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04. Água na madeira Francisco Tarcísio Moraes Mady Engenheiro Florestal, MsC. www.conhecendoamadeira.com UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Faculdade de Ciências Agrárias Departamento de Ciências Florestais CURSO DE FÍSICA DA MADEIRA Introdução FÍSICA DA MADEIRA 2 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A água corresponde a maioria da massa de células vegetais. Cada célula contém um grande vacúolo armazenando líquido. Constitui de 80-95% da massa em tecidos vegetais em crescimento. A madeira, entretanto, por se constituir de células mortas, possui um conteúdo hídrico menor, em torno de 35-75% de água no alburno e o cerne menos ainda que isso. A água é o melhor solvente natural e é responsável pela maioria das reações bioquímicas nas células. FÍSICA DA MADEIRA 3 A água na madeira FÍSICA DA MADEIRA 4 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A água existente na madeira pode ser encontrada em três condições: 1. Água de constituição – é a que está em combinação com os constituintes da madeira. Não pode ser eliminada sem que se destrua o material, portanto, não é eliminada na secagem. Se eliminada, provoca a carbonização do material. 2. Água de impregnação – é o volume de água impregnado ou infiltrado na parede celulósica das células lenhosas. Este volume de água altera o volume da própria madeira. As paredes são hidrófilas. Quando a água saturou completamente as paredes das células, diz-se que a madeira atingiu o teor de umidade denominado ponto de saturação do ar. 3. Água livre ou água de capilaridade – depois de impregnar completamente as paredes celulares, a água começa a preencher os vazios capilares. Essa água não provoca alteração no estado ou no comportamento do material, apenas no seu peso. Água na madeira FÍSICA DA MADEIRA 5 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Estado Localização Designação Líquida Cavidades celulares e intercelulares Livre Vapor de água Paredes das células Saturação Constituinte químico (+celulose+hemicelulose+ lignina) Paredes das células Constituição Influência da água na madeira FÍSICA DA MADEIRA 6 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Após abatida um grande volume de água encontra-se retido na madeira, o que a torna úmida. As propriedades da madeira, quando úmida, são muito diferentes de quando seca: Propriedades Úmida Seca Mecânicas Menor resistência a aplicação de forças Aumenta a resistência Resistência a xilófagos Mais suscetível a fungos, bactérias e outros organismos A ausência de umidade é um fator limitante a muitos xilófagos. Condutividade térmica A água conduz calor, logo a madeira úmida propaga calor Age como isolante térmico, devido às pequenas massas de ar que aprisiona Propriedades acústicas As ondas sonoras se propagam com mais resistência Melhor propagação do som Ponto de saturação das fibras FÍSICA DA MADEIRA 7 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Quando toda a água livre da madeira foi retirada, só restando a água de adesão, a umidade atinge níveis em torno de 30%. Neste intervalo diz-se que a madeira atingiu o Ponto de Saturação das Fibras (PSF). A partir deste ponto começa a ser retirada a água de impregnação, que está na parede das células. Além da redução em seu peso a madeira se contrai, reduzindo seu volume. É importante, pois a medida que passa a perder mais água podem surgir os defeitos da madeira, como rachaduras, empenamentos, etc. Na prática a madeira deve apresentar teor de umidade de acordo com a umidade do lugar onde ela será comercializada. FÍSICA DA MADEIRA 8 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Teor de umidade FÍSICA DA MADEIRA 9 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A determinação do teor de umidade é feito em corpos de prova pesando-se as amostras na condição de umidade em que se encontram (Pu) e na condição de peso seco em estufa (Ps) – aferido após duas pesagens com peso constante: Tu = Onde: Tu = Teor de umidade Pu = Peso úmido Ps = Peso seco em estufa Pu-Ps Ps . 100 Exemplo Madeira de Brachynema ramiflora Amostra úmida: 516 g Amostra seca: 324 g Tu = [(516-324)/324].100 Tu = 0.59.100 Tu = 59,25 % FÍSICA DA MADEIRA 10 Rachadura radial em disco de madeira: As ligações entre as células do parenquima radial são as primeiras a sofrer colapso quando ocorre perda de umidade. Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Umidade de equilíbrio FÍSICA DA MADEIRA 11 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A madeira é um material higroscópico. Higroscopicidade é a capacidade de absorver água e mantê-la na sua estrutura, dentro da parede celular. Se uma madeira verde é colocada em uma estufa a alta temperatura, após um certo tempo, toda água é evaporada (água capilar e de impregnação). A madeira perde peso e volume (contrai) e o teor de umidade chega a zero. A umidade da madeira tende a equilibrar-se com a umidade do ambiente. Com o aumento da temperatura a pressão do vapor d'água aumenta e admite mais umidade. A madeira passa a perder umidade, portanto. Mas este fenômeno é reversível. Umidade de equilíbrio FÍSICA DA MADEIRA 12 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Retirando-se a madeira da estufa e colocando-a em contato com o ambiente, ela volta a adquirir água. A água é retirada do ambiente, ou seja, do vapor de água que existe no ar. A madeira é portanto higroscópica, adquire água do ambiente e, com a aquisição de água aumenta seu peso e seu volume (incha). O teor de umidade em que a madeira se encontra em equilíbrio com a umidade relativa e a temperatura do ar é chamada de Umidade de Equilíbrio da Madeira. Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Cidade Umidade relativa do ar* (%) Temperatura (0C) * Teor de umidade de equilíbrio da madeira** (%) Cidade Umidade relativa do ar* (%) Temperatura (0C) * Teor de umidade de equilíbrio da madeira** (%) Aracaju 78,2 26,0 15,2 Manaus 83,1 26,7 16,9 Belém 86,5 26,0 18,4 Porto Alegre 76,0 19,5 14,8 Belo Horizonte 76,5 21,1 14,9 Porto Velho 84,8 25,1 17,7 Brasília 67,6 21,2 12,5 Recife 81,2 25,5 16,2 Cuiabá 73,1 25,6 13,7 Rio Branco 83,8 24,9 17,3 Curitiba 80,2 16,5 16,2 Rio de Janeiro 79,1 23,7 15,6 Florianópolis 82,2 20,3 16,8 Salvador 79,5 25,2 15,6 Fortaleza 80,2 26,6 15,8 Santos 79,9 21,3 15,9 Goiânia 65,7 23,2 12,0 São Luis 78,4 26,1 15,2 João Pessoa 80,6 26,1 15,9 São Paulo 78,4 19,3 15,5 Macapá 82,8 26,6 16,8 Teresina 77,5 26,5 14,9 Maceió 79,0 24,8 15,5 Vitória 81,1 24,2 16,2 Teor de umidade de equilíbrio da madeira (seca) em função da umidade relativa e da temperatura Fontes: * Instituto Nacional de Meteorologia - INEMET ** Calculado de acordo com ASTM D 4933-91 – Standard Guide for Moisture Conditioning of Wood and Wood-Base Materials. Teor de umidade FÍSICA DA MADEIRA 14 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fazendo-se a secagem ao ar livre, começa a evaporar a água de impregnação. Depois de algum tempo, após exposição ao ar, se não houver mais alteração no peso da madeira, diz-se que ela está seca, em geral com teor de umidade entre 13-18%. O teor de umidade convencionalmente fixadoem 15% é chamado teor de umidade normal (ou normalizado). Madeira verde – teor de umidade acima do ponto de saturação do ar (PSA), normalmente >30% Madeira semi-seca – 23-30% (PSF) Madeira comercialmente seca – 18-23% Madeira seca ao ar – 13-18% Madeira seca em estufa - <13% Retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 15 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A variação no teor de umidade provoca alterações dimensionais na madeira: Retratilidade. É a capacidade de alteração de volume e dimensões quando seu teor de umidade varia entre o ponto de saturação do ar e a condição seca em estufa. Resultado da absorção de água pelas paredes celulósicas do tecido lenhoso. A retratilidade é a capacidade de contração, inchamento ou “trabalho” que a madeira apresenta, conseqüência da capacidade de reter/perder água nas paredes celulósicas do tecido (tensões: pressão hidrostática negativa em dias quentes). Efeitos da retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 16 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Deformações em peças de madeira (seção transversal) ∆L= .100 L – L’ L L L’ L Contração e inchamento FÍSICA DA MADEIRA 17 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Retratilidade volumétrica. Pode ser aferida da seguinte forma: Contração volumétrica total - variação de volume verde (Vv) para o volume completamente seco em estufa (Vs): Ct = [(Vv - Vs)/Vs].100 Contração volumétrica de seca ao ar (Vh) para seca em estufa(Vs) Ch = [(Vh - Vs)/Vs].100 Retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 18 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Retratilidade linear- considerando a madeira como tridimensional, a retratilidade linear deve ser examinada no sentido tangencial, radial e axial. A retratilidade axial é quase nula, a tangencial é o dobro da radial e a volumétrica é a soma das anteriores. A retratilidade é maior no sentido tangencial das peças de madeira intermediária no sentido radial e muito pouco no sentido axial. Este comportamento anisotrópico da madeira causa tensões internas e diferenciadas: empenos, rachaduras e fendas. FÍSICA DA MADEIRA 19 Para Garapa: Usando: Ct = [(Vv - Vs)/Vs].100 Ct = {[(199,829 x 19,981 x 1,934) – (199,313 x 19,099 x 1,773)] / Vs}.100 Ct = {[7722,0428 - 6749,8175] / 6749,8175}.100 Ct = {[972,2253] / 6749,8175}.100 Ct = {0,1440372}.100 Ct = 14,4 % - Média Comprimento verde (cm) Comprimento seca (cm) Longitudinal Tangencial Radial Longitudinal Tangencial Radial Garapa 199,829 19,981 1,934 199,313 19,099 1,773 Tanimbuca 200,072 19,999 1,986 199,969 19,412 1,901 Exemplo com tábuas de 200 x 20 x 2 cm (aproximadamente). Medidas tomadas com trena digital Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas FÍSICA DA MADEIRA 20 Para Tanimbuca: Usando: Ct = [(Vv - Vs)/Vs].100 Ct = {[(200,072 x 19,999 x 1,986) – (199,969 x 19,412 x 1,901)] / Vs}.100 Ct = {[7946,4624 - 7379,2984] / 7379,2984}.100 Ct = {[1196,6449] / 7379,2984}.100 Ct = {0,162162}.100 Ct = 16,2 % - Alta Comprimento verde (cm) Comprimento seca (cm) Longitudinal Tangencial Radial Longitudinal Tangencial Radial Garapa 199,829 19,981 1,934 199,313 19,099 1,773 Tanimbuca 200,072 19,999 1,986 199,969 19,412 1,901 Exemplo com tábuas de 200 x 20 x 2 cm (aproximadamente). Medidas tomadas com trena digital Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas FÍSICA DA MADEIRA 21 Axial Conteúdo de umidade % V a ri a çã o d im e n si o n a l Curvas de contração para madeira. Panshin and De Zeeuw. Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas FÍSICA DA MADEIRA 22 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas FÍSICA DA MADEIRA 23 Cumarurana Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 1,1 Muito pesado Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 4,9 Médio Tangencial 7,3 Médio Volumétrica 12,5 Médio Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,61 Médio Açacu Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 0,4 Leve Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 3,2 Baixo Tangencial 4,9 Baixo Volumétrica 8,6 Baixo Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,32 Baixo Propriedades Físicas de espécies amazônicas Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fonte: Fichas de características de madeiras brasileiras. IPT FÍSICA DA MADEIRA 24 Propriedades Físicas de espécies amazônicas Acapu Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 0,91 Pesado Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 4,9 Médio Tangencial 7,1 Baixo Volumétrica 14 Médio Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,67 Alto Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Andiroba Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 0,72 Moderadamente pesado Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 4,3 Médio Tangencial 7,4 Baixo Volumétrica 13,4 Médio Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,5 Médio Fonte: Fichas de características de madeiras brasileiras. IPT FÍSICA DA MADEIRA 25 Propriedades Físicas de espécies amazônicas Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Cedro Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 0,53 Leve Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 4 Médio Tangencial 6,2 Baixo Volumétrica 11,6 Baixo Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,4 Baixo Itaúba Classificação Massa específica aparente (Densidade) a 15% de U (g/cm³) 0,96 Muito pesado Contrações (%) (do p.s.f. até 0% de U) Radial 2,3 Baixo Tangencial 6,7 Baixo Volumétrica 12,1 Baixo Coeficiente de retratilidade volumétrica 0,51 Médio Fonte: Fichas de características de madeiras brasileiras. IPT Aferição da contração volumétrica FÍSICA DA MADEIRA 26 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Retira-se 20 corpos de prova de 2x2x10 cm da seção transversal de uma tora de madeira. Estes deverão ter seu volume e massa aferidos em estado saturado de água (verde), seco ao ar e seco em estufa. Classificação das madeiras conforme sua retratilidade volumétrica total (Bauer, 1994) Retratilidade total % Qualificação Indicação 15-20 Alta Toras com grandes fendas resultantes de secagem. Devem ser logo desdobradas. 10-15 Média Toras com fendas médias de secagem. Podem ser conservadas em forma cilíndrica por mais tempo. 5-10 Baixa Toras com pequenas fendas, indicadas para marcenaria e laminados Coeficiente de retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 27 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Dividindo-se o Coeficiente de retratilidade parcial pelo teor de umidade da peça seca ao ar, obtém-se o Coeficiente de retratilidade, que indica a variação percentual no volume da peça para uma variação de 1% de umidade: Classificação das madeiras conforme seu Coeficiente de retratilidade (Bauer, 1994) Coef. RetratilidadeQualificação Diagnóstico 0,75-1 Alta Madeiras dificilmente utilizáveis. 0,55-0,75 Média Madeiras para desdobro radial 0,35-0,55 Baixa Madeiras para carpintaria e construção 0,15-0,35 Baixa Madeiras para marcenaria e laminados Ch Tu V= Efeitos da retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 28 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A retratilidade (shrinkage) e o inchamento (swelling) são a origem da maioria do que classifica como defeito na madeira: alargamento de juntas em tacos, empenos de lambris e esquadrias, torções, etc. Se tomarmos as camadas de crescimento como referência para os defeitos de secagem teremos uma situação de desdobro semelhante a mostrada ao lado. Efeitos da retratilidade FÍSICA DA MADEIRA 29 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A absorção e a perda de água podem gerar muitos defeitos em peças de madeira: Encanoamento (Cupping) Torcimento (Twisting) Arqueamento (Springing) Encurvamento (Bowing) FÍSICA DA MADEIRA 30 • Fim. Obrigado.
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