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10/03/2016 1 BIOQUÍMICA: Aminoácidos e Proteínas PROTEÍNAS = polímeros de aminoácidos (“resíduo” devido à perda de H2O durante a síntese) Macromoléculas biológicas mais abundantes Grande diversidade funcional (enzimas, hormônios, anticorpos, fibras musculares, anexos epidérmicos, transportadores celulares, ...) Grande variedade (milhares/cél.) Resultado da expressão genética Construídas a partir de 20 aa (combinações, sequências e tamanhos diferentes) AMINOÁCIDOS: CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS Os 20 aa constituintes de proteínas são α-aminoácidos Diferenciam-se em suas cadeias laterais (R) Nomenclatura e abreviações (3 ou 1 letra) Cisteína; Cys, C Histidina; His, H Isoleucina; Ile, I Metionina; Met, M Serina; Ser, S Valina; Val, V Alanina; Ala, A Glicina; Gly, G Leucina; Leu, L Prolina; Pro, P Treonina; Thr, T R – Arginina; Arg F – Fenilalanina; Phe Y – Tirosina; Tyr W – Triptofano; Trp D – Aspartato; Asp N – Asparagina; Asn E – Glutamato; Glu Q – Glutamina; Gln K – Lisina; Lys AMINOÁCIDOS: CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS Carbono α é assimétrico, um centro quiral (exceção: glicina, R = H) Convenções para as estruturas: (b) em perspectiva; (c) em projeção (ligações horizontas pra frente do plano, as verticais para trás do plano). 10/03/2016 2 AMINOÁCIDOS: CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS Nomenclatura para configuração absoluta: Sistema D, L Proposto por Emil Fischer (1891) protótipo: enantiômeros do gliceraldeído Átomos de carbono alinhados verticalmente; L-aminoácidos: grupo α-amino à esquerda; D-aminoácidos: grupo α-amino à direita Em proteínas os resíduos de aminoácidos são apenas enantiômeros L !!! Classificação dos Aminoácidos Propriedades de seus grupos R (polaridade) 5 classes principais: 1. Apolares (hidrofóbicos) 2. Aromáticos (relativamente hidrofóbicos) 3. Polares não-carregados 4. Carregados positivamente em pH 7,0 (básicos) 5. Carregados negativamente em pH 7,0 (ácidos) 1. Aminoácidos com grupos R apolares 1. Aminoácidos com grupos R apolares aminoácido Abreviação /símbolo pK1 (-COOH) pK2 (-NH3 +) pKR (grupo R) Ocorrência em proteínas (%) Glicina Gly / G 2,34 9,60 7,2 Alanina Ala / A 2,34 9,69 7,8 Prolina Pro / P 1,99 10,96 5,2 Valina Val / V 2,32 9,62 6,6 Leucina Leu / L 2,36 9,60 9,1 Isoleucina Ile / I 2,36 9,68 5,3 Metionina Met / M 2,28 9,21 2,3 10/03/2016 3 2. Aminoácidos com grupos R aromáticos aminoácido Abreviação/s ímbolo pK1 (-COOH) pK2 (-NH3 +) pKR (grupo R) Ocorrência em proteínas (%) Fenilalanina Phe / F 1,83 9,13 3,9 Tirosina Tyr / T 2,20 9,11 10,07 3,2 Triptofano Trp / W 2,38 9,39 1,4 λmax ∼280nm 3. Aminoácidos com grupos R polares não-carregados aminoácido Abreviação /símbolo pK1 (-COOH) pK2 (-NH3 +) pKR (grupo R) Ocorrência em proteínas (%) Serina Ser / S 2,21 9,15 6,8 Treonina Thr / T 2,11 9,62 5,9 Cisteína Cys / C 1,96 10,28 8,18 1,9 Asparagina Asp / N 2,02 8,80 4,3 Glutamina Gln / Q 2,17 9,13 4,2 Formação de ligação dissulfeto: oxidação de resíduos de cisteína hidrofóbico Importância estrutural em muitas proteínas 4. Aminoácidos com grupos R carregados positivamente aminoácido Abreviação/s ímbolo pK1 (-COOH) pK2 (-NH3 +) pKR (grupo R) Ocorrência em proteínas (%) Lisina Lys / K 2,18 8,95 10,53 5,9 Histidina His / H 1,82 9,17 6,00 2,3 Arginina Arg / R 2,17 9,04 12,48 5,1 Histidina: aminoácido com grupo R anfótero em pH 7,0 10/03/2016 4 5. Aminoácidos com grupos R carregados