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Universidade do Estado da Bahia Departamento de Ciências Humanas Teoria Geral do Estado Curso de Graduação em Direito Relatório dos textos: I - Sobre a Dicotomia Público/Privado no Debate Moderno II - Sobre a Sociedade Civil na sua Relação com o Estado III - Sobre Estado, Poder e Governo Livro: Estado, Governo e Sociedade: Para uma teoria Geral da Política Autor: Norberto Bobbio Salvador 2016 Relatório dos textos: I - Sobre a Dicotomia Público/Privado no Debate Moderno II - Sobre a Sociedade Civil na sua Relação com o Estado III - Sobre Estado, Poder e Governo Trabalho desenvolvido em cumprimento às exigências de 1ª avaliação da disciplina Teoria Geral do Estado, do curso de Graduação em Direito, da Universidade do Estado da Bahia. I - PARTE: A GRANDE DICOTOMIA: PÚBLICO / PRIVADO 1. Uma Dupla Dicotômica O autor introduz o texto fazendo referencia a duas passagens do Corpus Iuris que definem como idênticas o direito público e o direito privado. Os termos públicos e privado fez ingresso no pensamento politico e social do ocidente, depois se tornou uma das grandes dicotomias da historia. Na linguagem jurídica, a preeminência da distinção entre direito privado e direito publico sobre todas as outras distinções nas diversas épocas da história e induziram um filosofo do direito de orientação neokantiana a considerar o direito publico e privado como duas categorias a priori do pensamento jurídico. Os dois termos são dicotômicos por serem definidos um independente do outro. Na linguagem jurídica a escritura pública remete imediatamente por contraste à escritura privada e vice-versa; na linguagem comum, o interesse público determina-se em relação e em contraste com o interesse privado e vice-versa. 2. As Dicotomias Correspondentes O autor analisa a dicotomia entre privado e publico como base na compreensão do direito como ordenamento das relações sociais destacando os seguintes aspectos: existência de dois tipos de relações sociais entre iguais e entre desiguais. Essa dicotomia reflete a divisão entre aquilo que pertence aos membros singulares e à coletividade. A dicotomia público/privado volta a se apresentar sob a forma de distinção entre a sociedade que atende o interesse público e a sociedade que cuida dos próprios interesses privados, recompondo assim a distinção jusnaturalista entre Estado de natureza e Estado civil, por meio do nascimento de uma economia política, na distinção entre sociedade econômica e sociedade civil. No direito público a lei é uma norma que é posta pelo detentor do supremo poder e é reforçada através da coação, já o contrato usado no direito privado regula acordos bilaterais que ocorrem fora da esfera pública. A superposição das duas dicotomias, privado/público e contrato/ lei, se manifesta na doutrina do mercado do direito natural, em que o contrato é a forma com que os indivíduos singulares regulam suas ações no Estado de natureza, ou seja, onde o poder público não existe enquanto lei. Corresponde as formas clássicas de justiça: A justiça comutativa – é a que preside as trocas, para que possa ser considerada justa. A justiça distributiva – é aquela na qual se inspira a autoridade pública na distribuição de honras e obrigações. Portanto, a justiça comutativa tem lugar entre as partes, e a distributiva como a que tem lugar entre o todo e as partes. 3. Uso Axiológico da Grande Dicotomia A dicotomia público/privado apresenta um significado valorativo, em que, um tende a ser oposto ao outro, uma vez que, quando um obtém um significado valorativo, o outro apresenta um negativo. Um dos eventos que melhor revela a persistência do primado do direito privado sobre o público é a resistência que o direito de propriedade opõe a ingerência do poder soberano. O primado do público significa o aumento da intervenção estatal na regulação coativa dos comportamentos, ou seja, o caminho inverso da emancipação da sociedade civil em relação ao Estado. Esta emancipação esta ligada às consequências históricas do nascimento e crescimento hegemônico da classe burguesa. Com o declínio de ação do Estado e a afirmação dos direitos naturais do indivíduo, o estado foi se reapropriando do espaço conquistado pela sociedade civil. Épocas de progresso, neste contexto do primado, são períodos em que o direito público impõe revanche sobre o direito privado, tal como na idade moderna com o surgimento do grande estado territorial e burocrático. Na sua origem, o direito privado romano foi um direito positivo e histórico, porém foi se tornando um direito natural através de juristas, até transformar-se, novamente, em um direito positivo no século XIX. Ele é defendido como o direito da razão. A supremacia do público sobre o privado parte do princípio de que o todo vem antes das partes, que o individuo deve renunciar a sua autonomia em prol da nação e que cada um age para um bem comum segundo as regras de um grupo dirigente que a representa, seja autocrático ou democrático. 