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artigos técnicos para produtores rurais

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1. Bovinos. 2. Gado de leite. 3. Gado - Doença. 4. Produtores rurais 
I. Título.
CDU: 636.2
M313a Marçal, Wilmar Sachetin
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Artigos técnicos para produtores rurais / Wilmar Sachetin Marçal 
Londrina: 2010.
78p.; 23 cm.
SU
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apresentação
o decúbito em bovinos
a vulnerabilidade dos bovinos
samambaia em pasto é veneno
“requeima” do gado
o edema de mama
o resfriado dos bezerros
a doença da vaca gorda
a úlcera da lactação
somatotropina na pecuária leiteira
moléstia ataca as vacas com excesso de 
gordura
Hormônio melHora produção de leite em 
vaca boa
os bastidores da exposição
braquiária reduz a intoxicação por 
samambaia
cHeiro de vinagre caracteriza boa silagem
couro de boi proporciona renda extra ao 
pecuarista
pesquisadores desconHecem as causas do 
edema de mama nas raças leiteiras
erradicação da aftosa
os bovinos na exposição 94
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o lixo rural da vacinação
a vacinação e o lixo rural
o lixo rural da vacinação
e o pequeno produtor?
preservação ou paisagismo
considerações técnicas sobre o couro 
bovino
campo verde do futuro
vacinação educativa
a Hora da verdade
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uma aula sobre pecuária leiteira
ao lançar este livro com uma coletânea de artigos de sua 
autoria publicados na imprensa brasileira na última década do 
século passado e nos primeiros anos do século xxi, o médico-
veterinário Wilmar marçal, professor da universidade estadual 
de londrina e reitor dessa instituição de 2006 a 2010, mostra os 
principais problemas da pecuária leiteira nacional e propõe medidas 
para os solucionar.
para o lançamento, escolhe o local e o momento mais 
apropriado, o parque de exposições governador ney braga e a 
exposição agropecuária e industrial de londrina. com o encontro 
das raças européias criadas abaixo do paralelo 24 e as zebuínas 
distribuídas nas regiões acima desse círculo, aqui começou a se 
desenvolver a moderna pecuária do brasil, que possui o maior 
rebanho comercial de corte e é o sexto maior produtor mundial 
de leite.
“a ciência e a produção animal devem caminhar juntas, 
para fortalecer o ideal do homem de oferecer alimentos com 
qualidade”. 
esta frase, na abertura de um dos muitos artigos que Wilmar 
marçal publicou na imprensa a partir dos anos 1980, revela a 
preocupação do autor a respeito da necessidade de se manterem 
atualizadas as pesquisas e informações sobre todos os aspectos da 
pecuária leiteira, válidas para os bovinos de corte e equinos.
apresentação
vi
é disso que tratam os artigos reproduzidos neste livro – uma 
aula abrangente, desde o manejo do gado leiteiro, alimentação, 
prenhez, parto e lactação à identificação e tratamento de doenças 
nas diversas fases da vida do animal. 
formado em 1981, na décima primeira turma de medicina 
veterinária da uel, marçal trabalhou como extensionista, de 1982 
a 1984, na região de tangará da serra e poconé, no pantanal de 
mato grosso.
concluiu seu mestrado na universidade de são paulo (usp) 
em 1989 e doutorado em 1996, na unesp de botucatu, são paulo 
em 1998 fez estágio pós-doutoral em puebla, no méxico, para 
mensurar poluentes ambientais no sangue e fluidos dos animais. 
em 1999 foi para o animal science, na michigan state university 
(usa), onde também fez estágio pós-doutoral com bem-estar de 
bovinos leiteiros.
ele trabalha com bovinos leiteiros na especialidade de clínica 
médica; é professor de doenças carenciais e metabólicas de 
ruminantes na medicina veterinária e zootecnia da uel. atua 
ainda no programa de ciência animal, mestrado e doutorado; 
tem 61 trabalhos científicos publicados em periódicos indexados, 
sendo autor principal de 56 deles.
foi o idealizador dos programas de extensão projeto 
carroceiro, universidade amiga (atendimento médico itinerante 
a grandes animais) e projeto bom aluno (rotina hospitalar no 
Hospital veterinário da uel); chefiou o departamento, coordenou 
comissões de ensino, pesquisa e extensão; chefiou a divisão de 
grandes animais do Hv e dirigiu o setor de 2002 a 2006, quando 
assumiu a reitoria. 
desde quando escreveu “o decúbito em bovinos”, publicado 
em 17 de junho de 1988 pelo suplemento semanal folha rural, da 
folha de londrina, marçal redigiu, de modo didático, claro, como 
um professor competente faz, dezenas de artigos esclarecedores. 
apresentação
vii
vai além da detecção das doenças e sua cura; fala da vulnerabilidade 
dos bovinos devido a sua grande capacidade digestiva e enfatiza a 
necessidade de assistência veterinária para manter as boas condições 
do rebanho leiteiro.
“quanto mais cedo “o problema de saúde” for diagnosticado 
e tratado, melhores serão as condições de recuperação” “do animal 
doente”, destaca o especialista, que aponta causas da desnutrição, 
baixa produtividade, problemas reprodutivos em vacas leiteiras e 
cuidados com os bezerros. 
Wilmar salienta, nos artigos, o papel da ciência no 
melhoramento bovino. fala, também, das exposições agropecuárias 
de londrina, onde a constante vigilância identifica e trata patologias 
a que estão sujeitos os animais.
alunos e professores do curso de medicina veterinária da 
uel acompanham as exposições há mais de trinta anos e têm 
comprovado a boa qualidade sanitária da mostra, lembra Wilmar. 
ele observa que os animais chegam às exposições estressados pela 
viagem e que o desembarque “é o momento de real perigo”, pois, 
assustados, os animais correm o risco de acidentes “e até mesmo 
fratura dos membros, principalmente nos equinos”. 
ele comenta, entre outras coisas, a necessidade de bom 
preparo do pessoal de campo que lida com o gado; da importância 
da vacinação correta contra aftosa e do descarte do lixo gerado 
pela vacinação. dos cuidados com a pastagem, aponta ameaça 
da samambaia no pasto e a importância de se manter a pastagem 
limpa, sem arame farpado, pedaços de pau, farpas, galhos partidos 
- enfim não pode estar presente nada capaz de ferir os animais e até 
desvalorizar o couro de boi, “uma renda extra para o pecuarista.” 
o zelo dos pecuaristas, amparados pela ciência, dá bons 
frutos, conforme números do ibge: no ano 2000, o brasil produziu 
19 bilhões 767 milhões de litros de leite. deles, 12 bilhões e 108 
milhões foram recebidos sob inspeção federal. em 2007, foram 
apresentação
viii
produzidos 21 bilhões 122 milhões de litros e, para 2008, eram 
previstos, 27 bilhões 083 milhões de litros. ao mesmo tempo, 
o consumo subiu de 4 bilhões 719 milhões para 39 bilhões 277 
milhões de litros. 
entre 1990 e 2005, a produção leiteira no brasil cresceu 
69,6%, com aumento anual de 3,5%, enquanto crescimento médio 
da economia brasileira subia apenas 2,5%. esses dados constam 
de artigo dos pesquisadores glauco carvalho, cláudio nápolis 
costa e luiz carlos takao Yamaguchi, da embrapa gado de leite 
e marcos cicarini Hott, da embrapa monitoramento por satélite 
e confirmam a evolução do rebanho leiteiro do brasil, graças aos 
cuidados dos pecuaristas e à orientação de pesquisadores e outros 
especialistas, como Wilmar sachetin marçal. 
os artigos deste livro foram publicados na folha rural/folha 
de londrina, suplemento agrícola do estado de são paulo, o 
estado do paraná, Jornal de londrina e Jornal do campo.
Jota oliveira
Jornalista e ex-editor da folha rural
apresentação
9
O decúbitO em bOvinOs
os bovinos, em particular os leiteiros, são para os veterinários 
clínicos um campo de estudos e de muitas surpresas. estes animais, 
talvez pela susceptibilidade que apresentam a algumas enfermidades 
pecuárias, bem como pela dedicação e cuidados especiais que 
exigemem seu manejo, demonstram muitas vezes sérias alterações, 
sejam de ordem metabólica, traumática ou mesmo infecciosa, que 
podem determinar o quadro clínico de decúbito.
entre estas alterações as metabólicas exercem um papel de 
fundamental importância, pois exigem do veterinário uma atuação 
rápida e objetiva para que se evitem outras complicações que, 
certamente, surgem nestes casos. a complexidade deste tipo de 
alteração permitiu aos pesquisadores internacionais, no início dos 
anos 50, atribuir a expressão “síndrome da vaca caída” aos animais 
que apresentassem o decúbito.
constitui problema desta ordem em nosso meio duas 
importantes afecções. a primeira, conhecida por paresia pós-parto, 
ou “febre do leite”, febre vitular ou, ainda, hipocalcemia. caracteriza-se 
por diminuição dos valores de cálcio iônico nos líquidos tissulares. 
esta alteração ocorre em fêmeas leiteiras adultas na época do parto, 
uma vez que as vacas utilizam boa parte de suas reservas de cálcio 
para a formação do colostro que o bezerro irá mamar.
o quadro clínico é determinado por fraqueza muscular 
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 17 jun. 1988. suplemento 
folha rural, p. 3.
