, o conflito de interesses. 2. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 2.1. Classificação clássica – gerações de direitos humanos Primeiramente, destaca-se que a doutrina moderna prefere a expressão “dimensões” e não “gerações”, pois esta traz a ideia de sucessão, contrariando o caráter complementar dos direitos humanos. Assim, com o surgimento de uma nova dimensão a anterior não deixa de existir. Bonavides afirma que a melhor expressão seria “dimensão”, que se justifica tanto pelo fato de não existir realmente uma sucessão ou desaparecimento de uma geração por outra, mas também quando novo direito é reconhecido, os anteriores assumem uma nova dimensão, de modo a melhor interpretá-los e realizá-los. a) 1ª Geração/Dimensão: surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVI e XIX. Englobam os chamados direitos de liberdade, chamados prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia do indivíduo. Assim, Estado não poderia interferir na orbita individual, salvo para garantir a prevalência do máximo de liberdade possível para todos. Exemplos: direito à liberdade, igualdade perante a lei, propriedade, intimidade e segurança, traduzindo o valor de liberdade. b) 2ª Geração/Dimensão: surgiu em decorrência da deplorável situação da população pobre das cidades industrializadas. Englobam os chamados direitos de igualdade. Impõe aos Estados obrigações positivas, defendendo a intervenção estatal, como forma de reparar a iniquidade vigente. Exemplos: direito à saúde, educação, previdência social, habitação. c) 3ª Geração/Dimensão: surgiu recentemente. Englobam os chamados direitos de solidariedade. Exemplos: direito ao desenvolvimento, direito à paz, direito à autodeterminação e, em especial, o direito ao meio ambiente equilibrado. Além disso, segundo Paulo Bonavides, há os direitos de quarta geração, decorrentes do desenvolvimento da globalização política, correspondente à derradeira fase de institucionalização do Estado Social. Exemplos: direito à democracia, direito à informação. 2.2. Classificação conforme o direito internacional: os direitos humanos civis e políticos, os econômicos, sociais e culturais a) Direitos Civis: são os direitos de autonomia do indivíduo contra interferências indevidas do Estado ou de terceiros. Assim, o conteúdo de tais direitos é relativo à proteção dos atributos da personalidade e dignidade da pessoa humana. Liberdade-autonomia. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê, expressamente, os seguintes direitos civis: Direito à vida (art. 6º), estabelecendo restrições à prática da pena de morte; Art. 6º 1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. 2. nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder- se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente. 3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. 4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos em todos os casos. 5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. O Pacto de San José da Costa Rica inclui o maior de 70 anos. 6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente pacto. Direito à integridade física, abolindo os tratamentos cruéis, degradantes e desumanos (art. 7º); Art. 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, semseu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. Direito à liberdade (art. 11), admitindo-se os trabalhos forçados como pena, mas proibindo-se expressamente a prisão por descumprimento de obrigação contratual; Art. 11 Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual. Direito ao devido processo legal (art. 9º); Art. 9º 1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. 3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação. Direito de locomoção e direito de intimidade (art. 12); Art. 12 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país. 3. Os direito supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente pacto. 4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país. Direito à igualdade perante a lei (art. 26); Art. 26 Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. Garantias de um julgamento justo, o que inclui o direito ao duplo grau de jurisdição (art. 14); Art. 14 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou á tutela de menores. 2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias: a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada; b) de dispor do tempo e do meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua escolha; c) de ser julgado sem dilações indevidas; d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor designado "ex offício" gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas da acusação e de obter o comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõe as de acusação; f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua empregada durante o julgamento; g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. 4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal levará em conta a idade dos menores e a importância de promover sua reintegração social. 5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância, em conformidade com a lei. 6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil. 7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país. Direito à liberdade religiosa e seus consectários (art. 18); Art. 18 1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino. 2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha. 3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas. 4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções. Direito à liberdade de expressão (art. 19 e 20); Art. 19 1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha. 3. O exercício do direito previsto no § 2º do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições,que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública. Art. 20 1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor de guerra. 