4. O Segundo Significado da Dicotomia A dicotomia público/privado não se confunde com a distinção segundo a qual público se entende aquilo que é manifesto, aberto ao público e privado aquilo que se faz em segredo, ou para um determinado limite de pessoas. O poder político é público no sentido da grande dicotomia, mesmo quando não é público em seu sentido literal. Para Kant todas as razões relativas ao direito de outros homens, cuja máxima não é conciliável com a publicidade são injustas, o significado deste princípio fica claro quando se observa que existem maxiamas que uma vez tornadas públicas suscitam reações que tornariam impossível sua realização. A publicidade das ações de quem detém um poder público, contrapõe-se à teoria dos arcana imperii, dominante na época do poder absoluto. Segundo esta teoria, o poder do príncipe é tão mais eficaz quanto mais oculto. Naturalmente, onde é invisível o poder, também o contra-poder está obrigado a tornar-se invisível. Uma democracia sem publicidade não é possível, uma vez que, é essencial a esta a formação da opinião pública para assegurar que as decisões não se tornem objeto de um singular. II – PARTE: A SOCIEDADE CIVIL 1. As Várias Acepções A expressão Sociedade civil é geralmente empregada como um dos termos da grande dicotomia sociedade civil/Estado, não se pode determinar o seu significado e delimitar sua extensão. O termo sociedade civil é comumente definido de forma negativa, assim tomando o termo Estado como o termo positivo tem-se diversas acepções daquela expressão: Sociedade civil como não-estatal ou pré-estatal: Tem-se em mente que nesta acepção, antes do Estado existem outras formas de associação. Sociedade civil como anti-estatal: nessa acepção tem-se em mente que a sociedade civil é o local onde se manifestam as modificações das relações de dominação, onde ocorre a luta pela emancipação do poder. Sociedade civil = Pós-estatal: Ideal de uma sociedade sem Estado, dissolução do poder político. Para o autor, sociedade civil é o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituições sociais têm o dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão. É ainda na sociedade civil que ocorrem os processos de deslegitimação e relegitimação, surgindo novas áreas de consenso, novas fontes de legitimação. Inclui-se naquela também o fenômeno da opinião pública--dissenso ou consenso em relação às instituições, irradiadas pelosveículos de comunicação consequentemente, em um Estado onde a sociedade civil não expressa sua opinião, esta é totalmente englobada pelo Estado, configurando assim um Estado totalitário. 2. A Interpretação MARXIANA A expressão ”sociedade civil” ligado ao Estado está atrelada a concepção de Marx sob influência de Hegel. Na visão marxista a SOCIEDADE CIVIL é o lugar das relações econômicas, conjunto das relações interindividuais, aquela que se situa fora ou antes do Estado. Em Marx há uma transferência do significado de estado natural para sociedade civil. Para Marx, a sociedade civil é a sociedade burguesa, sociedade de classe que obteve sua emancipação política e arvora a bandeira dos direitos fundamentais do homem, contrapondo-os ao Estado tradicional, esses direitos, no entanto, são direitos que irão proteger a própria classe burguesa fundada sobre o “homem egoísta”. Para Gramsci a sociedade civil pertence à superestrutura é a esfera onde atuam os aparatos ideológicos que buscam exercer a hegemonia e obter o consenso (legitimidade), porém para Gramsci o resultado desse consenso é o surgimento de uma da sociedade oriunda da extinção do Estado. 3. O Sistema Hegeriano Hegel identifica a sociedade civil como a esfera das relações econômicas. A categoria hegeliana da sociedade civil tem seu pensamento pautado nos Princípios de Filosofia do Direito. Permite a construção de um esquema triádico que se contrapõe a dois modelos didáticos aristotélico, baseado na dicotomia família /Estado e o jusnaturalista, baseado na dicotomia estado se natureza/sociedade civil. È controverso estabelecer o genuíno pensamento hegeliano na construção da sociedade civil. A sociedade civil hegeliana é uma figura histórica, esta pertence ao mundo moderno e se encontra subordinada ao Estado. Essa concepção de SOCIEDADE CIVIL se contrapõe a visão dos escritores políticos precedentes, estes concebiam a SOCIEDADE CIVIL como o ente que absorve toda a essência do Estado, para estes escritores o Estado apresenta-se sempre como aquele que dirime conflitos e garante o bem-estar dos cidadãos. . 