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Efeitos econômicos da dívida pública Finanças Públicas – Fernando Rezende Efeitos econômicos da dívida pública • Últimas duas décadas: aumento da dívida pública em vários países do mundo; – EUA: 1980 → 26% do PIB; 1997 → 50% do PIB; – Brasil: 1991 → 37,9% do PIB; 1999 → 47% do PIB; País Dívida pública (% do PIB) - 1996 Bélgica 127 Itália 112 Áustria 51 Alemanha 48 Reino Unido 44 A dívida pública: uma referência internacional Países Dívida Governo Geral (% PIB) Alemanha 82 Áustria 78 Espanha 68 Estados Unidos 92 França 92 Grécia 123 Holanda 77 Irlanda 81 Itália 127 Japão 197 Portugal 91 Reino Unido 83 Ásia / (a) 40 / (a) – China, Hong Kong, Índia, Indonésia, Coréia do Sul, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. Fonte: Cecchetti et alii (2010), Tabela 1, com base em base de dados do FMI e da OECD. Dívida pública em países selecionados – 2010 (% PIB) A dívida pública no Brasil -30,0 -20,0 -10,0 0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Dívida líquida do setor público - 2013/2015 (% PIB) Total Interna Externa Dívida externa negativa: “Temos mais créditos do que dívidas no exterior. A dívida desapareceu no sentido contábil, apenas” – então presidente do Banco Central, Gustavo Franco (1998). Efeitos econômicos da dívida pública • Cenário de aumento da dívida pública: – Quais os efeitos econômicos desse crescimento da dívida pública nos países? • Dois tipos de visões: 1) Análise convencional da dívida pública: compartilhada por grande parte dos economistas e a maioria dos formuladores de política econômica; 2) Teoria da equivalência Ricardiana: defendida por muitos economistas acadêmicos; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • No curto prazo a dívida pública é um fator de estímulo à demanda agregada e de expansão na atividade econômica; • ↑ déficit e da dívida pública → impactos sobre o nível de poupança doméstica, investimentos e a formação de capital; podem determinar mudanças na trajetória da taxa de juros, nas transações externas e na taxa de câmbio; • “... A análise da dívida é interessante em razão das várias questões que surgem a respeito do comportamento econômico e da inter-relação entre as variáveis macroeconômicas” (p.287); Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • Suposição inicial: ↑ da dívida é resultante de uma ↓ temporária dos impostos e os gastos não são afetados; • Queda de impostos: é temporária em função de o governo defrontar-se com uma restrição orçamentária intertemporal. Esta queda equivale a ↑ impostos no futuro para manter a solvência do setor público; • Contexto de uma análise keynesiana: no curto prazo, o efeito do aumento da dívida pública por meio da redução de impostos e gastos inalterados pode levar a um aumento da renda e produto nacionais Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • ↓ Impostos → expansão da renda disponível do setor privado → ↑ no consumo e na demanda agregada; • Supondo salários e preços relativamente rígidos e que eles não respondem imediatamente aos choques econômicos, o estímulo da demanda agregada na economia impulsiona o crescimento da produção e da renda; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • Gráficos; • Curva de oferta agregada horizontal: a expansão da demanda agregada se reverte totalmente em aumento da produção e renda nacionais; Economia em recessão: diagnóstico keynesiano → solução para o desemprego: ↑ déficit público; • Curva de oferta agregada relativamente inclinada: os preços respondem parcialmente à expansão da demanda, reduzindo o impacto do aumento sobre a renda e a produção; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • Outro fator que limita a expansão de renda no curto prazo é o impacto do ↑ da dívida pública sobre a taxa de juros. • ↑ déficit público → desloca a curva IS (lado real da economia) para a direita e pressiona o mercado monetário (curva LM), elevando a taxa de juros que amortece o crescimento da renda. • Efeito deslocamento (crowding-out): é utilizada geralmente para designar uma situação em que os gastos governamentais deslocam (crowd out) algum outro componente dos gastos, embora sem alterar a despesa agregada. • Países com restrição de crédito e mercados financeiros pouco desenvolvidos, o aumento das NFSP provoca maior aumento das taxas de juros, levando a queda no investimento privado e no produto (efeito deslocamento); Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de curto prazo • O efeito adverso da dívida pública será minimizado em função da natureza dos gastos públicos: • Acréscimo da dívida foi utilizado para elevar o consumo do governo ou em investimentos que são concorrentes do setor privado, o efeito crowding-out deverá ser maior → o governo está ocupando espaço na demanda por fatores de produção e na própria produção, que poderia ser destinada ao setor privado; • Governo despende recursos em investimentos que são complementares aos produzidos pelo setor privado, por exemplo na formação de bens públicos (segurança, defesa nacional, trânsito etc.) ou que geram externalidades (educação, saúde e infraestrutura), o efeito deslocamento deverá ser menor; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de longo prazo • Se a dívida continuar num processo de crescimento: o Credores passam a desconfiar da capacidade do setor público em honrar os seus compromissos; o O prazo de maturação dos empréstimos é reduzido; o Mercado exige taxa de juros maiores para financiar a rolagem da dívida, o que eleva mais ainda a dívida pública e o pagamento de juros. o Governo precisa modificar sua postura fiscal → evitar o financiamento via imposto inflacionário → pode levar a episódios de hiperinflação; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de longo prazo • Longo prazo: economia funciona próxima ao modelo clássico → preços e salários são plenamente flexíveis e o aumento da dívida pública tem repercussões sobre