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Propriedades químicas dos aminoácidos II C E D E R J77 M Ó D U LO 2 - AULA 10 Propriedades químicas dos aminoácidos II Objetivos Nesta aula vamos continuar estudando o comportamento dos aminoácidos quando expostos à variação do pH. Já vimos, na aula passada, o que ocorre com a glicina e agora vamos analisar o comportamento do ácido glutâmico e da lisina. Antes de prosseguirmos, reveja na Aula 8 a fórmula do ácido glutâmico e da lisina, principalmente como são os seus grupamentos R. Conforme já discutimos, o ácido glutâmico se enquadra no grupo dos aminoácidos ácidos e a lisina no grupo dos aminoácidos básicos. Você se lembra? Comecemos pelo ácido glutâmico! 1. Titulação do Ácido Glutâmico A Figura 10.1 mostra a curva de titulação do glutamato ou ácido glutâmico. Veja que, embora não estejam bem definidos, existem três platôs nesta curva. Você seria capaz de dizer por que existem esses platôs e a que eles se referem? Se você respondeu que a existência do primeiro platô se deve à saída do hidrogênio da carboxila ligada ao carbono α, a do segundo se deve à saída do hidrogênio ligado à carboxila do grupamento R e o terceiro, à saída do hidrogênio do grupamento amino, você marcou um belo gol! Figura 10.1: Curva de titulação do ácido glutâmico.’ ÁCIDO GLUTÂMICO É a forma ácida do glutamato. No ácido glutâmico, a carboxila tem a fórmula COOH e no glutamato ela tem a fórmula COO-. Glutamato = Ácido Glutâmico Aula_10.p65 5/17/2004, 7:16 AM77 Propriedades químicas dos aminoácidos II 78C E D E R J BIOQUÍMICA IQUÍMICA I Vamos agora explorar e compreender cada região desta curva. Comecemos com o ácido glutâmico em pH bem ácido, como por exemplo pH 1. Em pH 1, o ácido glutâmico apresenta-se completamente protonado: suas duas carboxilas estão na forma COOH e seu grupamento amino na forma NH 3 +. Desta maneira, ele apresenta carga +1, conforme mostra a Figura 10.2. À medida que adicionamos hidróxido de potássio à solução, o pH da solução vai se elevando até um ponto em que não sobe mais (início do primeiro platô). Neste ponto, o próton da carboxila ligado ao carbono α é removido e, enquanto isso acontece, o pH da solução pouco se altera. Continuando a adição de hidróxido de potássio, vemos que o pH da solução sobe lentamente até atingir um valor de pH onde se forma o que seria um segundo platô. Nesse ponto, é o próton da carboxila do grupamento R que está deixando a molécula do ácido glutâmico. A adição de mais hidróxido de potássio acarreta uma rápida subida do pH, até que tem início o terceiro platô, em torno de pH 9, ponto no qual o próton do grupamento amino passa a deixar a molécula do glutamato. Obviamente, o primeiro e o segundo platôs não ficam muito evidentes e acabam por se misturar já que, por serem muito próximos, o fim de um passa a ser o começo do outro. Figura 10.2: Ácido glutâmico em pH ácido. Aula_10.p65 5/17/2004, 7:16 AM78 Propriedades químicas dos aminoácidos II C E D E R J79 M Ó D U LO 2 - AULA 10 Figura 10.3: Titulação do ácido glutâmico. Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM79 Propriedades químicas dos aminoácidos II 80C E D E R J BIOQUÍMICA IQUÍMICA I 2. Titulação da lisina A Figura 10.4 mostra a curva de titulação da lisina, um aminoácido com NH 3 + no grupamento R. Agora você vai, sozinho, observar e escrever o que está vendo em cada trecho da curva. Não deixe de discutir as suas observações com seus colegas e com o tutor. Boa sorte! 3. Constantes de Equilíbrio Antes de encerrarmos este estudo de curvas de titulação de aminoácidos, devemos ainda fazer algumas análises muito importantes. Precisamos primeiro definir as constantes de equilíbrio de ionização dos grupamentos dos aminoácidos e seus pKs. Na verdade, na Aula 7 foi definida a constante de equilíbrio da dissociação de um ácido (K a ).Vimos que, quanto maior for o valor de K a , mais forte é o ácido em questão. Por outro lado, também aprendemos que pK a significa -log K a (da mesma forma que pH = -log [H+]). Antes de prosseguirmos, vamos observar o seguinte exemplo: Ácido forte → ácido fosfórico K a = 7,25 x 10-3 M pK a = - log 7,25 x 10-3 = 2,14 Ácido fraco → ácido carbônico K a = 4,47 x 10-7M pK a = -log 4,47 x 10-7 = 6,35 Logo podemos inferir que: Quanto mais forte o ácido, maior o K a e menor o pK a . Tendo isto em mente, vamos agora analisar os pK a dos aminoácidos. Figura 10.4: Curva de titulação da lisina. Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM80 Propriedades químicas dos aminoácidos II C E D E R J81 M Ó D U LO 2 - AULA 10 Em nossa analogia da árvore (Aula 9), o pK seria como uma medida de quão amarela está a folha da árvore. Quanto menor o pK, mais facilmente um grupo perde seu próton, ou seja, quanto menor o pK, mais amarela seria a folha (e mais forte é o ácido)! Vamos voltar à curva de titulação da glicina que foi discutida na aula passada. Reveja, então, a Figura 9.7, da Aula 9. A curva de titulação da glicina apresenta dois pK, conhecidos como pK 1 e pK 2 . O seu pK 1 é 2,34 e o pK 2 , 9,60 (veja Tabela 10.1). O que significa isto? O que ocorre com a glicina quando ela está em pH 2,34 e 9,6? Significa que, quando o pH da solução na qual se encontra a glicina atingir o valor de 2,34, teremos metade das glicinas com suas carboxilas ainda protonadas (COOH), como no começo da curva de titulação, e metade das glicinas com suas carboxilas já desprotonadas (COO–). Podemos dizer que se tirássemos um “retrato” da nossa solução de glicina em pH 2,34, iríamos encontrar essas duas moléculas. Veja: Glicina em pH 2,34 50% das glicinas ainda estão assim ...e 50% das glicinas já estão assim Figura 10.5: Glicina em pH 2,34. Estas duas formas coexistem em pH 2,34. Voltando ao que havíamos discutido na Aula 7, observe: pH = pK + log ([glicina-COO–]/[glicina-COOH]). Acabamos de comentar que em pH = 2,34 temos 50% das glicinas com suas carboxilas protonadas e 50% desprotronadas. Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM81 Propriedades químicas dos aminoácidos II 82C E D E R J BIOQUÍMICA IQUÍMICA I Logo, [glicina - COO–] / [glicina - COOH] = 1. Como o log de 1 é igual a zero, a equação acima se reduz a pH = pK. Logo, o pK do grupamento de uma molécula equivale ao valor de pH em que metade das moléculas possuem este grupamento na forma protonada e metade das moléculas na forma desprotonada. Se você pudesse observar a distribuição das moléculas de glicina, próxima ao final do primeiro platô (aproximadamente pH 3,34), como você imagina que seria? Acertou se você disse que estaria quase que completamente como a segunda molécula da Figura 10.5 (forma desprotonada)! Observe: Ou seja, a proporção entre as glicinas protonadas e desprotonadas vai se alterando em função do pH. E em pH 9,6, como estaria a distribuição das formas de glicina? Neste pH, encontraremos as formas representadas na Figura10.6: Figura 10.6: Glicina em pH 9,6. ...e 50% das glicinas já estão assim 50% das glicinas estão assim 99,9999...% das gli próton 50% das gli próton 0,00001...% das gli despróton 0,000001...% das gli despróton 50% das glic despróton 99,9999...% das gli próton gli=glicina próton=protonada despróton=desprotonada pH 1,34 2,34 3,34 Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM82 Propriedades químicas dos aminoácidos II C E D E R J83 M Ó D U LO 2 - AULA 10 Figura 10.7: Fórmula da glicina no pI. 4. Ponto isoelétrico Uma outra região da curva de titulação, também muito importante, é o ponto isoelétrico ou pI. OpI é o valor de pH onde o aminoácido titulado tem carga líquida igual a zero. No caso da glicina, o seu pI é igual a 5,87. Isto significa que em pH 5,87 a glicina se encontra na forma Será que existe uma maneira fácil de se conhecer o pI de cada aminoácido? A resposta é positiva e nestes casos a Matemática nos auxilia muito. No caso da glicina, para sabermos seu pI sem necessitarmos de fazer uma curva de titulação, basta usarmos a fórmula abaixo: pI = ½ (pK 1 + pK 2 ) = ½ (2,34 + 9,6) = 5,97 Ou seja, o pI fica na metade do caminho entre o pK 1 e o pK 2 . Esta fórmula é