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SUMÁRIO CAPÍTULO I Regimetno Interno do Departamento de Julgamento das Raças Zebuínas 13 CAPÍTULO II Avaliação Zootécnica e Funcional em Bovinos de Corte Através da Avaliação Visual Epmuras 20 Introdução 21 Desenvolvimento 22 Avaliações Visuais 23 Sistema De Avaliação Epmuras 24 Referências Bibliográficas 30 CAPÍTULO III As Raças Zebuínas no Brasil, The Zebu Breeds In Brazil 31 Introdução 32 Desenvolvimento 34 Primeira Fase: Introdução dos Zebuínos No Brasil e o Estabelecimento do Registro Genealógico 34 Segunda Fase: O Estabelecimento das Provas Zootécnicas 38 Terceira Fase: As Avaliações Genéticas nas Populações Zebuínas 41 A Base Genética Zebuína no Brasil 42 Conclusões 44 Referências Bibliográficas 45 CAPÍTULO IV Novos Parâmetros na Seleção do Zebu 46 O Impacto da Sanidade Animal nas Exportações da Carne Bovina Brasileira 47 O Consumo Mundial de Carnes 48 O Rebanho Brasileiro Dentro do Contexto Mundial 50 As Tendências Da Economia e o Impacto no Comsumidor 51 Carne de Ótima Qualidade 53 Referências Bibliográficas 55 CAPÍTULO V O Uso de Medidas de Tamanho e Escores Visuais na Seleção de Gado Zebu 56 Introdução 57 Tamanho vs Eficiência Produtiva 58 Frame Size em Nelore 63 Escores Visuais 65 Escores Visuais e Características de Carcaça 67 2 Resultados Recentes 68 Escores Visuais Dentro do Programa Nacional de Melhoramento Genético de Zebuínos 71 Considerações Finais 73 Referências Bibilográficas 74 CAPÍTULO VI Exterior de Zebuínos 77 Cabeça 79 Pescoço 85 Tronco 86 Membros 91 Membros Anteriores 91 Membros Posteriores 93 Regiões Comuns aos Quatro Membros 94 Aprumos 96 Aprumos Dianteiros ou dos Membros Anteriores 97 Aprumos Traseiros ou dos Membros Posteriores 99 Pelagem 102 Pelagem Simples ou Uniformes 102 Pelagens Compostas 103 Pelagem Conjugada 104 Bibliografia 105 CAPÍTULO VII Métodos E Critérios de Julgamento 106 Introdução 107 1ª Fase: de Afirmação dos Tipos Raciais 108 2ª Fase: do Culto ao Peso 109 3ª Fase: do Culto ao Peso e ao Tamanho 109 4ª Fase: da Busca Pela Eficiência e do Equilibrio 110 5ª Fase: da Busca Pela Eficiência Global 111 Julgando Animais 112 Referência Bibliográfica 116 Padrões das Raças Zebuínas 117 3 CAPÍTULO I REGIMENTO INTERNO DO DEPARTAMENTO DE JULGAMENTO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS DA ORIGEM E FINS Artigo 1º- O Departamento de Julgamento das Raças Zebuínas, - DJRZ - sucessor dos anteriores Colégios de Juizes, de Árbitros e de Jurados das Raças Zebuínas, é mantido e coordenado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, - ABCZ - onde tem sua sede. Funcionará junto ao Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas, - SRGRZ - e está subordinado ao Superintendente do Departamento Técnico. Artigo 2º - O DJRZ tem como finalidades: a) Congregar os profissionais das áreas de Engenharia Agronômica, Medicina Veterinária e Zootecnia, visando o julgamento de Zebuínos para: a.1 - Registros Genealógicos; a.2 - Assinatura de Certificados; a.3 - Exposições e Feiras Agropecuárias. b) Inscrever os profissionais habilitados e expedir os respectivos credenciamentos; c) Fiscalizar o exercício da atividade de jurados, repassado à Diretoria Deliberativa da ABCZ os casos cuja solução ultrapasse a sua alçada; d) Traçar diretrizes e promover, periodicamente, um Curso de Atualização com seu quadro de Jurados, visando unificar e aperfeiçoar critérios para o julgamento das diversas raças zebuínas; e) Colaborar com a Superintendência Técnica na Organização de um Curso Intensivo de Julgamento dentro de normas e critérios que possibilitem a formação de novos jurados e a divulgação de métodos atualizados de julgamento; f) Deliberar sobre questões oriundas das atividades dos jurados. 4 DA CONSTITUIÇÃO Artigo 3º - O DJRZ tem a seguinte constituição: - Superintendente Técnico da ABCZ; - Superintendente Adjunto do Colégio de Jurados; - Conselho Executivo; - Conselho Ético; - Quadro de Jurados. Artigo 4º - O DJRZ será administrado por um coordenador, Jurado efetivo, obrigatoriamente Médico Veterinário, Zootecnista ou Engenheiro Agrônomo, indicado pelo Superintendente Técnico, em lista tríplice para a apreciação e escolha pela Diretoria da ABCZ, devendo seu mandato coincidir com o da mesma diretoria, podendo, todavia ser reconduzido para o mandado seguinte. Artigo 5º - O Conselho Executivo será composto por todos os ex- coordenadores do Departamento e pelos ex-diretores do Departamento Técnico e tem por finalidade: Aproveitar, com vantagem, a experiência e a competência de cada um para inovação do DJRZ, bem como para tomar decisões sobre assuntos que não necessitam da aprovação de todo o corpo de jurados. Artigo 6º - O Departamento de Julgamento é constituído por profissionais das áreas de Medicina Veterinária, Engenharia Agronômica ou Zootecnia, divididos nas seguintes classes: Classe "A" - Jurados para julgamento de animais visando Registros genealógicos e inspeção para emissão Laudos Zootécnicos; Classe "B" - Jurados para julgamentos de animais de Exposições e Feiras Agropecuárias. Artigo 7º - Os Jurados, Classe "A" definidos no Artigo anterior, devem ser devidamente credenciados e pertencentes ao quadro técnico da ABCZ, ou das Entidades subdelegadas; Parágrafo único - O credenciamento desses Jurados será feito pelo diretor do Departamento Técnico; Artigo 8º - Os Jurados, Classe "B" definidos no Artigo 6º, sendo Efetivos e Auxiliares. 5 Parágrafo 1º - Os Jurados Efetivos são aqueles já pertencentes aos quadros dos antigos: Colégio de Juizes, de árbitros, de Jurados e aqueles que se habilitarem de acordo com o Artigo 6º; Parágrafo 2º - Os Jurados Auxiliares serão, além dos profissionais citados no Artigo 6º, os acadêmicos matriculados a partir do 6º período inclusive de cursos daquelas áreas, desde que devidamente matriculados, e que tenham participado de Curso Intensivo de Julgamento de Zebuínos, promovidos pela ABCZ. Artigo 9º - Os Jurados Efetivos e Auxiliares serão credenciados através de carteiras expedidas pelo DJRZ e assinadas pelo presidente da ABCZ ou pelo Superintendente do Departamento Técnico, por delegação daquele. OBTENÇÃO DOS TÍTULOS DE JURADOS Artigo 10º - O título de Jurado Efetivo poderá ser obtido: 1 - Pelo Jurado Auxiliar: através da Comprovação de haver atuado, pelo menos durante três anos, em um mínimo de 10 exposições, acompanhamento um mínimo de 05 jurados diferentes, com sete pareceres favoráveis ao seu desempenho; 2 - Pelo Jurado, Classe "A", através da comprovação de haver trabalhado na execução de Registro Genealógico pelo período mínimo de dois anos, de ter auxiliado, no mínimo em 5 (cinco) exposições, com três pareceres, de Jurados Efetivos diferentes, favoráveis ao seu desempenho, haver participado de um Curso Intensivo de Julgamento e ser avaliado positivamente pelo Superintendente do Departamento Técnico da ABCZ. Artigo 11º - No caso de acadêmicos referidos no parágrafo 2º do artigo 8º, o título de Jurado Efetivo somente será fornecido após a conclusão do Curso Universitário e sua inscrição no respectivo Conselho, ainda que tenham cumprido as formalidades estabelecidas no item 1, do artigo anterior. 6 DA COMPETÊNCIA DOS JURADOS Artigo 12º - É da competência dos Jurados da Classe "A", devidamente credenciados, efetuar a Inspeção para julgamento dos animais das raças zebuínas, visando o Registro Genealógico e emissão de Laudos Zootécnicos, para financiamentos ou exportações.Artigo 13º - É de competência dos Jurados Efetivos da Classe "B", devidamente credenciado, o julgamento de zebuínos em Exposições e Feiras Agropecuárias. Artigo 14º - As Exposições e Feiras Agropecuárias só terão os julgamentos zebuínos oficializados pela ABCZ quando eles forem efetuados por jurados da Classe "B". Artigo 15º - Esses jurados poderão atuar nas exposições somente quando devidamente homologados pela coordenadoria do DJRZ. Parágrafo único - A atuação dos Jurados Auxiliares não depende de homologação do Departamento. Ela resulta da iniciativa do Jurado Auxiliar junto ao Jurado Efetivo e a entidade promotora do certame. Artigo 16º - Cada jurado só poderá julgar a raça ou grupo de raças para as quais esteja habilitado e credenciado. Parágrafo único - Visando especializar cada vez mais o jurado, a indicação por parte do coordenador, para julgamento em exposição, deverá dar prioridade a jurado especializado para a (as) raça (as). Artigo 17º - Será dado preferência ao julgamento por comissão tríplice e pontuado, a critério da entidade promotora, será tolerado o julgamento simples "jurado único". Artigo 18º - Os jurados, nas suas atividades, deverão se orientar pelo regulamento do SRGRZ, pelos padrões das raças nele estabelecidos e pelas normas internas emanadas do Departamento Técnico e Regimento interno do DJRZ. Artigo 19º - Nos julgamentos em Exposições, além das exigências do Artigo anterior, os jurados deverão também se orientar pelo "Regulamento para Julgamento de Zebuínos em Exposições". Parágrafo único - Em casos excepcionais será admitida obediência ao Regulamento elaborado pela Entidade promotora da Exposição. 