4. Tradição Jusnaturalista O filósofo Aristóteles cita que a pólis ou cidade, que tem o caráter de comunidade independente e auto-suficiente, ordenada à base de uma constituição, fez com que fosse considerada ao longo dos tempos como a origem histórica do Estado. Onde o Estado é o prosseguimento natural da sociedade familiar, de sociedade doméstica ou família, já para o modelo hobbesiano (jusnaturalista), onde o Estado é o oposto do estado natureza, na qual este último é constituído por indivíduos livres e iguais. A diferença é que enquanto a societas civilis do modelo aristotélico é sempre uma sociedade natural, no sentido de que corresponde perfeitamente à natureza social do homem, esta mesma societas civilis no modelo hobbesiano é uma sociedade instituída ou artificial. A dicotomia família/Estado, que é o ponto de partida do modelo Aristotélico, com a dicotomia Igreja/Estado, fundamental na tradição do pensamento cristão. 5. Sociedade Civil como Sociedade Civilizada O progresso da sociedade onde a humanidade passou e continua a passar do estado selvagem dos povos caçadores sem propriedade e sem Estado ao estado bárbaro dos povos que iniciavam na agricultura e introduziram os primeiros germes de propriedade, ao estado civil caracterizado pela instituição da propriedade, do comércio e do Estado. Segundo o escritor Adam Ferguson, no estado de natureza aparecem os barbáries e no estado civil aparece a elegância, que para ele dizia ser cível não porque se diferencia da sociedade doméstica ou da sociedade natural, mas porque se contrapõe as sociedades primitivas. Para Hegel, os Estados antigos, tanto os despóticos quanto as repúblicas gregas, não possuíam uma sociedade civil. Para Rousseau no estado natural o homem ainda não vive em sociedade, o homem é feliz com seu estado, com a instituição da propriedade privada que perverte o homem e estimula instintos egoístas, com a invenção da agricultura e da metalurgia tem-se o domínio do homem sobre o homem, é este estado que Rousseau denomina sociedade civil (mas com uma conotação negativa), no entanto, a essa sociedade é possível conter o embrião da sociedade política diferente do estado de natureza, mas é dessa sociedade civil que o homem deve sair para instituir a república fundada sobre o contrato social. 6. O Debate Atual O significado predominante de sociedade civil foi o de sociedade política ou Estado. Com Hegel, a sociedade Civil não compreende mais o Estado, representa apenas um momento no processo de formação do Estado, com Marx a sociedade civil compreende unicamente as relações econômicas, esta sendo o momento que funda o Estado. No debate atual a contraposição permaneceu, onde a sociedade civil é enteado do Estado entrou de tal maneira na prática cotidiana, que necessita de um esforço para se convencer que, durante séculos, a mesma expressão foi usada para designar aquele conjunto de instituições e de normas que hoje constituem exatamente o que se chama de Estado, onde ninguém poderia mais chamar de sociedade civil. A socialização do Estado através do desenvolvimento das várias formas de participação nas opções políticas, do crescimento das organizações de massa que exercem direta ou indiretamente algum poder político, na qual a expressão “estado social” poder ser entendida não somente no Estado que permeou a sociedade, mas também no sentido do Estado permeado pela sociedade. É com Maquiavel que o Estado deixa de ser entendido como Estado-sociedade e passa a Estado-máquina, como máximo poder que se adquire e conserva por meio de um aparato. Essa contraposição entre SOCIEDADE CIVIL e Estado desenvolve-se acentuadamente com o nascimento da sociedade burguesa, em que uns se ocupam da “riqueza das nações” e outros das instituições políticas. III - PARTE: ESTADO, PODER E GOVERNO. 1. Para o Estudo do Estado Para o autor as duas fontes principais para o estudo do Estado são a história das instituições politicas e a história das doutrinas politicas. . Diante disso, os ordenamentos de um determinado sistema político tornaram-se conhecidos através da reconstrução, às vezes da deformação ou da idealização, que deles fizeram os escritores. Por exemplo, Hobbes foi identificado com o Estado absoluto limitado, Rousseau com a democracia e Hegel com a monarquia constitucional. O imenso campo de investigação do Estado está divido entre Duas disciplinas didaticamente distintas: a filosofia politica e a ciência politica. As três características da filosofia e o que as diferencia das da ciência política: valor, justificativa e impossibilidade de falsificação. Na filosofia política são compreendidos três tipos de investigação : a) da melhor forma de governo; b) do fundamento do estado, ou do poder político com a consequente justificação da obrigação política; c) da essência da categoria do político ou da politicidade, com a prevalente disputa sobre a distinção entre ética e política. Por ciência política entende-se hoje uma investigação no campo da vida política capaz de satisfazer três condições : a) o princípio da verificação como critério de aceitabilidade dos resultados; b) o uso de técnicas da razão que permitam dar uma explicação causal em sentido forte ou mesmo em sentido fraco do fenômeno investigado; C) a abstenção de juízos de valor (valoratividade). Além dos campos da filosofia e da ciência política, existe a distinção pelos pontos de vista jurídico e sociológico. Durante muito tempo, o