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1. Bovinos. 2. Gado de leite. 3. Gado - Doença. 4. Produtores rurais I. Título. CDU: 636.2 M313a Marçal, Wilmar Sachetin Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Artigos técnicos para produtores rurais / Wilmar Sachetin Marçal Londrina: 2010. 78p.; 23 cm. SU MÁ RI O apresentação o decúbito em bovinos a vulnerabilidade dos bovinos samambaia em pasto é veneno “requeima” do gado o edema de mama o resfriado dos bezerros a doença da vaca gorda a úlcera da lactação somatotropina na pecuária leiteira moléstia ataca as vacas com excesso de gordura Hormônio melHora produção de leite em vaca boa os bastidores da exposição braquiária reduz a intoxicação por samambaia cHeiro de vinagre caracteriza boa silagem couro de boi proporciona renda extra ao pecuarista pesquisadores desconHecem as causas do edema de mama nas raças leiteiras erradicação da aftosa os bovinos na exposição 94 9 12 16 19 21 23 26 29 31 34 37 39 42 44 47 49 52 54 o lixo rural da vacinação a vacinação e o lixo rural o lixo rural da vacinação e o pequeno produtor? preservação ou paisagismo considerações técnicas sobre o couro bovino campo verde do futuro vacinação educativa a Hora da verdade 57 59 61 63 66 67 72 74 76 SU MÁ RI O v uma aula sobre pecuária leiteira ao lançar este livro com uma coletânea de artigos de sua autoria publicados na imprensa brasileira na última década do século passado e nos primeiros anos do século xxi, o médico- veterinário Wilmar marçal, professor da universidade estadual de londrina e reitor dessa instituição de 2006 a 2010, mostra os principais problemas da pecuária leiteira nacional e propõe medidas para os solucionar. para o lançamento, escolhe o local e o momento mais apropriado, o parque de exposições governador ney braga e a exposição agropecuária e industrial de londrina. com o encontro das raças européias criadas abaixo do paralelo 24 e as zebuínas distribuídas nas regiões acima desse círculo, aqui começou a se desenvolver a moderna pecuária do brasil, que possui o maior rebanho comercial de corte e é o sexto maior produtor mundial de leite. “a ciência e a produção animal devem caminhar juntas, para fortalecer o ideal do homem de oferecer alimentos com qualidade”. esta frase, na abertura de um dos muitos artigos que Wilmar marçal publicou na imprensa a partir dos anos 1980, revela a preocupação do autor a respeito da necessidade de se manterem atualizadas as pesquisas e informações sobre todos os aspectos da pecuária leiteira, válidas para os bovinos de corte e equinos. apresentação vi é disso que tratam os artigos reproduzidos neste livro – uma aula abrangente, desde o manejo do gado leiteiro, alimentação, prenhez, parto e lactação à identificação e tratamento de doenças nas diversas fases da vida do animal. formado em 1981, na décima primeira turma de medicina veterinária da uel, marçal trabalhou como extensionista, de 1982 a 1984, na região de tangará da serra e poconé, no pantanal de mato grosso. concluiu seu mestrado na universidade de são paulo (usp) em 1989 e doutorado em 1996, na unesp de botucatu, são paulo em 1998 fez estágio pós-doutoral em puebla, no méxico, para mensurar poluentes ambientais no sangue e fluidos dos animais. em 1999 foi para o animal science, na michigan state university (usa), onde também fez estágio pós-doutoral com bem-estar de bovinos leiteiros. ele trabalha com bovinos leiteiros na especialidade de clínica médica; é professor de doenças carenciais e metabólicas de ruminantes na medicina veterinária e zootecnia da uel. atua ainda no programa de ciência animal, mestrado e doutorado; tem 61 trabalhos científicos publicados em periódicos indexados, sendo autor principal de 56 deles. foi o idealizador dos programas de extensão projeto carroceiro, universidade amiga (atendimento médico itinerante a grandes animais) e projeto bom aluno (rotina hospitalar no Hospital veterinário da uel); chefiou o departamento, coordenou comissões de ensino, pesquisa e extensão; chefiou a divisão de grandes animais do Hv e dirigiu o setor de 2002 a 2006, quando assumiu a reitoria. desde quando escreveu “o decúbito em bovinos”, publicado em 17 de junho de 1988 pelo suplemento semanal folha rural, da folha de londrina, marçal redigiu, de modo didático, claro, como um professor competente faz, dezenas de artigos esclarecedores. apresentação vii vai além da detecção das doenças e sua cura; fala da vulnerabilidade dos bovinos devido a sua grande capacidade digestiva e enfatiza a necessidade de assistência veterinária para manter as boas condições do rebanho leiteiro. “quanto mais cedo “o problema de saúde” for diagnosticado e tratado, melhores serão as condições de recuperação” “do animal doente”, destaca o especialista, que aponta causas da desnutrição, baixa produtividade, problemas reprodutivos em vacas leiteiras e cuidados com os bezerros. Wilmar salienta, nos artigos, o papel da ciência no melhoramento bovino. fala, também, das exposições agropecuárias de londrina, onde a constante vigilância identifica e trata patologias a que estão sujeitos os animais. alunos e professores do curso de medicina veterinária da uel acompanham as exposições há mais de trinta anos e têm comprovado a boa qualidade sanitária da mostra, lembra Wilmar. ele observa que os animais chegam às exposições estressados pela viagem e que o desembarque “é o momento de real perigo”, pois, assustados, os animais correm o risco de acidentes “e até mesmo fratura dos membros, principalmente nos equinos”. ele comenta, entre outras coisas, a necessidade de bom preparo do pessoal de campo que lida com o gado; da importância da vacinação correta contra aftosa e do descarte do lixo gerado pela vacinação. dos cuidados com a pastagem, aponta ameaça da samambaia no pasto e a importância de se manter a pastagem limpa, sem arame farpado, pedaços de pau, farpas, galhos partidos - enfim não pode estar presente nada capaz de ferir os animais e até desvalorizar o couro de boi, “uma renda extra para o pecuarista.” o zelo dos pecuaristas, amparados pela ciência, dá bons frutos, conforme números do ibge: no ano 2000, o brasil produziu 19 bilhões 767 milhões de litros de leite. deles, 12 bilhões e 108 milhões foram recebidos sob inspeção federal. em 2007, foram apresentação viii produzidos 21 bilhões 122 milhões de litros e, para 2008, eram previstos, 27 bilhões 083 milhões de litros. ao mesmo tempo, o consumo subiu de 4 bilhões 719 milhões para 39 bilhões 277 milhões de litros. entre 1990 e 2005, a produção leiteira no brasil cresceu 69,6%, com aumento anual de 3,5%, enquanto crescimento médio da economia brasileira subia apenas 2,5%. esses dados constam de artigo dos pesquisadores glauco carvalho, cláudio nápolis costa e luiz carlos takao Yamaguchi, da embrapa gado de leite e marcos cicarini Hott, da embrapa monitoramento por satélite e confirmam a evolução do rebanho leiteiro do brasil, graças aos cuidados dos pecuaristas e à orientação de pesquisadores e outros especialistas, como Wilmar sachetin marçal. os artigos deste livro foram publicados na folha rural/folha de londrina, suplemento agrícola do estado de são paulo, o estado do paraná, Jornal de londrina e Jornal do campo. Jota oliveira Jornalista e ex-editor da folha rural apresentação 9 O decúbitO em bOvinOs os bovinos, em particular os leiteiros, são para os veterinários clínicos um campo de estudos e de muitas surpresas. estes animais, talvez pela susceptibilidade que apresentam a algumas enfermidades pecuárias, bem como pela dedicação e cuidados especiais que exigemem seu manejo, demonstram muitas vezes sérias alterações, sejam de ordem metabólica, traumática ou mesmo infecciosa, que podem determinar o quadro clínico de decúbito. entre estas alterações as metabólicas exercem um papel de fundamental importância, pois exigem do veterinário uma atuação rápida e objetiva para que se evitem outras complicações que, certamente, surgem nestes casos. a complexidade deste tipo de alteração permitiu aos pesquisadores internacionais, no início dos anos 50, atribuir a expressão “síndrome da vaca caída” aos animais que apresentassem o decúbito. constitui problema desta ordem em nosso meio duas importantes afecções. a primeira, conhecida por paresia pós-parto, ou “febre do leite”, febre vitular ou, ainda, hipocalcemia. caracteriza-se por diminuição dos valores de cálcio iônico nos líquidos tissulares. esta alteração ocorre em fêmeas leiteiras adultas na época do parto, uma vez que as vacas utilizam boa parte de suas reservas de cálcio para a formação do colostro que o bezerro irá mamar. o quadro clínico é determinado por fraqueza muscular publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 17 jun. 1988. suplemento folha rural, p. 3. 