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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Geral Professor: Gustavo Junqueira Aula: 08 | Data: 10/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO ERRO DE TIPO 1. Erro de Tipo Acidental ANTIJURIDICIDADE 1. Relação tipicidade e antijuridicidade na evolução dos sistemas penais 2. Excludente de antijuridicidade 3. Estado de necessidade CULPABILIDADE 1. Fundamento da Culpabilidade 2. Evolução da culpabilidade nos sistemas penais 3. Estruturas da culpabilidade X Dirimentes da culpabilidade 4. Erro de proibição ERRO DE TIPO 1. Erro de Tipo Acidental 1) “aberratio criminis / delicti” – Resultado diverso do pretendido (art. 74, CP) Sujeito quer praticar o crime “A” e por erro alcança o crime “B”. Ex.: Sujeito quer destruir uma vidraça jogando uma pedra, mas acaba por acertar uma pessoa que estava passando. Resposta 1: Deveria responder por tentativa do crime “A” e crime “B” culposo. No entanto nos termos do art. 74 do CP o crime “B” absorverá a tentativa de “A”. Resposta 2: Se o crime “B” não for previsto na forma culposa nada pode absorver restando a punição pela tentativa do crime “A”. Resposta 3: Se o autor consuma o crime “A” e também o crime “B” responderá por ambos em concurso formal. 2) “aberratio causae” – Erro sobre o nexo causal No erro sobre o nexo causal o sujeito alcança o resultado por meios ou modos diversos do plano criminoso. O desvio no curso causal pode ser irrelevante ou relevante: a) Prevalece que será irrelevante o desvio em um único ato, um único momento. b) O desvio é relevante se a dinâmica causal traz dois ou mais atos, dois ou mais momentos. Ex.: Sujeito estrangula a vítima, pensando que a vítima está morta (quando na verdade não está) se livra do corpo jogando-o em um rio. Quando o corpo é encontrado descobre-se que a vítima morreu afogada. Página 2 de 6 Polêmica: A resposta satisfatória do ponto de vista político criminal é a responsabilidade por crime doloso consumado, mesmo no desvio relevante. No entanto tal solução parece não se adaptar a contemporaneidade do dolo, pois ao praticar a conduta eficaz à consumação o autor não sabe que o faz. Welzel responde que em um plano criminoso com dois ou mais atos o dolo abrange todos os momentos, ou seja, é um dolo abrangente, um dolo geral. Assim não há um dolo de matar e outro dolo de jogar o corpo no rio, mas sim um grande dolo (dolo geral) de “matarejogarocorponorio”. A conclusão é que o autor responde pelo crime doloso consumado. Obs.: Parcela bem minoritária da doutrina (Bacigalupo) prefere no desvio relevante a classificação como tentativa em concurso com o crime culposo. ANTIJURIDICIDADE Antijuridicidade é a proibição, é a contrariedade, do fato com a totalidade do ordenamento jurídico. 1. Relação tipicidade e antijuridicidade na evolução dos sistemas penais a) Causalismo (Lizt): No causalismo a tipicidade nada indica sobre a antijuridicidade, pois o tipo é descritivo, é avalorado, acromático. A relação é apenas lógica, formal. b) Neokantismo: A tipicidade é a “ratio essendi” da antijuridicidade (razão de ser da antijuridicidade). O injusto é a antijuridicidade, ou seja, a proibição tipificada. Vale lembrar que Mezger, aglutina as estruturas no tipo total do injusto (todo típico será antijurídico). Alguns neokantistas usam a construção de Von Weber dos elementos negativos do tipo para melhor explicar o tipo total do injusto: Todo tipo traria implícita a negativa das causas excludentes da antijuridicidade. Ex.: Matar alguém, salvo em legítima defesa, estado de necessidade, e .... (está implícito). c) Finalismo: Welzel crítica a “ratio essendi” que traz a mesma solução de “ausência de injusto” para a morte de uma mosca e para a morte de alguém em legítima defesa. A morte de uma pessoa não pode ter o mesmo significado valorativo da morte de uma mosca, pelo que é necessária a distinção da tipicidade e da antijuridicidade. Welzel resgata a proposta de Mayer da tipicidade como “ratio cognoscendi” da antijuridicidade, ou seja, a tipicidade tem caráter indiciário da antijuridicidade. Assim se o fato é típico é alta a probabilidade de ser antijurídico, salvo se presente excludente de proibição, de antijuridicidade. É adotada no Brasil. d) Funcionalismo: Roxin mantem a “ratio cognoscendi”. 