Estado foi objeto dos juristas, mas com o surgimento recente de uma nova ciência, passou a ser estudado também pela sociologia. Jellinek e Weber sustentam que tal distinção é necessária,mas Kelsen (que reduziu o Estado a ordenamento jurídico) entende que não. Teorias meramente jurídicas do Estado foram abandonadas na transformação do Estado de direito em Estado social. Duas teorias sociológicas do Estado: a marxista e a funcionalista. Diferenças no conceito de ciência, no método e principalmente na colocação do Estado no sistema social. O autor explica cada uma delas e as diferenças no tema: ruptura da ordem ou a ordem, integracionalista ou conflitualista. A concepção marxiana da sociedade distingue em cada sociedade histórica, dois momentos : a base econômica e a superestrutura. As instituições políticas (o Estado) pertencem ao segundo momento. Marxista a base econômica é sempre determinante em última instância Ao contrário, a concepção funcionalista concebe o sistema global em seu conjunto como diferenciado em quatro subsistemas (patter-maintenance, goal- attainment, adaptation, integration) desempenhando funções essenciais para a conservação do equilíbrio social e por isso são interdependentes. Ao subsistema político cabe a função goal-attainment, o que equivale a dizer que a função política é apenas mais uma no conjunto de instituições o Estado, é uma das quatro funções fundamental de todo sistema social. A família foi considerada por Aristóteles como primeira forma embrionária e imperfeita da pólis (cidade-estado grega). A relação entre sociedade política e as sociedades particulares é uma relação entre o todo e as partes, na qual o todo, o ente englobador, é a pólis, e as partes englobadas são a família e as associações. Com emancipação da sociedade civil-burguesa no sentido marxiano inverte-se as relações entre instituições políticas e Estado e pouco a pouco a sociedade nas suas várias articulações torna-se o todo, do qual o Estado, é considerado o restritivamente como aparato coativo do qual um setor da sociedade exerce o poder sobre os demais. Os escritores políticos trataram o problema do estado principalmente do ponto de vista dos governantes , seus temas essenciais são a arte de bem governar, as virtudes ou habilidades ou capacidades que exigem do bom governante, as várias formas de governo, a distinção entre o bom e o mau governo, referem apenas a um dos dois sujeitos da relação, aquele que está no alto e que se torna deste modo, o verdadeiro sujeito ativo da relação. 2. O Nome e a Coisa É fora de discussão que a palavra Estado se impôs através da difusão e pelo prestígio do príncipe de Maquiavel. A cunhagem do termo Estado, que englobando república e monarquia, é um gênero recente. Mas existe um problema de sentido amplo e estrito quanto ao termo, ele serve apenas para os modernos Estados nacionais ou também para organizações mais antigas? A favor do sentido estrito, o fato dos Estados nacionais serem únicos e recentes, a favor do sentido amplo o fato de as obras clássicas ainda servem para os Estados modernos, tanto que é fonte de referência constante aos pensadores da época. Existem várias teses sobre a origem do Estado como dissolução das famílias em favor de algo mais amplo para se proteger e sobreviver. Alguns autores preferem o termo Sistema Político ao invés de Estado, devido a um sentido pejorativo que ele teria incorporado. Reduz-se agora o conceito de Estado ao de política e o de política ao de poder. O problema do nome Estado não seria tão importante se a introdução do novo termo nos primórdios da idade moderna não tivesse ido ao encontro da nova realidade do Estado, que agora era precisamente moderno, a ser considerado como uma forma de ordenamento tão diverso dos ordenamentos precedentes que não poderia mais ser chamado com os antigos nomes. Quem considera que se pode falar em Estado apenas a propósito dos ordenamentos políticos de que trata Bodin, Hobbes ou Hegel, comporta-se mais com os que veem a descontinuidade do que a continuidade mais as diferenças do que as analogias. Nos historiadores das instituições, que descreveram a formação dos grandes estados territoriais a partir da dissolução e transformação da sociedade medieval, existe uma tendência a sustentar a solução de continuidade entre os ordenamentos da antiguidade ou da idade intermediária e os ordenamentos da idade moderna, e em consequência a considerar o Estado como uma formação histórica que não só não existiu sempre, como nasceu numa época relativamente recente. O Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre laços de parentesco e da formação de comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência interna (o sustento) e externas (a defesa). Para Engels o Estado nasce da dissolução da sociedade gentílica fundada sobre o vinculo familiar e o nascimento do estado assinala a passagem do estado de barbárie à civilização, mas distingue-se pela interpretação exclusivamente econômica que