10
generalizada, colapso circulatório e depressão da consciência 
do animal. o decúbito surge como uma consequência. quando 
diagnosticada a tempo e tratada imediatamente com soluções 
de gluconato de cálcio, o animal se recupera com facilidade. a 
medicação deve ser feita na veia do pescoço (jugular) e de forma 
lenta para se evitar outros problemas, particularmente os de ordem 
cardíaca. aliado ao tratamento, o animal deve receber uma boa 
suplementação alimentar.
outra alteração que merece destaque é, sem dúvida, a cetose 
bovina, também conhecida por hipoglicemia da vaca leiteira. o animal 
enfermo apresenta uma baixa considerável nos níveis de glicose 
circulante. esta alteração é mais frequente durante a lactação, pois 
exerce um tipo de predisposição fisiológica, já que o animal necessita 
de muita lactose para produzir o leite e esta nem sempre é suprida 
pela alimentação. em bovinos de corte este problema também 
ocorre e a fome (subalimentação) constitui o fator desencadeante.
os animais com cetose apresentam um sintoma característico; 
o odor de clorofórmio no ar expirado, no leite, na urina e na 
pele. além disso, podem, em alguns casos, desenvolver sintomas 
nervosos, o que com certeza deixará o fazendeiro preocupado, 
temendo outras doenças também de caráter grave. nesta hora 
a presença do veterinário é imprescindível. ele é o único com 
recursos e conhecimentos para avaliar as condições de saúde do 
animal, estabelecer o diagnóstico e realizar o tratamento específico. 
nestes casos a tríade farmacológica funciona bem: soluções de 
cálcio, vitamina b1 e corticóides com efeito gliconeogênico.
o que os criadores não devem esquecer é que não só de 
alterações metabólicas se constitui o decúbito dos bovinos. é por isto 
que o diagnóstico nem sempre é fácil. ele pode surgir, também, 
em casos onde há fraturas dos membros ou lesão de coluna 
espinhal, bem como em alguns processos infecciosos que levem 
ao esgotamento das forças do animal, impedindo-o de permanecer 
11
em estação. além disto, os fortes traumatismos produzidos pelo 
bezerro na cavidade pélvica da vaca durante o parto constitui outro 
fator, principalmente se o feto for muito grande.
o criador poderia evitar o problema tendo um controle 
reprodutivo de seu rebanho, juntamente com um bom exame 
obstétrico rotineiro de suas vacas. é fundamental ainda que não 
se permita o manuseio, por parte de leigos, nos animais que estão 
com alguma dificuldade para parir. uma importante recomendação 
técnica – e que deveria servir de alerta para os criadores – é o fato 
de que em muitos casos de decúbito o que ocorre são manobras 
terapêuticas errôneas por parte do encarregado do gado (peão). esta 
pessoa, sem conhecimento científico e cheio de crenças, realiza um 
verdadeiro coquetel de remédios para o animal deitado na tentativa 
de levantá-lo. para isto utiliza tudo que dispõe na farmacinha da 
fazenda, ou seja, tônicos, soros e, principalmente, antibióticos. 
esta conduta deveria ser abolida no meio rural sem a anuência do 
veterinário, pois um bovino em decúbito que recebe uma carga de 
antibióticos de modo indiscriminado terá a destruição da fauna e 
flora de seu rúmen e, certamente, outra série de complicações.
o tempo passa, o animal não levanta, os medicamentos são 
onerosos e fica a velha pergunta: e agora? mas cercando-se as 
possibilidades já descritas, realizando-se o tratamento convencional 
e não havendo resposta por parte do animal, o prognóstico que de 
início era reservado passará a desfavorável, principalmente se o 
decúbito exceder as primeiras 24/48 horas. neste momento, o animal 
já terá outras de suas funções vitais abaladas e deverá ser sacrificado, 
infelizmente.
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A vulnerAbilidAde dOs bOvinOs
os bovinos, particularmente os leiteiros, devido a grande 
capacidade digestiva – com 3 reservatórios gástricos e um estômago 
– são os animais mais susceptíveis a apresentarem quadro de 
indigestão. entretanto, diferentes enfermidades desta espécie animal 
são decorrentes da ingestão acidental de corpos estranhos junto 
com as pastagens e alimentos. a mais comum delas é a reticulite 
traumática dos bovinos, doença determinada pela penetração de 
objetos pontiagudos (pregos, grampos, arames e restos de cercas) 
no retículo do animal, podendo perfurar este órgão digestivo e 
lesionar outras estruturas vizinhas como o diafragma, coração, baço 
e fígado.
na verdade, este problema acontece devido a falta de 
discernimento oral dos bovinos, que não selecionam os alimentos 
ingeridos, mastigam sumariamente e são impossibilitados de cuspir 
qualquer objeto estranho à sua boca.
cientificamente, sabe-se que contribuem diretamente para 
isto certas particularidades da anatomia da cavidade bucal dos 
bovinos, em cujas estruturas, chamadas de papilas cônicas das 
bochechas e da língua, além das cristas salientes do pálato, recaem a 
culpa e o desencadeamento do processo. estas estruturas possuem 
a capacidade de facilitar a penetração do corpo estranho por se 
projetarem em direção caudal, ou seja, para dentro da boca. como a 
distância entre o esôfago e o retículo não é muito grande, e sendo os 
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 24 fev. 1990, suplemento folha 
rural, n. 774, p. 3.
13
corpos estranhos de relativo peso, os objetos chegam rapidamente 
naquele órgão, tornando o bovino bastante vulnerável a afecções. 
com as fortes contrações que o órgão executa normalmente, além 
do esforço no momento do parto nas vacas, o objeto pode perfurar 
o retículo e atingir também outras estruturas, causando danos 
irreparáveis.
prevenir este problema significa possuir pastagens limpas, 
livres de arames e restos de cercas. por vezes, alguns objetos 
estranhos podem ser oriundos da carreta que transporta silagem 
até os cochos. por isso deve ser vistoriada sempre que possível. 
em certos países, criadores sofisticados colocam um imã que 
permanece profilaticamente no retículo do bovino para atrair os 
objetos metálicos estranhos, sendo retirado somente por cirurgia, 
ou quando o animal é descartado e abatido.
como em qualquer doença, existem exames clínicos 
específicos para diagnosticar a reticulite nos bovinos. quanto mais 
cedo forem realizados, dependendo da extensão da lesão, melhores 
serão as chances de sobrevivência do animal.
“bucho-virado”
como se não bastassem as variadas indigestões envolvendo 
os reservatórios gástricos (rúmen, retículo e omaso), também o 
abomaso (estômago verdadeiro) sofre processos de severa gravidade 
que em determinadas condições levam este órgão a deslocar-se de 
sua posição normal.
a doença tratada popularmente por alguns como“bucho-
virado” é, no meio científico, classificada por deslocamento do 
abomaso, que pode ser à esquerda ou à direita. o primeiro tipo 
(comum no brasil) quando diagnosticado e tratado a tempo propicia 
boas chances de recuperação do animal. o deslocamento à direita, 
comum em outros países como a dinamarca, por exemplo, é uma 
14
forma mais grave e pode levar o animal rapidamente ao óbito pela 
torção que provoca no órgão.
o deslocamento do abomaso, acontece mais com vacas leiteiras 
de alta produção, principalmente entre a 3ª. e 5ª. lactações; animais 
de grande tamanho e avantajada capacidade abdominal, possuindo 
forte relação com a gestação e o parto. esporadicamente a doença 
pode ocorrer em touros e bezerros, sendo estes últimos acometidos 
quando alimentados com grande quantidade de sucedâneo lácteo e 
ração pobre em fibra. é importante frisar que na maioria dos casos 
de deslocamento do abomaso as vacas leiteiras sofrem, ao mesmo 
tempo, de outras afecções como mamite, metrite e hipocalcemia, 
prejudicando ainda mais o estado geral e levando o animal a um 
maior esgotamento.
no estado do paraná, além da raça Holandesa preta e 
branca, e enfermidade já foi diagnosticada e tratada com êxito em 
animais da variedade vermelha e branca e vacas da raça Jersey. o 
quadro clínico característico é de um sério transtorno digestivo 
onde o animal mostra sinais de sofrimento abdominal, assumindo 
posição de arqueamento de dorso. a vaca torna-se triste, não há 
febre e o apetite é seletivo. o animal deixa de comer concentrado 
e silagem preferido feno e alimento fibroso. a produção leiteira 
cai abruptamente e o animal emagrece rapidamente. percebe-
se episódios de diarréia com característica de fezes gordurosas e 
grudentas.
quanto mais cedo for diagnosticado e tratado, melhores serão 
as condições de recuperação. a vaca doente precisa ser “abotoada”, 
ou seja, submetida a uma cirurgia onde terá o abomaso fixado por 
intermédio de botões plásticos em local apropriado. inútil tentar 
resolver o problema com medicamentos e outros meios.
como toda enfermidade, esta também possui maneiras 
de prevenção, como não alimentar intensivamente a vaca à base 
de concentrados no final da gestação e logo após o parto, com o 
15
objetivo de aumentar a produção láctea. esta atitude pode provocar 
a formação de muito gás, contribuindo diretamente para a doença. 
além disso, vale lembrar que, como todo ruminante, os bovinos 
precisam sempre de alimentos fibrosos.
16
sAmAmbAiA em pAstO é venenO
com um rebanho bovino de quase 9 milhões de cabeças e 
amparado por alta tecnologia na exploração agropecuária, o paraná 
ainda enfrenta alguns problemas na criação animal, particularmente 
os relacionados com enfermidades causadas pela ingestão de vegetais 
tóxicos.
segundo o veterinário e professor da universidade de 
londrina, Wilmar sachetin marçal, uma doença de grande peso 
na pecuária extensiva é resultado da ingestão da planta Pteridium 
aquilinum, popularmente chamada samambaia. da fácil incidência 
no norte paranaense, sua propagação é rápida nas pastagens onde o 
solo é ácido. os princípios tóxicos da planta têm efeito acumulativo 
e nos bovinos determinam diferentes formas clínicas, até morte. 
representa, portanto, um sério risco para o criador.
conforme o veterinário, os estudiosos acreditam que a 
samambaia possui, além de um veneno vascular, uma substância 
tóxica cuja ação sobre o organismo animal é semelhante ao raio 
x. vem daí a denominação “fator radiomimético”. dentro das 
espécies bovinas, a vaca é mais afetada. quando intoxicada ela sofre 
hemorragia de bexiga e tumores localizados na parede do órgão.