negativamente aminoácido Abreviação/s ímbolo pK1 (-COOH) pK2 (-NH3 +) pKR (grupo R) Ocorrência em proteínas (%) Aspartato Asp / D 1,88 9,60 3,65 5,3 Glutamato Glu / E 2,19 9,67 4,25 6,3 ALTERAÇÕES TRANSITÓRIAS DE AMINOÁCIDOS modificam temporariamente a função proteica fosforilação é a mais comum PROPRIEDADES QUÍMICAS DE AMINOÁCIDOS são anfóteros: podem atuar como ácidos e bases fracas grupo amino, carboxil e grupos R ionizáveis Em pH neutro: aminoácidos sem grupos R ionizáveis existem como íons dipolares (zwitterion) CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS espécie iônica preponderante Zwitterion: ausência de carga líquida (pI: ponto isoelétrico) • duas regiões tamponantes: pk1=2,34 ±1 e pk2=9,60 ±1 2 )2pK1pK( pI Glicina 10/03/2016 5 CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS Glicina: pk1 e pk2 são menores (maior acidez) que moléculas orgânicas de referência. CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS Efeito do pH sobre a mobilidade eletroforética: pH > pI: carga negativa líquida prevalece (mobilidade para ânodo – eletrodo positivo) pH < pI: carga líquida positiva (mobilidade para cátodo – eletrodo negativo) pH = pI (carga líquida nula) CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS Generalizações: 1 – grupo R não-ionizável: curva de titulação semelhante à da glicina -COOH: pKa entre 1,8 e 2,4 -NH3 +: pKa entre 8,8 e 11,0 2 – grupo R ionizável: curva de titulação mais complexa (3 estágios) o ponto isoelétrico depende da natureza do grupo R Se carboxil: pI é a média entre pK1 e pKR (aspartato e glutamato) Se amino: pI é a média entre pKR e pK2 (lisina, arginina) CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS Cadeia lateral ácida: glutamato e aspartato pI = 3,22 𝒑𝑰 = 𝒑𝑲𝟏 + 𝒑𝑲𝑹 𝟐 10/03/2016 6 CURVAS DE TITULAÇÃO DE AMINOÁCIDOS pI = 7,59 𝒑𝑰 = 𝒑𝑲𝑹 + 𝒑𝑲𝟐 𝟐 Cadeia lateral básica: histidina, lisina, arginina PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS • Cadeias de aminoácidos ligados covalentemente através de ligação peptídica (amídica); reação de condensação • Oligopeptídeos: poucos aa • Polipeptídeos: m < 10.000 Da • Proteínas: alta massa molecular (m) PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS A sequência de aminoácidos é convencionalmente descrita do aminoácido aminoterminal (N-terminal, à esquerda) para o carboxiterminal (C-terminal, à direita). seril-glicil-tirosil-alanil-leucina = Ser-Gly-Tyr-Ala-Leu = SGYAL 10/03/2016 7 Propriedades ácido-básicas dos peptídeos: - apenas 1 grupo α-amino e α-carboxil livres - depende do tipo e quantidade de grupos R ionizáveis apresentam curva de titulação e ponto isoelétrico (carga líquida neutra) característicos para cada molécula. Quantos aminoácidos formam uma proteína? quantidade variável: maioria entre 100 – 1000 aa Pode ser formada por cadeia polipeptídica única ou por várias associadas entre si: são as proteínas “multissubunidade”: cadeias idênticas (proteína oligomérica, as unidades são denominadas protômeros;) ou diferentes associação não covalente ou através de ligações dissulfeto (insulina: ligações dissulfeto intra e intercadeia) As proteínas podem ser: - Simples: apenas aminoácidos - Conjugadas: porção que não é aminoácido = grupo prostético tipos: lipoproteínas, glicoproteínas, metaloproteínas hemoglobina ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS ESTRUTURA PRIMÁRIA ↬Descrição da sequência de aminoácidos ligados covalentemente por ligações peptídicas ESTRUTURA SECUNDÁRIA ↬Arranjos estáveis da cadeia principal dos aa, formando padrões repetitivos. 