Buscar

LICC - comentada - Fernanda Piva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Retirado do site: http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/00_LICC_comentada_FP.php 
LICC Comentada 
 
Redatora: Fernanda Piva 
Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza 
 
Fernanda Piva é Bacharel em Direito pela Unisinos e Coordenadora da diagramação e montagem das 
revistas da Notadez. 
 
Mariângela Milhoranza é Mestre em Direito pela PUC-RS, Especialista em Direito Processual Civil pela 
PUC-RS, Advogada em Porto Alegre/RS; Professora da FARGS, Egressa da Escola Superior do Ministério 
Público do Estado do Rio Grande do Sul; Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Limites da 
Jurisdição” sob coordenação do Professor Dr. Araken de Assis junto ao Programa de Pós-Graduação 
em Direito da PUC/RS; Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Novas Técnicas” sob 
coordenação do Professor Dr. José Maria Rosa Tesheiner; Membro do Instituto de Hermenêutica 
Jurídica. 
Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 
quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. 
Até o advento da Lei Complementar 95/98, posteriormente alterada pela LC 
107/01, a cláusula de vigência vinha expressa, geralmente, na fórmula tradicional: “Esta lei entra 
em vigor na data de sua publicação”. 
A partir da Lei Complementar nº 95, que alterou o Dec.-Lei 4.657/42, a vigência 
da lei deverá vir indicada de forma expressa, estabelecida em dias, e de modo que contemple 
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, passando a cláusula padrão a ser: “ 
Esta lei entra em vigor após decorridos (número de dias) de sua publicação”. 
No caso de o legislador optar pela imediata entrada em vigor da lei, só poderá 
fazê-lo se verificar que a mesma é de pequena repercussão, reservando-se para esses casos a 
fórmula tradicional primeiramente citada. 
Na falta de disposição expressa da cláusula de vigência, aplica-se como regra 
supletiva a do art. 1º da LICC, que dispõe que a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois 
de oficialmente publicada. 
Por fim, a contagem de prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam 
períodos de vacância far-se-á incluindo a data da publicação e do último dia prazo, entrando em 
www.direitonoturno.com.br
vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. 
§ 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando 
admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. 
Não havendo prazo para sua entrada em vigor, a obrigatoriedade da norma 
brasileira no exterior se dará após o prazo de 3 meses, contados de sua publicação no Diário 
Oficial, passando a ser reconhecida pelo direito internacional público e privado. 
Sendo assim, a lei antiga subsistirá no exterior até 3 meses após a publicação 
oficial da lei nova, ou seja, antes de escoado esse prazo, a lei nova não terá incidência em país 
estrangeiro. 
No caso de a lei nova fixar prazo superior a 3 meses para o início de sua vigência 
no Brasil, silenciando quanto à data de entrada em vigor no exterior, impor-se-á o prazo de 
vigência interna à do exterior. 
Em relação às circulares e instruções dirigidas a autoridades e funcionários 
brasileiros no exterior, são aplicáveis desde o momento em que cheguem ao conhecimento dessas 
pessoas de forma autêntica. 
Pode-se citar, de acordo com a doutrina de Vicente Raó1, alguns efeitos do início 
da obrigatoriedade da lei brasileira no estrangeiro: 
– a lei brasileira passará a ter vigência três meses depois de sua publicação oficial, 
desde que não haja estipulação do prazo para sua entrada em vigor; 
– os atos levados a efeito no exterior, de conformidade com a velha norma 
revogada serão válidos, porque, embora essa lei já estivesse revogada no Brasil, continuará 
vigorando em território alienígena até findar-se o prazo de três meses; 
– os regulamentos internos, as portarias, os avisos e circulares alusivos à 
organização e funcionamento dos órgãos e serviços administrativos terão vigência perante as 
autoridades e funcionários brasileiros no exterior a partir do instante em que lhes forem, 
www.direitonoturno.com.br
autenticamente, comunicados; 
– o contrato celebrado no Brasil de acordo com a nova lei alcançará os que se 
encontrarem fora no país, mesmo que aquela norma ainda não tenha entrado em vigor no 
exterior; 
– a pessoa que for parte numa relação jurídica, ao regressar ao Brasil, antes do 
término do prazo de três meses, sujeitar-se-á, no momento de sua chegada, à nova lei já vigente 
em nosso país, respeitando-se os atos já praticados no exterior segundo a lei brasileira lá vigorante. 
 § 2º. A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização 
do Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual 
fixar. 
 Norma sem aplicação desde a Constituição de 1947. 
 § 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, 
destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova 
publicação. 
No que diz respeito aos erros na publicação da lei, Ferrara é esclarecedor quando 
alega que “quando se trata de simples erros materiais que à primeira vista aparecem como 
incorreções tipográficas, ou porque a palavra inserida no texto não faz sentido ou tem um 
significado absolutamente estranho ao pensamento que o texto exprime enquanto a palavra, que 
foneticamente se lhe assemelha, se encastra exatamente na conexão lógica do discurso, ou porque 
estamos em face de omissões ou transposições, é fácil integrar ou corrigir pelo contexto da 
proposição, deve admitir-se que o juiz pode exercer a sua crítica, chegando, na aplicação da lei, até 
a emendar-lhe o texto”2. 
Quando se tratar de erros substanciais, que podem alterar total ou parcialmente 
o sentido legal, a nova publicação será imprescindível. Nesse caso, observar-se-ão as seguintes 
situações: 
– correção da norma em seu texto, por conter erros substanciais, durante a 
vacatio legis ensejando nova publicação: nova vacatio será iniciada a partir da data da correção, 
www.direitonoturno.com.br
anulando-se o tempo decorrido; 
– várias publicações diferentes de uma mesma lei, motivadas por erro: a data da 
publicação será uma só e deverá ser a da publicação definitiva, ou seja, a última (RF, 24:480). 
Assim, nos casos em que se fizer necessária republicação de lei ainda não 
publicada ou publicada mas ainda não vigente, por conter incorreções e erros materiais que lhe 
desfigurem o texto, a Casa de onde a mesma se originou publicará nova lei corrigida, e o seu 
período de vigência deverá ser contado a partir da nova publicação. 
§ 4º. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
As emendas ou correções em lei que já esteja em vigor são consideradas leis 
novas, ou seja, para corrigi-la é preciso passar por todo o processo de criação de uma lei, devendo 
para isso obedecer aos requisitos essenciais e indispensáveis para a sua existência e validade. 
Importante ressaltar que se a correção for feita dentro da vigência legal, a lei 
vigorará até a data do novo diploma legal publicado para corrigi-la, e se apenas parte da lei for 
corrigida, o prazo fluirá somente para a parte retificada; em ambos os casos respeitando-se os 
direitos e deveres decorrentes de norma publicada com incorreções e ainda não corrigida. 
Assim, é preciso respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa 
julgada, mesmo que advindos de uma publicação errônea, levando-se em conta a boa-fé daquele 
que a aplicou. Em se tratando de meros erros de ortografia, facilmente identificáveis, nada impede 
que o prazo da vacatio legis decorra da data da publicação errada, não aproveitando a quem possa 
invocar tais erros. 
Art. 2º. Nãose destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue. 
 A lei pode trazer seu período de vigência de forma expressa, como por exemplo, 
a Lei Orçamentária, assim como pode ter seu período de vigência indeterminado, ou seja, uma vez 
vigente ela é válida até que outra lei posterior, de superior ou mesma hierarquia, a modifique ou 
revogue, não podendo revogá-la a jurisprudência, costume, regulamento, decreto, portaria e 
www.direitonoturno.com.br
avisos, não prevalecendo nem mesmo na parte em que com ela conflitarem3. 
De acordo com Maria Helena Diniz4, no primeiro caso, ter-se-à cessação da lei 
por causas intrínsecas, como por exemplo: 
a) decurso do tempo para o qual a lei foi promulgada, por se tratar de lei 
temporária, salvo se a sua vigência for expressamente protraída por meio de outra norma (ex.: lei 
orçamentária); 
b) consecução do fim a que a lei se propõe (p. ex., lei que manda pagar uma 
subvenção ou suspende a realização de um concurso para preencher vagas com os contratados, a 
fim de que se efetivem; com o aproveitamento do último funcionário contratado, a norma cessará 
de existir; é o que sucede também com as disposições transitórias, que se encontram no final dos 
Códigos ou certas leis); 
c) cessação do estado de coisas não permanente (p. ex., lei emanada para 
atender estado de sítio ou guerra, ou para prover situação de emergência oriunda de calamidade 
pública), ou do instituto jurídico pressuposto pela lei, pois finda a anormalidade, extinguir-se-á a lei 
que a ela se refere. 
Alguns doutrinadores5 entendem que há uma auto-revogação tácita da lei 
(revogação interna) quando faltarem as razões pelas quais foi ditada e pela ocorrência do termo 
final nela prefixado, alegando que, com o desaparecimento das circunstâncias fático-temporais que 
lhes originaram, a mesma deixará de vigorar por ter perdido seu objeto. 