2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, radical, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência. Direito à associação (art. 22); Art. 22 1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus interesses. 2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos a liberdades das demais pessoas. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desse direito por membros das forças armadas e da polícia. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. Direito a constituir família (art. 23); Art. 23 1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito de ser protegida pela sociedade e pelo Estado. 2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil, contrair casamento e construir família. 3. Casamento algum será sem o consentimento livre e pleno dos futuros esposos. 4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adota as medidas apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e responsabilidades dos esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que assegurem a proteção necessária para os filhos. Direito da criança a medidas de proteção por parte da sociedade e do Estado (art. 24). Art. 24 1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor, sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de sua família, da sociedade e do Estado. 2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome. 3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade. b) Direitos Políticos: são direitos de participação, ativa ou passiva, na elaboração das decisões políticas e na gestão da coisa pública. Liberdade-participação. Estão previstos no art. 25 do PIDCP, garantem o direito de participar na condução dos assuntos públicos, bem como de votar e ser votado. Art. 25 Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminação mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas: a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos; b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores; c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. c) Direitos Econômicos: possuem uma dimensão institucional, baseada no poder estatal de regulamentar o mercado, em vista do interesse público. Estão previstos expressamente no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), são eles: Direito à associação sindical (art. 8º); Art. 8º 1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir: a) o direito de toda pessoa de fundar com outros sindicatos e de filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente a organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades alheias; b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e o direito desta de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar- se às mesmas; c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais pessoas; d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país. 2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desses direitos pelos membros das forças armadas, da política ou da administração pública. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venha a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas na referida Convenção. Direito a gozar de condições justas e dignas de trabalho (art. 7º) Art. 7º Os Estados Partes do presente pacto o reconhecem o direito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem especialmente: a) uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores: i) um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e receber a mesma remuneração que ele por trabalho igual; ii) uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do presente Pacto. b) a segurança e a higiene no trabalho; c) igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, á categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de tempo de trabalho e capacidade; d) o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. d) Direitos sociais: são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, que possibilitam melhores condições de vida dos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. De acordo com o PIDESC, compreendem: Direito à vida digna (art. 11) Art. 11 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento. 2. Os Estados Partes do presente pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive programas concretos, que se façam necessárias para: a) melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursosnaturais; b) assegurar uma repartição equitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios. Direito à saúde (art. 12) Art. 12 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental. 2. As medidas que os Estados partes do presente Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam necessárias para assegurar: a) a diminuição da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento das crianças; b) a melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente; c) a prevenção e tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças; d) a criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em caso de enfermidade. Direito à educação (art. 13) Art. 13 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 2. Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos; b) a educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c) a educação de nível superior deverá igualmente tronar-se acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; d) dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas que não receberam educação primária ou não concluíram o ciclo completo de educação primária; e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de bolsas estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente. 2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias convicções. 3. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no § 1° do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos pelo Estado. e) Direitos Culturais: relacionados à participação do indivíduo na vida cultural de uma comunidade, bem como a manutenção do patrimônio histórico-cultural, que concretiza sua identidade e a memória. Segundo o art. 15 do PIDESC, são os direitos de participar da vida cultural e de conhecer os avanços científicos. Art. 15 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o direito de: a) Participar da vida cultural; b) desfrutar o progresso científico e suas aplicações; c) beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor. 2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito aquelas necessárias à conservação, ao desenvolvimento e à difusão da ciência e da cultura. 3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa científica e à atividade criadora. 4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação e das ralações internacionais no domínio da ciência e da cultura. 2.3. Direitos humanos globais Tais direitos adquirem sua especificidade, em relação aos demais, diante da titularidade coletiva ou difusa, pertencendo aos grupos sociais determinados, a um povo, ou mesmo, à Humanidade inteira. Esta titularidade decorre do fato de que esses direitos objetivam proteger os interesses que transcendem a órbita individual, o que os torna distintos dos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, que, direta ou indiretamente, visam estabelecer e garantir a liberdade individual. Destes novos direitos, os que merecem maior destaque são o direito ao desenvolvimento e o direito ao meio ambiente sadio. Por ser o mais recente ramo surgindo no direito internacional dos direitos humanos, ele ainda se encontra nos estágios iniciais de evolução, encontrando problemas quanto à precisão de seu conteúdo. Em primeiro lugar, a noção de “povo” ainda é extremamente vaga, sendo apenas certo que o critério quantitativo não é suficiente. Isso é fundamental ao se cuidar do direito à autodeterminação, que curiosamente é previsto pelos pactos internacionais de 1966, embora não se possa classificá-los como direitos civis e políticos, nem como econômicos, culturais e sociais. 3. CARACTERÍSTICAS (PRINCÍPIOS) DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 3.1. Inerência Decorre do fundamento jusnaturalista, traz a noção de que os direitos humanos são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de existir como ser humano. O reconhecimento da inerência é premissa racional para a construção da noção de direitos humanos, porque a existência do ser humano livre, anterior à criação do estado, permite a limitação da ação deste ou seu direcionamento para a criação de condições favoráveis à vida em sociedade. Além disso, exerce a função de propiciar a constante alteração do sistema normativo dos direitos humanos, sempre que se renovar ou ampliar o entendimento do que seja dignidade inerente a todos os membros da família humana. É dizer que neste campo do Direito talvez mais que em qualquer outro, a elaboração de suas normas tem em mente consolidar a noção atualizada da dignidade fundamental do ser humano, fonte de seus direitos positivados, estabelecendo, desta forma, um equilíbrio dinâmico entre direito natural e direito positivo. Outra consequência fundamental é o caráter não taxativo dos direitos humanos até agora reconhecidos, eis que, sendo inerentes aos seres humanos, em grupo ou individualmente, se apresentam em constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social, regional e global. 3.2. Universalidade A concepção universal dos direitos humanos decorre da ideia de inerência. Significa que estes direitos pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção fundada em atributos inerentes aos seres humanos ou na posição social que ocupem. Tal concepção, embora consagrada nos documentos internacionais, é constantemente questionada pelos adeptos do chamado “Relativismo Cultural”, corrente de pensamento que vê os direitos humanos como fruto da evolução e cristalização dos valores da “civilização ocidental”. Entendem que conferir ao direito internacional dos direitos humanoscaráter cogente implicaria uma tentativa de impor aos demais povos determinada “cultura”, prevalecente apenas diante da conjuntura geopolítica. Em última instância, os direitos humanos universais fariam parte de projetos imperialistas das potências ocidentais. Porém, a desconsideração da dignidade fundamental de cada ser humano não tem fronteiras e não tem lugar na cultura humana. De acordo com Carlos Weis, citando José Augusto Alves, as afirmações de que a Declaração Universal é um documento de interesse apenas ocidental, irrelevante e inaplicável em sociedades com valores histórico-culturais distintos, são falsas e perniciosas. Falsa porque todas as Constituições nacionais redigidas após a adoção da Declaração pela Assembleia Geral da ONU nela se inspiraram ao tratar dos direitos e liberdades fundamentais, pondo em evidência, assim, o caráter hoje universal de seus valores. Perniciosas porque abrem possibilidades à invocação do relativismo cultural como justificativa para violações concretas dos direitos já internacionalmente reconhecidos. A universalidade dos direitos sociais pode ser entendida no contexto mais amplo da dignidade humana, a que toda pessoa tem direito. Não há como pensar em respeito aos direitos humanos sem que o Estado tome providências que lhe competem visando a assegurar a elevação das condições de vida ao que se convencionou chamar de padrão mínimo de dignidade humana. 3.3. Indivisibilidade e interdependência Conferência Internacional de Teerã 13 – “Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível”. Viena 1993 “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados” A indivisibilidade está ligada ao objetivo maior do sistema internacional de direitos humanos, a promoção e garantia da dignidade humana. Não existe meio-termo: só há vida verdadeiramente digna se todos os direitos previstos no direito internacional dos direitos humanos estiverem sendo respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais. Trata- se de uma característica do conjunto de normas e não de cada direito individualmente considerado. A interdependência diz respeito aos direitos humanos considerados em espécie, ao se entender que certo direito não alcança a eficácia plena sem a realização simultânea de alguns ou de todos os outros direitos humanos. E essa característica não distingue direitos civis e políticos ou econômicos, sociais ou culturais, pois a realização de um direito específico pode depender (como geralmente ocorre) do respeito e promoção de diversos outros, independente de sua classificação. 