10/03/2016 8 ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS ESTRUTURA TERCIÁRIA ↬Descrição do dobramento tridimensional da cadeia polipeptídica, considerando as cadeias laterais dos aminoácidos. ESTRUTURA QUATERNÁRIA ↬Organizaçãoespacial de proteínas constituídas por duas ou mais cadeias polipeptídicas (subunidades). ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS ESTRUTURA PRIMÁRIA Número e sequência de aminoácidos covalentemente ligados Determina/influencia a estrutura tridimensional e a função existe relação da estrutura primária com a função? Sim! Evidências: proteínas idênticas apresentam mesma função em espécies diferentes. a sequência de aminoácidos é invariável? Não... podem ser polimórficas (pequena influência na função). • Na cadeia polipeptídica: cadeia principal se repete regularmente (“arcabouço”) cadeias laterais (grupos R) Cadeia principal - ligação peptídica é rígida e plana* - potencial para formação de ligações de H: carbonila (aceptor) e grupo amino (doador) Estruturas de ressonância de ligação peptídica caráter de ligação dupla, explica a rigidez da ligação Conformação trans: átomos de Cα sucessivos em lados opostos da ligação peptídica 10/03/2016 9 Cadeia principal – ligações Cα - carbonila e Cα -grupo amino têm rotação, que confere mobilidade à estrutura. Ângulos de torção (diedros): nem todos são favoráveis... há impedimentos estéricos A rigidez da ligação peptídica e a restrição de ângulos diedros determinam as possibilidades de enovelamento das proteínas. ESTRUTURA SECUNDÁRIA Cadeia polipeptídica principal se dobra em estruturas repetitivas e regulares α-hélice folhas β-pregueadas voltas ângulos de torção repetidos α-hélice - “orientada” para direita - ligações de hidrogênio regularmente espaçadas (C=O a n+4 de N-H) - 3,6 aa por volta - comprimento médio ~12 aa (três voltas) ESTRUTURA SECUNDÁRIA α-hélice - arcabouço central - cadeias laterais para fora. ESTRUTURA SECUNDÁRIA folhas β-pregueadas - Estabilizada por ligações de H entre regiões da cadeia polipeptídica -Variações: (direção relativa das cadeias) folhas β antiparalelas e paralelas 10/03/2016 10 ESTRUTURA SECUNDÁRIA folhas β-pregueadas ângulos rotacionais são diferentes; a aparência “pregueada” ocorre porque as cadeias laterais de aminoácidos vizinhos ficam voltadas para lados opostos da estrutura. tamanho: 2 a 22 regiões, com até 15 resíduos de aa ESTRUTURA SECUNDÁRIA folhas β-pregueadas normalmente há mistura de fitas paralelas e anti- paralelas; a conexão entre fitas pode ser simples alças, voltas ou estruturas mais complexas. carboxipeptidase A bovina Voltas e alças sequências polipeptídicas que mudam abruptamente de direção • voltas reversas (curvaturas β): conectam fitas de folhas β antiparalelas • alças Ω: 6 a 16 resíduos, formam estruturas compactas e globulares. • maioria envolve 4 resíduos de aa, com rotação de 180o entre R2 e R3 ESTRUTURA SECUNDÁRIA ESTRUTURA TERCIÁRIA •Descreve o dobramento das estruturas secundárias e determina a posição de cada átomo (inclusive cadeias laterais) É analisada e determinada por métodos específicos - Cristalografia de raios X - Ressonância magnética nuclear 10/03/2016 11 ESTRUTURA TERCIÁRIA Localização das cadeias laterais de aa: - Apolares (Val, Leu, Ile, Met, Phe) região interna (efeito hidrofóbico) - Polares carregados (Arg, His, Lys, Asp, Glu) na superfície, em contato com meio aquoso - Polares não-carregados (Ser, Thr, Asp, Gln, Tyr) na