10 generalizada, colapso circulatório e depressão da consciência do animal. o decúbito surge como uma consequência. quando diagnosticada a tempo e tratada imediatamente com soluções de gluconato de cálcio, o animal se recupera com facilidade. a medicação deve ser feita na veia do pescoço (jugular) e de forma lenta para se evitar outros problemas, particularmente os de ordem cardíaca. aliado ao tratamento, o animal deve receber uma boa suplementação alimentar. outra alteração que merece destaque é, sem dúvida, a cetose bovina, também conhecida por hipoglicemia da vaca leiteira. o animal enfermo apresenta uma baixa considerável nos níveis de glicose circulante. esta alteração é mais frequente durante a lactação, pois exerce um tipo de predisposição fisiológica, já que o animal necessita de muita lactose para produzir o leite e esta nem sempre é suprida pela alimentação. em bovinos de corte este problema também ocorre e a fome (subalimentação) constitui o fator desencadeante. os animais com cetose apresentam um sintoma característico; o odor de clorofórmio no ar expirado, no leite, na urina e na pele. além disso, podem, em alguns casos, desenvolver sintomas nervosos, o que com certeza deixará o fazendeiro preocupado, temendo outras doenças também de caráter grave. nesta hora a presença do veterinário é imprescindível. ele é o único com recursos e conhecimentos para avaliar as condições de saúde do animal, estabelecer o diagnóstico e realizar o tratamento específico. nestes casos a tríade farmacológica funciona bem: soluções de cálcio, vitamina b1 e corticóides com efeito gliconeogênico. o que os criadores não devem esquecer é que não só de alterações metabólicas se constitui o decúbito dos bovinos. é por isto que o diagnóstico nem sempre é fácil. ele pode surgir, também, em casos onde há fraturas dos membros ou lesão de coluna espinhal, bem como em alguns processos infecciosos que levem ao esgotamento das forças do animal, impedindo-o de permanecer 11 em estação. além disto, os fortes traumatismos produzidos pelo bezerro na cavidade pélvica da vaca durante o parto constitui outro fator, principalmente se o feto for muito grande. o criador poderia evitar o problema tendo um controle reprodutivo de seu rebanho, juntamente com um bom exame obstétrico rotineiro de suas vacas. é fundamental ainda que não se permita o manuseio, por parte de leigos, nos animais que estão com alguma dificuldade para parir. uma importante recomendação técnica – e que deveria servir de alerta para os criadores – é o fato de que em muitos casos de decúbito o que ocorre são manobras terapêuticas errôneas por parte do encarregado do gado (peão). esta pessoa, sem conhecimento científico e cheio de crenças, realiza um verdadeiro coquetel de remédios para o animal deitado na tentativa de levantá-lo. para isto utiliza tudo que dispõe na farmacinha da fazenda, ou seja, tônicos, soros e, principalmente, antibióticos. esta conduta deveria ser abolida no meio rural sem a anuência do veterinário, pois um bovino em decúbito que recebe uma carga de antibióticos de modo indiscriminado terá a destruição da fauna e flora de seu rúmen e, certamente, outra série de complicações. o tempo passa, o animal não levanta, os medicamentos são onerosos e fica a velha pergunta: e agora? mas cercando-se as possibilidades já descritas, realizando-se o tratamento convencional e não havendo resposta por parte do animal, o prognóstico que de início era reservado passará a desfavorável, principalmente se o decúbito exceder as primeiras 24/48 horas. neste momento, o animal já terá outras de suas funções vitais abaladas e deverá ser sacrificado, infelizmente. 12 A vulnerAbilidAde dOs bOvinOs os bovinos, particularmente os leiteiros, devido a grande capacidade digestiva – com 3 reservatórios gástricos e um estômago – são os animais mais susceptíveis a apresentarem quadro de indigestão. entretanto, diferentes enfermidades desta espécie animal são decorrentes da ingestão acidental de corpos estranhos junto com as pastagens e alimentos. a mais comum delas é a reticulite traumática dos bovinos, doença determinada pela penetração de objetos pontiagudos (pregos, grampos, arames e restos de cercas) no retículo do animal, podendo perfurar este órgão digestivo e lesionar outras estruturas vizinhas como o diafragma, coração, baço e fígado. na verdade, este problema acontece devido a falta de discernimento oral dos bovinos, que não selecionam os alimentos ingeridos, mastigam sumariamente e são impossibilitados de cuspir qualquer objeto estranho à sua boca. cientificamente, sabe-se que contribuem diretamente para isto certas particularidades da anatomia da cavidade bucal dos bovinos, em cujas estruturas, chamadas de papilas cônicas das bochechas e da língua, além das cristas salientes do pálato, recaem a culpa e o desencadeamento do processo. estas estruturas possuem a capacidade de facilitar a penetração do corpo estranho por se projetarem em direção caudal, ou seja, para dentro da boca. como a distância entre o esôfago e o retículo não é muito grande, e sendo os publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 24 fev. 1990, suplemento folha rural, n. 774, p. 3. 13 corpos estranhos de relativo peso, os objetos chegam rapidamente naquele órgão, tornando o bovino bastante vulnerável a afecções. com as fortes contrações que o órgão executa normalmente, além do esforço no momento do parto nas vacas, o objeto pode perfurar o retículo e atingir também outras estruturas, causando danos irreparáveis. prevenir este problema significa possuir pastagens limpas, livres de arames e restos de cercas. por vezes, alguns objetos estranhos podem ser oriundos da carreta que transporta silagem até os cochos. por isso deve ser vistoriada sempre que possível. em certos países, criadores sofisticados colocam um imã que permanece profilaticamente no retículo do bovino para atrair os objetos metálicos estranhos, sendo retirado somente por cirurgia, ou quando o animal é descartado e abatido. como em qualquer doença, existem exames clínicos específicos para diagnosticar a reticulite nos bovinos. quanto mais cedo forem realizados, dependendo da extensão da lesão, melhores serão as chances de sobrevivência do animal. “bucho-virado” como se não bastassem as variadas indigestões envolvendo os reservatórios gástricos (rúmen, retículo e omaso), também o abomaso (estômago verdadeiro) sofre processos de severa gravidade que em determinadas condições levam este órgão a deslocar-se de sua posição normal. a doença tratada popularmente por alguns como“bucho- virado” é, no meio científico, classificada por deslocamento do abomaso, que pode ser à esquerda ou à direita. o primeiro tipo (comum no brasil) quando diagnosticado e tratado a tempo propicia boas chances de recuperação do animal. o deslocamento à direita, comum em outros países como a dinamarca, por exemplo, é uma 14 forma mais grave e pode levar o animal rapidamente ao óbito pela torção que provoca no órgão. o deslocamento do abomaso, acontece mais com vacas leiteiras de alta produção, principalmente entre a 3ª. e 5ª. lactações; animais de grande tamanho e avantajada capacidade abdominal, possuindo forte relação com a gestação e o parto. esporadicamente a doença pode ocorrer em touros e bezerros, sendo estes últimos acometidos quando alimentados com grande quantidade de sucedâneo lácteo e ração pobre em fibra. é importante frisar que na maioria dos casos de deslocamento do abomaso as vacas leiteiras sofrem, ao mesmo tempo, de outras afecções como mamite, metrite e hipocalcemia, prejudicando ainda mais o estado geral e levando o animal a um maior esgotamento. no estado do paraná, além da raça Holandesa preta e branca, e enfermidade já foi diagnosticada e tratada com êxito em animais da variedade vermelha e branca e vacas da raça Jersey. o quadro clínico característico é de um sério transtorno digestivo onde o animal mostra sinais de sofrimento abdominal, assumindo posição de arqueamento de dorso. a vaca torna-se triste, não há febre e o apetite é seletivo. o animal deixa de comer concentrado e silagem preferido feno e alimento fibroso. a produção leiteira cai abruptamente e o animal emagrece rapidamente. percebe- se episódios de diarréia com característica de fezes gordurosas e grudentas. quanto mais cedo for diagnosticado e tratado, melhores serão as condições de recuperação. a vaca doente precisa ser “abotoada”, ou seja, submetida a uma cirurgia onde terá o abomaso fixado por intermédio de botões plásticos em local apropriado. inútil tentar resolver o problema com medicamentos e outros meios. como toda enfermidade, esta também possui maneiras de prevenção, como não alimentar intensivamente a vaca à base de concentrados no final da gestação e logo após o parto, com o 15 objetivo de aumentar a produção láctea. esta atitude pode provocar a formação de muito gás, contribuindo diretamente para a doença. além disso, vale lembrar que, como todo ruminante, os bovinos precisam sempre de alimentos fibrosos. 16 sAmAmbAiA em pAstO é venenO com um rebanho bovino de quase 9 milhões de cabeças e amparado por alta tecnologia na exploração agropecuária, o paraná ainda enfrenta alguns problemas na criação animal, particularmente os relacionados com enfermidades causadas pela ingestão de vegetais tóxicos. segundo o veterinário e professor da universidade de londrina, Wilmar sachetin marçal, uma doença de grande peso na pecuária extensiva é resultado da ingestão da planta Pteridium aquilinum, popularmente chamada samambaia. da fácil incidência no norte paranaense, sua propagação é rápida nas pastagens onde o solo é ácido. os princípios tóxicos da planta têm efeito acumulativo e nos bovinos determinam diferentes formas clínicas, até morte. representa, portanto, um sério risco para o criador. conforme o veterinário, os estudiosos acreditam que a samambaia possui, além de um veneno vascular, uma substância tóxica cuja ação sobre o organismo animal é semelhante ao raio x. vem daí a denominação “fator radiomimético”. dentro das espécies bovinas, a vaca é mais afetada. quando intoxicada ela sofre hemorragia de bexiga e tumores localizados na parede do órgão. “os animais doentes eliminam urina com aspecto sanguinolento; quadro que pode persistir por muito tempo. na verdade, é esta manifestação que chama a atenção do tratador”, afirma marçal, acrescentando: a maior consequência da intoxicação publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 24 mar. 1990. suplemento folha rural, seção recomendação técnica, n. 778, p.13. 