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SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO I 
Regimetno Interno do Departamento de Julgamento das Raças Zebuínas 13 
 
CAPÍTULO II 
Avaliação Zootécnica e Funcional em Bovinos de Corte Através da 
Avaliação Visual Epmuras 
 
20 
Introdução 21 
Desenvolvimento 22 
Avaliações Visuais 23 
Sistema De Avaliação Epmuras 24 
Referências Bibliográficas 30 
 
CAPÍTULO III 
As Raças Zebuínas no Brasil, The Zebu Breeds In Brazil 31 
Introdução 32 
Desenvolvimento 34 
Primeira Fase: Introdução dos Zebuínos No Brasil e o Estabelecimento do 
Registro Genealógico 
34 
Segunda Fase: O Estabelecimento das Provas Zootécnicas 38 
Terceira Fase: As Avaliações Genéticas nas Populações Zebuínas 41 
A Base Genética Zebuína no Brasil 42 
Conclusões 44 
Referências Bibliográficas 45 
 
CAPÍTULO IV 
Novos Parâmetros na Seleção do Zebu 46 
O Impacto da Sanidade Animal nas Exportações da Carne Bovina Brasileira 47 
O Consumo Mundial de Carnes 48 
O Rebanho Brasileiro Dentro do Contexto Mundial 50 
As Tendências Da Economia e o Impacto no Comsumidor 51 
Carne de Ótima Qualidade 53 
Referências Bibliográficas 55 
 
CAPÍTULO V 
O Uso de Medidas de Tamanho e Escores Visuais na Seleção de Gado 
Zebu 
56 
Introdução 57 
Tamanho vs Eficiência Produtiva 58 
Frame Size em Nelore 63 
Escores Visuais 65 
Escores Visuais e Características de Carcaça 67 
 
 
2 
Resultados Recentes 68 
Escores Visuais Dentro do Programa Nacional de Melhoramento Genético 
de Zebuínos 
71 
Considerações Finais 73 
Referências Bibilográficas 74 
 
CAPÍTULO VI 
Exterior de Zebuínos 77 
 Cabeça 79 
 Pescoço 85 
 Tronco 86 
Membros 91 
 Membros Anteriores 91 
 Membros Posteriores 93 
 Regiões Comuns aos Quatro Membros 94 
Aprumos 96 
 Aprumos Dianteiros ou dos Membros Anteriores 97 
 Aprumos Traseiros ou dos Membros Posteriores 99 
Pelagem 102 
 Pelagem Simples ou Uniformes 102 
 Pelagens Compostas 103 
 Pelagem Conjugada 104 
Bibliografia 105 
 
CAPÍTULO VII 
Métodos E Critérios de Julgamento 106 
Introdução 107 
1ª Fase: de Afirmação dos Tipos Raciais 108 
2ª Fase: do Culto ao Peso 109 
3ª Fase: do Culto ao Peso e ao Tamanho 109 
4ª Fase: da Busca Pela Eficiência e do Equilibrio 110 
5ª Fase: da Busca Pela Eficiência Global 111 
Julgando Animais 112 
Referência Bibliográfica 116 
Padrões das Raças Zebuínas 117 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
CAPÍTULO I 
REGIMENTO INTERNO DO DEPARTAMENTO DE JULGAMENTO 
DAS RAÇAS ZEBUÍNAS 
 
 
DA ORIGEM E FINS 
 
 Artigo 1º- O Departamento de Julgamento das Raças Zebuínas, - DJRZ - 
sucessor dos anteriores Colégios de Juizes, de Árbitros e de Jurados das Raças 
Zebuínas, é mantido e coordenado pela Associação Brasileira dos Criadores de 
Zebu, - ABCZ - onde tem sua sede. Funcionará junto ao Serviço de Registro 
Genealógico das Raças Zebuínas, - SRGRZ - e está subordinado ao 
Superintendente do Departamento Técnico. 
 Artigo 2º - O DJRZ tem como finalidades: 
 a) Congregar os profissionais das áreas de Engenharia Agronômica, Medicina 
Veterinária e Zootecnia, visando o julgamento de Zebuínos para: 
 a.1 - Registros Genealógicos; 
 a.2 - Assinatura de Certificados; 
 a.3 - Exposições e Feiras Agropecuárias. 
 b) Inscrever os profissionais habilitados e expedir os respectivos 
credenciamentos; 
 c) Fiscalizar o exercício da atividade de jurados, repassado à Diretoria 
Deliberativa da ABCZ os casos cuja solução ultrapasse a sua alçada; 
 d) Traçar diretrizes e promover, periodicamente, um Curso de Atualização 
com seu quadro de Jurados, visando unificar e aperfeiçoar critérios para o 
julgamento das diversas raças zebuínas; 
 e) Colaborar com a Superintendência Técnica na Organização de um Curso 
Intensivo de Julgamento dentro de normas e critérios que possibilitem a formação de 
novos jurados e a divulgação de métodos atualizados de julgamento; 
 f) Deliberar sobre questões oriundas das atividades dos jurados. 
 
 
 
 
 
4 
DA CONSTITUIÇÃO 
 
 Artigo 3º - O DJRZ tem a seguinte constituição: 
 - Superintendente Técnico da ABCZ; 
 - Superintendente Adjunto do Colégio de Jurados; 
 - Conselho Executivo; 
 - Conselho Ético; 
 - Quadro de Jurados. 
 Artigo 4º - O DJRZ será administrado por um coordenador, Jurado efetivo, 
obrigatoriamente Médico Veterinário, Zootecnista ou Engenheiro Agrônomo, 
indicado pelo Superintendente Técnico, em lista tríplice para a apreciação e escolha 
pela Diretoria da ABCZ, devendo seu mandato coincidir com o da mesma diretoria, 
podendo, todavia ser reconduzido para o mandado seguinte. 
 Artigo 5º - O Conselho Executivo será composto por todos os ex-
coordenadores do Departamento e pelos ex-diretores do Departamento Técnico e 
tem por finalidade: 
 Aproveitar, com vantagem, a experiência e a competência de cada um para 
inovação do DJRZ, bem como para tomar decisões sobre assuntos que não 
necessitam da aprovação de todo o corpo de jurados. 
 Artigo 6º - O Departamento de Julgamento é constituído por profissionais das 
áreas de Medicina Veterinária, Engenharia Agronômica ou Zootecnia, divididos nas 
seguintes classes: 
 Classe "A" - Jurados para julgamento de animais visando Registros 
genealógicos e inspeção para emissão Laudos Zootécnicos; 
 Classe "B" - Jurados para julgamentos de animais de Exposições e Feiras 
Agropecuárias. 
 Artigo 7º - Os Jurados, Classe "A" definidos no Artigo anterior, devem ser 
devidamente credenciados e pertencentes ao quadro técnico da ABCZ, ou das 
Entidades subdelegadas; 
 Parágrafo único - O credenciamento desses Jurados será feito pelo diretor 
do Departamento Técnico; 
 Artigo 8º - Os Jurados, Classe "B" definidos no Artigo 6º, sendo Efetivos e 
Auxiliares. 
 
 
5 
 Parágrafo 1º - Os Jurados Efetivos são aqueles já pertencentes aos quadros 
dos antigos: Colégio de Juizes, de árbitros, de Jurados e aqueles que se habilitarem 
de acordo com o Artigo 6º; 
 Parágrafo 2º - Os Jurados Auxiliares serão, além dos profissionais citados no 
Artigo 6º, os acadêmicos matriculados a partir do 6º período inclusive de cursos 
daquelas áreas, desde que devidamente matriculados, e que tenham participado de 
Curso Intensivo de Julgamento de Zebuínos, promovidos pela ABCZ. 
 Artigo 9º - Os Jurados Efetivos e Auxiliares serão credenciados através de 
carteiras expedidas pelo DJRZ e assinadas pelo presidente da ABCZ ou pelo 
Superintendente do Departamento Técnico, por delegação daquele. 
 
 
OBTENÇÃO DOS TÍTULOS DE JURADOS 
 
 Artigo 10º - O título de Jurado Efetivo poderá ser obtido: 
 1 - Pelo Jurado Auxiliar: através da Comprovação de haver atuado, pelo 
menos durante três anos, em um mínimo de 10 exposições, acompanhamento um 
mínimo de 05 jurados diferentes, com sete pareceres favoráveis ao seu 
desempenho; 
 2 - Pelo Jurado, Classe "A", através da comprovação de haver trabalhado na 
execução de Registro Genealógico pelo período mínimo de dois anos, de ter 
auxiliado, no mínimo em 5 (cinco) exposições, com três pareceres, de Jurados 
Efetivos diferentes, favoráveis ao seu desempenho, haver participado de um Curso 
Intensivo de Julgamento e ser avaliado positivamente pelo Superintendente do 
Departamento Técnico da ABCZ. 
 Artigo 11º - No caso de acadêmicos referidos no parágrafo 2º do artigo 8º, o 
título de Jurado Efetivo somente será fornecido após a conclusão do Curso 
Universitário e sua inscrição no respectivo Conselho, ainda que tenham cumprido as 
formalidades estabelecidas no item 1, do artigo anterior. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
DA COMPETÊNCIA DOS JURADOS 
 
 Artigo 12º - É da competência dos Jurados da Classe "A", devidamente 
credenciados, efetuar a Inspeção para julgamento dos animais das raças zebuínas, 
visando o Registro Genealógico e emissão de Laudos Zootécnicos, para 
financiamentos ou exportações.Artigo 13º - É de competência dos Jurados Efetivos da Classe "B", 
devidamente credenciado, o julgamento de zebuínos em Exposições e Feiras 
Agropecuárias. 
 Artigo 14º - As Exposições e Feiras Agropecuárias só terão os julgamentos 
zebuínos oficializados pela ABCZ quando eles forem efetuados por jurados da 
Classe "B". 
 Artigo 15º - Esses jurados poderão atuar nas exposições somente quando 
devidamente homologados pela coordenadoria do DJRZ. 
 Parágrafo único - A atuação dos Jurados Auxiliares não depende de 
homologação do Departamento. Ela resulta da iniciativa do Jurado Auxiliar junto ao 
Jurado Efetivo e a entidade promotora do certame. 
 Artigo 16º - Cada jurado só poderá julgar a raça ou grupo de raças para as 
quais esteja habilitado e credenciado. 
 Parágrafo único - Visando especializar cada vez mais o jurado, a indicação 
por parte do coordenador, para julgamento em exposição, deverá dar prioridade a 
jurado especializado para a (as) raça (as). 
 Artigo 17º - Será dado preferência ao julgamento por comissão tríplice e 
pontuado, a critério da entidade promotora, será tolerado o julgamento simples 
"jurado único". 
 Artigo 18º - Os jurados, nas suas atividades, deverão se orientar pelo 
regulamento do SRGRZ, pelos padrões das raças nele estabelecidos e pelas 
normas internas emanadas do Departamento Técnico e Regimento interno do DJRZ. 
 Artigo 19º - Nos julgamentos em Exposições, além das exigências do Artigo 
anterior, os jurados deverão também se orientar pelo "Regulamento para 
Julgamento de Zebuínos em Exposições". 
 Parágrafo único - Em casos excepcionais será admitida obediência ao 
Regulamento elaborado pela Entidade promotora da Exposição. 
 