7 Artigo 20º - Será obrigatório o comentário técnico, em terminologia zootécnica adequada, feito pelo Jurado através de microfone e alto falante, na pista, após o julgamento de cada campeonato. Artigo 21º - O Jurado Efetivo poderá ser acompanhado por um ou dois jurados auxiliares, de acordo com a Entidade Promotora. Parágrafo único - Não será permitida a presença na pista de julgamento de outras pessoas que não sejam os jurados, os auxiliares de pista ou peões. Artigo 22º - Somente em caso de força maior, devidamente comprovada, será permitida a substituição de um jurado por outro. Artigo 23º - Em caso de impossibilidade de comparecimento para julgar em Exposição para a qual tenha sido convidado e aceito, o Jurado deverá fazer a comunicação ao DJRZ e à Entidade Organizadora do certame, com antecedência. Artigo 24º - Para avaliação dos Jurados Auxiliares pelo DJRZ, o Jurado Efetivo quando atuar em Exposição ou Feira Agropecuária, deverá apresentar ao Departamento de Julgamento, obrigatoriamente, até o último dia do mês seguinte ao do evento, "Relatório de Julgamento" RDE, contendo seu parecer sobre a atuação dos Jurados Auxiliares e as demais informações solicitadas no relatório. Artigo 25º - Os Jurados Efetivos quando convidados diretamente para julgamento em Exposições, deverão entrar em contato e dar conhecimento do fato ao Departamento, ou pedir a Entidade Promotora da Exposição que solicite sua homologação junto ao DJRZ. Artigo 26º - Os Jurados Efetivos, quando homologados para atuarem em Exposições ou Feiras Agropecuárias deverão, sempre que possível aceitar a participação de até dois Jurados Auxiliares, por raça, nos julgamentos. Artigo 27º - Os Jurados Efetivos, quando designados para julgarem em Exposições, perceberão um "pró-labore" estipulado pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvido o Departamento Técnico e o DJRZ. Parágrafo 1º - Além do "pró-labore", a Entidade Promotora assume inteira responsabilidade pela indenização das despesas de viagem e estada, durante os dias em que o jurado permanecer, à sua disposição. Parágrafo 2º - O Jurado, quando viajar em carro próprio, será indenizado por quilômetro rodado, na base fixada pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvido o Departamento Técnico, sendo o valor estipulado em 35% (trinta e cinco por cento) do valor do litro da gasolina. 8 Parágrafo 3º - A aceitação do julgamento de mais de uma raça ficará a critério do Jurado, de acordo com sua especialização e disponibilidade. Parágrafo 4º - Até o último dia do mês subseqüente ao do julgamento, independente do valor cobrado o Jurado deverá remeter a ABCZ, obrigatoriamente, para manutenção do Departamento de Julgamento, uma taxa de 3% (três por cento) sobre 7,5 (sete salários mínimos e meio), estipulada pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvindo o Departamento Técnico e DJRZ; Parágrafo 5º - Pela emissão ou substituição de carteira de credenciamento será cobrada uma taxa estipulada pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvido o Departamento Técnico, correspondente a 20% (vinte por cento) do salário mínimo, no valor atual. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 28º - Só poderão ser julgados em Exposições, animais portadores de Registros Genealógicos. Artigo 29º - A Entidade promotora da Exposição deverá solicitar diretamente ao DJRZ, a homologação ou designação do Jurado Efetivo para os trabalhos de julgamento dos zebuínos. Artigo 30º - Quando não for manifestada preferência da Entidade promotora, o Jurado Efetivo para julgamento na exposição, será indicado pelo Coordenador do Colegiado. Parágrafo único - Essa indicação será feita sempre, atendendo-se ao critério da proximidade, existente entre o Jurado indicado e o local do evento. Artigo 31º - Quando se tratar de julgamento no exterior, o Colegiado fará a indicação de 3 (três) nomes para escolha e homologação de 1(um) pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, devendo essa indicação ser comunicada ao Ministério da Agricultura. Salvo indicação pela Entidade Promotora do evento. Artigo 32º - A Entidade promotora da Exposição deverá encaminhar ao DJRZ, até o último dia do mês seguinte ao da ocorrência do evento: a) "Sumula de Julgamento": devidamente preenchida conforme modelo padronizado; b) Relação dos Zebuínos premiados. 9 c) Catálogo de Animais Inscritos e Catálogo de resultados Artigo 33º - O Jurado somente será homologado para julgamento em Exposições quando estiver em dia com suas obrigações junto ao DJRZ. Artigo 34º - O credenciamento de Jurados Efetivo é feito por tempo indeterminado e o do Jurado Auxiliar por um período de três anos, podendo ser renovado. Artigo 35º - A ABCZ só responde, pelos atos Jurados referentes estritamente aos julgamentos devidamente homologados. Artigo 36º - O DJRZ fará promover, periodicamente: a) Curso de Atualização e aprimoramento Técnico dos Jurados, principalmente em disciplinas de fisiologia, anatomia, nutrição, reprodução, genética populacional, melhoramento animal, precocidade, classificação e tipificação de carcaça; b) Curso Intensivo de Julgamento e Inserção Zootécnica, objetivando Registros Genealógicos e julgamentos em Exposições e Feiras Agropecuárias, destinado a criadores, estudantes, Jurados, auxiliares e técnicos, etc. Artigo 37º - O Jurado poderá solicitar, através de requerimento ao coordenador, o seu afastamento temporário ou definitivo, do DJRZ. Artigo 38º - Os casos omissos nesse Requerimento serão resolvidos pela Superintendência Técnica e DJRZ, devendo ser ouvida a Diretoria da ABCZ, quando necessário. 10 CAPÍTULO II AVALIAÇÃO ZOOTÉCNICA E FUNCIONAL EM BOVINOS DE CORTE ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO VISUAL EPMURAS 1 1 Palestra apresentada na 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia JOSAHKIAN, L.A. Superintendente Técnico da ABCZ. Professor da FAZU Uberaba – MG abczsut@abcz.org.br 11 INTRODUÇÃO O Brasil é detentor do maior rebanho comercial bovino do mundo, atingindo,segundo FNP (2004), 164,8 milhões de cabeças. A maior parte desse rebanho é mantida em condições cujo padrão médio de criação envolve poucas práticas artificiais, configurando o perfil do sistema de produção resultante do binômio genética animal e pastagens tropicais. Não obstante, algumas alternativas de suplementação têm sido implementadas, mas que, pelas suas características, não concorrem para modificar a característica geral da carne bovina notadamente baseada em pastagens, o que levou a produção brasileira a ser denominada de “boi de capim” ou “boi verde”. Esse sistema de produção tem qualificado o Brasil como produtor de carne bovina saudável, correspondendo às expectativas dos consumidores nacionais e principalmente internacionais, receosos quanto à segurança dos alimentos originada pelos recentes casos de BSE, influenza aviária e contaminações de alimentos por salmonelas, dioxinas, nitrofuranos, aflatoxinas, sulfas, etc. Na composição do rebanho nacional destacam-se as raças zebuínas, introduzidas no país a partir do Séc. XIX, vindos principalmente da Índia e em menor escala do Paquistão. Segundo MARIANTE et al (1985), 80% do rebanho nacional tem em sua composição genética zebuína, resultante da intensa capacidade de adaptação daquele conjunto de raças às nossas condições tropicais de criação. Obviamente que, com o passar dos anos, as raças aqui introduzidas, não somente as zebuínas, mas inclusive as de origem européias, foram se ajustando aos padrões brasileiros de criação e acumulando os efeitos das práticas de seleção artificial a que foram submetidas. O presente trabalho pretende discutir um dos métodos de seleção de animais para produção de carne baseado em avaliações visuais, entendo-as como complementares a outros métodos de seleção. Embora o enfoque que será dado se aplique diretamente às raças zebuínas produtoras de carne, é possível que os critérios apresentados sejam estendidos em algum grau a outros grupos de raças bovinas. 12 DESENVOLVIMENTO Seleção é um processo em que determinamos quais indivíduos irão produzir a próxima geração, em qual forma e intensidade serão utilizados e por quanto tempo permanecerão em atividade no rebanho. A seleção como um mecanismo de escolha pressupõe a existência de critérios que irão definir exatamente quais animais serão escolhidos. Definir critérios de seleção talvez seja um dos grandes problemas da seleção. Critérios de seleção têm que ser definidos considerando-se variáveis biológicas, do ambiente econômico e, atualmente, podemos acrescentar variáveis de aspectos sociais. Trabalhar com a interação de todas essas questões não é uma tarefa fácil, mesmo que pudéssemos congelar um determinado momento e inferir que ele seja o padrão irrevogável de produção ao qual estaremos atendendo. A complexidade é ainda maior porque as sociedades são social, cultural e economicamente dinâmicas, o que leva nossa definição de critérios de seleção para um outro nível de discussão, muito mais inquietante e complexo. Nesse cenário, uma proposta de seleção que tem sido adotada considera os fatores de produção - animal (genótipo) e pastagens (ambiente) - como sendo a linha mestra de raciocínio. Os programas de melhoramento que estão operando no Brasil para gado de corte, basicamente adotam dois grupos de características: as de crescimento (representadas por pesos padronizados a diferentes idades, ganhos em peso, efeitos maternais, dias para atingir determinado peso, entre outras); e, com menor ênfase, as reprodutivas (representadas por circunferência escrotal, idade ao primeiro parto, intervalo entre partos, entre outras). GARRICK e ENNS (2005) discutem a questão do melhoramento genético contrapondo-a ao que denominam de “mudanças genéticas”. Nessa abordagem, os autores discorrem que provocar mudanças genéticas é mais fácil do que promover melhoramento genético, já que melhoramento