Entretanto, outros autores6 entendem que não há, em regra, auto-revogação 
tácita da lei pela cessação dos motivos que lhe deram origem, pois a mesma permanecerá vigente 
e válida apesar de não mais poder incidir, perdendo assim sua eficácia. Por este entendimento, o 
brocardo cessante ratione legis, cessat lex ipsa não representa meio indireto para revogar a norma, 
mas sim base para interpretá-la restritivamente, através de suas disposições excepcionais. 
Já no segundo caso, em que as leis cujo período de vigência sejam 
indeterminados, as mesmas serão permanentes, vigorando indefinidamente e produzirão seus 
efeitos até que outra lei as revogue (revogação externa). 
www.direitonoturno.com.br
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando 
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
A revogação é um termo genérico, indicando a idéia da cessação da existência da 
norma obrigatória, e contém 2 espécies: a ab-rogação, que se dá pela supressão total da norma 
anterior, através da nova regulação pela lei posterior ou mesmo por haver entre ambas total 
incompatibilidade; e a derrogação, que ocorre quando uma parte da norma torna-se sem efeito, 
tornando inválidos somente os dispositivos atingidos. 
A revogação poderá ser expressa, quando a 2ª lei declarar a 1ª lei extinta 
expressamente ou apontar os dispositivos que pretende retirar; ou ser tácita quando esta trouxer 
disposições incompatíveis com a 1ª lei, mesmo que nela não conste a expressão “revogam-se as 
disposições em contrário”. 
§ 2º. A lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já 
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
A norma geral não revoga a especial, assim como a nova especial não revoga a 
geral, podendo ambas coexistir pacificamente, exceto se disciplinarem de maneira distinta a 
mesma matéria ou se a revogarem expressamente. 
Sendo assim, a mera justaposição de normas, sejam gerais ou especiais, às 
normas já existentes, não é motivo para afetá-las, podendo ambas reger paralelamente as 
hipóteses por elas disciplinadas, desde que não haja contradição entre ambas. 
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei 
revogadora perdido a vigência. 
 O dispositivo acima trata da repristinação, que é o instituto através do qual se 
restabelece a vigência de uma lei revogada pela revogação da lei que a tinha revogado, como por 
exemplo: norma “B” revoga a norma “A”; posteriormente uma norma “C” revoga a norma “B”; a 
norma “A” volta a valer. 
Etimologicamente, repristinação é palavra formada do prefixo latino re (fazer de 
www.direitonoturno.com.br
novo, restaurar) e pristinus (anterior, antigo, vigência), o que significa restauração do antigo. 
A repristinação não ocorre automaticamente, ou seja, só se dá por dispositivo 
expresso da norma; caso contrário, não se restaura a lei revogada, como no seguinte exemplo: 
norma “A” só volta a valer se isso estiver explicito na norma “C”, ou seja, não há repristinação 
automática (implícita), esta somente ocorre se for expressamente prevista. 
Maria Helena Diniz7 conclui que “como se vê, a lei revocatória não voltará ipso 
facto ao seu antigo vigor, a não ser que haja firme propósito de sua restauração, mediante 
declaração expressa de lei nova que a restabeleça, restaurando-a ex nunc, sendo denominada por 
isso respristinatória. Faltando menção expressa, a lei revogadora ou repristinatória é lei nova que 
adota o conteúdo da norma primeiramente revogada. Logo, sem que haja outra lei que, 
explicitamente, a revigore, será a norma revogada tida como inexistente. Daí, se a norma 
revogadora deixar de existir, a revogada não se convalesce, a não ser que contenha dispositivo 
dizendo que a lei primeiramente revogada passará a ter vigência. Todavia, aquela lei revogada não 
ressuscitará, pois a norma que a restabelece não a faz reviver, por ser uma nova lei, cujo teor é 
idêntico ao daquela. A lei restauradora nada mais é do que uma nova norma com conteúdo igual 
ao da lei anterior revogada”. 
 Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 
O conhecimento da lei decorre de sua publicação, ou seja, uma vez promulgada, a 
norma só passa vigorar com sua publicação no Diário Oficial, que é o marco para que se repute 
conhecida por todos. 
Assim, depois de publicada e uma vez decorrido o prazo da vacatio legis (se 
houver), a lei passa a ser obrigatória para todos, sendo inescusável o erro e a ignorância sobre a 
mesma. 
De acordo com Coviello8, “do princípio de que – é necessidade social se torne 
obrigatória para todos, a lei publicada – decorre, necessariamente, a conseqüência de que os seus 
efeitos abrangem a todos, independentemente do conhecimento ou da ignorância subjetiva... essa 
conseqüência, tão evidente, que se admitiria ainda sem disposição legislativa expressa, é absoluta: 
uma só exceção destruir-lhe-ia o fundamento racional”. 
www.direitonoturno.com.br
Sendo assim, o artigo supra contém o rigoroso princípio da inescusabilidade da 
ignorância da lei, preconizando que as leis sejam conhecidas, pelo menos potencialmente. 
Maria Helena Diniz9, ao versar sobre o tema, faz o seguinte questionamento: 
“Como a publicação oficial tem por escopo tornar a lei conhecida, embora empiricamente, ante a 
complexidade e dificuldade técnica de apreensão, possa uma norma permanecer ignorada de fato, 
pois se nem mesmo cultores do direito têm pleno conhecimento de todas as normas jurídicas, 
como se poderia dizer que qualquer pessoa pode ter perfeita ciência da ordem jurídica para 
observá-la no momento de agir?” 
De acordo com Tércio Sampaio Ferraz Júnior10, o ato da publicação tem como 
escopo apenas neutralizar a ignorância, semcontudo eliminá-la, “fazendo com que ela não seja 
levada em conta, não obstante possa existir”. Desta forma, a norma é conhecida, obrigatória e apta 
a produzir efeitos jurídicos através da publicação, protegendo a autoridade contra a desagregação 
que o desconhecimento da mesma possa lhe trazer, já que uma autoridade ignorada é como se 
inexistisse. 
Ainda em relação ao artigo 3º, é preciso levar-se em conta que o mesmo versa 
sobre a ignorância da lei ou a ausência de seu conhecimento e também o erro no seu 
conhecimento. A ignorância de direito se dá quando não o conhecimento do previsto na lei sobre o 
fato que se trata. Já o erro de direito ocorre pelo desconhecimento do fato previsto na norma em 
função de falso juízo sobre o que ela dispõe, ou seja, o agente emite uma declaração de vontade 
baseado no falso pressuposto de que está procedendo de acordo com a lei. 
A doutrina e jurisprudência têm entendido que o erro de direito e a ignorância da 
lei não se confundem, sustentando que o primeiro vicia o consentimento, nas hipóteses em que 
afete a manifestação da vontade na sua essência. 
O novo Código Civil, em seu art. 139, admite o erro de direito como motivo único 
ou principal do negócio jurídico, desde que não implique recusa à aplicação da lei. Assim, não é 
levado em conta o erro de direito nas hipóteses em que o mesmo seja alegado visando à 
suspensão da eficácia legal por conta de sua inobservância; enquanto que nada impede que o seja 
alegado nos casos em que vise a evitar efeito de ato negocial, cuja formação teve interferência de 
vontade viciada por aquele erro. 
www.direitonoturno.com.br
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, 
os costumes e os princípios gerais de direito. 
 Nos casos em que a lei for omissa, cabe ao magistrado utilizar-se das fontes 
integradoras do direito, que incluem a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
A utilização da analogia se dá quando o juiz busca em outra lei, que tenha 
suportes fáticos semelhantes, disposições que a própria lei não apresenta. Já o uso dos costumes, 
que tratam da prática reiterada de um hábito coletivo, público e notório, pode ter reflexos jurídicos 
na falta de outra disposição. Finalmente, também pode o magistrado socorrer-se dos princípios 
gerais de direito, que nada mais são do que regras orais que se transmitem através dos tempos, 
séculos às vezes, e que pontificam critérios morais e éticos como subsídios do direito. 
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e 
às exigências do bem comum. 
A ciência do direito, como atividade interpretativa, surge como uma teoria 
hermenêutica, por ter dentre outras funções, as de: 
a) interpretação das normas, que compreende múltiplas possibilidades técnicas 
interpretativas, dando ao intérprete a liberdade jurídica na escolha destas vias, buscando sempre 
condições para uma decisão possível, baseada em uma interpretação e um sentido preponderante 
dentre às várias possibilidades interpretativas; 
b) verificar a existência da lacuna jurídica, identificando a mesma e apontando os 
instrumentos integradores que possibilitem uma decisão possível mais favorável, com base no 
direito; 
c) afastar contradições normativas através da indicação de critérios para 
solucioná-las. 
De acordo com Maria Helena Diniz, a ciência jurídica exerce funções relevantes, 
não só para o estudo do direito, mas também para a aplicação jurídica, viabilizando-o como 
elemento de controle do comportamento humano ao permitir a flexibilidade interpretativa das 
normas, autorizada pelo art. 5º da Lei de Introdução, e ao propiciar, por suas criações teóricas, a 
www.direitonoturno.com.br
adequação das normas no momento de sua aplicação11. 
