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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 01 | Data: 22/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Furto Simples CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO O título II da parte especial do Código Penal trata dos crimes contra o patrimônio. 1. Furto Simples (art. 155, “caput”, CP) Esse crime consiste em subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel. A pena é de reclusão de 1 a 4 anos e multa. – Elementos O crime de furto possui quatro elementos componentes: 1) Conduta típica É o ato de subtrair. O ato de subtrair abrange duas hipóteses: a. Aquela em que o próprio ladrão se apodera sorrateiramente do bem. b. Aquela em que a própria vítima entrega o bem ao agente, para que ele exerça a posse somente naquele local, mas o agente sem autorização leva o bem embora, tira o bem da esfera de vigilância do dono. - Quando a vítima entrega uma POSSE VIGIADA o crime é o de furto de modo que, por exclusão somente os casos de Posse Desvigiada podem dar origem ao crime de apropriação indébita (art. 168 do CP). Apropriação indébita Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 2) Objeto material É a coisa móvel. É tudo o que pode ser levado de um local para outro, exceto os seres humanos ou partes deste integrante, que são móveis, mas não são coisas. Caso um bem possa ser transportado ele será considerado coisa móvel para fins penais pouco importando se a lei civil por alguma razão lhe confere tratamento similar ao dos bens imóveis. Ex.: É evidentemente possível o furto de aviões ou embarcações, não obstante possam ser objeto de hipoteca pela legislação civil. O furto de gado, também conhecido como abigeato é crime na medida em que semoventes constituem espécie do gênero coisa móvel. Página 2 de 4 A subtração de órgão ou tecido humano, ou de cadáver, para fins de transplante configura crime do art. 14 da Lei 9.434/97 (Lei dos Transplantes). Se a subtração do órgão do ser humano for por outra razão configura crime de lesão corporal, e caso se refira a cadáver o delito será o do artigo 211 do CP – Crime de subtração de cadáver ou parte dele. O parágrafo 3º do art. 155 equipara a coisa móvel a energia elétrica e outras formas de energia que tenham valor econômico, como a energia nuclear e a energia térmica. A subtração do sêmen dos reprodutores é mencionada na exposição de motivos do Código Penal como furto de energia genética. Em relação à captação clandestina de sinal de TV a cabo existem duas correntes: 1ª Corrente: O sinal de TV a cabo não é forma de energia, de modo que o fato é atípico. Este entendimento é minoritário, mas há um famoso julgado de uma das turmas do STF nesse sentido. 2ª Corrente: O sinal de TV a cabo constitui coisa móvel, ainda que não haja menção expressa a esse respeito no Código Penal, na medida em que o art. 35 da Lei 8.977/95 expressamente menciona que o seu desvio ou captação clandestina constitui infração penal (este é o entendimento majoritário na jurisprudência). 3) Elemento Normativo É a coisa alheia. Para que possa ser considerada coisa alheia é necessário que o objeto tenha dono. Por não terem dono não podem ser objeto de furto: a. “res nullius” – Coisa de ninguém, o objeto ou coisa que nunca teve dono. Ex.: Pesca em águas públicas. b. “res derelicta” – Coisa abandonada. As coisas perdidas tem dono, mas quem as encontra e não devolve, não responde por furto em razão da ausência de seu primeiro requisito – a subtração. Neste caso se o agente não devolve o bem no prazo de 15 dias pratica o crime de apropriação de coisa achada do art. 169, parágrafo único, inciso II do CP. Tecnicamente só se considera como perdido o objeto em local público ou aberto ao público. As coisas de uso comum como o ar e a água podem ser objeto material de furto quando tiverem dono, como por exemplo, a água encanada que pertence à empresa concessionária. Se o agente faz um desvio para que o consumo da água não seja computado no hidrômetro o crime é o de furto, mas se o consumo foi computado e o agente fraudou o relógio (hidrômetro) o crime é o de estelionato. Quem subtrai coisa própria que se encontra em poder de terceiro em razão de contrato ou ordem judicial pratica o crime de exercício arbitrário das próprias razões na figura do art. 346 do CP. Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. O credor quando subtrai bem do devedor para se auto ressarcir de dívida vencida e não paga comete o crime de exercício arbitrário das próprias razões em sua modalidade genérica do art. 345 do CP. Não constitui furto pela ausência de intenção de locupletamento ilícito. Página 3 de 4 Exercício arbitrário das próprias razões Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. A subtração de cadáver ou parte dele em regra caracteriza o crime do art. 211 do Código Penal, mas se o cadáver tiver dono, como por exemplo, aqueles que pertencem a universidades para estudo dos alunos, a subtração configura o furto. Quando uma coisa móvel pertence a duas ou mais pessoas em razão de sociedade, condomínio ou co-herança, aquele que subtrai o objeto que só lhe pertence em parte pratica o crime do art. 156 – Crime de furto de coisa comum, e que depende de representação da vítima para sua apuração. 4) Elemento subjetivo do tipo É o ânimo de assenhoramento definitivo do bem para si ou para outrem, é o chamado “animus rem sibi habendi”, ou “animus furadi”. Quando ausente esse requisito o fato poderá ser considerado atípico pela presença do instituto conhecido como Furto de Uso. Tal instituto não é tratado pelo Código Penal, mas a doutrina e a jurisprudência o reconhecem desde que presentes dois requisitos: a. Requisito subjetivo – Intenção de uso momentâneo da coisa alheia Na prática só é possível o furto de uso que dure algumas horas ou poucos dias. Não é requisito do furto de uso a existência de uma situação de perigo, que só pode ser afastada pelo uso do bem alheio, já que para tais casos aplica-se a excludente do estado de necessidade. b. Requisito objetivo – Efetiva e integral devolução do bem Se o agente retirar alguma peça ou acessório e devolver o principal responderá pelo crime em relação àqueles. Se o agente usa e devolve o veículo, mas com muito menos combustível responderá pelo furto do combustível. Obs.: Furto famélico é uma hipótese de estado de necessidade que consiste na subtração de pequena quantidade de alimento por parte de quem não tem outra forma de obtê-lo para saciar a própria fome ou de seus familiares. – Objetividade jurídica É o patrimônio. O dispositivo tutela penas um bem jurídico. – Sujeito passivo É o dono e os possuidores ou detentores que sofram prejuízo no caso concreto. Página 4 de 4 – Sujeito ativo Pode ser qualquer pessoa, exceto o dono. Quando alguém por erro, plenamente justificado pelas circunstâncias, leva embora um coisa alheia pensando que se trata de um objeto que lhe pertence não responde pelo crime por falta de dolo, tratando-se de hipótese de erro de tipo. – Consumação A partir de 1987 comuma decisão do plenário do STF, que veio depois a ser acompanhada pelos outros tribunais, não se exige para a consumação do furto que o bem seja tirado da esfera de vigilância da vítima e o agente obtenha a sua posse tranquila. Atualmente a consumação do furto ocorre no instante em que cessa a clandestinidade por parte do agente. Significa que o furto se consuma no momento em que o agente deixa o local na posse de algum bem da vítima, ainda que ele seja imediatamente perseguido e preso. A tentativa de furto é plenamente possível.
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