 
7 
 Artigo 20º - Será obrigatório o comentário técnico, em terminologia 
zootécnica adequada, feito pelo Jurado através de microfone e alto falante, na pista, 
após o julgamento de cada campeonato. 
 Artigo 21º - O Jurado Efetivo poderá ser acompanhado por um ou dois 
jurados auxiliares, de acordo com a Entidade Promotora. 
 Parágrafo único - Não será permitida a presença na pista de julgamento de 
outras pessoas que não sejam os jurados, os auxiliares de pista ou peões. 
 Artigo 22º - Somente em caso de força maior, devidamente comprovada, 
será permitida a substituição de um jurado por outro. 
 Artigo 23º - Em caso de impossibilidade de comparecimento para julgar em 
Exposição para a qual tenha sido convidado e aceito, o Jurado deverá fazer a 
comunicação ao DJRZ e à Entidade Organizadora do certame, com antecedência. 
 Artigo 24º - Para avaliação dos Jurados Auxiliares pelo DJRZ, o Jurado 
Efetivo quando atuar em Exposição ou Feira Agropecuária, deverá apresentar ao 
Departamento de Julgamento, obrigatoriamente, até o último dia do mês seguinte ao 
do evento, "Relatório de Julgamento" RDE, contendo seu parecer sobre a atuação 
dos Jurados Auxiliares e as demais informações solicitadas no relatório. 
 Artigo 25º - Os Jurados Efetivos quando convidados diretamente para 
julgamento em Exposições, deverão entrar em contato e dar conhecimento do fato 
ao Departamento, ou pedir a Entidade Promotora da Exposição que solicite sua 
homologação junto ao DJRZ. 
 Artigo 26º - Os Jurados Efetivos, quando homologados para atuarem em 
Exposições ou Feiras Agropecuárias deverão, sempre que possível aceitar a 
participação de até dois Jurados Auxiliares, por raça, nos julgamentos. 
 Artigo 27º - Os Jurados Efetivos, quando designados para julgarem em 
Exposições, perceberão um "pró-labore" estipulado pela Diretoria Deliberativa da 
ABCZ, ouvido o Departamento Técnico e o DJRZ. 
 Parágrafo 1º - Além do "pró-labore", a Entidade Promotora assume inteira 
responsabilidade pela indenização das despesas de viagem e estada, durante os 
dias em que o jurado permanecer, à sua disposição. 
 Parágrafo 2º - O Jurado, quando viajar em carro próprio, será indenizado por 
quilômetro rodado, na base fixada pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvido o 
Departamento Técnico, sendo o valor estipulado em 35% (trinta e cinco por cento) 
do valor do litro da gasolina. 
 
 
8 
 Parágrafo 3º - A aceitação do julgamento de mais de uma raça ficará a 
critério do Jurado, de acordo com sua especialização e disponibilidade. 
 Parágrafo 4º - Até o último dia do mês subseqüente ao do julgamento, 
independente do valor cobrado o Jurado deverá remeter a ABCZ, obrigatoriamente, 
para manutenção do Departamento de Julgamento, uma taxa de 3% (três por cento) 
sobre 7,5 (sete salários mínimos e meio), estipulada pela Diretoria Deliberativa da 
ABCZ, ouvindo o Departamento Técnico e DJRZ; 
 Parágrafo 5º - Pela emissão ou substituição de carteira de credenciamento 
será cobrada uma taxa estipulada pela Diretoria Deliberativa da ABCZ, ouvido o 
Departamento Técnico, correspondente a 20% (vinte por cento) do salário mínimo, 
no valor atual. 
 
 
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 
 
 Artigo 28º - Só poderão ser julgados em Exposições, animais portadores de 
Registros Genealógicos. 
 Artigo 29º - A Entidade promotora da Exposição deverá solicitar diretamente 
ao DJRZ, a homologação ou designação do Jurado Efetivo para os trabalhos de 
julgamento dos zebuínos. 
 Artigo 30º - Quando não for manifestada preferência da Entidade promotora, 
o Jurado Efetivo para julgamento na exposição, será indicado pelo Coordenador do 
Colegiado. 
 Parágrafo único - Essa indicação será feita sempre, atendendo-se ao critério 
da proximidade, existente entre o Jurado indicado e o local do evento. 
 Artigo 31º - Quando se tratar de julgamento no exterior, o Colegiado fará a 
indicação de 3 (três) nomes para escolha e homologação de 1(um) pela Diretoria 
Deliberativa da ABCZ, devendo essa indicação ser comunicada ao Ministério da 
Agricultura. Salvo indicação pela Entidade Promotora do evento. 
 Artigo 32º - A Entidade promotora da Exposição deverá encaminhar ao 
DJRZ, até o último dia do mês seguinte ao da ocorrência do evento: 
 a) "Sumula de Julgamento": devidamente preenchida conforme modelo 
padronizado; 
 b) Relação dos Zebuínos premiados. 
 
 
9 
 c) Catálogo de Animais Inscritos e Catálogo de resultados 
 Artigo 33º - O Jurado somente será homologado para julgamento em 
Exposições quando estiver em dia com suas obrigações junto ao DJRZ. 
 Artigo 34º - O credenciamento de Jurados Efetivo é feito por tempo 
indeterminado e o do Jurado Auxiliar por um período de três anos, podendo ser 
renovado. 
 Artigo 35º - A ABCZ só responde, pelos atos Jurados referentes estritamente 
aos julgamentos devidamente homologados. 
 Artigo 36º - O DJRZ fará promover, periodicamente: 
 a) Curso de Atualização e aprimoramento Técnico dos Jurados, 
principalmente em disciplinas de fisiologia, anatomia, nutrição, reprodução, genética 
populacional, melhoramento animal, precocidade, classificação e tipificação de 
carcaça; 
 b) Curso Intensivo de Julgamento e Inserção Zootécnica, objetivando 
Registros Genealógicos e julgamentos em Exposições e Feiras Agropecuárias, 
destinado a criadores, estudantes, Jurados, auxiliares e técnicos, etc. 
 Artigo 37º - O Jurado poderá solicitar, através de requerimento ao 
coordenador, o seu afastamento temporário ou definitivo, do DJRZ. 
 Artigo 38º - Os casos omissos nesse Requerimento serão resolvidos pela 
Superintendência Técnica e DJRZ, devendo ser ouvida a Diretoria da ABCZ, quando 
necessário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
AVALIAÇÃO ZOOTÉCNICA E FUNCIONAL EM BOVINOS DE CORTE ATRAVÉS 
DA AVALIAÇÃO VISUAL EPMURAS 1 
1 Palestra apresentada na 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de 
Zootecnia 
JOSAHKIAN, L.A. Superintendente Técnico da ABCZ. 
Professor da FAZU Uberaba – MG 
abczsut@abcz.org.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11
INTRODUÇÃO 
 
 O Brasil é detentor do maior rebanho comercial bovino do mundo, atingindo,segundo FNP (2004), 164,8 milhões de cabeças. A maior parte desse rebanho é 
mantida em condições cujo padrão médio de criação envolve poucas práticas 
artificiais, configurando o perfil do sistema de produção resultante do binômio 
genética animal e pastagens tropicais. Não obstante, algumas alternativas de 
suplementação têm sido implementadas, mas que, pelas suas características, não 
concorrem para modificar a característica geral da carne bovina notadamente 
baseada em pastagens, o que levou a produção brasileira a ser denominada de “boi 
de capim” ou “boi verde”. Esse sistema de produção tem qualificado o Brasil como 
produtor de carne bovina saudável, correspondendo às expectativas dos 
consumidores nacionais e principalmente internacionais, receosos quanto à 
segurança dos alimentos originada pelos recentes casos de BSE, influenza aviária e 
contaminações de alimentos por salmonelas, dioxinas, nitrofuranos, aflatoxinas, 
sulfas, etc. Na composição do rebanho nacional destacam-se as raças zebuínas, 
introduzidas no país a partir do Séc. XIX, vindos principalmente da Índia e em menor 
escala do Paquistão. Segundo MARIANTE et al (1985), 80% do rebanho nacional 
tem em sua composição genética zebuína, resultante da intensa capacidade de 
adaptação daquele conjunto de raças às nossas condições tropicais de criação. 
 Obviamente que, com o passar dos anos, as raças aqui introduzidas, não 
somente as zebuínas, mas inclusive as de origem européias, foram se ajustando aos 
padrões brasileiros de criação e acumulando os efeitos das práticas de seleção 
artificial a que foram submetidas. 
 O presente trabalho pretende discutir um dos métodos de seleção de animais 
para produção de carne baseado em avaliações visuais, entendo-as como 
complementares a outros métodos de seleção. Embora o enfoque que será dado se 
aplique diretamente às raças zebuínas produtoras de carne, é possível que os 
critérios apresentados sejam estendidos em algum grau a outros grupos de raças 
bovinas. 
 