Assim, ao interpretar a norma, o intérprete deve levar em conta o coeficiente 
axiológico e social nela contido, baseado no momento histórico que está vivendo, já que a norma 
geral em si deixa em aberto várias possibilidades, deixando esta decisão a um ato de produção 
normativa, sem esquecer que, ao aplicar a norma ao caso concreto, deve fazê-lo atendendo à sua 
finalidade social e ao bem comum. 
Em relação ao fim social, a mesma autora afirma que: “pode se dizer que não há 
norma jurídica que não deva sua origem a um fim, um propósito ou um motivo prático, que 
consistem em produzir, na realidade social, determinados efeitos que são desejados por serem 
valiosos, justos, convenientes, adequados à subsistência de uma sociedade, oportunos, etc”12. 
Tércio Sampaio Ferraz Júnior13, observa que os fins sociais são do direito, já que 
a ordem jurídica como um todo, é um conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade 
humana; logo dever-se-á encontrar nas normas o seu fim (telos), que não poderá ser anti-social. 
Na prática, o intérprete-aplicador deverá, em cada caso sub judice, verificar se a 
norma atende à finalidade social, devendo ser interpretada inserida no próprio meio social em que 
está presente, já que imersa nele e conseqüentemente sob constante simbiose com o mesmo, 
adaptando-a às necessidades sociais existentes no momento de sua aplicação. 
Dessa forma, recebendo continuamente vida e inspiração do meio ambiente, a 
aplicação da lei seguirá a marcha dos fenômenos sociais, estando apta a produzir a maior soma 
possível de energia jurídica14. 
No que tange ao bem comum, sua noção é bastante complexa e composta de 
inúmeros elementos ou fatores. De qualquer forma, são reconhecidos comumente como 
elementos do bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a utilidade social, a solidariedade ou 
cooperação, não resultando o bem comum da simples justaposição destes elementos, mas de sua 
harmonização face à realidade sociológica15. 
Não há consonância na doutrina sobre a importância atribuída a esses elementos, 
mas de qualquer forma entende-se que ao aplicar norma, decidindo o fato, é dever de seu 
intérprete-aplicador estar atento ao fato de que as exigências do bem comum estejam ligadas ao 
www.direitonoturno.com.br
respeito dos direitos individuais garantidos pela Constituição. 
Sendo assim, percebe-se que todo o ato interpretativo deve estar baseado na 
concreção de determinado valor positivo ou objetivo, objetivo este fundado no bem comum, 
respeitando assim o indivíduo e a coletividade. 
 Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico 
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
O art. 6º da LICC declara a inaplicabilidade da lei revogada aos processos que 
estão em curso, com base na intangibilidade do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, 
consagrados constitucionalmente. 
Desta forma, a lei nova só incidirá sobre os fatos ocorridos durante seu período 
de vigência, não podendo a mesma alcançar efeitos produzidos por relações jurídicas anteriores à 
sua entrada em vigor, ou seja, alcançando apenas situações futuras. 
No que diz respeito aos processos pendentes, em matéria processual vigora o 
princípio do isolamento dos atos processuais, que determina que a novel norma atingirá o 
processo no ponto em que está, não podendo a mesma retroagir aos atos processuais já realizados 
durante a vigência de lei anterior, visto que seus efeitos ficarão intocáveis e insuscetíveis de 
alteração pela lei retrooperante, pois sobre eles a nova lei não terá efeito algum. 
§ 1º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao 
tempo que se efetuou. 
Entende-se como ato jurídico perfeito o que já se tornou apto a produzir seus 
efeitos, pois já consumado, segundo a norma vigente, ao tempo em que se efetuou. 
O ato jurídico perfeito é um dos elementos do direito adquirido e desta forma é 
ummeio de garantir o mesmo, uma vez que, se a nova lei desconsiderasse o ato jurídico já 
consumado sob a vigência de lei precedente, o direito adquirindo decorrente do mesmo também 
desapareceria, já que sem fundamento. 
Assim, a segurança do ato jurídico perfeito, que é resguardada pelo art. 6º, § 1º, 
www.direitonoturno.com.br
da Lei de Introdução, preconiza que o ato jurídico válido, consumado durante a vigência da lei que 
contempla aquele direito, não poderá ser alcançado por lei posterior, sendo inclusive imunizado 
contra quaisquer requisitos formais exigidos pela nova lei. 
Em relação aos contratos em curso de formação, aplicar-se-á a nova norma, por 
ter efeito imediato, na fase pré-contratual. Nos casos de os contratos terem sido legitimamente 
celebrados, os mesmos serão cumpridos e terão seus efeitos regulados pela lei vigente à época de 
seu nascimento. Carlos Maximiliano ressalva que não se confundem os contratos em curso e os 
contratos em curso de constituição, pois a norma hodierna só alcançará os últimos, já que os 
primeiros são atos jurídicos perfeitos16. 
Ainda em relação aos contratos em curso de constituição, Maria Helena Diniz17 
preconiza que: “Pelo art. 2.035 do Código Civil, o ato ou negócio jurídico em curso de constituição, 
validade celebrado antes vigência do novo diploma legal, em sua formalidade extrínseca seguirá o 
disposto no regime anterior, mas como não pôde irradiar quaisquer efeitos legais, que se 
produzirão somente por ocasião da entrada em vigor da Lei nº 10.406/2002, os contratantes terão 
o direito de vê-lo cumprido, nos termos da novel lei, que, então, regulará seus efeitos, a não ser 
que as partes tenham previsto, na convenção, determinada forma de execução, desde que não 
contrariem preceito de ordem pública, como o estabelecido para assegurar a função social da 
propriedade e do contrato, visto que são resguardados constitucionalmente e pelo art. 5º da Lei de 
Introdução do Código Civil. Os efeitos estabelecidos em cláusulas contratuais regem-se pela lei 
vigente ao tempo de sua celebração”. 
É importante ressaltar que juízes e tribunais têm admitido a aplicação da lei nova 
aos atos e fatos que se encontra, quando estas forem de ordem pública, sem ofensa ao ato jurídico 
perfeito18. 
De qualquer forma, pode-se concluir que uma vez protegido o ato jurídico 
perfeito, são resguardados os direitos subjetivos formados sob a égide da norma anterior, 
preservando assim os direitos legítimos de seus titulares. 
§ 2º. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém 
por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição 
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
www.direitonoturno.com.br
Direito adquirido é aquele que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de 
seu titular, de modo que nem norma ou fato posterior possam alterar situação jurídica já 
consolidada sob sua égide. 
Necessária se faz aqui a distinção entre direito adquirido, que é aquele que já 
integrou ao patrimônio e não pode ser atingido pela lei nova, e a expectativa de direito, que é a 
mera possibilidade ou esperança de adquirir um direito, portanto dependente de acontecimento 
futuro para a concreção da efetiva constituição do mesmo. Assim, preconiza Reynaldo Porchat19 
quando afirma que “Não se pode admitir direito adquirido a adquirir um direito”. 
A situação de ser titular de um direito é regida por norma de competência, 
enquanto que a situação de exercer as permissões e autorizações correspondentes àquele direito 
subjetivo dependerá de normas de conduta. O princípio do direito adquirido não protegerá o 
titular do direito contra certos efeitos retroativos de uma norma no que disser respeito à 
incidência de nova norma de conduta. Um exemplo prático e elucidativo se dá na venda de um 
imóvel, em que é preciso ser titular do direito de propriedade (norma de competência) e a 
realização da referida venda se dá segundo os ditames da norma de conduta que disciplina o ato 
de vender. Assim, a lei nova tem condão de mudar a norma de competência que rege a situação de 
ser titular, mas não atingirá o ato de vender se a propriedade já foi adquirida sob a égide da lei 
anterior; também o tem de modificar a norma de conduta que disciplina o ato de alienar, mas não 
o fará se a venda já se consumou, sendo um ato jurídico perfeito20. 
Carvalho Santos21 afirma que a novel norma não retroage no que atina ao direito 
em si, mas tem o condão de ser aplicada no que tange ao uso ou exercício desse direito, mesmo 
em relação às situações já existentes antes de sua publicação. 
 § 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não 
caiba recurso. 
A coisa julgada é um fenômeno processual que consiste na imutabilidade e 
indiscutibilidade da sentença, visto que posta ao abrigo dos recursos e de seus efeitos, 
consolidando os mesmos e promovendo a segurança jurídica das partes. 
Tércio Sampaio Ferraz Júnior, assevera que “a coisa julgada protege a relação 
controvertida e decidida contra a incidência da nova norma. Alterando-se por esta quer as 
www.direitonoturno.com.br
condições de ser titular, quer as de exercer atos correspondentes, o que foi fixado perante o 
tribunal não pode ser mais atingido retroativamente”22. 
A coisa julgada é formal quando a sentença não mais estiver sujeita a recurso 
ordinário ou extraordinário, ou porque dela não se recorreu ou nas hipóteses em que dela tenha 
recorrido sem atender aos princípios fundamentais dos recursos ou aos seus requisitos de 
admissibilidade, ou mesmo pelo esgotamento de todos os meios recursais (CPC, art. 467). Um 
exemplo de coisa julgada formal são as sentenças de extinção do processo sem resolução do 
mérito, atingidas pela preclusão. 
