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6 - DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS 130 1 - Introdução O dimensionamento de um pavimento consiste na determinação das camadas de reforço do subleito, sub-base, base e revestimento, de forma que essas camadas sejam suficientes para resistir, transmitir e distribuir as pressões resultantes da passagem dos veículos ao subleito, sem que o conjunto sofra ruptura, deformações apreciáveis ou desgaste superficial excessivo. Um pavimento é um sistema de camadas de espessuras finitas, assentes sobre um semi-espaço infinito que é o subleito. O problema do dimensionamento consiste em considerar um ponto P qualquer do sistema solicitado por uma carga Q/2 que gera uma pressão de contato q e verificar o estado de tensão e de deformação resultante, visando prever se haverá ou não ruptura. O dimensionamento pode partir da consideração de que as cargas aplicadas são estáticas; no entanto, ele é submetido a cargas repetidas, sofrendo, devido a essa repetição, deformações permanentes e elásticas, que serão tanto maiores quanto maior for o número de solicitações. O concreto de cimento pode romper por fadiga, após um número grande de solicitações, sendo que o método de dimensionamento da Portland Cement Association (PCA) baseia-se no consumo de resistência à fadiga. As tensões de tração na flexão, originadas pela passagem das cargas do tráfego, variam linearmente com o logaritmo do número de solicitações permissíveis. O concreto asfáltico, após um grande número de solicitações, também pode romper por fadiga. A ruptura geralmente pode estar ligada ao logaritmo do número de solicitações, ocorrendo, em alguns casos e em certas áreas mais solicitadas da pista, antes mesmo de ser atingido o limite de resistência à fadiga. Os materiais granulares utilizados na construção de bases e sub-bases podem também, romper por fadiga, sendo que os materiais compostos de grãos graúdos sofrem, nesse caso, uma degradação que os leva ao desarranjo do conjunto. A Mecânica dos Pavimentos procura explicar o funcionamento estrutural dos Pavimentos sob a ação do tráfego, com base em observações de campo e em modelos teóricos estabelecidos para essa finalidade. Isto permite afirmar que a degradação estrutural do pavimento asfáltico é associada a dois fatores principais: a) a deformação permanente – manifestada pela profundidade das trilhas de roda e pela irregularidade do perfil longitudinal, que vai crescendo com o aumento das solicitações devido ao tráfego. b) A fadiga à flexão – manifestada pelas trincas em forma de couro de crocodilo no revestimento asfáltico. medida que vai crescendo as solicitações, vão crescendo as deformações permanentes nos perfis transversal e longitudinal, que são devidas ao somatório das deformações permanentes de todas as camadas: do subleito ao revestimento. Um modelo empírico simples é o chamado modelo CBR onde se considera que praticamente a deformação permanente na superfície do pavimento é devida somente ao subleito (caracterizado pelo seu CBR), sendo desprezíveis as das 6 - DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS 131 demais camadas (supostamente construídas adequadamente). Supondo-se que o revestimento asfáltico obedeça às especificações pertinentes, que a base granular tenha um CBR 80% (tráfego pesado) ou CBR 60% (tráfego médio) e que a sub-base tenha um CBR 20%, a deformação permanente na superfície do pavimento é considerada ser devido apenas ao subleito, desde que as espessuras mínimas de revestimento e de base sejam respeitadas. O revestimento asfáltico sob a ação do tráfego vai trabalhar a flexão, sofrendo deflexões reversíveis (elásticas) que provocam a repetição de tensões de tração () e das respectivas deformações relativas () em sua face inferior, figura acima. A medida que se repetem as e as , isto é, a medida que vai crescendo as solicitações do tráfego, o revestimento asfáltico vai enfraquecendo. Inicialmente aparecem fissuras, seguidas de trincas isoladas que vão tendendo a formar trincas tipo couro de crocodilo: é o fenômeno da fadiga. Quando começam a se formar as trincas, é o momento da execução do reforço do pavimento. Em caso contrário, vão se estabelecer as trincas necessitando de um reforço mais oneroso, que vão passando a pequenos blocos desconectados, iniciando a fase de desagregação: é a ruína total do pavimento, exigindo uma reconstrução de grande vulto, indicando falha do Gerenciamento do Pavimento. No modelo CBR a fadiga é evitada até um certo número de solicitações (N) estabelecendo-se, para isso, uma certa espessura mínima de revestimento hrmin 1.1 – Fatores que influem no dimensionamento a) Materiais de construção disponíveis no tocante à qualidade e quantidade. O custo é fator