2. Excludente de antijuridicidade São quatro as previstas no art. 23 do CP: . Estado de necessidade . Legítima defesa . Estrito cumprimento do dever legal . Exercício regular de direito Página 3 de 6 Doutrina e jurisprudência aceitam a existência de causas extra legais (chamadas, pela antiga doutrina, de supra legal) de excludentes da antijuridicidade, dentre as quais se destaca o consentimento do ofendido. Nos tipos que exigem dissenso da vítima (tipos de constrangimento) o consentimento afasta a própria tipicidade. Nos demais tipos o consentimento pode afastar a antijuridicidade, desde que: . O bem seja disponível . O consentimento deve ser apto (idôneo), livre e anterior ou concomitante a conduta. – Requisito subjetivo da excludentes de antijuridicidade A partir do finalismo para ser beneficiado por excludente de antijuridicidade o autor deve conhecer a situação de fato que justifica a sua conduta. 3. Estado de necessidade (art. 24, CP) O fundamento está na colisão de interesses juridicamente protegidos que exige o sacrifício de um para salvar o outro. Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. – Requisitos do estado de necessidade 1º) Situação de perigo atual não criada voluntariamente pelo sujeito Lembrara que a lei só admite estado de necessidade no perigo atual. Não fala do perigo iminente. Para parte da doutrina o perigo iminente seria alcançado por analogia. Prevalece na doutrina que a expressão “voluntariamente” merece interpretação restritiva alcançando apenas o perigo criado com dolo. Para Assis Toledo e Cunha Luna a interpretação deve ser literal, alcançando também o perigo criado por culpa. Para Hungria é suficiente a culpa grave, ou seja, a grosseira inadvertência ou leviandade. 2º) Sacrifício inevitável e razoável do bem Inevitável é aquele que não se pode evitar sem risco pessoal. No Brasil entende-se razoável o sacrifício de um bem para salvar outro de igual ou maior valor. Nos termos do artigo 24, §2º se o sacrifício não for razoável não há estado de necessidade excludente da antijuridicidade, mas o juiz poderá diminuir a pena de 1/3 a 2/3. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Nos termos do art. 24, §1º não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o perigo. Adverte a doutrina (Bitencourt, Regis Prado, Queiroz) que a vedação não é absoluta, pois não se pode exigir sacrifício pessoal ou risco excessivo. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. Página 4 de 6 Sobre o estado de necessidade são consagradas as teorias unitárias e diferenciadoras: Teoria unitária: É adotada no Brasil. O estado de necessidade é sempre justificante, ou seja, exclui a antijuridicidade e é razoável o sacrifício de um bem para salvar outro de igual ou maior valor. Teoria diferenciadora: O estado de necessidade pode ser justificante ou exculpante: a) Justificante ao excluir a antijuridicidadese o sacrifício de um bem busca salvar outro de maior valor. b) Exculpante pode excluir a culpabilidade no sacrifício de um bem para salvar outro de igual ou menor valor. A teoria diferenciadora critica a teoria unitária, pois apenas motivos pessoais, individuais, podem explicar o sacrifício de um bem para salvar outro de igual valor. Tais motivos se identificam com a culpabilidade e não com a antijuridicidade. A teoria diferenciadora também permite o sacrifício de um bem para salvar outro de menor valor, o que abre confronto com a letra do art. 24, §2º, CP. Para Bitencourt (minoritário) mesmo com a restrição do parágrafo segundo seria autorizada a absolvição pelo estado de necessidade exculpante. CULPABILIDADE É o juízo de reprovação sobre aquele que pode e deve agir de acordo com o direito. 