dá a este evento, para ele, na comunidade primitiva vigora o regime de propriedade coletiva dos bens, com o nascimento da propriedade individual, nasce a divisão do trabalho, e com esta, a divisão da sociedade em classes, a dos proprietários e a dos que nada tem. Com a divisão da sociedade em classes nasce o poder político, O Estado, cuja função é manter o domínio de uma classe sobre a outra ,recorrendo inclusive a força 3. O Estado e o Poder Aquilo que estado e política tem em comum é a referência ao fenômeno do poder. Não há teoria política que não parta de alguma maneira, direta ou indiretamente de uma definição de poder e de uma análise do fenômeno do poder. A teoria do estado apoia-se sobre a teoria dos três poderes e da relação entre eles. O processo político é ali definido como a formação, a distribuição e o exercício do poder. Na filosofia política o poder sob três aspectos, com três teorias fundamentais: substancialista, subjetivista e relacional. Em Hobbes, poder como um bem, inato como força ou inteligência ou adquirido, como riqueza. Em Locke, como capacidade de um sujeito, como o fogo que tem o poder de fundir o metal. Em Dahl, influência é uma relação entre atores, que induz o comportamento do outro de forma que de modo contrário não se realizaria. Ainda para Dahl, o poder de um é a negação da liberdade do outro e vice versa. A tipologia clássica, transmitida ao longo dos séculos, é a que se encontra na Política de Aristóteles, que distingue três tipos de poder com base na esfera em que é exercido: o poder dos pais sobre os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre os governados. A tripartição das formas de poder em paterno, despótico e civil é um dos tópicos da teoria política clássica e moderna. Locke distingue-se de Aristóteles pelo critério de distinção no que diz respeito ao diverso fundamento dos três poderes. O poder do pai tem fundamento natural, na medida em que nasce da própria geração; o senhorial é o efeito do direito de punir quem se tornou culpado de um delito grave, e portanto, passível de uma pena igualmente grave como a escravidão; o poder civil está fundado sobre o consenso expresso ou tácito daqueles aos quais é destinado. O poder político vai-se assim identificando com o exercício da força e passa a ser definido como aquele poder que, para obter efeitos desejados, tem o direito de se servir da força. Vários critérios foram adotados para distinguir as várias formas de poder. Poder econômico é aquele que se vale da posse de certos bens numa situação de escassez, para induzir os que não possuem a adotar certa conduta. Na posse dos meios de produção isto representa grande fonte de poder. →Poder ideológico é aquele que se vale da posse de certas formas de saber para exercer uma influência sobre o comportamento alheio e induzir outros a realizar ou nãouma ação. →Poder político é o que esta em condições de recorrer em última instância ao uso da força (e está em condições de fazê-lo por que detém o monopólio). Estas três formas de poder contribuem para manter sociedades desiguais, divididas entre fortes e fracos (com base no poder político); entre ricos e pobres (com base no poder econômico) e em sábios e ignorantes (com base no poder ideológico). A diversa relação entre os três poderes estão entre os traços mais característicos das grandes correntes do pensamento politico e da filosofia da história. A concepção do primado da política sobre os demais poderes, corresponde a doutrina da necessária imoralidade ou amoralidade da ação política que deve visar o próprio fim, sem sentir vinculada ou embaraçada por contemporização de outra natureza : primado que se reflete na figura do príncipe maquiavélico, com relação ao qual os meios empregados para vencer ou conquista o Estado são sempre, seja eles quais forem, “julgados honrosos ou por todos louvados”. 4. Fundamento do poder Quanto ao poder político o problema de sua justificação nasce do questionamento se basta sua força para fazê-lo aceito por aqueles sobre os quais se exerce, para induzir seus destinatários a obedecê-lo. A consideração segundo a qual o supremo poder que é o poder político, deva também ter uma justificação ética, deu lugar a formulação de princípios de legitimidade, isto é, dos vários modos com os quais se procurou dar a quem detém o poder, uma razão de comandar, e a quem suporta o poder, uma razão de obedecer, dando a classe que detém o poder base moral e legal, isto por meio de duas fórmulas: a que faz derivar o poder da autoridade de Deus e a que o faz derivar da autoridade do povo. Em relação às diversas maneiras de considerar o problema do Estado , deve- se mencionar uma contraposição que deriva da diversa posição que os escritores assumem com respeito à relação política fundamental (governantes- governados, soberano - súditos ou Estado - cidadãos) relação que é geralmente considerada como relação entre superior e inferior. Os escritores políticos trataram o problema do estado