17 é a anemia, que provoca emagrecimento acentuado e danos no estado geral do animal. as vacas deixam de ciclar, pois o sistema reprodutivo acaba comprometido, alterando sua fertilidade. embora a planta não seja palatável, o veterinário explica que algumas condições favorecem sua ingestão pelos bovinos. a fome é basicamente a primeira delas e costuma levar o animal ao vício de ingeri-la sempre que sentir a necessidade de mais alimento. os bovinos também procuram a planta quando sentem carência de fibra na pastagem. neste caso podem, eventualmente, se intoxicar com o feno contaminado pela samambaia. Fase crônica uma fase mais crônica da intoxicação apresenta a formação de tumores no esôfago do animal, conhecidos como caraguatá, figueira da goela ou favo. esses tumores dificultam a deglutição e respiração do animal, indicando já o aspecto crônico da intoxicação. “é inútil tentar nesta fase qualquer tratamento. o quadro é irreversível” – adianta. nos equinos também ocorre a intoxicação, embora com raridade e pouco significante em termos de rebanho. neles os sintomas são diferentes, de acordo com marçal: nos equinos um outro princípio tóxico da planta destrói as reservas de vitamina b1 e provoca descoordenação no andar, tremedeira e sonolência, dependendo da intensidade tóxica, vitaminas do complexo b são indicadas para o tratamento. quem tem rebanho bovino – orienta o veterinário - precisa pensar na profilaxia, ou seja, no combate à doença. é a única medida capaz de limitar a enfermidade e pode ser através da erradicação da samambaia dos pastos, arrancando a planta na época de rebrota. “no brasil as condições melhoraram, devido às novas técnicas agrícolas no cuidado intensivo do solo, com boas e completas adubações, 18 calagens e formação de pastagens adequadas. foi agindo assim que a Holanda e a dinamarca conseguiram acabar definitivamente com a planta. se um trabalho completo de melhorias nas pastagens for impossível para o criador, marçal recomenda a alternância de pastoreio em áreas contaminadas e limpas, durante o período de 21 dias. ainda observa: deve-se evitar o pastoreio em lugares contaminados que sofreram queimada recente, já que a brotação é a fase mais tóxica da planta. também deve-se evitar o uso da samambaia como cama de estábulo. o veterinário diz que ainda falta conhecimento científico suficiente para garantir o consumo da carne de boi vítima da intoxicação. entretanto, pesquisadores internacionais alertam que uma maior porcentagem de câncer de estômago no homem é encontrada em regiões onde as vacas abatidas eram alimentadas com samambaia. os mesmos pesquisadores observaram a formação de tumores em ratos e camundongos alimentados com leite de vaca intoxicadas pela planta, concluindo que os princípios tóxicos são eliminados em quantidade significante pela secreção láctea. 19 “requeimA” dO gAdO as peculiaridades da espécie bovina no que diz respeito à alimentação também são de interesse do clínico veterinário, pois em determinadas condições até mesmo a ingestão de gramíneas pode desencadear problemas, especialmente se estiverem contaminadas. a isto é somada a fotossensibilidade, doença que reflete de modo negativo no rebanho, determinando um desenvolvimento retardado dos animais acometidos e, em alguns casos, emagrecimento progressivo e morte. a fotossensibilidade é popularmente chamada de “requeima” e/ ou “sapeca”. na verdade, é um processo não infeccioso caracterizado por lesões da pele que atacam o gado de criação extensiva e até os ovinos, em especial os mais jovens, que desenvolvem o chamado eczema facial (lesão que provoca irritabilidade, percebida pelo balanço frequente da cabeça). em nosso meio, a causa principal da doença é a ingestão de gramíneacontaminada, particularmente a Brachiaria decumbens. o ambiente propício de calor e umidade favorece o desenvolvimento de um fungo que acaba infestando as pastagens. este fungo produz uma micotoxina conhecida por esporodesmina, que determina lesões no fígado, vesícula biliar, condutos biliares e bexiga. consequentemente surge um quadro de hepatite e obstrução biliar, que impede a excreção de filoeritrina, um pigmento resultante da degradação normal da clorofila presente nos vegetais ingeridos pelos animais. publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 2 jun. 1990. folha rural, n. 788, p.3. 20 a partir daí ocorre um acúmulo deste pigmento no organismo, já que o fígado não consegue fazer a metabolização para eliminá- lo. com isto, atinge-se os capilares (vasos) que nutrem a pele. a incidência de raios solares provoca a liberação de uma substância alérgica (histamina) que propicia o desprendimento da pele e a formação de feridas. especialmente nos bovinos de pelagem branca e criados em campo, a doença é mais evidente naqueles até 2 anos de idade. quando acometidos, manifestam sintomas de falta de apetite e inquietação, balançando a cauda e esfregando o corpo em cercas e árvores para aliviar a coceira. também são observadas alterações nas orelhas, com desprendimento da pele, que fica enrugada e quebradiça. em outras regiões do corpo que recebem maior incidência de raios solares, como barbela, glúteos, dorso e flancos, a pele se desprende da mesma forma, demonstrando aspecto de couro curtido e podendo evoluir para feridas. se não forem tratadas, acabam invadidas por germes e causam outras complicações, como infecções na própria pele. em caso de surto, a conduta emergencial é retirar os animais da pastagem de Brachiaria decumbens e colocá-los em outro pasto, livre dos fungos. sempre que possível, permitir o acesso a locais onde encontrem sombra. o tratamento consiste em aplicar medicamentos hepatoprotetores, soros glicosados, antialérgicos e purgantes oleosos para eliminar o material tóxico já ingerido. as feridas precisam ser limpas e receber produtos à base de vitamina a, óxido de zinco e antibióticos. o óleo de fígado de bacalhau funciona bem nestes casos, principalmente porque também é repelente, o que auxilia a cicatrização. o período de cicatrização é variável, já que nem sempre se pode manejar o gado diariamente, devido a outros serviços na fazenda. em casos de tratamento intensivo os animais se recuperam em pouco mais de um mês; melhor ainda se forem retirados da pastagem contaminada e receberem assistência veterinária. 21 O edemA de mAmA nos países onde a pecuária leiteira é explorada intensivamente, o edema de mama assume importância significativa. embora no brasil as estatísticas não sejam de conhecimento preciso da comunidade científica, nos estados unidos, em vários rebanhos examinados, o problema atingiu 18% de incidência, em média. entende-se por edema ou congestão da mama, como sendo um distúrbio da glândula mamária, caracterizado por um acúmulo de líquidos nos espaços teciduais intercelulares. o problema pode ocorrer antes ou após o parto e, normalmente, é considerado como um transtorno fisiológico. em algumas vacas, entretanto, o edema pode se agravar, causar desconforto ao animal e torná-lo susceptível a traumatismos e infecções na glândula mamária, comprometendo, inclusive, os ligamentos suspensórios. os animais manifestam dificuldade para se locomoverem e deitarem. a causa do edema de mama não é conhecida com exatidão. os veterinários-pesquisadores acreditam que o problema é multifatorial, havendo estreita ligação com a circulação da glândula mamária. como a forma anteparto é a mais comum de ocorrer, acredita-se que a pressão exercida pelo feto na cavidade pélvica, durante a gestação da vaca, dificulte e prejudique o fluxo sanguíneo e linfático do úbere e ocasione o edema. publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 12 jun. 1991. suplemento folha rural, seção recomendação técnica, p.5. 22 os estudiosos também consideram como causas o aumento do fluxo de sangue para nutrir o úbere antes do parto (mojando), associado com uma diminuição da quantidade de sangue que retorna do mesmo, pois aproximadamente 400 litros de sangue circulam pela glândula mamária para produzir somente 1 litro de leite. além disso, consideram como fator predisponente ao edema, em novilhas, o leite retido na mama pela dificuldade de descida, o que prejudica mais ainda a circulação local. por outro lado, as pesquisas também demonstram que a alimentação com excesso de cloreto de sódio (sal comum) e, principalmente do elemento potássio, oriundo de uma dieta rica em grãos ou na forma de fertilizantes do solo que se incorporam na matéria vegetal, são fatores que causam o edema de mama. um estudo americano, abrangendo um grande número de bovinos da raça holandesa preta e branca, demonstrou que o edema de mama se torna menos incidente à medida que as vacas envelhecem. ainda mesmo, foi observado que as novilhas estando mais velhas no primeiro parto, o edema era mais incidente. vacas com período seco longo, acima de 70 dias, mostraram uma maior severidade do edema de mama. as considerações etiológicas aqui abordadas estão possibilitando, em países desenvolvidos e com recursos apropriados, linhas de pesquisas na busca de outros fatores causadores do transtorno, entre os quais a possível influência hormonal, o que talvez possa explicar certas predisposições em animais de determinadas idades. o tratamento de eleição para casos de edema de mama é pela utilização de uma droga diurética, apesar de que muitos casos se curam espontaneamente. as medidas de auxílio incluem exercitar as vacas através de caminhadas e realizar duchas para estimular a circulação na glândula mamária. importante e fundamental conduta é a ordenha frequente, nas formas pós-parto do edema de mama. 23 O resFriAdO dOs bezerrOs a queda da temperatura e o consequente clima frio, particularmente em algumas épocas do ano, são responsáveis pelo aparecimento de doenças que atingem e prejudicam as vias respiratórias dos animais. são as chamadas “doenças devidas ao frio” e, dentro do complexo pediatria bovina, merecem ser destacadas, porque na maioria das vezes assumem um caráter preocupante, com graves consequências para os criadores. em termos pecuários, a incidência maior de doenças respiratórias recai sobre os bovinos leiteiros jovens, criados de modo intensivo. estes bezerros, quando não atendidos rapidamente, acabam evoluindo de um caso de resfriado para a temível broncopneumonia. nestes casos, podem ocorrer surtos levando a sérios prejuízos econômicos, pela alta mortalidade provocada. o agente causal mais comum é tido como sendo um vírus, podendo, no entanto, haver contaminação bacteriana secundária, o que geralmente ocorre nas fazendas de exploração leiteira. uma série de fatores contribuem efetivamente para o problema. a umidade no bezerreiro, correntes de ar frio, ventos muito fortes, inalação de poeira, fumaça ou outras substâncias que irrite as vias aéreas dos bezerros, predispõem ao aparecimento de problemas do sistema respiratório. os animais doentes manifestam sintomas específicos e o sucesso da cura depende de um diagnóstico clínico precoce, publicado no Jornal O Estado do Paraná, curitiba, 20 jul. 1991. p. 15. 