3.4. Transnacionalidade Carlos Weis afirma que esta característica é bem resumida por Dalmo de Abreu Dallari, para quem: “os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos por todos os Estados, embora existam variações quanto à enumeração desses direitos, bem como quanto à forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou cidadania, sendo assegurados a qualquer pessoa”. Também tem como finalidade a proteção do ser humano quando lhe recusam uma nacionalidade e a proteção estatal dela decorrente. Se à pessoa não for garantido os direitos fundamentais, tem a ordem internacional o dever de intervir, em face do caráter transcendental dos direitos humanos. 3.5. Proibição do Regresso ou Vedação do Retrocesso Uma vez conferido, concedido um direito fundamental, o Estado não poderá retroceder, diminuir a sua proteção aos direitos humanos em relação ao estágio em que esta tutela encontra- se. 3.6. Imprescritibilidade Os direitos humanos não podem ser atingidos pelo lapso temporal. Em 2002, o Brasil incorporou o Estatuto de Roma (Decreto 4.388/2002), que elenca como crimes imprescritíveis os crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e agressão. Desta forma, o rol constitucional de imprescritibilidades é EXEMPLIFICATIVO, pois cuida de direito fundamental que estabelece uma proteção mínima aos direitos humanos, podendo ser ampliada. Assim, outros crimes imprescritíveis podem ser incluídos no rol do art. 5º da CF, desde que o objetivo seja a proteção dos direitos humanos. 3.7. Inalienabilidade Os direitos humanos não podem ser alienados, transferidos, ainda que com anuência de seu titular, e qualquer manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito. 3.8. Irrenunciabilidade Os direitos humanos são irrenunciáveis, não podem ser abdicados, abjurados, e qualquer manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito. 3.9. Efetividade Não basta o singelo reconhecimento pelo Estado dos direitos humanos; ele deve empregar medidas efetivas para a sua aplicação. 3.10. Historicidade Os direitos humanos são históricos, pois são construídos pela convivência coletiva, que teve origem nos direitos civis e políticos – 1ª geração – se desenvolveram como direitos econômicos, sociais e culturais – 2ª geração – e chegaram ao seu ápice na institucionalização das garantias coletivas – 3ª geração. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: DECLARAÇÕES E TRATADOS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. I. INTRODUÇÃO É possível traçar direitos comuns a todos os seres humanos, os quais resultaram nas Declarações de Direitos dos séculos XVII e XVIII, bem como contribuíram para o surgimento do Sistema Internacional de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos. A partir da crise do modelo de Estado Democrático-Liberal, desde meados do século XIX, as doutrinas políticas passaram a desdenhar do fundamento jusnaturalista dos direitos humanos, afastando a ideia de que o ser humano possui direitos a ele inerentes, decorrentes exclusivamente de sua condição humana, os quais constituíam limite à ação estatal. Ao contrário, o novo pensamento via no Estado a fonte única e legítima dos direitos fundamentais, resultando que estes não eram mais descobertos ou revelados, senão que concedidos ou outorgados pelo Poder Público. O não reconhecimento de freios de direito natural ao poder estatal resultou em regimes políticos que, embora de diferentes origens, traziam um elemento em comum: a convicção de que era o Estado, por si próprio, quem deveria definir qual o bem comum de seus súditos e traçar os meios para alcançá-los. Diante disso, a consciência mundial despertou para conceber a necessidade do restabelecimento dos paradigmas jusnaturalistas, os quais, embora não possam ser demonstrados empiricamente, são reconhecidamente os pressupostos racionais universais para a garantia do poder estatal e de seu uso de forma relativamente limitada e voltada à construção do bem comum de todos. Ressuscitou a ideia de uma Comunidade Internacional de Nações, a que deram o nome de Organização das Nações Unidas, no bojo da qual haveria de nascer um conjunto de normas e organismos voltados à construção e preservação daqueles direitos inerentes aos seres humanos. II. SISTEMA UNIVERSAL: A CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS É composta pelos seguintes instrumentos: a) Declaração Universal dos Direitos Humanos; b) Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais; c) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Facultativo. 1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) No preambulo da Declaração Universal, de 1948, encontra-se a motivação para a elaboração de um documento universal sobre os direitos humanos, sendo a mesma motivação que levou a criação da ONU. Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamentoda liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, A Assembleia Geral proclama A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Aliado a isso, havia a necessidade de dar concretude aos direitos humanos e liberdades fundamentais referidos na Carta da ONU5 (art. 1ª, 3). Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Afirma-se que o significado da DUDH decorre dos próprios objetivos da criação das Nações Unidas, relacionados com a reconstrução da ordem mundial fundada em novos conceitos de direito internacional, contrários à doutrina da soberania nacional absoluta e à exacerbação do positivismo jurídico. Pretendia-se formular um rol atualizado dos direitos humanos, com a criação de obrigações para os Estados em decorrência da normativa internacional. Carlos Weis, citando Dalmo Abreu Dallarri, afirma que o exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos fundamentais: A certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e deveres, para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; A segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância, os direitos fundamentais serão respeitados; A possibilidade dos direitos, exigindo que se procure assegurar a todos os indivíduos os meios necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da afirmação de igualdade de direitos aonde grande parte do povo vive em condições subumanas. A DUDH possui natureza jurídica de recomendação da Assembleia-Geral, com caráter especial, diante de sua universalidade e solenidade. 5 Também chamada de Carta de São Francisco, é de 1945. É um tratado internacional - fala em DH, mas não define seu conteúdo. Foi o primeiro documento internacional a tratar dos direitos humanos, tanto civis e políticos quanto econômicos, sociais e culturais, de maneira indivisível, ainda que tenha reconhecido sua distinta natureza jurídica. Apresentou como novidade: a proibição à escravidão e à tortura; o reconhecimento da personalidade jurídica; o direito ao asilo e à nacionalidade. Além disso, fez menção ao direito de propriedade, seja com titularidade individual, seja coletiva. Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo XIV - 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV - 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Conforme se percebe, a DUDH não faz qualquer distinção entre as categorias dos direitos humanos, no que diz respeito ao seu reconhecimento e gozo, ainda que o regime de implementação das liberdades e dos demais direitos humanos possa ser diferenciado. Há na DUDH uma completa ausência de mecanismos de implementação dos direitos humanos – o que é explicado pelo contexto político em que se vivia, tendo-se chegado à solução pela criação da Carta Internacional dos Direitos Humanos, com a edição dos pactos de 1966. Não foi subscrita por todos os Países-membros das Nações Unidas quando de sua proclamação, sendo notável o silêncio dos Países aliados à União Soviética, provocando oito abstenções dentre os 58 Países então membros. A DUDH reflete o conteúdo da dignidade humana auferido no pós-guerra, o qual vem sofrendo a ação da História – o que confere aos direitos humanos contemporâneos a característica da historicidade. Apesar de inúmeros preceitos estarem ultrapassados (ex: casamento entre homem e mulher apenas), não retiram o caráter simbólico da Declaração Universal, e sua quase total atualidade demonstra a inconveniência política de se alterar seu consagrado texto, até porque a atualização do catálogo dos direitos humanos tem se realizado constantemente, por meio de novos tratados, declarações e programas de ação, de que fazem exemplo os do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente (1992), de Viena sobre Direitos Humanos (1993), do Cairo sobre População e Desenvolvimento (1994) e de Pequim sobre Direitos da Mulher (1995). A vitalidade do Sistema Universal dos Direitos Humanos, portanto, mantém em constante afinidade com os valores que traduzem a dignidade fundamental do ser humano. Pontos Importantes! Ano: 1948 Primeiro documento que tratou das duas gerações de Direitos Humanos (1ª e 2ª) Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais. Direito de propriedade: reconhecido tanto em caráter individual quanto coletivo; Implementação progressiva, de acordo com as possibilidades, dos direitos econômicos, sociais e culturais; Família é o núcleo natural e fundamental da sociedade Novidades • Proibição à escravidão e à tortura • Reconhecimento da personalidade jurídica • Direito ao asilo • Direito à nacionalidade 2. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS DE 1966 Os pactos internacionais constituem o mais abrangente catálogo de direitos humanos hoje existentes, de aplicação universal, complementando e aprofundando muitos dispositivos da Declaração Universal de 1948. Para a elaboração de pactos distintos foram utilizados os seguintes argumentos: 1º Direitos civis e políticos têm natureza distinta dos direitos econômicos, culturais e sociais, especialmente porque os primeiros seriam de aplicação imediata (passíveis de cobrança), enquanto os demais seriam realizáveis progressivamente, sem que se pudesse exigir do Estado a sua concretização. 2º Diz respeito aos mecanismos de supervisão. Os direitos civis e políticos deveriam ser implementados imediatamente (referem-se às liberdades individuais), sua violação poderia ser denunciada a um órgão fiscalizador (posteriormente denominado de Comitê de Direitos Humanos). Por outro lado, os econômicos, sociais e culturais se realizariam apenas diante da cooperação internacional e dos esforços de cada Estado, não sendo possível a aplicação do sistema de denúncias. Contudo, tentativa de partir os direitos humanos em duas categorias com importância desigual foi posta por terra menos de dois anos após a adoção dos pactos internacionais, na Conferência Mundial realizada em Teerã em 1968, em que se afirmou peremptoriamente a indivisibilidade dos direitos humanos: “13 – Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível”. Da análise comparada dos pactos percebem-se a semelhança dos preâmbulos, enfatizando a inerência dos direitos humanos aos seres humanos e a inalienabilidade da liberdade e da igualdade humana, e a perfeita identidade dos arts. 1º, introduzindo o direito à autodeterminação dos povos, ausente no texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas decorrente do propósito da ONU de desenvolver relações amistosas entre as nações. ARTIGO 1º 1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural. 2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus meios de subsistência. 