 
 
 
 
12
DESENVOLVIMENTO 
 
 Seleção é um processo em que determinamos quais indivíduos irão produzir a 
próxima geração, em qual forma e intensidade serão utilizados e por quanto tempo 
permanecerão em atividade no rebanho. A seleção como um mecanismo de escolha 
pressupõe a existência de critérios que irão definir exatamente quais animais serão 
escolhidos. Definir critérios de seleção talvez seja um dos grandes problemas da 
seleção. Critérios de seleção têm que ser definidos considerando-se variáveis 
biológicas, do ambiente econômico e, atualmente, podemos acrescentar variáveis de 
aspectos sociais. 
 Trabalhar com a interação de todas essas questões não é uma tarefa fácil, 
mesmo que pudéssemos congelar um determinado momento e inferir que ele seja o 
padrão irrevogável de produção ao qual estaremos atendendo. A complexidade é 
ainda maior porque as sociedades são social, cultural e economicamente dinâmicas, 
o que leva nossa definição de critérios de seleção para um outro nível de discussão, 
muito mais inquietante e complexo. Nesse cenário, uma proposta de seleção que 
tem sido adotada considera os fatores de produção - animal (genótipo) e pastagens 
(ambiente) - como sendo a linha mestra de raciocínio. Os programas de 
melhoramento que estão operando no Brasil para gado de corte, basicamente 
adotam dois grupos de características: as de crescimento (representadas por pesos 
padronizados a diferentes idades, ganhos em peso, efeitos maternais, dias para 
atingir determinado peso, entre outras); e, com menor ênfase, as reprodutivas 
(representadas por circunferência escrotal, idade ao primeiro parto, intervalo entre 
partos, entre outras). GARRICK e ENNS (2005) discutem a questão do 
melhoramento genético contrapondo-a ao que denominam de “mudanças 
genéticas”. Nessa abordagem, os autores discorrem que provocar mudanças 
genéticas é mais fácil do que promover melhoramento genético, já que 
melhoramento advém exatamente da avaliação conjunta de vários fatores de 
análise, envolvendo toda o sistema de produção – do produtor ao consumidor. 
 Coloca em discussão o fato de que temos trabalhado algumas características, 
especialmente aquelas ligadas aos dois grupos citados anteriormente, basicamente 
porque ou tínhamos um conjunto de dados para ser trabalhado ou estes eram mais 
fáceis de serem colhidos. Não consideramos o impacto das mudanças como um 
todo no sistema de produção e chamam a atenção de que seleção para aumento de 
 
 
13
peso vivo – uma constante em todos os programas -tende a aumentar taxas de 
crescimento e peso em quase todas as idades, incluindo o peso ao nascer (que 
pode aumentar os problemas de parto) e o tamanho maduro de vacas (que 
aumentam os custos de manutenção do rebanho). Essa dissociação de conceitos 
nos atuais programas de melhoramento é preocupante e foi exatamente no sentido 
de complementar o grupo de características de crescimento e reprodução, que 
alguns programas de melhoramento em gado de corte incluíram em suas operações 
as avaliações visuais. O presente artigo pretende discutir unicamente um dos 
métodos disponíveis de avaliações visuais. Trata-se do método EPMURAS, adotado 
pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ. 
 
 
AVALIAÇÕES VISUAIS 
 
 A seleção dos animais domésticos segue muito de perto a história da 
evolução da humanidade. Desde que o homem se socializou e deixou de ser 
absolutamente nômade, é provável que ele tenha, de imediato, mantido grupos de 
animais em cativeiro ou, pelo menos, sob um relativo controle. Desnecessário dizer 
que as únicas ferramentas que este homem pré-histórico tinha eram seus próprios e 
rudimentares conhecimentos, suas habilidades pessoais e sua condição inata de co-
evoluir junto com os animais domésticos. A essa altura da nossa civilização, é muito 
provável que o olho humano tenha funcionado como um integrador de informações e 
essa capacidade tenha sido aplicada nas primeiras abordagens seletivas dos 
animais. 
 O curioso é que, ao darmos um salto de milhares de anos na história, ainda 
temos, no presente, o olho humano como um elemento de decisão ainda sem similar 
nas tecnologias que acumulamos nesse período. Nesse contexto é que se 
desenvolveram alguns modelos de avaliações visuais para bovinos de corte, sempre 
procurando complementar as características mensuráveis dos programas de 
melhoramento. 
 Um resgate histórico das avaliações visuais em bovinos de corte no Brasil, 
segundo KOURY FILHO (2005), nos levam ao ano de 1974, com a adoção dos 
Escores de Conformação (EC), do Sistema de Avaliação Ankony e, mais tarde, aos 
Sistemas DERAS, PHRAS adotados pela ABCZ na década de 1980, além das 
 
 
14
avaliações CPMU (Gensys Consultores Associados S/C Ltda.), MERCOS (PMGRN) 
e Conformação Frigorífica (Programa Geneplus). 
 O método atual adotado pela ABCZ, denominado EPMURAS, deriva de 
estudos conduzidos por KOURY FILHO (2001) e KOURY FILHO & ALBUQUERQUE 
(2002), com base em estudos e experiência de campo. Especificamente sobre este 
método que vamos tratar no presente trabalho. 
 
 
SISTEMA DE AVALIAÇÃO EPMURAS 
 
 O objetivo básico e direcional das características envolvidas na avaliação 
visual de diferentes tipos morfológicos é identificar aqueles animais que, nas 
condições viáveis de criação e em consonância com o mercado consumidor, 
cumpram seu objetivo eficientemente em menos tempo. (JOSAHKIAN et al. 2003). 
 As avaliações visuais podem ser realizadas na desmama, em torno dos 205 
dias de idade, e ao sobreano, em torno de 550 dias de idade. Preferencialmente, 
para facilitar o manejo, elas devem ser feitas simultaneamente às pesagens 
programadas, o que não implica que o processo não possa ser aplicado em 
qualquer idade. 
As 7 características a serem a avaliadas são: 
Estrutura Corporal (E); 
Precocidade (P); 
Musculosidade (M); 
Umbigo (U);Caracterização Racial (R); 
Aprumos (A); 
Sexualidade (S). 
 De acordo com o Manual do PMGZ (2004): o que se avalia em cada uma das 
características é: 
Estrutura Corporal (E): Prediz visualmente a área que o animal abrange visto de 
lado, olhando-se basicamente para o comprimento corporal e a profundidade de 
costelas. 
 A área que o animal abrange está intimamente ligada aos seus limites em 
deposição de tecido muscular. 
 
 
15
Precocidade (P): Nesta avaliação as maiores notas recaem sobre animais de maior 
profundidade de costelas em relação à altura de seus membros. Na prática, 
principalmente em idades mais jovens, onde muitas vezes os animais ainda não 
apresentam gordura de cobertura, o objetivo é identificar o desenho que 
corresponda a indivíduos que irão depositar gordura de acabamento mais 
precocemente, e que, via de regra, são os indivíduos com mais costelas em relação 
à altura de seus membros. Vale ressaltar que indicativos de deposição de gordura 
subcutânea somam para a avaliação do tipo precoce. Por exemplo, a musculatura, 
quanto mais definida, menor a capa de gordura que a recobre, a virilha baixa ou 
pesada e também a observação de pontos específicos, tais como a inserção da 
cauda, a maçã do peito, a paleta e a coluna vertebral são elementos adicionais que 
auxiliam na observação dessa característica. 
 Animais precoces permanecem menos tempo nos pastos e/ou confinamentos, 
encurtando o ciclo de produção, melhorando assim a eficiência da atividade e, 
conseqüentemente, os lucros do produtor. 
 Há relatos na literatura indicando que animais mais precoces em acabamento 
também sejam sexualmente mais precoces. 
Musculosidade (M): A musculosidade será avaliada através da evidência das 
massas musculares. Animais mais musculosos e com os músculos bem distribuídos 
pelo corpo, além de pesarem mais na balança, apresentam melhor rendimento e 
qualidade da carcaça, o que reflete diretamente no bolso do pecuarista. 
 Os escores atribuídos às características E, P e M nos permitem ter uma 
concepção espacial do animal, pois E estima a área que este abrange lateralmente e 
que, de forma bastante rudimentar, irá formar um retângulo. A característica E, 
analisada em conjunto com a característica P, irá indicar as proporções dos lados 
desse retângulo. Ao incluirmos o escore da característica M, daremos a terceira 
dimensão. Esse paralelepípedo formado será a estimativa do volume do indivíduo 
(Figura 2). Vale ressaltar que essa concepção se torna mais precisa ao acrescentar 
os dados de peso e altura. 
 
 
 
16
 
Figura 2: Apresentação esquemática das diferentes proporções que devem ser avaliadas. 
Fonte: Manual do PMGZ da ABCZ, (2004). 
 
Umbigo (U): É avaliado a partir de uma referência do tamanho e do posicionamento 
do umbigo (umbigo, bainha e prepúcios) conforme Fig 3, devendo ser penalizado os 
indivíduos que apresentarem prolapso de prepúcio. 
 No Brasil, a grande maioria dos rebanhos é criada em grandes áreas de 
pastagem, e nos machos, umbigo, bainha e prepúcio de maior tamanho, pendulosos 
e ocorrência de prolapso, são mais susceptíveis a patologias ocasionadas por 
traumatismos, e estas são muitas vezes irreversíveis ou extremamente complexas 
em termos de manejo curativo. 
Caracterização Racial (R): Todos os itens previstos nos padrões raciais das 
respectivas raças zebuínas devem ser considerados. O tipo racial é um distintivo 
comercial forte e tem valor de mercado, o que, por si só, justifica sua inclusão em um 
programa de seleção. 
Aprumos (A): Serão avaliados através das proporções, direções, angulações e 
articulações dos membros anteriores e posteriores. 
 Diferente da situação encontrada em países onde se confina maior percentual 
de animais, no Brasil a maioria dos animais é criada a pasto com suplementação 
mineral, e com isso os animais são obrigados a percorrerem grandes distâncias, 
 
 
17
favorecendo aqueles de melhores aprumos. Na reprodução, bons aprumos são 
fundamentais para o macho efetuar bem a monta e para a fêmea suportá-la, além de 
estarem diretamente ligados ao período de permanência do indivíduo no rebanho. 
Sexualidade (S): Busca-se masculinidade nos machos e feminilidade nas fêmeas, 
sendo que estas características deverão ser tanto mais acentuadas quanto maior a 
idade dos animais avaliados. Avaliam-se os genitais externos, que devem ser 
funcionais, de desenvolvimento condizente com a idade cronológica. 
 Características sexuais do exterior do animal parecem estar diretamente 
ligadas à eficiência reprodutiva, e a reprodução é a característica de maior impacto 
financeiro na atividade. 
 Conceitualmente os escores atribuídos às características podem ser divididos 
em fundo, notas 1 e 2; meio 3 e 4 e cabeceira 5 e 6 para as características E, P e M. 
 Esses escores serão relativos ao grupo de contemporâneos sob avaliação e 
também a um biótipo de referência dentro da raça. Na prática o que acontece é que 
a avaliação com essas duas referências assegura, simultaneamente: 1) a percepção 
de que, sempre, em qualquer grupo de contemporâneos existe um fundo e uma 
cabeceira (o que é determinado pela referência da média do grupo), e 2) que a 
variação de notas a ser aplicada ao lote em avaliação tenha a extensão mais 
apropriada (determinada pela referência do biótipo médio da raça). 
 Para as características R, A e S, os escores variam apenas de 1 a 4 e serão 
atribuídos em relação a uma referência pré-estabelecida, isto é, o indivíduo não é 
comparado ao grupo em que está inserido, mas aos padrões definidos pela ABCZ. 
Assim, conceitualmente, 
1 = fraco, 2 = regular, 3= bom e 4 = muito bom. 
 Para a característica U, a escala de notas será de 1 a 6 de acordo, sendo a 
nota atribuída a umbigos com menor dimensão e a nota 6 a maiores dimensões. 
Recomenda-se, ao proceder as avaliações, observar os seguintes pontos: 
 Subdividir os lotes em grupos com no máximo 30 dias de diferença de idade 
do mais novo para o mais velho. 
 Ter claramente a definição para cada uma das características que serão 
avaliadas. 
 Observar o lote, e identificar os animais médios para cada uma das 
características em questão, pois esse será o parâmetro comparativo para se 
identificar a cabeceira e o fundo do grupo. 
 