a poupança nacional e a formação do estoque de capital. • Identidades macroeconômicas; • Identidade: todo produto (conjunto de bens e serviços produzidos num país durante um período) gera um correspondente fluxo de renda, que é gasto sob a forma: 𝑌 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 −𝑀) Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos de longo prazo • Financiamento do déficit e da dívida pública é obtido por meio da poupança privada interna e externa da economia; • Dois efeitos: 1) Um maior déficit absorve recursos que poderiam ser destinados para os investimentos privados e acumulação de capital; 2) Um aumento do déficit público ou redução da poupança pública, por exemplo, por meio da redução dos impostos levaria a um aumento da poupança privada na mesma magnitude → poupança nacional mantém-se constante (Teoria da equivalência Ricardiana); • Defensores da teoria convencional: uma redução de R$ 1 na poupança pública leva a um aumento menor que R$ 1 na poupança privada → poupança nacional sofre decréscimo; Efeitos econômicos da dívida públicaTeoria convencional da dívida pública a) Efeitos sobre a taxa de câmbio e as contas externas • Relação entre déficit público e contas externas: bastante difundida na literatura econômica no início dos anos 90; • Existência de uma correlação direta entre déficit público e déficit em conta corrente – estudos para EUA e Austrália nos anos 90 → hipótese dos déficits gêmeos; Efeitos econômicos da dívida pública Teoria convencional da dívida pública a) Efeitos sobre a taxa de câmbio e as contas externas • Destacam-se dois principais mecanismos de transmissão dos déficits gêmeos: 1) Absorção → um aumento do déficit público eleva a demanda agregada e as importações, contribuindo para o aumento do déficit em conta corrente; 1) Por meio da taxa de juros e do câmbio → o aumento do déficit público pressiona o mercado monetário e eleva a taxa de juros. O diferencial dos juros interno e externo provoca o aumento na entrada de capitais o que na hipótese de uma taxa de câmbio flexível, leva a sobrevalorizção cambial → estímulo para aumentar as importações e reduzir as exportações, gerando um déficit externo. Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana • Defende a neutralidade do déficit público; • Consumo, acumulação de capital e crescimento econômico não serão alterados em função de um aumento do déficit que envolve cortes de impostos sem considerar mudanças presentes e futuras na trajetória de gastos; • O aumento da dívida pública será irrelevante → a redução da carga tributária hoje, significa maiores impostos amanhã; • Os agentes econômicos pouparão os recursos para pagar maiores impostos no futuro; Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana • A teoria da equivalência Ricardiana está sustentada em três pilares: 1) Os agentes econômicos tomam suas decisões no presente olhando para o futuro; o horizonte de planejamento é suficientemente longo e ultrapassa o próprio período de vida → preocupação com os descendentes; os indivíduos constroem um patrimônio para seus filhos → transferência por heranças; Não existem motivos para alterar a trajetória de consumo em razão da redução de impostos e do aumento do déficit público porque existem preocupações inter geracionais; Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana 2) O setor público defronta-se com uma restrição orçamentária, que intertemporalmente precisa ser atendida; governo não pode acumular sua dívida indefinidamente; Menor carga tributária hoje significa maiores impostos no futuro; Os agentes econômicos não definem seu consumo pelo nível de imposto vigente, mas pelo valor presente desses impostos, inserido nas suas expectativas. Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana 3) Hipótese da renda permanente → as famílias escolhem sua trajetória de consumo em função de sua renda permanente, não de sua renda disponível; Renda permanente → é igual ao valor presente esperado dos rendimentos líquidos (descontados os impostos); Flutuações do valor presente dos impostos → alteram a renda disponível das famílias em determinados períodos de tempo; Poupança das famílias → acompanha os movimentos transitórios da renda → instrumento de suavização do consumo; Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana • Teoria da equivalência Ricardiana: pode não ser mantida quando se parte para avaliações empíricas; • Principais possibilidades para ela falhar: 1) Restrições de liquidez • Os indivíduos podem ter dificuldades em tomar emprestado recursos, que são importantes para suavização do consumo; • Aumento do déficit e da dívida pública → eleva a renda disponível e o consumo para aqueles que se defrontam com restrição de crédito; • Não se conhece empiricamente a extensão do impacto sobre o consumo agregado oriundo das restrições de liquidez, dado que nem toda população estaria nessa situação; • As restrições de liquidez não são exogenamente dadas, mas refletem as condições da economia; Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana 2) Impostos distorcivos (non-lump-sum taxes) • Imposto lump-sum é um tipo “ideal”. Sua principal característica é não afetar, teoricamente, a eficiência econômica de uma troca, embora tenha efeitos alocativos. Lump-sun é, basicamente, um imposto fixo por pessoa; • O fato de que os impostos cobrados não são do tipo lump- sum pode influenciar os resultados previstos pela equivalência de liquidez; Efeitos econômicos da dívida pública Equivalência Ricardiana Conclusões: • Muitos economistas acreditam que a equivalência Ricardiana é uma mera construção teórica e de pouco interesse para utilização nas políticas econômicas; • Por outro lado, alguns economistas reconhecem as limitações que impedem uma completa aderência da equivalência Ricardiana, porém acreditam fortemente que esta representa uma boa aproximação da realidade;
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