válida para todos os aminoácidos que não apresentam grupamento R titulável, isto é, grupamentos capazes de perder ou ganhar prótons. A Tabela 10.1 mostra os valores de pK 1 e pK 2 de todos os vinte aminoácidos, bem como os valores de pK R para os aminoácidos com grupamentos R tituláveis. CÁLCULO DO PI Carga: zero Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM83 Propriedades químicas dos aminoácidos II 84C E D E R J BIOQUÍMICA IQUÍMICA I Aminoácido pK 1 pK 2 pK R pI Grupo R não polar, alifáticos Glicina 2,34 9,60 5,97 Alanina 2,34 9,69 6,01 Valina 2,32 9,62 5,97 Leucina 2,36 9,60 5,98 Isoleucina 2,36 9,68 6,02 Metionina 2,28 9,21 5,74 Grupos R aromáticos Fenilalanina 1,83 9,13 5,48 Tirosina 2,20 9,11 10,07 5,66 Triptofano 2,38 9,39 5,89 Grupos R polares, não carregados Serina 2,21 9,15 5,68 Prolina 1,99 10,96 6,48 Treonina 2,11 9,62 5,87 Cisteína 1,96 10,28 8,18 5,07 Asparagina 2,02 8,80 5,41 Glutamina 2,17 9,13 5,65 Grupos R carregados positivamente Lisina 2,18 8,95 10,53 9,74 Histidina 1,82 9,17 6,00 7,59 Arginina 2,17 9,04 12,48 10,76 Grupos R carregados negativamente Aspartato 1,88 9,60 3,65 2,77 Glutamato 2,19 9,67 4,25 3,22 Tabela 10.1: Valores de pK e pI dos aminoácidos. Os aminoácidos podem ser chamados segundo um código de 3 letras. Glicina, por exemplo, é chamada de gli; metionina de met; prolina de pro; asparagina de asn; ácido aspártico de asp; glutamina de gln; ácido glutâmico de glu, e assim por diante. (COOH) (NH3+) Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM84 Propriedades químicas dos aminoácidos II C E D E R J85 M Ó D U LO 2 - AULA 10 Observe que os valores de pK 1 variam um pouco, dependendo do aminoácido em questão, embora todos esses valores estejam relacionados à desprotonação da carboxila. Isto ocorre devido à influência dos outros átomos da molécula do aminoácido os quais podem facilitar ou dificultar a saída do próton da carboxila. O mesmo ocorre com o pK 2 . Para calcularmos os valores de pI dos aminoácidos ácidos, devemos apenas considerar os pK 1 e o pK R . No caso dos aminoácidos básicos, consideramos o pK 2 e o pK R , assim: pI do ácido glutâmico: pI da lisina : Resumo Os aminoácidos ácidos e básicos apresentam uma curva de titulação mais complexa que a glicina, por exemplo. Isso porque seus grupamentos R também podem perder prótons (COOH no caso dos aminoácidos ácidos) ou doar prótons (NH 3 + no caso dos aminoácidos básicos). O pK é um valor de pH em que metade dos grupamentos que estão sendo titulados se encontra na forma protonada e metade na forma desprotonada. O pI é o valor de pH em que o aminoácido apresenta carga líquida igual a zero. pK 1 + pK R 3,22 2 = 2,19 + 4,25 = 2 pK 2 + pK R 8,95 + 10,53 = 2 = 9,74 2 Aula_10.p65 5/17/2004, 7:17 AM85 Propriedades químicas dos aminoácidos II 86C E D E R J BIOQUÍMICA IQUÍMICA I Exercícios 1. Aminoácidos são anfólitos porque eles podem funcionar tanto como um(a): a) molécula polar e apolar; b) ácido ou base; c) molécula neutra ou íon; d) transparentes ou compostos que absorvem luz. 2. A titulação da valina com uma base forte, por exemplo, NaOH, resulta em dois pKs. A reação de titulação que ocorre em pK 2 (pK 2 = 9,62) corresponde a: a) -COOH + OH- → COO- + H 2 O b) -COOH + -NH 2 → -COO- + -NH 2 + c) -NH 3 + + OH-→ NH 2 + H 2 O d) -NH 2 + OH- → NH- + H 2 O 3. Pense e responda: os aminoácidos com grupos R neutros, em qualquer valor de pH abaixo do pI... a) ...não apresentarão grupos carregados? b) ...não apresentarão carga líquida? c) ...terão uma carga líquida positiva? d) ...terão carga positiva e negativa em concentração igual? e) ...terá carga líquida negativa? 4. Um aluno ficou intrigado, pois ao colocar a alanina sob a ação de um campo elétrico com pólos positivos e negativos em pH 6,01, observou que o aminoácido não se movia na direção de nenhum dos pólos. Por que isto acontece? O que aconteceria se o aluno utilizasse, em vez de pH 6,01, outro valor de pH como, por exemplo, 10,0? Aula_10.p65 5/31/2004, 2:24 PM86
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