advém exatamente da avaliação conjunta de vários fatores de análise, envolvendo toda o sistema de produção – do produtor ao consumidor. Coloca em discussão o fato de que temos trabalhado algumas características, especialmente aquelas ligadas aos dois grupos citados anteriormente, basicamente porque ou tínhamos um conjunto de dados para ser trabalhado ou estes eram mais fáceis de serem colhidos. Não consideramos o impacto das mudanças como um todo no sistema de produção e chamam a atenção de que seleção para aumento de 13 peso vivo – uma constante em todos os programas -tende a aumentar taxas de crescimento e peso em quase todas as idades, incluindo o peso ao nascer (que pode aumentar os problemas de parto) e o tamanho maduro de vacas (que aumentam os custos de manutenção do rebanho). Essa dissociação de conceitos nos atuais programas de melhoramento é preocupante e foi exatamente no sentido de complementar o grupo de características de crescimento e reprodução, que alguns programas de melhoramento em gado de corte incluíram em suas operações as avaliações visuais. O presente artigo pretende discutir unicamente um dos métodos disponíveis de avaliações visuais. Trata-se do método EPMURAS, adotado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ. AVALIAÇÕES VISUAIS A seleção dos animais domésticos segue muito de perto a história da evolução da humanidade. Desde que o homem se socializou e deixou de ser absolutamente nômade, é provável que ele tenha, de imediato, mantido grupos de animais em cativeiro ou, pelo menos, sob um relativo controle. Desnecessário dizer que as únicas ferramentas que este homem pré-histórico tinha eram seus próprios e rudimentares conhecimentos, suas habilidades pessoais e sua condição inata de co- evoluir junto com os animais domésticos. A essa altura da nossa civilização, é muito provável que o olho humano tenha funcionado como um integrador de informações e essa capacidade tenha sido aplicada nas primeiras abordagens seletivas dos animais. O curioso é que, ao darmos um salto de milhares de anos na história, ainda temos, no presente, o olho humano como um elemento de decisão ainda sem similar nas tecnologias que acumulamos nesse período. Nesse contexto é que se desenvolveram alguns modelos de avaliações visuais para bovinos de corte, sempre procurando complementar as características mensuráveis dos programas de melhoramento. Um resgate histórico das avaliações visuais em bovinos de corte no Brasil, segundo KOURY FILHO (2005), nos levam ao ano de 1974, com a adoção dos Escores de Conformação (EC), do Sistema de Avaliação Ankony e, mais tarde, aos Sistemas DERAS, PHRAS adotados pela ABCZ na década de 1980, além das 14 avaliações CPMU (Gensys Consultores Associados S/C Ltda.), MERCOS (PMGRN) e Conformação Frigorífica (Programa Geneplus). O método atual adotado pela ABCZ, denominado EPMURAS, deriva de estudos conduzidos por KOURY FILHO (2001) e KOURY FILHO & ALBUQUERQUE (2002), com base em estudos e experiência de campo. Especificamente sobre este método que vamos tratar no presente trabalho. SISTEMA DE AVALIAÇÃO EPMURAS O objetivo básico e direcional das características envolvidas na avaliação visual de diferentes tipos morfológicos é identificar aqueles animais que, nas condições viáveis de criação e em consonância com o mercado consumidor, cumpram seu objetivo eficientemente em menos tempo. (JOSAHKIAN et al. 2003). As avaliações visuais podem ser realizadas na desmama, em torno dos 205 dias de idade, e ao sobreano, em torno de 550 dias de idade. Preferencialmente, para facilitar o manejo, elas devem ser feitas simultaneamente às pesagens programadas, o que não implica que o processo não possa ser aplicado em qualquer idade. As 7 características a serem a avaliadas são: Estrutura Corporal (E); Precocidade (P); Musculosidade (M); Umbigo (U);Caracterização Racial (R); Aprumos (A); Sexualidade (S). De acordo com o Manual do PMGZ (2004): o que se avalia em cada uma das características é: Estrutura Corporal (E): Prediz visualmente a área que o animal abrange visto de lado, olhando-se basicamente para o comprimento corporal e a profundidade de costelas. A área que o animal abrange está intimamente ligada aos seus limites em deposição de tecido muscular. 15 Precocidade (P): Nesta avaliação as maiores notas recaem sobre animais de maior profundidade de costelas em relação à altura de seus membros. Na prática, principalmente em idades mais jovens, onde muitas vezes os animais ainda não apresentam gordura de cobertura, o objetivo é identificar o desenho que corresponda a indivíduos que irão depositar gordura de acabamento mais precocemente, e que, via de regra, são os indivíduos com mais costelas em relação à altura de seus membros. Vale ressaltar que indicativos de deposição de gordura subcutânea somam para a avaliação do tipo precoce. Por exemplo, a musculatura, quanto mais definida, menor a capa de gordura que a recobre, a virilha baixa ou pesada e também a observação de pontos específicos, tais como a inserção da cauda, a maçã do peito, a paleta e a coluna vertebral são elementos adicionais que auxiliam na observação dessa característica. Animais precoces permanecem menos tempo nos pastos e/ou confinamentos, encurtando o ciclo de produção, melhorando assim a eficiência da atividade e, conseqüentemente, os lucros do produtor. Há relatos na literatura indicando que animais mais precoces em acabamento também sejam sexualmente mais precoces. Musculosidade (M): A musculosidade será avaliada através da evidência das massas musculares. Animais mais musculosos e com os músculos bem distribuídos pelo corpo, além de pesarem mais na balança, apresentam melhor rendimento e qualidade da carcaça, o que reflete diretamente no bolso do pecuarista. Os escores atribuídos às características E, P e M nos permitem ter uma concepção espacial do animal, pois E estima a área que este abrange lateralmente e que, de forma bastante rudimentar, irá formar um retângulo. A característica E, analisada em conjunto com a característica P, irá indicar as proporções dos lados desse retângulo. Ao incluirmos o escore da característica M, daremos a terceira dimensão. Esse paralelepípedo formado será a estimativa do volume do indivíduo (Figura 2). Vale ressaltar que essa concepção se torna mais precisa ao acrescentar os dados de peso e altura. 16 Figura 2: Apresentação esquemática das diferentes proporções que devem ser avaliadas. Fonte: Manual do PMGZ da ABCZ, (2004). Umbigo (U): É avaliado a partir de uma referência do tamanho e do posicionamento do umbigo (umbigo, bainha e prepúcios) conforme Fig 3, devendo ser penalizado os indivíduos que apresentarem prolapso de prepúcio. No Brasil, a grande maioria dos rebanhos é criada em grandes áreas de pastagem, e nos machos, umbigo, bainha e prepúcio de maior tamanho, pendulosos e ocorrência de prolapso, são mais susceptíveis a patologias ocasionadas por traumatismos, e estas são muitas vezes irreversíveis ou extremamente complexas em termos de manejo curativo. Caracterização Racial (R): Todos os itens previstos nos padrões raciais das respectivas raças zebuínas devem ser considerados. O tipo racial é um distintivo comercial forte e tem valor de mercado, o que, por si só, justifica sua inclusão em um programa de seleção. Aprumos (A): Serão avaliados através das proporções, direções, angulações e articulações dos membros anteriores e posteriores. Diferente da situação encontrada em países onde se confina maior percentual de animais, no Brasil a maioria dos animais é criada a pasto com suplementação mineral, e com isso os animais são obrigados a percorrerem grandes distâncias, 17 favorecendo aqueles de melhores aprumos. Na reprodução, bons aprumos são fundamentais para o macho efetuar bem a monta e para a fêmea suportá-la, além de estarem diretamente ligados ao período de permanência do indivíduo no rebanho. Sexualidade (S): Busca-se masculinidade nos machos e feminilidade nas fêmeas, sendo que estas características deverão ser tanto mais acentuadas quanto maior a idade dos animais avaliados. Avaliam-se os genitais externos, que devem ser funcionais, de desenvolvimento condizente com a idade cronológica. Características sexuais do exterior do animal parecem estar diretamente ligadas à eficiência reprodutiva, e a reprodução é a característica de maior impacto financeiro na atividade. Conceitualmente os escores atribuídos às características podem ser divididos em fundo, notas 1 e 2; meio 3 e 4 e cabeceira 5 e 6 para as características E, P e M. Esses escores serão relativos ao grupo de contemporâneos sob avaliação e também a um biótipo de referência dentro da raça. Na prática o que acontece é que a avaliação com essas duas referências assegura, simultaneamente: 1) a percepção de que, sempre, em qualquer grupo de contemporâneos existe um fundo e uma cabeceira (o que é determinado pela referência da média do grupo), e 2) que a variação de notas a ser aplicada ao lote em avaliação tenha a extensão mais apropriada (determinada pela referência do biótipo médio da raça). Para as características R, A e S, os escores variam apenas de 1 a 4 e serão atribuídos em relação a uma referência pré-estabelecida, isto é, o indivíduo não é comparado ao grupo em que está inserido, mas aos padrões definidos pela ABCZ. Assim, conceitualmente, 1 = fraco, 2 = regular, 3= bom e 4 = muito bom. Para a característica U, a escala de notas será de 1 a 6 de acordo, sendo a nota atribuída a umbigos com menor dimensão e a nota 6 a maiores dimensões. Recomenda-se, ao proceder as avaliações, observar os seguintes pontos: Subdividir os lotes em grupos com no máximo 30 dias de diferença de idade do mais novo para o mais velho. Ter claramente a definição para cada uma das características que serão avaliadas. Observar o lote, e identificar os animais médios para cada uma das características em questão, pois esse será o parâmetro comparativo para se identificar a cabeceira e o fundo do grupo. 