24 além da escolha correta e em dose certa do medicamento. os bezerros mostram-se abatidos, apresentam tosse, corrimento nasal, dificuldades respiratórias e febre, principalmente nas pneumonias bacterianas. como consequências surgem alterações no estado geral do animal que se cansa com facilidade, não acompanha o restante do rebanho e terá, seguramente, seu crescimento prejudicado. para se evitarnovas doenças, algumas medidas profiláticas devem ser adotadas e cumpridas com seriedade, não somente uma vez, mas durante todo o ano. em primeiro lugar os bezerreiros devem ter o máximo de higiene possível. as fezes e os demais resíduos precisam ser removidos e o ambiente sofrer uma boa desinfecção periodicamente. além disso, o local deve ter a proteção de correntes de ar, serem bem ventilados e livre de umidade, tornando o local de criação com temperatura e condições apropriadas. os animais recém-nascidos precisam mamar o colostro da mãe em grandes quantidades para o preparo imunológico do organismo, tornando-se mais resistentes. é importante também que tenham acesso diário ao sol, pois é através deste que os bezerros sintetizam a vitamina d, que é essencial para o equilíbrio de cálcio e fósforo, tornando os ossos fortes e o crescimento mais rápido. durante a noite o local onde permanecem os bezerros deve ser bem iluminado e se possível aquecido. é necessário o cumprimento de calendário sanitário. os bezerros precisam ser desverminados, pois alguns vermes podem se alojar no pulmão e também causar sérios problemas respiratórios. por outro lado, é necessário se evitar as aglomerações que são comuns na criação de animais em regime de estabulação. além disso, a vacinação contra pneumoenterite deve ser realizada, em especial nas propriedades que tenham ou já tiveram problemas desta ordem. para os casos em que é necessário tratamento, os antibióticos são os remédios de eleição. entretanto, precisam ser feitos de modo 25 adequado, na dose correta a principalmente serem de amplo espectro de ação. ao veterinário cabe estipular a dose correta, considerando o peso do animal, e o período de tratamento nunca deve ser inferior a sete dias. os medicamentos com ação expectorante e os que provocam uma broncodilatação são também muito recomendados e facilmente encontrados. sua ação se torna melhor quando é feito em associação com o antibiótico escolhido, por isso são conhecidos como medicamentos coadjuvantes ao tratamento. existem também alguns produtos a base de cânfora. entretanto, trabalhos científicos comprovaram que esta substância não possui ação para as vias respiratórias e, quando usada de forma injetável pode causar intoxicação para o animal. é importante salientar também, que os animais muito debilitados pela doença respiratória, precisam receber uma atenção especial no tratamento. a utilização de soros hidratantes e energéticos pode ser feita e a aplicação deve ser na veia do pescoço (jugular) de forma lenta para a melhor absorção e aproveitamento do remédio. além disso, a água de bebida dos bezerros precisa ser de boa qualidade e os animais devem receber alimentos palatáveis e de fácil digestão, principalmente na fase de recuperação, para diminuir o período de convalescença e a possibilidade de complicação com quadros de graves infecções. 26 A dOençA dA vAcA gOrdA ensinam os nutricionistas que é melhor e mais apropriado para um organismo uma alimentação equilibrada, e que o excesso de gordura nunca foi sinal de saúde. esta conotação encaixa-se perfeitamente também para alguns animais pecuários, particularmente os bovinos leiteiros. as experiências clínicas de certos estudiosos da medicina veterinária, em diferentes países europeus e nos estados unidos, demonstram a existência de uma enfermidade conhecida por síndrome da vaca gorda ou doença do fígado gorduroso. trata-se de um distúrbio metabólico resultante de falhas nas práticas de manejo da fazenda, como alimentação errônea no final da lactação e no período seco das vacas. a doença é mais frequentemente observada em bovinos estabulados, onde os animais, em diferentes fases da lactação e no período seco, são alimentados como sendo um grupo único, sem a devida divisão por categoria, recebendo ração de alta qualidade, à vontade, tornando-se obesos antes do próximo parto. embora seja de ocorrência rara em novilhas, a síndrome acomete vacas de todas as idades, sendo mais comumente observada nas primeiras semanas de lactação, quando ocorre o conhecido déficit energético pós-parto, uma vez que a produção leiteira exige o máximo de nutrientes da vaca nesta fase. o organismo animal, então, mobiliza o tecido adiposo como fonte de combustível para publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 6 set. 1991. suplemento folha rural, seção recomendação técnica, p.8. 27 a produção de energia. como a qualidade de gordura é grande por causa da obesidade da vaca, o fígado fica sobrecarregado e não consegue metabolizar o excesso, devido a insuficiente reserva de lipoproteína transportadora que deveria executar este trabalho. assim sendo, haverá deposição hepática de partículas de gordura e suas graves consequências. os animais doentes demonstram sinais de prejuízo de sua condição metabólica, tornando-se deprimidos, com falta de apetite e isolando-se do rebanho. o sinal mais evidente para o diagnóstico é a presença de muitas vacas gordas no grupo das vacas secas. os trabalhos americanos, realizados em bovinos da raça Holandesa preta e branca, mostram que os animais acometidos podem atingir o peso de 680 a 820 quilos. os estudiosos também esclarecem que a síndrome da vaca gorda é considerada como sendo a “ponta de um iceberg” e que um número muito maior de vacas podem estar afetadas pela forma subclínica da doença, ou seja, com depósitos de gordura no fígado. de fato, o uso da técnica de biópsia hepática na inglaterra, realizada em vários rebanhos de vacas leiteiras, evidenciou que essa forma subclínica é mais comum do que se imaginava. cerca de 1/3 das vacas com produção láctea superior a 5.500 quilos estavam atingidas. o mais temível, entretanto, é que os animais tornam-se mais suscetíveis a determinadas enfermidades, pois ocorre diminuição da resistência orgânica por causa deste distúrbio metabólico. Haverá maior incidência de doenças como mastite, metrite, cetose e febre do leite. algumas pesquisas realizadas na Holanda mostraram que também o deslocamento do abomaso, de grande incidência na bacia leiteira do paraná, possui forte ligação com a doença do fígado gorduroso, deixando os animais mais vulneráveis àquele transtorno digestivo. 28 o tratamento consiste em utilizar produtos à base de glicose e protetores hepáticos (soros veterinários prontos), em quantidades suficientes mediante prescrição médica. a niacina, uma vitamina do complexo b, tem sido muito recomendada, pois diminui a mobilização da gordura, estimula o apetite e promove uma melhora no rendimento energético da vaca. além disso, é necessário o tratamento sintomático para aquelas enfermidades que acabam surgindo, por causa da baixa de resistência. nos animais que se curam, a recuperação da condição orgânica é lenta, havendo comprometimento no ciclo reprodutivo por interferência e diminuição na fertilidade das vacas. profilaticamente, recomenda-se evitar que as fêmeas se tornem excessivamente gordas no período que antecede ao parto, separando os animais por categoria, o que facilita o fornecimento adequado de uma alimentação para atender as necessidades de manutenção e gestação das vacas, conforme o caso. no período seco é mais conveniente e salutar que a vaca leiteira esteja numa condição corpórea de “score 3 a 3,5”, segundo escala zootécnica de classificação. 