Já a coisa julgada material é a que torna imutável e indiscutível o preceito contido 
na sentença de mérito, não mais sujeitando-a a recurso ordinário e extraordinário, como as 
sentenças de mérito proferidas com fundamento no art. 269 do CPC. 
O Supremo Tribunal Federal, através da Súmula 541, dispôs que a ação rescisória 
é admitida contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não tenham se esgotado 
todos os recursos. Importante diferenciar, no que diz respeito à rescisória, a sentença passada em 
julgado da coisa julgada, pois a primeira é suscetível de reforma por algum recurso enquanto a 
segunda não pode ser alterada nem mesmo por ação rescisória. A sentença transitada em julgada 
poderá ser passível de ação rescisória, pois mesmo inadmitindo recurso, não há coisa julgada 
quando a decisão é nula23. 
Importante salientar que a ação rescisória não é um recurso, mas sim uma ação 
de impugnação, que pode ser proposta nas hipóteses previstas em lei de forma taxativa (CPC, art. 
485, I a IX), com o escopo de desconstituir uma decisão de mérito, elidindo coisa julgada, se 
proposta dentro do prazo decadencial de dois anos (CPC, 495). Uma vez tendo sido proposta, a 
ação rescisória não tem o condão de suspender a execução da decisão rescindenda, não impedindo 
seu cumprimento, ressaltando a hipótese de concessão de medida cautelar ou antecipatória de 
tutela, recompondo-se a lesão causada no caso de a rescisória ter sido julgada procedente. 
Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “a coisa julgada é uma 
qualidade da sentença, declaratória ou constitutiva, e de seus efeitos, consistente na 
imutabilidade, que poderá existir: a) fora do processo, para impedir que a lei a prejudique, ou que 
o juiz volte a julgar o que já foi decidido (coisa julgada material); b) dentro do processo, em razão 
de uma preclusão máxima, de uma decisão colocada ao abrigo dos recursos definitivamente 
www.direitonoturno.com.brpreclusos (coisa julgada formal)”. 
Assim, a coisa julgada traz a presunção absoluta (jure et de jure) de que o direito 
foi aplicado de forma correta ao caso concreto, prestigiando o órgão judicante que a prolatou e 
garantindo a impossibilidade de sua reforma e sua executoriedade (CPC, art. 489), tendo força 
vinculante para as partes litigantes, funcionando como instrumento de controle ante o dinamismo 
jurídico. 
 Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o 
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
O art. 7º da LICC preconiza a lex domicilii como critério fundamental do estatuto 
pessoal, introduzindo o princípio domiciliar como elemento de conexão para determinar a lei 
aplicável, ao contrário do princípio nacionalístico, adotado pela antiga lei. 
O princípio domiciliar é o que mais atende à conveniência nacional, visto ser o 
Brasil um país onde o fluxo de estrangeiros é considerável, eliminando o inconveniente da dupla 
nacionalidade ou da falta de nacionalidade. 
O começo e o fim da personalidade (as presunções de morte, o nome, a 
capacidade e os direitos de família, que constituem o estado civil, ou seja, o conjunto de 
qualidades que constituem a individualidade jurídica de uma pessoa, terão suas questões 
resolvidas através do direito domiciliar, de acordo com o que determina o art. 7º da LICC. 
A lex domicilii, para ser aplicada, deverá ser precedida da análise do aplicador 
acerca da lei do país onde estiver domiciliada a pessoa para, a partir daí, obter a qualificação 
jurídica do estatuto pessoal e dos direitos de família a ela pertinentes. Assim, o juiz brasileiro 
deverá qualificar o domicílio de acordo com o lugar no qual a pessoa estabeleceu seu domicílio 
com ânimo definitivo (CC, art. 70), qualificando-o segundo o direito nacional e não de 
conformidade com o direito estrangeiro, estabelecendo a ligação entre a pessoa e o país onde está 
domiciliado, aplicando a partir daí as normas de direito cabíveis. 
 § 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto 
aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. 
www.direitonoturno.com.br
O § 1º do art. 7º da LICC versa a respeito dos impedimentos dirimentes e das 
formalidades da celebração do casamento, quando o mesmo for realizado no Brasil. 
Há quem entenda que seja admissível a aplicação da lei pessoal dos interessados 
no que diz respeito às formalidades intrínsecas; mas em relação às formalidades extrínsecas do 
ato, dever-se-á levar em conta a lex loci actus, ou seja, a lei do local da realização do ato. 
A lex loci celebrationis impõe que o casamento seja celebrado de acordo com a 
solenidade imposta pela lei do local onde o mesmo se realizou, não importando se a forma 
ordenada pela lei pessoal dos nubentes seja diversa. Isso significa que, em relação às núpcias 
contraídas no Brasil, no que diz respeito à habilitação matrimonial e às formalidades do 
casamento, a lei a ser observada é a brasileira, devendo seguir-se o disposto nos arts. 1.525 a 1.542 
do Código Civil, mesmo que os nubentes sejam estrangeiros. 
As causas suspensivas da celebração do casamento, que estão dispostas no art. 
1.523, I a IV, não interessam à ordem pública internacional, e desta forma, regerão os casamentos 
realizados no Brasil por pessoas não domiciliadas no exterior, mesmo que lei alienígena os 
contrarie. 
No que diz respeito aos casamentos celebrados no exterior, quando de acordo 
com as formalidades legais do Estado onde foi celebrado, serão reconhecidos como válidos no 
Brasil, ressalvados os casos de ofensa à ordem pública brasileira e de fraude à lei nacional, se não 
se observarem os impedimentos matrimoniais fixados pela lei24. 
Importante ressaltar que, no que tange à capacidade matrimonial e aos direitos 
de família, os mesmos serão regidos pela lei pessoal dos nubentes, ou seja, a lei do seu domicílio e 
desta forma, uma vez o casamento tendo sido consumado, seus efeitos e limitações serão 
submetidos à lei domiciliar. 
 § 2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades 
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. 
O disposto no art. 7º, § 2º, da LICC, permite que os estrangeiros, ao contraírem 
casamento fora de seu país, possam fazê-lo perante o agente consular ou diplomático de seu país, 
www.direitonoturno.com.br
no consulado ou fora dele. 
O cônsul estrangeiro é competente para realizar casamento quando a lei nacional 
o atribuir tal competência e somente quando os nubentes forem co-nacionais e ele mesmo (o 
cônsul) tenha a mesma nacionalidade. Acerca do tema, Kahn25 afirma que “quanto aos limites, nos 
quais esses Estados reconhecerão os casamentos, celebrados pelos agentes diplomáticos e 
consulares estrangeiros, no seu território, serão determinados pela extensão normal que a 
doutrina e a legislação interna conferem à instituição do casamento diplomático ou consular. 
Assim, todos os Estados que atribuem aos seus agentes, no estrangeiro, competência para celebrar 
um casamento sob a condição de serem seus súditos os dois contraentes, só reconhecerão, como 
válidos, os casamentos contratados, por estrangeiros, no seu território, diante dos agentes 
diplomáticos e consulares, no caso em que ambos os esposos serão do Estado a que pertence o 
agente, que procedeu à celebração”. 
Importante ressaltar que o casamento de estrangeiros, domiciliados ou não no 
Brasil, somente é celebrado conforme o direito alienígena no que diz respeito à forma do ato, pois 
seus efeitos materiais serão apreciados conforme a lei brasileira (RT, 200:653), não sendo possível 
a transcrição de assento de casamento de estrangeiro, realizado no Brasil, em consulado de seu 
país, no cartório do Registro Civil do respectivo domicílio (RT, 185:285). 
No que tange ao casamento de brasileiros no exterior, mesmo que domiciliados 
fora do Brasil e quando ambos nubentes sejam brasileiros, poderá ser celebrado perante a 
autoridade consular brasileira, verificando-se a impossibilidade de um casamento diplomático 
entre uma brasileira e um estrangeiro ou apátrida. 
O matrimônio contraído perante agente consular, será provado por certidão do 
assento no registro do consulado (RT, 207:386), que faz as vezes do cartório do Registro Civil. Na 
hipótese de ambos os nubentes virem para o Brasil, o assento de casamento para surtir efeito em 
nosso país, deverá ser trasladado dentro de 180 dias contados na volta ao nosso país, no cartório 
do respectivo domicílio ou, na sua, falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a 
residir (art. 1.544 do CC)26. 
§ 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do 
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. 
www.direitonoturno.com.br
O § 3º da LICC dispõe que a invalidade do casamento será apurada pela lei do 
domicílio comum dos nubentes ou pela lei de seu primeiro domicílio conjugal. 
No caso de os nubentes terem domicílio internacional, a lei do primeiro domicílio 
conjugal estabelecido após o casamento é que prevalecerá para os requisitos intrínsecos do ato 
nupcial e para as causas de sua nulidade, absoluta ou relativas, inclusive no que diz respeito aos 
vícios de consentimento. 