18 Ser realizada pelo(s) mesmo(s) avaliador(es) em um determinado lote e momento. Avaliar os animais sob um mesmo local ou campo de visão. Não considerar dados de desempenho do animal, nem dos seus genitores. Não considerar o pedigree do animal. Ser rápida e precisa, preferencialmente após uma determinada pesagem do animal, no sentido de facilitar o manejo da propriedade. Os escores são individuais para cada animal e característica. Assim, um indivíduo pode ter notas E (4), P (6), M (5), U (4), R (3), A (2) e S (4), por exemplo. Esta metodologia de avaliação visual tem duas aplicações práticas no processo de seleção. A primeira, é que se pode identificar todos os pontos negativos e positivos que coexistam no animal. A segunda, é que a avaliação em nível de rebanho pode diagnosticar defeitos e qualidades mais freqüentes na propriedade de forma simples e direta, através do “desenho” originado pelos escores. Assim se o criador desejar, ele pode alterar a freqüência dos escores em sua propriedade através da utilização, na reprodução, de indivíduos que se destaquem naquela característica em questão e, conseqüentemente, alterar o “desenho” dos animais, para que desta forma, consiga chegar a tipos morfológicos mais condizentes com o sistema de produção utilizado. Estudos iniciais conduzidos por KOURY FILHO (2005), a partir de valores variando de moderados a altos para o parâmetro de herdabilidade das características estrutura corporal, precocidade, musculosidade (Tabela 1) sugerem que estas são passíveis de resposta por seleção direta. Tabela 1: Componentesde variância e parâmetros genéticos obtidos em análise uni-característica das características estrutura corporal (E), precocidade (E), musculosidade (M), altura de posterior (AP) e peso à coleta (Pcol). Componentes de variância* Parâmetros genéticos** Característica D E F HD E E 0,429 1,385 1,814 0,24 ± 0,09 0,76 ± 0,09 P 1,498 0,888 2,386 0,63 ± 0,12 0,37 ± 0,12 M 0,962 1,048 2,009 0,48 ± 0,11 0,52 ± 0,11 AP 4,968 8,465 13,343 0,37 ± 0,08 0,63 ± 0,08 Pcol 230,744 554,915 785,659 0,29 ± 0,07 0,71 ± 0,07 19 O mesmo autor encontrou também correlações positivas para todas as características (E, P, M), observando, entretanto, correlação mais expressiva entre P e M e de menor magnitude entre E e M, e, principalmente, entre E e P (Tabela 2). Tabela 2: Estimativas de correlações entre os efeitos genéticos aditivos diretos (acima da diagonal) e entre os resíduos (abaixo da diagonal) entre as características estrutura corporal (E), precocidade (P), musculosidade (M), altura de posterior (AP) e peso à coleta (Pcol), obtidas em análise bi-característica. E P M AP Pcol E 0,49 ± 0,17 0,63 ± 0,15 0,57 0,83 P 0,43 ± 0,10 - 0,90 ± 0,05 -0,29 0,42 M 0,44 ± 0,08 0,56 ± 0,10 - -0,33 0,50 AP 0,49 0,22 0,30 - - Pcol 0,68 0,58 0,62 - - 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESTATÍSTICAS. In: Anualpec 2004 – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativos. 2004. 376p. p.63. GARRICK, D. J.; NS, R. M. How best to achieve genetic change? Disponível em: http://www.beefimprovement.org/03proceedings/Garrick.pdf (consulta em 01/06/05). JOSAHKIAN, L. A.; MACHADO, C.H.C.; KOURY FILHO, W. Manual do programa de melhoramento genético das raças zebuínas. Uberaba: ABCZ, 2003. 98p. MARIANTE, A . S.; NOBRE, P.R.C.; ROSA, A. N.; EVANGELISTA, S.R.M. Resultados do Controle de Desenvolvimento Ponderal – Raça Nelore – 1975/ 1984. 88p. (Embrapa – CNPGC. Documentos, 25). KOURY FILHO, W.; ALBUQUERQUE, L.G. Proposta de metodologia para coleta de dados de escores visuais para programas de melhoramento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 5., Uberaba, 2002. Anais... Uberaba, 2002, p.264-266. KOURY FILHO, W. Análise genética de escores de avaliações visuais e suas respectivas relações com o desempenho ponderal na raça Nelore. Pirassununga, 2001. 82 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP. KOURY FILHO, W. Escores visuais e suas relações com características de crescimento em bovinos de corte. Jaboticabal: Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP. 2005. 80 p. Tese (Doutorado em Zootecnia – Produção Animal). 21 CAPÍTULO III AS RAÇAS ZEBUÍNAS NO BRASIL1 THE ZEBU BREEDS IN BRAZIL 1Palestra XVI Congresso Brasileiro de Reprodução Animal Josahkian, L. A. Associação Brasileira dos Criadores de Zebu Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba Superintendente Técnico/Professor Melhoramento Animal CP- 71 Uberaba MG 38067-330 abczsut@abcz.org.br 22 INTRODUÇÃO O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma área de 8,5 milhões de Km² que se estende da linha do Equador até o paralelo 30º ao sul. Apresenta uma grande diversidade de climas e vegetação, quase sempre marcada pela sazonalidade da oferta de alimentos para os animais. Na maioria das regiões há a presença de uma estação chuvosa e outra seca, quando não acentuadamente seca por longos períodos, como é o caso da região nordeste. O grande efetivo bovino se concentra nas regiões fisiográficas Centro Oeste e Sudeste, que detêm 91 milhões de cabeças (55 % do total nacional) com destaque para os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Bahia e Rio Grande do Sul também se destacam com grandes efetivos bovinos. O Brasil é o maior país da América Latina e o quinto do mundo em extensão. O povoamento exibe grandes contrastes: desde o vazio demográfico da Amazônia – área típica de florestas tropicais que abrangem um terço do país - às grandes concentrações urbanas do centro sul. A formação do rebanho bovino nacional conta com uma decisiva contribuição do material genético zebuíno, originário em sua maior parte da Índia e uma contribuição mais restrita da raça Sindi, originária do Paquistão. Na trajetória da seleção das raças zebuínas no Brasil, é verificável a existência de três fases, a partir da ênfase dada aos critérios seletivos ou ao momento histórico vivido pela pecuária, que podem ser assim resumidas: 1º fase: caracterizada pela preocupação estética, de filigranas étnicas, de culto ao tipo racial. Esta fase se iniciou com os primórdios do registro genealógico e vai até o início da década de 60. Ela se justifica pela necessidade de “separar o joio do trigo”. Afinal de contas, os traços étnicos eram, e ainda são, distintivos comerciais fortes, sempre reconhecidos pelo mercado; 2ª fase: iniciou-se com a implantação das Provas Zootécnicas, no final da década de 60. O peso e ganho em peso são as características eleitas e priorizadas durante boa parte desse período. Pouca ou nenhuma preocupação havia com relação ao tempo demandado para que os animais atingissem pesos recordes. Aspectos de eficiência reprodutiva e habilidade maternal também fazem parte do conjunto de características sob seleção, embora em segundo plano; 23 3º fase: caracterizada pela necessidade de uma eficiente combinação entre tipo e função, com prevalência dos aspectos econômicos. Na verdade, contribuiu para o estabelecimento dessa fase, iniciada no final dos anos 80 e potencializada no início dos 90, a disponibilização de um material genético bem definido em termos de raças zebuínas e o avanço das avaliações genéticas. Uma abordagem sucinta dessas fases e do atual estágio da zebuinocultura no país constituem os objetivos desse trabalho. 24 DESENVOLVIMENTO PRIMEIRA FASE: INTRODUÇÃO DOS ZEBUÍNOS NO BRASIL E O ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO. Os bovinos não são nativos no Brasil. Foram introduzidos no país logo após seu descobrimento e durante todo o período de colonização. O objetivo primordial da introdução de bovinos no Brasil nos tempos da colônia estava muito mais voltado à produção de trabalho do que a produção de carne ou leite. Carne e leite eram subprodutos dessa atividade, principalmente a carne, obtida após o abate de animais velhos, que não mais se prestavam ao trabalho. Era natural, por decorrência das circunstâncias, que esses bovinos, primeiros a pisar o solo brasileiro, tivessem origem européia. Os espécimes aqui introduzidos pertenciam ao tronco ibérico ou aquitânico, provenientes de Portugal e Espanha. Esses tipos bovinos foram se estabelecendo em todo o país e representaram um grande componente da economia nacional, haja vista que, dentro dos vários ciclos da economia brasileira houve o ciclo do gado, no séc. XVIII (Prozebu, 1984). A introdução de bovinos europeus, exclusivamente, perdurou durante os primeiros séculos da colonização. Os animais aqui introduzidos, submetidos à inclemência do ambiente tropical e a ecto e endoparasitos, perdiam grande parte do seu potencial produtivo ou sucumbiam frente a condições tão adversas. Os remanescentes dessas importações, que demonstraram grande capacidade de aclimatação, se amalgamaram numa infinidade de tipos e/ou raças, dos quais, até hoje, encontram-se espécimes ou rebanhos, muitos deles sob programas institucionais de preservação e multiplicação. Somente muito mais tarde, no final do séc. XVIII, é queos primeiros zebuínos viriam para o Brasil. Os primeiros registros de