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NOTA DE AULA 4 HOBBES E LOCKE

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NOTA DE AULA 4
Filosofia do Direito Profa. Cristiane Aquino de Souza 
THOMAS HOBBES (1588-1679)
Marco teórico do absolutismo de origem contratual– Hobbes representa o grande marco teórico do absolutismo e lança sementes para a construção liberal burguesa em curso. 
Trata tanto de assuntos de filosofia do conhecimento como de teologia e de política. 
Dois livros mais importantes para a Filosofia do Direito: Do cidadão, de 1642 e o Leviatã – ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, de 1651. 
O CONTRATO SOCIAL
Aristóteles x Hobbes: É natural viver em sociedade? : Hobbes se opõe a Aristóteles. Segundo Aristóteles, o homem é um ser social. Zoon politikon, e é natural que cada homem tenha por fim a associação com outros homens. Para Hobbes, essa é uma compreensão equivocada da natureza humana. Isso porque não é natural que cada homem tenha por fim a associação com outros homens. Somente um contrato faz com que os homens, que vivem em função de seus interesses pessoais, passem a viver em conjunto. 
O homem busca a satisfação de seus próprios interesses e por isso deseja associar-se: O pacto não é devido à boa vontade entre os indivíduos. A vida solitária gera preocupações, fragilidades e medo, porque não é possível sempre se defender sozinho de todos. Então, por causa desse medo, os homens se associam, para que seja mais difícil a sua destruição por outrem. 
Medo recíproco: Para Hobbes, entre os homens existe um medo recíproco por conta da fragilidade de todos. Um é mais forte mas o mais fraco pode se valer da inteligência contra o forte. Por isso, em sendo todos temerosos em relação a todos, todos buscam se defender conforme os meios que encontrem. 
Direito à preservação leva à guerra de todos contra todos no estado de natureza: O direito natural de todos os homens que é prévio à qualquer associação é o direito à preservação. Por isso, deve ser reconhecido ao homem o direito de utilizar todos os meios, e praticar todas as ações, sem as quais ele não possa preservar-se. 
O estado de natureza é um estado bélico: “Não haverá como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e esta não é uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos contra todos” (Thomas Hobbes. Do cidadão). Isso porque o homem é o lobo do homem, segundo Hobbes. 
O contrato social surge para garantir a paz e a segurança. A associação entre os homens leva à renúncia de seus plenos poderes em favor da paz. Mas para garantir a paz e impedir as discórdias entre os homens é necessário transferir todo o poder a um homem ou uma assembleia, de tal modo que seja feita então uma só vontade e ela seja a vontade única, levando à paz e à segurança. Segundo Hobbes, é preciso transferir as vontades subjetivas ao Estado que, como vontade única, age em todos os casos como se seus atos fossem os atos dos indivíduos. 
Inovação de Hobbes: O poder absoluto era extraído do contrato social. A tradição absolutista considerava o poder dos reis de origem divina. Segundo Hobbes, os indivíduos se submetem ao poder voluntariamente por uma situação de medo e conflito. 
O contrato social é um instrumento teórico típico dos iluministas. Os iluministas buscam fundar uma ordem burguesa contra o poder ilimitado dos reis. Hobbes é absolutistas mas com ferramentas inovadoras e similares às depois utilizadas pelos iluministas. Hobbes é absolutista e contratualista. 
O DIREITO NATURAL EM THOMAS HOBBES
O direito natural se fundamenta no interesse do homem à autopreservaçao e à paz. Segundo Hobbes, existem leis naturais que precedem a vida sob pacto social. Essas leis giram em torno do direito à autopreservaçao. Hobbes define o direito de natureza como a liberdade que os homens possuem de fazer tudo o que julgarem necessário para a preservação da própria vida. 
O direito natural advém da razão: paz e autopreservaçao. “É um preceito ou regra geral da razão: Que todo homem deve se esforçar pela paz, na medida em que tenha esperança de a conseguir, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra. A primeira parte desta regra encerra a primeira e fundamental lei de natureza, isto é, procurar a paz, e segui-la. A segunda encerra a súmula do direito de natureza, isto é, por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos”. (Thomas Hobbes. Leviatã). 
No Leviata, Hobbes estabelece uma longa série de direitos naturais. Que todos cumpram o pacto que celebraram, que seja observada a gratidão entre os homens, que haja sociabilidade entre sim perdão às ofensas em caso de arrependimento, que não haja vingança, que não se declare desprezo...
O homem em natureza não age segundo a razão. Se agisse segundo a razão, observariam os direitos naturais. O homem age de acordo com seus interesses pessoais, tem inclinação às suas paixões. Não há de se esperar que a razão, que é a lei natural, venha a imperar. Por isso, para Hobbes, apesar das leis da natureza, é necessário um poder que mantenha a segurança. 
O soberano não está submetido às leis naturais. O soberano, cujo poder absoluto é haurido do pacto social, não está submisso às leis naturais. Seu poder é absoluto, e nada resta nos indivíduos que pactuaram viver em sociedade que possa se opor à determinação do soberano.
Exceção à submissão total ao soberano: autodefesa. Pra Hobbes, a grande exceção à submissão do soberano é o direito de se valer dos meios necessários para preservar a própria vida. O direito à autodefesa constitui a possibilidade de desobediência civil no pensamento hobbesiano. 
