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Legislação Penal Especial Aula 1 03 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Legislação Penal Especial 
 Professor: Luiz Fernando Vaggione 
Aulas: 03 | Data: 28/05/2015 
 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
LEI ANTIDROGAS – 11.343/2006 
1. Art. 33 
2. Art. 35 – Associação Para o Tráfico 
3. Procedimento da Lei antidrogas 
 
CRIMES HEDIONDOS 
 
 
LEI ANTIDROGAS – 11.343/2006 
 
1. Artigo 33 
 
Sistema Biopsicológico: Quanto às causas psicológicas o agente inimputável será absolvido. No sistema do Código 
Penal o inimputável é absolvido e se impõe uma Medida de Segurança. Já no sistema da Lei antidrogas o agente 
inimputável será absolvido, impondo-se um Tratamento. 
 
Quanto às causas biológicas, para o Código Penal pode haver doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto. Já para a Lei antidrogas pode haver: 
 
- Dependência Química 
 
- Efeito da Droga (que pode decorrer de fato fortuito ou força maior). 
 
 
Nos termos do art. 46 a redução da pena será de 1/3 a 2/3 se o réu for semi-imputável. Na Lei antidrogas o semi-
imputável sempre cumpre a pena, e o tratamento será fornecido durante o cumprimento da pena. 
 
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, 
por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente 
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento. 
 
É a causa biológica que vai definir se será aplicado o sistema do Código Penal ou o sistema da Lei antidrogas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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– Multa 
Não será aplicado o sistema trifásico, mas sim o sistema bifásico: 
 
1º Quantidade dos Dias Multa (art. 42 e art. 43) 
 
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância 
sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da 
substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. 
 
Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o 
juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de 
dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos 
acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes 
o maior salário-mínimo. 
 
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão 
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo 
se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz 
ineficazes, ainda que aplicadas no máximo. 
 
2º Valor Unitário de Cada Dia Multa (art. 43) 
Será aplicado na base de 1/30 a 5 vezes o salário mínimo, podendo o juiz decuplicar esse valor. 
Sempre com base na condição econômica do réu. 
 
– Art. 33, §1º 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à 
venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo 
ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, 
insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que 
se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; 
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a 
propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente 
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização 
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o 
tráfico ilícito de drogas. 
 
As condutas previstas nos três incisos do §1º do artigo 33 são punidas com as mesmas penas do “caput”. 
Se essas figuras concorrem com o “caput”, em uma mesma situação fática, o “caput” prevalece sobre o § 1º. 
 
Os verbos do inciso I relacionam-se com matéria prima, insumos e produtos químicos destinados a preparação de 
droga, observa-se, portanto, que o objeto material no inciso I é distinto da droga mencionada no “caput”. 
 
 
 
 
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Nota1: Nos termos do artigo 243 da Constituição Federal, as glebas utilizadas para o plantio ilegal serão 
expropriadas, destinando-as ao assentamento de colonos para produção e alimentos ou medicamentos. O 
procedimento expropriatório está disciplinado na Lei 8.257/91. 
 
Nota2: A perda corresponde a toda a propriedade utilizada para o plantio ilegal, em função da destinação social 
nociva da propriedade privada. A responsabilidade do proprietário da terra é objetiva, não sendo destinado a ele 
qualquer pagamento a título de indenização, porque se trata de uma expropriação sanção. 
 
No inciso III do §1º do art. 33, cuida-se da utilização, ou simplesmente da cessão, mediante consentimento de 
qualquer tipo de bem, pelo proprietário, possuidor ou aquele que detém a administração ou vigilância desses 
bens, no uso destinam-se ao tráfico de drogas. 
 
– Art. 33, §2º 
O sujeito passivo é sempre pessoa determinada e se exige o efetivo uso da droga, para configuração do crime. 
 
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 
300 (trezentos) dias-multa. 
 
– Art. 33, §3º 
É um crime de pequeno potencial ofensivo. É o oferecimento eventual de droga. 
 
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a 
pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das 
penas previstas no art. 28. 
 
Os requisitos para configuração do §3 º são os seguintes: 
1º Oferecimento eventual, não habitual 
2º Não visar o lucro 
3º Oferecimento às pessoas do seu relacionamento 
4º Consumo conjunto 
 
Os requisitos apresentados são cumulativos. Todos os requisitos presentes utiliza-se essa figura menos grave, e 
na falta de qualquer deles configura o art. 33, “caput”. 
 
 
2. Art. 35 – Associação Para o Tráfico 
 
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, 
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, 
caput e § 1o, e 34 desta Lei: 
 
 
 
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Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 
(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. 
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre 
quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 
desta Lei. 
 
O artigo 35 é um crime formal porque se consuma com a simples associação, independentemente da efetiva 
pratica dos crimes visados. Se estes forem cometidos haverá concurso material entre eles e o artigo 35. 
 