29 A úlcerA dA lActAçãO na pecuária leiteira os problemas relacionados com as patologias da glândula mamária são frequentes e variados. como se não bastassem as temíveis mamites, o edema fisiológico da mama e as lesões traumáticas dos tetos, ainda é comum em alguns rebanhos a observação de vacas apresentando uma lesão ulcerativa localizada na região abdominal, em posição anterior ao úbere. estas lesões são de difícil cicatrizaçãoe seu tamanho varia entre 3 e 15 centímetros de diâmetro. as maiores são em forma de losango com o maior eixo em sentido transversal, e as menores são arredondadas. embora as citações bibliográficas no continente americano sejam poucas, sabe-se que a úlcera de lactação é conhecida desde o século passado. na década de 50, os estudiosos alemães já referenciavam que essas úlceras nos bovinos leiteiros eram determinadas por um filarídeo do gênero Stephanofilária. as feridas apresentam aspecto de uma dermatite escamosa, crostosa, circunscrita e com bordos irregulares. periodicamente devem ser medicadas para prevenir facilmente e servir como reservatório de germes piogênicos, levando a processos infecciosos dos tecidos mamários. a evolução é variável, mesmo com tratamentos tópicos contínuos. podem ocorrer regressões ou exacerbações, porém a cura completa é difícil de ser obtida na fase de maior produção láctea. publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 25 set. 1991. suplemento folha rural, seção recomendação técnica, p.8. 30 na maioria das vezes, os animais acometidos são as melhores produtoras, e com a presença da lesão manifestam sensibilidade, desconforto e perturbações com moscas, o que prejudica sensivelmente a ordenha, comprometendo a lactação das vacas. em nossa bacia leiteira os animais mais propensos são os bovinos da raça holandesa preta e branca ou vermelha e branca, embora já se evidenciou a úlcera em outras raças apuradas, e até mesmo nas vacas leiteiras mestiças. além do diagnóstico clínico, pode-se utilizar alguns recursos laboratoriais para pesquisar a presença do filarídeo em raspados de lesões e no sangue circulante. em determinados rebanhos se utilizam antissépticos para tratamento local. esta conduta não resolve e oferece riscos à glândula mamária por irritar seus tecidos. alguns antiparasitários modernos têm demonstrado certa eficácia no combate ao filarídeo e, consequentemente, mostram boas perspectivas terapêuticas para a úlcera de lactação. somente a forma injetável desses produtos é recomendada, cabendo ao veterinário a prescrição e orientação médica, bem como a respectiva posologia. 31 sOmAtOtrOpinA nA pecuáriA leiteirA a ciência e a produção animal devem caminhar sempre juntas, fortalecendo ainda mais o ideal do homem em oferecer alimentos de boa qualidade, como é o caso do leite, proporcionando assim saúde e bem-estar aos povos em todo o mundo. como se não bastasse a intensa exploração a que se submetem a vaca leiteira, os estudiosos buscam, nesse animal, aprimoramentos para se atingir o máximo de sua produtividade. com este pensamento, surgiu a somatotropina bovina. trata-se de um hormônio que, em condições naturais é secretado pela glândula hipófise dos animais, tendo uma natureza protéica e altamente complexa. seu efeito na galactopoese, ou seja, estimulando a secreção láctea, é conhecido desde 1937. entretanto, somente a partir dos anos 80, com a biotecnologia a somatotropina bovina começou a ser obtida em laboratório, pela técnica do dna recombinante, a partir de culturas de Escherichia coli. com isso, intensificaram-se os estudos para se reconhecer sua ação na galactopoese e proporcionar um incremento na produção leiteira das vacas. aprovado pelo Food and Drug Administration (fda), que é o órgão americano oficial para autorizar a comercialização de novos produtos nos estados unidos, obviamente com testes rigorosos e constatação de que o mesmo não traz risco à saúde do homem e do meio ambiente, a somatotropina já está sendo utilizada em países como o méxico, áfrica do sul, bulgária e tchecoslováquia, cujo abastecimento interno de leite demonstra um déficit crônico. publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 7 dez. 1991. folha economia, seção agropecuária, p. 2. 32 os pesquisadores internacionais denominam que a somatotropina tem um efeito “homeorrético” no processo de síntese de leite na vaca, ou seja, direciona os nutrientes, seletivamente, em favor da glândula mamária aumentando o fluxo sanguíneo da mesma. assim então, promove uma disponibilidade maior de glucose e uma utilização mais eficiente das reservas de lipídeos, glicogênio e aminoácidos que são componentes essenciais para a formação do leite na vaca e manutenção de sua lactação. o objetivo principal na administração da somatotropina nas vacas leiteiras é promover um novo pico de lactação, prolongando o período em que as vacas apresentam maior volume de produção de leite. porém, para suportar este novo aumento, os animais necessitam também aumentar o consumo de alimentos antes que suas reservas corporais se esgotem. desse modo, o criador deve receber uma orientação nutricional adequada para fornecer aos animais escolhidos, alimentos proteicos e energéticos, uma vez que são vacas de elevado potencial produtivo. o momento de aplicação da somatotropina também parece ser importante, pois se for administrada no início da lactação, o animal poderá apresentar balanço energético negativo mais acentuado e prolongado, tendo consequentemente um comprometimento em seu desempenho reprodutivo. alguns trabalhos realizados em 15 fazendas leiteiras nos estados unidos demonstraram que as vacas nas quais o tratamento se iniciou aos 101 dias de lactação tenderam a uma resposta superior, comparativamente com aquelas que receberam a somatotropina entre 57 e 101 dias de lactação. além disso, vacas multíparas (vários partos) apresentaram uma resposta melhor que as primíparas. os autores observaram um aumento médio de 20% na produção de leite no experimento que envolveu mais de 600 vacas. o grupo de bovinos que teve a menor média de produção mostrou um acréscimo de 7,1kg/leite/animal/dia. as poucas propriedades que usam a somatotropina no 33 brasil, mais especificamente no estado de são paulo, já colheram os primeiros resultados com bons e significativos aumentos na produção de leite. é preciso salientar que os animais que receberão o tratamento precisam ter boas condições de saúde, estarem com prenhez positiva e produzirem, pelo menos, 18kg de leite/dia, senão se torna antieconômico, segundo a maioria dos criadores que já utilizam o produto, com uma aplicação a cada 14 dias. os efeitos colaterais pelo uso da somatotropina bovina ainda não são bem conhecidos. um estudo americano recente possibilitou verificar que nos animais tratados com o produto, por via subcutânea, com até 16,5mg/dia, não alterou a incidência de infecções intramamárias nas vacas da raça Holandesa preta e branca. entretanto, é preciso salientar que o uso da somatotropina na pecuária leiteira é incipiente, necessitando ainda de mais estudos, principalmente no brasil, para realmente garantir que não há prejuízos à saúde dos animais. alguns criadores paulistas verificaram que a mastite bovina se mostrou mais incidente com o uso da somatotropina nas vacas. certas propriedades tiveram que alterar o manejo, passando de duas para três ordenhas diárias. sob o ponto de vista da saúde pública, já que a somatotropina bovina é um hormônio e o organismo animal elimina parte dela pelo leite, os estudos mostram que não há qualquer perigo para as pessoas que porventura consumam o leite, pelo menos por enquanto. ocorre que a estrutura hormonal é diferente não havendo compatibilidade entre o tipo animal e o humano. além disso, por via oral, a somatotropina é degradada ou digerida no trato gastro-intestinal, sendo assim, inativada. alguns anos atrás, o produto foi usado para o tratamento de desordens de crescimento em crianças, sendo verificado que o mesmo foi inativo, mesmo na forma injetável. pelos dados de pesquisas, o valor nutritivo do leite de vacas tratadas com a somatotropina não é diferente daquele proveniente de vacas não tratadas, mantendo-se os mesmos elementosnutricionais. 34 mOléstiA AtAcA As vAcAs cOm excessO de gOrdurA os nutricionistas apontam a alimentação equilibrada como a melhor maneira de tratar o organismo e não consideram o excesso de gordura como sinal de saúde. esta constatação encaixa-se perfeitamente para bovinos leiteiros. isso pode ser comprovado por experiências clínicas de estudiosos da veterinária em diferentes países europeus e nos estados unidos, que demonstram a existência de uma enfermidade conhecida por síndrome da vaca gorda ou doença do fígado gorduroso. trata-se de um distúrbio metabólico que resulta de falhas no manejo dos animais, como alimentação errônea no final da lactação e no período seco das vacas. a doença revela-se mais frequente em bovinos estabulados, quando os animais, em diferentes fases de lactação e no período seco, alimentam-se como grupo único, sem divisão por categoria, e recebem ração à vontade, o que os torna obesos antes do parto seguinte. Febre do leite embora haja ocorrência rara em novilhas, a síndrome acomete vacas de todas as idades, sendo mais comumente observada nas primeiras semanas de lactação, quando ocorre o conhecido déficit publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 18 dez. 1991. suplemento agrícola, seção ciência, p.16. 