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no sentido da melhoria ou da piora do curso de uma enfermidade. Provavelmente por extensão da noção médica, o conceito de crise aplica-se a processos de qualquer natureza, nos quais, dentro de um andamento relativamente regular, chega-se a um ponto de desequilíbrio (desorganização, desordem) mais ou menos imprevisível na sua aparição e em seu desenlace. Esse estado de crise ocorre, segundo alguns, por caducidade dos mecanismos e recursos vigentes, devido a seu desgaste e/ ou à incidência de forças e acontecimentos positivos ou negativos acidentais, contingentes, circunstanciais, extraordinários ete. As crises são etapas de mudanças para o bem ou para o mal, mas em geral aceleradas e radicais. Alguns atribuem as crises à exacerbação das contradições de um sistema ou ao acúmulo de mudanças quantitativas que desembocam em uma transformação qualitativa. Outros sustentam que são períodos ou espaços de transição entre tempos e lugares precisos e conhecidos, enquanto há os que pensam que se trata dos prolegômenos do surgimento do absolutamente novo. Para certos autores (por exemplo, Marx), o Capitalismo é um sistema histórico que existe em crise permanente, posto que incorporou essa condição a seu modo normal de transcurso. Para o Institucionalismo, tanto enquanto campo de análise* como de intervenção (ver campo de intervenção*), os estados de crise são considerados fecundos, na medida em que envolvem a falência do instituído* – organizado* e a emergência do instituinte* – organizante* no seio da "desordem criadora". Alguns institucionalistas, como Lapassade, tentam intervenções deflagradoras de crise grupal ou organizacional (provocação institucional), e a maioria prefere intervir nos momentos críticos, melhor ainda se generalizados a grandes segmentos ou à sociedade inteira. DEFESAS: para as correntes institucionalistas tais como as psicologias institucionais de base psicanalítica kleiniana (Elliot Jacques, Pichon Rivière, Bleger e outros), as posições esquizoparanóides e depressivas – as configurações adquiridas pelos variados elementos que compõem o self (pulsões, objetos, fantasmas) no curso do desenvolvimento-, vêm acompanhadas de vivências características denominadas ansiedades * . Assim 143 ▲ se fala de ansiedades paranóides, depressivas, confusionais etc. Os mecanismos que se erguem contra elas (dissociação, projeção, idealização, negação etc.) denominam-se defesas e podem tomar como suportes os elementos institucionais e organizacionais (contratos, organograma, regulamentos etc.). Por isso se diz que as instituições são "sistemas de defesa contra a ansiedade*". Descritivamente falando, isso explica os quadros psicóticos que muitos agentes* desenvolvem quando suas organizações entram em crise ou os expulsam. DESEJO: a Psicanálise demonstrou que os sujeitos psíquicos estão determinados por uma força inconsciente sobre a qual não têm conhecimento nem controle voluntário. Essa força se origina, por sua vez, das pulsões, e tende à busca do prazer e à evitação do desprazer. A Psicanálise postula que o desejo é uma força do tipo conservador ou repetitivo, que procura restituir um estado arcaico perdido, prévio à constituição do sujeito: o narcisismo. Durante esses incessantes ensaios, o desejo, que carece do objeto real, se "satisfaz" ou "realiza" animando fantasmas (montagens de representações imaginárias inconscientes que transcorrem em "outra cena"). Em última instância, o desejo persegue o gozo absoluto, quer dizer, sua própria extinção definitiva, na qual se encontra com a pulsão de morte. O Complexo de Castração, que instaura a lei no psiquismo, constitui o desejo, ao mesmo tempo em que lhe permite simbolizar-se e servir aos objetivos de vida. O desejo, para a Psicanálise, gesta-se no seio do Complexo de Édipo; no início do desenvolvimento, atua exclusivamente na dramática da vida familiar, e só posteriormente induz os sujeitos psíquicos a entrarem nos processos sociais amplos. Algumas correntes do Institucionalismo compartilham a definição psicanalítica de desejo (Sociopsicanálise). Para outras (por exemplo, a Esquizoanálise), o desejo é essencial e imanentemente produtivo, gera e é gerado no processo mesmo de invenção, metamorfose ou "criação" do novo. Sua essência não é exclusivamente psíquica, pois participa de todo o real. Corresponde aproximadamente ao que Nietzsche denominou "Vontade de Potência", ao que Espinoza chamava "Substância" e os estóicos "Acontecimento Incorporal", que resulta do encontro entre os corpos (devir). Igualmente o desejo (assim entendido) tem afinidade com o "virtual" bergsoniano, com as "quantidades intensivas" em Kant e com as "impressões intensivas" em Hume. Esse desejo atua em todo e qualquer âmbito do real, não carece do objeto, ignora a lei e não precisa ser simbolizado porque se processa sempre de fomla inconsciente. Não tende à morte porque constitui a essência da vida como "Eterno Retomo das Diferenças Absolutas". Assim entendido, o desejo também está parcialmente submetido a entidades repressivas, mas estas não são exclusivamente psíquicas, e sim um complexo conjunto ao mesmo tempo político, econômico, comunicacional etc. Na Esquizoanálise de Deleuze e Guattari, o desejo é imanente à produção, daí o conceito de produção desejante. 144 ▲ DESVIANTE: nas organizações e movimentos podem surgir sujeitos, grupos ou tendências que questionam o instituído* – organizado, através de diversos discursos, atitudes e comportamentos. Protagonizam, assim, um desvio ou afastamento da linha condutora hegemônica da organização. Sua dissidência* ou discordância pode ser mais ou menos enérgica, mas em geral é predominantemente reativa, quer dizer, se bem impugna e denuncia os defeitos do instituído-organizado, não consegue fazê-lo com consciência suficiente e estratégia adequada para gerar uma real alternativa ou uma mudança profunda.O segmento desviante pode ser ideológico (quando propõe uma divergência ou oposição teórica ou dou trinária), organizacional (quando altera a estrutura ou a dinâmica do organograma e fluxograma) ou libidinal (quando apresenta opções na definição sexual ou outras vinculadas a eleições idiossincráticas em torno do prazer, da moral etc.). A proposta e ação desviante podem, eventualmente, tornar-se o gérmen de um processo produtivo-desejante-revolucionário. DIALÉTICA: é um método para pensar e discutir as realidades materiais e metafísicas cujas diferentes versões estão presentes em todo saber ocidental, desde a Antiguidade até a época contemporânea. É um pensamento que concebe a realidade material e a espiritual em permanente movimento e transformação, devido a sua essência intrinsecamente contraditória. Opõe se a todas as concepções que supõem o ser como estático e invariável, sendo as mudanças que se apresentam apenas superficiais, ilusórias ou aparentes. A dialética atinge sua maior sistematização com Hegel, que a postula como método para pensar o movimento do "Espírito