 
18
 Ser realizada pelo(s) mesmo(s) avaliador(es) em um determinado lote e 
momento. 
 Avaliar os animais sob um mesmo local ou campo de visão. 
 Não considerar dados de desempenho do animal, nem dos seus genitores. 
 Não considerar o pedigree do animal. 
 Ser rápida e precisa, preferencialmente após uma determinada pesagem do 
animal, no sentido de facilitar o manejo da propriedade. 
 Os escores são individuais para cada animal e característica. Assim, um 
indivíduo pode ter notas E (4), P (6), M (5), U (4), R (3), A (2) e S (4), por exemplo. 
 Esta metodologia de avaliação visual tem duas aplicações práticas no 
processo de seleção. A primeira, é que se pode identificar todos os pontos negativos 
e positivos que coexistam no animal. A segunda, é que a avaliação em nível de 
rebanho pode diagnosticar defeitos e qualidades mais freqüentes na propriedade de 
forma simples e direta, através do “desenho” originado pelos escores. 
 Assim se o criador desejar, ele pode alterar a freqüência dos escores em sua 
propriedade através da utilização, na reprodução, de indivíduos que se destaquem 
naquela característica em questão e, conseqüentemente, alterar o “desenho” dos 
animais, para que desta forma, consiga chegar a tipos morfológicos mais 
condizentes com o sistema de produção utilizado. 
 Estudos iniciais conduzidos por KOURY FILHO (2005), a partir de valores 
variando de moderados a altos para o parâmetro de herdabilidade das 
características estrutura corporal, precocidade, musculosidade (Tabela 1) sugerem 
que estas são passíveis de resposta por seleção direta. 
 Tabela 1: Componentesde variância e parâmetros genéticos obtidos em 
análise uni-característica das características estrutura corporal (E), precocidade (E), 
musculosidade (M), altura de posterior (AP) e peso à coleta (Pcol). 
 
 
 
 Componentes de variância* Parâmetros genéticos** 
Característica D E F HD E 
E 0,429 1,385 1,814 0,24 ± 0,09 0,76 ± 0,09 
P 1,498 0,888 2,386 0,63 ± 0,12 0,37 ± 0,12 
M 0,962 1,048 2,009 0,48 ± 0,11 0,52 ± 0,11 
AP 4,968 8,465 13,343 0,37 ± 0,08 0,63 ± 0,08 
Pcol 230,744 554,915 785,659 0,29 ± 0,07 0,71 ± 0,07 
 
 
19
 O mesmo autor encontrou também correlações positivas para todas as 
características (E, P, M), observando, entretanto, correlação mais expressiva entre P 
e M e de menor magnitude entre E e M, e, principalmente, entre E e P (Tabela 2). 
 
 Tabela 2: Estimativas de correlações entre os efeitos genéticos aditivos 
diretos (acima da diagonal) e entre os resíduos (abaixo da diagonal) entre as 
características estrutura corporal (E), precocidade (P), musculosidade (M), altura de 
posterior (AP) e peso à coleta (Pcol), obtidas em análise bi-característica. 
 
 E P M AP Pcol 
E 0,49 ± 0,17 0,63 ± 0,15 0,57 0,83 
P 0,43 ± 0,10 - 0,90 ± 0,05 -0,29 0,42 
M 0,44 ± 0,08 0,56 ± 0,10 - -0,33 0,50 
AP 0,49 0,22 0,30 - - 
Pcol 0,68 0,58 0,62 - - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ESTATÍSTICAS. In: Anualpec 2004 – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: 
FNP Consultoria & Agroinformativos. 2004. 376p. p.63. 
GARRICK, D. J.; NS, R. M. How best to achieve genetic change? Disponível em: 
http://www.beefimprovement.org/03proceedings/Garrick.pdf (consulta em 01/06/05). 
JOSAHKIAN, L. A.; MACHADO, C.H.C.; KOURY FILHO, W. Manual do programa 
de melhoramento genético das raças zebuínas. Uberaba: ABCZ, 2003. 98p. 
MARIANTE, A . S.; NOBRE, P.R.C.; ROSA, A. N.; EVANGELISTA, S.R.M. 
Resultados do Controle de Desenvolvimento Ponderal – Raça Nelore – 1975/ 
1984. 88p. (Embrapa – CNPGC. Documentos, 25). 
KOURY FILHO, W.; ALBUQUERQUE, L.G. Proposta de metodologia para coleta de 
dados de escores visuais para programas de melhoramento. In: CONGRESSO 
BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 5., Uberaba, 2002. Anais... Uberaba, 2002, 
p.264-266. 
KOURY FILHO, W. Análise genética de escores de avaliações visuais e suas 
respectivas relações com o desempenho ponderal na raça Nelore. 
Pirassununga, 2001. 82 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Zootecnia e 
Engenharia de Alimentos, USP. 
KOURY FILHO, W. Escores visuais e suas relações com características de 
crescimento em bovinos de corte. Jaboticabal: Faculdade de Ciências Agrárias e 
Veterinárias, UNESP. 2005. 80 p. Tese (Doutorado em Zootecnia – Produção 
Animal). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
AS RAÇAS ZEBUÍNAS NO BRASIL1 
THE ZEBU BREEDS IN BRAZIL 
1Palestra XVI Congresso Brasileiro de Reprodução Animal 
 
Josahkian, L. A. 
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu 
Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba 
Superintendente Técnico/Professor Melhoramento Animal 
CP- 71 Uberaba MG 38067-330 
abczsut@abcz.org.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
INTRODUÇÃO 
 
 O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma área de 8,5 milhões 
de Km² que se estende da linha do Equador até o paralelo 30º ao sul. Apresenta 
uma grande diversidade de climas e vegetação, quase sempre marcada pela 
sazonalidade da oferta de alimentos para os animais. 
Na maioria das regiões há a presença de uma estação chuvosa e outra seca, 
quando não acentuadamente seca por longos períodos, como é o caso da região 
nordeste. 
 O grande efetivo bovino se concentra nas regiões fisiográficas Centro Oeste e 
Sudeste, que detêm 91 milhões de cabeças (55 % do total nacional) com destaque 
para os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do 
Sul. Bahia e Rio Grande do Sul também se destacam com grandes efetivos bovinos. 
O Brasil é o maior país da América Latina e o quinto do mundo em extensão. O 
povoamento exibe grandes contrastes: desde o vazio demográfico da Amazônia – 
área típica de florestas tropicais que abrangem um terço do país - às grandes 
concentrações urbanas do centro sul. 
 A formação do rebanho bovino nacional conta com uma decisiva contribuição 
do material genético zebuíno, originário em sua maior parte da Índia e uma 
contribuição mais restrita da raça Sindi, originária do Paquistão. 
Na trajetória da seleção das raças zebuínas no Brasil, é verificável a existência de 
três fases, a partir da ênfase dada aos critérios seletivos ou ao momento histórico 
vivido pela pecuária, que podem ser assim resumidas: 
 1º fase: caracterizada pela preocupação estética, de filigranas étnicas, de 
culto ao tipo racial. Esta fase se iniciou com os primórdios do registro genealógico e 
vai até o início da década de 60. Ela se justifica pela necessidade de “separar o joio 
do trigo”. Afinal de contas, os traços étnicos eram, e ainda são, distintivos comerciais 
fortes, sempre reconhecidos pelo mercado; 
 2ª fase: iniciou-se com a implantação das Provas Zootécnicas, no final da 
década de 60. O peso e ganho em peso são as características eleitas e priorizadas 
durante boa parte desse período. Pouca ou nenhuma preocupação havia com 
relação ao tempo demandado para que os animais atingissem pesos recordes. 
Aspectos de eficiência reprodutiva e habilidade maternal também fazem parte do 
conjunto de características sob seleção, embora em segundo plano; 
 
 
23
 3º fase: caracterizada pela necessidade de uma eficiente combinação entre 
tipo e função, com prevalência dos aspectos econômicos. Na verdade, contribuiu 
para o estabelecimento dessa fase, iniciada no final dos anos 80 e potencializada no 
início dos 90, a disponibilização de um material genético bem definido em termos de 
raças zebuínas e o avanço das avaliações genéticas. 
 Uma abordagem sucinta dessas fases e do atual estágio da zebuinocultura no 
país constituem os objetivos desse trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24
DESENVOLVIMENTO 
 
PRIMEIRA FASE: INTRODUÇÃO DOS ZEBUÍNOS NO BRASIL E O 
ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO. 
 
 Os bovinos não são nativos no Brasil. Foram introduzidos no país logo após 
seu descobrimento e durante todo o período de colonização. 
 O objetivo primordial da introdução de bovinos no Brasil nos tempos da 
colônia estava muito mais voltado à produção de trabalho do que a produção de 
carne ou leite. Carne e leite eram subprodutos dessa atividade, principalmente a 
carne, obtida após o abate de animais velhos, que não mais se prestavam ao 
trabalho. 
 Era natural, por decorrência das circunstâncias, que esses bovinos, primeiros 
a pisar o solo brasileiro, tivessem origem européia. 
 Os espécimes aqui introduzidos pertenciam ao tronco ibérico ou aquitânico, 
provenientes de Portugal e Espanha. Esses tipos bovinos foram se estabelecendo 
em todo o país e representaram um grande componente da economia nacional, haja 
vista que, dentro dos vários ciclos da economia brasileira houve o ciclo do gado, no 
séc. XVIII (Prozebu, 1984). 
 A introdução de bovinos europeus, exclusivamente, perdurou durante os 
primeiros séculos da colonização. Os animais aqui introduzidos, submetidos à 
inclemência do ambiente tropical e a ecto e endoparasitos, perdiam grande parte do 
seu potencial produtivo ou sucumbiam frente a condições tão adversas. Os 
remanescentes dessas importações, que demonstraram grande capacidade de 
aclimatação, se amalgamaram numa infinidade de tipos e/ou raças, dos quais, até 
hoje, encontram-se espécimes ou rebanhos, muitos deles sob programas 
institucionais de preservação e multiplicação. 
 Somente muito mais tarde, no final do séc. XVIII, é queos primeiros zebuínos 
viriam para o Brasil. Os primeiros registros de introdução de zebuínos no Brasil 
retrata bem as circunstâncias pouco intencionais e sem objetivos específicos dessas 
práticas. Na verdade, de acordo com citação no PROZEBU(1984) “... A introdução 
dos zebuínos começou muito depois, de modo lento, cercada de episódios até 
pitorescos, como é o caso da importação de um casal de zebu, em 1875, oriundos 
do Jardim Zoológico de Londres. [....] Provavelmente, o primeiro rebanho zebu 
 