“os animais doentes eliminam urina com aspecto 
sanguinolento; quadro que pode persistir por muito tempo. na 
verdade, é esta manifestação que chama a atenção do tratador”, 
afirma marçal, acrescentando: a maior consequência da intoxicação 
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 24 mar. 1990. suplemento 
folha rural, seção recomendação 
técnica, n. 778, p.13.
17
é a anemia, que provoca emagrecimento acentuado e danos no 
estado geral do animal. as vacas deixam de ciclar, pois o sistema 
reprodutivo acaba comprometido, alterando sua fertilidade.
embora a planta não seja palatável, o veterinário explica que 
algumas condições favorecem sua ingestão pelos bovinos. a fome 
é basicamente a primeira delas e costuma levar o animal ao vício 
de ingeri-la sempre que sentir a necessidade de mais alimento. os 
bovinos também procuram a planta quando sentem carência de 
fibra na pastagem. neste caso podem, eventualmente, se intoxicar 
com o feno contaminado pela samambaia.
Fase crônica
uma fase mais crônica da intoxicação apresenta a formação 
de tumores no esôfago do animal, conhecidos como caraguatá, 
figueira da goela ou favo.
esses tumores dificultam a deglutição e respiração do animal, 
indicando já o aspecto crônico da intoxicação. “é inútil tentar nesta 
fase qualquer tratamento. o quadro é irreversível” – adianta.
nos equinos também ocorre a intoxicação, embora com 
raridade e pouco significante em termos de rebanho. neles os 
sintomas são diferentes, de acordo com marçal: nos equinos um 
outro princípio tóxico da planta destrói as reservas de vitamina 
b1 e provoca descoordenação no andar, tremedeira e sonolência, 
dependendo da intensidade tóxica, vitaminas do complexo b são 
indicadas para o tratamento.
quem tem rebanho bovino – orienta o veterinário - precisa 
pensar na profilaxia, ou seja, no combate à doença. é a única medida 
capaz de limitar a enfermidade e pode ser através da erradicação da 
samambaia dos pastos, arrancando a planta na época de rebrota. “no 
brasil as condições melhoraram, devido às novas técnicas agrícolas 
no cuidado intensivo do solo, com boas e completas adubações, 
18
calagens e formação de pastagens adequadas. foi agindo assim que 
a Holanda e a dinamarca conseguiram acabar definitivamente com 
a planta.
se um trabalho completo de melhorias nas pastagens for 
impossível para o criador, marçal recomenda a alternância de 
pastoreio em áreas contaminadas e limpas, durante o período 
de 21 dias. ainda observa: deve-se evitar o pastoreio em lugares 
contaminados que sofreram queimada recente, já que a brotação 
é a fase mais tóxica da planta. também deve-se evitar o uso da 
samambaia como cama de estábulo.
o veterinário diz que ainda falta conhecimento científico 
suficiente para garantir o consumo da carne de boi vítima da 
intoxicação. entretanto, pesquisadores internacionais alertam que 
uma maior porcentagem de câncer de estômago no homem é 
encontrada em regiões onde as vacas abatidas eram alimentadas com 
samambaia. os mesmos pesquisadores observaram a formação de 
tumores em ratos e camundongos alimentados com leite de vaca 
intoxicadas pela planta, concluindo que os princípios tóxicos são 
eliminados em quantidade significante pela secreção láctea.
19
“requeimA” dO gAdO
as peculiaridades da espécie bovina no que diz respeito à 
alimentação também são de interesse do clínico veterinário, pois em 
determinadas condições até mesmo a ingestão de gramíneas pode 
desencadear problemas, especialmente se estiverem contaminadas. 
a isto é somada a fotossensibilidade, doença que reflete de modo 
negativo no rebanho, determinando um desenvolvimento retardado 
dos animais acometidos e, em alguns casos, emagrecimento 
progressivo e morte.
a fotossensibilidade é popularmente chamada de “requeima” e/
ou “sapeca”. na verdade, é um processo não infeccioso caracterizado 
por lesões da pele que atacam o gado de criação extensiva e até os 
ovinos, em especial os mais jovens, que desenvolvem o chamado 
eczema facial (lesão que provoca irritabilidade, percebida pelo 
balanço frequente da cabeça).
em nosso meio, a causa principal da doença é a ingestão de 
gramíneacontaminada, particularmente a Brachiaria decumbens. o 
ambiente propício de calor e umidade favorece o desenvolvimento 
de um fungo que acaba infestando as pastagens. este fungo produz 
uma micotoxina conhecida por esporodesmina, que determina 
lesões no fígado, vesícula biliar, condutos biliares e bexiga. 
consequentemente surge um quadro de hepatite e obstrução 
biliar, que impede a excreção de filoeritrina, um pigmento resultante 
da degradação normal da clorofila presente nos vegetais ingeridos 
pelos animais.
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 2 jun. 1990. folha rural, n. 
788, p.3.
20
a partir daí ocorre um acúmulo deste pigmento no organismo, 
já que o fígado não consegue fazer a metabolização para eliminá-
lo. com isto, atinge-se os capilares (vasos) que nutrem a pele. a 
incidência de raios solares provoca a liberação de uma substância 
alérgica (histamina) que propicia o desprendimento da pele e a 
formação de feridas.
especialmente nos bovinos de pelagem branca e criados em 
campo, a doença é mais evidente naqueles até 2 anos de idade. 
quando acometidos, manifestam sintomas de falta de apetite e 
inquietação, balançando a cauda e esfregando o corpo em cercas e 
árvores para aliviar a coceira.
também são observadas alterações nas orelhas, com 
desprendimento da pele, que fica enrugada e quebradiça. em outras 
regiões do corpo que recebem maior incidência de raios solares, 
como barbela, glúteos, dorso e flancos, a pele se desprende da 
mesma forma, demonstrando aspecto de couro curtido e podendo 
evoluir para feridas. se não forem tratadas, acabam invadidas por 
germes e causam outras complicações, como infecções na própria 
pele.
em caso de surto, a conduta emergencial é retirar os animais 
da pastagem de Brachiaria decumbens e colocá-los em outro pasto, 
livre dos fungos. sempre que possível, permitir o acesso a locais 
onde encontrem sombra. o tratamento consiste em aplicar 
medicamentos hepatoprotetores, soros glicosados, antialérgicos e 
purgantes oleosos para eliminar o material tóxico já ingerido.
as feridas precisam ser limpas e receber produtos à base 
de vitamina a, óxido de zinco e antibióticos. o óleo de fígado 
de bacalhau funciona bem nestes casos, principalmente porque 
também é repelente, o que auxilia a cicatrização.
o período de cicatrização é variável, já que nem sempre 
se pode manejar o gado diariamente, devido a outros serviços na 
fazenda. em casos de tratamento intensivo os animais se recuperam 
em pouco mais de um mês; melhor ainda se forem retirados da 
pastagem contaminada e receberem assistência veterinária.
21
O edemA de mAmA
nos países onde a pecuária leiteira é explorada intensivamente, 
o edema de mama assume importância significativa. embora 
no brasil as estatísticas não sejam de conhecimento preciso da 
comunidade científica, nos estados unidos, em vários rebanhos 
examinados, o problema atingiu 18% de incidência, em média. 
entende-se por edema ou congestão da mama, como sendo um 
distúrbio da glândula mamária, caracterizado por um acúmulo de 
líquidos nos espaços teciduais intercelulares. o problema pode 
ocorrer antes ou após o parto e, normalmente, é considerado como 
um transtorno fisiológico. 
em algumas vacas, entretanto, o edema pode se agravar, 
causar desconforto ao animal e torná-lo susceptível a traumatismos 
e infecções na glândula mamária, comprometendo, inclusive, os 
ligamentos suspensórios. os animais manifestam dificuldade para 
se locomoverem e deitarem.
a causa do edema de mama não é conhecida com exatidão. 
os veterinários-pesquisadores acreditam que o problema é 
multifatorial, havendo estreita ligação com a circulação da glândula 
mamária. como a forma anteparto é a mais comum de ocorrer, 
acredita-se que a pressão exercida pelo feto na cavidade pélvica, 
durante a gestação da vaca, dificulte e prejudique o fluxo sanguíneo 
e linfático do úbere e ocasione o edema.
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 12 jun. 1991. suplemento 
folha rural, seção recomendação 
técnica, p.5.
22
os estudiosos também consideram como causas o aumento 
do fluxo de sangue para nutrir o úbere antes do parto (mojando), 
associado com uma diminuição da quantidade de sangue que 
retorna do mesmo, pois aproximadamente 400 litros de sangue 
circulam pela glândula mamária para produzir somente 1 litro de 
leite. 
além disso, consideram como fator predisponente ao edema, 
em novilhas, o leite retido na mama pela dificuldade de descida, o 
que prejudica mais ainda a circulação local.
por outro lado, as pesquisas também demonstram que a 
alimentação com excesso de cloreto de sódio (sal comum) e, 
principalmente do elemento potássio, oriundo de uma dieta rica 
em grãos ou na forma de fertilizantes do solo que se incorporam na 
matéria vegetal, são fatores que causam o edema de mama. 
um estudo americano, abrangendo um grande número 
de bovinos da raça holandesa preta e branca, demonstrou que o 
edema de mama se torna menos incidente à medida que as vacas 
envelhecem. ainda mesmo, foi observado que as novilhas estando 
mais velhas no primeiro parto, o edema era mais incidente. vacas 
com período seco longo, acima de 70 dias, mostraram uma maior 
severidade do edema de mama.
as considerações etiológicas aqui abordadas estão 
possibilitando, em países desenvolvidos e com recursos apropriados, 
linhas de pesquisas na busca de outros fatores causadores do 
transtorno, entre os quais a possível influência hormonal, o 
que talvez possa explicar certas predisposições em animais de 
determinadas idades.
o tratamento de eleição para casos de edema de mama é pela 
utilização de uma droga diurética, apesar de que muitos casos se 
curam espontaneamente. 
as medidas de auxílio incluem exercitar as vacas através 
de caminhadas e realizar duchas para estimular a circulação na 
glândula mamária. importante e fundamental conduta é a ordenha 
frequente, nas formas pós-parto do edema de mama.