principalmente do ponto de vista dos governantes , seus temas essenciais são a arte Os princípios de legitimidade podem ser distinguidos pelo menos seis deles, através de duplas antitéticas de três grandes princípios unificadores: a vontade, a natureza e a história: →Vontade: numa concepção descendente do poder a autoridade ultima é a vontade de Deus, numa concepção ascendente a autoridade última é a vontade do povo. →Natureza: natureza como força originária (segundo a prevalente concepção clássica do poder); e natureza como ordem racional pela qual a lei da natureza se identifica com a lei da razão (segundo prevalente interpretação jusnaturalista moderna). Observação: 1. interpretação – da origem a idéia de que existem naturalmente forte e fracos, sábios e ignorantes , etc. 2. interpretação – significa ao contrário fundar o poder sobre a capacidade do soberano de identificar e aplicar leis naturais, que são as leis da razão. →História: tem duas dimensões de legitimação do poder , a passada ou a futura. A referência à história passada institui como princípio de legitimação a força da tradição,(critério de legitimação do poder constituído) enquanto que a referência a história futura constitui um dos critérios para a legitimação do poder que está se constituindo . Os três tipos puros ou ideais de poder legítimo são segundo Weber, o poder tradicional, o poder racional-legal e o poder carismático, e representam três tipos diversos de motivação, no poder tradicional, o motivo da obediência é a crença na sacralidade do soberano, sacralidade esta que deriva da força daquilo que dura há tempo (tradição); no poder racional a obediência deriva da crença na racionalidade do comportamento conforme a lei; no poder carismático deriva da crença nos dotes extraordinários do chefe. 5. Estado e direito Desde que o problema do Estado passou a tomar conta os juristas, o Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos : o povo, o território e a soberania. Por Estado em uma definição atualizada e corrente , “é um ordenamento jurídico destinado a exercer o poder soberano sobre um dado território, ao qual estão necessariamente subordinados os sujeitos a ele pertencentes.” (Mortati) A relação entre direito e poder é apresentado, desde a antiguidade pela pergunta : é melhor o governo das leis ou dos homens ? Platão afirma em sua distinção entre bom e mau governo que “onde a lei é súdita dos governantes e privada de autoridade, vejo a ruína da cidade, e de onde ao contrário, a lei é senhora dos governantes e os governados seus escravos, vejo a salvação da cidade...” Aristóteles por sua vez afirma que a lei não tem paixões, e a supremacia da lei com respeito ao juízo dado caso por caso pelo governante repousa em sua generalidade e constância. A ideia recorrente do governo das leis como superior ao governo dos homens pode parecer em contraste com o princípio que corresponde ao fato de o príncipe esta livre das leis (princeps é legibus solutus). O princípio não quer dizer que o poder do príncipe não tenha limites : as leis a que se refere o princípio são leis positivas, ou seja, as leis postas pelo próprio soberano, isto não exclui que esteja submetido enquanto homem, como todos os homens a leis naturais e divinas. Para alguns o poder do rei deve ser limitado não apenas pela existência de leis superiores, mas também pela existência de centros de poder legítimos que presentes Estado (clero, nobreza, as cidades). Sendo assim o respeito às leis superiores serve para distinguir o reino da tirania, e a presença de corpos intermediários serve para distinguir a monarquia do despotismo. Nenhum Estado está só. Todo Estado existe ao lado de outros Estado, em uma sociedade de Estados. A soberania destes tem duas faces, uma voltada para o interior, outra para o exterior, correspondentemente vai ao encontro de dois tipos de limites : os que derivam das relações entre governantes e governados, e são limites internos, e os que derivam das relações entre Estados. E são limites externos. Mas ao processo de unificação interior, corresponde um processo de emancipação em relação ao exterior, pois quanto mais consegue vincular- se aos súditos, mais consegue tornar-se independente. 6. Formas de governo As tipologias de formas de Estado são tão variadas que o autor considera inútil a exposição. Mas dois critérios são considerados principais, a histórica e a expansão sobre a sociedade. A histórica propõe a seguinte seqüência: Estado feudal, estamental, absoluto e representativo. Considera pontos importantes nessa trajetória o surgimento dos direitos naturais, que vai não apenas se contrapor ao poder do Estado como será protegido por ele; a evolução dos partidos, que se formam fora do aparelho estatal, sendo personagem no lugar dos indivíduos e o compromisso entre as partes e não a decisão da maioria, evitando o padrão onde quando um grupo ganha outro perde. Sobre a expansão do Estado sobre a sociedade, traça novamente os vetores do poder