 
25
estabelecido no Brasil, foi o da Fazenda Santa Cruz, de propriedade do Imperador 
D. Pedro I, no Rio de Janeiro, constituída de animais procedentes da região do Nilo, 
na África, em 1826.” 
 O início do Século XIX ainda registraria inúmeras entradas de zebuínos, 
porém de forma desconexa e aparentemente destituída de objetivos práticos. 
 Os anos compreendidos entre 1870 e 1875 formam, provavelmente, o período 
que se registra importações intencionais, encomendadas por criadores do Estado do 
Rio de Janeiro e Bahia. 
 O ano de 1893 registra a primeira viagem de um brasileiro à Índia, o criador 
Teófilo de Godoy, com a finalidade precípua de adquirir animais zebuínos. Várias 
outras importações se sucederam até o ano de 1962, quando a entrada de material 
genético proveniente da Índia foi definitivamente fechada pelo governo brasileiro. Na 
realidade, após a grande importação de 1920 (804 cabeças), as importações já 
haviam sido proibidas. Aquelas realizadas em 1930, 1952, 1960 e 1962 já haviam 
ocorrido com exigência de quarentenário e sob licença especial do Estado, que não 
mais seriam concedidas até os dias atuais. 
 Essas poucas incursões de brasileiros ao rico material genético zebuíno da 
Índia daquela época, contribuíram de forma absolutamente decisiva para o 
estabelecimento do rebanho nacional. Pelas estatísticas oficiais disponíveis, 
entraram no território brasileiro cerca de 6.300 animais zebuínos, de seis raças 
diferentes (Prozebu, 1984), volume que, contraposto ao de raças européias, com 
número estimado de mais de 1 milhão de exemplares, nos apresenta uma prova 
contundente e irrefutável de capacidade adaptativa dos zebuínos às nossas 
condições ambientais já que, atualmente, estima-se que 80% do rebanho nacional 
(Mariante et al, 1985) - o maior rebanho bovino comercial do mundo - tenha genética 
zebuína, sob a forma de animais puros ou cruzados. Isso nos leva a existência de 
aproximadamente 131 milhões de cabeças com constituição genética zebuína, 
dentro do universo de aproximadamente 165 milhões apontado pelo Anualpec 2004. 
 Os serviços de registro genealógico começaram a surgir no Brasil no início do 
Século XX, baseados em modelos europeus, onde essa prática já era, à época, 
bastante comum. 
 O estabelecimento do então chamado “Herd Book da raça Zebu” ocorreu em 
16/02/1919, por iniciativa de criadores da região do Triângulo Mineiro”, em Minas 
Gerais. Desse serviço, alguns animais foram exportados para o México (e daí 
 
 
26
chegaram aos Estados Unidos) e para países da América Central. O Herd Book da 
Raça Zebu veio a ser absorvido por outra entidade, a Sociedade Rural do Triângulo 
Mineiro – SRTM, em 18/06/1934. Em 25/03/1967 a SRTM foi transformada na atual 
ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. 
 Em 1936 firma-se convênio com o Ministério da Agricultura para execução 
dos registros genealógicos de raças bovinas de origem indiana, em regime de Livro 
Aberto, para todo o território nacional, como decorrência do tratado de Roma, 
firmado no mesmo ano, em 14 de outubro, do qual o Brasil foi um dos países 
signatários (Prozebu, 1984). 
 Os padrões raciais para as raças Gir, Nelore, Guzerá e do tipo Indubrasil 
foram estabelecidos e aprovados em 1938, ano que marca os primeiros registros 
genealógicos oficiais (17/07/38) com a marcação de animais Indubrasil pelo Senhor 
Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas e pelo Senhor Governador do Estado 
de Minas Gerais, Dr. Benedito Valadares; e de animais Nelore pelo Sr. Ministro da 
Agricultura, Dr. Fernando Costa; e de animais da raça Gir. 
 Em 17/02/1939 foram registrados os primeiros animais da raça Guzerá, de 
propriedade do Governo Federal. Em setembro de 1961 foram registrados os 
primeiros animais da raça Sindi. A variedade mocha da raça Nelore teve seus 
primeiros animais registrados em 25/02/1969, seguidos pelos da raça Tabapuã em 
01/02/71, e pelos da raça Gir Mocha, em 31/01/1976. 
 Em 1971 foi determinado o fechamento do Livro de Registro, sendo 
instituídos, à mesma época, o Livro Auxiliar – LX e o Livro Aberto – LA, sendo que o 
primeiro se destinava ao registro de fêmeas de fundação das diversas raças e, o 
segundo, para o acompanhamento de grupos étnicos em verificação. 
 Em 1975, foi adotada a nomenclatura internacional “PO” – Puros de Origem 
(abrangendo o antigo “LF” – Livro Fechado e seus descendentes); PC – Puros por 
cruzamento (abrangendo o LX) e LA – Livro Aberto, para os grupos étnicos com 
acompanhamento zootécnico. 
 Em 1982 a categoria “PC” é incorporada à categoria “LA”, permanecendo 
apenas a nomenclatura “PO” e “LA”. Estabeleceu-se, também, à época, que os 
animais “LA” com três gerações ascendentes conhecidas passariam à categoria 
“PO”, exigência que foi reduzida, em 1997, para duas gerações ascendentes 
conhecidas. 
 
 
 
27
 Quadro 1: Número de animais inscritos no Serviço de Registro Genealógico 
das Raças Zebuínas: Registros Genealógicos de Nascimento – RGN e 
Registros Genealógicos Definitivos – RGD, por raça e período. 
RGN 
Raça 
1939 a 2000 2001 2002 2003 2004 Total geral % geral 
Gir Mocha 35.247 459 474 420 293 36.893 0,53%
Gir 502.995 6.144 7.645 8.316 8.747 533.847 7,63%
Guzerá 227.721 8.384 10.022 12.149 12.904 271.180 3,88%
Indubrasil 209.224 830 368 447 394 211.263 3,02%
Nelore 4.162.149 189.508 219.186 284.873 321.600 5.177.316 74,01%
Nelore 
Mocha 405.383 24.867 31.746 37.589 34.756 534.341 7,64%
Sindi 8.778 340 278 251 360 10.007 0,14%
Sindi Mocha 0 0 0 0 0 0 0,00%
Tabapuã 155.494 9.813 11.921 14.885 15.629 207.742 2,97%
Cangaiam 29 0 0 0 17 46 0,00%
Brahman 1.651 1.193 1.767 3.427 4.381 12.419 0,18%
Total 5.708.671 241.538 283.407 362.357 399.081 6.995.054 100,00%
 
RGD Raça 
1939 a 2000 2001 2002 2003 2004 Total geral % geral 
Gir Mocha 22.977 766 797 775 673 25.988 0,68%
Gir 294.166 3.969 4.069 4.924 5.669 312.797 8,18%
Guzerá 112.258 5.163 4.498 7.006 6.470 135.395 3,54%
Indubrasil 125.096 409 338 229 209 126.281 3,30%
Nelore 1.901.827 128.714 174.354 206.494 195.434 2.606.823 68,21%
Nelore 
Mocha 258.249 33.296 52.189 65.548 57.829 467.111 12,22%
Sindi 4.746 323 327 120 461 5.977 0,16%
Sindi Mocha 0 0 83 0 35 118 0,00%
Tabapuã 91.162 6.890 8.039 9.924 8.346 124.361 3,25%
Cangaiam 50 0 0 22 30 102 0,00%
Brahman 2.443 2.026 3.224 3.832 5.146 16.671 0,44%
Total 2.812.974 181.556 247.918 298.874 280.302 3.821.624 100,00%
Fonte: Superintendência Técnica da ABCZ, 2005. 
 
 
28
 
 Após o estabelecimento do Serviço de Registro Genealógico das Raças 
Zebuínas, manteve-se, por parte da ABCZ e por parte dos criadores, uma postura de 
fidelidade e obediência aos padrões estabelecidos assim como às suas revisões e 
modernizações ao longo desses 67 anos de registro de raças indianas. Foi 
exatamente essa perseverança e rigor no atendimento aos padrões que 
consolidaram as raças zebuínas no cenário nacional e que, rapidamente 
conquistaram o reconhecimento do exigente mercado internacional. 
 Por outro lado é extremamente óbvio que estruturas de pedigree que não 
contenham dados de produção, terminam por ser uma rede de nomes interligados, 
dos quais, com o passar dos anos, ninguém será capaz de lembrar o mérito 
genético. Movidos, então, pela necessidade de associar aos nomes, dados de 
performance que permitissem a caracterização genética dos indivíduos, deu-se início 
a uma segunda fasena seleção das raças zebuínas. 
 
 
SEGUNDA FASE: O ESTABELECIMENTO DAS PROVAS ZOOTÉCNICAS 
 
A ABCZ implantou, a partir de 1968, o Controle do Desenvolvimento Ponderal – 
CDP, que foi intensificado em 1974 graças à oficialização do PRONAMEZO e do 
PROZEBU pelo Ministério da Agricultura, envolvendo já outras provas zootécnicas, 
as quais, mais tarde, em 1992, viriam a ser reunidas sob o nome de PMGZ – 
Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. 
No conjunto de provas, o CDP – Controle do Desenvolvimento Ponderal, a primeira 
a ser instituída pela ABCZ, foi originalmente concebida como uma prova de 
performance em nível de rebanho, operacionalmente viabilizada pela pesagem de 
animais de 0 a 18 meses, quatro vezes por ano. A estrutura de pedigree, 
preexistente, forneceria os dados adicionais de identificação dos animais, 
ascendentes, data de nascimento, etc. 
Com uma estrutura própria de colheita de dados, na qual, aos pesos registrados 
eram adicionados a condição de criação e o regime alimentar dos animais, o CDP 
permitiu definir o perfil econômico de cada uma das raças zebuínas, e, 
principalmente, auxiliar na seleção dentro do rebanho, usando a metodologia de 
desvios de grupos de contemporâneos. 
 
 
29
O quadro 2 apresenta a estatística do CDP por raça. O CDP foi o precursor das 
avaliações genéticas das raças zebuínas e hoje, com modificações acrescidas ao 
longo do tempo, continua sendo a espinha dorsal do Programa de Melhoramento 
Genético das Raças Zebuínas. 
 