O direito de autopreservaçao é inalienável. Um pacto que o queira alienar é nulo. “Ninguém pode transferir ou renunciar ao seu direito de evitar a morte, os ferimentos ou o cárcere, e portanto a promessa de não resistir à força não transfere nenhum direito em pacto algum, nem é obrigatória”. (Leviatã). 
LOCKE
Destacado pensador da filosofia burguesa moderna. 
Esteve envolvido com a Revolução Gloriosa, de 1688, que pôs fim ao Absolutismo e declarou, em 1689, o Bill of Rights inglês. 
Em 1689 saem publicados, na Inglaterra, seus dois principais livros, os chamados Dois Tratados sobre o governo: O primeiro e o segundo tratado sobre o governo civil. Algumas outras obras de vulto se destacam ainda no seu pensamento, como a Carta sobre a tolerância e o Ensaio sobre o entendimento humano. 
Considera que o poder é uma construção humana. Não há poder inato que venha de Deus. Locke articula, assim, uma teoria do contrato social como um vigoroso pensamento contra o Absolutismo, que se sustentava justamente na fundamentação divina do poder. 
O CONTRATO SOCIAL
O estado de guerra é apenas um risco. Para Locke, a liberdade do estado de natureza não impede que os indivíduos possam viver com algum respeito nessa condição. É possível a paz no estado de natureza. A guerra é apenas uma possibilidade do estado de natureza, não sua constante apresentação. Não há em Locke, como há em Hobbes, uma associação necessária entre estado de natureza e guerra. O homem não tem uma inclinação natural a ser lobo do homem. 
O estado de guerra também é possível na vida política. O estado de guerra é possível tanto na vida em natureza como também na vida política. 
O que é o estado de natureza para Locke? É “quando os homens vivem juntos segundo a razão e sem um superior comum sobre a terra com autoridade para julgar entre eles, manifesta-se propriamente o estado de natureza”. (Dois Tratados sobre o governo civil). 
Inconveniente da vida natural. Falta de proteção da propriedade. Situa a propriedade de modo amplo, como a vida, a liberdade e os bens. Sem um governo, a propriedade não está resguardada. Buscando tal proteção, então, os indivíduos estabelecem o contrato social. 
Principal finalidade do contrato social: a garantia da propriedade privada. “O fim maior e principal para os homens unirem-se em sociedades políticas e submeterem-se a um governo é, portanto, a conservação de sua propriedade”. (Dois tratados sobre o governo civil). 
Não hárenúncia aos direitos naturais com o contrato social. Ingressando no estado civil, os indivíduos renunciam substancialmente a um único direito, ao direito de fazer justiça por si mesmos, e conservam todos os outros, in primis o direito de propriedade, que já nasce perfeito no estado de natureza, pois não depende do reconhecimento de outros mas unicamente de um ato pessoal e natural, como é o caso do trabalho. 
O contrato social dá ensejo à formação da sociedade civil. Esta escolherá uma determinada forma de governo, que deverá buscar a conservação da propriedade. Locke dirá que a monarquia absoluta não se coaduna com os propósitos da sociedade civil. 
Divisão dos poderes. Locke estabelece uma distinção entre os poderes na sociedade política, destacando três: o legislativo, o executivo e o federativo (encarregado das relações exteriores). Importância do poder legislativo: Para Locke, o poder legislativo, escolhido pela maioria, tem um poder supremo em relação aos demais: “ Em todos os casos, enquanto subsistir o governo, o legislador é o poder supremo. Pois o que pode legislar para outrem deve por força ser-lhe superior. 
Importância da divisão dos poderes: Para Locke, a divisão dos poderes é fundamnetal como forma de evitar a concentração dos poderes nas mãos de um só. Considera que um governo com poderes distribuídos tem a possibilidade de melhor garantir os direitos naturais dos indivíduos, conformando, portanto, uma teoria política liberal-burguesa. 
O DIREITO NATURAL EM LOCKE
Existe uma lei da natureza. Em oito ensaios sobre a natureza, escritos entre 1663 e 1664, Locke afirma existir uma lei da natureza, passível de ser conhecida por todos e que obriga a todos os homens. 
O direito natural é alcançável somente por meio da experiência dos sentidos. 
O grande direito natural é o direito de propriedade. Para Locke, o grande direito natural que se levante já no estado de natureza é o direito de propriedade. O eixo da filosofia do direito de Locke é a afirmação do direito natural como direito de garantia da propriedade individual. Nisso, Locke dá um passo decisivo em direção ao liberalismo burguês. O direito de propriedade vem antes do Estado. 
O governante que atenta contra a propriedade torna-se ilegal e tirano. O governante Poe-se em estado de guerra contra a sociedade. Há um legítimo direito de resistência em tal caso, e a sociedade volta à condição de natureza. 
O dinheiro legitima a desigualdade de riqueza entre os homens. Para Locke, a propriedade advinda do trabalho, limitada, se transforma em propriedade também advinda do dinheiro, ilimitada. Com o dinheiro, como a propriedade não está mais ligada agora ao trabalho nem limitada ao seu uso, a acumulação é possível.

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