Desta forma, é a lex domicilii quem vai esclarecer se determinado casamento é 
válido ou não, mesmo que estrangeira e de conteúdo diverso da norma brasileira, e não a norma 
de direito internacional privado. 
Maria Helena Diniz27, ao tratar sobre o tema, salienta que a lex domicilii, quando 
for repugnante à ordem pública, não deverá ser aplicada e indica os meios para facilitar sua 
aplicabilidade, sendo necessário: a) a indicação pelos nubentes,no processo do casamento, de 
onde será o domicílio conjugal (no caso dos casamentos realizados no Brasil em que os nubentes 
tiverem domicílio internacional diverso, os mesmos deverão declarar onde pretendem estabelecer 
o primeiro domicílio conjugal, pois na falta desta declaração, presume-se que o mesmo se dará no 
Brasil); e b) reajuste da situação jurídica da capacidade matrimonial, de acordo com a lei daquele 
primeiro domicílio conjugal, que é o estabelecido pelo marido, salvo exceções especiais de acordo 
com os dados contidos na lei territorial. Nas relações pessoais dos cônjuges e nas entre pais e filhos 
prevalecerá a lei domiciliar. 
Assim, o § 3º do art. 7º da LICC dispõe apenas sobre os requisitos intrínsecos ou 
substanciais do casamento regidos pela lei domiciliar comum aos nubentes, ou, no caso de terem 
os os mesmos domicílio internacional diverso, pela lei do primeiro domicílio conjugal28. 
§ 4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que 
tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. 
O presente parágrafo visa a regular as relações patrimoniais entre os cônjuges, 
impondo como elemento de conexão a lex domicilii dos nubentes à época do ato nupcial ou do 
primeiro domicílio conjugal, tendo em vista os efeitos econômicos admitidos legalmente ao 
casamento e aos pactos antenupciais. 
www.direitonoturno.com.br
Assim, observar-se-á o direito brasileiro no caso de ter sido aqui estabelecido o 
primeiro domicílio conjugal, se os nubentes tiverem domicílios internacionais diferentes; ou o 
direito estrangeiro, no caso de ambos tiverem, por ocasião do ato nupcial, domicílio comum fora 
do Brasil. 
Em relação à capacidade para celebração de pacto antenupcial, cada um dos 
interessados fica submetido à sua lei pessoal ao tempo da celebração do contrato (lex domicilii), 
observando a existência de preceito de ordem pública internacional vedando a celebração ou 
modificação de pactos antenupciais na constância do casamento ou alteração do regime de bens 
por mudança de nacionalidade ou de domicílio posterior ao casamento, de nada importando que o 
domicílio se transfira de um país a outro. No que tange ao regime matrimonial de bens, prevalece a 
lei do domicílio que ambos os nubentes tiverem no momento do casamento ou a do primeiro 
domicílio conjugal, na falta daquele comum, salientando que de nada adianta a mudança domiciliar 
com intuito de subtrair o regime matrimonial submetido anteriormente. 
Ainda sobre o tema, é importante ressaltar que na hipótese de regime ou 
casamento convencionados no Brasil, ou mesmo casamento aqui realizado mas sem convenção de 
regime, o mesmo deverá ser apreciado pelo direito brasileiro. No caso de os cônjuges pretenderem 
fixar seu primeiro domicílio fora do Brasil, a jurisdição brasileira não será competente, pois o 
regime nesse caso será apreciado pela jurisdição internacional. 
No caso de duas pessoas casarem aqui, domiciliadas no Brasil, e possuírem bens 
em diversos países, a lei brasileira não poderá se aplicar em relação a estes, em Estados onde 
impera a lex rei sitae, por respeito à mesma. 
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante 
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de 
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, 
respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. 
O novo Código Civil, em seu ar go 1.639, § 2º, dispõe que qualquer modificação 
após a celebração do ato nupcial é permitida, desde que haja autorização judicial atendendo a um 
pedido motivado de ambos os cônjuges, verificadas as razões por eles invocadas e a certeza de que 
tal mudança não venha a causar qualquer gravame a direitos de terceiros, obedecendo ao princípio 
www.direitonoturno.com.br
da mutabilidade justificada do regime adotado. 
O § 5º do art. 7º da LICC permite ao estrangeiro naturalizado brasileiro, com a 
expressa anuência de seu cônjuge, a adoção da comunhão parcial de bens, que é o regime 
matrimonial comum no Brasil, resguardados os direitos de terceiros anteriores à concessão da 
naturalização, ficando os mesmos inalterados, como se o regime não tivesse sofrido qualquer 
alteração. De acordo com o princípio da mutabilidade justificada do regime adotado, disposto no 
Código Civil, que visa a garantir terceiro de qualquer surpresa que advenha de um regime 
matrimonial de bens mutável, é exigido o registro da adoção do regime da comunhão parcial de 
bens, funcionando como meio de publicidade da alteração feita pelo brasileiro naturalizado29. 
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem 
brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se 
houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação 
produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças 
estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento interno, poderá 
reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação 
de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os 
efeitos legais. 
O divórcio de cônjuges estrangeiros domiciliados no Brasil é reconhecido em 
nosso país, mas tratando-se de divórcio realizado no estrangeiro, quando um ou ambos os 
cônjuges forem brasileiros, só será aqui admi do após um ano (art. 226, § 6º, da CF/88) da data da 
sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a 
homologação terá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das 
sentenças estrangeiras no país (art. 49 da Lei 6.515/77). 
Maria Helena Diniz verifica que a lei brasileira constitui um obstáculo invencível 
ao reconhecimento do divórcio antes do prazo de um ano, contado da sentença, se um ou ambos 
os cônjuges forem brasileiros, excetuando-se o fato de que já exista concessão da medida cautelar 
de separação de corpos, cuja data constitui marco inicial para a contagem daquele prazo legal, 
embora a separação de cama e mesa possa ter significação na contagem do prazo da conversão da 
separação judicial em divórcio30. 
Uma vez homologado o divórcio obtido no estrangeiro, é permitido novo 
www.direitonoturno.com.br
casamento no Brasil, exigindo-se para isso a prova da sentença do divórcio na habilitação 
matrimonial, que é a certidão da sentença de divórcio proferida no estrangeiro, devidamente 
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (EC 45/2004). 
O estrangeiro ou apátrida, cuja sentença de divórcio ainda não tenha sido 
homologada, e que deseje contrair novas núpcias no Brasil, está sujeito à anulação de casamento 
caso sua sentença de divórcio seja negada pelo STJ. Washington de Barros Monteiro esclarece 
ainda que a homologação de sentença pode ser negada quando estrangeiros aqui domiciliados se 
dirigem à justiça de outro país para obter a sentença de divórcio, burlando a soberania nacional, 
sendo isso apenas tolerado se o divórcio foi pronunciado no foro dos cônjuges. No caso de a 
sentença for proferida em país onde jamais os cônjuges residiram ou de onde não são naturais, a 
homologação tem sido denegada, podendo ser apenas concedida, com restrições, para fins 
patrimoniais31. 
§ 7º. Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao 
outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua 
guarda. 
De acordo com o critério da unidade domiciliar, man do § 7º do art. 7º da LICC, 
no que diz respeito às relações pessoais entreos cônjuges, seus direitos e deveres recíprocos, e aos 
direitos e obrigações decorrentes da filiação, aplicar-se-á a lei do domicílio familiar, que se estende 
aos cônjuges e aos filhos menores não emancipados. 
Maria Helena Diniz salienta que “Preciso será esclarecer que não mais se 
considera a pessoa do marido em si, mas o domicílio da família, ou seja, de ambos os consortes, ou 
melhor, o do País onde o casal fixou domicílio logo após as núpcias, com intenção de constituir 
família e o seu centro negocial”, respeitando assim o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges, 
representando um sistema familiar em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo 
entre marido e mulher (arts. 1.567 e 1.569 do CC)32. 
No que tange aos tutelados e curatelados, depois de assumido o encargo tutelar, 
em em virtude de estarem sob sua guarda, submeter-se-ão à lei domiciliar de seus tutores e 
curadores. 
Assim, o § 7º do art. 7º trata do caso de domicílio internacional legal quando 
www.direitonoturno.com.br
dispõe que, exceto na hipótese de abandono, o domicílio familiar, eleito pelo casal ou em alguns 
países pelo marido, estende-se ao outro cônjuge, quando for o caso, e aos filhos menores não 
emancipados, e o do tutor ou curador, aos incapazes sob sua guarda (Código Bustamante, art. 24). 
§ 8º. Quando a pessoa não ver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar 
de sua residência ou naquele em que se encontre. 
O Código Bustamante, em seu artigo 26, preleciona que aquele que não tiver 
domicílio conhecido, considerar-se-á domiciliado no local de sua residência acidental ou naquele 
em que se encontrar, impossibilitando a hipótese de dupla residência. 
Na falta do critério do domicílio, que é a conexão principal, a lei indica critérios de 
conexão subsidiários, ou seja, o lugar da residência ou daquele em que a pessoa se achar, aplicados 
sucessivamente na medida em que o anterior não possa preencher sua função, não se tratando de 
concurso cumulativo, mas sim sucessivo. 
Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-
se-á a lei do país em que estiverem situados. 
A lei territorial é a que se aplica somente no território nacional, atendendo a 
interesses internos relativos à nação de origem, obrigando unicamente dentro do território, ou 
seja, o órgão judicante somente poderá aplicar no território nacional aquela norma. A lei é 
extraterritorial quando permite que o magistrado possa aplicar lei diversa de seu ordenamento 
jurídico, em relação a fatos ocorridos no seu território ou no estrangeiro, como por exemplo nas 
hipóteses em que o próprio art. 8º, §§ 1º e 2º da LICC dispõem. 
O artigo 8º da LICC define a qualificação dos bens como territorial, já que a eles se 
aplicam as leis do país onde estiverem situados. 
Sendo assim, o critério jurídico que visa a regular coisas móveis de situação 
permanente, incluindo as de uso pessoal ou imóveis (ius in re) é o da lex rei sitae, que importa na 
determinação do território, que é o espaço limitado no qual o Estado exerce competência. No que 
diz respeito ao regime da posse, da propriedade e dos direitos reais sobre coisa alheia, nenhuma lei 
poderá ter competência maior do que a do território onde se encontrarem os bens que constituem 
www.direitonoturno.com.br
seu objeto33. 
É importante ressaltar que a lex rei sitae regulará apenas os bens móveis ou 
imóveis considerados individualmente (uti singuli), pertencentes a nacionais ou estrangeiros, 
domiciliados no país ou não; enquanto que os bens uti universitas, como p. ex. o espólio e o 
patrimônio conjugal, são regidos pela lei reguladora da sucessão (lex domicilii do autor da herança), 
excetuando-se as hipóteses de desapropriação de imóvel de tutelado ou da massa falida, ocasiões 
em que os bens uti universitas também poderão ser disciplinados pela lex rei sitae. 
Nas hipóteses de mudança de situação de um bem móvel, a lei que disciplina a 
nova situação deverá ser aplicada, respeitados os direitos adquiridos. Acerca do tema, Pillet e 
Neboyet afirmam que “todo o direito adquirido sobre um móvel corpóreo, na conformidade das 
disposições da lei do lugar da sua situação, deve ser respeitado no segundo país, para o qual tenha 
sido transportado, até que nasça um direito diferente, segundo a lei deste último país”34. 
Em relação aos navios e aeronaves, os mesmos serão regidos pela lei do pavilhão, 
ou seja, pela lei do país em que estiverem matriculados e cuja competência só será afastada nos 
casos em que a ordem pública o exigir. 
§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos 
bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. 
O § 1º do art. 8º da LICC prevê a aplicação da lex domicilii do proprietário no que 
tange aos bens móveis que o mesmo trouxer consigo, para uso pessoal ou em razão de negócio 
mercantil, que podem transitar por vários lugares até chegar ao local de destino. 
Em função da instabilidade de localização ou mesmo da mudança transitória de 
tais bens, afasta-se aqui a aplicação da lex rei sitae, aplicada aos bens localizados 
permanentemente, e aplica-se a lex domicilii de seu proprietário, ou seja, o direito de Estado no 
qual o mesmo tem domicílio, visando a atender interesses econômicos, políticos e práticos. 
§ 2º. O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse 
se encontre a coisa apenhada. 
No que tange ao penhor, a LICC dispõe que a lei do domicílio do possuidor da 
www.direitonoturno.com.br
coisa empenhada é que será aplicada, tanto no que diz respeito ao objeto sobre o qual recairá o 
direito real e quais seus efeitos, quanto nas questões atinentes à publicidade, à necessidade ou 
dispensa de tradição real para sua validade. 
Importante salientar que pouco importará a localização do bem dado em penhor, 
pois pela lei este estará situado no domicílio do possuidor (fictio iuris) no momento de ser 
constituído o direito real de garantia, resguardando assim a segurança negocial, e garantindo 
direitos de terceiros. 
Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se 
constituirem. 
No que diz respeito às obrigações, o art. 9º da LICC dispõe que a lei do país onde 
se constituírem as mesmas é que serão aplicadas para qualificá-las e regê-las. 
Em se tratando de obrigações ex lege, o art. 165 do Código Bustamante afirma 
que as mesmas serão regidas pelo direito que as estiver estabelecido, já que são conseqüência de 
uma relação jurídica principal, da qual são acessórias. Devido ao fato de não serem autônomas, 
acabam reguladas pela mesma lei que disciplina a relação principal. 
As obrigações ex delicto, que são as decorrentes da prática de um ato ilícito, são 
regidas pela lei do lugar onde o delito foi cometido (lex loci delicti commissi), solucionando 
questões sobre causas justificativas e dirimentes, culpabilidade, qualificação do ato como ilícito, 
etc. No caso de o ilícito ter sido praticado em vários lugares, levar-se-á em conta o local onde 
ocorreu o último fato necessário para a caracterização da responsabilidade do lesante. 
Em relação às obrigações convencionais (civis e comerciais) e as decorrentes de 
atos unilaterais, as mesmas se regerão a) quanto à forma ad probationem tantum (simplesmente 
para provar) e ad solemnitatem (para a solenidade) pela lei do local onde se originaram, ou seja, 
deve ser apreciada a forma da manifestação volitiva pelo direito vigente no local onde o ato for 
realizado. Importante ressaltar que essa norma somente vigorará no fórum que aceitar que o ato 
seja realizado no exterior, pela forma estabelecida no ius loci actus; b) quanto à capacidade, pela 
lei pessoaldas partes (art. 7º) que é a lei domiciliar, observando-se a ressalva em relação à ordem 
pública, uma vez que a lex fori não admitirá que produza efeito o ato que tiver conteúdo contrário 
à lei, à moral e ordem pública do país. Na hipótese de as partes estiverem domiciliadas em Estados 
www.direitonoturno.com.br
diferentes, a capacidade de cada uma obedecerá à sua lei domiciliar35. 
Necessária se faz a delimitação da norma que disciplina as condições intrínsecas 
dos atos jurídicos decorrentes da declaração de vontade, antes de analisar qual a lei competente 
para reger os efeitos das obrigações deles resultantes. Quando se tratar de ato unilateral, 
prevalecerá a lei pessoal do declarante, enquanto que nos atos bilaterais, como nos contratos, p. 
exemplo, existem cinco correntes doutrinárias: a) competência da lei pessoal dos contratantes, 
através da qual as declarações de vontade devem ser examinadas separadamente, cada uma de 
acordo com a lei do declarante (Frankenstein, Dreyfus, J. Aubry e Audinet); b) competência da lei 
do local da celebração negocial (Pillet e Neboyet); c) competência da lei que rege a relação 
constituída pelo ato jurídico (Machado Villela); d) competência da lei escolhida internacionalmente 
pelos contratantes para reger o acordo (proper law of the contractI ou applicable law dos ingleses) 
e e) competência da lex fori nos conflitos de lei que surjam entre o Brasil e os países signatários do 
Código Bustamante (art. 177) e a da lei do local da constituição da obrigação entre os demais 
Estados que não o ratificaram36. 
Em se tratando da forma extrínseca do ato, é a locus regis actum, norma de 
direito internacional privado, que é aceita pelos juristas para indicar a lei aplicável. Através dessa 
norma, o ato, revestido de forma externa prevista pela lei do lugar e do tempo onde foi celebrado, 
será válido e poderá servir de como prova em qualquer local onde tiver que produzir efeitos. 
Em se tratando de contratos internacionais, o princípio da autonomia da vontade 
não é acolhido como elemento de conexão para reger contratos na seara do direito internacional, 
preconizando a liberdade contratual dentro das limitações fixadas em lei, ou seja, a mesma só 
prevalecerá quando não for conflitante com norma imperativa ou ordem pública, ressaltando-se a 
previsão que a própria LICC faz em seu artigo 17 quando considera ineficaz qualquer ato que 
ofenda a ordem pública interna, a soberania nacional e os bons costumes. Isso não significa que o 
art. 9º afasta a autonomia da vontade, pois a manifestação da livre vontade dos contratantes é 
admitida pela LICC quando o for pela lei do contrato local, desde que observada a norma 
imperativa. 
Nos casos em que a intenção do agente for de burlar a lei nacional, praticando 
negócio em país estrangeiro com o intuito de fugir às exigências da lei pátria, ou seja, tal ato não 
subsistirá, por tratar-se de fraude. 
www.direitonoturno.com.br
Obeservar-se-ão algumas exceções ao disposto no art. 9º da LICC, nas seguintes 
hipóteses37: 
a) quando se tratar de contrato de trabalho, o mesmo deverá obedecer à lei do 
local da execução do serviço ou trabalho. O art. 6º da Convenção de Roma, de 1980, afirma que em 
se tratando de contrato individual de trabalho, a aplicação da lei escolhida não poderá privar o 
trabalhador da proteção que lhe for conferida pela lei: a) do país onde o trabalhador, ao executar o 
trabalho, habitualmente exerce seu ofício; b) do Estado em cujo território se encontra situada a 
empresa que contratou o empregado, que não realiza de modo habitual seu trabalho no mesmo 
país. 
b) nas hipóteses dos contratos de transferência de tecnologia, pois nesses casos 
verificar-se-á competência absoluta do direito pátrio interno, em consonância com o art. 17 da 
LICC e com os princípios de direito internacional econômico defendidos pelo Brasil, por tratar-se de 
normas de ordem pública, garantindo interesses nacionais. 
c) nos atos relativos à economia dirigida ou aos regimes de Bolsa e Mercados, que 
serão subordinados à lex loci solutionis (place of performance), filiando-se à lei do país de sua 
execução. 