35 energético pós-parto, já que a produção leiteira exige o máximo de nutrientes da vaca nesta fase. o organismo animal, então, mobiliza o tecido adiposo como fonte para a produção de energia. verificada a grande quantidade de gordura causada pela obesidade da vaca, o fígado se mantém sobrecarregado e não consegue metabolizar o excesso, em razão da insuficiente reserva de lipoproteína transportadora que deveria executar este trabalho. assim, haverá a deposição hepática de partículas de gordura e graves consequências para o animal. os animais doentes demonstram sinais de prejuízo da condição metabólica, ao se tornarem deprimidos, com falta de apetite e isolamento do rebanho. o sinal mais evidente para o diagnóstico é a presença de muitas vacas gordas no grupo das vacas secas. os trabalhos americanos, realizados em bovinos da raça holandesa preta e branca, mostram que os animais acometidos podem atingir o peso de 680 a 820 quilos. Alimentação Adequada o mais grave, entretanto, é que os animais tornam-se mais suscetíveis a determinadas enfermidades, pois ocorre diminuição da resistência orgânica por causa deste distúrbio metabólico. Haverá maior incidência de doenças como mastite, metrite, cetose e febre do leite. o tratamento consiste em utilizar produtos à base de glicose e protetores hepáticos – soros veterinários prontos, em quantidades suficientes, mediante prescrição médica. os estudiosos recomendam niacina, vitamina do complexo b, que diminui a mobilização de gordura, estimula o apetite e promove uma melhora no rendimento energético da vaca. além disso, torna-se necessário o tratamento sintomático para aquelas enfermidades que surgem, causadas pela queda da 36 resistência. nos animais que se curam, por exemplo, a recuperação mostra-se lenta, com comprometimento no ciclo reprodutivo por interferência e diminuição da fertilidade das vacas. profilaticamente, recomenda-se evitar que as fêmeas se tornem excessivamente gordas no período que antecede o parto, com a separação dos animais por categoria e fornecimento de alimentação adequada para atender às reais necessidades. 37 HOrmôniO melHOrA prOduçãO de leite em vAcA bOA a ciência e a produção animal devem caminhar juntas, para fortalecer o ideal do homem de oferecer alimentos com qualidade. para auxiliar os estudiosos no aprimoramento e máxima produtividade dos animais leiteiros surgiu a somatotropina bovina. trata-se de um hormônio de crescimento, com natureza protéica e complexa que, em condições naturais, costuma ser secretado pela hipófise dos animais. desde 1937, os estudiosos conhecem o seu efeito na galactopoese, isto é, como estímulo à secreção láctea. entretanto, somente nos anos 80, com a utilização da biotecnologia, a somatotropina bovina começou a ser obtida em laboratório. aprovado pelo Food and Drug Administration (fda), órgão americano oficial que autoriza a comercialização de novos produtos nos estados unidos, após testes rigorosos e constatação de que o produto não acarreta risco à saúde do homem e do meio ambiente, a somatotropina já é utilizada no méxico, áfrica do sul, bulgária e república checa e eslovaca, embora os efeitos colaterais do produto não sejam bem conhecidos. os pesquisadores internacionais afirmam que o hormônio tem efeito homeorrético no processo de síntese de leite na vaca, isto é, direciona os nutrientes, seletivamente, em favor da glândula publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 26 fev. 1992. suplemento agrícola, seção ciência, p.12. 38 mamária e ali aumenta o fluxo sanguíneo. assim, promove maior disponibilidade de componentes para a formação do leite e manutenção da lactação da vaca. prenhez positiva o objetivo principal da administração da somatotropina é promover novo pico de lactação, ao prolongar o período em que as vacas apresentam maior volume de produção de leite. porém, para suportar o novo aumento, os animais necessitam ampliar o consumo de alimentos, antes que suas reservas corporais se esgotem. assim, o criador necessita receber orientação nutricional para fornecer alimentos adequados às vacas escolhidas. o momento de aplicação da somatotropina também se mostra importante, pois se for administrada no início da lactação, o animal poderá apresentar balanço energético negativo mais acentuado e prolongado, com comprometimento no desempenho reprodutivo. alguns trabalhos realizados nos estados unidos, por exemplo, demonstraram que as vacas nas quais o tratamento se iniciou aos 101 dias de lactação, tenderam a respostas superiores, se comparadas às que receberam o hormônio entre 57 e 101 dias de lactação. além disso, vacas com vários partos apresentaram resposta melhor que as vacas de um único parto. os pesquisadores observaram aumento médio de 20% na produção de leite em experimento que envolveu mais de 600 vacas. o grupo de bovinos que teve menor média de produção mostrou acréscimo de 7,1 quilos de leite por animal ao dia. as propriedades que usam a somatotropina no brasil, já colheram os primeiros resultados com significativos aumentos na produção de leite. é preciso salientar, porém, que os animais que receberão o tratamento necessitam apresentar boas condições de saúde, prenhez positiva e produção em torno de 18 quilos de leite por dia. 39 Os bAstidOres dA expOsiçãO tradicional e internacionalmente reconhecida, a exposição agropecuária e industrial de londrina, durante seus 32 anos, vem sendo uma festa memorável, com várias atrações, novidades e principalmente com o que há de mais representativo para espécies e raças de animais. embora muitos se contagiem com o prazer, alegria e confraternizações, outros executam os serviços imprescindíveis para o bom andamento do evento. assim foi a participação de professores e alunos do curso de medicina veterinária da universidade estadual de londrina que, até 1990, realizaram inúmeros atendimentos clínicos dentro do parque, além de contar com a retaguarda do Hospital veterinário, seja no apoio laboratorial, centro cirúrgico e setor de radiologia. nos 15 anos de atividades práticas, frente às mais variadas situações, muitas enfermidades foram diagnosticadas e tratadas, o que permitiu ao corpo docente reconhecer estatisticamente as principais patologias a que estão sujeitos os animais expostos numa feira agropecuária. o problema se inicia antes mesmo da abertura oficial do evento, com a chegada dos animais alguns dias antes. o desembarque é sempre um transtornoe o momento de real perigo. os animais, ainda assustados pela viagem, correm o risco de acidentes, sofrendo traumatismos, cortes profundos e até mesmo fratura dos membros, publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 3 abr. 1992. encarte especial agropecuária, p.30. 40 principalmente os equinos. depois disso, diariamente ficam sujeitos ao “stress” do parque, pela mudança de ambiente e dos hábitos, proporcionando alterações orgânicas que em alguns animais se manifestam de maneira mais grave. o comprometimento do sistema digestivo é bem evidente, principalmente nos bovinos que muito comem e pouco andam. vários animais se tornam empanzinados com o típico quadro de indigestão. este problema também é observado em alguns animais que permanecem naqueles pavilhões que não possuem suficiente oferta de água de bebida. nos equinos os episódios de cólica parecem ter diminuído com a estratégia adotada pela rotatividade das raças, fazendo os animais permanecerem pouco tempo na feira. a mudança alimentar a que os animais são submetidos, particularmente pelo oferecimento de volumoso triturado, tem demonstrado ser a causa de quadros de diarréia, especialmente nos bovinos jovens. este inconveniente leva ao esgotamento rápido das reservas líquidas dos animais, necessitando de uma terapia intensiva e criteriosa de medicamentos hidratantes e energéticos. outra entidade clínica que tem aumentado nos últimos anos são as reações alérgicas dos animais, provavelmente ocasionadas pelo tipo de cama utilizada nos pavilhões do parque, basicamente de palha de arroz. o quadro se manifesta com o comprometimento do sistema respiratório dos bovinos, tirando-lhes o apetite e alterando o comportamento, deixando os animais tristes e sem disposição. com relação aos pequenos ruminantes, os registros mostram alguns episódios de pneumonia e mamites nas cabras e toxidez pelo cobre em alguns ovinos, devido ao uso preventivo do produto em pedilúvios. vale lembrar que estes animais não devem permanecer em recintos pequenos e descobertos, pois as aglomerações e as oscilações de temperatura por mudança climática ocasionam outros inconvenientes, colocando em risco a saúde dos mesmos. 41 como recomendações técnicas no sentido de evitar os problemas nos animais expostos durante o evento, lembraríamos: 1) cuidado no desembarque e no embarque de retorno dos animais; 2) fazer os animais caminharem pelo parque para se exercitarem e receberem o sol da manhã; 3) fornecer boa água de bebida e que seja de fácil acesso; 4) evitar o excesso de ração e fornecer alimentos fibrosos, para o bom funcionamento digestivo; 5) trocar periodicamente a cama dos animais, para evitar acúmulo de urina e fezes. além disso, vale ressaltar que em dias muito quentes os animais devem tomar banhos para amenizar o calor. em hipótese alguma os expositores devem prescrever os medicamentos, pois já houve casos de intoxicação pelo uso indiscriminado de produtos veterinários. este procedimento deve ser efetuado e supervisionado por médico-veterinário, a exemplo do que ocorre em casos de parto dentro do parque. 42 brAquiáriA reduz A intOxicAçãO pOr sAmAmbAiA até o final dos anos 70, boa parte do rebanho bovino paulista sofria as inconveniências proporcionadas por um vegetal tóxico muito comum em pastagens de várias localidades do estado. a planta Pteridium aquilinun, popularmente conhecida como samambaia, costuma ser encontrada também em outros estados brasileiros e em vários países do mundo. ela tem como característica principal determinar diferentes quadros clínicos nos bovinos, pois na maioria das vezes os animais acometidos demoram meses para manifestar os primeiros sintomas. doença de caráter crônico (os bovinos urinam sangue, manifestam ronqueira e dificuldades para deglutir), a intoxicação pela samambaia transformou-se em causa de muitos prejuízos aos pecuaristas, principalmente porque não há cura medicamentosa para os animais doentes, que acabam morrendo. os princípios tóxicos da planta podem também comprometer a saúde do homem pela transmissão da toxina via leite e, possivelmente, pelo consumo da carne. atualmente, porém, a preocupação com essa planta tóxica parece estar diminuindo. o crescente cultivo do capim do gênero Brachiaria no estado permitiu um combate natural, promovendo o desaparecimento da samambaia em muitas áreas antes contaminadas. a variedade mais representativa é a Brachiaria decumbens, que tem publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 23 set. 1992. suplemento agrícola, seção ciência, p.24. 