23
O resFriAdO dOs bezerrOs
a queda da temperatura e o consequente clima frio, 
particularmente em algumas épocas do ano, são responsáveis 
pelo aparecimento de doenças que atingem e prejudicam as vias 
respiratórias dos animais. são as chamadas “doenças devidas ao frio” 
e, dentro do complexo pediatria bovina, merecem ser destacadas, 
porque na maioria das vezes assumem um caráter preocupante, 
com graves consequências para os criadores.
em termos pecuários, a incidência maior de doenças 
respiratórias recai sobre os bovinos leiteiros jovens, criados de modo 
intensivo. estes bezerros, quando não atendidos rapidamente, 
acabam evoluindo de um caso de resfriado para a temível 
broncopneumonia. nestes casos, podem ocorrer surtos levando a 
sérios prejuízos econômicos, pela alta mortalidade provocada.
o agente causal mais comum é tido como sendo um vírus, 
podendo, no entanto, haver contaminação bacteriana secundária, o 
que geralmente ocorre nas fazendas de exploração leiteira.
uma série de fatores contribuem efetivamente para o 
problema. a umidade no bezerreiro, correntes de ar frio, ventos 
muito fortes, inalação de poeira, fumaça ou outras substâncias que 
irrite as vias aéreas dos bezerros, predispõem ao aparecimento de 
problemas do sistema respiratório.
os animais doentes manifestam sintomas específicos e 
o sucesso da cura depende de um diagnóstico clínico precoce, 
publicado no Jornal O Estado do Paraná, 
curitiba, 20 jul. 1991. p. 15.
24
além da escolha correta e em dose certa do medicamento. os 
bezerros mostram-se abatidos, apresentam tosse, corrimento nasal, 
dificuldades respiratórias e febre, principalmente nas pneumonias 
bacterianas. como consequências surgem alterações no estado geral 
do animal que se cansa com facilidade, não acompanha o restante 
do rebanho e terá, seguramente, seu crescimento prejudicado. 
para se evitarnovas doenças, algumas medidas profiláticas 
devem ser adotadas e cumpridas com seriedade, não somente uma 
vez, mas durante todo o ano. em primeiro lugar os bezerreiros 
devem ter o máximo de higiene possível. as fezes e os demais 
resíduos precisam ser removidos e o ambiente sofrer uma boa 
desinfecção periodicamente. além disso, o local deve ter a proteção 
de correntes de ar, serem bem ventilados e livre de umidade, tornando 
o local de criação com temperatura e condições apropriadas. os 
animais recém-nascidos precisam mamar o colostro da mãe em 
grandes quantidades para o preparo imunológico do organismo, 
tornando-se mais resistentes. é importante também que tenham 
acesso diário ao sol, pois é através deste que os bezerros sintetizam 
a vitamina d, que é essencial para o equilíbrio de cálcio e fósforo, 
tornando os ossos fortes e o crescimento mais rápido. durante a 
noite o local onde permanecem os bezerros deve ser bem iluminado 
e se possível aquecido.
é necessário o cumprimento de calendário sanitário. os 
bezerros precisam ser desverminados, pois alguns vermes podem se 
alojar no pulmão e também causar sérios problemas respiratórios.
por outro lado, é necessário se evitar as aglomerações que 
são comuns na criação de animais em regime de estabulação. além 
disso, a vacinação contra pneumoenterite deve ser realizada, em 
especial nas propriedades que tenham ou já tiveram problemas 
desta ordem.
para os casos em que é necessário tratamento, os antibióticos 
são os remédios de eleição. entretanto, precisam ser feitos de modo 
25
adequado, na dose correta a principalmente serem de amplo espectro 
de ação. ao veterinário cabe estipular a dose correta, considerando 
o peso do animal, e o período de tratamento nunca deve ser inferior 
a sete dias. os medicamentos com ação expectorante e os que 
provocam uma broncodilatação são também muito recomendados 
e facilmente encontrados. sua ação se torna melhor quando é feito 
em associação com o antibiótico escolhido, por isso são conhecidos 
como medicamentos coadjuvantes ao tratamento. existem 
também alguns produtos a base de cânfora. entretanto, trabalhos 
científicos comprovaram que esta substância não possui ação para 
as vias respiratórias e, quando usada de forma injetável pode causar 
intoxicação para o animal.
é importante salientar também, que os animais muito 
debilitados pela doença respiratória, precisam receber uma 
atenção especial no tratamento. a utilização de soros hidratantes e 
energéticos pode ser feita e a aplicação deve ser na veia do pescoço 
(jugular) de forma lenta para a melhor absorção e aproveitamento 
do remédio. além disso, a água de bebida dos bezerros precisa ser de 
boa qualidade e os animais devem receber alimentos palatáveis e de 
fácil digestão, principalmente na fase de recuperação, para diminuir 
o período de convalescença e a possibilidade de complicação com 
quadros de graves infecções.
26
A dOençA dA vAcA gOrdA
ensinam os nutricionistas que é melhor e mais apropriado 
para um organismo uma alimentação equilibrada, e que o 
excesso de gordura nunca foi sinal de saúde. esta conotação 
encaixa-se perfeitamente também para alguns animais pecuários, 
particularmente os bovinos leiteiros.
as experiências clínicas de certos estudiosos da medicina 
veterinária, em diferentes países europeus e nos estados unidos, 
demonstram a existência de uma enfermidade conhecida por 
síndrome da vaca gorda ou doença do fígado gorduroso. trata-se 
de um distúrbio metabólico resultante de falhas nas práticas de 
manejo da fazenda, como alimentação errônea no final da lactação 
e no período seco das vacas.
a doença é mais frequentemente observada em bovinos 
estabulados, onde os animais, em diferentes fases da lactação e no 
período seco, são alimentados como sendo um grupo único, sem 
a devida divisão por categoria, recebendo ração de alta qualidade, à 
vontade, tornando-se obesos antes do próximo parto.
embora seja de ocorrência rara em novilhas, a síndrome 
acomete vacas de todas as idades, sendo mais comumente observada 
nas primeiras semanas de lactação, quando ocorre o conhecido 
déficit energético pós-parto, uma vez que a produção leiteira exige 
o máximo de nutrientes da vaca nesta fase. o organismo animal, 
então, mobiliza o tecido adiposo como fonte de combustível para 
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 6 set. 1991. suplemento folha 
rural, seção recomendação técnica, 
p.8.
27
a produção de energia. como a qualidade de gordura é grande 
por causa da obesidade da vaca, o fígado fica sobrecarregado e não 
consegue metabolizar o excesso, devido a insuficiente reserva de 
lipoproteína transportadora que deveria executar este trabalho. 
assim sendo, haverá deposição hepática de partículas de gordura e 
suas graves consequências.
os animais doentes demonstram sinais de prejuízo de sua 
condição metabólica, tornando-se deprimidos, com falta de apetite 
e isolando-se do rebanho. o sinal mais evidente para o diagnóstico 
é a presença de muitas vacas gordas no grupo das vacas secas. os 
trabalhos americanos, realizados em bovinos da raça Holandesa 
preta e branca, mostram que os animais acometidos podem atingir 
o peso de 680 a 820 quilos.
os estudiosos também esclarecem que a síndrome da vaca 
gorda é considerada como sendo a “ponta de um iceberg” e que 
um número muito maior de vacas podem estar afetadas pela 
forma subclínica da doença, ou seja, com depósitos de gordura no 
fígado. de fato, o uso da técnica de biópsia hepática na inglaterra, 
realizada em vários rebanhos de vacas leiteiras, evidenciou que essa 
forma subclínica é mais comum do que se imaginava. cerca de 
1/3 das vacas com produção láctea superior a 5.500 quilos estavam 
atingidas.
o mais temível, entretanto, é que os animais tornam-se mais 
suscetíveis a determinadas enfermidades, pois ocorre diminuição da 
resistência orgânica por causa deste distúrbio metabólico. Haverá 
maior incidência de doenças como mastite, metrite, cetose e febre 
do leite. algumas pesquisas realizadas na Holanda mostraram que 
também o deslocamento do abomaso, de grande incidência na 
bacia leiteira do paraná, possui forte ligação com a doença do fígado 
gorduroso, deixando os animais mais vulneráveis àquele transtorno 
digestivo.
28
o tratamento consiste em utilizar produtos à base de glicose 
e protetores hepáticos (soros veterinários prontos), em quantidades 
suficientes mediante prescrição médica. a niacina, uma vitamina 
do complexo b, tem sido muito recomendada, pois diminui a 
mobilização da gordura, estimula o apetite e promove uma melhora 
no rendimento energético da vaca.
além disso, é necessário o tratamento sintomático para 
aquelas enfermidades que acabam surgindo, por causa da baixa de 
resistência. nos animais que se curam, a recuperação da condição 
orgânica é lenta, havendo comprometimento no ciclo reprodutivo 
por interferência e diminuição na fertilidade das vacas.
profilaticamente, recomenda-se evitar que as fêmeas se 
tornem excessivamente gordas no período que antecede ao parto, 
separando os animais por categoria, o que facilita o fornecimento 
adequado de uma alimentação para atender as necessidades de 
manutenção e gestação das vacas, conforme o caso. no período 
seco é mais conveniente e salutar que a vaca leiteira esteja numa 
condição corpórea de “score 3 a 3,5”, segundo escala zootécnica de 
classificação.