 
QUADRO 2: CDP- Controle do Desenvolvimento Ponderal: número de animais 
inscritos (N) e número de pesagens realizadas, por raça, no período de 1968 a 
2004. 
Raça N % Pesagens % 
Gir Mocha 14.479 0,80 59.383 0,84 
Gir 69.923 3,87 245.246 3,48 
Guzerá 110.313 6,10 427.240 6,07 
Indubrasil 41.394 2,29 146.226 2,08 
Nelore 1.286.200 71,11 5.007.637 71,15 
Nelore Mocha 172.660 9,55 694.488 9,87 
Sindi 648 0,04 2.699 0,04 
Tabapuã 102.096 5,64 418.363 5,94 
Brahman 11.045 0,61 37.289 0,53 
Total 1.808.758 100,0 7.038.571 100,0 
Fonte: ABCZ/SUT/SMG - 2005. 
 
 Embora o foco principal na colheita de dados no CDP seja o peso dos 
animais, esta não foi, absolutamente, a característica priorizada no programa de 
melhoramento genético de zebuínos da ABCZ. Junto com o peso – sem dúvida uma 
medida importante e reconhecida pelo mercado – valores de eficiência reprodutiva, 
habilidade materna e precocidades sexual e de acabamento, assumem posição de 
destaque, e a bem da verdade, para as características reprodutivas, posição 
prioritária. 
 Outras modalidades de prova zootécnicas adotadas pela ABCZ a partir de 
1972, foram as Provas de Ganho em Peso – PGP, que consistem em submeter 
animais machos, com variação de idade de no máximo 90 (noventa) dias, a um 
mesmo manejo e regime alimentar durante o período de prova, para avaliação do 
mérito genético nos caracteres ganho em peso, peso final e tipo. As PGP’s estão 
 
 
30
divididas em três modalidades, a fim de atender os interesses de cada criador: a 
pasto, em confinamento e de animais de dupla aptidão. O quadro 3 apresenta o 
volume de animais testados nas provas de ganho em peso realizadas pela entidade. 
 Buscando formatar uma metodologia que permitisse a percepção e registro 
das diferenças morfológicas entre os animais, foram instituídas as avaliações de 
tipo, cujo objetivo básico e direcional é identificar aqueles animais que, nas 
condições viáveis de criação e em consonância com o mercado consumidor, 
cumpram seu objetivo eficientemente em menos tempo. As avaliações do tipo 
envolvem os seguintes aspectos: estrutura (E), precocidade (P), musculatura (M), 
umbigo (U), raciais (R), aprumos (A), sexuais (S). No processo, avaliadores 
treinados atribuem escores visuais em uma escala crescente de pontos, 
complementando as avaliações objetivas, tais como peso e ganho em peso. 
 
Quadro 3: Número (N) de animais em Provas de Ganho em Peso realizadas 
no período de 1975 a 2004 (557 em confinamento e 213 a pasto) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: ABCZ/SUT/SMG - 2005. 
 
 Embora a grande maioria das populações zebuína no Brasil tenha sido 
direcionada para a produção de carne, existe um componente genético natural em 
algumas delas que as tornam eficientes produtoras de leite, ou carne e leite. De 
forma geral, sobressaem nesses aspectos as raças Gir, Gir Mocha, Guzerá e Sindi. 
Alguns núcleos de Indubrasil e Nelore, embora em menor escala, também 
apresentam aptidão leiteira. 
Raça N % 
Gir 293 0,87 
Gir Mocha 40 0,12 
Guzerá 1.708 5,06 
Brahman 30 0,09 
Indubrasil 230 0,68 
Tabapuã 3.391 10,05 
Nelore 26.271 77,90 
Nelore Mocha 1.763 5,23 
Total 33.726 100,0 
 
 
31
 Programa específicos para a identificação de valores genéticos leiteiros têm 
sido cada vez mais abrangentes. A ABCZ mantêm, desde 1974, um Serviço de 
Controle Leiteiro – SCL, apoiado em bases técnicas e que tem sustentado as 
avaliações genéticas no país. Programas de avaliação genética foram 
implementados em parceria com a universidades e instituições de pesquisa. Uma 
demanda crescente de material genético avaliado para produção de leite tem 
impulsionado esses programas e já se encontram disponíveis no mercado inúmeras 
avaliações genéticas de reprodutores, principalmente das raças Gir e Guzerá. 
 
Quadro 4: Serviço de Controle Leiteiro - Cl: Número de vacas inscritas e 
número de controles efetuados, de 1975 a 2004. 
RAÇA MATRIZES % PESAGENS % ENCERRADAS % 
GIR 15.990 67,89 129.199 68,32 13.181 69,08 
GIM 941 4,00 7.048 3,73 724 3,79 
GUZ 2.792 11,85 22.007 11,64 2.244 11,76 
NEL 404 1,72 3.169 1,68 361 1,89 
SID 135 0,57 1.174 0,62 122 0,64 
ZL 3.185 13,52 25.700 13,59 2.350 12,32 
IND 107 0,45 807 0,43 98 0,51 
TOTAL 23.554 100,00 189.104 100,00 19.080 100,00 
Fonte: ABCZ/SUT/SMG – SCL, 2005. 
 
 
TERCEIRA FASE: AS AVALIAÇÕES GENÉTICAS NAS POPULAÇÕES 
ZEBUÍNAS 
 
 Após décadas da instalação e operação ininterrupta das provas zootécnicas e 
frente ao novo estado da arte da ciência, a ABCZ ingressa no universo das 
avaliações genéticas, fortemente apoiada pela Embrapa através de sua unidade 
Gado de Corte. A obtenção das avaliações genéticas na seleção das raças zebuínas 
foram pioneiramente disponibilizadas no Brasil nos Sumários de Touros Zebuínos 
- Seleção para corte, elaborado pelo Centro Nacional de Gado de Corte da 
Embrapa, entidade a qual a ABCZ é conveniada desde 1981. A 12ª edição (atual) 
dos Sumários de Touros (2004), seleção para corte, que contempla as raças 
 
 
32
Brahman, Gir, Gir Mocha, Guzerá, Indubrasil, Nelore e Tabapuã, apresenta 
avaliações genéticas para as características de crescimento (efeitos direto e 
materno) e reprodutivas (intervalo entre partos e circunferência escrotal). Na seleção 
para leite, a entidade, juntamente com a equipe técnica da Unesp (Campus de 
Jaboticabal), já editou três sumários de touros com avaliação genética para 
produção de leite. Muitos outros programas de melhoramento estão plenamente 
estabelecidos no país. Todos eles, sem dúvida, estão contribuindo para a otimização 
do uso dos recursos genéticos disponíveis dentro das raças zebuínas. 
 
 
A BASE GENÉTICA ZEBUÍNA NO BRASIL 
 
 A contribuição das raças zebuínas para a produção de carne e leite no Brasil 
em sistemas de produção auto-sustentáveis é uma constatação inequívoca frente a 
estimativa de que 80% da população bovina no país tenha alguma composição 
genética de zebu, sejam puros ou viabilizando cruzamentos. É um número 
impressionante que, mesmo sem precisão matemática, demonstra o poder de 
sobrevivência, crescimento e multiplicação das raças zebuínas nas nossas 
condições, sobretudo partindo de um núcleo inicial tão pequeno (Josahkian, 1999). 
 Essa base originalmente estreita de animais zebuínos (já que as importações 
da Índia estão suspensas desde a década de 1960), associada aouso cada vez 
mais amplo de biotecnologias tais como a transferência de embriões, fecundação in 
vitro, sexagem de sêmen, dentre outras, têm conduzido a uma concentração de uso 
de determinados reprodutores (touros e vacas) dentro das raças, geralmente eleitos 
por critérios mistos que consideram avaliações fenotipicas e avaliações genéticas. 
 Nesse contexto, três abordagens têm sido discutidas: a primeira, a instituição 
de mecanismos que evitem o aumento excessivo da consangüinidade na seleção; a 
segunda, a identificação e o resgate de linhagens que tenham sido preteridas ao 
longo do tempo por razões mercadológicas ou até mesmo por preferências 
coletivizadas pelos selecionadores; e uma terceira abordagem, que se constituí na 
reabertura do mercado de material genético com a Índia. Embora tenham havido 
essas preocupações e as duas primeiras possibilidades venham sendo efetivamente 
adotadas por parte das instituições e dos criadores envolvidos com a seleção das 
raças zebuínas, existem indicativos na literatura da ocorrência de um estreitamento 
 
 
33
dessa base genética para as raças zebuínas. Para Faria et al, 2001 e Vercesi Filho 
et al, 2002, em alguns casos, como nas raças Indubrasil e Sindi, o estreitamento da 
base genética associado ao reduzido efetivo populacional ativo dessas populações, 
podem até mesmo comprometer a subsistência desses grupos caso medidas 
efetivas não sejam levadas a efeito. Os mesmos autores encontraram igualmente 
um estreitamento de base genética para as demais raças zebuínas e sugerem, para 
todas, de uma forma geral, a adoção de estratégias nos acasalamentos que 
contribuam para o aumento da diversidade genética dentro das raças zebuínas. 
 Estudos iniciais de Ripamonte (2002), estimaram para a raça nelore a 
ocorrência aproximada de 6% de hibridização por taurinos em populações da raça, 
estimados por marcadores microssatélites e satélite, provenientes, em sua maior 
parte de herança mitocondrial de linhas maternas. Tal assertiva demonstra que a 
base genética zebuína verdadeiramente pura pode estar concentrada em um núcleo 
ainda menor de animais, que seriam aqueles descendentes em linha direta de 
reprodutores (pai e mãe) originados do continente indo-paquistanês. Embora 
careçam de mais estudos, essas observações realçam a importância, em algum 
momento, dos núcleos portadores de germoplasma não hibridizado para o aumento 
da variabilidade genética da raça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34
CONCLUSÕES 
 