43 características agronômicas excepcionais, auxiliando na erradicação da samambaia, principalmente porque é uma gramínea com grande capacidade para se alastrar, tem crescimento bastante agressivo e se adapta bem aos solos, mesmo em áreas apontadas como de fraca fertilidade. zinco e cobre além disso, a Brachiaria decumbens ocupa quase todo o solo, limitando o crescimento de outros vegetais próximos, em razão de seu caráter dominante e grande resistência ao período seco. a situação da Brachiaria decumbens em são paulo, segundo dados oficiais de entidades vinculadas à secretaria de agricultura e abastecimento do estado, mostra o dinamismo dessa gramínea e de outras do mesmo gênero. a Brachiaria ocupa 53,4% da área cultivada com pastagens. desse total, 36,7% (2,755 milhões de hectares) com a decumbens; 10,3% (791 mil hectares) com a humidicola; 4,0% (299 mil hectares) com a ruiziensis e 2,5% (188 mil hectares) com a variedade brizantha. embora considerando que a propagação da Brachiaria decumbens tenha se tornado um inimigo natural da samambaia e de suas consequências para a saúde dos bovinos, convém estar alerta para eventuais transtornos nutricionais e metabólicos que esta gramínea e outras variedades do gênero podem ocasionar, principalmente para os equinos. a criação dessa espécie animal aumentou bastante em são paulo nos últimos dez anos, e já existem relatos de casos experimentais de fotossensibilidade, afecção até então mais comum em bovinos. mais ainda: sabe-se que o capim Brachiaria decumbens é pobre em determinados elementos minerais, importantes para o crescimento e manutenção dos animais, como fósforo, sódio, zinco, cobre e cobalto. 44 cHeirO de vinAgre cArActerizA bOA silAgem a constante inovação tecnológica a serviço da agropecuária proporcionou ao homem assegurar a continuidade produtiva de seus animais, por meio do armazenamento alimentar. durante a estação de inverno, considerada por muitos como período crítico, principalmente para a produção de leite no país, o uso da silagem na alimentação de vacas previne uma série de problemas aos criadores. considera-se boa silagem a que apresenta cheiro agradável ou lembra vinagre, com cor verde-amarelada ou cáqui e textura firme das fibras. quando bem manejada, evita o emagrecimento do rebanho e a predisposição a diversas doenças. além disso, impede a queda na produção leiteira e a diminuição da fertilidade das vacas. compactação sabe-se que a boa silagem exige controle sanitário apropriado do material armazenado, sem o qual as perdas são grandes, com significativos prejuízos aos pecuaristas. portanto, é preciso considerar as condições de armazenamento, sem registrar fator que promova alteração no material. técnicos e produtores sabem que a existência de alguma perda torna-se inevitável, pois o processo sofre várias etapas. entretanto, a silagem bem conduzida, especialmente com rigoroso controle publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 21 out. 1992. suplemento agrícola, seção ciência, p.24. 45 sanitário, transforma as perdas entre 10 e 20 %, níveis considerados satisfatórios e, até mesmo, esperados. no entanto, se não houver emprego de técnicas recomendadase não se considerar o aspecto sanitário na silagem, as perdas ocorrem em intensidade variável e podem atingir índices preocupantes. assim, pela fermentação mal processada há prejuízos de muitos nutrientes da silagem, o que afeta sua qualidade. exatamente por isso, a compactação bem feita torna-se fundamental. o alimento armazenado também pode sofrer apodrecimento, em razão do aumento de temperatura e do mofo que se forma. isso se torna mais evidente nas partes externas da massa, que tem início onde a compactação mostrou-se insuficiente ou permitiu a penetração de ar ou de água. pecuária leiteira as perdas na silagem podem se originar pela drenagem, ou escoamento do excesso de umidade. a água que sobra se infiltra e arrasta os nutrientes minerais importantes, o que empobrece o alimento. como controle determina-se não ensilar o alimento com mais de 70% de umidade, realizar boa cobertura do silo e fazer canaletas em volta dele, para escoamento da chuva. convém considerar esses aspectos nas situações em que se trabalha com silo trincheira, pois o excesso de umidade favorece o desenvolvimento de bactérias indesejáveis. sob o ponto de vista dos animais, há sempre o risco de que se tornem susceptíveis a quadros clínicos de intoxicação, à medida que o controle sanitário da silagem não é considerado e sofre alteração. podem ocorrer casos de indigestão com hepatotoxicidade, colocando em risco a vida de muitos bovinos, pois algumas vezes o caso é agudo, sem tempo para socorrer. 46 a orientação técnica aos criadores e o zelo por um controle sanitário da silagem são, portanto, condições importantes para evitar prejuízos aos que fazem da pecuária leiteira a principal exploração na propriedade rural. 47 cOurO de bOi prOpOrciOnA rendA extrA AO pecuAristA o pecuarista brasileiro nem sempre dá a devida importância para uma matéria-prima que pode lhe permitir uma maior rentabilidade: o couro bovino. são várias as causas que colaboram na desvalorização desse importante subproduto animal, todas elas relacionadas, direta ou indiretamente, com o manejo do gado, do nascimento ao abate. de acordo com uma recente cartilha educativa elaborada no rio grande do sul pelo centro tecnológico do couro, calçado e afins (ctcca), no brasil 60% dos defeitos nos couros se originam da fazenda, sendo 40% por ectoparasitas como carrapato, berne e bicheira; 10% por marcação ao fogo feita sem critério e 10% por acidentes com arames, chifradas e outros. por outro lado, em 10% dos casos os couros sofrem avarias durante o transporte que se realiza com o gado, seja com destino ao frigorífico, exposições ou entre propriedades. outra estatística interessante diz respeito à perda com o couro durante o processo de abate. cerca de 15% dos defeitos surgem quando a esfola é mal executada no frigorífico. o fazendeiro pode e deve adotar medidas preventivas. para isso, é necessário ter um bom manejo sanitário, evitando que os animais sejam infestados por carrapatos e bernes, além de impedir a proliferação de miíases, conhecidas popularmente como bicheira. doenças como a fotossensibilidade e a papilomatose (verruga) devem ser logo de início combatidas. publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 10 mar. 1993. suplemento agrícola, p. 20. 48 ainda profilaticamente, outro aspecto a ser considerado é a orientação que os peões devem receber, quando da marcação do gado. as marcas devem ser feitas na cara e membros dos bovinos, evitando sempre as partes altas, pois desvalorizam completamente a matéria-prima. é importante, também, que a marca não tenha mais do que 11 centímetros de diâmetro. outras medidas a serem adotadas para se evitar prejuízos futuros são: 1ª) exame periódico das cercas da fazenda, sendo de preferência feitas com arame liso; 2ª) retirada de objetos que possam machucar o gado no pasto; 3ª) não utilizar ferrão pontiagudo para conduzir o gado, dando preferência aos bastões de choque elétrico; 4ª) inspecionar a grade do caminhão boiadeiro, observando se a carroceria está em boas condições para uso, tendo divisões a cada 7,3 m de comprimento, permitindo boa distribuição do gado durante transporte; 5ª) para casos de esfola manual, solicitar treinamento especial para os funcionários no frigorífico que também devem utilizar facas curvas e bem afiadas no abate; 6ª) conservar corretamente o couro, realizando a salga num prazo máximo de 4 horas após a esfola, já que 15% dos problemas com os couros são provenientes de má conservação. todas essas medidas, entretanto, de nada valem se o criador não tiver um incentivo maior no abate. o preço do bovino ao pecuarista é pago pelo peso e não há reconhecimento para aqueles que evitam danos ao couro animal. está na hora de se valorizar mais estes aspectos; quem ganha é o próprio consumidor, que terá produtos de melhor qualidade a preços acessíveis. 49 pesquisAdOres descOnHecem As cAusAs dO edemA de mAmA nAs rAçAs leiteirAs nos países onde a pecuária leiteira é explorada de maneira intensiva, o problema denominado edema de mama assume importância significativa. nos estados unidos, o exame em vários rebanhos apontou médias de 18 % de incidência. no brasil, porém, as estatísticas não são do conhecimento da comunidade científica. entende-se por edema ou congestão da mama, o distúrbio da glândula mamária que se caracteriza por acúmulo de líquidos. o problema pode ocorrer antes ou após o parto e, normalmente, é considerado alteração na fisiologia do úbere, com cura espontânea depois do nascimento do bezerro. em algumas vacas, entretanto, o edema pode se agravar, com conseqüências de desconforto ao animal, além de torná-lo suscetível a traumatismos e infecções na glândula mamária, comprometendo até mesmo os ligamentos suspensórios. nessa situação, os animais manifestam dificuldade de locomoção e nos movimentos para se deitar. grãos e Fertilizantes o quadro se complica quando se sabe que a causa do edema não é conhecida com exatidão. os veterinários que se dedicam à pesquisa, acreditam que o problema seja multifatorial, o que implica estreita ligação com a circulação da glândula mamária. publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 22 abr. 1992. suplemento agrícola, seção ciência, p.14. 