§ 1º. Des nando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de 
forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos 
requisitos extrínsecos do ato. 
De acordo com o disposto no § 1º do art. 9º da LICC, a obrigação contraída no 
exterior e executada no Brasil será observada segundo a lei brasileira, atendendo as peculiaridades 
da lei alienígena em relação à forma extrínseca. 
Isto significa que a lei da constituição do local da obrigação mantém-se, pois 
admitidas serão suas peculiaridades, como a validade e a produção de seus efeitos, enquanto a lei 
brasileira será competente para disciplinar os atos e medidas necessárias para a execução da 
mesma em território nacional, tais como a tradição da coisa, forma de pagamento ou quitação, 
indenização nos casos de inadimplemento, etc. 
Em relação aos contratos não exeqüíveis no Brasil, mas aqui acionáveis, não se 
www.direitonoturno.com.br
aplicará o disposto no art. 9º, § 1º, da LICC, mas sim o locus regis actum, ou seja, a lei local é que 
regerá o ato. 
§ 2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que 
residir o proponente. 
O lugar onde se tem por concluído o contrato é de fundamental importância para 
o direito internacional privado, já que através dele emanará qual a lei deverá ser aplicada para a 
disciplinar a relação contratual e também a apuração do foro competente. 
O art. 9º, § 2º da LICC afirma que a obrigação resultante do contrato se cons tui 
no lugar em que residir o proponente, sendo aplicável quando os contratantes estiverem em 
Estados diversos, enquanto que o art. 435 do Código Civil reputa celebrado o contrato no lugar em 
que foi proposto. 
Maria Helena Diniz38 afirma que o verbo “residir” significa “estabelecer morada” 
ou “achar-se em”, “estar”, e é nessa úl ma acepção que vem sendo empregado o disposto no § 2º, 
do art. 9º da LICC, significando que o lugar em que residir o proponente seja o lugar onde estiver o 
proponente, afastando assim o critério domiciliar por entender que a adoção do elemento 
“residência” daria mais mobilidade aos negócios, já que não raro os mesmos se efetivam fora do 
domicílio dos contratantes. 
Assim, de acordo com a LICC, a obrigação contratada entre ausentes será regida 
pela lei do país onde residir o proponente, não importando o momento ou local da celebração 
contratual, aplicando-se a lei do lugar onde foi feita a proposta. Em relação aos contratos entre 
presentes, no que diz respeito ao direito internacional, serão regidos pela lei do lugar em que 
foram contraídos, desconsiderando-se a nacionalidade, domicílio ou residência dos contratantes. 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que 
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. 
O art. 10 da LICC abrange tanto a sucessão causa mortis (seja ela legítima ou 
testamentária) como também a sucessão por ausência. 
Perante a teoria da unidade sucessória, que é a adotada pela LICC, a sucessão 
www.direitonoturno.com.br
causa mortis deverá ser regida pelo lei do domicílio do de cujus, desprezando-se a nacionalidade 
do autor da herança e a de seu sucessor e a natureza e a situação dos bens, unificando a jurisdição 
do último domicílio do de cujus para apreciação de todas as questões relativas à sucessão e, desta 
forma, simplificando as questões oriundas da mesma. 
Mesmo nos casos em que o finado tiver mais de uma residência (CC, art. 71), 
competente será o foro onde o inventário foi requerido primeiro.Maria Helena Diniz39, ao tratar sobre o tema, afirma que a lei do domicílio do de 
cujus, no momento de sua morte, determinará: a) a instituição e a substituição da pessoa 
sucessível; b) a ordem de vocação hereditária, quando se tratar de sucessão legítima; c) a medida 
dos direitos sucessórios dos herdeiros ou legatários, sejam eles nacionais ou estrangeiros; d) os 
limites da capacidade de testar; e) a existência e a proporção da legítima do herdeiro necessário; f) 
a causa da deserdação; g) a colação; h) a redução das disposições testamentárias; i) a partilha dos 
bens do acervo hereditário; j) o pagamento das dívidas do espólio. 
O art. 10 da LICC não faz menção expressa à comoriência ou morte simultânea, e 
nesses casos, observar-se-ão as leis de domicílio de cada um dos finados relativas à sucessão, de 
acordo com o disposto no art. 29 do Código Bustamante que dispõe que nos casos de presunções 
de sobrevivência ou de morte simultânea, quando não houver prova, as mesmas serão reguladas 
pela lei pessoal de cada um dos falecidos em relação à sua respectiva sucessão. Desta forma, tendo 
os comorientes domicílios diversos, a sua sucessão será regida pela lei pessoal de cada um. 
Nos casos de morte presumida ou ausência, a lei domiciliar do ausente será 
aplicada, seja qual for a natureza e a localização dos bens que compõem seu patrimônio, no que 
diz respeito às condições da declaração de ausência e seus efeitos e aos direitos eventuais do 
ausente (Código Bustamante, arts. 73-83). Sendo assim, não é possível que a pessoa seja declarada 
ausente por juiz brasileiro quando a mesma não tiver tido seu domicílio em nosso país, assim como 
não será possível proceder à sucessão provisória, processar inventário e partilha e declarar 
presunção de morte, nos casos de sucessão definitiva. 
§ 1º. A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei 
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre 
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. 
www.direitonoturno.com.br
Nos casos aventados pelo § 1º, em relação à sucessão de bens de estrangeiro 
situados no País, observa-se exceção à variação da ordem de vocação hereditária determinada pelo 
art. 1829 do Código Civil40, não se aplicando o princípio de que a existência de herdeiro de uma 
classe exclui da sucessão os herdeiros da classe subseqüente. 
A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXI, também prevê que “a 
sucessão de bens de estrangeiro situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do 
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de 
cujus”. 
A exceção se dá em relação à possibilidade de alteração da ordem da vocação 
hereditária pois, nos casos em que, se tratando de bens existentes no Brasil, de propriedade de 
estrangeiro falecido e casado com brasileira ou com filhos brasileiros, é aplicada a lei nacional do 
de cujus quando for mais vantajosa aos sucessores do que a lei brasileira. 
Assim, estará a sucessão sujeita à aplicação da lei brasileira quando: a) os bens 
estiverem no Brasil; b) houverem cônjuge ou filhos brasileiros, ou quem os represente e c) quando 
a lei pessoal do de cujus não lhes for mais favorável. 
Importante lembrar que anteriormente vigorava no Brasil o instituto do usufruto 
vidual, que admitia, nos casos de casamento entre brasileiro com estrangeira, a sucessão no 
usufruto de cônjuge supérstite. Hoje admite-se a sucessão no direito real de habitação, de acordo 
com o art. 1.831 do CC, no imóvel destinado à residência, quando este for o único do gênero a ser 
inventariado, em qualquer dos regimes de bens e sem prejuízo da participação que lhe caiba na 
herança. 
§ 2º. A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para 
suceder. 
A interpretação do § 2º, do art. 10 da LICC, deve ser feita com cuidado no que diz 
respeito à capacidade para suceder. 
Maria Helena Diniz41, ao versar sobre o tema, ressalva que “se deve repelir toda 
e qualquer interpretação extensiva a esse dispositivo legal, devido à ambigüidade do termo 
‘capacidade para suceder’”. De acordo com a autora, é necessário que se distinga: a) a capacidade 
www.direitonoturno.com.br
para ter direito à sucessão, que se sujeita à lei do domicílio do auctor sucessionis; b) da capacidade 
de agir em relação aos direitos sucessórios, ou seja, que tem a ver com a aptidão para suceder, 
para aceitar ou para exercer direitos do sucessor, que se subordina à lei pessoal do herdeiro ou 
sucessível. 
Assim, importante reconhecer que o § 2º do art. 10 da LICC diz respeito à 
capacidade de exercer o direito de suceder, que é reconhecido pela lei domiciliar do autor da 
herança e regido pela lei pessoal do sucessor, enquanto que a capacidade para suceder é 
disciplinada pela lei do domicílio do falecido. 
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as 
sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem. 
O artigo 11 da LICC impõe que a lei do Estado em que as pessoas jurídicas de 
direito privado se constituírem é que irá determinar as condições de sua existência ou do 
reconhecimento de sua personalidade jurídica, sendo o seu fórum competente para versar sobre 
sua criação, funcionamento e dissolução, pouco importando o lugar onde se dá o exercício de sua 
atividade. 
A nacionalidade das pessoas jurídicas não é mencionada expressamente pela 
LICC, mas entende-se prevista implicitamente no art. 11 da LICC e expressamente nos arts. 1.126 a 
1.141 do Código Civil, quando é determinada pela lei na qual tem sua origem, pelo princípio locus 
regit actum. 