29
A úlcerA dA lActAçãO
na pecuária leiteira os problemas relacionados com as 
patologias da glândula mamária são frequentes e variados. como se 
não bastassem as temíveis mamites, o edema fisiológico da mama e 
as lesões traumáticas dos tetos, ainda é comum em alguns rebanhos 
a observação de vacas apresentando uma lesão ulcerativa localizada 
na região abdominal, em posição anterior ao úbere.
estas lesões são de difícil cicatrizaçãoe seu tamanho varia 
entre 3 e 15 centímetros de diâmetro. as maiores são em forma 
de losango com o maior eixo em sentido transversal, e as menores 
são arredondadas. embora as citações bibliográficas no continente 
americano sejam poucas, sabe-se que a úlcera de lactação é 
conhecida desde o século passado. na década de 50, os estudiosos 
alemães já referenciavam que essas úlceras nos bovinos leiteiros 
eram determinadas por um filarídeo do gênero Stephanofilária.
as feridas apresentam aspecto de uma dermatite escamosa, 
crostosa, circunscrita e com bordos irregulares. periodicamente 
devem ser medicadas para prevenir facilmente e servir como 
reservatório de germes piogênicos, levando a processos infecciosos 
dos tecidos mamários. a evolução é variável, mesmo com 
tratamentos tópicos contínuos. podem ocorrer regressões ou 
exacerbações, porém a cura completa é difícil de ser obtida na fase 
de maior produção láctea.
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 25 set. 1991. suplemento folha 
rural, seção recomendação técnica, 
p.8.
30
na maioria das vezes, os animais acometidos são as melhores 
produtoras, e com a presença da lesão manifestam sensibilidade, 
desconforto e perturbações com moscas, o que prejudica 
sensivelmente a ordenha, comprometendo a lactação das vacas. 
em nossa bacia leiteira os animais mais propensos são os bovinos 
da raça holandesa preta e branca ou vermelha e branca, embora já 
se evidenciou a úlcera em outras raças apuradas, e até mesmo nas 
vacas leiteiras mestiças.
além do diagnóstico clínico, pode-se utilizar alguns recursos 
laboratoriais para pesquisar a presença do filarídeo em raspados 
de lesões e no sangue circulante. em determinados rebanhos se 
utilizam antissépticos para tratamento local. esta conduta não 
resolve e oferece riscos à glândula mamária por irritar seus tecidos.
alguns antiparasitários modernos têm demonstrado certa 
eficácia no combate ao filarídeo e, consequentemente, mostram boas 
perspectivas terapêuticas para a úlcera de lactação. somente a forma 
injetável desses produtos é recomendada, cabendo ao veterinário a 
prescrição e orientação médica, bem como a respectiva posologia.
31
sOmAtOtrOpinA nA pecuáriA leiteirA
a ciência e a produção animal devem caminhar sempre juntas, 
fortalecendo ainda mais o ideal do homem em oferecer alimentos 
de boa qualidade, como é o caso do leite, proporcionando assim 
saúde e bem-estar aos povos em todo o mundo.
como se não bastasse a intensa exploração a que se 
submetem a vaca leiteira, os estudiosos buscam, nesse animal, 
aprimoramentos para se atingir o máximo de sua produtividade. 
com este pensamento, surgiu a somatotropina bovina. trata-se de 
um hormônio que, em condições naturais é secretado pela glândula 
hipófise dos animais, tendo uma natureza protéica e altamente 
complexa. seu efeito na galactopoese, ou seja, estimulando a secreção 
láctea, é conhecido desde 1937. entretanto, somente a partir dos 
anos 80, com a biotecnologia a somatotropina bovina começou a 
ser obtida em laboratório, pela técnica do dna recombinante, a 
partir de culturas de Escherichia coli. com isso, intensificaram-se os 
estudos para se reconhecer sua ação na galactopoese e proporcionar 
um incremento na produção leiteira das vacas.
aprovado pelo Food and Drug Administration (fda), que é o 
órgão americano oficial para autorizar a comercialização de novos 
produtos nos estados unidos, obviamente com testes rigorosos e 
constatação de que o mesmo não traz risco à saúde do homem e do 
meio ambiente, a somatotropina já está sendo utilizada em países 
como o méxico, áfrica do sul, bulgária e tchecoslováquia, cujo 
abastecimento interno de leite demonstra um déficit crônico.
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 7 dez. 1991. folha economia, 
seção agropecuária, p. 2.
32
os pesquisadores internacionais denominam que a 
somatotropina tem um efeito “homeorrético” no processo de síntese 
de leite na vaca, ou seja, direciona os nutrientes, seletivamente, 
em favor da glândula mamária aumentando o fluxo sanguíneo 
da mesma. assim então, promove uma disponibilidade maior de 
glucose e uma utilização mais eficiente das reservas de lipídeos, 
glicogênio e aminoácidos que são componentes essenciais para a 
formação do leite na vaca e manutenção de sua lactação.
o objetivo principal na administração da somatotropina nas 
vacas leiteiras é promover um novo pico de lactação, prolongando 
o período em que as vacas apresentam maior volume de produção 
de leite. porém, para suportar este novo aumento, os animais 
necessitam também aumentar o consumo de alimentos antes que 
suas reservas corporais se esgotem. desse modo, o criador deve 
receber uma orientação nutricional adequada para fornecer aos 
animais escolhidos, alimentos proteicos e energéticos, uma vez que 
são vacas de elevado potencial produtivo.
o momento de aplicação da somatotropina também parece ser 
importante, pois se for administrada no início da lactação, o animal 
poderá apresentar balanço energético negativo mais acentuado e 
prolongado, tendo consequentemente um comprometimento em 
seu desempenho reprodutivo. alguns trabalhos realizados em 15 
fazendas leiteiras nos estados unidos demonstraram que as vacas 
nas quais o tratamento se iniciou aos 101 dias de lactação tenderam 
a uma resposta superior, comparativamente com aquelas que 
receberam a somatotropina entre 57 e 101 dias de lactação. além 
disso, vacas multíparas (vários partos) apresentaram uma resposta 
melhor que as primíparas. os autores observaram um aumento 
médio de 20% na produção de leite no experimento que envolveu 
mais de 600 vacas. o grupo de bovinos que teve a menor média de 
produção mostrou um acréscimo de 7,1kg/leite/animal/dia.
as poucas propriedades que usam a somatotropina no 
33
brasil, mais especificamente no estado de são paulo, já colheram 
os primeiros resultados com bons e significativos aumentos na 
produção de leite. é preciso salientar que os animais que receberão 
o tratamento precisam ter boas condições de saúde, estarem com 
prenhez positiva e produzirem, pelo menos, 18kg de leite/dia, 
senão se torna antieconômico, segundo a maioria dos criadores que 
já utilizam o produto, com uma aplicação a cada 14 dias.
os efeitos colaterais pelo uso da somatotropina bovina 
ainda não são bem conhecidos. um estudo americano recente 
possibilitou verificar que nos animais tratados com o produto, 
por via subcutânea, com até 16,5mg/dia, não alterou a incidência 
de infecções intramamárias nas vacas da raça Holandesa preta e 
branca. entretanto, é preciso salientar que o uso da somatotropina 
na pecuária leiteira é incipiente, necessitando ainda de mais 
estudos, principalmente no brasil, para realmente garantir que 
não há prejuízos à saúde dos animais. alguns criadores paulistas 
verificaram que a mastite bovina se mostrou mais incidente com o 
uso da somatotropina nas vacas. certas propriedades tiveram que 
alterar o manejo, passando de duas para três ordenhas diárias.
sob o ponto de vista da saúde pública, já que a somatotropina 
bovina é um hormônio e o organismo animal elimina parte dela 
pelo leite, os estudos mostram que não há qualquer perigo para 
as pessoas que porventura consumam o leite, pelo menos por 
enquanto. ocorre que a estrutura hormonal é diferente não 
havendo compatibilidade entre o tipo animal e o humano. além 
disso, por via oral, a somatotropina é degradada ou digerida no 
trato gastro-intestinal, sendo assim, inativada. alguns anos atrás, o 
produto foi usado para o tratamento de desordens de crescimento 
em crianças, sendo verificado que o mesmo foi inativo, mesmo na 
forma injetável.
pelos dados de pesquisas, o valor nutritivo do leite de vacas 
tratadas com a somatotropina não é diferente daquele proveniente 
de vacas não tratadas, mantendo-se os mesmos elementosnutricionais.
34
mOléstiA AtAcA As vAcAs cOm excessO
de gOrdurA
os nutricionistas apontam a alimentação equilibrada como a 
melhor maneira de tratar o organismo e não consideram o excesso 
de gordura como sinal de saúde. esta constatação encaixa-se 
perfeitamente para bovinos leiteiros.
isso pode ser comprovado por experiências clínicas de 
estudiosos da veterinária em diferentes países europeus e nos 
estados unidos, que demonstram a existência de uma enfermidade 
conhecida por síndrome da vaca gorda ou doença do fígado 
gorduroso. trata-se de um distúrbio metabólico que resulta de 
falhas no manejo dos animais, como alimentação errônea no final 
da lactação e no período seco das vacas.
a doença revela-se mais frequente em bovinos estabulados, 
quando os animais, em diferentes fases de lactação e no período 
seco, alimentam-se como grupo único, sem divisão por categoria, 
e recebem ração à vontade, o que os torna obesos antes do parto 
seguinte.
Febre do leite
embora haja ocorrência rara em novilhas, a síndrome acomete 
vacas de todas as idades, sendo mais comumente observada nas 
primeiras semanas de lactação, quando ocorre o conhecido déficit 
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 18 dez. 1991. suplemento 
agrícola, seção ciência, p.16.
35
energético pós-parto, já que a produção leiteira exige o máximo de 
nutrientes da vaca nesta fase. o organismo animal, então, mobiliza 
o tecido adiposo como fonte para a produção de energia.
verificada a grande quantidade de gordura causada pela 
obesidade da vaca, o fígado se mantém sobrecarregado e não 
consegue metabolizar o excesso, em razão da insuficiente reserva 
de lipoproteína transportadora que deveria executar este trabalho. 
assim, haverá a deposição hepática de partículas de gordura e graves 
consequências para o animal.
os animais doentes demonstram sinais de prejuízo da condição 
metabólica, ao se tornarem deprimidos, com falta de apetite e 
isolamento do rebanho. o sinal mais evidente para o diagnóstico 
é a presença de muitas vacas gordas no grupo das vacas secas. os 
trabalhos americanos, realizados em bovinos da raça holandesa 
preta e branca, mostram que os animais acometidos podem atingir 
o peso de 680 a 820 quilos.