 O impacto econômico positivo do material genético zebuíno para a pecuária 
brasileira é consideravelmente superior ao do material genético de raças exóticas 
européias, pelo fato de que ele proporcionou a instalação no país de uma pecuária 
auto-sustentável, não dependente de fatores externos e nem da modificação 
constante do meio-ambiente natural de que dispomos. 
 A baixa variabilidade genética indicada por alguns estudos dentro das raças 
zebuínas, embora careçam de mais observações, já se constituí em motivo para 
considerações estratégicas nos acasalamentos e revitalização de linhas e famílias 
menos utilizadas, evitando-se um estreitamento indesejável. Essas situações são 
mais fortemente percebidas em raças cujas populações têm um menor efetivo 
populacional, embora possam ser generalizadas para todas as raças zebuínas. Não 
obstante, grandes progressos genéticos têm sido alcançados ao longo dos vários 
anos de seleção, através de programas de melhoramento bem estruturados e 
consoantes com um mercado cada vez mais exigente e globalizado. 
 Mobilizações mais recentes da quase totalidade dos selecionadores na busca 
de soluções técnicas e duradouras, amparadas por uma estrutura organizada de 
rebanhos e mão-de-obra vocacional para a atividade, estão conduzindo a população 
zebuína para patamares superiores de produção, numa velocidade só possível de 
ser encontrada onde ocorre a conjunção perfeita dos fatores de produção: terra, 
capital, trabalho e genética adequada. 
 As possibilidades de avanço ainda são infinitas e sua obtenção depende em 
grande parte do estabelecimento de ações coordenadas e permanentes ao longo de 
toda a cadeia seletiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ESTATÍSTICAS. In: Anualpec 2004 – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: 
FNP Consultoria & Agroinformativos. 2004. 376p. p.63. 
FARIA, F.J.C.; VERCESI FILHO, A.; MADALENA, F. H.; JOSAHKIAN, L.A. 
Parâmetros Populacionais do Rebanho Sindi Registrado no Brasil.. Revista 
Brasileira de Zootecnia. Vol.30 nº 6 suppl.0 Viçosa Nov./Dec. 2001 
FARIA, F.J.C. Estrutura genética das populações zebuínas brasileiras 
registradas. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, 2002. 117 p. Tese 
(Doutorado em Ciência Animal) Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. 
JOSAHKIAN, L. A. e MACHAD, C.H.C. Manual do programa de melhoramento 
genético das raças zebuínas. Uberaba: ABCZ, 1998. 96p. 
MARIANTE, A . S.; NOBRE, P.R.C.; ROSA, A. N.; EVANGELISTA, S.R.M. 
Resultados do Controle de Desenvolvimento Ponderal – Raça Nelore – 1975/ 
1984. 88p. (Embrapa – CNPGC. Documentos, 25). 
RIPAMONTE, P. Estimativa da Participação do Genoma Bos Taurus no 
Rebanho Nelore. Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de 
Alimentos da USP, 2002. Dissertação (Mestrado em Qualidade e Produção Animal) 
Universidade de São Paulo, 2002. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV 
NOVOS PARÂMETROS NA SELEÇÃO DO ZEBU 
 Nelson Rafael Pineda Rodrigues 
 
 Nascido na Venezuela, formado em Ciências Exatas e Engenharia Química 
pela Universidade de Genebra, (Suíça). Pós-graduado em Química Orgânica pela 
mesma universidade. Associado de Pesquisa nas Universidades de Genebra (Suíça) 
e York (Inglaterra), Analista do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares. Genebra. 
Suíça. Professor Associado da Universidade Politécnica de Caracas, (Venezuela). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37
O IMPACTO DA SANIDADE ANIMAL NAS EXPORTAÇÕES DA CARNE BOVINA 
BRASILEIRA 
 Nelson Pineda1 
 
INTRODUÇÃO 
 
 As exportações do complexo carne bovina tiveram um excelente desempenho 
no ano de 2003, ocupando o segundo lugar no ranking das exportações do 
agronegócio. De janeiro a setembro do ano passado as receitas do setor, incluindo 
as vendas externas de couro, alcançaram US$ 4,68 bilhões, com acréscimo de 
17,7% sobre o valor exportado de US$ 3,97 bilhões, registrado no mesmo período 
do ano anterior. As exportações de carne bovina cresceram 33,7%, chegando a US$ 
1,04 bilhão, contra US$ 779,1 milhões em vendas externas, em igual período de 
2002. (CNA, 10/2003). 
 O Brasil conseguiu no último ano um resultado bem além das previsões mais 
otimistas. Sem dúvida a competência do setor frigorífico e da nossa pecuária de 
maneira geral tiveram um papel importante, no entanto é necessário admitir que, 
num cenário internacional de retração de consumo, alguns acontecimentos 
circunstanciais afetaram os nossos maiores concorrentes e várias crises sanitárias 
ajudaram a configurar um ambiente de oportunidades para a carne brasileira. Hoje, o 
grande desafio é consolidar estas vantagens competitivas e determinar dentro da 
própria cadeia produtiva onde queremos chegar na próxima década, o que deve ser 
feito a partir do cenário atual demarcado pelos diagnósticos disponíveis e pelas 
tendências que já podem ser identificadas. Este é um exercício difícil, mas que tem o 
mérito de fixar metas de curto prazo, superando os problemas imediatos que sempre 
parecem insuperáveis (Farina & Zylbersztajn, 1999). Sem dúvida a competitividade 
do agronegócio da carne bovina passou a depender fortemente da aplicação da 
ciência e da tecnologia, assim como da qualidade da informação, da capacidade de 
transformar os conhecimentosgerados em estratégias de gestão e, sobretudo, na 
capacidade de coordenação dos processos desde a produção até o consumo interno 
e acesso aos mercados globais, passando pela industrialização, logística de 
distribuição, varejo e exportação. Nesse ambiente dinâmico, os preços relativos, os 
 
1 Diretor da ABCZ – Vice-presidente internacional do SIC. pineda@terra.com.br 
 
 
38
custos, enfim, as vantagens comparativas, constituem informação de extrema 
importância, mas são insuficientes para traçar estratégias de inserção ativa na 
competição internacional. 
 A carne bovina brasileira continuou neste início do ano 2004 sua rota de 
sucesso no mercado internacional, obteve receita de US$ 666,9 milhões com 
exportações de carne bovina entre janeiro e abril deste ano, o que representa um 
crescimento de 54,85% sobre o total de US$ 430,7 milhões registrados em igual 
período do ano passado. O volume total exportado também cresceu, somando 502,7 
mil toneladas exportadas nos primeiros quatro meses deste ano, frente a 420,6 mil 
toneladas no primeiro quadrimestre de 2003, o que representa aumento de 19,5%. O 
cálculo leva em conta o conceito de equivalente-carcaça, somando o total de carne 
bovina in natura e industrializada exportada. 
 Somente em abril, as exportações de carne bovina atingiram 136 mil 
toneladas, com receitas de US$ 184 milhões. Em abril de 2003, o Brasil exportou 
108 mil toneladas, rendendo US$ 111,5 milhões (CNA, 05/2004). 
Algumas tendências, além do crescente papel da informação, já podem ser 
percebidas: a organização da produção vem sofrendo profundas e rápidas 
transformações, a concorrência ganhou dimensão global, tudo isso em meio a uma 
evolução tecnológica sem precedentes. Uma vez identificadas, as formas 
específicas com que tais tendências aparecem para a cadeia produtiva da carne 
bovina brasileira, será possível conceber um conjunto de ações que viabilizem o 
aproveitamento de oportunidades de crescimento ímpares para o Brasil nesta 
década. 
 
 
O CONSUMO MUNDIAL DE CARNES 
 
 A Tabela 1 mostra que o consumo mundial de carne bovina diminuiu 
ligeiramente em 2003 (-0,4%), depois de um crescimento acentuado de 2,8% em 
2002. Seguramente a explicação se encontra na alta de preços internacionais, na 
diminuição da oferta dos países produtores e nas restrições impostas pelo 
aparecimento da encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Sem dúvida estas são 
es explicações no maior mercado mundial que são os Estados Unidos, onde o 
 
 
 
 
39
consumo de carne bovina caiu devido a queda da produção interna e ao fechamento 
das importações do Canadá a partir de dezembro de 2003. De uma forma geral na 
maioria dos paises o consumo de carne se estabilizou ou diminuiu e o consumo 
mundial se estabilizou como mostra a Tabela 2. A produção aumentou ligeiramente 
graças ao aumento do consumo de carne bovina na China, que também sustentou o 
mercado de frango apesar do aparecimento do SARS. 
 
Tabela 1.- Consumo mundial de carnes* 
 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 
Bovinos 59238 59703 59336 61000 60756 -0,4 
Caprinos 11100 11400 11300 11500 11700 +1,7 
Suínos 89900 89300 91500 94300 95800 +1,6 
Aves 65427 68676 71047 73869 75200 +1,8 
Total 225665 229078 233182 240669 243456 +1,2 
Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003. 
*Toneladas equivalents de carcaça 
 
 Tabela 2.- Consumo per capita mundial de carnes* 
 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 
Bovinos 9,9 9,9 9,7 9,8 9,7 -1,6 
Caprinos 1,90 1,90 1,80 1,90 1,91 +0,6 
Suínos 15,0 14,7 14,9 15,0 15,2 +0,4 
Aves 10,9 11,3 11,6 11,9 12,0 0,6 
Total 37,7 37,8 38,0 38,7 38,7 0,0 
Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003. *Kg/hab/ano 
 
Tabela 3.- Consumo de carnes nos maiores consumidores mundiais* 
 1999 2000 2001 2002 2003 %03/02 
China 60304 62125 63726 66238 67238 +2,4 
USA 34486 34672 34846 36631 36672 -0,2 
UE 33985 33587 33325 34054 34312 +0,8 
Brasil 12789 13659 13650 14058 14025 -0,2 
Mundo 225665 229078 233182 240669 243456 +1,2 
Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003.. 
*x1000 Toneladas de equivalente de carcaça 
 
 
40
 O mercado europeu, foco central das nossas exportações, fechou o ano 2003 
com tendência de alta apesar da conjuntura econômica, porém de forma menos 
pronunciada que no ano de 2002. Nosso mercado interno igualmente estabilizado, 
apesar do crescimento demográfico, mostra a clara tendência de retração e os 
nossos maiores frigoríficos estão focando suas estratégias de crescimento no 
mercado internacional em detrimento do cuidado do consumidor brasileiro. A China é 
o grande alvo da produção mundial, responsável por mais de 50% do aumento do 
consumo geral de carnes, produto do seu crescimento econômico vertiginoso. 
 Outros paises têm apresentado aumento de consumo, como os novos 
integrantes da comunidade européia (+3,8%), o México (+3,6%) e igualmente os 
paises do Oriente Médio e da África do Norte (+2,2%). Estes últimos, por causa da 
expansão demográfica. (OFFIVAL, 2003). 
 