importante e depende da distancia de transporte entre as jazidas de materiais e o local da obra. A pesquisa dos materiais apropriados para uso do pavimento é feita conjuntamente com a prospecção geotécnica, determinando-se a qualidade, volume disponível, custos de extração e transporte. b) Climatologia e precipitações pluviais. A intensidade elevada de chuvas exige pavimentos mais espessos e mais impermeáveis, influindo no seu desempenho ao longo de sua vida útil. c) Natureza do subleito e respectiva capacidade de suporte. d) Previsão de tráfego: são levados a efeito estudos da intensidade e do tipo de cargas atuais e a previsão para o futuro, bem como a freqüência de repetições de cargas. e) Equipamentos disponíveis e volume de serviços. f) Custo do pavimento na sua construção, operação e conservação, ao longo da vida útil estimada. 2 – Critério Geral de Dimensionamento Dentre as principais grandezas e parâmetros que levam às primeiras noções de dimensionamento, já mencionadas no primeiro capítulo, podemos destacar o seguinte: A - a carga de roda, embora resulte numa superfície de contato com o pavimento aproximadamente elíptica, essa superfície pode ser considerada circular de raio r. B - essa carga de roda provoca uma distribuição de pressões, sob o pneu, parabólica, resultando 6 - DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS 132 em pressão nula no perímetro da superfície de contato e máxima no centro dessa superfície. Considera-se a pressão de contato uniformemente distribuída q na superfície de contato circular, ver figura ao lado. C – o subleito recebe, na interface com o pavimento, uma pressão inferior a pressão de contato e tanto menor quanto mais espesso o pavimento e quanto mais nobres os materiais componentes das camadas desse pavimento. De acordo com os elementos apresentados até aqui, pode-se dizer que o critério geral para o dimensionamento de pavimentos consiste em, partindo de uma carga repetida provocada pelo tráfego q e, em função das condições de suporte de semi- espaço infinito que é o subleito Z , calcular a espessura total z necessária e as fatias correspondentes às camadas do pavimento, considerando nesse cálculo a qualidade dos materiais a serem utilizados nessas camadas, que pode ser representada pelo angulo de distribuição de pressões. São três, as grandezas a considerar inicialmente: Subleito. A pressão Z provocada na interface com o pavimento, que é a mínima condição de resistência a ser exigida desse subleito. Tráfego. Representado pela pressão de contato q. Materiais das camadas. Representado pelo angulo de alargamento do tronco de cone de distribuição de pressões. As expressões abaixo deduzidas das considerações acima, servem para demonstrar duas situações distintas: 1 z = q ------------------------ (1) e 1 + (z / r) tg 2 O critério referente a expressão (1)tem aplicação principalmente no dimensionamento de pavimentos urbanos, pois é muito freqüente a necessidade de se fixar previamente a espessura z do pavimento, quer pelas limitações de nivelamento da parte superior, devido aos nivelamentos de guias, sarjetas, soleiras e outros próprios das áreas urbanizadas, quer pelas limitações de nivelamento no subsolo, pela possibilidade da existência de canalizações subterrâneas de gás, esgotos, água, luz, telefone e outras. O critério referente a segunda expressão (2) tem aplicação principalmente no caso de rodovias em zonas rurais. Nesse caso, as limitações de nivelamentos praticamente inexistem, pois essas rodovias se desenvolvem em regiões sem os melhoramentos citados no caso urbano. Assim, deve-se providenciar o levantamento da qualidade dos materiais componentes do subleito e, com base nesses resultados, dimensionar o pavimento, havendo certa liberdade na fixação da espessura total desse pavimento, sem grandes preocupações quanto às limitações de nivelamento. D – As especificações dos materiais que irão compor as camadas do pavimento. No dimensionamento, direta ou indiretamente essas especificações devem estar sendo obedecidas. Na construção, o rigor na obediência às especificações é total, sob pena de se estar construindo uma estrutura diferente daquela projetada. E – Considerando que as pressões decrescem com a profundidade, as camadas complementares da base, sub-base e o reforço devem obedecer a condições, quanto à z = 1 2/1 Z q tg r (2) 6 - DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS 133 qualidade, também, decrescentes, ou seja, o material da base deve ser mais nobre que o material da sub-base, e a qualidade desta superior, à do reforço do subleito. F – As condições climáticas influenciam o dimensionamento dos pavimentos na medida em que maiores precipitações pluviométricas e maiores variações anuais de temperatura exigem cuidados