Alimentação Adequada
o mais grave, entretanto, é que os animais tornam-se mais 
suscetíveis a determinadas enfermidades, pois ocorre diminuição 
da resistência orgânica por causa deste distúrbio metabólico. Haverá 
maior incidência de doenças como mastite, metrite, cetose e febre 
do leite.
o tratamento consiste em utilizar produtos à base de glicose 
e protetores hepáticos – soros veterinários prontos, em quantidades 
suficientes, mediante prescrição médica. os estudiosos recomendam 
niacina, vitamina do complexo b, que diminui a mobilização de 
gordura, estimula o apetite e promove uma melhora no rendimento 
energético da vaca.
além disso, torna-se necessário o tratamento sintomático 
para aquelas enfermidades que surgem, causadas pela queda da 
36
resistência. nos animais que se curam, por exemplo, a recuperação 
mostra-se lenta, com comprometimento no ciclo reprodutivo por 
interferência e diminuição da fertilidade das vacas.
profilaticamente, recomenda-se evitar que as fêmeas se 
tornem excessivamente gordas no período que antecede o parto, 
com a separação dos animais por categoria e fornecimento de 
alimentação adequada para atender às reais necessidades.
37
HOrmôniO melHOrA prOduçãO de leite
em vAcA bOA
a ciência e a produção animal devem caminhar juntas, 
para fortalecer o ideal do homem de oferecer alimentos com 
qualidade. para auxiliar os estudiosos no aprimoramento e máxima 
produtividade dos animais leiteiros surgiu a somatotropina 
bovina.
trata-se de um hormônio de crescimento, com natureza 
protéica e complexa que, em condições naturais, costuma ser 
secretado pela hipófise dos animais. desde 1937, os estudiosos 
conhecem o seu efeito na galactopoese, isto é, como estímulo à 
secreção láctea. entretanto, somente nos anos 80, com a utilização 
da biotecnologia, a somatotropina bovina começou a ser obtida em 
laboratório.
aprovado pelo Food and Drug Administration (fda), órgão 
americano oficial que autoriza a comercialização de novos produtos 
nos estados unidos, após testes rigorosos e constatação de que o 
produto não acarreta risco à saúde do homem e do meio ambiente, 
a somatotropina já é utilizada no méxico, áfrica do sul, bulgária 
e república checa e eslovaca, embora os efeitos colaterais do 
produto não sejam bem conhecidos.
os pesquisadores internacionais afirmam que o hormônio 
tem efeito homeorrético no processo de síntese de leite na vaca, 
isto é, direciona os nutrientes, seletivamente, em favor da glândula 
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 26 fev. 1992. suplemento 
agrícola, seção ciência, p.12.
38
mamária e ali aumenta o fluxo sanguíneo. assim, promove 
maior disponibilidade de componentes para a formação do leite e 
manutenção da lactação da vaca.
prenhez positiva
o objetivo principal da administração da somatotropina é 
promover novo pico de lactação, ao prolongar o período em que as 
vacas apresentam maior volume de produção de leite. porém, para 
suportar o novo aumento, os animais necessitam ampliar o consumo 
de alimentos, antes que suas reservas corporais se esgotem. assim, 
o criador necessita receber orientação nutricional para fornecer 
alimentos adequados às vacas escolhidas.
o momento de aplicação da somatotropina também se mostra 
importante, pois se for administrada no início da lactação, o animal 
poderá apresentar balanço energético negativo mais acentuado e 
prolongado, com comprometimento no desempenho reprodutivo. 
alguns trabalhos realizados nos estados unidos, por exemplo, 
demonstraram que as vacas nas quais o tratamento se iniciou aos 
101 dias de lactação, tenderam a respostas superiores, se comparadas 
às que receberam o hormônio entre 57 e 101 dias de lactação.
além disso, vacas com vários partos apresentaram resposta 
melhor que as vacas de um único parto. os pesquisadores observaram 
aumento médio de 20% na produção de leite em experimento que 
envolveu mais de 600 vacas. o grupo de bovinos que teve menor 
média de produção mostrou acréscimo de 7,1 quilos de leite por 
animal ao dia.
as propriedades que usam a somatotropina no brasil, já 
colheram os primeiros resultados com significativos aumentos na 
produção de leite. é preciso salientar, porém, que os animais que 
receberão o tratamento necessitam apresentar boas condições de 
saúde, prenhez positiva e produção em torno de 18 quilos de leite 
por dia.
39
Os bAstidOres dA expOsiçãO
tradicional e internacionalmente reconhecida, a exposição 
agropecuária e industrial de londrina, durante seus 32 anos, vem 
sendo uma festa memorável, com várias atrações, novidades e 
principalmente com o que há de mais representativo para espécies 
e raças de animais.
embora muitos se contagiem com o prazer, alegria e 
confraternizações, outros executam os serviços imprescindíveis para 
o bom andamento do evento. assim foi a participação de professores 
e alunos do curso de medicina veterinária da universidade estadual 
de londrina que, até 1990, realizaram inúmeros atendimentos 
clínicos dentro do parque, além de contar com a retaguarda do 
Hospital veterinário, seja no apoio laboratorial, centro cirúrgico e 
setor de radiologia.
nos 15 anos de atividades práticas, frente às mais variadas 
situações, muitas enfermidades foram diagnosticadas e tratadas, 
o que permitiu ao corpo docente reconhecer estatisticamente as 
principais patologias a que estão sujeitos os animais expostos numa 
feira agropecuária.
o problema se inicia antes mesmo da abertura oficial do 
evento, com a chegada dos animais alguns dias antes. o desembarque 
é sempre um transtornoe o momento de real perigo. os animais, 
ainda assustados pela viagem, correm o risco de acidentes, sofrendo 
traumatismos, cortes profundos e até mesmo fratura dos membros, 
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 3 abr. 1992. encarte especial 
agropecuária, p.30.
40
principalmente os equinos. depois disso, diariamente ficam sujeitos 
ao “stress” do parque, pela mudança de ambiente e dos hábitos, 
proporcionando alterações orgânicas que em alguns animais se 
manifestam de maneira mais grave.
o comprometimento do sistema digestivo é bem evidente, 
principalmente nos bovinos que muito comem e pouco andam. 
vários animais se tornam empanzinados com o típico quadro de 
indigestão. este problema também é observado em alguns animais 
que permanecem naqueles pavilhões que não possuem suficiente 
oferta de água de bebida. nos equinos os episódios de cólica parecem 
ter diminuído com a estratégia adotada pela rotatividade das raças, 
fazendo os animais permanecerem pouco tempo na feira.
a mudança alimentar a que os animais são submetidos, 
particularmente pelo oferecimento de volumoso triturado, tem 
demonstrado ser a causa de quadros de diarréia, especialmente nos 
bovinos jovens. este inconveniente leva ao esgotamento rápido das 
reservas líquidas dos animais, necessitando de uma terapia intensiva 
e criteriosa de medicamentos hidratantes e energéticos.
outra entidade clínica que tem aumentado nos últimos anos 
são as reações alérgicas dos animais, provavelmente ocasionadas 
pelo tipo de cama utilizada nos pavilhões do parque, basicamente de 
palha de arroz. o quadro se manifesta com o comprometimento do 
sistema respiratório dos bovinos, tirando-lhes o apetite e alterando 
o comportamento, deixando os animais tristes e sem disposição.
com relação aos pequenos ruminantes, os registros mostram 
alguns episódios de pneumonia e mamites nas cabras e toxidez pelo 
cobre em alguns ovinos, devido ao uso preventivo do produto em 
pedilúvios. vale lembrar que estes animais não devem permanecer 
em recintos pequenos e descobertos, pois as aglomerações e as 
oscilações de temperatura por mudança climática ocasionam outros 
inconvenientes, colocando em risco a saúde dos mesmos.
41
como recomendações técnicas no sentido de evitar os 
problemas nos animais expostos durante o evento, lembraríamos: 
1) cuidado no desembarque e no embarque de retorno dos animais; 
2) fazer os animais caminharem pelo parque para se exercitarem 
e receberem o sol da manhã; 3) fornecer boa água de bebida e 
que seja de fácil acesso; 4) evitar o excesso de ração e fornecer 
alimentos fibrosos, para o bom funcionamento digestivo; 5) trocar 
periodicamente a cama dos animais, para evitar acúmulo de urina 
e fezes.
além disso, vale ressaltar que em dias muito quentes os 
animais devem tomar banhos para amenizar o calor. em hipótese 
alguma os expositores devem prescrever os medicamentos, pois já 
houve casos de intoxicação pelo uso indiscriminado de produtos 
veterinários. este procedimento deve ser efetuado e supervisionado 
por médico-veterinário, a exemplo do que ocorre em casos de parto 
dentro do parque.
42
brAquiáriA reduz A intOxicAçãO
pOr sAmAmbAiA
até o final dos anos 70, boa parte do rebanho bovino paulista 
sofria as inconveniências proporcionadas por um vegetal tóxico 
muito comum em pastagens de várias localidades do estado. a planta 
Pteridium aquilinun, popularmente conhecida como samambaia, 
costuma ser encontrada também em outros estados brasileiros e 
em vários países do mundo. ela tem como característica principal 
determinar diferentes quadros clínicos nos bovinos, pois na maioria 
das vezes os animais acometidos demoram meses para manifestar 
os primeiros sintomas.
doença de caráter crônico (os bovinos urinam sangue, 
manifestam ronqueira e dificuldades para deglutir), a intoxicação 
pela samambaia transformou-se em causa de muitos prejuízos aos 
pecuaristas, principalmente porque não há cura medicamentosa 
para os animais doentes, que acabam morrendo. os princípios 
tóxicos da planta podem também comprometer a saúde do homem 
pela transmissão da toxina via leite e, possivelmente, pelo consumo 
da carne.
atualmente, porém, a preocupação com essa planta tóxica 
parece estar diminuindo. o crescente cultivo do capim do gênero 
Brachiaria no estado permitiu um combate natural, promovendo o 
desaparecimento da samambaia em muitas áreas antes contaminadas. 
a variedade mais representativa é a Brachiaria decumbens, que tem 
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 23 set. 1992. suplemento 
agrícola, seção ciência, p.24.