 
O REBANHO BRASILEIRO DENTRO DO CONTEXTO MUNDIAL 
 
 No ano 2003, o rebanho mundial bovino não apresentou crescimento 
significativo. A expansão dos rebanhos chinês (+2%) e brasileiro (+1.5%) foi 
compensada com a diminuição dos rebanhos australiano, americano, russo e 
europeu. A maior retração de rebanho foi sem dúvida na Austrália, conseqüência da 
forte seca que assolou este país em 2002. Os rebanhos argentino e uruguaio se 
mantiveram praticamente estabilizados, com um pequeno aumento da produção de 
carne da ordem de 4,7% e 1,8% respectivamente. Os preços internacionais, a 
reconstituição dos rebanhos após os casos de febre aftosa e a melhoria da 
economia interna tem ajudado no reposicionamento internacional destes paises. 
 O aspecto sanitário no mundo mudou os atores no mercado mundial. O ano 
2003 foi marcado pela aparição de casos de EEB no Canadá e nos Estados Unidos, 
como também os casos de febre aftosa no norte da Argentina. Após a alta sensível 
registrada nos abate mundial (+2,8%) em 2002, o abate mundial teve uma retração 
(-0,4%). Neste cenário o Brasil aumentou sua produção (+3,3%) alavancado pela 
forte alta dos preços da carne brasileira no exterior. Houve uma elevação dos preços 
médios pagos pela carne bovina brasileira no mercado internacional, beneficiando a 
balança comercial do setor. Em abril deste ano, o preço médio pago pela carne 
bovina in natura exportada foi de US$ 2.186,00 a tonelada, 35,8% a mais que o valor 
 
 
41
de US$ 1.610,00 vigente em abril de 2003. O preço médio da carne industrializada 
foi de US$ 2.157,00 por tonelada, no mês passado, um aumento de 14,5% na 
comparação com US$ 1.883,00 que vigorava em abril, enquanto que os preços 
pagos aos produtores caíram (Tabela 4). Nos últimos quatro anos a oferta de carne 
brasileira aumentou 12% com crescimento acentuado do gado da raça Nelore no 
centro-oeste do país. A China teve também no abate um crescimento sensível 
(+3%), enquanto que a Austrália, Nova Zelândia, USA, Rússia e a União Européia 
diminuíram suas taxas de abate. 
 O Brasil aumentou suas exportações ao Oriente Médio ocupando os espaços 
deixados pelos exportadores europeus. O Egito foi o principal comprador de carne 
bovina brasileira neste primeiro quadrimestre, com aquisições de US$ 69,16 milhões 
(119,7% a mais que as importações de US$ 31,5 milhões em igual período do ano 
passado), em segundo lugar ficou o Chile, responsável por compras de US$ 63,4 
milhões de carne bovina brasileira entre janeiro e abril de 2004 (60,4% a mais que 
os US$39,5 milhões no mesmo período do ano passado). Para a Comunidade 
 Européia as exportações também aumentaram, mesmo com altas taxas 
tarifárias,. o mesmo ocorrendo com a Rússia. Porém os mercados americano e do 
sudoeste asiático continuam fechados para o país por motivos sanitários. 
 
TABELA 4.- Preços pagos aos produtores dos maiores exportadores mundiais* 
 1999 2000 2001 2002 2003 1999/2003 
Argentina 1.436 1.582 1400 855 1200 -12,9 
Austrália 1.460 1532 1.638 1.580 2.115 +43,8 
Brasil 1.230 1.480 1.250 1.100 1.250 +2,4 
EU 2.555 2.269 1.873 2.086 2.449 +2,5 
USA 2.622 2.764 2.896 2.680 3.407 32,3 
Fonte: FAO, Gordon International Research Institute, 2003. In: Annuaire OFIVAL, 2003.. *US$/Ton. 
 
 
AS TENDÊNCIAS DA ECONOMIA E O IMPACTO NO COMSUMIDOR 
 
 As tendências econômicas influenciam de forma marcante o perfil do 
consumidor. O seu monitoramento sociológico e cultural ajuda a desenvolver 
conhecimentos, traçar perfis, definir novos conceito, criar vantagens competitivas e, 
 
 
42
sobretudo, antecipar tendências para o posicionamento futuro do Brasil como maior 
exportador mundial de carne bovina. A seqüência de eventos sobre crises de 
segurança alimentar tem mudado a percepção do consumidor sobre qualidade na 
qual o aspecto sanitário passou a ser o item número um a ser considerado pelos 
consumidores de carnes vermelhas. Hoje os cenários econômicos, as preferências 
dos consumidores e a percepção de qualidade sanitária são conceitos interativos 
que precisam ser encarados de forma global. 
 Faith Popcorn, consultor da BrainReserve (The Popcorn Report, 1992), 
apontou dez tendências econômicas que continuam sendo uma base sólida de 
análise do consumidor: 
1. Retorno às origens: Há um retorno nostálgico aos nossos valores da infância, das 
pequenas cidades, a natureza a segurança. 
2. Encasulamento: O aumento da criminalidade leva a busca pela vida interiorizada 
na procura da autopreservação, onde as compras via Internet, televisão e círculos 
restritos de amizade são dominantes. 
3. Retardamento do envelhecimento: As pessoas estão propensas a um estilo 
diferente da sua faixa etária. Cirurgias plásticas e tratamentos faciais, roupas jovens 
e um estilo de vida light dita os padrões de consumo. 
4. Egotismo: O desejo das pessoas serem individualizadas e tratadas de forma 
diferente. As empresas passam a desenvolver produtos, serviços e experiências 
personalizadas. 
5. Fuga da rotina: O fim de semana traz a fuga da rotina diária e neste momento 
passam a ser consumidores totalmente diferentes que no dia-a-dia. 
6. 99 Vidas: a supermãe, o empresário, que têm que resumir suas vidas na Internet 
ou no celular, encontram nos centros de consumo múltiplo a melhor maneira de 
sintetizar as necessidades simultâneas. 
7. Guardiões da sociedade: As pessoas começaram a ter uma preocupação com 
meio ambiente, comportamento ético e conseqüências sociais. As grandes 
empresas começaram todas elas a praticar marketing social e associar a imagem da 
empresa a projetos desta natureza. 
8. Busca de pequenas indulgências: Levar uma vida regrada e no fim de semana 
consumir uma picanha Bassi e um sorvete Haagen-Dazs. A empresa tem que estar 
pronta para oferecer os pequenos mimos como compensação emocional. 
 
 
43
9. Manter-se vivo: Sabemos que os velhos hábitos matam. Comer alimentos 
errados, fumar e respirar ar poluído estão na contramão do consumidor moderno. 
10. O consumidor vigilante: Não tolera produtos de má qualidade, serviços 
inadequados e menos ainda levar para à família riscos de contaminação. 
 Estas tendências mostram a preocupação do consumidor pela sua saúde e 
pela segurança dos alimentos. De outra forma já foram descritas por Smith et al. 
(2000), ao colocar as perguntas que se faz o consumidor por ordem seqüencial de 
prioridades: Não me fará mal, é bom para mim, posso pagar, como preparar, tenho 
tempo, ficará saboroso. Estas perguntas estão relacionadas com: segurança, saúde, 
custo, preparação, conveniência e preferência. É inegável e contundente que os 
mercados que se abrem para a carne brasileira estão preocupados com sanidade 
animal e estes mercados exigem da cadeia produtiva da carne bovina: compromisso, 
coerência, respeito, honestidade, clareza, confiança e, sobretudo, segurança animal. 
 
 
CARNE DE ÓTIMA QUALIDADE 
 
 Segundo Felício (2000), qualidade é uma palavra de múltiplas interpretações 
que depende basicamente da matéria prima, produto ou serviço em questão e da 
abordagem do tema. Em se tratando de alimentos, as primeiras considerações sobre 
qualidade se referem às condições higiênico sanitárias do processo de produção e 
armazenamento, como também à possibilidade de contaminação por agentes 
químicos. A definição de carne de ótima qualidade é aquela dada por Dikemam 
(1991), autor citado por Felício (1993): “aquela que atrai o consumidor (cor atraente, 
pouca gordura, frescor e um mínimo de suco aparente); que é macia e suculenta 
quando preparada; que tem um alto teor protéico e uma baixa densidade calórica e 
que seja livre de microorganismos patogênicos e resíduos químicos, com uma 
contagem baixa de microorganismos deterioradores.” Esta visão de qualidade deve 
ter como base o princípio de precaução e estar colocada em três dimensões 
simultaneamente: legislação em matéria de segurança alimentar, sistemas de 
controle ao longo da cadeia produtiva e informação ao consumidor. (Comissão das 
Comunidades Européias, 2000) 
 Ao longo das últimas décadas assistiu-se a uma evolução notável, tanto nos 
métodos de produção e processamento de alimentos como nos controles 
 
 
44
necessários para assegurar a observância de normas de segurança aceitáveis. 
Torna-se evidente que o Brasil deverá atualizar sua normas e adaptar-se a esta 
nova realidade. Mas a experiência de cada unidade da federação deverá ser 
aproveitada para criar um sistema de vigilância integrado, modular flexível e eficiente 
nos diferentes cenários do país. Neste contexto surge também a necessidade de 
incentivar a participação do consumidor na definição da política de segurança 
alimentar, portanto é fundamental assegurar-lhe uma melhor informação sobre os 
novos problemas e os riscos que representam alguns alimentos. O consumidor tem 
o direito de esperar que lhe sejam fornecidas informações úteis, claras sucintas 
sobre a qualidade e os constituintes dos alimentos, de forma a poderem escolher 
com conhecimento de causa. Assim deveremos pensar em matéria de rotulagem da 
carne e a importância de explicar ao consumidor os benefícios da alimentação 
equilibrada e seu impacto sobre a saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS. Livro branco sobre segurança 
dos alimentos. Bruxellas, 2000. 
 DIKEMAN, M. E.; Genetic effects on the quality of meat from cattle. Proceeding: 
4TH WORLD CONGRESS ON GENETIC APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 
1990. Edinburgh.UK. 1990. 
 FARINA, E. M. M. Q. & ZYLBERSZTAJN, D.; Competitividade do agribusiness 
brasileiro. IPEA-PENSA-USP. V.1.1998. (www.fea.usp.br/fia/pensa). 
 FELÍCIO, P. E. de; Reflexões sobre a qualidade da carcaça de gado Nelore. In: I 
SIMPÓSIO: O NELORE DO SÉCULO XXI,1993. Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão 
Preto. SP. Brasil. 1993. p. 17. 
 FELÍCIO, P. E. de; Qualidade da carne Nelore e o mercado mundial. In: 90 
SEMINÁRIO PMGRN. Universidade de São Paulo, 2000. Ribeirão Preto. 
Anais...Ribeirão Preto. SP. Brasil. 2000. 
 OFIVAL ANNUAIRE. Le marché des produits des viandes carnés et avicoles 
 2001. OFFIVAL – PARIS – FRANCE. 2001. 
 POPCORN, F. The Popcorn report. Nem York: HarperBusiness, 1992. in 
Administração de marketing, análises e planejamento. Implementação e controle. 
Ed. Atlas. São Paulo. 1998. 
 SMITH, G. C.; SOFOS, J. N.;

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