político, econômico e ideológico, sendo também considerados neste último o religioso e o doutrinal. Um Estado intervencionista avança sobre o poder econômico, o confessional sobre o religioso, o totalitário sobre ambos. O Estado liberal ou de direito utiliza-se do monopólio da força para assegurar a livre circulação de idéias e mercadorias. As tipológicas clássicas das formas de governo são três: a de Aristóteles, a de Maquiavel e a de Montesquieu Aristóteles atribui à classificação com base no número dos governantes , desta forma delimita três tipos : monarquia(ou governo de um), aristocracia (ou governo de poucos) e democracia (ou governo de muitos). Com a anexa duplicação das formas corruptas, em que monarquia se degenera em tirania; aristocracia em oligarquia e politica (denominação da boa forma do governo de muitos) em democracia. Maquiavel as reduz a duas : monarquia e república correspondendo no gênero das repúblicas tanto as aristocráticas quanto as democráticas pois segundo ele a base essencial da diferença está entre o governo de um só e o governo de uma assembleia (sendo a distinção entre assembleia de otimates e uma assembleia popular, menos relevante). Montesquieu retorna a tricotomia, porém de forma diversa da aristotélica, classifica da seguinte forma: monarquia, república e despotismo. É diverso pois combina a distinção analítica de Maquiavel com a distinção axiológica tradicional. Além disso acrescenta um critério com base nos princípios que induzem o sujeito a obedecer : a honra nas monarquias; a virtú nas repúblicas e o medo no despotismo (que se apresenta como monarquia degenerada). Kelsen considera superficial a distinção aristotélica fundada sobre o elemento numérico, e sustenta que a única forma de distinguir uma forma de governo da outra consiste em individualizar o modo pelo qual uma constituição regula a produção do ordenamento jurídico. 7. As Formas de Estado Para o autor, pode-se distinguir as diversas formas de Estado à base de dois critérios principais, o histórico e o relativo à maior ou menor expansão do Estado em detrimento da sociedade. À base do critério histórico, a tipologia mais acreditada junto aos historiadores das instituições propõe a seguinte sequência: Estado feudal, Estado comercial, Estado absoluto, Estado representativo. Para Mosca esta divisão se dava em duas esferas e são elas: o Estado feudal, caracterizado pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais; e o Estado burocrático, caracterizado pela progressiva concentração e pela simultânea especialização das funções do governo. Como forma intermediária entre o Estado feudal e o Estado absoluto, o Estado estamental distingue-se do primeiro pela gradual institucionalização dos contra- poderes e pela transformação das relações que passou de pessoa a pessoa, para ralação entre instituições. Distingue-se da segunda pela presença da contraposição de poderes em continuo conflito entre si, que o advento da monarquia absoluta tende a suprimir. Com o advento do Estado representativo- sob forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, tem início uma quarta fase da transformação do Estado e dura até agora (a saber : 1º fase- feudal; 2º fase- estamental; 3º fase-Absoluto; 4º representativo). O Estado representativo se afirma, ao menos num primeiro tempo como resultado do compromisso entre o poder do príncipe (cuja legitimidade é a tradição) e o poder dos representantes do povos (cuja legitimidade é o consenso). A diferença do Estado representativo diante do Estado estamental está no fato de que a representação por categorias ou corporativa (estamentos) é substituída pela representação dos indivíduos singulares aos quais se reconhecem os direitos políticos. A última fase da sequência histórica há pouco descrita não exaure certamente a fenomenologia das formas de Estado hoje existentes, pelo contrário, dela escapam a maior parte dos Estados hoje constituem a comunidade internacional. Mesmo as ditaduras militares, os Estados dominados por oligarquias restritas não controladas democraticamente, os Estados despóticos governados por chefes irresponsáveis, todos prestam homenagem à democracia representativa, ou justificando o próprio poder como temporariamente necessário e superar um período transitório de anarquia, ou como imperfeita aplicação dos princípios sancionados por constituições solenemente aprovadas. Os Estados que escapam, inclusive em linha de princípio, da fase acima descrita, são os Estados socialistas, a começar do Estado-guia, a União Soviética. A análise dos Estados com partido único onipresente e onipotente, deu origem à figura do Estado total ou totalitário. Enfim, não se deve esquecer a interpretação de Estado soviético como despotismo oriental (Wittfogel) , seja a interpretação de despótica, à visão aristotélica (governante impera sobre os súditos assim como o senhor sobre seus escravos) ou a maquiaveliana (o principado governado por um príncipe onde todos os demais são