43
características agronômicas excepcionais, auxiliando na erradicação 
da samambaia, principalmente porque é uma gramínea com grande 
capacidade para se alastrar, tem crescimento bastante agressivo e se 
adapta bem aos solos, mesmo em áreas apontadas como de fraca 
fertilidade.
zinco e cobre
além disso, a Brachiaria decumbens ocupa quase todo o solo, 
limitando o crescimento de outros vegetais próximos, em razão 
de seu caráter dominante e grande resistência ao período seco. 
a situação da Brachiaria decumbens em são paulo, segundo dados 
oficiais de entidades vinculadas à secretaria de agricultura e 
abastecimento do estado, mostra o dinamismo dessa gramínea e de 
outras do mesmo gênero. a Brachiaria ocupa 53,4% da área cultivada 
com pastagens. desse total, 36,7% (2,755 milhões de hectares) 
com a decumbens; 10,3% (791 mil hectares) com a humidicola; 4,0% 
(299 mil hectares) com a ruiziensis e 2,5% (188 mil hectares) com a 
variedade brizantha.
embora considerando que a propagação da Brachiaria decumbens 
tenha se tornado um inimigo natural da samambaia e de suas 
consequências para a saúde dos bovinos, convém estar alerta para 
eventuais transtornos nutricionais e metabólicos que esta gramínea 
e outras variedades do gênero podem ocasionar, principalmente 
para os equinos.
a criação dessa espécie animal aumentou bastante em 
são paulo nos últimos dez anos, e já existem relatos de casos 
experimentais de fotossensibilidade, afecção até então mais comum 
em bovinos. mais ainda: sabe-se que o capim Brachiaria decumbens 
é pobre em determinados elementos minerais, importantes para 
o crescimento e manutenção dos animais, como fósforo, sódio, 
zinco, cobre e cobalto.
44
cHeirO de vinAgre cArActerizA bOA silAgem
a constante inovação tecnológica a serviço da agropecuária 
proporcionou ao homem assegurar a continuidade produtiva de 
seus animais, por meio do armazenamento alimentar. durante a 
estação de inverno, considerada por muitos como período crítico, 
principalmente para a produção de leite no país, o uso da silagem 
na alimentação de vacas previne uma série de problemas aos 
criadores.
considera-se boa silagem a que apresenta cheiro agradável 
ou lembra vinagre, com cor verde-amarelada ou cáqui e textura 
firme das fibras. quando bem manejada, evita o emagrecimento do 
rebanho e a predisposição a diversas doenças. além disso, impede a 
queda na produção leiteira e a diminuição da fertilidade das vacas.
compactação 
sabe-se que a boa silagem exige controle sanitário apropriado 
do material armazenado, sem o qual as perdas são grandes, com 
significativos prejuízos aos pecuaristas. portanto, é preciso 
considerar as condições de armazenamento, sem registrar fator que 
promova alteração no material.
técnicos e produtores sabem que a existência de alguma perda 
torna-se inevitável, pois o processo sofre várias etapas. entretanto, 
a silagem bem conduzida, especialmente com rigoroso controle 
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 21 out. 1992. suplemento 
agrícola, seção ciência, p.24.
45
sanitário, transforma as perdas entre 10 e 20 %, níveis considerados 
satisfatórios e, até mesmo, esperados.
no entanto, se não houver emprego de técnicas recomendadase não se considerar o aspecto sanitário na silagem, as perdas ocorrem 
em intensidade variável e podem atingir índices preocupantes. 
assim, pela fermentação mal processada há prejuízos de muitos 
nutrientes da silagem, o que afeta sua qualidade. exatamente por 
isso, a compactação bem feita torna-se fundamental.
o alimento armazenado também pode sofrer apodrecimento, 
em razão do aumento de temperatura e do mofo que se forma. 
isso se torna mais evidente nas partes externas da massa, que tem 
início onde a compactação mostrou-se insuficiente ou permitiu a 
penetração de ar ou de água.
pecuária leiteira
as perdas na silagem podem se originar pela drenagem, ou 
escoamento do excesso de umidade. a água que sobra se infiltra 
e arrasta os nutrientes minerais importantes, o que empobrece 
o alimento. como controle determina-se não ensilar o alimento 
com mais de 70% de umidade, realizar boa cobertura do silo e 
fazer canaletas em volta dele, para escoamento da chuva. convém 
considerar esses aspectos nas situações em que se trabalha com silo 
trincheira, pois o excesso de umidade favorece o desenvolvimento 
de bactérias indesejáveis.
sob o ponto de vista dos animais, há sempre o risco de que 
se tornem susceptíveis a quadros clínicos de intoxicação, à medida 
que o controle sanitário da silagem não é considerado e sofre 
alteração. podem ocorrer casos de indigestão com hepatotoxicidade, 
colocando em risco a vida de muitos bovinos, pois algumas vezes o 
caso é agudo, sem tempo para socorrer.
46
a orientação técnica aos criadores e o zelo por um controle 
sanitário da silagem são, portanto, condições importantes para evitar 
prejuízos aos que fazem da pecuária leiteira a principal exploração 
na propriedade rural.
47
cOurO de bOi prOpOrciOnA rendA extrA
AO pecuAristA
o pecuarista brasileiro nem sempre dá a devida importância 
para uma matéria-prima que pode lhe permitir uma maior 
rentabilidade: o couro bovino.
são várias as causas que colaboram na desvalorização desse 
importante subproduto animal, todas elas relacionadas, direta ou 
indiretamente, com o manejo do gado, do nascimento ao abate.
de acordo com uma recente cartilha educativa elaborada no 
rio grande do sul pelo centro tecnológico do couro, calçado e 
afins (ctcca), no brasil 60% dos defeitos nos couros se originam 
da fazenda, sendo 40% por ectoparasitas como carrapato, berne e 
bicheira; 10% por marcação ao fogo feita sem critério e 10% por 
acidentes com arames, chifradas e outros.
por outro lado, em 10% dos casos os couros sofrem avarias 
durante o transporte que se realiza com o gado, seja com destino ao 
frigorífico, exposições ou entre propriedades.
outra estatística interessante diz respeito à perda com o couro 
durante o processo de abate. cerca de 15% dos defeitos surgem 
quando a esfola é mal executada no frigorífico.
o fazendeiro pode e deve adotar medidas preventivas. para 
isso, é necessário ter um bom manejo sanitário, evitando que os 
animais sejam infestados por carrapatos e bernes, além de impedir 
a proliferação de miíases, conhecidas popularmente como bicheira. 
doenças como a fotossensibilidade e a papilomatose (verruga) 
devem ser logo de início combatidas.
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 10 mar. 1993. suplemento 
agrícola, p. 20.
48
ainda profilaticamente, outro aspecto a ser considerado é a 
orientação que os peões devem receber, quando da marcação do 
gado. as marcas devem ser feitas na cara e membros dos bovinos, 
evitando sempre as partes altas, pois desvalorizam completamente a 
matéria-prima. é importante, também, que a marca não tenha mais 
do que 11 centímetros de diâmetro.
outras medidas a serem adotadas para se evitar prejuízos 
futuros são:
1ª) exame periódico das cercas da fazenda, sendo de preferência 
feitas com arame liso;
2ª) retirada de objetos que possam machucar o gado no 
pasto;
3ª) não utilizar ferrão pontiagudo para conduzir o gado, dando 
preferência aos bastões de choque elétrico;
4ª) inspecionar a grade do caminhão boiadeiro, observando se 
a carroceria está em boas condições para uso, tendo divisões a 
cada 7,3 m de comprimento, permitindo boa distribuição do 
gado durante transporte;
5ª) para casos de esfola manual, solicitar treinamento especial 
para os funcionários no frigorífico que também devem utilizar 
facas curvas e bem afiadas no abate;
6ª) conservar corretamente o couro, realizando a salga 
num prazo máximo de 4 horas após a esfola, já que 15% 
dos problemas com os couros são provenientes de má 
conservação.
todas essas medidas, entretanto, de nada valem se o criador 
não tiver um incentivo maior no abate. o preço do bovino ao 
pecuarista é pago pelo peso e não há reconhecimento para aqueles 
que evitam danos ao couro animal. está na hora de se valorizar 
mais estes aspectos; quem ganha é o próprio consumidor, que terá 
produtos de melhor qualidade a preços acessíveis.
49
pesquisAdOres descOnHecem As cAusAs dO 
edemA de mAmA nAs rAçAs leiteirAs
nos países onde a pecuária leiteira é explorada de maneira 
intensiva, o problema denominado edema de mama assume 
importância significativa. nos estados unidos, o exame em vários 
rebanhos apontou médias de 18 % de incidência. no brasil, porém, 
as estatísticas não são do conhecimento da comunidade científica.
entende-se por edema ou congestão da mama, o distúrbio 
da glândula mamária que se caracteriza por acúmulo de líquidos. 
o problema pode ocorrer antes ou após o parto e, normalmente, é 
considerado alteração na fisiologia do úbere, com cura espontânea 
depois do nascimento do bezerro.
em algumas vacas, entretanto, o edema pode se agravar, com 
conseqüências de desconforto ao animal, além de torná-lo suscetível 
a traumatismos e infecções na glândula mamária, comprometendo 
até mesmo os ligamentos suspensórios. nessa situação, os animais 
manifestam dificuldade de locomoção e nos movimentos para se 
deitar. 
grãos e Fertilizantes
o quadro se complica quando se sabe que a causa do edema 
não é conhecida com exatidão. os veterinários que se dedicam à 
pesquisa, acreditam que o problema seja multifatorial, o que implica 
estreita ligação com a circulação da glândula mamária.
publicado no Jornal O Estado de São Paulo, 
são paulo, 22 abr. 1992. suplemento 
agrícola, seção ciência, p.14.