§ 1º. Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou 
estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, 
ficando sujeitas à lei brasileira. 
O § 1º do art. 11 da LICC condiciona a abertura de filiais, agências ou 
estabelecimentos de pessoa jurídica estrangeira no Brasil à aprovação de seu estatuto social ou ato 
constitutivo pelo governo brasileiro, com o intuito de evitar fraudes à lei e fazendo com que a 
mesma se sujeite à lei brasileira, uma vez que adquirirá domicílio no Brasil (CC, arts. 1.134 a 1.141). 
Não será necessária a autorização governamental nos casos em que a pessoa 
jurídica estrangeira não pretenda fixar no Brasil agência ou filial, pois obedecerá à lei do país de sua 
www.direitonoturno.com.br
constituição, sendo possível exercer atividade no Brasil desde que não contrária à nossa ordem 
social. 
A competência para decidir e praticar os atos de funcionamento no Brasil de 
organizações estrangeiras destinadas a fins de interesse coletivo, incluindo-se aqui alterações de 
estatuto e cassação de autorização de funcionamento, ficou delegada ao Ministro de Estado de 
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sendo vedada a subdelegação. 
§ 2º. Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer 
natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não 
poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação. 
O § 2º do art. 11 da LICC versa sobre as restrições subme das às pessoas jurídicas 
de direito público em relação à aquisição, gozo e exercício de direito real no território brasileiro. 
Tal posição se justifica pelo entendimento que a ausência de tais restrições 
representariam um perigo à soberania nacional, através da possível ocorrência de problemas 
diplomáticos. Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “as pessoas jurídicas de direito 
público externo, serão, por lei, absolutamente incapazes para adquirir a posse e a propriedade de 
imóvel situadono Brasil ou de bens suscetíveis de desapropriação, como direitos autorais, patentes 
de invenção, direitos reais sobre coisa alheia de fruição, ações de sociedade anônima, etc”42. 
Tal impedimento dar-se-á não somente via testamento, como também através de 
qualquer título, como compra e venda, doação, permuta, etc. 
§ 3º. Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios 
necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. 
O § 3º do art. 11 da LICC trata de exceção ao disposto no parágrafo anterior 
quando permite que as pessoas jurídicas de direito público possam adquirir prédios para sede de 
representantes diplomáticos ou agentes consulares, assegurando o livre exercício de funções 
diplomáticas e de atividades consulares. 
Assim, o direito de propriedade imobiliária de um Estado estrangeiro ficará 
restrito ao edifício de sua embaixada, consulado e legações, necessários à prestação de serviços 
www.direitonoturno.com.br
diplomáticos, e aos prédio residenciais dos agentes consulares e diplomáticos, mesmo que neles 
não se encontre a chancelaria. 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu 
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 
O art. 12 da LICC fixa a competência da autoridade judicial brasileira nos casos em 
que o réu, seja ele brasileiro ou estrangeiro, tenha domicílio no Brasil, podendo aqui ser intentada 
qualquer ação que lhes diga respeito. Nas hipóteses em que dois sejam réus e apenas um deles 
esteja aqui domiciliado, admite-se a competência do juiz que vier a tomar conhecimento da causa 
em primeiro lugar, de acordo com o princípio da prevenção. 
Admite-se assim que o estrangeiro, aqui domiciliado ou não, possa comparecer, 
como autor ou réu, perante o tribunal brasileiro quando haja alguma controvérsia de seu interesse, 
desde que sua capacidade para estar em juízo obedeça à lex domicilii e com a ressalva da lex fori no 
que diz respeito a preceito de ordem pública (art. 7º da LICC). 
Nos casos em que a obrigação for exeqüível no Brasil, competente será a 
autoridade brasileira, visto tratar-se de competência especial, prevalecendo sobre a competência 
do local onde a obrigação foi constituída e sobre a competência da lei domiciliar. 
Alguns entendem que tal competência é obrigatória, enquanto parte da doutrina 
entende apenas que o seja em relação ao § 1º do art. 12, nas hipóteses de ações concernentes aos 
bens imóveis situados no Brasil, afirmando que o art. 12 da LICC c.c. os arts. 314 e 316 do Código 
Bustamante, contém norma supletiva, na medida que entende permitida a competência 
estrangeira nos casos em que o réu não for domiciliado no Brasil, se a obrigação não tiver que ser 
aqui executada e nos casos em que a ação não verse sobre imóveis situados no território 
brasileiro43. 
§ 1º. Só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, rela vas 
a imóveis situados no Brasil. 
O § 1º do art. 12 da LICC diz respeito não só às ações reais imobiliárias mas sim a 
todas as ações que tratem de imóveis situados no Brasil e trata-se de norma compulsória, na 
medida que impõe a competência judiciária brasileira para processar e julgar ações que versem 
www.direitonoturno.com.br
sobre imóveis situados no território brasileiro, competindo a nossa justiça fazer a qualificação do 
bem e a natureza da ação intentada. 
Nas hipóteses de o imóvel estar localizado em países diversos, cada Estado será 
competente para julgar ação relativa à parcela do bem que se encontrar em seu território. 
No que diz respeito às ações que versem sobre bens móveis, as mesmas deverão 
ser propostas no foro do domicílio do réu (CPC, art. 94) e quando tratarem sobre bens móveis que 
venham a se deslocar após proposta a demanda, será competente o foro do domicílio das partes 
no momento em que a ação foi proposta (CPC, art. 87). 
§ 2º. A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e 
segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade 
estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências. 
A previsão do § 2º do art. 12 da LICC diz respeito ao cumprimento, pela 
autoridade judiciária brasileira, das cartas e comissões rogatórias com a finalidade de investigação, 
e das diligências deprecadas pelas autoridades locais competentes, satisfazendo o que lhes foi 
requerido pela autoridade estrangeira. 
As cartas rogatórias são pedidos feitos pelo juiz de um país ao de outro 
solicitando a prática de atos processuais, sem caráter executório, e subordinam-se à lei do país 
rogante, no que tange ao conteúdo ou matéria de que são objeto e, em relação ao procedimento, 
são disciplinadas conforme a lei do país do rogado. As diligências de caráter executório, como por 
exemplo arresto e seqüestro, não poderão ser objeto de carta rogatória (RTJ, 72:659, 93:517 e 
103:536). 
Mesmo se referindo apenas à competência em sentido estrito, poderá o juiz 
levantar o conflito de jurisdição a ser decidido na forma da lei brasileira, pois o próprio art. 17 da 
LICC impede o cumprimento de rogatória quando a mesma for ofensiva à ordem pública e aos bons 
costumes, já que os atos processuais estão sujeitos à lex fori, sendo inadmitidos os que atentem 
contra a legislação brasileira. 
A carta rogatória é remetida através da via diplomática e ao Procurador-Geral da 
República é dado vista da mesma para que possa impugná-la nos casos de contrariedade da ordem 
www.direitonoturno.com.br
pública, soberania nacional ou falta de autenticidade. Uma vez concedido o exequatur ou “cumpra-
se”, a rogatória é enviada ao juiz da comarca onde deverá ser cumprida a diligência, observado o 
direito estrangeiro quanto ao seu objeto. Tendo sido cumprida, a rogatória é devolvida à justiça 
rogante através do Ministério da Justiça. 
No que diz respeito ao tema, Maria Helena Diniz afirma que o exequatur ou sua 
denegação não produzirão coisa julgada formal, motivo pelo qual os pedidos poderão ser 
renovados e as concessões revogadas quando se perceber, por exemplo, que para processar e 
julgar a causa, apenas a justiça brasileira é competente, pois o juiz rogado poderá resolver sobre 
sua própria competência ratione materiae para o ato que se lhe atribui (Código Bustamante, art. 
390)44. 
Tendo sido concedido o exequatur à carta rogatória, não será necessária a 
homologação da sentença que vier a ser prolatada por autoridade estrangeira no mesmo processo. 
Sendo indispensável para o encerramento da instrução, a carta rogatória deverá 
ser devolvida, quando requerida antes do despacho saneador, suspendendo o processo até que 
seja devolvida. Nas outras hipóteses não terá efeito suspensivo, podendo ser pronunciada decisão 
sem a devolução da carta devidamente cumprida. 
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que 
nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros 
provas que a lei brasileira desconheça. 
O art. 13 da LICC diz respeito à prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro, 
preconizando que a mesma será regida pela lei do lugar onde ocorrer (lex loci), enquanto que o 
ônus e meio de produzi-la serão regidos pela lex fori, não sendo admitida, no curso da ação, 
qualquer prova não autorizada pela lei do juiz, sob pena de contrariar o sistema da territorialidade 
da disciplina do processo. 
No que diz respeito à apreciação das provas, a mesma dependerá da lei do juiz 
(Código Bustamente, art. 401), devendo o mesmo basear-se nas prescrições legais de seu país, 
averiguando: 
www.direitonoturno.com.br
a) a ilicitude do ato ou contrato; 
b) a capacidade

Outros materiais