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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 02 | Data: 24/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Furto Noturno 2. Furto Privilegiado 3. Furto Qualificado CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Furto Noturno (art. 155, §1º, CP) A pena será aumentada em 1/3 se o furto for praticado durante o repouso noturno. Repouso noturno é o período da noite em que os moradores de certa região, costumam estar dormindo, sendo que tal período pode variar de uma região para outra, o que fica evidente quando se compara áreas urbanas e rurais. Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. O furto noturno tem natureza jurídica de causa de aumento de pena. Por ser vedada a analogia “in malam partem” não se aplica a majorante se o crime ocorrer durante o repouso diurno ou vespertino. O aumento existe quer o furto ocorra dentro de uma residência quer em suas áreas externas (quintal, jardim, garagem). O STJ pacificou duas questões que eram controvertidas no passado, no sentido de que o aumento é cabível quando o crime ocorre em casa na qual não há nenhum morador ou em estabelecimento comercial fechado. Por outro lado não se aplica o aumento do furto noturno quando o furto ocorre na rua, em estabelecimento comercial aberto, em uma casa que esteja ocorrendo uma festa. Praticamente toda a doutrina e jurisprudência sustentam que o furto noturno não se aplica quando se tratar de furto qualificado, quer em razão da posição dos parágrafos, quer pela desproporcionalidade no montante da pena. Em dezembro de 2014 uma das Turmas do STJ passou a sustentar ser possível reconhecer a majorante ao furto qualificado, por que esse mesma corte recentemente passou a aplicar o privilégio ao furto qualificado. 2. Furto Privilegiado (art. 155, §2º, CP) § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Página 2 de 4 Para a incidência do privilégio o texto legal exige dois requisitos: a. Que o réu seja primário b. Coisa furta de pequeno valor Foi adotado um critério objetivo, porque aplicável a todos os casos concretos, estabelecendo que se considere de pequeno valor aquele bem que não ultrapassa um salário mínimo na data do fato. O que se leva em conta é o valor do bem, obtido mediante avaliação que deverá ser juntada aos autos, e não o prejuízo da vítima. Se for furtado um veículo não será cabível o privilégio, mesmo que o carro seja recuperado e devolvido ao dono algumas horas depois. Presentes os requisitos legais o juiz está obrigado a reduzir a pena. Trata-se por tanto de direito subjetivo do réu. De acordo com o texto legal o juiz tem três opções para beneficiar o acusado: . Substituir a pena de reclusão por detenção . Reduzir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3 . Aplicar somente a pena de multa Durante muitas décadas foi pacífico o entendimento que o privilégio não se aplicava ao furto qualificado, quer pela posição dos parágrafos, quer pela desproporcionalidade que a aplicação do privilégio provocaria ao viabilizar pena exclusiva de multa ao delito qualificado. Toda via no fim da década o STF passou a admitir a aplicação do privilégio no crime qualificado com o argumento que não existe vedação legal expressa. Posteriormente o STJ seguiu o mesmo caminho até aprovar a Súmula 511 segundo a qual o privilégio é aplicável ao furto qualificado, exceto se a qualificadora for de caráter subjetivo. STJ, 511. É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. O crime de furto tem oito qualificadoras e apenas uma delas é de caráter subjetivo, qual seja a do abuso de confiança. – Furto de bagatela Não se confunde o furto de bagatela em que o réu é absolvido pela atipicidade da conduta, fundada na aplicação do princípio da insignificância, com o furto privilegiado em que o réu é condenado com uma pena menor. Como o princípio da insignificância vinha sendo reiteradamente aplicado ao crime de furto pelos tribunais, e não existe regramento específico na lei, o STF resolveu fazê-lo exigindo a existência de quatro vetores: a. Mínima ofensividade da conduta do agente b. Nenhuma periculosidade social da ação c. Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento Página 3 de 4 d. Inexpressividade da lesão jurídica provocada O requisito d. tem sido reconhecido quando o valor do bem é de até 20% do salário mínimo, contudo se o caso concreto se revestir de uma gravidade diferenciada afasta-se o furto de bagatela pela ausência dos requisitos a. b. ou c. É o que ocorre por exemplo quando se trata de furto qualificado, ou praticado mediante violação de domicílio, ou que tenha como vítima pessoa idosa e etc. O entendimento atual do STF é de que se o réu for reincidente torna-se inviável o princípio da insignificância, existem centenas de julgados nesse sentido, mas o tema será em breve apreciado pelo plenário e tal entendimento poderá ser mantido ou modificado. 3. Furto Qualificado (art. 155, §4º, CP) As penas são reclusão de dois a oito anos e multa. § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. Todas as figuras de furto deste §4º são compatíveis com o instituto da tentativa. No furto qualificado é incabível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima é de dois anos. Na tentativa de furto qualificado a pena mínima é de 8 messes (2 anos – 2/3) e em tal caso é viável a suspensão condicional do processo. Inciso I. ) Crime praticado mediante rompimento ou destruição de obstáculo O art. 171 do Código de Processo Penal exige perícia no obstáculo para a constatação dos danos nele deixados. Por isso está qualificadora tem como premissa que o obstáculo seja de alguma forma danificado. A mera remoção de um obstáculo, sem que seja ele danificado de algum modo, não gera a qualificadora. Rompimento é o dano parcial no obstáculo, enquanto, destruição é o dano completo. Obs.: Alguns julgados tem aplicado a qualificadora da destruição de obstáculo em concurso material com o crime de explosão nos casos de caixas eletrônicos explodidos com dinamites, por que tais explosões por serem de grandes proporções colocam em risco a vida, saúde ou patrimônio de grande numero de pessoas. É pacífico o entendimento de que a qualificadora só se aplica quando o obstáculo danificado não é parte integrante do bem furtado. Por isso se o agente arromba o portão de uma casa para furtar um carro o crime é qualificado, mas se o arrombamento for da própria porta do carro o crime é simples. O STF e o STJ continuam a entender que a qualificadora tem incidência quando o agente quebra o vidro de um carro para furtar um toca-CD. Como o texto legal não faz distinção a qualificadora abrange os obstáculos passivos e também os ativos, tal como alarmes, cercas elétricas e etc.. Página 4 de 4 Inciso II. ) Crime praticado com abuso de confiança,ou mediante fraude, ou escalada ou destreza Esse inciso traz quatro figuras: 1ª Figura: Abuso de confiança Está qualificadora tem dois requisitos: a. Que a vítima, por alguma razão deposite uma especial confiança no agente (ex.: grande amigos, namorados, noivos, primos, irmãos). O furto praticado contra ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro só é passível de punição se a vítima tiver mais de 60 anos (art. 181, CP). Em tal caso poderá ser aplicado a qualificadora. No caso do famulato, ou seja, furto praticado pelo empregado contra o patrão, a qualificadora só será aplicada se ficar provado que o patrão depositava grande confiança naquele empregado. b. Que o agente se aproveite de alguma facilidade decorrente da relação de confiança para praticar o furto, como por exemplo o livre acesso ao interior da casa da vítima ou seu local de trabalho. 2ª Figura: Emprego de Fraude Fraude é qualquer artimanha empregada para viabilizar ou facilitar o furto. A qualificadora se aplica por exemplo quando duas pessoas entram em uma loja, previamente ajustadas, e uma delas aborda o vendedor e desvia sua atenção para permitir que o comparsa esconda objetos sem ser percebido. Aplica-se a qualificadora quando alguém cria um site falso de banco e com isso obtém a senha e o numero do cartão de outras pessoas, com os quais faz transferências ou saques não autorizados. Existe também a qualificadora da fraude quando o agente usa algum documento ou disfarce para ter acesso ao local onde o furto será praticado. Existe também a qualificadora quando a fraude é para afastar a vítima de seus pertences. continua....
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