servos). Democracia representativa sistema multipartidário Estados socialista sistema monopartidário No Estado totalitário toda a sociedade está resolvida no Estado, na organização do poder político que reúne em si o poder ideológico e econômico e representa um caso-limite, uma vez que o Estado em suas várias acepções, viu-se sempre diante do não-Estado na dupla dimensão da esfera religiosa e econômica. A presença do não-Estado, em uma das duas formas, ou nas duas, sempre constituiu limite de fato e de princípio, à expansão do Estado. E desta forma torna-se uma instituição com a qual o Estado deve sempre ajustar contas. A principal consequência do primado do não-Estado sobre o Estado, é portanto uma concepção meramente instrumental do Estado, caracterizando-se pelo poder coativo a serviço dos detentores de poder econômico. Do ponto de vista do Estado, as relações com o não-Estado variam segundo a maior ou menos expressão do primeiro em direção ao segundo. E sob este aspecto podem ser distinguidos dois tipos ideais: o Estado que assume as tarefas que o não-Estado na sua pretensão se superioridade reivindica para si, e o Estado indiferente neutro, desta concepção, surge na esfera religiosa a distinção entre Estado confessional, e Estado laico e na esfera econômica as figuras d Estado intervencionista e abstencionistas. Tanto a figura do Estado confessional como intervencionista assumem o papel de Estados eudemonológicos, isto é, que propõe como fim a felicidade dos seus próprios súditos. Por sua vez o Estado laico e abstencionista dão origem ao Estado liberal que se opõe polemicamente ao eudemonológico, e é pela esfera religiosa designada como Estado agnóstico, e também definido com Estado de direito, não tendo outro fim senão o de garantir juridicamente o desenvolvimento o mais autônomo possível das duas barreiras fronteiriças, ou seja, representa a mais larga expressão de liberdade religiosa e econômica e são consequências do movimento histórico iluminista, dando origem ao processo de secularização (emancipação religiosa) e liberalização (emancipação econômica). 8. O Fim do Estado É conhecida a tese de Engels segundo a qual o Estado assim como teve uma origem, terá seu fim, na medida em que desaparecerem as causas que o produziram. A história do pensamento político está dividida pela contraposição entre concepção positiva e negativa do Estado. A concepção negativa representa um pressuposto do fim do Estado. A interpretação positiva que acredita no Estado como instituição favorável ao progresso civil, crer não no fim , mas não gradual extensão das instituições estatais até a formação do Estado universal (naturalmente está ideia corresponde a uma concepção negativa de não- Estado). Existem duas concepções negativas do Estado: como mal necessário ou como mal não necessário e apenas a segunda conduz a ideia de fim do Estado. A concepção negativa do Estado como mal necessário divide-se sob duas formas: não-Estado-igreja e não-Estado-sociedade. A primeira é característica do primitivo pensamento cristão, em que o Estado se faz necessário pois a massa é perversa e de ser contida pelo medo .Para além da visão religiosa, a concepção negativa do Estado surge na corrente do pensamentopolítico realista. O Estado como um mal, mas necessário, nenhuma destas doutrinas desemboca no ideal de fim do Estado. Por isso, mesmo em sua negatividade, o Estado pode e deve continuar a sobreviver. A mais popular das teorias que sustentam a factibilidade ou mesmo o advento necessário de uma sociedade sem Estado é a marxiana (engelsina) em que o Estado nasce da divisão de classes contrapostas por efeito da divisão do trabalho, com o objetivo de manter o domínio da classe que está em cima, sobre a que esta embaixo, mas quando em seguida à conquista do poder por parte da classe universal, desaparece a sociedade dividida em classes, desaparece também a necessidade de Estado. Além desta pode-se enumerar pelo menos três teorias: a que se refere à sociedade sem Estado de origem religiosa, pregando o retorno às fontes evangélicas, a uma da não violência e da fraternidade universal, afirmando que uma comunidade que vive em conformidade com preceitos evangélicos, não precisa de instituições políticas. Além desta apresenta-se a concepção tecnocrática, segundo a qual na sociedade industrial, não será mais necessário a espada de César, e esta muito ligada ao messianismo, segundo a qual uma sociedade sem Estado, não é pensável prescindindo-se esta ideia. E por fim o ideal de sociedade sem Estado que deu origem a uma verdadeira corrente de pensamento político, o anarquismo levando as últimas consequências o ideal da libertação do homem de toda forma de autoridade, e vendo o Estado o máximo instrumento de opressão do homem sobre o homem, sonha por isso com uma sociedade sem Estado nem leis, fundada na espontaneidade da cooperação voluntária dos homens que seriam livres entre si.
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