1. Fundamento da Culpabilidade Até o finalismo a culpabilidade é um juízo de reprovação pelo mal uso da liberdade, ou seja, tem como premissa o livre arbítrio. De tal premissa é possível concluir que as causas que excluem a culpabilidade afastam na verdade a liberdade, que é a base do juízo de culpabilidade. Para Roxin a culpabilidade é convertida em Responsabilidade que tem como elementos: . Culpabilidade e, . Necessidade da penal. A culpabilidade não poderia justificar a imposição da penal, pois a existência do livre arbítrio é duvidosa e a dúvida só pode militar a favor ao réu. A justificativa racional da pena está em sua necessidade para orientar comportamentos futuros, prevenir crimes. A culpabilidade seria assim limite e condição necessária (não suficiente) para responsabilidade. Milita a favor do réu, pois tem base duvidosa. Imputabilidade Na culpabilidade os elementos são Potencial consciência da ilicitude Na necessidade da pena o elemento é Exigibilidade de conduta diversa Página 5 de 6 A necessidade da pena orientando a compreensão sobre a exigibilidade de conduta diversa afasta a base ética que orienta a culpabilidade finalista e a substitui por um vetor utilitário: A pena é útil ou necessária para orientar comportamentos futuros, para prevenir crimes? 2. Evolução da culpabilidade nos sistemas penais - Causalismo: A culpabilidade é psicológica e tem como elementos o dolo ou a culpa. É chamada psicológica, pois o dolo está na psique, na mente do autor. Obs.: A imputabilidade é premissa base da culpabilidade. - Neokantismo: A culpabilidade é psicológico normativo. Psicológico porque mantém dolo e culpa e normativa pela imputabilidade e exigibilidade de conduta diversa (categoria normativa exige um juízo de valor). - Finalismo: A culpabilidade será normativa pura porque tem a imputabilidade, continua com a exigibilidade de conduta diversa, e entra uma nova categoria normativa que é a potencial consciência da ilicitude. - Funcionalismo: A culpabilidade é convertida em Responsabilidade que tem como elementos a culpabilidade e, a necessidade da penal. 3. Estruturas da culpabilidade X Dirimentes da culpabilidade Culpabilidade Dirimentes de culpabilidade - Imputabilidade - Inimputabilidade - Potencial consciência da ilicitude - Erro de proibição inevitável - Exigibilidade de conduta diversa - Inexigibilidade de conduta diversa 4. Erro de proibição É a equivocada compreensão sobre o que é proibido e o que é permitido. Denomina-se delito putativo por erro de proibição a situação em que o sujeito pratica conduta que acredita ser criminosa, mas é irrelevante diante do ordenamento penal (Ex.: Relação sexual incestuosa com consentimento). Erro de proibição invencível (escusável): Se o autor não sabe, e na sua circunstância de vida, não poderia saber da proibição (não tem potencial consciência da ilicitude). Afasta a culpabilidade. Erro de proibição vencível (evitável): Se o autor não sabe, mas poderia saber da proibição. A consequência será a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Página 6 de 6 – Erro de proibição X “ignorantia legis neminem excusat” No Brasil argumenta-se que o erro de proibição não incide sobre a existência da lei, mas sim sobre o conteúdo proibitivo que ela veicula. – Classificação do erro de proibição 1) Erro Direto É o que incide sobre a norma proibitiva de um crime comissivo. 2) Erro Indireto É a descriminante putativa por erro de proibição, ou seja, o autor erra sobre a existência ou limite de uma excludente de antijuridicidade. 3) Erro Mandamental É o erro sobre a norma interativa de um crime omissivo.
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