Buscar

Organizações Religiosas Lesllie Gomes

Prévia do material em texto

AS ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS: BREVES APONTAMENTOS 
Lésllie Gomes Soares[1: Graduanda do curso de direito na Universidade Regional Integrada Do alto Uruguai e das missões – URI – Câmpus de Santiago, RS. E-mail: ani.damian@hotmail.com]
Thiago Marchionatti Uggeri[2: O orientador é Graduado e Mestre em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Câmpus de Santo Ângelo, RS; professor das Disciplinas de Direito Civil I, II e III da URI – Câmpus de Santiago; e Oficial de Justiça Avaliador Federal na Vara do Trabalho de Santiago, RS. E-mail: tmuggeri@hotmail.com]
RESUMO Dentre as principais classificações de organizações religiosas, este artigo busca destacar o tipo de pessoa jurídica aprofundando no que diz respeito às instituições de cunho religioso. Apontam-se os principais benefícios que a nova Lei trouxe para as organizações religiosas brasileira, com a comparação de como eram as mesmas antes da nova Lei. 
Palavras- chave: Organizações religiosas; Pessoa jurídica; Lei 10.825.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 A Lei 10.825/2003, que incluiu as organizações religiosas como espécie do gênero pessoa jurídicas de direito privado, não conceituou o que seria uma organização religiosa. Porém, sua conceituação pode ser feita por exclusão das demais pessoas jurídicas, ou seja, não pode ter finalidade econômica (sociedade), não se constitui na destinação de bens a determinada atividade (fundação), sendo caracterizada pela união de pessoas que se organizam para fins religiosos, nada impedindo que haja a ocorrência de outras finalidades, tais como filantrópica, beneficente, cultural, científica, filosófica. 
 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS 
 Entrou em vigor no dia 22 de dezembro de 2003, a Lei no 10.825, de 22 de dezembro de 2003, que institui as Organizações Religiosas e Partidos Políticos como pessoas jurídicas de direito privado.
LEI No 10.825, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003. Dá nova redação aos arts. 44 e 2.031 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil Art. 1o Esta Lei define as organizações religiosas e os partidos políticos como pessoas jurídicas de direito privado, desobrigando-os de alterar seus estatutos no prazo previsto pelo art. 2.031 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil.
 
Art. 2o Os arts. 44 e 2.031 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos.
§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.
§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (NR)
Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007. (Nova redação dada pelo Art. 1º, Lei 11.127/05) 
 As organizações religiosas são popularmente conhecidas como igrejas, centros, tendas, etc., mas mais do que isso, as organizações religiosas são grupos de pessoas que se unem para propagar, cultuar, estudar e difundir determinada crença religiosa mesmo que independentemente de templos.
 Antes da criação dessa Lei, as organizações religiosas, criadas pelo homem, às quais se atribui personalidade não podiam ser reconhecidas como pessoas jurídicas. 
 "A partir de agora é livre o direito de criar uma igreja e praticar uma religião", disse o presidente Lula após sancionar a lei.
 A nova lei fez correções jurídicas no Código Civil, permitindo que as igrejas deixem de ser simples entidades de classe como clubes de futebol ou outras organizações não religiosas.
 "O Estado está proibido de tomar qualquer decisão que proíba o funcionamento das entidades religiosas", disse o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. A inclusão do artigo no Código Civil agradou representantes de entidades religiosas. Para o pastor evangélico Jorge Pinheiro, anteriormente o novo código deixava um vácuo jurídico quanto a liberdade religiosa. "Antes tínhamos o mesmo tratamento dos clubes de futebol. Agora cada igreja tem como fazer valer seu próprio estatuto". A nova lei também irá evitar desestabilizações jurídicas, como as ocorridas no caso do rompimento societário em empresas tradicionais. "Vai prevalecer o estatuto das igrejas"
 Segundo ele, questões polêmicas como o casamento de pessoas do mesmo sexo - que não é permitido em muitas religiões -, deixará de ter interpretações jurídicas equivocadas, já que o Código Civil permite este tipo de união. "Antes poderíamos ser processados se recusássemos um casamento homossexual dentro da nossa igreja. Agora não mais", disse Pinheiro.
 Destaca-se que a autonomia das organizações religiosas não é absoluta, apesar de nova categorização. Nesse sentido, foi aprovado o Enunciado doutrinário n. 143, prevendo que ‘‘A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos’’.
 Segundo Flávio Tartuce inicialmente, observa-se que o dispositivo legal em questão dá tratamento diferenciado aos partidos políticos e ás entidades religiosas, não sendo previstos como espécies de associações como dantes. Essa alteração, a nosso ver, tem conotação política, para afastar que tais entidades tenham que se adaptar ás regras previstas no Código Civil de 2002 quanto ás associações, tidas por muitos como complexas e burocráticas. 
 Mas, na doutrina, alguns autores ainda perfilham tais entidades como espécies de associações, como faz Maria Helena Diniz (Código Civil anotado...,2005, p.76). Essa é mesma conclusão dos juristas que participaram da III Jornada Internacional de Direito Civil, com a aprovação dos seguintes enunciados:
‘‘Os partidos políticos, sindicatos e associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil’’ (Enunciado n. 142)
‘‘A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legitimidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame, pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos’’ (Enunciado n. 143)
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Com a vigência da Lei 10.406/02, as organizações religiosas foram enquadradas como associações; dessa forma, estas se viram obrigadas a ter seus estatutos modificados e parte de sua organização e gestão enquadradas como exige o art. 2.031 desta referida lei civil. Diante disso, adveio a Lei 10.825/03 estabelecendo as organizações religiosas como pessoas jurídicas próprias, liberando-as desse enquadramento estabelecido às associações.
A adequação de natureza jurídica é um processo que se fez necessário pela reestruturação normativa do Código Civil. O fato de uma entidade deixar de ser associação e passar a ser organização religiosa não é apenas uma questão de escolha. O ofício registral deve atentar às reais finalidades da entidade conforme foi constituída para que possa permitir a adequação do atoconstitutivo com a devida segurança jurídica. 
As organizações religiosas são organizações de pessoas com fins não econômicos, podendo, contudo, captarem recursos e até obter lucros, mas esses recursos e lucros devem ser revertidos com a finalidade exclusiva de fomentar suas atividades sem distribuição de benefícios aos seus membros, filiados, dirigentes ou quaisquer pessoas; caso contrário, tratar-se-ia das atuais sociedades.
Em que pese a liberdade religiosa, os atos da organização religiosa somente terão efeitos jurídicos depois de a entidade encontrar-se regularmente registrada em cartório, passando por um processo mínimo burocrático para que seja atribuída certa segurança à sociedade.
REFERÊNCIAS 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: Lei de introdução e parte geral. São Paulo: Método, 2012.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 1: Parte geral (Lei de introdução ao direito civil). São Paulo: Saraiva, 2009.
BRASIL. Código civil, 2002. Código civil. 53. ed. São Paulo: Saraiva; 2002.
PLANALTO. Presidência da República. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.825.htm > Acesso em: 04 jun. 2015.
BRASIL. Agência. Disponível em:
< http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil /2003-12-22/ > Acesso em: 04 jun. 2015

Continue navegando