O artigo 35, “caput” visa os art. 33, “caput”, art. 33 §1º e art. 34. Já o artigo 35, paragrafo única visa o art. 36, que 
trata do financiamento ao tráfico de drogas, delito mais grave punido com 8 a 20 anos de reclusão, mais multa. 
 
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes 
previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 
(mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. 
 
3. Procedimento da Lei antidrogas 
 
1) O prazo do inquérito policial é de 30 dias com o indiciado preso ou 90 dias com ele solto. 
Esses prazos podem ser duplicados pelo juiz (60 dias se preso. Se solto o prazo é impróprio). 
 
2) O procedimento da lei antidrogas aplica-se indistintamente, sem qualquer alteração, na apuração de crimes 
punidos com reclusão ou detenção. Não esquecer que o artigo 28 assim como o artigo 33 §3º são crimes de 
pequeno potencial, assim em relação a eles rito do JECRIM.3) Prova da materialidade do crime para fins de flagrante ou denúncia: Basta o laudo de constatação, ou seja, 
laudo provisório que pode ser realizado por qualquer pessoa idônea, com conhecimento na área, que não 
obedece as formalidades do CPP para as pericias. 
 
Se um perito oficial elaborar o laudo de constatação, não fica impedido de realizar o laudo definitivo. 
 
4) Destruição de drogas: O juiz ao receber a comunicação do flagrante, no prazo de 10 dias, certificará a 
regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição da droga, que deverá ser executada pela 
polícia no prazo de 15 dias, na presença do Ministério Público e de autoridade sanitária. 
 
Antes da destruição deve ser reservada porção para realização do laudo definitivo (exame químico toxicológico). 
 
5) Se não se tratar de prisão em flagrante essa droga será destruída no prazo de 30 dias contados da apreensão. 
 
6) Meios excepcionais de investigação: Nos termos do artigo 53, a autoridade policial pode se valer, desde que 
autorizada pelo juiz, após oitiva do MP, da infiltração de agentes de polícia e da não atuação policial. 
 
A lei não se ocupou suficientemente da infiltração, hoje é possível suprir essa falha utilizando a lei de combate ao 
crime organizado (Lei 12.850/13). Quanto a não atuação o pedido deve demonstrar ao juiz o provável itinerário 
dos traficantes e a qualificação destes na medida do possível (não se confunde com flagrante preparado). 
 
 
 
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Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes 
previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, 
mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os 
seguintes procedimentos investigatórios: 
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, 
constituída pelos órgãos especializados pertinentes; 
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus 
precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua 
produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade 
de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de 
operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal 
cabível. 
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização 
será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a 
identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. 
 
7) Denúncia: O prado é de 10 dias (preso ou solto o denunciado). O numero máximo de testemunhas é de 5, por 
fato, podendo incluir os policiais que elucidaram a ocorrência. Os policiais não são suspeitos nem impedidos de 
depor e o seu testemunho será analisado pelo juiz como qualquer outro. 
 
8) Defesa preliminar: Tem o prazo de 10 dias. A denúncia é oferecida, o juiz notifica a pessoa denunciada para que 
ela ofereça a defesa preliminar na condição de denunciado (e não réu). A defesa preliminar deve ser escrita e 
abordar as exceções processuais e o mérito deve ser enfrentado. Essa defesa é oferecida após a notificação. No 
rito do CPP a defesa preliminar é ofertada após citação, o que implica dizer que já é réu, já houve o recebimento 
da denúncia. 
 
9) Audiência de instrução e julgamento: É una, porém pode ser desmembrada. 
 
1º Ato: Interrogatório do Réu. 
Privilegia o rito da lei antidrogas porque é especial e prevalece sobre o do CPP (STJ). 
 
2º Ato: Testemunhas de acusação 
 Testemunhas de defesa 
 
Debates: 20 minutos acrescidos de mais 10 minutos. 
Pode converter em memoriais (CPP aplicado subsidiariamente). 
 
Sentença 
 
10) Sentença: Pode ser proferida em até 10 dias, diante da complexidade do caso. 
Contra a sentença cabem embargos de declaração ou apelação, nos termos do CPP. 
 
Atenção: Na sentença o juiz decidirá também sobre eventual confisco de bens apreendidos (perda em favor da 
União). 
 
 
 
 
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CRIMES HEDIONDOS – Lei 8.072/90 
 
Os crimes hediondos tem origem no art. 5º, XLIII, onde existem vedações e um rol de crimes exclusivamente 
assemelhados aos hediondos (tráfico de drogas, tortura e terrorismo). Os hediondos propriamente ditos estão 
elencados no art. 1º da Lei 8.087/90. 
 
Art.5º, XLIII, CF - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis 
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os 
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

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