50
como a forma anteparto do edema de mama é a mais comum 
de ocorrer, acredita-se que a pressão exercida pelo feto na cavidade 
pélvica, durante a gestação da vaca, dificulte e prejudique o fluxo 
sanguíneo e linfático do úbere e assim cause o problema.
os pesquisadores também consideram como possível causa 
o aumento do fluxo de sangue para nutrir o úbere antes do parto, 
fato associado à diminuição da quantidade de sangue que retorna 
daquele órgão, pois aproximadamente 400 litros de sangue circulam 
pela glândula mamária para produzir um litro de leite.
além disso, apontam como fator predisponente ao edema em 
novilhas, o leite retido na mama pela dificuldade de descida, o que 
prejudica ainda mais a circulação local.
as pesquisas também demonstram que a alimentação com 
excesso de cloreto de sódio e de potássio, proveniente de dieta rica 
em grãos ou na forma de fertilizantes do solo que se incorporam na 
matéria vegetal, costuma causar edema de mama.
circulação sanguinea
estudos americanos, que focalizaram grande número de 
bovinos da raça holandesa preta e branca, demonstraram que o 
edema de mama se torna menos incidente à medida que as vacas 
envelhecem. observou-se também que havia maior ocorrência do 
edema, em novilhas com mais idade no primeiro parto. e vacas 
com período seco longo, acima de 70 dias, apresentaram maior 
severidade do problema.
as considerações etiológicas abordadas possibilitam, em 
países desenvolvidos e com recursos, a existência de linhas de 
pesquisas na busca deoutros fatores que causem o problema, entre 
os quais a possível influência hormonal, que talvez explique certas 
predisposições em animais de determinadas idades.
51
o tratamento para o edema de mama, nas situações em que 
o problema persiste, determina a utilização de uma droga diurética, 
de acordo com recomendações veterinárias, embora na maioria dos 
casos haja cura espontânea. as medidas de auxílio incluem exercitar 
as vacas em caminhadas e aplicações de duchas para estimular a 
circulação na glândula mamária, além da ordenha várias vezes ao 
dia na fase pós-parto.
52
errAdicAçãO dA AFtOsA
Há quem acredite e afirme que a febre aftosa estará erradicada 
do brasil no final deste século. tal desafio tem movimentado a vida 
pecuária do país, de maneira abrangente e intensiva.
autoridades sanitárias, ministeriais, empresariais, técnicas, 
pecuaristas e muitas outras pessoas ligadas ao meio rural mostram-
se motivadas em debelar a virose. isso se deve, principalmente, à 
perspectiva e necessidade de exportação da carne bovina brasileira 
para países membros da comunidade econômica européia, 
gerando, além de divisas para a economia nacional, lucratividade 
maior para os criadores. 
a doença já foi erradicada em muitos países. nos estados 
unidos o último foco ocorreu em 1929. antes, 300 mil animais 
contaminados foram abatidos. o canadá acabou com a doença 
em 1952, fazendo controle severo e restrição à movimentação de 
animais no país. o méxico, por sua vez, após abater sumariamente 
os animais contaminados e fomentar programas regionais de 
vacinação, ficou livre da aftosa em 1954.
no brasil, embora as etapas para se acabar com a doença 
estejam consubstanciadas por quesitos técnicos, já amparados pela 
ampla conscientização de muitos profissionais, a tarefa é árdua.
o meio rural brasileiro ainda padece de uma característica 
negativa, que limita em muito a maciça aplicação de medidas 
profiláticas. trata-se, infelizmente, de maus hábitos, muito comuns 
publicado no Jornal O Estado de São 
Paulo, são paulo, 8 set. 1993. suplemento 
agrícola, n. 1974, p.2.
53
entre vários criadores e seus auxiliares de lida do gado bovino. a falta 
de esclarecimento, as crendices, vícios e outras condutas continuam 
sendo usados em larga escala. constata-se, frequentemente, o 
baixo nível de instrução de nossos trabalhadores rurais, originando 
sérios obstáculos à conquista de melhores resultados na aplicação 
de medidas sanitárias.
o uso de querosene na nuca do animal, a aplicação de 
óleo queimado e outras práticas refletem bem o empirismo, que 
também deve ser combatido concomitantemente às medidas de 
erradicação da enfermidade no brasil. Hoje se faz necessário, além 
de campanhas de imunização, centralizar o abate dos animais nas 
regiões endêmicas, dando tratamento devido às carcaças e vísceras. 
isso limitaria o transporte do animal vivo para outras regiões 
consideradas como não endêmicas, evitando, assim, a disseminação 
do vírus.
por intermédio de programas educativos, o médico veterinário 
contribuirá positivamente na campanha de eliminação da aftosa, 
levando ao homem do campo ensinamentos básicos, apoio técnico 
e cooperativo, debelando métodos empíricos cabalmente refutados 
pela ciência. com um plano de ação será possível executar este 
trabalho, tendo como meta primordial a completa vigilância da 
sanidade animal e, nesse contexto, também a do homem.
atividades como palestras, debates, cartilhas e outras medidas 
simples e bem fundamentadas deverão ser adotadas, com fácil 
aplicação e entendimento, pois os costumes e atitudes na criação 
animal são milenares e podem ter conotação hereditária. para tanto, 
será necessária muita habilidade profissional para desenvolver os 
trabalhos.
co-autor: prof. dr. laurenil gaste
54
Os bOvinOs nA expOsiçãO 94
um estudo considerando quatro anos de atendimento clínico 
aos bovinos, durante a exposição de londrina, indica que alguns 
animais são propensos a certos tipos de problemas.
a pesquisa mostra resultados observados pela assistência 
veterinária, que os docentes da universidade estadual de londrina 
efetuavam oficialmente no parque de exposições, o que poderá 
servir como prevenção de novos transtornos no evento que se 
inicia.
a análise considera o total de 125 bovinos, de diferentes 
raças, que tiveram o acompanhamento integral até a cura definitiva. 
os maiores problemas (17,6%) são os traumatismos ou as lesões 
contundentes, que normalmente ocorrem devido ao transporte, 
embarque, desembarque e manuseio dos animais, feito de maneira 
estabanada e às pressas. paciência e cuidados gerais são importantes 
para se evitar novos episódios.
os problemas de ordem digestiva, incluindo as indigestões 
(11,2%) e as diarréias alimentares (10,4%), são decorrentes da 
alteração de manejo que os bovinos sofrem no parque. o alimento 
volumoso nem sempre é cortado no dia e os animais fazem 
pouquíssimas caminhadas. além disso, em alguns casos, os animais 
precisam ir ao encontro da água de bebida, colocada do lado de fora 
do pavilhão. para suprir essas necessidades, em muitos casos, os 
animais dependem de boa vontade e disposição dos capatazes.
publicado no Jornal Folha de Londrina, 
londrina, 9 abr. 1994. suplemento folha 
rural, n. 898, p. 2.
55
nos anos em que as camas dos animais eram de palha de 
arroz ou cepilho, muitos tiveram reações alérgicas (10,4%), às vezes 
com manifestação de corrimento nasal, outras vezes com alterações 
visíveis na pele, com vários nódulos. esta condição clínica deixa o 
animal muito abatido, sem apetite e disposição.
o estudo ainda demonstra que a tristeza parasitária (5,6%) 
e a anaplasmose (6,4%) acabam surgindo durante o evento, 
provavelmente pela queda de resistência dos animais ao stress do 
transporte e a mudanças no seu habitat. evitar longas distâncias é 
importante, pois não provocará o desgaste orgânico dos bovinos, 
especialmente os jovens.
Há, ainda, outros problemas clínicos, porém em proporções 
menores. entre esses, estão os transtornos respiratórios e o auxílio 
obstétrico ao parto, pois em várias ocasiões isto foi necessário. é 
muito provável que as vacas gestantes não tenham a tranquilidade 
essencial para parir durante a feira. um piquete-maternidade seria 
recomendável, particularmente se fosse em local sossegado. como 
todo gado é controlado, é possível estimar o dia do parto e deslocar 
as vacas para lá.
um fato interessante é que, pelo estudo, as condições infecto-
contagiosas não existem, ou pelo menos não são vislumbradas. 
isto coloca todos animais em segurança, pois tais situações 
são indesejáveis, devido ao alto índice de contaminação que 
podem atingir. contribuem efetivamente para o controle dessas 
enfermidades a boa conduta e a inspeção que as autoridades e técnicos 
vêm efetuando ao longo dos anos. a passagem pelo rodolúvio e 
pedilúvio, além do cumprimento das normas sanitárias integrais 
e as condições de higiene e desinfecção, devem ser obrigatórias e 
mais exigidas neste ano, especialmente para se evitar a indesejável 
febre aftosa, cujos focos retornaram ao paraná após alguns anos 
adormecidos.
56
por fim, qualquer recomendação técnica pode ser efetivada 
com relativo sucesso, se for considerado, também, um aspecto nem 
sempre lembrado pelos criadores e que acaba repercutindo nos 
animais: o cansaço do peão.
57
O lixO rurAl dA vAcinAçãO
durante o mês de abril o paraná esteve engajado em mais 
uma campanha de vacinação contra a febre aftosa. experimenta 
também completar dois anos sem foco da doença e, com isso, 
voltar a participar das exportações, abrindo novas fronteiras para 
seu efetivo bovino de quase 9 milhões de cabeças.
este também parece ser o momento adequado para tratar de 
outro assunto igualmente importante: o que fazer com o lixo rural 
que

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