superfície e na região interna (ligações de H) ESTRUTURA QUATERNÁRIA Grandes proteínas (>100KDa), constituídas de subunidades que se associam entre si conforme geometria específica e simétrica. Hetero-oligômeros: proteínas com subunidades diferentes Homo-oligômeros: proteínas com subunidades iguais. Protômeros: subunidades proteicas idênticas Exemplo de proteína homo- oligomérica: queratina (citoesqueleto – filamentos intermediários) CLASSIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS CRITÉRIO: morfologia geral 1. Fibrosas: função estrutural, protetora, suporte; estrutura repetitiva Ex.: α-queratina e colágeno (tripla hélice) 10/03/2016 12 2. Globulares: associação de vários tipos de estruturas regulares e irregulares. CLASSIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS ESTABILIDADE DAS PROTEÍNAS Forças que estabilizam a estrutura: - Efeito hidrofóbico: mantém cadeias laterais de aminoácidos apolares no interior da estrutura proteica. - Interações eletrostáticas: pareamento iônico entre cadeias laterais de cargas opostas (lisina e aspartato/glutamato) - Ligações de hidrogênio - Ligações cruzadas: dissulfeto entre resíduos de cisteína - coordenação com metais (ex.: Zn2+) Não são estruturas estáticas e rígidas, mas sim flexíveis e sujeitas a variações rápidas; Pequena estabilidade: proteínas globulares DESNATURAÇÃO DE PROTEÍNAS • Implica na alteração da conformação original (estrutura tridimensional), sem comprometimento da estrutura primária. Há perda da atividade biológica. Aquecimento: ruptura de ligações hidrogênio; é percebido pela modificação de algumas propriedades (ex.: viscosidade). A temperatura de desnaturação é variável para cada tipo de proteína. Variações extremas de pH: alteram a ionização de cadeias laterais. Detergentes e solventes orgânicos: interferem nas interações hidrofóbicas de resíduos apolares. Agentes caotrópicos (guanidina, uréia): rompem as interações hidrofóbicas internas e aumentam a solubilidade em água. • Podem ser renaturadas espontâneamente em condições fisiológicas: mostra que a estrututa primária determina a estrutura tridimensional. Renaturação proteica da ribonuclease 10/03/2016 13 PROTEÍNAS E CONTAMINANTES AMBIENTAIS Vários contaminantes ambientais são tóxicos devido à interação com proteínas celulares (receptores, proteínas transportadoras, hormônios, enzimas, citoesqueleto, etc.) O mecanismo de ação (toxicodinâmica) de vários contaminantes depende da interação com proteínas (ação pode ser direta ou indireta). Exemplos: 1. Monóxido de carbono (CO): reage com hemoglobina, convertendo em carboxi-hemoglobina, que é mais estável que a oxi-hemoglobina. Efeito: redução da oxigenação dos tecidos, pode levar à morte dependendo da concentração e tempo de exposição. 2. Microcistinas - Heptapeptídeos cíclicos produzidos por espécies de cianobactérias - São hepatotóxicas, ligam-se a proteínas fosfatases, promovendo super fosforilação de proteínas e desagregação do citoesqueleto. - Efeito: desintegração estrutural dos hepatócitos, ocasionando desde hemorragias até choque e morte. 3. INSETICIDAS ORGANOCLORADOS (DDT, DDE, etc.) Interação com proteína de membrana: canais de Na+ em axônio de neurônios (retarda a repolarização da membrana, desregula sinais nervosos). Em peixes: inibição de ATPases envolvidas com osmorregulação. Em aves: inibição da Ca2+ ATPase (casca fina em ovos). Atividade estrogênica: ligação a proteínas de membrana.
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