50 como a forma anteparto do edema de mama é a mais comum de ocorrer, acredita-se que a pressão exercida pelo feto na cavidade pélvica, durante a gestação da vaca, dificulte e prejudique o fluxo sanguíneo e linfático do úbere e assim cause o problema. os pesquisadores também consideram como possível causa o aumento do fluxo de sangue para nutrir o úbere antes do parto, fato associado à diminuição da quantidade de sangue que retorna daquele órgão, pois aproximadamente 400 litros de sangue circulam pela glândula mamária para produzir um litro de leite. além disso, apontam como fator predisponente ao edema em novilhas, o leite retido na mama pela dificuldade de descida, o que prejudica ainda mais a circulação local. as pesquisas também demonstram que a alimentação com excesso de cloreto de sódio e de potássio, proveniente de dieta rica em grãos ou na forma de fertilizantes do solo que se incorporam na matéria vegetal, costuma causar edema de mama. circulação sanguinea estudos americanos, que focalizaram grande número de bovinos da raça holandesa preta e branca, demonstraram que o edema de mama se torna menos incidente à medida que as vacas envelhecem. observou-se também que havia maior ocorrência do edema, em novilhas com mais idade no primeiro parto. e vacas com período seco longo, acima de 70 dias, apresentaram maior severidade do problema. as considerações etiológicas abordadas possibilitam, em países desenvolvidos e com recursos, a existência de linhas de pesquisas na busca deoutros fatores que causem o problema, entre os quais a possível influência hormonal, que talvez explique certas predisposições em animais de determinadas idades. 51 o tratamento para o edema de mama, nas situações em que o problema persiste, determina a utilização de uma droga diurética, de acordo com recomendações veterinárias, embora na maioria dos casos haja cura espontânea. as medidas de auxílio incluem exercitar as vacas em caminhadas e aplicações de duchas para estimular a circulação na glândula mamária, além da ordenha várias vezes ao dia na fase pós-parto. 52 errAdicAçãO dA AFtOsA Há quem acredite e afirme que a febre aftosa estará erradicada do brasil no final deste século. tal desafio tem movimentado a vida pecuária do país, de maneira abrangente e intensiva. autoridades sanitárias, ministeriais, empresariais, técnicas, pecuaristas e muitas outras pessoas ligadas ao meio rural mostram- se motivadas em debelar a virose. isso se deve, principalmente, à perspectiva e necessidade de exportação da carne bovina brasileira para países membros da comunidade econômica européia, gerando, além de divisas para a economia nacional, lucratividade maior para os criadores. a doença já foi erradicada em muitos países. nos estados unidos o último foco ocorreu em 1929. antes, 300 mil animais contaminados foram abatidos. o canadá acabou com a doença em 1952, fazendo controle severo e restrição à movimentação de animais no país. o méxico, por sua vez, após abater sumariamente os animais contaminados e fomentar programas regionais de vacinação, ficou livre da aftosa em 1954. no brasil, embora as etapas para se acabar com a doença estejam consubstanciadas por quesitos técnicos, já amparados pela ampla conscientização de muitos profissionais, a tarefa é árdua. o meio rural brasileiro ainda padece de uma característica negativa, que limita em muito a maciça aplicação de medidas profiláticas. trata-se, infelizmente, de maus hábitos, muito comuns publicado no Jornal O Estado de São Paulo, são paulo, 8 set. 1993. suplemento agrícola, n. 1974, p.2. 53 entre vários criadores e seus auxiliares de lida do gado bovino. a falta de esclarecimento, as crendices, vícios e outras condutas continuam sendo usados em larga escala. constata-se, frequentemente, o baixo nível de instrução de nossos trabalhadores rurais, originando sérios obstáculos à conquista de melhores resultados na aplicação de medidas sanitárias. o uso de querosene na nuca do animal, a aplicação de óleo queimado e outras práticas refletem bem o empirismo, que também deve ser combatido concomitantemente às medidas de erradicação da enfermidade no brasil. Hoje se faz necessário, além de campanhas de imunização, centralizar o abate dos animais nas regiões endêmicas, dando tratamento devido às carcaças e vísceras. isso limitaria o transporte do animal vivo para outras regiões consideradas como não endêmicas, evitando, assim, a disseminação do vírus. por intermédio de programas educativos, o médico veterinário contribuirá positivamente na campanha de eliminação da aftosa, levando ao homem do campo ensinamentos básicos, apoio técnico e cooperativo, debelando métodos empíricos cabalmente refutados pela ciência. com um plano de ação será possível executar este trabalho, tendo como meta primordial a completa vigilância da sanidade animal e, nesse contexto, também a do homem. atividades como palestras, debates, cartilhas e outras medidas simples e bem fundamentadas deverão ser adotadas, com fácil aplicação e entendimento, pois os costumes e atitudes na criação animal são milenares e podem ter conotação hereditária. para tanto, será necessária muita habilidade profissional para desenvolver os trabalhos. co-autor: prof. dr. laurenil gaste 54 Os bOvinOs nA expOsiçãO 94 um estudo considerando quatro anos de atendimento clínico aos bovinos, durante a exposição de londrina, indica que alguns animais são propensos a certos tipos de problemas. a pesquisa mostra resultados observados pela assistência veterinária, que os docentes da universidade estadual de londrina efetuavam oficialmente no parque de exposições, o que poderá servir como prevenção de novos transtornos no evento que se inicia. a análise considera o total de 125 bovinos, de diferentes raças, que tiveram o acompanhamento integral até a cura definitiva. os maiores problemas (17,6%) são os traumatismos ou as lesões contundentes, que normalmente ocorrem devido ao transporte, embarque, desembarque e manuseio dos animais, feito de maneira estabanada e às pressas. paciência e cuidados gerais são importantes para se evitar novos episódios. os problemas de ordem digestiva, incluindo as indigestões (11,2%) e as diarréias alimentares (10,4%), são decorrentes da alteração de manejo que os bovinos sofrem no parque. o alimento volumoso nem sempre é cortado no dia e os animais fazem pouquíssimas caminhadas. além disso, em alguns casos, os animais precisam ir ao encontro da água de bebida, colocada do lado de fora do pavilhão. para suprir essas necessidades, em muitos casos, os animais dependem de boa vontade e disposição dos capatazes. publicado no Jornal Folha de Londrina, londrina, 9 abr. 1994. suplemento folha rural, n. 898, p. 2. 55 nos anos em que as camas dos animais eram de palha de arroz ou cepilho, muitos tiveram reações alérgicas (10,4%), às vezes com manifestação de corrimento nasal, outras vezes com alterações visíveis na pele, com vários nódulos. esta condição clínica deixa o animal muito abatido, sem apetite e disposição. o estudo ainda demonstra que a tristeza parasitária (5,6%) e a anaplasmose (6,4%) acabam surgindo durante o evento, provavelmente pela queda de resistência dos animais ao stress do transporte e a mudanças no seu habitat. evitar longas distâncias é importante, pois não provocará o desgaste orgânico dos bovinos, especialmente os jovens. Há, ainda, outros problemas clínicos, porém em proporções menores. entre esses, estão os transtornos respiratórios e o auxílio obstétrico ao parto, pois em várias ocasiões isto foi necessário. é muito provável que as vacas gestantes não tenham a tranquilidade essencial para parir durante a feira. um piquete-maternidade seria recomendável, particularmente se fosse em local sossegado. como todo gado é controlado, é possível estimar o dia do parto e deslocar as vacas para lá. um fato interessante é que, pelo estudo, as condições infecto- contagiosas não existem, ou pelo menos não são vislumbradas. isto coloca todos animais em segurança, pois tais situações são indesejáveis, devido ao alto índice de contaminação que podem atingir. contribuem efetivamente para o controle dessas enfermidades a boa conduta e a inspeção que as autoridades e técnicos vêm efetuando ao longo dos anos. a passagem pelo rodolúvio e pedilúvio, além do cumprimento das normas sanitárias integrais e as condições de higiene e desinfecção, devem ser obrigatórias e mais exigidas neste ano, especialmente para se evitar a indesejável febre aftosa, cujos focos retornaram ao paraná após alguns anos adormecidos. 56 por fim, qualquer recomendação técnica pode ser efetivada com relativo sucesso, se for considerado, também, um aspecto nem sempre lembrado pelos criadores e que acaba repercutindo nos animais: o cansaço do peão. 57 O lixO rurAl dA vAcinAçãO durante o mês de abril o paraná esteve engajado em mais uma campanha de vacinação contra a febre aftosa. experimenta também completar dois anos sem foco da doença e, com isso, voltar a participar das exportações, abrindo novas fronteiras para seu efetivo bovino de quase 9 milhões de cabeças. este também parece ser o momento adequado para tratar de outro assunto igualmente importante: o que fazer com o lixo rural que
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