3. Os Estados partes do presente pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das nações unidas. De outro lado, a diferença fundamental entre os pactos é justamente aquela que originou a edição de dois documentos distintos, estampada nos respectivos arts. 2º. Enquanto o PIDCP cria a obrigação estatal de “tomar as providências necessárias”, inclusive de natureza legislativa, para “garantir a todos os indivíduos que se encontrem no território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto”, o tratado referente aos direitos econômicos, sociais e culturais, também no art. 2º, prevê a adoção de medidas, tanto por esforço próprio como pela cooperação e assistência internacionais, “que visem a segurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto”. PIDCP - ARTIGO 2º 1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeito a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra condição. 2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados do presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com vistas a adota-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto. 3. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a: a) garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente pacto tenham sido violados, possa dispor de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido perpetrada por pessoa que agiam no exercício de funções oficiais; b) garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; c) garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer decisão que julgar procedente tal recurso. PIDESC - ARTIGO 2º 1. Cada Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem assegura, progressivamente, por todos os meios apropriados, o, pleno exercício e dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativa. 2. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. 3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos humanos e a situação econômica nacional, poderão determinar em que medida garantirão os direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto àqueles que não sejam seus nacionais. Porém, ainda que se entenda que tais direitos não possam ser inaugurados imediatamente, por demandarem uma série de medidas estatais relacionadas com uma política publica, não se pode daí inferir que não surja para os cidadãos de um dado Estado-Parte no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais o direito subjetivo de exigir a sua implementação, especialmente tendo em vista a melhoria de uma situação específica que viole a dignidade fundamental dos seres humanos, ao se mostrar contrária aos patamares mínimos estatuídos pelo Pacto ou por outros de natureza semelhante. 2.1. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos Cuida dos direitos humanos relacionados à liberdade individual, à proteção da pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada, bem como à participação popular na gestão da sociedade. Da análise de suas normas substantivas, vale registrar as alterações feitas pelo PIDCP em relação ao texto da Declaração Universal (arts. III a XXI), como: direitoà vida (art. 6º); a não ser submetido à tortura ou tratamentos cruéis desumanos ou degradantes (art. 7º); de não ser escravizado ou submetido à servidão (art. 8º); à liberdade e segurança pessoal – incluindo não ser sujeito à prisão ou detenção arbitrária (art. 9º); à igualdade perante a lei (art. 3º); a um julgamento justo (art. 14); às liberdades de locomoção (art. 12), consciência, manifestação do pensamento, religião (art. 18), associação (inclusive de fundar sindicatos e a eles aderir – art. 22), reunião pacífica (art. 21); a casar e constituir família (art. 23); a ter nacionalidade (art. 24); e de votar, tomar parte do governo – diretamente ou por meio de representantes – e ter acesso às funções públicas de seu País (art. 25). ARTIGO 3º Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente pacto. ARTIGO 6º 1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. 2. Nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder- se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente. 3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. 4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos em todos os casos. 5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. 6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente pacto. ARTIGO 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. ARTIGO 8º 1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todos as suas formas, ficam proibidos. 2. Ninguém poderá ser submetido à servidão. 3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios; b) A alínea "a" do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um tribunal competente; c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos forçados ou obrigatórios": i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea "b", normalmente exigido de um indivíduo que tenha sido encerrado em cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade condicional; ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que se oponha ao serviço militar por motivo de consciência; iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que ameacem o bem-estar da comunidade; iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais. ARTIGO 9° 1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. 3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação. ARTIGO 12 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país. 3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente pacto. 4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país. ARTIGO 14 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimonial ou á tutela de menores. 2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias: a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada; b) de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua escolha; c) de ser julgado sem dilações indevidas; d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor designado "ex offício" gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; e) de interrogar ou
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