introdução de zebuínos no Brasil retrata bem as circunstâncias pouco intencionais e sem objetivos específicos dessas práticas. Na verdade, de acordo com citação no PROZEBU(1984) “... A introdução dos zebuínos começou muito depois, de modo lento, cercada de episódios até pitorescos, como é o caso da importação de um casal de zebu, em 1875, oriundos do Jardim Zoológico de Londres. [....] Provavelmente, o primeiro rebanho zebu 25 estabelecido no Brasil, foi o da Fazenda Santa Cruz, de propriedade do Imperador D. Pedro I, no Rio de Janeiro, constituída de animais procedentes da região do Nilo, na África, em 1826.” O início do Século XIX ainda registraria inúmeras entradas de zebuínos, porém de forma desconexa e aparentemente destituída de objetivos práticos. Os anos compreendidos entre 1870 e 1875 formam, provavelmente, o período que se registra importações intencionais, encomendadas por criadores do Estado do Rio de Janeiro e Bahia. O ano de 1893 registra a primeira viagem de um brasileiro à Índia, o criador Teófilo de Godoy, com a finalidade precípua de adquirir animais zebuínos. Várias outras importações se sucederam até o ano de 1962, quando a entrada de material genético proveniente da Índia foi definitivamente fechada pelo governo brasileiro. Na realidade, após a grande importação de 1920 (804 cabeças), as importações já haviam sido proibidas. Aquelas realizadas em 1930, 1952, 1960 e 1962 já haviam ocorrido com exigência de quarentenário e sob licença especial do Estado, que não mais seriam concedidas até os dias atuais. Essas poucas incursões de brasileiros ao rico material genético zebuíno da Índia daquela época, contribuíram de forma absolutamente decisiva para o estabelecimento do rebanho nacional. Pelas estatísticas oficiais disponíveis, entraram no território brasileiro cerca de 6.300 animais zebuínos, de seis raças diferentes (Prozebu, 1984), volume que, contraposto ao de raças européias, com número estimado de mais de 1 milhão de exemplares, nos apresenta uma prova contundente e irrefutável de capacidade adaptativa dos zebuínos às nossas condições ambientais já que, atualmente, estima-se que 80% do rebanho nacional (Mariante et al, 1985) - o maior rebanho bovino comercial do mundo - tenha genética zebuína, sob a forma de animais puros ou cruzados. Isso nos leva a existência de aproximadamente 131 milhões de cabeças com constituição genética zebuína, dentro do universo de aproximadamente 165 milhões apontado pelo Anualpec 2004. Os serviços de registro genealógico começaram a surgir no Brasil no início do Século XX, baseados em modelos europeus, onde essa prática já era, à época, bastante comum. O estabelecimento do então chamado “Herd Book da raça Zebu” ocorreu em 16/02/1919, por iniciativa de criadores da região do Triângulo Mineiro”, em Minas Gerais. Desse serviço, alguns animais foram exportados para o México (e daí 26 chegaram aos Estados Unidos) e para países da América Central. O Herd Book da Raça Zebu veio a ser absorvido por outra entidade, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM, em 18/06/1934. Em 25/03/1967 a SRTM foi transformada na atual ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Em 1936 firma-se convênio com o Ministério da Agricultura para execução dos registros genealógicos de raças bovinas de origem indiana, em regime de Livro Aberto, para todo o território nacional, como decorrência do tratado de Roma, firmado no mesmo ano, em 14 de outubro, do qual o Brasil foi um dos países signatários (Prozebu, 1984). Os padrões raciais para as raças Gir, Nelore, Guzerá e do tipo Indubrasil foram estabelecidos e aprovados em 1938, ano que marca os primeiros registros genealógicos oficiais (17/07/38) com a marcação de animais Indubrasil pelo Senhor Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas e pelo Senhor Governador do Estado de Minas Gerais, Dr. Benedito Valadares; e de animais Nelore pelo Sr. Ministro da Agricultura, Dr. Fernando Costa; e de animais da raça Gir. Em 17/02/1939 foram registrados os primeiros animais da raça Guzerá, de propriedade do Governo Federal. Em setembro de 1961 foram registrados os primeiros animais da raça Sindi. A variedade mocha da raça Nelore teve seus primeiros animais registrados em 25/02/1969, seguidos pelos da raça Tabapuã em 01/02/71, e pelos da raça Gir Mocha, em 31/01/1976. Em 1971 foi determinado o fechamento do Livro de Registro, sendo instituídos, à mesma época, o Livro Auxiliar – LX e o Livro Aberto – LA, sendo que o primeiro se destinava ao registro de fêmeas de fundação das diversas raças e, o segundo, para o acompanhamento de grupos étnicos em verificação. Em 1975, foi adotada a nomenclatura internacional “PO” – Puros de Origem (abrangendo o antigo “LF” – Livro Fechado e seus descendentes); PC – Puros por cruzamento (abrangendo o LX) e LA – Livro Aberto, para os grupos étnicos com acompanhamento zootécnico. Em 1982 a categoria “PC” é incorporada à categoria “LA”, permanecendo apenas a nomenclatura “PO” e “LA”. Estabeleceu-se, também, à época, que os animais “LA” com três gerações ascendentes conhecidas passariam à categoria “PO”, exigência que foi reduzida, em 1997, para duas gerações ascendentes conhecidas. 27 Quadro 1: Número de animais inscritos no Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas: Registros Genealógicos de Nascimento – RGN e Registros Genealógicos Definitivos – RGD, por raça e período. RGN Raça 1939 a 2000 2001 2002 2003 2004 Total geral % geral Gir Mocha 35.247 459 474 420 293 36.893 0,53% Gir 502.995 6.144 7.645 8.316 8.747 533.847 7,63% Guzerá 227.721 8.384 10.022 12.149 12.904 271.180 3,88% Indubrasil 209.224 830 368 447 394 211.263 3,02% Nelore 4.162.149 189.508 219.186 284.873 321.600 5.177.316 74,01% Nelore Mocha 405.383 24.867 31.746 37.589 34.756 534.341 7,64% Sindi 8.778 340 278 251 360 10.007 0,14% Sindi Mocha 0 0 0 0 0 0 0,00% Tabapuã 155.494 9.813 11.921 14.885 15.629 207.742 2,97% Cangaiam 29 0 0 0 17 46 0,00% Brahman 1.651 1.193 1.767 3.427 4.381 12.419 0,18% Total 5.708.671 241.538 283.407 362.357 399.081 6.995.054 100,00% RGD Raça 1939 a 2000 2001 2002 2003 2004 Total geral % geral Gir Mocha 22.977 766 797 775 673 25.988 0,68% Gir 294.166 3.969 4.069 4.924 5.669 312.797 8,18% Guzerá 112.258 5.163 4.498 7.006 6.470 135.395 3,54% Indubrasil 125.096 409 338 229 209 126.281 3,30% Nelore 1.901.827 128.714 174.354 206.494 195.434 2.606.823 68,21% Nelore Mocha 258.249 33.296 52.189 65.548 57.829 467.111 12,22% Sindi 4.746 323 327 120 461 5.977 0,16% Sindi Mocha 0 0 83 0 35 118 0,00% Tabapuã 91.162 6.890 8.039 9.924 8.346 124.361 3,25% Cangaiam 50 0 0 22 30 102 0,00% Brahman 2.443 2.026 3.224 3.832 5.146 16.671 0,44% Total 2.812.974 181.556 247.918 298.874 280.302 3.821.624 100,00% Fonte: Superintendência Técnica da ABCZ, 2005. 28 Após o estabelecimento do Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas, manteve-se, por parte da ABCZ e por parte dos criadores, uma postura de fidelidade e obediência aos padrões estabelecidos assim como às suas revisões e modernizações ao longo desses 67 anos de registro de raças indianas. Foi exatamente essa perseverança e rigor no atendimento aos padrões que consolidaram as raças zebuínas no cenário nacional e que, rapidamente conquistaram o reconhecimento do exigente mercado internacional. Por outro lado é extremamente óbvio que estruturas de pedigree que não contenham dados de produção, terminam por ser uma rede de nomes interligados, dos quais, com o passar dos anos, ninguém será capaz de lembrar o mérito genético. Movidos, então, pela necessidade de associar aos nomes, dados de performance que permitissem a caracterização genética dos indivíduos, deu-se início a uma segunda fasena seleção das raças zebuínas. SEGUNDA FASE: O ESTABELECIMENTO DAS PROVAS ZOOTÉCNICAS A ABCZ implantou, a partir de 1968, o Controle do Desenvolvimento Ponderal – CDP, que foi intensificado em 1974 graças à oficialização do PRONAMEZO e do PROZEBU pelo Ministério da Agricultura, envolvendo já outras provas zootécnicas, as quais, mais tarde, em 1992, viriam a ser reunidas sob o nome de PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. No conjunto de provas, o CDP – Controle do Desenvolvimento Ponderal, a primeira a ser instituída pela ABCZ, foi originalmente concebida como uma prova de performance em nível de rebanho, operacionalmente viabilizada pela pesagem de animais de 0 a 18 meses, quatro vezes por ano. A estrutura de pedigree, preexistente, forneceria os dados adicionais de identificação dos animais, ascendentes, data de nascimento, etc. Com uma estrutura própria de colheita de dados, na qual, aos pesos registrados eram adicionados a condição de criação e o regime alimentar dos animais, o CDP permitiu definir o perfil econômico de cada uma das raças zebuínas, e, principalmente, auxiliar na seleção dentro do rebanho, usando a metodologia de desvios de grupos de contemporâneos. 