especiais para manutenção das propriedades que levaram à escolha dos materiais G – As condições de drenagem devem ser consideradas adequadas para o dimensionamento e, por conseguinte, durante todo o período de projeto e operação do pavimento. H – O grau de compactação tem uma influencia evidente no comportamento de um pavimento. Quanto maior o grau de compactação de um solo, maior resistência ele apresenta à deformação. I – A velocidade de aplicação das cargas pode ter influencias também no comportamento dos pavimentos. No caso de solos granulares tem pouco significado. Para solos finos, saturados, verifica-se que breve aplicação de carga – carga seguida de imediata descarga – não dá tempo para a água movimentar-se, considerando-se ainda que a água absorve parte da carga, resultando em pequenos recalques. Para carga aplicada lenta e prolongadamente, a água poderá ser expulsa, provocando recalque mais ou menos pronunciado, resultando em perda de capacidade de suporte. J – A manutenção do pavimento ao longo do período de operação evidentemente é fator importante para o seu comportamento. L – O nível de serviço que solicita o pavimento influi também em seu comportamento, pois está ligado à constância de manobras com mudanças de direção e variações em amplos limites de velocidade. Neste particular, as deficiências de traçado tem seus efeitos agravados. Uma rodovia com curvas de pequeno raio, rampas ascendentes íngremes, com tráfego intenso, tem o pavimento solicitado de maneira muito enérgica, quer pelas constantes manobras, quer pelas reduções constantes dos motores e ainda, pela constância do atrito lateral provocado pela força centrífuga. 3 – Métodos de Dimensionamento de Pavimentos Flexíveis Pavimento flexível já foi definido como aquele em que as deformações, até certo limite, não levam ao rompimento. Geralmente, o revestimento é betuminoso. Existem diversos métodos de dimensionamento, os quais, encontram-se agrupados em dois tipos: 1 . Métodos empíricos 2. Métodos teóricos Os métodos empíricos baseiam-se em fórmulas, constantes e coeficientes decorrentes de experiências e verificações, sempre comparando os resultados de cálculo com o comportamento, no campo, dos pavimentos, procurando dar um grau de sensibilidade compatível com as variáveis em jogo. Os métodos teóricos geralmente tem como ponto de partida a teoria de Boussinesq, que admite o subleito como um semi-espaço infinito, contínuo, homogêneo, isotrópico, linear e elástico. O módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson, são grandezas que definem os materiais das diversas camadas, desta maneira, foi desenvolvido o Método da Resiliência onde são consideradas a análise de tensões e deformações de estruturas de pavimentos como sistemas de múltiplas camadas e a aplicação da teoria da elasticidade e do método dos elementos finitos, deram ensejo á 6 - DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS 134 consideração racional das deformações resilientes no dimensionamento de pavimentos. Esta é a tendência observada a partir da década de 60. Assim, cresceu em importância a obtenção dos parâmetros elásticos ou resilientes dos solos e de materiais utilizados no pavimento. Convencionou-se chamar, em Mecânica dos Pavimentos, de deformação resiliente a deformação elástica ou recuperável de solos e de estruturas de pavimentos sob a ação de cargas repetidas. A resiliência excessiva faz-se notar mesmo em pavimentos bem dimensionados por critérios de resistência à ruptura plástica, sempre que as deflexões (deslocamentos verticais) medidas em corpos-de-carga com viga Benkelman são grandes, ou quando o trincamento da superfície é prematuro. É o fenômeno da fadiga dos materiais que se manifesta em revestimentos asfalticos a bases cimentadas. Quando se utiliza o método CBR de dimensionamento de pavimentos flexíveis, desenvolvido pelo “U.S.Corps of Engineers”, como é o caso corrente no Brasil, não como considerar explicitamente a resiliência. Pode-se quando muito, estabelecer restrições específicas a determinados materiais e estruturas de pavimentos, e isto de modo totalmente empírico. O método de dimensionamento de pavimentos flexíveis atualmente adotado pelo DNIT, é empírico, também conhecido como Método do Eng. Murillo Lopes de Souza, por ter sido quem introduziu no Brasil. O referido método baseia-se no valor do CBR, em que o autor introduziu conclusões e sugestões contidas no trabalho “Design of flexible pavements considering mixed loads and traffic volume”, que foi apresentado na Conferencia Internacional de Projetos Estruturais de Pavimentos Asfalticos, realizada na Universidade de Michigan em 1962 e cujos autores foram W. J. Turnbull, C. R. Foster e R. G. Ahlvin.
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