Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Leishmaniose Visceral [LV] – (Calazar) INTRODUÇÃO Leishmanioses: doenças causadas por protozoários da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania – formas visceral, cutânea ou cutaneomucosa. Principal agente etiológico (BR) – Leishmania chagasi. Vetor (BR) – Lutzomyia longipalpis (fêmea). Principais reservatórios – cão e raposa. O cão pode não adoecer, porém quando isso acontece, tem um quadro de emagrecimento, queda de pelos, nódulos e ulcerações na pele, paralisia de membros posterior e cegueira. Era predominantemente uma zoonose rural que está em processo de urbanização. Nem todos os infectados adquirem a doença – relação infectados/doentes pode chegar a 18:1. PATOGENIA Leishmânias são parasitas intracelular obrigatórios de macrófagos de mamíferos. Amastigostas adquiridas pelo vetor do sangue de mamíferos infectados no digestivo do inseto transforma-se em promastigotas metacíclicos promastigotas inoculadas na derme do hospedeiro são fagoticatas por macrófagos e perdem o flagelo, multiplicando-se na forma de amastigotas rotura de macrófagos = infecção de macrófagos recrutados disseminação para os diversos órgãos do sistema fagocítico-macrofágico. Interação do parasita com a resposta imune celular determina as formas clínicas. Na forma clássica, há ↓ resposta mediada por linfócitos T e macrófagos, além de ativação policlonal de linfócitos B. Essas alterações são reversíveis com a cura. A resposta aparenta ser polarizada para um subtido de célular T CD4+. o Fenótipo Th2 – IL-4 e IL-10 doença progressiva e fatal. o Fenótipo Th1 – IL-2 e IFN-y autorresolução e cura. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Amplo espectro clínico formas assintomática, subclínica e clássica. Período de incubação variável – meses ou anos. Infecção assintomática – diagnóstico pelo teste intradérmico (Montenegro) ou sorologia. Forma subclínica – sintomas inespecíficos, como febre baixa, ↓ crescimento e adinamia, além de hepatomegalia. Quadro do calazar clássico (15% evoluem para tal) Quadro insidioso, com evolução em meses, porém quadros agudos podem existir. o Febre – insidiosa e irregular. No período inicial pode ser elevada, diária e persistente. o Sintomas gerais – anorexia, prostração, apatia, diarreia, palidez progressiva, tosse seca ou pouco produtiva. o Hepatoesplenomegalia – sempre presente. Baço cresce mais que o fígado (pode atingir a fossa ilíaca contralateral). o Pode ter micropoliadenopatia generalizada. o Desnutrição o Anemia o Cabelos quebradiços, hemorragias, abdome volumoso, membros edemaciados, sangramentos = aspecto típico da doença com a progressão. Casos não tratados evoluem para óbito em 1 a 2 anos. Em geral, por infecções bacterianas, favorecidas pela neutropenia acentuada. Padrões histopatológicos – hipertrofia e hiperplasia difusa de células de Kupffer densamente parasitadas por amastigostas; padrão nodular; e o padrão fibrinogênico, nas formas mais longas. Coinfecção HIV/leishmânia o Ocorre em fase avançada da imunossupressão (CD4+ < 200). As manifestações são semelhantes àquelas da forma clássica, mas formas atípicas podem ocorrer com CD4+ < 50. o Interação devastadora para o sistema imune. Outras condições podem reativar uma infecção latente de leishmânia: corticoide de uso prolongado, metotrexato e inibidores de TNF pós-transplante. EXAME INESPECÍFICOS HEMOGRAMA – fundamental na forma clássica. o Pancitopenia Anemia normocrômica e normocítica com Hb < 10g%. Leucopenia – neutropenia, linfocitose relativa e eosinopenia. Inversão albumina/globulina – ↑ globulina e ↓ albumina. O aumento da globulina é pela fração gama – hipergamaglobulinemia. URINA TIPO 1 (EAS) – pode revelar proteinúria, leucocitúria e hematúria = glomerulonefrite subclínica por deposição de complexos imunes. Rx tórax – condensação de etiologia bacteriana ou ainda, infiltrado intersitical por vúrus, bactérias ou pela leishmânia = pneumonite leishmaniótica. US abdominal – diagnóstico diferencial com outras esplenomegalias e tumores abdominais. EXAMES ESPECÍFICOS Padrão-ouro – identificação de amastigotas em material aspirado de medula óssea – sensibilidade relativamente baixa (70-85%) Exame em aspirado esplênico – alta positividade (96- 98%), porém risco de hemorragia. Isolamento em meios de cultura específicos. Teste da hipersensibilidade tardia a antígenos de Leishmania (teste de Montenegro) – alta positividade no quadro assintomático; o teste é negativo no quadro clássico pela supressão da imunidade celular. Teste de aglutinação direta (DAT) e imunofluorescência indireta (RIFI) – pode ter reações cruzada = ↓ especificidade. ELISA e DOT-ELISA com o antígeno recombinante K39 (rK39). Teste rápido diagnóstico rK39 por imunocromatografia – exame simples e rápido. Detecção de kDNA por PCR – rápido, sensível, caro. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL HEPATOESPLENOMEGALIAS FEBRIS o Enterobacteriose sistêmica prolongada o Malária o Febre tifoide o Esquistossomose hepatoesplênica o Chagas agudo o Endocardite infecciosa o Toxoplasmose o Síndrome monolike o CMV o Brucelose, histoplasmose disseminada o Doenças mieloproliferativas – linfoma (descartar com mielograma) TRATAMENTO Primeira linha = antimoniais pentavalentes. No Brasil, a droga é o antimoniato de meglumina (Glucantime®) – índice de cura >95% (HGT). o 20 mg/kg/dia IV (máx 2 ampolas/dia) por 21 a 40 dias (em média 28 dias). Fazer a infusão com diluição em soro glicosado a 5% lentamente. o Monitorar parâmetros do paciente – cardio = ECG, hepato e nefrotoxicidade = avaliar função renal e hepática. Segunda linha = anfotericina B. Atua ligando-se ao ergosterol da membrana do parasita. Uso limitado – nefro e cardiotoxicidade. Anfotericina B desoxicolato – para pacientes gestantes e pacientes coinfectados com HIV. Anfotericina B lipossomal – mais cara e mais indicada para pacientes maiores de 50 anos e com insuficiência renal crônica. Em pacientes coinfectados com HIV, há maior chance de recaída, sendo os fatores de risco para tal: não uso de TARV, ↓ linfócitos T CD4+, episódios anteriores de LV, falha em alcançar cura clínica e parasitológico, não adesão à profilaxia secundária. Drogas opcionais – pentamidina, miltefosina e paromicina. Além do tratamento específico, atenção para infecções bacterianas. Pela neutropenia grave, pode ser necessário uso de antibióticos de largo espectro. Hemoderivados – quadro de anemia crônica. Suporte nutricional enteral auxiliar em recuperar da desnutrição. CRITÉRIOS DE CURA Melhora clínica ao final da 1ª semana, com remissão da febre entre o D5 e D7. Melhora da disposição, apetite e ganho de peso. No entanto, a hepatoesplenomegalia diminui mais lentamente. Resolução das alterações hematológicas. Se houver recidiva, deve-se tentar um segundo curso terapêutico mais prolongado – 40 dias. PREVENÇÃO E CONTROLE Detecção ativa e passiva de casos suspeitos. Centros capacitados para atendimento de doentes. Controle dos vetores – inseticidas. Eliminação dos reservatórios infectados (sacrifício).
Compartilhar