29 O quadro 2 apresenta a estatística do CDP por raça. O CDP foi o precursor das avaliações genéticas das raças zebuínas e hoje, com modificações acrescidas ao longo do tempo, continua sendo a espinha dorsal do Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas. QUADRO 2: CDP- Controle do Desenvolvimento Ponderal: número de animais inscritos (N) e número de pesagens realizadas, por raça, no período de 1968 a 2004. Raça N % Pesagens % Gir Mocha 14.479 0,80 59.383 0,84 Gir 69.923 3,87 245.246 3,48 Guzerá 110.313 6,10 427.240 6,07 Indubrasil 41.394 2,29 146.226 2,08 Nelore 1.286.200 71,11 5.007.637 71,15 Nelore Mocha 172.660 9,55 694.488 9,87 Sindi 648 0,04 2.699 0,04 Tabapuã 102.096 5,64 418.363 5,94 Brahman 11.045 0,61 37.289 0,53 Total 1.808.758 100,0 7.038.571 100,0 Fonte: ABCZ/SUT/SMG - 2005. Embora o foco principal na colheita de dados no CDP seja o peso dos animais, esta não foi, absolutamente, a característica priorizada no programa de melhoramento genético de zebuínos da ABCZ. Junto com o peso – sem dúvida uma medida importante e reconhecida pelo mercado – valores de eficiência reprodutiva, habilidade materna e precocidades sexual e de acabamento, assumem posição de destaque, e a bem da verdade, para as características reprodutivas, posição prioritária. Outras modalidades de prova zootécnicas adotadas pela ABCZ a partir de 1972, foram as Provas de Ganho em Peso – PGP, que consistem em submeter animais machos, com variação de idade de no máximo 90 (noventa) dias, a um mesmo manejo e regime alimentar durante o período de prova, para avaliação do mérito genético nos caracteres ganho em peso, peso final e tipo. As PGP’s estão 30 divididas em três modalidades, a fim de atender os interesses de cada criador: a pasto, em confinamento e de animais de dupla aptidão. O quadro 3 apresenta o volume de animais testados nas provas de ganho em peso realizadas pela entidade. Buscando formatar uma metodologia que permitisse a percepção e registro das diferenças morfológicas entre os animais, foram instituídas as avaliações de tipo, cujo objetivo básico e direcional é identificar aqueles animais que, nas condições viáveis de criação e em consonância com o mercado consumidor, cumpram seu objetivo eficientemente em menos tempo. As avaliações do tipo envolvem os seguintes aspectos: estrutura (E), precocidade (P), musculatura (M), umbigo (U), raciais (R), aprumos (A), sexuais (S). No processo, avaliadores treinados atribuem escores visuais em uma escala crescente de pontos, complementando as avaliações objetivas, tais como peso e ganho em peso. Quadro 3: Número (N) de animais em Provas de Ganho em Peso realizadas no período de 1975 a 2004 (557 em confinamento e 213 a pasto) Fonte: ABCZ/SUT/SMG - 2005. Embora a grande maioria das populações zebuína no Brasil tenha sido direcionada para a produção de carne, existe um componente genético natural em algumas delas que as tornam eficientes produtoras de leite, ou carne e leite. De forma geral, sobressaem nesses aspectos as raças Gir, Gir Mocha, Guzerá e Sindi. Alguns núcleos de Indubrasil e Nelore, embora em menor escala, também apresentam aptidão leiteira. Raça N % Gir 293 0,87 Gir Mocha 40 0,12 Guzerá 1.708 5,06 Brahman 30 0,09 Indubrasil 230 0,68 Tabapuã 3.391 10,05 Nelore 26.271 77,90 Nelore Mocha 1.763 5,23 Total 33.726 100,0 31 Programa específicos para a identificação de valores genéticos leiteiros têm sido cada vez mais abrangentes. A ABCZ mantêm, desde 1974, um Serviço de Controle Leiteiro – SCL, apoiado em bases técnicas e que tem sustentado as avaliações genéticas no país. Programas de avaliação genética foram implementados em parceria com a universidades e instituições de pesquisa. Uma demanda crescente de material genético avaliado para produção de leite tem impulsionado esses programas e já se encontram disponíveis no mercado inúmeras avaliações genéticas de reprodutores, principalmente das raças Gir e Guzerá. Quadro 4: Serviço de Controle Leiteiro - Cl: Número de vacas inscritas e número de controles efetuados, de 1975 a 2004. RAÇA MATRIZES % PESAGENS % ENCERRADAS % GIR 15.990 67,89 129.199 68,32 13.181 69,08 GIM 941 4,00 7.048 3,73 724 3,79 GUZ 2.792 11,85 22.007 11,64 2.244 11,76 NEL 404 1,72 3.169 1,68 361 1,89 SID 135 0,57 1.174 0,62 122 0,64 ZL 3.185 13,52 25.700 13,59 2.350 12,32 IND 107 0,45 807 0,43 98 0,51 TOTAL 23.554 100,00 189.104 100,00 19.080 100,00 Fonte: ABCZ/SUT/SMG – SCL, 2005. TERCEIRA FASE: AS AVALIAÇÕES GENÉTICAS NAS POPULAÇÕES ZEBUÍNAS Após décadas da instalação e operação ininterrupta das provas zootécnicas e frente ao novo estado da arte da ciência, a ABCZ ingressa no universo das avaliações genéticas, fortemente apoiada pela Embrapa através de sua unidade Gado de Corte. A obtenção das avaliações genéticas na seleção das raças zebuínas foram pioneiramente disponibilizadas no Brasil nos Sumários de Touros Zebuínos - Seleção para corte, elaborado pelo Centro Nacional de Gado de Corte da Embrapa, entidade a qual a ABCZ é conveniada desde 1981. A 12ª edição (atual) dos Sumários de Touros (2004), seleção para corte, que contempla as raças 32 Brahman, Gir, Gir Mocha, Guzerá, Indubrasil, Nelore e Tabapuã, apresenta avaliações genéticas para as características de crescimento (efeitos direto e materno) e reprodutivas (intervalo entre partos e circunferência escrotal). Na seleção para leite, a entidade, juntamente com a equipe técnica da Unesp (Campus de Jaboticabal), já editou três sumários de touros com avaliação genética para produção de leite. Muitos outros programas de melhoramento estão plenamente estabelecidos no país. Todos eles, sem dúvida, estão contribuindo para a otimização do uso dos recursos genéticos disponíveis dentro das raças zebuínas. A BASE GENÉTICA ZEBUÍNA NO BRASIL A contribuição das raças zebuínas para a produção de carne e leite no Brasil em sistemas de produção auto-sustentáveis é uma constatação inequívoca frente a estimativa de que 80% da população bovina no país tenha alguma composição genética de zebu, sejam puros ou viabilizando cruzamentos. É um número impressionante que, mesmo sem precisão matemática, demonstra o poder de sobrevivência, crescimento e multiplicação das raças zebuínas nas nossas condições, sobretudo partindo de um núcleo inicial tão pequeno (Josahkian, 1999). Essa base originalmente estreita de animais zebuínos (já que as importações da Índia estão suspensas desde a década de 1960), associada aouso cada vez mais amplo de biotecnologias tais como a transferência de embriões, fecundação in vitro, sexagem de sêmen, dentre outras, têm conduzido a uma concentração de uso de determinados reprodutores (touros e vacas) dentro das raças, geralmente eleitos por critérios mistos que consideram avaliações fenotipicas e avaliações genéticas. Nesse contexto, três abordagens têm sido discutidas: a primeira, a instituição de mecanismos que evitem o aumento excessivo da consangüinidade na seleção; a segunda, a identificação e o resgate de linhagens que tenham sido preteridas ao longo do tempo por razões mercadológicas ou até mesmo por preferências coletivizadas pelos selecionadores; e uma terceira abordagem, que se constituí na reabertura do mercado de material genético com a Índia. Embora tenham havido essas preocupações e as duas primeiras possibilidades venham sendo efetivamente adotadas por parte das instituições e dos criadores envolvidos com a seleção das raças zebuínas, existem indicativos na literatura da ocorrência de um estreitamento 33 dessa base genética para as raças zebuínas. Para Faria et al, 2001 e Vercesi Filho et al, 2002, em alguns casos, como nas raças Indubrasil e Sindi, o estreitamento da base genética associado ao reduzido efetivo populacional ativo dessas populações, podem até mesmo comprometer a subsistência desses grupos caso medidas efetivas não sejam levadas a efeito. Os mesmos autores encontraram igualmente um estreitamento de base genética para as demais raças zebuínas e sugerem, para todas, de uma forma geral, a adoção de estratégias nos acasalamentos que contribuam para o aumento da diversidade genética dentro das raças zebuínas. Estudos iniciais de Ripamonte (2002), estimaram para a raça nelore a ocorrência aproximada de 6% de hibridização por taurinos em populações da raça, estimados por marcadores microssatélites e satélite, provenientes, em sua maior parte de herança mitocondrial de linhas maternas. Tal assertiva demonstra que a base genética zebuína verdadeiramente pura pode estar concentrada em um núcleo ainda menor de animais, que seriam aqueles descendentes em linha direta de reprodutores (pai e mãe) originados do continente indo-paquistanês. Embora careçam de mais estudos, essas observações realçam a importância, em algum momento, dos núcleos portadores de germoplasma não hibridizado para o aumento da variabilidade genética da raça. 34 CONCLUSÕES O impacto econômico positivo do material genético zebuíno para a pecuária brasileira é consideravelmente superior ao do material genético de raças exóticas européias, pelo fato de que ele proporcionou a instalação no país de uma pecuária auto-sustentável, não dependente de fatores externos e nem da modificação constante do meio-ambiente natural de que dispomos. A baixa variabilidade genética indicada por alguns estudos dentro das raças zebuínas, embora careçam de mais observações, já se constituí em motivo para considerações estratégicas nos acasalamentos e revitalização de linhas e famílias menos utilizadas, evitando-se um estreitamento indesejável. Essas situações são mais fortemente percebidas em raças cujas populações têm um menor efetivo populacional, embora possam ser generalizadas para todas as raças zebuínas. Não obstante, grandes progressos genéticos têm sido alcançados ao longo dos vários anos de seleção, através de programas de melhoramento bem estruturados e consoantes com um mercado cada vez mais exigente e globalizado. Mobilizações mais recentes da quase totalidade dos selecionadores na busca de soluções técnicas e duradouras, amparadas por uma estrutura organizada de rebanhos e mão-de-obra vocacional para a atividade, estão conduzindo a população zebuína para patamares superiores de produção, numa velocidade só possível de ser encontrada onde ocorre a conjunção perfeita dos fatores de produção: terra, capital, trabalho e genética adequada. As possibilidades de avanço ainda são infinitas e sua obtenção depende em grande parte do estabelecimento de ações coordenadas e permanentes ao longo de toda a cadeia seletiva. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESTATÍSTICAS. In: Anualpec 2004 – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativos. 2004. 376p. p.63. FARIA, F.J.C.; VERCESI FILHO, A.; MADALENA, F. H.; JOSAHKIAN, L.A. Parâmetros Populacionais do Rebanho Sindi Registrado no Brasil.. Revista Brasileira de Zootecnia. Vol.30 nº 6 suppl.0 Viçosa Nov./Dec. 2001 FARIA, F.J.C. Estrutura genética das populações zebuínas brasileiras registradas. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, 2002. 117 p. Tese (Doutorado em Ciência Animal) Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. JOSAHKIAN, L. A. e MACHAD, C.H.C. Manual do programa de melhoramento genético das raças zebuínas. Uberaba: ABCZ, 1998. 96p. MARIANTE, A . S.; NOBRE, P.R.C.; ROSA, A. N.; EVANGELISTA, S.R.M. Resultados do Controle de Desenvolvimento Ponderal – Raça Nelore – 1975/ 1984. 88p. (Embrapa – CNPGC. Documentos, 25). RIPAMONTE, P. Estimativa da Participação do Genoma Bos Taurus no Rebanho Nelore. Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, 2002. Dissertação (Mestrado em Qualidade e Produção Animal) Universidade de São Paulo, 2002. 36 CAPÍTULO IV NOVOS PARÂMETROS NA SELEÇÃO DO ZEBU Nelson Rafael Pineda Rodrigues Nascido na Venezuela, formado em Ciências Exatas e Engenharia Química pela Universidade de Genebra, (Suíça). Pós-graduado em Química Orgânica pela mesma universidade. Associado de Pesquisa nas Universidades de Genebra (Suíça) e York (Inglaterra), Analista do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares. Genebra. Suíça. Professor Associado da Universidade Politécnica de Caracas, (Venezuela). 37 O IMPACTO DA SANIDADE ANIMAL NAS EXPORTAÇÕES DA CARNE BOVINA BRASILEIRA Nelson Pineda1 INTRODUÇÃO As exportações do complexo carne bovina tiveram um excelente desempenho no ano de 2003, ocupando o segundo lugar no ranking das exportações do agronegócio. De janeiro a setembro do ano passado as receitas do setor, incluindo as vendas externas de couro, alcançaram US$ 4,68 bilhões, com acréscimo de 17,7% sobre o valor exportado de US$ 3,97 bilhões, registrado no mesmo período do ano anterior. As exportações de carne bovina cresceram 33,7%, chegando a US$ 1,04 bilhão, contra US$ 779,1 milhões em vendas externas, em igual período de 2002. (CNA, 10/2003). O Brasil conseguiu no último ano um resultado bem além das previsões mais otimistas. Sem dúvida a competência do setor frigorífico e da nossa pecuária de maneira geral tiveram um papel importante, no entanto é necessário admitir que, num cenário internacional de retração de consumo, alguns acontecimentos circunstanciais afetaram os nossos maiores concorrentes e várias crises sanitárias ajudaram a configurar um ambiente de oportunidades para a carne brasileira. Hoje, o grande desafio é consolidar estas vantagens competitivas e determinar dentro da própria cadeia produtiva onde queremos chegar na próxima década, o que deve ser feito a partir do cenário atual demarcado pelos diagnósticos disponíveis e pelas tendências que já podem ser identificadas. Este é um exercício difícil, mas que tem o mérito de fixar metas de curto prazo, superando os problemas imediatos que sempre parecem insuperáveis (Farina & Zylbersztajn, 1999). Sem dúvida a competitividade do agronegócio da carne bovina passou a depender fortemente da aplicação da ciência e da tecnologia, assim como da qualidade da informação, da capacidade de transformar os conhecimentosgerados em estratégias de gestão e, sobretudo, na capacidade de coordenação dos processos desde a produção até o consumo interno e acesso aos mercados globais, passando pela industrialização, logística de distribuição, varejo e exportação. Nesse ambiente dinâmico, os preços relativos, os 1 Diretor da ABCZ – Vice-presidente internacional do SIC. pineda@terra.com.br 38 custos, enfim, as vantagens comparativas, constituem informação de extrema importância, mas são insuficientes para traçar estratégias de inserção ativa na competição internacional. A carne bovina brasileira continuou neste início do ano 2004 sua rota de sucesso no mercado internacional, obteve receita de US$ 666,9 milhões com exportações de carne bovina entre janeiro e abril deste ano, o que representa um crescimento de 54,85% sobre o total de US$ 430,7 milhões registrados em igual período do ano passado. O volume total exportado também cresceu, somando 502,7 mil toneladas exportadas nos primeiros quatro meses deste ano, frente a 420,6 mil toneladas no primeiro quadrimestre de 2003, o que representa aumento de 19,5%. O cálculo leva em conta o conceito de equivalente-carcaça, somando o total de carne bovina in natura e industrializada exportada. Somente em abril, as exportações de carne bovina atingiram 136 mil toneladas, com receitas de US$ 184 milhões. Em abril de 2003, o Brasil exportou 108 mil toneladas, rendendo US$ 111,5 milhões (CNA, 05/2004). Algumas tendências, além do crescente papel da informação, já podem ser percebidas: a organização da produção vem sofrendo profundas e rápidas transformações, a concorrência ganhou dimensão global, tudo isso em meio a uma evolução tecnológica sem precedentes. Uma vez identificadas, as formas específicas com que tais tendências aparecem para a cadeia produtiva da carne bovina brasileira, será possível conceber um conjunto de ações que viabilizem o aproveitamento de oportunidades de crescimento ímpares para o Brasil nesta década. O CONSUMO MUNDIAL DE CARNES A Tabela 1 mostra que o consumo mundial de carne bovina diminuiu ligeiramente em 2003 (-0,4%), depois de um crescimento acentuado de 2,8% em 2002. Seguramente a explicação se encontra na alta de preços internacionais, na diminuição da oferta dos países produtores e nas restrições impostas pelo aparecimento da encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Sem dúvida estas são es explicações no maior mercado mundial que são os Estados Unidos, onde o 39 consumo de carne bovina caiu devido a queda da produção interna e ao fechamento das importações do Canadá a partir de dezembro de 2003. De uma forma geral na maioria dos paises o consumo de carne se estabilizou ou diminuiu e o consumo mundial se estabilizou como mostra a Tabela 2. A produção aumentou ligeiramente graças ao aumento do consumo de carne bovina na China, que também sustentou o mercado de frango apesar do aparecimento do SARS. Tabela 1.- Consumo mundial de carnes* 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 Bovinos 59238 59703 59336 61000 60756 -0,4 Caprinos 11100 11400 11300 11500 11700 +1,7 Suínos 89900 89300 91500 94300 95800 +1,6 Aves 65427 68676 71047 73869 75200 +1,8 Total 225665 229078 233182 240669 243456 +1,2 Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003. *Toneladas equivalents de carcaça Tabela 2.- Consumo per capita mundial de carnes* 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 Bovinos 9,9 9,9 9,7 9,8 9,7 -1,6 Caprinos 1,90 1,90 1,80 1,90 1,91 +0,6 Suínos 15,0 14,7 14,9 15,0 15,2 +0,4 Aves 10,9 11,3 11,6 11,9 12,0 0,6 Total 37,7 37,8 38,0 38,7 38,7 0,0 Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003. *Kg/hab/ano Tabela 3.- Consumo de carnes nos maiores consumidores mundiais* 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 China 60304 62125 63726 66238 67238 +2,4 USA 34486 34672 34846 36631 36672 -0,2 UE 33985 33587 33325 34054 34312 +0,8 Brasil 12789 13659 13650 14058 14025 -0,2 Mundo 225665 229078 233182 240669 243456 +1,2 Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003.. *x1000 Toneladas de equivalente de carcaça 40 O mercado europeu, foco central das nossas exportações, fechou o ano 2003 com tendência de alta apesar da conjuntura econômica, porém de forma menos pronunciada que no ano de 2002. Nosso mercado interno igualmente estabilizado, apesar do crescimento demográfico, mostra a clara tendência de retração e os nossos maiores frigoríficos estão focando suas estratégias de crescimento no mercado internacional em detrimento do cuidado do consumidor brasileiro. A China é o grande alvo da produção mundial, responsável por mais de 50% do aumento do consumo geral de carnes, produto do seu crescimento econômico vertiginoso. Outros paises têm apresentado aumento de consumo, como os novos integrantes da comunidade européia (+3,8%), o México (+3,6%) e igualmente os paises do Oriente Médio e da África do Norte (+2,2%). Estes últimos, por causa da expansão demográfica. (OFFIVAL, 2003). O REBANHO BRASILEIRO DENTRO DO CONTEXTO MUNDIAL No ano 2003, o rebanho mundial bovino não apresentou crescimento significativo. A expansão dos rebanhos chinês (+2%) e brasileiro (+1.5%) foi compensada com a diminuição dos rebanhos australiano, americano, russo e europeu. A maior retração de rebanho foi sem dúvida na Austrália, conseqüência da forte seca que assolou este país em 2002. Os rebanhos argentino e uruguaio se mantiveram praticamente estabilizados, com um pequeno aumento da produção de carne da ordem de 4,7% e 1,8% respectivamente. Os preços internacionais, a reconstituição dos rebanhos após os casos de febre aftosa e a melhoria da economia interna tem ajudado no reposicionamento internacional destes paises. O aspecto sanitário no mundo mudou os atores no mercado mundial. O ano 2003 foi marcado pela aparição de casos de EEB no Canadá e nos Estados Unidos, como também os casos de febre aftosa no norte da Argentina. Após a alta sensível registrada nos abate mundial (+2,8%) em 2002, o abate mundial teve uma retração (-0,4%). Neste cenário o Brasil aumentou sua produção (+3,3%) alavancado pela forte alta dos preços da carne brasileira no exterior. Houve uma elevação dos preços médios pagos pela carne bovina brasileira no mercado internacional, beneficiando a balança comercial do setor. Em abril deste ano, o preço médio pago pela carne bovina in natura exportada foi de US$ 2.186,00 a tonelada, 35,8% a mais que o valor 41 de US$ 1.610,00 vigente em abril de 2003. O preço médio da carne industrializada foi de US$ 2.157,00 por tonelada, no mês passado, um aumento de 14,5% na comparação com US$ 1.883,00 que vigorava em abril, enquanto que os preços pagos aos produtores caíram (Tabela 4). Nos últimos quatro anos a oferta de carne brasileira aumentou 12% com crescimento acentuado do gado da raça Nelore no centro-oeste do país. A China teve também no abate um crescimento sensível (+3%), enquanto que a Austrália, Nova Zelândia, USA, Rússia e a União Européia diminuíram suas taxas de abate. O Brasil aumentou suas exportações ao Oriente Médio ocupando os espaços deixados pelos exportadores europeus. O Egito foi o principal comprador de carne bovina brasileira neste primeiro quadrimestre, com aquisições de US$ 69,16 milhões (119,7% a mais que as importações de US$ 31,5 milhões em igual período do ano passado), em segundo lugar ficou o Chile, responsável por compras de US$ 63,4 milhões de carne bovina brasileira entre janeiro e abril de 2004 (60,4% a mais que os US$39,5 milhões no mesmo período do ano passado). Para a Comunidade Européia as exportações também aumentaram, mesmo com altas taxas tarifárias,. o mesmo ocorrendo com a Rússia. Porém os mercados americano e do sudoeste asiático continuam fechados para o país por motivos sanitários. TABELA 4.- Preços pagos aos produtores dos maiores exportadores mundiais* 1999 2000 2001 2002 2003 1999/2003 Argentina 1.436 1.582 1400 855 1200 -12,9 Austrália 1.460 1532 1.638 1.580 2.115 +43,8 Brasil 1.230 1.480 1.250 1.100 1.250 +2,4 EU 2.555 2.269 1.873 2.086 2.449 +2,5 USA 2.622 2.764 2.896 2.680 3.407 32,3 Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003.. *US$/Ton. AS TENDÊNCIAS DA ECONOMIA E O IMPACTO NO COMSUMIDOR As tendências econômicas influenciam de forma marcante o perfil do consumidor. O seu monitoramento sociológico e cultural ajuda a desenvolver conhecimentos, traçar perfis, definir novos conceito, criar vantagens competitivas e, 42 sobretudo, antecipar tendências para o posicionamento futuro do Brasil como maior exportador mundial de carne bovina. A seqüência de eventos sobre crises de segurança alimentar tem mudado a percepção do consumidor sobre qualidade na qual o aspecto sanitário passou a ser o item número um a ser considerado pelos consumidores de carnes vermelhas. Hoje os cenários econômicos, as preferências dos consumidores e a percepção de qualidade sanitária são conceitos interativos que precisam ser encarados de forma global. Faith Popcorn, consultor da BrainReserve (The Popcorn Report, 1992), apontou dez tendências econômicas que continuam sendo uma base sólida de análise do consumidor: 1. Retorno às origens: Há um retorno nostálgico aos nossos valores da infância, das pequenas cidades, a natureza a segurança. 2. Encasulamento: O aumento da criminalidade leva a busca pela vida interiorizada na procura da autopreservação, onde as compras via Internet, televisão e círculos restritos de amizade são dominantes. 3. Retardamento do envelhecimento: As pessoas estão propensas a um estilo diferente da sua faixa etária. Cirurgias plásticas e tratamentos faciais, roupas jovens e um estilo de vida light dita os padrões de consumo. 4. Egotismo: O desejo das pessoas serem individualizadas e tratadas de forma diferente. As empresas passam a desenvolver produtos, serviços e experiências personalizadas. 5. Fuga da rotina: O fim de semana traz a fuga da rotina diária e neste momento passam a ser consumidores totalmente diferentes que no dia-a-dia. 6. 99 Vidas: a supermãe, o empresário, que têm que resumir suas vidas na Internet ou no celular, encontram nos centros de consumo múltiplo a melhor maneira de sintetizar as necessidades simultâneas. 7. Guardiões da sociedade: As pessoas começaram a ter uma preocupação com meio ambiente, comportamento ético e conseqüências sociais. As grandes empresas começaram todas elas a praticar marketing social e associar a imagem da empresa a projetos desta natureza. 8. Busca de pequenas indulgências: Levar uma vida regrada e no fim de semana consumir uma picanha Bassi e um sorvete Haagen-Dazs. A empresa tem que estar pronta para oferecer os pequenos mimos como compensação emocional. 43 9. Manter-se vivo: Sabemos que os velhos hábitos matam. Comer alimentos errados, fumar e respirar ar poluído estão na contramão do consumidor moderno. 10. O consumidor vigilante: Não tolera produtos de má qualidade, serviços inadequados e menos ainda levar para à família riscos de contaminação. Estas tendências mostram a preocupação do consumidor pela sua saúde e pela segurança dos alimentos. De outra forma já foram descritas por Smith et al. (2000), ao colocar as perguntas que se faz o consumidor por ordem seqüencial de prioridades: Não me fará mal, é bom para mim, posso pagar, como preparar, tenho tempo, ficará saboroso. Estas perguntas estão relacionadas com: segurança, saúde, custo, preparação, conveniência e preferência. É inegável e contundente que os mercados que se abrem para a carne brasileira estão preocupados com sanidade animal e estes mercados exigem da cadeia produtiva da carne bovina: compromisso, coerência, respeito, honestidade, clareza, confiança e, sobretudo, segurança animal. CARNE DE ÓTIMA QUALIDADE Segundo Felício (2000), qualidade é uma palavra de múltiplas interpretações que depende basicamente da matéria prima, produto ou serviço em questão e da abordagem do tema. Em se tratando de alimentos, as primeiras considerações sobre qualidade se referem às condições higiênico sanitárias do processo de produção e armazenamento, como também à possibilidade de contaminação por agentes químicos. A definição de carne de ótima qualidade é aquela dada por Dikemam (1991), autor citado por Felício (1993): “aquela que atrai o consumidor (cor atraente, pouca gordura, frescor e um mínimo de suco aparente); que é macia e suculenta quando preparada; que tem um alto teor protéico e uma baixa densidade calórica e que seja livre de microorganismos patogênicos e resíduos químicos, com uma contagem baixa de microorganismos deterioradores.” Esta visão de qualidade deve ter como base o princípio de precaução e estar colocada em três dimensões simultaneamente: legislação em matéria de segurança alimentar, sistemas de controle ao longo da cadeia produtiva e informação ao consumidor. (Comissão das Comunidades Européias, 2000) Ao longo das últimas décadas assistiu-se a uma evolução notável, tanto nos métodos de produção e processamento de alimentos como nos controles 44 necessários para assegurar a observância de normas de segurança aceitáveis. Torna-se evidente que o Brasil deverá atualizar sua normas e adaptar-se a esta nova realidade. Mas a experiência de cada unidade da federação deverá ser aproveitada para criar um sistema de vigilância integrado, modular flexível e eficiente nos diferentes cenários do país. Neste contexto surge também a necessidade de incentivar a participação do consumidor na definição da política de segurança alimentar, portanto é fundamental assegurar-lhe uma melhor informação sobre os novos problemas e os riscos que representam alguns alimentos. O consumidor tem o direito de esperar que lhe sejam fornecidas informações úteis, claras sucintas sobre a qualidade e os constituintes dos alimentos, de forma a poderem escolher com conhecimento de causa. Assim deveremos pensar em matéria de rotulagem da carne e a importância de explicar ao consumidor os benefícios da alimentação equilibrada e seu impacto sobre a saúde. 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS. Livro branco sobre segurança dos alimentos. Bruxellas, 2000. DIKEMAN, M. E.; Genetic effects on the quality of meat from cattle. Proceeding: 4TH WORLD CONGRESS ON GENETIC APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 1990. Edinburgh.UK. 1990. FARINA, E. M. M. Q. & ZYLBERSZTAJN, D.; Competitividade do agribusiness brasileiro. IPEA-PENSA-USP. V.1.1998. (www.fea.usp.br/fia/pensa). FELÍCIO, P. E. de; Reflexões sobre a qualidade da carcaça de gado Nelore. In: I SIMPÓSIO: O NELORE DO SÉCULO XXI,1993. Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto. SP. Brasil. 1993. p. 17. FELÍCIO, P. E. de; Qualidade da carne Nelore e o mercado mundial. In: 90 SEMINÁRIO PMGRN. Universidade de São Paulo, 2000. Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto. SP. Brasil. 2000. OFIVAL ANNUAIRE. Le marché des produits des viandes carnés et avicoles 2001. OFFIVAL – PARIS – FRANCE. 2001. POPCORN, F. The Popcorn report. Nem York: HarperBusiness, 1992. in Administração de marketing, análises e planejamento. Implementação e controle. Ed. Atlas. São Paulo. 1998. SMITH, G. C.; SOFOS, J. N.;
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